Toth Ciência Educação v.9, n.9 2022

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TOTH CIÊNCIA E EDUCAÇÃO


ISSN 2595-1866

TOTH CIÊNCIA E EDUCAÇÃO

FUPAC


EXPEDIENTE

CORPO EDITORIAL Editor chefe: Prof. Me. Rogério Vieira Primo Supervisor Financeiro: Prof. Walther Anastácio Júnior Normalização / Formatação: Maria de Fátima Sales Moreira Silva, CRB-5/1981 Equipe Técnica: Revisão: Maria de Fátima Sales Moreira Silva Criação gráfica e diagramação: Paulo Roberto Júnio Campos Pereira Corpo Editorial Científico: Luiz Carlos Ribeiro dos Santos Aias Alves de Lana Amilton Quintela Soares Júnior Eliane Aparecida Silva Duarte José Francisco da Costa Júnior Marcelo Medeiros Filho Rodlon Andrade Valadares de Almeida Rogério Vieira Primo Sandra Maria Perpétuo Úrsula Bianca Ribeiro Herzog Walther Anastácio Júnior Autor Corporativo: Fundação Presidente Antônio Carlos Endereço eletrônico: www.unipacgv.com.br E-mail: academicogv@unipac.br Rua Jair Rodrigues Coelho, 211 – Bairro Vila Bretas – Governador Valadares – MG Telefone: (33) 3212 6700 – CEP: 35.032-200

TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022 Governador Valadares: Fundação Presidente Antônio Carlos - FUPAC Periodicidade: Semestral ISSN 2595-1866 p. 179 1 Administração. 2 Ciências Contábeis. 3 Pedagogia. 4 Educação. 5 Periódico. CDD 22. ed. Maria de Fátima Sales Moreira Silva - Bibliotecária CRB-5/1981


SUMÁRIO A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DO PROFESSOR NA INSERÇÃO DAS TIC’S – TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO AMBIENTE DA SALA DE AULA. ............................................................................................................................. 10 José Francisco da Costa Júnior Rogério Vieira Primo Walther Anastácio Júnior METODOLOGIAS ATIVAS: Aplicação e ferramenta na sala de aula .......................... 20 José Francisco da Costa Júnior Rogério Vieira Primo Walther Anastácio Júnior COMPETÊNCIAS

E

HABILIDADES:

DESAFIOS

NA

FORMAÇÃO

DE

PROFESSORES ................................................................................................................... 29 José Francisco da Costa Júnior Rogério Vieira Primo Walther Anastácio Júnior PERFIL DOS PROFESSORES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA IES DO LESTE MINEIRO ................................................................................................................ 45 José Francisco da Costa Júnior Rogério Vieira Primo REFORMA TRIBUTÁRIA: JUSTIÇA FÍSCAL PROMOVENDO A JUSTIÇA SOCIAL ................................................................................................................................. 59 Jackson Manoel da Silva Marcelo da Silva Cunha Amilton Quintela Soares Júnior José Francisco da Costa Júnior Marcelo Medeiros Filho AULAS REMOTAS DURANTE A PANDEMIA: Estratégias lúdicas utilizadas na educação infantil ................................................................................................................... 76 Carla Fernanda da Silva Gonçalves Hiolanda Rodrigues Pinheiro Katherine Brandão de Paula Rogério Vieira Primo

OS BENEFÍCIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA CONTABILIDADE DIGITAL NA GESTÃO E TOMADA DE DECISÃO NAS EMPRESAS ............................................... 91 Camila Regina Santana Machado


João Paulo Costa Barbosa Karen Neves de Oliveira Leticia de Paula Reis Vanessa Oliveira de Jesus Aías Alves de Lana Amilton Quintela Soares Junior José Francisco da Costa Júnior O ENSINO REMOTO PARA O PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL EM TEMPO DE PANDEMIA DA COVID-19........................................................................ 108 Ana Gabrielly Bedone Emília Martins da Silva Isabella Mendes Rodrigues Izabela Lopes de Oliveira Eliane Aparecida Silva Duarte Sandra Maria Perpétuo PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A IMPORTÂNCIA DA COORDENAÇÃO MOTORA FINA PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRAÇADO .............................................................................................................................................. 125 Cinthia Aguilar Moreira Izabel Cristina Dias Juliana Schayder de Souza Roberta Coleta Januário Rodrigues Tâmara Alves Vargas Thais Viana Gonçalves Luiz Carlos Ribeiro dos Santos Sandra Maria Perpetuo O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NO ENSINO REMOTO NA REDE PRIVADA DE GOVERNADOR VALADARES DURANTE A PANDEMIA ................................. 138 Dayanne Neves Magalhães Karolynne Campbell Santos Lorena de Oliveira Matos Maria Cecília de Oliveira Pessoa Samyla Portes Silva Thaelen Eduarda Almeida Martins Sandra Maria Perpétuo Úrsula Bianca Ribeiro Herzog PERFIL DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA: UM ESTUDO DE CASO DE GOVERNADOR VALADARES /MG ................................... 156 José Francisco da Costa Júnior Rogério Vieira Primo Walther Anastácio Júnior


A GERÊNCIA BANCARIA E OS DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS PARA MANUTENÇÃO DA MOTIVAÇÃO ............................................................................... 167 José Francisco da Costa Júnior Rodlon Andrade Valadares de Almeida Rogério Vieira Primo


Editorial

Caro Leitor:

A Toth – Ciência e Educação começa 2022 trazendo doze artigos ao leitor com contribuições acadêmicas e gerenciais que abarcam diferentes áreas do conhecimento em um momento, complexo, contexto adverso e atípico marcado pela pandemia do coronavírus, a qual vem impondo novos desafios de toda a ordem à população de todo o mundo e que não isentou a área educacional. Mas, as mudanças impostas serão temporárias ou permanentes? São muitas as incertezas quanto ao futuro e, assim, muitos outros questionamentos surgem diante dos riscos à saúde, da necessidade de cuidados específicos de higiene, dos problemas econômicos, do distanciamento e isolamento social, entre antos fatores, uma certeza desponta:

estamos

permeados por experiências de perdas, ansiedade, estresse, medo, dúvidas, mas também de mapeamento daquilo que ocorre no contexto pandêmico no qual a produção não para, fruto da tentativa de descrever, refletir e compreender as perspectivas sobre o fenômeno. A busca de soluções foi a tônica do período conturbado, profícuo do ponto de vista das produções científicas. Com muito prazer compartilhamos mais uma edição Toth – Ciência e Educação e procuramos trazer assuntos interessantes e diversificados. O exercício da leitura estimula a criatividade, exercita o cérebro, melhora a concentração e a memorização, desperta o senso crítico e é sempre uma viagem, transportando o leitor para outro universo. Nesta edição estamos apresentando artigos sobre gestão e educação com temáticas bem atuais como ensino remoto e utilização das TIC’s durante a pandemia do Covid-19. Esperamos que vocês gostem e apreciem a leitura dessa nova Edição.

Um forte abraço! Prof. Me. Rogério Vieira Primo

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A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DO PROFESSOR NA INSERÇÃO DAS TIC’S – TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO AMBIENTE DA SALA DE AULA. José Francisco da Costa Júnior*, Rogério Vieira Primo†, Walther Anastácio Júnior‡

RESUMO

A pandemia intensificou a utilização de novas tecnologias no ambiente acadêmico. A necessidade de utilizar o ensino remoto para dar continuidade ao calendário acadêmico devido o distanciamento social implicou em novos conhecimentos pelos docentes. Muitos professores tiveram que aprender a utilizar recursos digitais para dar continuidade às atividades acadêmicas. Esta pesquisa objetivou verificar a importância do professor na utilização das TIC’s no período pandêmico em uma IES do leste mineiro. Palavras-chave: Tecnologia da Informação e Comunicação. Estratégia de ensino. Ambiente Virtual. 1 INTRODUÇÃO

O distanciamento social, ocasionado pela pandemia do novo coronavírus, teve implicações diversas nos modos de vida da população, requisitando novas adequações e reajustes a esse novo cenário. As consequências desse acontecimento são de uma complexidade ininteligível, de modo que “qualquer tentativa de aprisionar analiticamente está condenada ao fracasso, dado que a realidade vai ser sempre adiante do que pensamos ou sentimos sobre ela” (SANTOS, 2020, p. 9). Nesse sentido, nossos esforços consistem em verificar a importância do Papel do Professor na Inserção das TIC’s no Ambiente da Sala de Aula, a partir do posicionamento dos professores.

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Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br † Professor de graduação e Pós-graduação. Mestre em Administração. Especialista em Educação Matemática; Gestão Financeira de Empresas; Gestão empresarial pela PUC Minas. Especialista Gestão Escolar pela Unipac e Marketing e Gestão Estratégica de Comunicação e Informação. E-mail: rogerioprimo@unipac.br ‡ Professor de Graduação e Pós-graduação. Graduação em Administração e Matemática. MBA em Gestão Financeira Controladoria e Auditoria; Especialista em Administração Escolar, Orientação, Supervisão e Inspeção; Professor de Planejamento e Gestão Estratégica da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: waltheradmjunior@gmail.com

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O fechamento de escolas e universidades demandou a adoção de medidas que possibilitassem a continuidade do vínculo entre a IES, alunos e professores, a fim de proporcionar alternativas de aprendizagem em meio à pandemia da Covid-19. No Brasil, essas deliberações ocorreram à medida que Estados e municípios foram se organizando internamente, de acordo com cada realidade, haja vista a falta de um posicionamento, planejamento e sistematização do Governo Federal para lidar com este cenário pandêmico. A propósito do uso de plataformas on-line, sabe-se que as tecnologias da informação e da comunicação possibilitam processos de socialização por vias de “uma complexa teia de interações que plasmam a sociabilidade contemporânea e oferecem novas possibilidades de acessos ao saber”. (SANTOS. 2020) Todavia, é preciso ampliar o olhar para além das possibilidades do uso das TIC e adentrar na discussão sobre o acesso e manejo de recursos por professores e alunos para fins pedagógicos no contexto da pandemia. A presente pesquisa visa dar um passo nessa direção observando o processo das aulas remotas, realizadas por exigência do distanciamento físico em uma Instituição do leste mineiro. Trata-se de um estudo exploratório, cujo objetivo consiste em possibilitar maior familiaridade do pesquisador com um determinado fenômeno, de modo a aprimorar ideias, modificar ou esclarecer conceitos. É um tipo de estudo com procedimentos sistemáticos e flexíveis que envolvem, por exemplo, levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas envolvidas no problema pesquisado e a análise de exemplos para despertar compreensões. Para isso, buscou-se registros em relatórios, cronogramas de aulas e coleta de dados através do Portal Blackboard e trechos de depoimentos fornecidos por coordenadores de curso As discussões sugeridas pretendem colaborar com o debate sobre os impactos da pandemia na prática pedagógica, sinalizando a importância do uso das tecnologias na educação para além desse período emergencial, sem perder de vista o papel do professor como essencial ao processo de mediação das aprendizagens. Nesse sentido, problematiza o uso das ferramentas tecnológicas a fim de inspirar outras análises temáticas dessa natureza.

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2 MÉTODOS

O presente trabalho partiu-se de um pressuposto teórico inicial, a qual foi realizada uma pesquisa bibliográfica apoiando-se em artigos científicos e livros. A pesquisa adotou uma abordagem do tipo qualitativa, no formato de um estudo descritivo, de natureza básica, uma vez que busca responder questões fundamentais sobre o ensino virtual. Quanto aos objetivos, esse estudo é caráter exploratório. Para Gil (2019), pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, de maneira que se torne explícito e possibilite a construção de hipóteses. Com a fundamental finalidade de aprimorar ideias ou descobrir intuições, com planejamento flexível, possibilita a consideração dos mais variados aspectos relacionados ao fato estudado, e na maioria dos casos, atribui-se o formato de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa. Segundo Gil (2019), a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização. Para Lakatos e Marconi (2017), a pesquisa qualitativa envolve uma perspectiva de interpretação do mundo, estuda temáticas em seus cenários naturais, tenta compreender fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. Quanto aos procedimentos, realizou-se a revisão bibliográfica, utilizando fontes pertinentes sobre o tema a ser pesquisado. A revisão de literatura possui dois propósitos fundamentais: a construção de uma análise do problema de acordo com o contexto e a investigação das possibilidades evidenciadas na literatura consultada para a elaboração do referencial teórico da investigação. (GIL, 2019).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Ampliar os conhecimentos sobre tecnologia é desafiador, uma vez que, além de ser a base do progresso da sociedade moderna, a todo o momento uma nova tecnologia é criada. Segundo Kenski (2021), “um fator a ser considerado é o custo tecnológico. Este abrange o custo financeiro e também o custo de tempo para se aprender ou se adaptar a uma nova tecnologia” (p. 3). Ainda conforme o autor, o grande paradigma atual é o tempo. Os profissionais que estão em plena atuação no mercado de trabalho, estando completamente envolvidos por suas atribulações do dia a dia, têm pouco tempo para se dedicar a atualizações TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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ou estudos. Em geral, utilizam as ferramentas tecnológicas que já conhecem e pouco tempo resta-lhes para aprender um novo recurso, conhecer um equipamento ou, até​́ mesmo, uma nova técnica.

3.1 Tecnologias digitais na Educação

Para falarmos especificamente em tecnologias digitais na educação, é preciso compreender por que elas são importantes, a partir da própria essência do conceito de educação e seu papel na sociedade. Almeida (2014) afirma que a educação, numa definição geral é ampla, referindo-se ao desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral dos sujeitos para uma melhor integração na vida em sociedade, as tecnologias digitais, em toda sua diversidade e amplitude, estão diretamente ligadas a esse processo e assumem nele um papel relevante. Segundo Kenski (2021), as tecnologias modificam as nossas formas de pensar e agir, e isso altera o modo como nos relacionamos com as informações e consequentemente com o saber, e exatamente por isso as tecnologias estão diretamente imbricadas nos processos de aprender e de ensinar. Ocorre, porém, que a inserção das Tecnologias Digitais na Escola não é uma simples mudança de metodologia, ou a mera aplicação de um recurso, pois se assim o fosse, o uso da televisão, do computador e da lousa digital já teriam provocado as mudanças no sistema educacional que toda a sociedade espera. A pandemia provocou a implementação de uma série de políticas públicas e programas voltados para a inclusão digital de professores e alunos, além disso, existe uma indústria de materiais tecnológicos para a educação: são softwares educativos, coleções de livros e vídeos digitais nas diversas áreas do conhecimento, plataformas online, aplicativos para móbiles, entre outros. Fora tudo isso, ainda há uma série de produções acadêmicas voltadas para a pesquisa sobre as TICs na educação, milhares de livros e manuais publicados, blogs e sites sobre as tecnologias na educação. Almeida (2014) alerta para o fato de que a integração do computador à realidade educacional pressupõe modificações na organização escolar e no currículo no próprio espaço da sala de aula. Sabe-se que este não é um processo simples e rápido. Ao longo do tempo mudanças vem ocorrendo, mas segundo Kenski (2021) é preciso que os professores modifiquem suas concepções sobre ensinar e aprender, compreendendo que TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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as tecnologias oferecem inúmeras possibilidades educativas, e muito podem contribuir para a melhoria da qualidade da educação. Desse modo, o que para Santos (2020), é importante refletir sobre o papel do professor no ensino superior na contemporaneidade. Muito se tem discutido sobre essa temática, e uma das questões que vem ganhando destaque é a importância de o saber ensinar, superando as visões polarizadas, que entendiam que para ensinar algo, bastaria ter domínio sobre este saber, colocando assim a didática como algo em segundo plano, ou sequer levando-a em consideração. Atualmente, essa visão vem sendo contestada, por não ser coerente com os paradigmas atuais. Nessa lógica, para Santos (2017), o professor, além do domínio sobre seu campo do saber, para efetivação de uma aprendizagem satisfatória, precisa de uma ação didática consciente, que, considerando todos os elementos envolvidos na ação de ensinar e aprender, construa resultados satisfatórios. É nesse contexto que se ressalta a importância das tecnologias como recursos didáticos no ensino superior. Olegário (2021) ressalta que o desenvolvimento de competências e habilidades em todas as áreas do conhecimento perpassa pela utilização das tecnologias. Santos (2017), afirma que as tecnologias resinificam o nosso pensamento e a nossa ação e as fontes de informações são variadas e diversas, e é preciso saber lidar com elas, utilizando-as a favor da aprendizagem dos sujeitos. Carmo (2015) afirma que a prática pedagógica é enriquecida pelo uso das tecnologias, favorecendo o desenvolvimento de uma didática diversificada, no que se refere às estratégias pedagógicas e o papel do professor no contexto da tecnologia exige dele uma ação consciente e promotora de novas aprendizagens, tanto dos alunos, quanto das suas próprias reelaborações do conhecimento. Para Carmo (2015), o educador deve ter uma ação que se configure mediadora da aprendizagem e que desenvolva nos sujeitos a curiosidade científica, a ressignificação do conceito de aprender, e sobretudo a autonomia intelectual dos estudantes.

