ENTRETENIMENTO & CULTURA
Lugar de Fala Irmãs indígenas fazem parte da nova geração que atua em defesa da Amazônia Mencius Melo – Da Revista Cenarium
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ANAUS – Politizadas, conscientes e libertárias são adjetivos que definem bem as irmãs Sâmela e Sandiely Sateré. Duas jovens mulheres nascidas na “aldeia urbana” da capital amazonense, descendentes diretas do povo Sateré Mawé (1) e do povo Dessana (2). As irmãs são filhas de mãe Sateré e pai Dessana e são representantes étnicas da Amazônia brasileira no ‘Fridays For Future’, movimento liderado pela ativista ambiental Greta Thunberg. Em recente campanha mundial intitulada ‘SOS Amazônia’, elas ajudaram a arrecadar recursos para apoiar as comunidades indígenas afetadas pela pandemia da Covid-19, que no Amazonas ganhou proporções assustadoras. Em entrevista à REVISTA CENARIUM, as irmãs Sateré-Dessana falaram sobre como chegaram ao Fridays, suas lutas e posturas diante do mundo que as cerca. Com 23 anos, a estudante de Biologia da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Sâmela Sateré, conta as experiências de uma jovem indígena. “Entrei na UEA em 2016 pelo sistema de cotas, no começo não encontrei nenhum acadêmico indígena e então me encolhi”, recordou. A estudante conta que esse comportamento é quase natural em função do preconceito contra os indígenas em boa parte da academia. “Temos um preconceito estrutural na sociedade brasileira e, nas universidades, isso não seria diferente, por isso muitos não assumem a des-
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cendência étnica, principalmente em cursos elitizados como a medicina”.
EMPODERAMENTO E ATIVISMO Oriunda de uma família engajada, Sâmela relembra a luta de sua vó. “Nasci na Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé (Amism), movimento criado por minha vó em 1992, mas o empoderamento veio quando ingressei em 2016 no Movimento Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam)”, recordou. “Nesse período, identificamos 25 acadêmicos indígenas na UEA e de lá para cá, iniciamos a fortalecimento dessa entidade e posso dizer com orgulho que me aceito como sou, sou aceita como sou e hoje faço parte do Núcleo de Estudantes Indígenas da Escola Normal Superior da UEA”, orgulhou-se. Questionada como se deu a aproximação com o grupo de Greta, Sâmela relembrou: “Em 2019 participei da ‘Greve pelo Clima’, um protesto mundial com apelo ao meio ambiente, acredito que isso me credenciou e o Friday me contatou via uma Friday de Curitiba que não sei como me achou”, relembrou com humor. “A partir desse contato, apresentei o Fridays para o pessoal da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e assim iniciamos a parceria”, descreveu.
IRMÃ DE LUTAS Sandiely Sateré é a mais nova militante da família, com apenas 15 anos, estuda o primeiro ano do ensino médio em Manaus. Fã de Sâmela, ela credita à irmã o engajamento e a indicação para o Fridays For Future. “Ela me motivou a entrar no movimento ambiental, ela está me ensinando a me defender e a defender meus irmãos”, falou com orgulho. Para ela, o momento político no Brasil exige a participação dos ‘parentes (3)’. “Hoje estamos lutando contra o genocídio dos nossos irmãos e a morte de nossas matas”, avançou.