3.2 Estratégias tecnológicas para aprendizagem

A IES adotou a partir de março de 2020 o ensino remoto, devido à pandemia da COVID19, aplicado como forma emergencial, para dar conta de uma situação até então inusitada. Isso não significou que os Projetos Pedagógicos dos cursos foram modificados, a fim de estruturar o currículo e os processos de ensino e de aprendizagem na modalidade a distância, ou seja, os TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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professores estão apenas utilizando as Tecnologias da Informação e Comunicação TICs como meio, mantendo as mesmas metodologias de ensino utilizadas no ensino presencial. Um aspecto importante observado no início da substituição das aulas presenciais por aulas remotas diz respeito à formação dos docentes para o uso adequado das TICs. Grande maioria dos docentes encontraram dificuldades com essas tecnologias e percebeu-se que não estavam preparados para atender às demandas de trabalho advindas com a aplicação das TICs em meio à pandemia da COVID-19. As TICs também foram utilizadas como aliadas nas formações e qualificações docentes. A IES ofertou treinamentos remotos, produções de vídeos e tutoriais para auxiliar os docentes na utilização das ferramentas tecnológicas. Dessa forma, além de preparar os docentes para aplicarem as TICs fez-se necessário estudar novas metodologias de ensino, para que essa aplicação fosse adequada e tivesse reflexos positivos nos processos de ensino e de aprendizagem. Considerar a educação sem as novas tecnologias já não faz mais sentido. Assim, quando aulas presenciais foram substituídas pelo modo remoto, a comunidade acadêmica começou a se conectar através das diferentes ferramentas e possiblidades de interações, e, deste ponto de vista, foi fundamental refletir sobre a relação entre o ensino e a aprendizagem nessa perspectiva. Para Kenski (2021, p. 21) “a evolução social do homem está intrinsicamente relacionada às tecnologias desenvolvidas em cada período e o próprio processo de humanização pode ser situado com o início das criações tecnológicas”. O avanço incontestável do uso de tecnologias no contexto educacional é uma realidade cada vez mais frequente na Instituição e também no ambiente corporativo. O Moodle foi a plataforma desenvolvida para se tornar o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, esse seria um importante e determinante passo que impactaria significativamente o ambiente cultural da educação e transformaria de vez as abordagens tradicionais da área de T&D para uma nova realidade (OLEGÁRIO, 2021). Até 2020, a IES utilizava como ambiente virtual de Aprendizagem (AVA), o Portal Moodle e esse atendia às necessidades acadêmicas satisfatoriamente, apesar de ainda ter muitas limitações. O novo portal, o Blackboard, implantado a partir de do primeiro semestre de 2021 coroa uma importante fase de evolução acadêmica em que foi muito importante pelo interesse de cada um, a vontade de aprender e crescer. Ao oferecer recursos que complementam e expandem os

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conteúdos de sala de aula, essa plataforma enriqueceu o processo pedagógico e colocou o aluno em posição ativa na construção de seu conhecimento. O “Blackboard” é um sistema desenvolvido para ser utilizado nas práticas educativas que se interessam pela aplicação de novas tecnologias interativas da rede no processo de ensinoaprendizagem, contribuindo e potencializando ambas as formas, presencial ou a distância. A IES valoriza o ambiente que estimula o protagonismo na busca pelo conhecimento, e com este portal essa premissa fica ainda mais forte. Durante o período desafiador da pandemia da COVID-19, a IES precisou adotar estratégias de adaptabilidade para atender a demanda dos alunos e professores. Embora algumas atividades da IES já ocorressem no modo on-line, as interações entre professores, alunos e pessoal técnico administrativo acontecia presencialmente nas dependências da IES, além de muitos treinamentos práticos. A verdade é que esse período de pandemia, de alguma maneira, contribuiu para que algumas inciativas se estabelecessem de fato. Ela se tornou uma oportunidade para a IES aprimorar os procedimentos de ensino e, ao mesmo tempo, aumentar o engajamento dos professores na utilização das TIC’s. Todos os processos e operações da IES, em função da pandemia, tiveram que ser adaptados: áreas administrativas, na sua grande maioria, entraram em trabalho home office; partes da operação continuaram. O conhecimento é algo individual, ou seja, mesmo estudando sobre um mesmo conteúdo cada um de nós construirá o conhecimento sobre este conteúdo de forma diferente, são saberes diferentes. No contexto da aplicação das TICs em atividades ministradas no modo remoto, acredita-se que a interação é um aspecto importante para auxiliar os alunos a construírem o conhecimento. Neste sentido, vê-se uma das diferenças importantes entre o ensino remoto (que aplica a metodologia de ensino tradicional, mediada pelas TICs) e a EaD, que envolve a aplicação de outras metodologias e ferramentas de ensino e de aprendizagem no ambiente digital. Situações como essa é que reforçam a ideia de que em todo caos existe uma oportunidade. Na área de educação tem sido uma importante oportunidade de transformação. Uma transformação que não é somente digital – embora a adesão aos aparatos tecnológicos tenha sido essencial e necessária –, mas, sim, cultural: as pessoas como centro da mudança, fazendo, aprendendo e se reinventando através do aprendizado coletivo. Sendo assim, ao considerar o processo de aprendizagem como uma das áreas de maior impacto no que tange às transformações, sobretudo na perspectiva do mundo pós-pandemia, as TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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abordagens tecnológicas serão mais intensas. Não é preciso nenhum estudo complexo para concordar com isso – essa afirmação seria um sonho, se não fosse a ruptura (não tecnológica) que se presenciou em 2020. Neste sentido, os processos de ensino e de aprendizagem não podem envolver meramente atividades repetitivas, tais como as aplicadas no método tradicional de ensino. O professor precisa estimular os alunos a desenvolverem sua criatividade e interagirem por meio de projetos, problemas, discussões, pesquisas e outras atividades interativas, baseando-se em metodologias ativas de aprendizagem (SANTOS, 2020). As TICs podem ser aliadas nessa questão, pois diferentes ferramentas computacionais podem ser utilizadas para apoiar o desenvolvimento destas atividades. Podem ser utilizadas, por exemplo, ferramentas para elaborar apresentações, blogs, criação de grupos em redes sociais (tais como no Facebook e WhatsApp), criação de cursos utilizando AVAs, criação de jogos, entre outras possibilidades. Entre as inúmeras possibilidades de aplicação das TICs, atualmente vê-se um aumento nos cursos ofertados na modalidade de EaD via Internet, por meio de AVAs. Outra tendência é a utilização de videoaulas gravadas e disponibilizadas por meio de plataformas de vídeo, como o YouTube e a realização de aulas on line, conhecidas como lives, utilizando ferramentas tais como o Big Blue Button, Google Meet e Zoom.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso da TIC’ como recurso didático faz parte das metodologias adotadas pela IES. Porém, é preciso refletir sobre o papel do professor no ensino superior na contemporaneidade. Muito se tem discutido sobre essa temática, e uma das questões que vem ganhando destaque é a importância do saber ensinar, superando as visões polarizadas, que entendiam que para ensinar algo, bastaria ter domínio sobre este saber, colocando assim a didática como algo em segundo plano, ou sequer levando-a em consideração. Percebe-se que como consequência, houve distorções e essa visão vem sendo contestada, por não ser coerente com os paradigmas atuais. Nessa lógica, o professor, além do domínio sobre seu campo do saber, para efetivação de uma aprendizagem satisfatória, precisa de uma ação didática consciente, que, considerando todos os elementos envolvidos na ação de ensinar e aprender, construa resultados satisfatórios. E é nesse contexto que se ressalta a importância das tecnologias como recursos didáticos TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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no ensino superior. Um dos fatores é porque o desenvolvimento de competências e habilidades em todas as áreas do conhecimento perpassa pela utilização das tecnologias, como também as tecnologias resinificam o nosso pensamento e a nossa ação. Nesse sentido, as fontes de informações são variadas e diversas, e é preciso saber lidar com elas, utilizando-as a favor da aprendizagem dos sujeitos enquanto que a prática pedagógica é enriquecida pelo uso das tecnologias, favorecendo o desenvolvimento de uma didática diversificada, no que se refere às estratégias pedagógicas. O papel do professor no contexto da tecnologia exige dele uma ação consciente e promotora de novas aprendizagens, tanto dos alunos, quanto das suas próprias reelaborações do conhecimento. O professor deve ter uma ação que se configure mediadora da aprendizagem e que desenvolva nos sujeitos a curiosidade científica, a ressignificação do conceito de aprender, e sobretudo a autonomia intelectual dos estudantes. A presença pedagógica, durante a pandemia, requisitou não apenas o envio e recebimento de informações e conteúdos curriculares, mas também salientou aspectos da sociabilidade, comunicação, interação e conhecimento. Como pudemos constatar, as aulas remotas foram utilizadas com o apoio e engajamento dos professores, ainda que isto tenha exigido demasiados esforços tanto no aspecto profissional quanto pessoal. A partir das narrativas e apontamentos de professores, vimos lares se transformarem em studios e horários de “expediente” serem extrapolados pela flexibilização do atendimento aos alunos, incluindo os fins de semana. Do mesmo modo, constatamos que o uso da internet em atividades pedagógicas, antes da pandemia, não era uma prática comum à maioria dos docentes e que, por isso, para muitos professores, o trabalho foi complexo e difícil.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Nanci Aparecida de; Yamada, Bárbara Alessandra Gonçalves Pinheiro Manfredi, Benedito Fulvio. Tecnologia na escola. São Paulo: Cengage Learning, 2014. CARMO, Valéria Oliveira do. Tecnologias educacionais. São Paulo: Cengage Learning, 2015 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Rio de Janeiro: Atlas, 2019. KENSKI Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. São Paulo: Papirus, 2021. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2021. OLEGÁRIO, Danilo. Educação pós-pandemia. São Paulo: Almedina Brasil, 2021. SANTOS, B. de S. A Cruel Pedagogia do Vírus. Coimbra: Almedina, 2020. SANTOS, Edméa. Mídias e tecnologias na educação presencial e à distância. Rio de Janeiro: LTC, 2016. SANTOS, Pricila Kohls dos; Ribas, Elisângela Oliveira, Barreto. Educação e tecnologias. Porto Alegre: SER - SAGAH, 2017.

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METODOLOGIAS ATIVAS: Aplicação e ferramenta na sala de aula José Francisco da Costa Júnior§, Rogério Vieira Primo**. Walther Anastácio Júnior††

RESUMO

O artigo tem por finalidade apresentar características das metodologias ativas e analisar sua utilização em sala de aula pelos professores de uma IES de Governador Valadares. Sob esse enfoque, salienta-se que as Tecnologias de Comunicação e da Informação (TICs) inseridas no contexto das salas de aula, visam o desenvolvimento dos aspectos educacionais e de aprendizagem dos alunos. Este trabalho adotou como método de investigação a Pesquisa Bibliográfica, por meio do levantamento de referências teóricas já publicadas e analisadas recolheram-se as informações e argumentos necessários, com diversas posições sobre o enfoque do uso de metodologias ativas como instrumento de ensino e aprendizagem. O produto desse processo é a formação de indivíduos autônomos, que aprendem por si próprios, aprendem a aprender, através da busca, da investigação, da descoberta e da invenção. Dessa forma, sabe-se que essa ferramenta são se consubstancia em recursos tecnológicos de que o professor pode lançar mão para facilitar o aprendizado. Palavras chave: Metodologia Ativa. Ensino. Sala de Aula.

1 INTRODUÇÃO Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) 2000, as novas tecnologias da comunicação e da informação permeiam o cotidiano, independente do espaço físico, e criam necessidades de vida e convivência que precisam ser analisadas no espaço escolar. Os sistemas tecnológicos, na sociedade contemporânea, fazem parte do mundo produtivo e da prática social de todos os cidadãos, exercendo um poder de onipresença, uma vez que criam formas de organização e transformação de processos e procedimentos. De acordo com Bernini (2017), metodologias ativas de ensino e aprendizagem são práticas de ensino nas quais o objetivo é envolver o aprendiz no processo de aprendizagem, tornando o aluno o protagonista do próprio conhecimento. Esse tipo de metodologia contrasta §

Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br ** Professor de graduação e Pós-graduação. Mestre em Administração. Especialista em Educação Matemática; Gestão Financeira de Empresas; Gestão empresarial pela PUC Minas. Especialista Gestão Escolar pela Unipac e Marketing e Gestão Estratégica de Comunicação e Informação. E-mail: rogerioprimo@unipac.br †† Professor de Graduação e Pós-graduação. Graduação em Administração e Matemática. MBA em Gestão Financeira Controladoria e Auditoria; Especialista em Administração Escolar, Orientação, Supervisão e Inspeção; Professor de Planejamento e Gestão Estratégica da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: waltheradmjunior@gmail.com

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com a tradicional, que é aquela em que o professor é o detentor do conhecimento, e o aluno é apenas um receptor de informações. Vive-se num mundo em constante transformação. A sociedade está a todo instante mudando, evoluindo, seja na economia, cultura, política, tecnologia, e isso não é diferente com a educação. Algumas ideias e conceitos, estão se tornando obsoletos como consequência dessa mudança, e com o passar do tempo vão cair em desuso. Uma das principais ideias que está ficando no passado, é a de que o principal personagem dentro da sala de aula é o professor. Segundo Gil, (2020), prevaleceu durante muito tempo a concepção da aula como um tempo e um espaço do professor, que ele poderia utilizar da forma que considerasse mais adequada para transmitir o conteúdo programático da disciplina que se dispôs a lecionar. Nessa concepção, o professor é a figura central do processo. Cabe-lhe, então, definir os objetivos da disciplina, determinar as estratégias e os recursos para “passar a matéria”, os procedimentos para avaliar o desempenho dos estudantes e decidir acerca de sua aprovação no curso. Todas as iniciativas são tomadas por ele e, consequentemente, tudo o que acontece em aula é responsabilidade dele. Essas transformações que ocorrem na educação, encontram na metodologia ativa um dos seus principais expoentes. Ela é uma nova perspectiva sobre os papéis de cada um dentro da sala de aula, o aluno passa a ser visto como sendo origem da própria ação, ou em outras palavras, ele é o personagem principal dentro da sala, e não mais o professor, que agora passa a ser um mediador, entre o aluno e a informação, para que esta realmente possa ser aproveitada, e assim servir de base ou se converter em conhecimento. O método dito tradicional, ainda possui muita força dentro das escolas. Ele é caracterizado pela centralização das aulas em torno do professor, onde ele reproduz teorias e exercícios em forma de meras informações, não se preocupando com o aproveitamento que os mesmos terão perante os alunos. O foco central das aulas é apenas o conteúdo, não se dedicando muita atenção à parte prática. É um ensino predominantemente verbalista, que mantém o aluno em um estágio de passividade, em um ambiente um tanto formal e disciplinado.

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2 METODOLOGIA A metodologia de pesquisa realizada para a elaboração deste artigo abrange pesquisa bibliográfica aplicada com abordagem qualitativa e quantitativa e questionário como forma de obtenção de dados para realização de gráficos e tabelas comparativas. A principal função da pesquisa quantitativa, de acordo com Gil (2019), é mensurar os dados coletados, inclusive dados de entrevistas, que devem ser convertidos em números, para se obter a classificação e o resultado da análise. Trata-se de um tipo de pesquisa que mostra os dados de uma maneira geral e objetiva, tornando possível medir. Ainda segundo Gil (2019), a pesquisa qualitativa utiliza de recursos naturais como principal fonte para coleta de dados. Também é utilizado trabalho intensivo de campo envolvendo o pesquisador, tornando-o essencial para obter o resultado da pesquisa. Os dados coletados são predominantemente descritivos, e todo o conteúdo que envolve esse tipo de pesquisa contém descrições de pessoas, acontecimentos, depoimentos, situações, entre outros. A aplicação desse método está mais focada no processo em geral do que no produto. O objetivo maior, dessa forma, é identificar um determinado problema e entender como ele atua em determinadas atividades. Segundo Lakatos e Marconi (2017), um questionário é tão somente um conjunto de questões, feito para gerar os dados necessários para se atingir os objetivos do projeto. Não existe uma metodologia padrão para o desenvolvimento de questionários, mas seguir um método de elaboração, sem dúvida, é essencial.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Camargo (2018), apesar da contemporaneidade das metodologias ativas como prática pedagógica, suas matrizes conceituais datam do início do Século XX. Ao escrever acerca da necessidade de se inovar as práticas pedagógicas na sala de aula, não se pode deixar de mencionar os principais autores que defenderam, desde o Século XX, uma educação pautada na aprendizagem por meio de metodologias mais ativas. Para Araújo (2015) um dos primeiros indícios de metodologias ativas surgiu no decorrer da época moderna. Montaigne (1533-1592) foi um dos primeiros que defendeu a atenção do preceptor ao desenvolvimento intelectual da criança, sendo sua responsabilidade incentivá-la a tomar decisões e exercitar suas habilidades de discernimento. Ele também enfatiza que o TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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professor deve respeitar o ritmo de aprendizagem de cada criança, de forma que, ao analisar o ritmo com que ela se desenvolve, irá revelar uma atividade que o mentor deve respeitar. Ainda de acordo com Araújo (2015), é importante que o educador propicie o desenvolvimento da inteligência da criança, a fim de que se possa contemplar seu desenvolvimento e entender qual o ritmo que se deve andar, pois, se não souber dosar o ritmo, é possível que ele atrapalhe todo o trabalho realizado. Assim, a aula não consiste apenas em um tempo e lugar que o aluno tem para ouvir as preleções do professor ou assistir à projeção de slides ou de vídeos. É tempo e lugar para ler, duvidar, questionar, perguntar, escrever, ouvir os colegas, comparar, debater, exercitar e experimentar. São, pois, muitas as atividades que podem ser desenvolvidas em aula. E muitas delas não precisam necessariamente ocorrer em sala de aula. Há assuntos que podem ser abordados de forma mais eficaz em outros locais, como aqueles em que de fato se efetivam as atividades dos profissionais que se deseja formar. Para Nogueira et al (2020), cabe ao professor, nesse contexto, definir os objetivos da disciplina, selecionar estratégias e táticas de ensino, planejar as atividades didáticas e elaborar instrumentos de avaliação da aprendizagem. Mas sempre em interação com os alunos, mediante trabalhos em equipe e adoção de métodos ativos capazes de proporcionar um ambiente estimulador da aprendizagem. E ainda segundo esse autor, cabe ao aluno, consequentemente, a adoção de posturas ativas, que impliquem o interesse em aprender, participar, perguntar, trocar ideias, questionar e debater. Segundo Camargo (2018) é necessário considerar que o processo de ensinoaprendizagem é algo extremamente complexo, possui caráter dinâmico e não acontece de forma linear, exigindo ações direcionadas, para que os alunos possam se aprofundar e ampliar os significados elaborados mediante sua participação. E ainda Camargo (2018) expõe que ao apostar em uma nova concepção de ensino, evidentemente, deve-se pensar em uma prática pedagógica capaz de garantir aos alunos uma aprendizagem sólida, que lhes permita enfrentar criticamente as mudanças da atual sociedade da informação e do conhecimento. Para que o estudante assuma uma postura mais ativa e, de fato, se descondicione da atitude de mero receptor de conteúdos e busque efetivamente conhecimentos relevantes aos problemas e aos objetivos da aprendizagem, os processos educativos devem acompanhar essas mudanças.

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Diante do exposto, defende-se que as metodologias ativas representam uma alternativa pedagógica capaz de proporcionar ao aluno a capacidade de transitar de maneira autônoma por essa realidade, sem se deixar enganar por ela, tornando-o também capaz de enfrentar e resolver problemas e conflitos do campo profissional e produzir um futuro no qual, a partir da igualdade de fato e de direito, cresçam e se projetem as diversidades conforme as demandas desses novos tempos.

3.1 Instrumento de coleta de dados

Para mensurar o quanto as metodologias ativas estão presentes na sala de aula, foi aplicado um questionário on line, elaborado via Formulários Google envolvendo os professores de uma IES de Governador Valadares, no segundo semestre de 2021, no qual se obtiveram 18 (dezoito) respostas. O objetivo do questionário aplicado foi obter informações referentes ao conhecimento prévio dos professores quanto ao tema desta investigação, bem como identificar se eles utilizam as metodologias ativas durante as aulas e com qual frequência, qual a importância do uso dessas metodologias, quais as dificuldades e vantagens em utilizá-las sob a perspectiva do professor.

3.2 Análise dos dados

Os dados apurados revelaram que as idades dos professores variam entre 37 e 61 anos. Quanto ao tempo que os profissionais ministram aulas, houve uma grande variação entre 6 e 33 anos; apenas 4 professores ministram aulas há menos de 10 anos. No que se refere ao grau de formação, há especialistas e mestres e nenhum professor com título de doutor. Pode-se analisar a proporcionalidade desses dados na figura 01. Dos professores que responderam ao questionário, 55,5% ministram aulas em outras instituições, enquanto 44,5% ministram aulas somente na IES. Todos os profissionais afirmaram que já tinham conhecimento prévio sobre o que são metodologias ativas.

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Figura 1 – Comparação grau de formação e idade dos professores 70 60

Anos

50

48

54

52

58

40

39

10

10

6

8

48 39

20 13

12

13

16

8

61

12

56 43

42 34

33

30

20

56 49

43

37

59

56

11

8

11

14

17

13

13

0

Idade

Tempo de docencia

Fonte: Dados da pesquisa

Foi perguntado aos professores quais os tipos de metodologias ativas eram conhecidas por eles. As mais conhecidas são: PBL (Problem Based Learning), que é uma forma de aprendizado que estimula a proatividade e o aprimoramento pessoal em um grupo acadêmico por meio de discussões profundas de casos interdisciplinares e estava presente em respostas e TBL (Team Based Learning), aprendizagem baseada em equipes, é uma metodologia que favorece o aprendizado ativo, construindo um ambiente cooperativo, presente em treze respostas. Quanto à aplicação das metodologias, apenas um professor(a) afirmou que não utiliza nenhum tipo de metodologia ativa ao ministrar aulas. Quando solicitado para definir qual metodologia os professores utilizam em sala de aula, o PBL (Problem Based Learning) também é o mais utilizado; o segundo tipo mais utilizado durante as aulas é a TBL (Team Based Learning). Na pergunta sobre os benefícios que acreditavam existir ao aplicar metodologias ativas, o ponto em comum nas respostas obtidas foi: “a participação ativa do aluno faz a aula mais dinâmica e atrativa, tornando a aprendizagem uma consequência natural”, característica da metodologia que abordamos na teoria. A maioria dos professores apontou algum tipo de dificuldade referente à aplicação de metodologias ativas. O ponto em comum observado foi a resistência cultural, pois os alunos, em sua

maioria, estão acostumados com as metodologias tradicionais de ensino. Eles também afirmam que a tecnologia disponível não é adequada quando se trata de turmas maiores.

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Quanto aos dispositivos tecnológicos utilizados durante a aplicação das metodologias ativas, a maior parte das respostas obtidas apontaram para computadores e smartphones. Os softwares mais mencionados foram: Moodle e Google Forms. A maioria dos professores, afirma aplicar algum tipo de metodologia ativa, sem a necessidade de utilizar dispositivos tecnológicos. Mais de 90% dos professores afirmam acreditar que o uso dessas metodologias otimiza a aprendizagem do aluno porque o aprendiz pode vivenciar situações reais do dia a dia, podendo obter melhor aprendizagem do conteúdo. Para demonstrar as metodologias ativas mais conhecidas e utilizadas pelos professores elaboramos um gráfico (Figura 2) com as 3 (três) mais abordadas nas respostas do questionário. Figura 2 – Metodologias mais conhecidas e mais aplicadas pelos professores

Metodologias mais conhecidas e mais aplicadas Mais conhecidas 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0

Mais aplicada

17 14

13 10 6 1

PBL

TBL

SAI

Fonte: Dados da pesquisa

Também foi perguntado aos professores se eles já haviam participado de cursos e afins que utilizam metodologias ativas. Apenas dois professores responderam que não participaram de cursos que utilizam estes métodos. Os demais profissionais afirmaram que já participaram; inclusive existem professores que estão fazendo curso EAD (Educação a Distância), no decorrer do presente questionário, que utilizam metodologias ativas.

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4 Considerações finais

O objetivo deste artigo foi apresentar características, tipos e ferramentas utilizadas em metodologias ativas, uma nova forma de construir conhecimento por meio da utilização de métodos que consistem em envolver mais o aluno no próprio processo de aprendizagem. Citamos alguns exemplos e realizamos um questionário por meio do qual foram coletados dados sobre o uso dessas metodologias pelos professores de uma IES de Governador Valadares durante o exercício da profissão. A partir dessas informações, foi possível perceber o quão importante essas metodologias podem ser no desenvolvimento da aprendizagem de cada aprendiz. Após análise dos dados coletados por meio do questionário, pode-se apontar que a metodologia ativa mais utilizada pelos professores que ministram aula nessa IES é o método PBL (Problem Based Learning) por se tratar de uma maneira mais viável de ser aplicada em salas com uma grande quantidade de alunos e que tem uma dinâmica de fácil compreensão pelos alunos. Também foi possível notar que os professores que responderam ao questionário são experientes quanto ao tema abordado e utilizam práticas de metodologias ativas em seu desenvolvimento como professor. Apesar de vários tipos de metodologias ativas e de vários especialistas relatarem a experiência deles sob perspectivas diferentes, pode-se notar que os relatos dos autores, de um modo geral, seguem a mesma linha de raciocínio, transmitindo mais confiabilidade aos métodos e com uma gama de informações bastante extensa para viabilizar cada vez mais o uso dessas metodologias em sala de aula.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, J. Fundamentos da metodologia de ensino ativa. In: 37ª REUNIÃO NACIONAL DA ANPED, 2015, UFSC. Anais… Florianópolis, 2015. Disponível em: < http://www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt02-4216.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2022. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: temas transversais. Brasília, 1998. CAMARGO, Fausto F. A sala de aula inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018. Gil, Antônio Carlos. Metodologia do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2020. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Rio de Janeiro: Atlas, 2019. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. MORAN, J. M. Mudando a educação com metodologias ativas. In Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Coleção Mídias Contemporâneas. 2015. NOGUEIRA, Daniel Ramos Leal, Edvalda Araújo Miranda, Gilberto José Casa Nova, Silvia Pereira de Castro. Revolucionando a sala de aula 2. São Paulo: Atlas, 2020. TEOTONIA; MOURA. Metodologias ativas na aprendizagem: um desafio para o professor do século XXI. Formação Docente e Trabalho Pedagógico: Diálogos Fecundos. Org. Andréa Koachhann. Editora Scotti, Goiânia, 2020. p. 193- 209. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

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COMPETÊNCIAS E HABILIDADES: DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES José Francisco da Costa Júnior‡‡, Rogério Vieira Primo§§, Walther Anastácio Júnior***

RESUMO: A implementação de mudanças na educação e a aceitação das inovações no ensino são processos gradativos, lentos e, não raro, conflituosos, que enfrentam resistências aparentemente insuperáveis e historicamente cristalizadas. Não é raro se ouvir, quando se quer questionar o tipo de ensino tradicional ainda existente na maioria das escolas, que “as escolas estão no Século XIX, os professores no Século XX e os alunos, no Século XXI”. Este trabalho se propõe a investigar quais são os principais desafios enfrentados pelos professores do ensino superior. Palavras-chave: Ensino superior. Competências e habilidades. Formação docente.

1 INTRODUÇÃO

Em um cenário repleto de constantes mudanças sociais, culturais, tecnológicas e econômicas, nota-se que as instituições de ensino superior são impelidas a rever seus modelos, conceitos e práticas de ensino e aprendizagem para que tenham condições de atender às mudanças no perfil dos estudantes, da sociedade, do mercado de trabalho, das próprias profissões e ocupações, assim como de melhorar a qualidade da educação no País. Sendo assim, a promoção de tais mudanças requer o aprofundamento das reflexões e discussões sobre o planejamento do curso e das disciplinas, a preparação da aula e os instrumentos e processos de avaliação da aprendizagem no contexto educacional. E nesse caso o professor é um dos principais atores na formação do aluno e é preciso reconhecer que os professores não possuem apenas saberes, mas também competências profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados, e aceitar a ideia de que a evolução exige que todos os professores possuam competências antes reservadas aos

‡‡

Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br §§ Professor de graduação e Pós-graduação. Mestre em Administração. Especialista em Educação Matemática; Gestão Financeira de Empresas; Gestão empresarial pela PUC Minas. Especialista Gestão Escolar pela Unipac e Marketing e Gestão Estratégica de Comunicação e Informação. E-mail: rogerioprimo@unipac.br *** Professor de Graduação e Pós-graduação. Graduação em Administração e Matemática. MBA em Gestão Financeira Controladoria e Auditoria; Especialista em Administração Escolar, Orientação, Supervisão e Inspeção; Professor de Planejamento e Gestão Estratégica da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: waltheradmjunior@gmail.com

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inovadores ou àqueles que precisavam lidar com públicos difíceis e de diferentes culturas e saberes. Essas complexidades no mundo profissional – e principalmente as mudanças impostas – exigem desempenhos cada vez mais complexos. Especialmente no ensino superior, as instituições têm buscado o desenvolvimento de competências profissionais dos professores, porque a atuação dele impacta diretamente os alunos e as instituições. A formação dos professores atuantes na educação tem sido objeto de inúmeras reflexões, sobretudo a partir da década de 1990, com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), a qual se tornou o marco para o estabelecimento das diretrizes e bases da educação nacional. Embora frequentemente o professor seja visto como o principal elemento do processo de aprendizagem, ele não tem, naturalmente, o domínio de fatores relacionados aos estudantes, tais como suas características pessoais, necessidades e interesses. Não é capaz, também, de influenciar significativamente a organização administrativa da escola. Entretanto, ele tem muita responsabilidade em relação ao conhecimento da disciplina que ministra, às habilidades para comunicação dos conteúdos, à maestria em relação ao uso de recursos instrucionais e ao clima estabelecido em sala de aula. Esse artigo se propõe em investigar quais são os principais desafios enfrentados pelos professores do ensino superior. Para isso, usou-se como método a pesquisa quantitativa realizada em uma instituição de ensino superior do Leste Mineiro. Também se realizou uma pesquisa bibliográfica e documental. Utilizou-se como questão norteadora da pesquisa a seguinte indagação: Quais são os principais desafios enfrentados pelos professores do ensino superior no Século XXI?

2 MÉTODOS

A pesquisa que resultou na construção deste artigo é de natureza básica. Esse tipo de análise, além de ampliar o conhecimento da temática estudada, proporciona a busca de novos conhecimentos e a interdisciplinaridade das áreas do saber, a fim de verificar razões dos problemas práticos (GIL, 2017). Quanto aos procedimentos realizou-se uma pesquisa uma pesquisa bibliográfica e documental. Segundo Lakatos (2017), a pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as

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diferentes formas de contribuição científica que se realiza sobre determinado assunto ou fenômeno. Na lição de Gil (2019), a pesquisa bibliográfica é realizada em várias fontes, como: livros, artigos, periódicos. Nesse contexto se procuram soluções para questões elaboradas anteriormente, utilizando-se de métodos científicos, bem como de material disponibilizado pela Internet. A pesquisa documental, devido a suas características, pode ser confundida com a pesquisa bibliográfica. Gil (2019) destaca como principal diferença entre esses tipos de pesquisa a natureza das fontes de ambas (as pesquisas). Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições de vários autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental baseia-se em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. O desenvolvimento desta pesquisa se fez por meio de uma pesquisa documental, que segundo Gil (2019), “é a pesquisa realizada com base na documentação direta (questionários, entrevistas, formulários, etc.) ou indireta (resultante da extração de produtos oriundos de publicações oficiais ou privadas encontradas nos arquivos) de uma ou várias fontes”. Quanto aos objetivos, este estudo é de caráter exploratório. Para Gil (2017), pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, de maneira que se torne explícito e possibilite a construção de hipóteses. Com a fundamental finalidade de aprimorar ideias ou descobrir intuições, com planejamento flexível, possibilita a consideração dos mais variados aspectos relacionados ao fato estudado, e na maioria dos casos, atribui-se o formato de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa. Segundo Silveira e Gerhardt (2009), a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização. Para Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma perspectiva de interpretação do mundo, estuda temáticas em seus cenários naturais, tenta compreender fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. A etapa de análise dos documentos propõe-se a produzir ou reelaborar conhecimentos e criar formas de compreender os fenômenos. É condição necessária que os fatos devem ser mencionados, pois constituem os objetos da pesquisa, mas, por si mesmos, não explicam nada. O investigador deve interpretá-los, sintetizar as informações, determinar tendências e na medida

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do possível fazer a inferência. Lakatos (2017) diz que os documentos não existem isoladamente, mas precisam ser situados em uma estrutura teórica para que o seu conteúdo seja entendido. A análise qualitativa dos dados seu deu por meio da Análise de Conteúdo que, segundo Gil (2017), “é uma técnica para se estudar a comunicação de maneira objetiva e sistemática. Buscam-se inferências confiáveis de dados e informações com respeito a determinado contexto, a partir de discursos escritos ou orais de seu atores e/ou autores.”. Ainda, de acordo com esse autor, a aplicação dessa técnica geralmente acontece após, ou em conjunto com uma pesquisa documental. (GIL, 2017) Neste estudo, a análise de conteúdo foi utilizada para analisar Planos de Ensino, Planos de Aprendizagens, Cronograma de Atividades, relatórios do corpo docente e apresentações de encontros docentes e relatos de professores e coordenadores.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 O Professor e a formação docente

O professor universitário tem o papel de incluir no processo de ensino-aprendizagem a reflexão crítica de seu conteúdo, contextualizada pelos aspectos profissionais, sociais e políticos do ambiente em que está inserido. Ele só conseguirá fazer isso se a ele for propiciada uma formação didático-pedagógica adequada. Para Miranda (2018), a visão tradicional e míope, que considerava o professor a partir dos conteúdos por ele acessados em sua formação – por exemplo: o contador entende de contabilidade e o administrador, de administração, logo, eles podem ensinar tais conteúdos – não deve ter espaço na concepção profissional do docente na estrutura que existe hoje, pois apenas saber o conteúdo não é suficiente à docência. O desempenho profissional do professor tem relação direta e íntima com outros elementos da docência. Cabe salientar que o professor universitário foi historicamente construído como o indivíduo com profissão paralela no mercado de trabalho, cujo recrutamento partia da lógica de que “quem sabe fazer, sabe ensinar”. Desse modo, Demo (2019) expõe que a pedagogia universitária deve compreender os processos de pensar e de fazer, a prática pedagógica, os saberes e as competências referentes às práticas docentes e ao currículo. Enquanto Miranda (2018) diz que o campo de aplicação é promissor, especialmente no tocante às reflexões acerca da construção de universidades TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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pedagógicas, ou seja, na qual a pedagogia esteja emaranhada no íntimo da estrutura da instituição e não circunscrita a iniciativas individuais e isoladas. Segundo Demo (2019), a formação docente é uma das preocupações essenciais da pedagogia universitária, pois é preciso preparar os professores para lidar com o ambiente da sala de aula e tratar as mudanças e a realidade desse nível de ensino. Por fim, a introdução e o desenvolvimento do conceito de pedagogia universitária traduz a necessidade de se reconhecer que os professores universitários precisam de uma série de competências e de saberes para o exercício da docência. O domínio da técnica científica e profissional é necessário. Contudo, segundo Parente (2015), as formações pedagógica, social e política são indispensáveis, porque o ensino superior deve propiciar a formação de cidadãos com capacidade crítico-reflexiva e de intervenção nas situações que são postas pela sociedade e pelo mercado, e não apenas de copiadores e replicadores de técnicas e de modelos.

3.2 Concepções docentes

Uma das atribuições do professor universitário é a responsabilidade pela formação profissional de indivíduos. No entanto, a responsabilidade do professor universitário não se restringe ao conteúdo técnico das disciplinas. Para Libâneo (1994), a formação deve ser plena, de forma a desenvolver no educando o senso crítico e a capacidade de análise. Para Libâneo, existem dois problemas recorrentes no ensino universitário: 1) “desconhecimento ou a recusa das contribuições da pedagogia e da didática” e 2) “a segregação entre o conteúdo da disciplina ensinada, sua epistemologia e os métodos de investigação”. Explica o autor que alguns professores são adeptos da didática tradicional, voltada para aspectos prescritivos e instrumentais do ensino. Já outros não se preocupam em auxiliar o estudante a vincular a própria aprendizagem ao domínio dos procedimentos lógicos e investigativos da disciplina. Ora, na era da informação, a simples transferência do conhecimento teórico acumulado no curso da história não pode ser considerada a lógica do sistema de ensino.! Afinal, todo esse conhecimento pode ser acessado por qualquer um, a qualquer momento. Portanto, conforme Demo (2019), o professor deve ser o profissional que faz a interlocução desse conhecimento com a realidade social encontrada, articula-o com o contexto do estudante e promove a compreensão, a construção conjunta do conhecimento e o desenvolvimento do processo de aprender com autonomia.

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Nesse sentido, a educação não deve ser compreendida apenas sob os aspectos de métodos e de técnicas, mas, também, pelo relacionamento entre conhecimento e sociedade. Além disso, é necessário considerar a conjuntura social em que o ensino ocorre. A preocupação do professor com o que vai ensinar não é errada; é necessária. Todavia, é preciso que ele se atente também para aqueles que construirão o ensinamento, os “alunos”. Com as mudanças no ensino superior nos últimos tempos, acelerada por conta da pandemia provocada pela Covid-19, o papel do docente se alterou, sendo requeridas outras práticas como: o conhecimento sobre as tecnologias de informação e de comunicação; o domínio da investigação científica, entre outros. Nesse contexto, a docência universitária deve ser voltada à aprendizagem, sendo necessário que o professor estabeleça seu planejamento educacional de modo a atingir os objetivos relacionados ao desenvolvimento cognitivo, afetivoemocional, às habilidades e às atitudes dos alunos. Ainda é grande o espaço a ser coberto para que se alcance um cenário adequado de estrutura de ensino e de formação docente, especialmente o do ensino superior.

3.3 Aproximações com os conceitos de competência e a habilidade É comum a associação do termo “Competência” à gestão estratégica de pessoas. No entanto, esses temas têm recebido uma atenção destacada na área organizacional. Para se ter uma ideia uma busca no Google pelo termo “gestão de competências” gerou aproximadamente 16.900.000 resultados. Segundo Fernandes (2013), competência é “Um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que um indivíduo mobiliza e aplica, de forma reiterada, dentro de um contexto profissional, agregando valor à organização e a si mesmo. As competências organizacionais sustentam-se em recursos, dentre os quais os mais importantes são as competências das pessoas. Por esse conceito, Fernandes (2013) diz que a competência individual tem duas dimensões: as capacidades, pré-requisitos para uma atuação competente, e as entregas, a aplicação das capacidades para gerar valor à empresa e a si mesmo. Para o indivíduo ser considerado competente, não basta conhecer, ou ter algumas habilidades, atitudes e valores: é fundamental que aplique isso dentro da instituição. Assim, para avaliar a competência de alguém, é preciso examinar: 1) As capacidades: o profissional tem os conhecimentos,

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habilidades, atitudes e valores necessários para agregar valor e 2) As entregas: o profissional aplica/entrega essas capacidades em seu trabalho. Um segundo conceito associado a competências individuais, ainda para Fernandes (2013), é o de níveis de complexidade. Ao longo do tempo, é natural que um profissional adquira novas experiências, aprenda novos conceitos e habilidades, assuma novos desafios, desempenhe trabalhos cada vez mais complexos e agregue mais valor ao negócio. Esse desenvolvimento de um profissional corresponde a um aumento no nível de complexidade em que exerce seu trabalho, indo dos mais simples e rotineiros, nas posições mais iniciais, aos mais sofisticados e complexos, nas posições finais da organização. Esse aumento no nível de complexidade com o desenvolvimento profissional se traduz em uma série de fatores, como a abrangência das decisões tomadas (se envolve apenas uma atividade, um processo, uma área, uma unidade, várias unidades ou toda a organização), o nível de atuação (estratégico, tático e operacional), o nível de estruturação das decisões (indo de estruturadas e rotineiras a decisões com múltiplos focos e variáveis), o nível de autonomia do profissional (baixo versus alto), o escopo geográfico de suas atribuições (local/interna, regional, nacional, internacional), o nível de articulação (dentro de uma equipe operacional e interna até a sociedade mais ampla). Segundo Maximiano (2019), as competências estão em fluxo constante de desenvolvimento. Nascem das aptidões, que se transformam em habilidades e se desenvolvem como capacidade de agir e ação efetiva. Em estágio superior, transformam-se em perícia (expertise). O cotidiano do professor, requer diariamente competências no desenvolvimento de suas atividades. Ao fazer o diário, nas práticas associacionistas, que nos levam a um saber fazer, saber agir, saber conviver e nos documentos oficiais da instituição.

4 Resultados e discussões 4.1 Principais desafios da implementação do ensino por competências na educação superior. Há diversas discussões acerca do que é ser e o que faz o professor do ensino superior. E essas discussões perpassam o conceito de docência e as diferentes atribuições que o docente universitário tem exercido.

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Para Miranda (2018), professor é alguém que ensina algo a outrem. Entretanto, essa definição é altamente genérica e traz um novo questionamento: o que é ensinar? Essa pergunta nos remete a diversas possibilidades. Em uma perspectiva mais “tradicional”, ensinar é transmitir informações e conhecimentos para outras pessoas. Essa definição tem origem no modelo escolar francês originado no século XII, que, devido ao número restrito de livros e difícil acesso a eles, tinha suas aulas separadas em dois momentos distintos: a lectio, que consistia na leitura e explanação do texto e era feita pelo professor em sala de aula, e a questio, que consistia em perguntas feitas pelo professor aos alunos e vice-versa. Já sob uma ótica mais progressista, segundo Miranda (2018), pode-se afirmar que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou construção. Essa ótica progressista de construção, e não transferência, de conhecimentos, tem como pressuposto o protagonismo do estudante sob sua própria formação e o desenvolvimento de sua autonomia, característica amplamente demandada pelo mercado de trabalho e pela sociedade contemporânea. Assim, segundo essa ótica, o professor do ensino superior não atua simplesmente formando contadores, médicos, advogados, arquitetos etc.: ele deve formar cidadãos com raciocínio crítico que contribuam com o desenvolvimento de sua área de atuação e com a sociedade de maneira geral. Portanto, que sejam agentes de transformação. É mister dizer que além do ensino, o professor que atua no ensino superior desenvolve outras funções, dependendo da instituição em que trabalha. Dentre as funções que esse docente pode exercer, destacam-se a de pesquisador, coordenador do curso e de gestor das diversas áreas que compõem uma universidade, entre outras. Assim, além de ser professor, atua em várias outras funções, que demandam outros saberes e competências. Em muitos casos o professor do ensino superior ingressa na docência sem formação ou preparação para tal. Dessa maneira, enfrenta diversos desafios no começo da carreira. A seguir são apresentados alguns conselhos a professores iniciantes sobre certos aspectos da formação e atuação docente. De acordo com pesquisa realizada com os docentes do ensino superior de uma IES do Leste de Minas Gerais, encontraram-se diversos aspectos que os professores relataram como dificuldades para o exercício da docência. As principais dificuldades dos professores participantes da pesquisa foram: a falta de motivação discente, a heterogeneidade das classes, as salas superlotadas, a falta de tempo e dificuldade de determinar o aprendizado. É possível TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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observar que, dos cinco problemas enfrentados, dois deles são relacionados ao discente, dois à prática docente e um relacionado à instituição. Acerca do discente, são encontrados dois perfis nas salas de aula hoje em dia: o acadêmico que vem do mercado, buscando aperfeiçoamento da prática profissional, e que trabalha, aportando suas experiências profissionais para a sala de aula; e o aluno, que ainda não teve contato nenhum com o mercado de trabalho, e que, portanto, tem a aula como sua primeira aproximação com a profissão. Conforme nos relata um dos entrevistados:

Muitos dos alunos trabalham até oito horas por dia e após um dia inteiro de trabalho enfrenta uma sala de aula e em alguns casos, esse aluno mora em outra cidade. Pega ônibus e chega tarde em casa. Essa rotina fica exaustiva para ele, diferentemente daquele aluno que ocupa seu tempo somente com o estudo e esses dois perfis são facilmente identificados na sala de aula.

A presença desses dois perfis em sala de aula se mostra um desafio a ser superado pelo professor, que precisa buscar estratégias de ensino que não prejudiquem nenhum dos lados e que, ao mesmo tempo, atendam aos dois. Uma estratégia é a adotada pelo entrevistado 01 de trazer os conceitos trabalhados para uma realidade que o aluno sem experiência de mercado possa se identificar. Por outro lado, para o estudante que trabalha, a literatura indica a adoção de metodologias ativas que o envolvam no processo de ensino e permitam que compartilhe a sua experiência profissional. Nos encontros docentes realizados todo início de semestre por essa instituição, encontraram-se em muitos deles tópicos sobre a importância do primeiro dia de aula. Para o diretor acadêmico, a primeira aula do semestre é vista como uma das mais importantes, pois, quando bem-preparada, já alinha as expectativas do docente e do discente. É, também, o primeiro contato entre o docente e a turma que cursará aquela disciplina. E, no caso dos docentes iniciantes, será a primeira experiência em sala de aula no papel de docente. O nervosismo da primeira aula deve ser compensado pelo planejamento e o conhecimento do professor. Fato que é preciso planejar e se preparar não só para a primeira aula, como para todas as outras que serão desenvolvidas no semestre letivo. Ressaltam-se alguns aspectos a serem observados durante o planejamento de uma disciplina. O Quadro 1 apresenta, de maneira sintetizada, os itens que vão da análise de prérequisitos aos instrumentos de avaliação da aprendizagem.

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Quadro 1 - Como planejar uma disciplina

Pré-requisitos

Conheça o perfil da turma

Definir os objetivos da disciplina

Escolhendo métodos e técnicas de ensino Escolha das referências-base

Avaliando a aprendizagem

Ao planejar uma disciplina é importante que o docente atente para quais são os pré-requisitos exigidos do estudante para que possa cursála pois, assim, já é possível já saber o que esperar acerca de seu conhecimento prévio. Ao conhecer o perfil da turma, o docente pode planejar melhor a sua disciplina e escolher os métodos e técnicas de ensino, a carga de trabalho que será exigida fora da sala de aula etc. Para tanto, pode lançar mão de uma avaliação diagnóstica nos primeiros dias de aula. A questão norteadora do planejamento de uma disciplina deve ser “o que os alunos têm que saber ao finalizarem a disciplina?” Assim, ao definir os objetivos de aprendizagem, o docente já pode traçar as estratégias para alcançar objetivos, competências e habilidades e, também, definir como avaliar se os objetivos foram alcançados. A partir do objetivo da disciplina e do perfil discente, o docente pode escolher o melhor ou os melhores métodos de ensino a serem utilizados para alcançar o objetivo proposto. As referências-base da disciplina têm um efeito considerável na qualidade da disciplina, principalmente porque são fontes de consulta disponíveis ao aluno a qualquer tempo. Para verificar se os objetivos da disciplina foram alcançados, é preciso adotar alguns instrumentos e algumas métricas. Ou seja, é preciso avaliar. A avaliação da aprendizagem é um dos componentes mais complexos e controversos da prática docente, pois o uso de instrumentos não adequados pode comprometer a avaliação do rendimento de uma turma inteira.

Fonte: Miranda, (pag. 164, 2018)

Especificamente sobre a primeira aula, encontrou-se nos nas apresentações dos encontros pedagógicos promovidos pela Instituição que, ao iniciar a aula, o professor deve entregar o planejamento da disciplina, incluindo seu nome, meios de contato, horários de atendimento extraclasse, referências básicas e complementares da disciplina, cronograma das aulas e informações completas sobre o método de avaliação a ser utilizado. Os documentos sugerem, ainda, que, ao invés de simplesmente explicar o plano de aula, o professor utilize essa aula para alinhar as expectativas com os estudantes, discutindo as seguintes questões: como a disciplina ocorrerá? Qual conteúdo será abordado? O que é esperado dos alunos? Pode, ainda, fazer uma avalição diagnóstica, bem como revisar conceitos essenciais para a disciplina, superando alguma lacuna de aprendizagem de disciplinas anteriores. A IES pesquisada traz muitas orientações sobre o primeiro dia de aula, tanto em questões técnicas pedagógicas, quanto comportamentais. No dia 30 de julho de 2013, esse tema foi pauta do encontro pedagógico de início de semestre em que se trabalhou, além de outros assuntos, procedimentos sobre o primeiro dia de aula. Também foram identificados outros registros sobre orientações em demais encontros pedagógicos. No encontro do dia 28.01.2016, registraram-se como itens da pauta e orientações: Falar resumidamente da sua formação; Discorrer sobre a TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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disciplina a ser lecionada; Definir os instrumentos de avaliação, nota atribuída a cada atividade avaliativa e as prováveis datas de aplicação; Estabelecer um clima de interação, da “Criação de Pontes” entre o seu conhecimento e o dos alunos; Apresentar o Plano de Aula e orientar o aluno a consultá-lo no Portal Acadêmico; Apresentar o cronograma de aula.”. É exatamente nesse momento que acontece a relação de confiança entre o docente e os alunos. Quanto mais detalhado o plano de aula, com as possibilidades, datas, conteúdos, avaliações etc., melhor será a possibilidade de implementação das atividades acordadas entre os atores do processo: professor e estudantes. Outro desafio a ser enfrentado pelo professor é a avaliação. Gil (2020) aponta que uma das tarefas mais desagradáveis da docência é o ato de avaliar, pois demanda muito tempo e é uma tarefa que precisa ser pensada de acordo com o objetivo a ser alcançado na disciplina. Assim, é necessário organizar as formas de avaliação durante o planejamento da disciplina. A IES possui o procedimento de avaliação estabelecido no seu Regimento e ele é disponibilizado nos planos de ensino de todas as disciplinas. Nesse sentido, o professor precisa escolher alguns instrumentos a serem aplicados no processo de avaliação, uma vez que, segundo o Regimento a “verificação do rendimento escolar do aluno é feita por componente curricular levando-se em conta a frequência e o aproveitamento nos estudos, conforme exigências legais’ e ainda

Todas as etapas devem contemplar pelo menos uma prova escrita, sendo que, especificamente na terceira etapa, deve ser realizada uma avaliação individual, elaborada pelo professor, que contemple o conteúdo integral da disciplina no semestre ou, ainda, de caráter interdisciplinar.

Outro ponto importante a respeito da avaliação é ter em mente que ela deve estar aliada ao processo de aprendizagem. Deve servir como um diagnóstico da aprendizagem do estudante, em que docente e discente identifiquem as lacunas da aprendizagem. Mas, para isso, é necessário que as atividades de aprendizagem e de avaliação possuam um feedback elaborado pelo professor. Miranda (2018) afirma que o feedback ajuda no processo de aprendizagem. A IES pesquisada sugere que a avaliação seja feita de maneira contínua, por meio de diferentes métodos avaliativos, para diminuir a pressão e ansiedade dos estudantes em relação à “prova”. Apesar da importância da avaliação da aprendizagem dos estudantes, esse não é e nem deve ser o único item analisado em sala de aula. É importante que o docente realize avaliações a respeito da disciplina e do seu desempenho para que possa melhorar não só a disciplina, mas também sua prática. Afinal, assim poderá tomar ações corretivas que sejam tempestivas. Gil TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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(2019) reflete sobre a importância da autoavaliação e sobre os diferentes mecanismos que o professor pode utilizar, desde “prestar atenção aos estudantes e às suas reações, até conversar e ouvir as pessoas”: Para Leal (2017) a prática de avaliação pode auxiliar o docente a refletir sobre sua desenvoltura profissional, sobre seu desenvolvimento, sobre o que deu certo e o que deu errado no decorrer do semestre e os porquês. Pode ser feita tanto por meio de uma autoavaliação crítico-reflexiva, quanto por instrumentos de avaliação entregue aos alunos ou por avaliações institucionais. É importante que também sejam contínuas e não somente ao final do curso. Se feitas apenas ao final do curso, servem apenas como certificação de resultados bons ou ruins, sem possibilidade de correção para aquela mesma turma. Nesse Norte, demais sabido que, ao elaborar uma avaliação, o professor há de considerar diversos aspectos, dentre os quais: a) quantidade e qualidade das questões; b) tempo destinado à resolução; c) grau de dificuldade de cada questão; d) conformação da turma (diferenças de idade, experiência profissional na área – ou a ausência dela –, nível de conhecimento da língua pátria; e) aplicação da teoria na prática e vice-versa. E, sem conhecimento das técnicas da Didática, da Pedagogia, da Psicologia, da Sociologia, elaborar uma avaliação tecnicamente adequada se faz impossível. Cediço que, em geral, os acadêmicos acabam de sair da adolescência e a formação de suas mentes, de todo o seu futuro como homem, como cidadão, depende do grau de consciência do professor. Com efeito, o ensino superior, especialmente o privado, carece de profissionais com formação nas áreas da pedagogia, didática, psicologia e sociologia. E as instituições de ensino superior têm de oportunizar essa formação a seus professores se quiserem oferecer um ensino de qualidade. Não há uma receita para ser um bom professor, porém, na perspectiva do aluno ele sempre teve muita importância na busca de respostas. Ou seja, aprendemos a ser bons professores com os nossos melhores professores. Adotamos modelos para práticas que incorporamos e para práticas que evitamos. Relatos do entrevistado 02 confirmaram a importância dos exemplos (bons e ruins) de nossos mestres.

Eu tive ótimos professores: didática, no quadro, acompanhamento, resolução de exercício, enfim... E tive péssimos professores, também: didática muito fraca, pouco interesse pela aula, do tipo de aplicar seminários e levar trabalhinhos para fazer na sala.

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Eu cheguei a ter professor que lia apostila sentado na cadeira, E essa era a aula que a gente tinha.

Segundo o coordenador de um dos cursos da IES, os “professores referências” que se destacaram foram em função à sua didática – fator decisivo para a escolha –, suas atitudes e qualidades pessoais, ao domínio do conteúdo que lecionam e à experiência como profissionais. Entretanto, outros elementos aparecem como fatores importantes para a prática do bom professor:

relacionamento

com

a

turma,

didática,

postura,

aspectos

pessoais

e

comprometimento com a função. A partir dos relatos dos entrevistados, da literatura e da experiência dos autores, é possível afirmar que um bom professor é aquele que desempenha bem a sua função de ensinar, tem bom relacionamento com os alunos, apresenta-se interessado e empolgado pela disciplina, é exigente, mas não dispensa o lado humano em sala de aula. Importante ressaltar que em diversas pesquisas sobre os saberes docentes, em que foram investigados os discentes, eles relatam que o bom professor é aquele que tem “didática”. Outro ponto que merece destaque é a relação entre professores e alunos. Essa relação pode e deve ser salutar e próxima. Contudo, alguns professores ainda usam e abusam de sua autoridade em sala de aula, caracterizando o uso do “argumento da autoridade”, ao invés da “autoridade do argumento”, criando um ambiente duro e difícil que prejudica os processos de ensino e aprendizagem. A relação com outros professores (pares), assim como com os estudantes, deve ser benéfica para ambos. Ao ter contato com professores mais experientes é possível ter referências que já trazem uma bagagem experiencial importante e que podem contribuir para a formação e a prática dos novos docentes. Já os novos docentes podem trazer para os docentes mais experientes inovações e novidades em termos pedagógicos e tecnológicos, contribuindo também para a prática desses docentes, em um processo de reflexão sobre sua prática. Com base nos relatórios do Corpo docente, o ingresso no ensino superior apresenta a dualidade Profissional Professor × Professor Profissional. Segundo esses documentos, a maioria dos professores dos cursos de bacharelados exercem atividades profissionais fora da faculdade, principalmente atuando em atividades comerciais e empresariais. Assim, o Profissional Professor acaba tendo pouco tempo para se dedicar à docência e baixo nível de comprometimento com ela, além de não ter preparo didático-pedagógico.

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Outra preocupação levantada em relação a esse perfil de professor é a possível mecanização dos processos, resultando na falta de reflexão sobre o conteúdo programático das aulas. Já o outro perfil, Professor Profissional, seria aquele com formação didático-pedagógica adequada, titulação acadêmica compatível para atuação e, se possível, dedicação exclusiva com a instituição em que trabalha. Contudo, conforme relatórios do Corpo docente, é importante que, em algumas áreas, exista a ligação entre academia e mercado favorecendo a troca de experiências entre os ambientes interno e externo do ensino. Segundo o diretor acadêmico, o adequado para as instituições é que parte do corpo docente trabalhe com dedicação exclusiva, para dar maior assessoria aos alunos e fomentar pesquisas, e a outra parte trabalhe com dedicação parcial, buscando experiências fora da academia e trazendo-as para suas aulas. Não se trata aqui de argumentar pelo distanciamento entre teoria e prática na academia, porque não há possibilidade de teoria sem prática, – uma vez que a teoria existe para explicar a prática –, mas sim de aproximar as diversas possibilidades de interlocução entre academia e sociedade, seja pela pesquisa, pela extensão, pelo ensino ou pela presença de profissionais entre o corpo docente e discente das universidades.

5 Considerações finais

O ingresso na docência no ensino superior ocorre em diferentes fases da vida e de diferentes maneiras. Entretanto, advém quase sempre sem uma formação específica para a docência: a pedagógica. Assim, “ser professor” sem preparação para exercer sua profissão pode acarretar traumas e, até mesmo, a descontinuidade ou o abandono da profissão docente, sem contar os prejuízos para a formação dos acadêmicos, o que é pior. Neste artigo, apresentamos algumas questões e conselhos acerca do ingresso na docência, visando auxiliar futuros e novos professores para que seu ingresso não seja tão traumático. Também pretendemos que esses pontos sirvam como reflexão para docentes mais experientes, que são referência e modelo para os jovens docentes ou docentes em início de carreira. Apresentamos, também, o significado do “ser docente”. A literatura aponta que “ser docente” no ensino superior traz diversas funções e possibilidades, e, com base nas entrevistas, leituras e reflexões, podemos concluir que ser docente é muito mais que estar em sala de aula. É fazer pesquisa. É gerir as instituições. É gerir a própria carreira. Mas, acima de tudo, é ser humano. É ser humano ao lidar com suas próprias TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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dúvidas, incertezas e inseguranças, além de ser capaz de abstrair essas mesmas dúvidas, incertezas e inseguranças dos discentes – sem se deixar contaminar ou se influenciar por elas – para ajudá-los a superá-las. A literatura aponta que “ser docente” no ensino superior traz diversas funções e possibilidades, e, com base nas entrevistas, leituras e reflexões, podemos concluir que ser docente é muito mais que estar em sala de aula. É fazer pesquisa. É gerir as instituições. É gerir a própria carreira. Mas, acima de tudo, é ser humano. Como conselhos finais, sugerimos às instituições de ensino e aos seus gestores que proporcionem possibilidades de formação continuada para os docentes que compõem sua instituição. Recomendamos, fortemente, que os gestores e coordenadores de cursos institucionalizem práticas de acolhimento para os novos docentes, em que expliquem o funcionamento detalhado da instituição, a proposta político-pedagógica do curso, as crenças e valores do corpo docente, entre outras informações importantes, e os acompanhem durante o período de adaptação. Para os docentes em fase de formação, destacamos a importância da conscientização acerca da necessidade de formação didático-pedagógica e do fato de que ela ocorrerá, na maioria das vezes, por conta própria, pela reflexão sobre sua prática e pela busca proativa de oportunidades formativas. Para os docentes mais experientes e que atuam na formação de outros docentes, direta ou indiretamente, é preciso que incentivem os novos docentes a buscarem uma formação sólida. É preciso, ainda, que sirvam como mentores e exemplos positivos e, acima de tudo, reflitam sobre sua própria prática, incentivando os novos docentes a refletirem sobre a própria prática também. Para profissionais que estejam considerando a docência, seja como atividade paralela ou como atividade principal, recomendamos que reflitam sobre a importância da docência e do tempo que poderão se dedicar a ela, para que exerçam a profissão de maneira responsável e não apenas como um “bico”. Ser professor demanda, além de outras coisas, dedicação incondicional com o processo de ensino e aprendizagem, com os princípios de ética que regem uma sociedade organizada e com o comprometimento da formação do futuro profissional que atuará em nossa sociedade.

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REFERÊNCIAS

DEMO, Pedro. Professor do futuro e a reconstrução do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2019. FERNANDES, Bruno Rocha. Gestão estratégica em competências. São Paulo: GEN Atlas, 2013.

de pessoas com

foco

FREIRE, Rogéria Alves. Didática do ensino superior. São Paulo: Cengage Learning, 2016. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Rio de Janeiro: Atlas, 2019. GIL, Juana M. Sancho; Hernández-Hernández, Fernando. Professores na incerteza. Porto Alegre: Penso, 2017. LAKATOS, Eva Maria; Marconi, Marina de Andrade. Metodologia científica. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. Leal, Edvalda Araújo; Miranda, Gilberto José Casa Nova, Castro. Revolucionando a sala de aula. São Paulo: Atlas, 2017.

Silvia

Pereira

de

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. 263 p. (Formação do Professor). MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2021. MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. ADM por competências. São Paulo: Atlas, 2019. MIRANDA, Gilberto José; Leal, Edvalda Araújo Casa Nova, Silvia Pereira de Castro. Revolucionando a docência universitária. São Paulo: Atlas, 2018. NOGUEIRA, Daniel Ramos Leal, Edvalda Araújo Miranda, Gilberto José Casa Nova, Silvia Pereira de Castro. Revolucionando a sala de aula 2. São Paulo: Atlas, 2020. PARENTE, Cláudia da Mota Darós; Valle, Luiza Elena L. Ribeiro do Mattos, Maria José Viana Marinho de. A formação de professores e seus desafios frente às mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Porto Alegre: Penso, 2015.

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PERFIL DOS PROFESSORES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA IES DO LESTE MINEIRO José Francisco da Costa Júnior†††, Rogério Vieira Primo‡‡‡

RESUMO

O presente estudo consiste em analisar o perfil do Corpo Docente de uma instituição do leste mineiro. Para tal análise foi realizada uma pesquisa Bibliográfica e documental. A Pesquisa Bibliográfica foi realizada através de livros e periódicos e a Pesquisa documental foi realizada através de análise de documentos da IES como Relatórios internos, Matriz curricular, Planos de ensino, Planos de aprendizagem e Regimento geral. Palavras-chave: Docência no ensino superior. Perfil profissional. 1 INTRODUÇÃO

O cenário incerto em que estão inseridas as organizações, submetidas à fatores como a internacionalização e mudanças tecnológicas, bem como uma nova ordem que deverá se estabelecer depois de uma pandemia provocada pela Covid-19, o que deverá mudar o comportamento dos consumidores, força-as a serem cada vez mais competitivas e proativas. Essa necessidade requer que seus colaboradores sejam cada vez mais atualizados e nesses diversos cenários a demanda da sociedade tem exigido que os professores sejam cada vez mais ecléticos. Ao professor do ensino superior, é atribuída a responsabilidade de formar profissionais competentes para suprir as necessidades do mercado de trabalho. Este professor precisa saber o conteúdo, conhecer os recursos pedagógicos e as novas tecnologias para compartilhar conhecimento e promover o desenvolvimento de habilidades e competências em seus alunos, mas, como atender as expectativas e responsabilidades incumbidas a este sujeito com as deficiências e precariedades existentes no processo de formação e nas condições de trabalho dos professores universitários?

†††

Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br ‡‡‡ Professor de graduação e Pós-graduação. Mestre em Administração. Especialista em Educação Matemática; Gestão Financeira de Empresas; Gestão empresarial pela PUC Minas. Especialista Gestão Escolar pela Unipac e Marketing e Gestão Estratégica de Comunicação e Informação. E-mail: rogerioprimo@unipac.br

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O conhecimento não é inato nem é transmitido; não está no sujeito nem é dado apenas pelo objeto, mas se forma e se transforma pela interação de ambos. O aluno não é passivo nem o professor é simples transmissor de conhecimento Diversas ações são incorporadas de forma inconsciente, elas estão esvaziadas de qualquer fundamentação teórica que validamente auxilie o professor na tomada de decisão acerca do melhor cenário de aprendizado. Isso, porque toda a proposta metodológica traz em si concepções, valores e crenças em relação aos processos de ensinar e aprender. Esse artigo objetivou apresentar o perfil dos professores do curso de Administração de uma faculdade do leste mineiro. A análise foi efetuada com a organização curricular, relatórios da IES, planos de ensino e de aprendizagem e o Regimento geral. Entretanto, tendo em vista a grande quantidade de informações, para este trabalho decidiu-se apresentar somente a análise relativa ao perfil dos docentes, também foram incluídos alguns entendimentos pessoais do dia a dia de alguns profissionais de educação.

2 MÉTODOS

Essa pesquisa se caracteriza como bibliográfica e documental. A princípio foi feito um levantamento bibliográfico e análise de documentos que pudessem servir como base para nossos estudos. Para que a pesquisa pudesse ser seguida foram consultados livros, artigos científicos e revistas que tratassem do tema em questão, também foram incluídos alguns entendimentos pessoais do dia a dia de alguns profissionais de educação. O intuito de uma pesquisa bibliográfica é colocar o cientista em contato com o que foi produzido sobre determinado assunto, inclusive através de conferências (LAKATOS & MARCONI, 2017). De acordo com Gil (2019, p. 71) “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. A pesquisa documental, devido a suas características, pode ser confundida com a pesquisa bibliográfica. Gil (2019) destaca como principal diferença entre esses tipos de pesquisa a natureza das fontes de ambas as pesquisas. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições de vários autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental baseia-se em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Para que pudéssemos ter um entendimento mais apurado do tema, foram necessárias buscas em várias fontes de natureza diversa, para que chegássemos a um ponto mais seguro do objeto pesquisado.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com Demo (2012), em meio à sociedade contemporânea, a questão da formação docente torna-se um fator relevante para contribuir nas práticas pedagógicas que nortearão o trabalho do educador. Diante dessa situação, o professor, bem como outros profissionais da educação, vê-se impelidos a rever sua atuação, suas responsabilidades e seus processos de formação e ação. Assim, as mudanças ocorridas na sociedade estabelecem uma consequente necessidade de adequação da escola na atualidade. Para Freire (2016), educação se baseia no desenvolvimento individual e coletivo em busca de uma vivência à cidadania. Assim, passa a ser responsabilidade de todos que compõem a escola o desenvolvimento do conhecimento, porém este também ocorre além dos muros escolares, ou seja, na própria sociedade e comunidade na qual a instituição escolar está inserida. Munhoz (2016) corrobora com essa ideia quando diz que a educação passa a ser responsabilidade de todos os envolvi- dos por ela. Assim, para Freire (2016), o professor, nesse contexto, passa a ser impelido a assumir um novo perfil, respondendo as novas dimensões diante dos desafios da sociedade contemporânea. Por meio da formação continuada, o professor amplia saberes, como a interação com a problemática do contexto ao qual está́ inserido, buscando constantemente a atualização dos conhecimentos adquiridos, enfrentando conflitos, interagindo com o grupo e trocando experiências. Essa interação proporciona também ao educador a construção da sua identidade, seja ela pessoal ou profissional, além de contextualizar e aprimorar conteúdos que serão desenvolvidos em sala de aula, tendo em vista também que a pesquisa será fundamental em seu aprimoramento, posto que o educador é um mediador do conhecimento. Segundo Freire (2016), é possível constatar a importância do professor e de sua formação, uma vez que aquele atua na escola e esta representa o reflexo da sociedade. Gil (2020) diz que ele lida com o coletivo, com o público e com a sociedade; sendo assim, o professor deve ser um cientista social, ou seja, dialético, globalizado, informado, e ter conheci-

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mento dessa contemporaneidade, saber explicar diversos assuntos que possam vir a surgir na sala de aula. Para Miranda et.all (2018), o professor deve refletir constantemente sobre sua prática pedagógica para atender a essas exigências, que são, muitas vezes, garantidas pela formação continuada desse profissional, o que não significa cursar apenas a formação inicial, mas sim dar prosseguimento a ela. Isso se obtém também mediante horas de estudos oferecidas nas escolas, nos cursos online, ou por meio de própria pesquisa do professor. Porém, o sucesso no processo de ensino e aprendizagem escolar não será garantido apenas com essas horas de estudos, mas também a partir da prática do professor associada às estratégias diversificadas, ou seja, aos conhecimentos por ele adquiridos em sua trajetória formativa. Portanto, esse processo não depende unicamente da formação continuada, mas perpassa também o propósito do professor em estabelecer intervenções a partir de suas experiências adquiridas e trocadas com outros profissionais, no seu próprio processo de aprendizagem. O Corpo Docente do Curso de Administração da Faculdade é constituído por professores de reconhecida e comprovada capacidade técnica e científica. Os docentes são contratados dentro dos critérios previstos nas normas internas da Mantenedora. Segundo Regimento interno da Faculdade são direitos e deveres gerais do Corpo Docente: I. II.

III.

IV.

V. VI.

VII.

VIII.

IX.

Participar, diretamente ou por representação, na forma do Regimento, dos órgãos colegiados; Receber remuneração e tratamento social condizente com a atividade de magistério, além de apoio didático-administrativo para o desenvolvimento regular de suas atividades; Aplicar a máxima diligência no exercício das atividades educacionais de que esteja incumbido, propugnando melhoria constante, qualitativa e quantitativa, do produto escolar; Elaborar Plano de Aprendizagem, encaminhando-o à Coordenação de Curso, na primeira semana letiva da oferta do componente sob sua responsabilidade, para análise e aprovação; Apresentar aos alunos o Plano de Aprendizagem, bem como a bibliografia indicada; Comunicar com antecedência a necessidade de ausentar-se de alguma atividade e apresentar justificativa e documento comprobatório de ausência, tão logo seja possível; Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento, obedecidas às disposições legais; contribuir para a manutenção da boa imagem, ordem e disciplina no seu âmbito de atuação e para o crescente prestígio da Faculdade no ambiente social; Orientar, dirigir e ministrar o ensino do (s) componente (s) curricular(es) que ministra, cumprindo integralmente o programa, a carga horária, os dias letivos e horários estabelecidos, além de participar dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação institucional e ao desenvolvimento profissional; Participar dos trabalhos dos Colegiados a que pertence e de Comissões para as quais for designado;

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X. XI.

XII. XIII.

Proceder aos registros acadêmicos que lhes são pertinentes, conforme orientações e prazos definidos pela Coordenação de Curso e Direção da Faculdade; Zelar pela ordem da(s) classe(s), pela lisura dos processos de avaliação e do controle de frequência dos alunos, não permitindo que nenhuma pessoa que não esteja regularmente matriculada, permaneça em sala de aula, assim como realize provas, participe de quaisquer atividades acadêmicas ligadas ao curso e assine lista de presença; Cumprir e fazer cumprir as determinações da Direção da Faculdade, da Coordenação de Curso e dos responsáveis pelos Órgãos Suplementares; Exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas por lei, atos da mantenedora, no Regimento e no Plano de Carreira Docente da Mantenedora.

Freire (2016) salienta a importância de formar um profissional não apenas competente, mas também compromissado com a sociedade em que vive, buscando meios de colaborar com a melhoria da qualidade de vida de seus membros, ou seja, formar um profissional competente e cidadão. Figura 1 – Formação Acadêmica 60% 50% 50% 40% 30% 20% 20%

15% 10%

10%

5%

0% Administração

Contábeis

Direito

Economia

Educação

Fonte: Dados da pesquisa

Analisando-e a área de graduação do corpo docente do curso de Administração percebese que 43% dos professores são graduados em Administração, sendo os demais graduados em Ciências Contábeis (13%), Ciências Júridicas (9%), Ciências Ecônomicas (9%) e Educação (26%) e ressalta-se que 31,47 dos professores possuem duas graduações. O Corpo docente do curso de Administração é composto por 19 professores. O regime de trabalho propicia o atendimento integral e pleno da demanda existente, considerando a dedicação à docência, o atendimento aos discentes, a participação no colegiado, o planejamento

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didático e a preparação e correção das avaliações de aprendizagem, conforme documentação disponível. Segue quadro contendo o regime de trabalho do corpo docente:

Figura 2 - Regime de trabalho

TITULAÇÃO Doutor Mestre Especialista TOTAL

REGIME DE TRABALHO Integral Parcial Horista Nº % Nº % Nº % 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 5,3% 3 15,8% 5 26,3% 1 5,3% 1 5,3% 8 42,1% 2 10,5% 4 21,1% 13 68,4%

TOTAL Nº 0 9 10 19

% 0,0% 47,4% 52,6% 100,0%

Fonte: Dados da pesquisa

Pela análise do corpo docente e respectivas titulações é possível perceber que dos 19 (dezenove) professores do curso de Administração, 47,4% possuem titulação em programas de pós-graduação stricto-senso, conforme gráfico abaixo: Figura 3 - Titulação

Corpo Docente 60,0%

52,6% 47,4%

50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0%

0,0% Doutor

Mestre

Especialista

Fonte: Dados da pesquisa

Uma vez que o conhecimento é construído e não transmitido, o professor deve estar preparado para lidar com essa nova realidade, deve ter claros os seus objetivos, os seus procedimentos e suas estratégias. O docente deve incorporar ao seu trabalho a prática constante da ação investigativa e reflexiva. Tais prá- ticas devem ser especulativas e norteadoras da TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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reflexão para a sua ação. Por meio da pesquisa, o professor deve buscar novos conhecimentos, refletir sobre a sua prática, aprimorar novas intervenções, manter-se atualizado sempre em contato com a realidade, ou seja, com as mudanças, buscar novas fontes de saber, desenvolver seus conhecimentos, aprimorar o raciocínio e também sua escrita, tornando-se um profissional mais preparado para atuar constantemente voltado ao processo de ação-reflexão-ação. Porém, essa deve ser uma prática permanente na vida de um professor, e todo o conhecimento construído deve ser também refletido, pois, se não for, de nada adiantará tanto preparo. O curso de Administração possui um foco na formação de profissionais para o mercado de trabalho. Assim, fica evidente a necessidade de contarem com docentes preparados para atuar no curso da área. Segundo Gil (2020), durante muito tempo a concepção de que o professor universitário, por lidar com adultos, não necessita tanto da formação didática quanto os professores do Ensino Básico, que lidam principalmente com crianças e adolescentes. De acordo com este raciocínio, o mais importante para o desempenho do professor universitário seria o domínio dos conhecimentos referentes à matéria que leciona, aliado, sempre que possível, à prática profissional. (GIL, 2020) Figura 4 – Regime de trabalho

Regime Trabalho Corpo Docente 80%

68%

70% 60% 50% 40% 30% 20% 10%

21%

11%

0% Integral

Parcial

Horista

Fonte: Dados da pesquisa

Essa preposição foi aceita durante algum tempo. No entanto, o professor universitário precisa ser especialista em um campo de ensino. É importante que ele detenha conhecimentos em profundidade muito maior do que os requeridos nos programas das disciplinas. Isto porque TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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ele precisa dispor de competência suficiente para demonstrar a importância de seus conteúdos e esclarecer acerca de suas aplicações práticas. E também para solucionar eventuais problemas formulados pelos alunos ao longo do período letivo. Ao analisar a experiência do corpo docente, observou-se que mesmos atuam ou já atuaram nas áreas nas quais irão lecionar conteúdos no curso, de forma que possam apresentar exemplos contextualizados com relação a problemas práticos e aplicação da teoria ministrada em diferentes unidades curriculares em relação ao fazer profissional. Figura 5 – Experiência no magistério superior

Experiência no magistéro Superior 16 14 12 10 8

6 4 2 0 Menos de 01 de 2 anos a De 4 a menos De 6 anos a De 8 anos a Acima de 10 a 2 anos menos de 4 de 6 anos menos de 8 menos de 10 anos anos anos anos

Fonte: Dados da pesquisa

No gráfico acima, é possível identificar que mais de 70% dos professores que atuam no curso de administração da IES tem longa experiência em sala de aula. O autor Demo (2012: 91) escreve que “o único livro didático insubstituível é o professor”, Ora, a experiência comprovada em sala de aula pode ser um forte aliado ao professor, pois leva-o ao patamar do conhecimento técnico, empírico, que pode ser reaplicado de maneira a aperfeiçoar a didática de maneira constante e linear. Sanz (2003) afirma que para o professor duas coisas são indispensáveis – Talento e Vocação – o primeiro pode ser compensado pela disciplina, pelas horas de estudo, no entanto a vocação é que faz o professor suportar decepções, e que ajuda-o a conviver em um mundo de diversidade tecnológica, cultural e multifacetado. Para Freire (2016) todo docente deve redigir artigos e trabalhos que revelem suas reflexões pessoais (ex.: comunicação em revista, capítulos de livros, trabalhos em congressos, apostilas e até críticas de seus pares ou mesmo de seus alunos sobre eles). Para que isso ocorra, TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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toda aprendizagem deve ser significativa para o aluno, isto é, deve envolvê-lo como pessoa (ideias, inteligência, sentimentos, cultura, profissão, sociedade etc.). Para Mattar (2017), a pesquisa é o conjunto de investigações, operações e trabalhos intelectuais ou práticos que tenham como objetivo a descoberta de novos conhecimentos, a invenção de novas técnicas e a exploração ou a criação de novas “realidades”. Para Gil (2020), a pesquisa moderna está muito pouco associada à invenção, apesar de a idealização do trabalho de pesquisa indicar o contrário. A prática da pesquisa na educação abre novos horizontes e possibilidades, além de auxiliar na melhoria da qualidade do ensino. Segundo Leal (2017), na educação superior, existe a premissa da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, com ênfase na relação entre ensino e pesquisa. O que se percebe, porém, é o conhecimento eminentemente técnico sendo reproduzido nas instituições de ensino superior, o que, de certa forma, contribui para que a relação entre ensino e pesquisa não seja valorizada. (LEAL, 2017) Como alternativa ao modelo tradicional de educação, que tem o professor no centro do processo, e o estudante atuando de forma passiva, surge a estratégia de ensino com pesquisa, a qual redimensiona o processo de ensino-aprendizagem. Essa estratégia pode ser conceituada como:

[...] uma sequência organizada de situações estimuladoras e desafiadoras de aprendizagem, na qual professor e estudantes estão envolvidos como sujeitos do processo, na perspectiva de formação de cidadãos críticos, capazes de entender e transformar a realidade circundante. Aprender com pesquisa é um processo dialógico que envolve a problematização do conhecimento, a construção de argumentos e sua respectiva validação. (LEAL, pg. 31, 2017)

A partir do exposto, é possível perceber o que a ruptura do ensino com a pesquisa faz com o conservadorismo presente na educação nos dias atuais e para Gil (2020) a pesquisa como estratégia de ensino deve estar alinhada aos objetivos educacionais que se espera alcançar em determinada disciplina. Nesse sentido, a técnica pode ser adaptada aos propósitos pretendidos. Para Mattar (2017) a experiência da universidade é uma das mais marcantes na vida de um ser humano. O estudante passa, durante o período em que está cursando a universidade, por diversas transformações, como mudanças de aprendizado e cognitivas, de atitudes e valores, psicológicas e sociais, além do desenvolvimento moral.

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Figura 6 – Experiência Mercado de trabalho

Experiência fora do magistério 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Menos de 01 de 2 anos a De 4 a menos De 6 anos a De 8 anos a Acima de 10 a 2 anos menos de 4 de 6 anos menos de 8 menos de 10 anos anos anos anos

Fonte: Dados da pesquisa

O gráfico acima apresenta a experiência do corpo docente fora da sala de aula e verificando os dados, percebe-se uma vasta experiência considerando que 84,21% possuem mais de 10 anos de experiência e o que vem de encontro com a proposta do curso em possibilitar a inserção do aluno no mercado e a aproximação com a realidade. Segundo Gil (2020), o conceito de universidade está centrado na tríade ensino, pesquisa e extensão. Mattar (2017) corrobora com essa ideia afirmando que se a pesquisa deve ser entendida como a produção de conhecimento por uma comunidade de investigação, e a extensão como uma forma de a universidade prestar serviços à comunidade, oferecendo cursos e atividades diversos e variados, o ensino é em geral compreendido como o momento da transmissão do conhecimento. Entretanto, a forma de “transmissão” do conhecimento mudou. Hoje não se pensa mais numa atitude passiva do estudante, que deve simplesmente absorver as informações transmitidas pelo professor. Também em função da introdução da Tecnologia da Informação no ensino universitário, o professor é visto hoje muito mais como um orientador de estudos, e do aluno universitário se espera uma postura ativa e reflexiva. Ao analisar as publicações dos professores nos últimos 03 anos, verificou-se que há uma quantidade inexpressiva de docentes que se dedicam a essa atividade. Dos 19 professores lotados no curso 74% possuem menos de 05 artigos publicados, enquanto que 21,05% possuem mais de nove publicações.

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No curso de Administração, percebeu-se uma preocupação em inserir o aluno na iniciação científica como estratégia de aprendizagem. Ao analisar a matriz curricular verificouse que existem quatro disciplinas para tratar da atividade de pesquisa através da produção de conhecimento. São elas: Métodos e Técnicas para Normalização de trabalhos acadêmicos; Estatística aplicada à pesquisa; Pesquisa em administração e Tópicos especiais. Ao analisar os planos de ensino, constatou-se nas ementas e objetivos das disciplinas essa preocupação com a pesquisa. Contudo, observou-se que o processo é gradual, uma vez que essas disciplinas são distribuídas ao longo do curso a partir do segundo período, considerando que, em via de regra, os alunos estão tendo o primeiro contato com a pesquisa de forma sistematizada para a produção de novos conhecimentos. Contudo, cumpre constar a baixa quantidade de produção científica, cultural e artística do Corpo docente do curso de Administração, nos últimos três anos.

Figura 7 - Publicações 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Menos 5

De 6 a 7

De 8 a 9

Acima de 9

Fonte: Dados da pesquisa

É possível observar que existe uma barreira a ser superada, antes mesmo de o professor pesquisador adentrar a escola e encarar suas estruturas e o aluno. A aceitação de sua pesquisa como fonte de conhecimento relevante e essencial na produção do conhecimento, conforme pode ser observado no gráfico abaixo Assim, pode-se dizer que o enfoque do processo educativo da nova era não é a aquisição de informações, mas sim a percepção das relações contidas nos temas investigados. Nesse sentido, a valorização do conhecimento produzido pelo professor torna-se cada vez mais importante na construção do saber. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As qualidades inerentes à prática docente evidenciam a multiplicidade de habilidades de que os professores devem dispor em seu cotidiano. Tendo em vista as capacidades requeridas, não só é fundamental que haja equilíbrio, uma vez que é preciso uma base teórica sólida, mas também é necessária a utilização de exemplos próximos aos alunos, para que o aprendizado tenha significado e esteja alinhado com as práticas de mercado. Por isso, é o conjunto que propicia a reflexão da ciência e a transformação da realidade. A docência no ensino superior exige o conhecimento da área profissional em que se está atuando. Contudo, somente esse conhecimento não é suficiente. Por isso, é preciso debater sobre a forma como está sendo oferecido o ensino superior para que esse seja realmente o agente que possa provocar transformações nos indivíduos e na sociedade. Para atender a todas as exigências demandadas pela sociedade, precisa-se de professores que estejam preparados para os desafios que esse novo momento nos impõe. Nesse sentido, verificou que 50% dos professores são graduados em Administração e os demais possuem graduações na área em que lecionam e alguns deles possuem duas ou mais graduações. A IES apresentou um Corpo docente robusto com uma vasta experiência e esse fato pode ser constatado ao analisar o tempo no magistério superior que 79% possuem mais de dez anos de experiência no magistério superior e 84,24% dos professores do curso de Administração possuem mais de 10 anos no mercado. Certamente toda essa experiência irá contribuir com o professo de formação profissional do aluno, pois o trabalho docente é a base da formação escolar e contribui não só com o desenvolvimento dos alunos, mas com o progresso da sociedade em geral, utilizando o conhecimento e a educação como instrumento.

Além de ensinar os conhecimentos historicamente acumulados, deve estimular o aprimoramento e a construção de novos saberes, desenvolvendo uma relação igualitária com os alunos enquanto membros da sociedade. Contudo, no quesito “publicações” observou-se uma baixa quantidade de produções científica pois 73,69% possuem menos de 05 publicações nos últimos 03 anos e segundo instrumento de avaliação de cursos de graduação de reconhecimento e renovação do reconhecimento, indicador 2.16, para obtenção do conceito 3, pelo menos 50% dos docentes

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devem possuir, no mínimo 4 produções nos últimos 03 anos e baseado nesse instrumento, conceito atribuído ao corpo docente seria 2, o que é insuficiente. No entanto, as buscas por ser um bom profissional de educação são contínuas, visto que esses profissionais estão sempre em processo de adaptações a mudança da realidade, já que eles são os provedores, os agentes de transformação. Para que esse processo aconteça, é necessário que estes busquem estar sempre em movimento, numa constante formação, adaptando-se e inserindo-se no novo, que surge a todo momento, para que assim possam suprir as necessidades impostas pela sociedade para melhor atendê-las.

Por fim, destaca-se a importância de que a reflexão acerca da carreira docente e das nuances que a envolve sejam permanentes, compreendendo além dos aspectos racionais, também os emocionais e os cognitivos, uma vez que a academia precisa ampliar os estudos que englobam os ciclos de vida do docente, principalmente daqueles que exercem suas atividades em algumas áreas específicas, como a dos cursos de Negócios, em função das especificidades da formação dos profissionais docentes dessa área. Conhecer a trajetória de vida dos professores tem sido foco de alguns estudiosos na área educacional. Examinar o trajeto da carreira do docente possibilita várias discussões, principalmente investigar se o percurso vivido por um indivíduo interfere na sua vida adulta e na sua profissão.

REFERÊNCIAS DEMO, Pedro. Educação hoje. São Paulo: Atlas, 2012. FREIRE, Rogéria Alves. Didática do ensino superior. São Paulo: Cengage Learning, 2016. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Rio de Janeiro: Atlas, 2019. __________ Antônio Carlos. Metodologia do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2020. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. LEAL, Edvalda Araújo; Miranda, Gilberto JoséCasa Nova, Castro. Revolucionando a sala de aula. São Paulo: Atlas, 2017.

Silvia

Pereira

de

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2021. MATTAR, João. Metodologia científica na era digital. São Paulo: Saraiva, 2017.

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MIRANDA, Gilberto José Casa Nova, Silvia Pereira de Castro Leal, Edvalda Araújo Miranda, Aline Barbosa de Oliveira, Alanna Santos de Ferreira, Mônica Aparecida. Revolucionando o desempenho acadêmico. São Paulo: Atlas, 2018. MUNHOZ, Antônio Siemsen. Didática do ensino superior. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

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REFORMA TRIBUTÁRIA: JUSTIÇA FÍSCAL PROMOVENDO A JUSTIÇA SOCIAL Jackson Manoel da Silva, Marcelo da Silva Cunha§§§, Amilton Quintela Soares Júnior****, José Francisco da Costa Júnior††††, Marcelo Medeiros Filho‡‡‡‡.

RESUMO Esse estudo trata sobre a reforma tributária e como a justiça fiscal pode promover a justiça social. Tendo por objetivo central a análise do impacto da justiça fiscal na promoção de uma maior justiça social, a partir das alterações tributárias. Para isso, buscou-se compreender o escopo necessário do sistema tributário, entendendo o funcionamento do poder de tributação, quais os ditames constitucionais e princípios que norteiam o sistema tributário. Além disso, procurou-se conhecer qual a contextualização da justiça social e o cenário do atual sistema tributário, verificando como uma maior justiça fiscal pode promover a justiça social, através de uma reforma tributária. A justificativa para a realização desse estudo está na importância dos direitos fundamentais para resguardar garantias básicas aos seres humanos, bem como na redução das desigualdades sociais. Tratou-se de uma revisão da literatura e para isso, realizouse uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos, documentos eletrônicos e outras publicações. Palavras-chave: Reforma tributária; Justiça fiscal; Justiça social. 1 INTRODUÇÃO

A desigualdade social é um dos grandes problemas do brasil, que tem um baixo índice de retorno para o bem-estar da população, comparando-se com outros países que também cobram muitos impostos de sua população. Sendo assim fica claro a necessidade de uma melhor redistribuição de renda. Além de termos um sistema tributário que é altamente complexo, com uma carga pesada sobre o consumo, com um alto custo tanto para o contribuinte como para a administração pública (ANDRADE, 2015). De acordo com Ribeiro e Maciel (2017), a legislação tributária tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, podendo assim reduzir as

§§§

Acadêmicos do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares; e-mail: jcksonmanoel@hotmail.com; marceloesaskia@hotmail.com ****

Professor do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares – MG. E-mail: amilton.soares@gmail.com †††† Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br. ‡‡‡‡ Professor do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares – MG. E-mail: marcelo.medeiros@starkcontabilidadde.com

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desigualdades sociais e regionais. Identificando qual o setor atingido pela reforma que pode de alguma maneira ajudar a classe menos privilegiada a conseguir benefícios econômicos. Para além disso, o sistema tributário é o mecanismo do Estado para tentar efetivar os objetivos constitucionais, em prol da concessão dos direitos fundamentais e do alcance da justiça social. Todavia, o cenário brasileiro apresenta uma série de desigualdades sociais que leva a questionar a eficácia dos mecanismos tributários na contemplação dos objetivos estatais. Dessa forma, é imprescindível uma análise que busque compreender todo o contexto das ferramentas e ditames tributários, com a observância do viés constitucional, para poder analisar como a reforma tributária pode contribuir no alcance da justiça social. Assim sendo, esse estudo se debruça sobre a análise do tema: Reforma tributária: justiça fiscal promovendo a justiça social. A justificativa para o tema está na importância dos direitos fundamentais para resguardar garantias básicas aos seres humanos, bem como na redução das desigualdades sociais. Além disso, os fundamentos constitucionais devem ser balizadores de toda a ação estatal. Portanto, a análise do sistema tributário tem uma alta relevância para compreender a importância de uma reforma tributária. Por outro lado, a justificativa acadêmica é de que se faz necessário que os discentes compreendam melhor as problemáticas do cenário fático, de modo a adquirir propriedades críticas quanto aos sistemas que lhes serão familiares. O problema central a ser respondido nesse estudo é: Como alterações na carga tributária podem promover uma maior justiça social? O objetivo desse estudo foi analisar o impacto da justiça fiscal na promoção de uma maior justiça social, a partir das alterações tributárias.

2 MÉTODOS

Essa pesquisa se caracteriza como bibliográfica e documental. A princípio foi feito um levantamento bibliográfico e análise de documentos que pudessem servir como base para nossos estudos. Para que a pesquisa pudesse ser seguida foram consultados livros, artigos científicos e revistas que tratassem do tema em questão, também foram incluídos alguns entendimentos pessoais do dia a dia de alguns profissionais de educação. O intuito de uma pesquisa bibliográfica é colocar o cientista em contato com o que foi produzido sobre determinado assunto, inclusive através de conferências (LAKATOS & MARCONI, 2017).

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De acordo com Gil (2019, p. 71) “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. Nesse sentido, utilizou-se bases de dados seguras e confiáveis, como a plataforma Scielo. Para a realização da busca e filtragem do material foram utilizados descritores com terminologias em português, os quais facilitaram a seleção dos conteúdos bibliográficos, cujo forneceram embasamento contundentes para a confecção deste trabalho, sendo esses: Reforma tributária; Justiça fiscal; Justiça social. Os artigos e livros selecionados filtrados dentro do lapso temporal de 10 anos anteriores a data de realização deste trabalho, portanto, o marco temporal fixado foi de 2000 a 2020, salvo para obrar clássicas. Quanto à especificidade dos conteúdos dessas obras, foram selecionadas aquelas cujo conteúdo aborda especificamente essa temática. Quanto à exclusão, o critério utilizado foi a ausência da relação com o tema desse trabalho. Objetivando maior aproveitamento das obras selecionadas, foram realizados fichamentos delas. Ademais, os fichamentos contribuíram para a seleção das obras que mais se adequaram aos objetivos dessa pesquisa.

3 O ESTADO E O PODER DE TRIBUTAÇÃO

A tributação é uma ferramenta importante e indispensável para a política financeira, antes compreendida como política econômica. Tal política versa sobre a égide do direito público, que por sua vez, deu origem a ramificação da política tributária, essa, está incumbida de regular as atividades estatais que estão diretamente ligadas ao tributo. Dessa forma, se compreende que o poder de tributação é tutelado ao Estado através de sua positivação no texto normativo da Constituição Federal de 1988 (RIBEIRO; MACIEL, 2017). Dessa forma, a tributação é uma previsão legal de ordem constitucional, positivada pelo art. 145, caput e respectivos incisos, da Constituição Federal de 1988 (CF/88), que versa sobre a autonomia da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para operarem sobre os tributos, que sejam os impostos, as taxas e as contribuições de melhorias. Assim sendo, se observa que a capacidade tributária é de competência estatal na ordem de atuação territorial, ou seja, todos os entes estatais têm a autonomia para instituir os impostos, podendo esses serem de caráter federal, estadual ou municipal.

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Doravante, o poder de tributação compõe a atividade financeira do Estado, haja vista que esse exerce apenas esse tipo de atividade, composta por um conjunto de atos que agem na prática, na gestão e na aplicação dos meios de tributação que possibilitem os recursos necessários para atingir os seus objetivos e fins. Deste modo, é o inciso III do referido art.145, da Carta Magna de 1988, verifica a obrigação estatal de converter os tributos em políticas públicas de melhorias sociais, denotando assim que os tributos devem fornecer benefícios para a sociedade. Ou seja, o Estado, através de políticas públicas, deve assegurar a materialização dos objetivos constitucionais, de forma a atender as necessidades públicas, politicamente definidas. É através da tributação que o Estado demonstra a sua soberania, pois a ele é conferido o poder de operar sobre o recolhimento e a aplicação dos recursos decorrentes desse recolhimento. Todavia, de acordo com Ribeiro e Maciel (2017), a relação existente entre o Estado e o contribuinte, por muito tempo, foi caracterizada como uma relação coercitiva, não havendo nenhuma previsão de limitação ao poder de tributação conferido ao Estado. Com o advento do constitucionalismo, que se originou a partir do século XVIII, houve uma delimitação das funções estatais, assegurando a preservação de direitos fundamentais garantidos aos indivíduos, diante de uma limitação do poder de tributação estatal, evitando a ocorrência de abusos. A expressão “poder de tributar” tem sido amplamente utilizada pela doutrina para designar as competências tributárias outorgadas pela Constituição Federal aos entes políticos. A própria Constituição adota essa terminologia para se referir às competências impositivas. Todavia, há autores que negam a existência, no ordenamento jurídico pátrio, de um autêntico poder de tributar, pois as competências impositivas encontram-se limitadas pelo Direito Positivo. (PAIVA; LIMA, 2019, p. 456). Segundo Torres (2012), foi justamente a Constituição Cidadã de 1988 que conferiu uma maior limitação ao poder de tributação estatal, sob o prisma da preservação das garantias fundamentais, vetando alguns atos que poderiam ser praticados pelo estado e serem vistos como um abuso desse poder. Em seus artigos 150, 151 e 152, o referido diploma legal traz, claramente, alguns vetos ao poder de tributação do Estado, em prol da proteção ao contribuinte, assegurando que esses não sejam alvos de uma aplicação exacerbada desse poder. Para além disso, a Lei Maior de 1988, explicitamente, estatuiu o dever de se respeitar os direitos fundamentais e os objetivos constitucionais diante das práticas tributárias. Deste TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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modo, a ordem tributária deve se debruçar sobre a promoção do bem coletivo e contemplar as demandas sociais que são asseguradas como direitos fundamentais a todos os indivíduos (TORRES, 2012). Em vista disso, é através do uso preponderado do poder de tributação para arrecadar os recursos que devem ser aplicados em prol da materialização dos objetivos e fundamentos constitucionais que atuam em prol da seguridade dos direitos coletivos. Outrossim, a própria prática de tributação deve ser condizente com a preservação desses direitos, de modo que essa não seja lesiva aos indivíduos. Fator esse que levou o constituinte a estabelecer a limitação do poder de tributar, tendo em vista a preservação de valores e garantias universais. Para isso, nos termos da constituição em vigência, são princípios que deverão delimitar a atuação do Estado, essa, por sua vez, está inserida no contexto da política tributária. Portanto, se pode compreender que a política tributária deve anteceder a imposição da tributação, verificando, a priori, a sua finalidade e seus reflexos sociais, não a sua imposição (RIBEIRO; MACIEL, 2017). Assim, é de suma importância conhecer os princípios que norteiam e limitam o poder de tributação estatal, para que haja uma melhor compreensão dos objetivos intrínsecos da ordem tributária, levando em consideração os objetivos sociais sobre os quais a tributação deve se debruçar. Assunto esse que será abordado no próximo tópico desse estudo.

3.1 Dos princípios da isonomia e da capacidade contributiva

A Lei Supra de 1988, em seu art. 5º, caput, versa sobre o princípio da igualdade, positivando que todos são iguais perante a lei, não devendo haver qualquer distinção. Não obstante, o legislador inseriu uma reafirmação ao princípio da igualdade, doando-lhe um viés tributário, contido no art. 150, inciso II, que diz: II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direito.

Já o §1º, do art. 145, da Constituição Federal de 1988, coaduna com o pensamento da preservação da igualdade diante do sistema de tributação nacional. Dessa forma, cumpre destacar o que diz o referido artigo da CF/88:

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§1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Portanto, o princípio da isonomia, em suma, preza pela preservação da igualdade social, conferida pelos textos normativos supracitados e intrínseca à ordem tributária. Assim, se percebe que o princípio da isonomia é de ordem constitucional, mas coligado ao Direito Tributário, obrigando que a ordem tributária aja de acordo com a seguridade de tal princípio, onde os efeitos da tributação devem contemplar os objetivos que asseguram o bem comum e coletivo (DALA-ROSA, 2014). Para Moura (2015), a aplicação do princípio da isonomia na atuação tributária busca a efetivação da igualdade diante dos procedimentos tributários e da legislação fiscal. Ainda de acordo com a autora, esse princípio se materializa, através de uma arrecadação igualitária, mas, principalmente, pela distribuição justa e correta dos recursos tributários (MOURA, 2015). De acordo com Paiva e Lima (2019), os princípios constitucionais da ordem tributária possuem três valores fundamentais, sendo eles: a igualdade, a liberdade e a segurança jurídica. No rol dos princípios que agem em prol de uma maior justiça social, se pode citar também o princípio da capacidade contributiva. Tal princípio é decorrente da ideia de justiça na tributação, passando a abranger diversos valores que antes eram ignorados, alterando assim a própria concepção, abrangência e conteúdo da capacidade contributiva (SAMPAIO, 2017). Desse modo, a capacidade contributiva diz respeito a capacidade do indivíduo em contribuir com os impostos, limitando o abuso da cobrança tributária sobre aqueles que não detém a capacidade de contribuir, ou, por outro viés, esse princípio também a assegura a preservação do tratamento igualitário diante dos atos tributários. Por conseguinte, no viés social incutido no Estado Democrático de Direito, a justiça tributária ganhou respaldo constitucional, não apenas no âmbito nacional, como também foi adotada por diversos países (OLIVEIRA, 1988). Tal fator, decorre da nítida obrigação estatal que versa claramente sobre os objetivos constitucionais que devem ser promovidos pelo estado, assim como a justiça social, essa, por sua vez, positivada pelo art. 170, da Carta Magna de 1988. De acordo com Sampaio (2017), foi justamente a CF/88 que retirou a concepção de um Estado estritamente observador, passando a ser o responsável direto pela promoção de garantias, valores e direitos, principalmente aqueles fundamentais com previsão constitucional, e o princípio da capacidade contributiva atua diretamente nesse cenário. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Portanto, se pode vislumbrar que o legislador se preocupou em assegurar que as leis infraconstitucionais, como a legislação tributária, e os atos praticados pelo Estado sejam respaldados e balizados pela concepção de uma justiça social. Dessa forma, se faz necessário compreender o contexto constitucional da justiça social e os seus objetivos perante a sociedade, assunto esse que será abordado no tópico que se subscreve.

3.2 Da justiça social e a concepção constitucional para os seus reflexos sociais

De acordo com a concepção de Torres (2012), a erradicação da desigualdade social é um pressuposto do Estado Democrático de Direito, sendo essa uma ramificação constitucional que alcança toda a ordem legislativa do país. Dessa forma, a Lei Supra de 1988, almejando a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais, busco criar diretrizes que se pautam pela justiça social. Assim sendo, a justiça social é um fundamento da ordem econômica, positivada pelo art. 170, da Constituição Cidadã de 1988, que em seu caput, diz: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social [...].” Por outro lado, a justiça social é fundamento concebido desde o período pós-clássico, marcado pela presença do Estado Liberal, havendo uma nítida flexibilização de alguns direitos, como por exemplo, o direito à propriedade. Daí em diante, o Estado passou a assumir uma postura mais intervencionista e com uma prestação positiva (BUCHETTI, 2017). Portanto, houve uma mudança significativa que substituiu um Estado meramente facilitador e protetor, para um Estado que deve ser intervencionista, contribuindo de forma positiva para assegurar a concessão de direitos positivos e negativos. Segundo Ribeiro e Maciel (2017), têm-se a justiça como um valor da ordem social, assim, a justiça social é um parâmetro de suma importância para a materialização dos avanços sociais. Nessa concepção, a Lei Maior de 1988 tem a justiça social positivada ao longo do seu texto normativo, como um balizador intrínseco à concessão de diversos direitos fundamentais, como o direito à uma existência digna (art. 1º, inciso III), à saúde (art. 196), a assistência ao desamparado (art. 6º, inciso II), dentre outros. Notoriamente, se pode perceber que a justiça social é um mecanismo que visa fornecer a concessão de direitos fundamentais, básicos e indispensáveis para a obtenção de uma vida TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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digna, conforme o fundamento da dignidade da pessoa humana, dando a esses indivíduos a obtenção de um mínimo existência que possa igualá-los perante diante da obtenção desses direitos constitucionais. A justiça social busca, para além da igualdade formal de oportunidades, a igualdade de posições. Estas, por sua vez, pode ser alcançada através das políticas públicas que visem reduzir a desigualdade e assistir as minorias, doando-lhes paridade de condições e meios, para que essas possam ter a mesma condição de desenvolver as suas habilidades, ou seja, doando-lhes condições de ter um ponto de partida digno, com as devidas ferramentas para se desenvolver no seio social (CLÈVE, 2016). Nessa linha de pensamento, coaduna Sandel (2012), que a justiça não é alcançada quando se permite que todos participem da corrida, mas sim, quando estes iniciam a corrida com pontos de partida iguais, pois, se partirem de pontos desiguais, não poderá ser reconhecida como uma corrida justa. Outrossim, Sandel (2012), afirma que uma das formas de se corrigir a injustiça é justamente corrigindo as diferenças econômicas e sociais. Segundo o referido autor, é mediante uma a aplicação de ações afirmativas que vão além da igualdade de oportunidades, meramente formais, que o Estado poderá refletir positivamente a materialização da justiça social. A devida justiça social deve prover a remoção dos obstáculos que impedem a realização pessoal dos indivíduos e oferecer a essas oportunidades iguais para todos, com o mesmo ponto de partido, como as oportunidades educacionais. Haja vista que é dessa maneira que os indivíduos de origem mais vulnerável poderão obter a mesma situação em pé de igualdade com aqueles que são de uma origem mais privilegiada (SANDEL, 2012). Assim sendo, os reflexos constitucionais que alcançam a justiça social devem se nortear pelo manejo de instrumentos que busquem uma justa distribuição de recursos e direitos, retirando a sociedade mais vulnerável da escassez e doando-lhe condições de igualdade, equiparando suas garantias fundamentais através da aplicação de recursos, sejam esses de origem tributária (HOLMES; SUSTEIN, 2008). A sociedade igualitária poderia ser alcançada, sustenta o autor, “se cada pessoa contasse com o mesmo conjunto de bens primários –entendendo por tais aqueles bens que todo mundo gostaria de ter porque constituem meios indispensáveis para realizar qualquer plano de vida.” (VELASCO, 2009, p. 95).

Os bens primários são aqueles indispensáveis para a aquisição de uma vida justa e digna, sendo assim, compostos pelos direitos constitucionais de caráter fundamental, como o direito à TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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saúde, vida, emprego, segurança, moradia e afins, ambos positivados como direitos sociais, pelo art. 6º, da Constituição Federal de 1988. Destarte, é justamente através da aplicação dos recursos recolhidos pela ordem tributária que, o Estado brasileiro, como um ente no exercício do poder que emanou do povo, deve promover a justiça social. Portanto, se faz necessário compreender como a ordem tributária, através das alterações nas cargas tributárias, pode promover uma maior justiça social, materializando todos objetivos constitucionais que buscam a garantia e manutenção da igualdade, bem como a efetividade dos princípios constitucionais tributários. Por isso, se faz necessária uma análise que verifique como as alterações tributárias contribuem para a contemplação da justiça social, cenário esse que será abordado pelo tópico abaixo.

3.4 A reforma tributária como propulsora de uma maior justiça social A tributação já foi vista tão somente como uma ferramenta de receita estatal, todavia, posteriormente foi evidenciada uma outra faceta da ordem tributária, aquela que visa suprir os objetivos constitucionais de caráter social. Foi através do advento e predominância de uma Estado Social, que se originou a partir do viés liberal, que se percebeu a eficácia dos tributos como um instrumento de ordem pública e política para a materialização de objetivos sociais. Dessa forma, os tributos passaram a ser um mecanismo de atuação estatal que deve atuar em diferentes áreas, principalmente na econômica e social, prezando pelo humanismo e buscando a justiça social (RIBEIRO; MACIEL, 2017). Positivada como uma ferramenta de seguridade social, a legislação tributária deve se pautar, principalmente, sobre a arrecadação igualitária e equitativa, bem como sobre a distribuição de renda que contemple a concessão dos direitos fundamentais. Para que a justiça social seja alcançada, se faz necessário que o sistema tributário seja condizente com os objetivos constitucionais e econômicos (BARBOSA, 2017). Segundo a autora, quando não há um contentamento social, há uma descrença social nas instituições de ordem democrática, sendo que esse descrédito pode ser percebido diante da escassez de recursos, principalmente aqueles providos pela própria arrecadação, sendo esse um cenário que denota a importância de uma reforma tributária. Essa, por sua vez, é fundamental e imprescindível para legitimar os poderes constituídos, mas, deve ser feita de forma correta e pautada pelo alcance dos ditames constitucionais e econômicos (BARBOSA, 2017).

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De acordo com Leite et al. (2018), o atual sistema tributário brasileiro é reconhecido como um sistema altamente complexo, além de inoperar de forma eficiente quanto aos objetivos estatais. Há um bom tempo, esse sistema é visto como um mecanismo anticrescimento, antifederação e antiequidade. Tal cenário se justifica pela presença de uma carga tributária que opera com ênfase sobre impostos indiretos que incidem sobre o consumo e mão de obra, de natureza cumulativa. Destarte, esse sistema tem atuado de forma contrária a competitividade da produção interna e privando a força desse mercado, a medida em que lança uma tributação mais onerosa sobre as classes mais vulneráveis, sendo essas as que mais consomem (LEITE et al., 2018). Com tratamento preferencial dado às rendas do capital, de modo geral, apenas onera camaradamente os rendimentos das pessoas físicas que delas se apropriam, jogando o grande fardo tributário sobre o consumo e a folha salarial, acentuando o conflito distributivo. Mantém, por outro lado, desequilibrada a equação financeira da federação, gerando conflitos federativos e situações de insolvência para muitos de seus entes, prejudicando a oferta de serviços essenciais para a população. (LEITE et al., 2018, p. 68).

Em conformidade, Andrade (2015), afirma que há uma explícita necessidade de que a tributação passe a ponderar a oneração dos indivíduos que possuem um menor poder aquisitivo e onere mais aqueles que podem contribuir mais para o erário tributário. Dessarte, muitas foram as alterações ocorridas na ordem tributária, dando origem a complexibilidade do sistema tributário, fator esse que gera a ineficiência desse sistema e alavanca os custos burocráticos, atingindo negativamente o fisco e o contribuinte. A complexibilidade é formada pela diversidade dos regimes tributários existentes no país, bem como pela diversidade de alíquotas, legislações e critérios de apurações, que dificultam a materialização dos objetivos econômicos (ANDRADE, 2015). Outro fator preocupante da atual ordem tributária é a predominância dos tributos indiretos, segundo Andrade (2015), esses tributos tem uma baixa capacidade de promoção do critério distributivo, impedindo que haja uma melhor distribuição de renda e consequentemente barrando a materialização da justiça social. Ainda de acordo com o referido autor, a incapacidade distributiva dos impostos indiretos decorre justamente do ônus que se repete ao longo da cadeia produtiva, onerando assim o consumidor final (ANDRADE, 2015). Não obstante, há uma nítida redução dos recursos voltados para as demandas sociais, diante de um cenário de estagnação e recessão da economia nacional, onde os compromissos de responsabilidades fiscais do governo passa a ser outros (LEITE et al., 2018). Dois fatores são predominantes para a erosão das atuais bases tributárias, o primeiro se trata do desenfreado desenvolvimento do sistema capitalista, juntamente com o processo de globalização e com a TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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queda de fronteiras nacionais que condenam a cobrança de impostos, competitividade, se baseando no consenso econômico de ordem ortodoxa sobre a atuação da política tributária e fiscal. Por outro lado, se tem a resistência das classes sociais de maior poderio econômico em aumentar a sua participação na ordem tributária, para que assim e possa compensar a erosão (LEITE et al., 2018). Nesse cenário, muitos são os problemas encontrados no atual sistema tributário, dentre eles, se pode citar: as diferenças estaduais de alíquotas quanto ao Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), que acaba ocasionando insegurança jurídica e sendo ineficiente para o sistema econômico diante do deslocamento improdutivo de mercadorias no território nacional; o desvio dos recursos tributários é um outro fator de alta preocupação para o país, pois acaba prejudicando a materialização dos objetivos sociais; além desses, se pode destacar também a inoperância dos recursos tributários na ordem social, haja vista a grande desigualdade existente no país (ANDRADE, 2015). Nesse sentido, Barbosa (2017), diz que o setor público acaba por sobrecarregar o Poder Judiciário, sendo esse o maior litigante do cenário nacional. Ainda de acordo com a autora, se faz necessária uma mudança que possa adequar as ações tributárias e a eficiência das aplicações tributárias, seja no contexto da arrecadação, como também no contexto da aplicação desses recursos (BARBOSA, 2017). Ou seja, o sistema tributário deve andar em conformidade com as necessidades e relações sociais, de modo a assegurar e preservar todas as diretrizes constitucionais que versam sobre a seguridade social e o alcance da própria justiça social. [...] o sistema tributário é orientado, constituído, conformado pela matriz tributária, que por sua vez reflete um conjunto de relações concretas (sociais, políticas, jurídicas...) num dado contexto de tempo e espaço, projetando consequências concretas na sociedade. (GASSEN; SILVA, 2016, P. 28).

Para Leite et al. (2018), se não for possível a conversão dessa realidade erosiva do sistema tributário, o Estado correrá o risco de ter que ser reduzido à um Estado mínimo, assumindo assim os ditames do pensamento neoliberal e sendo obrigado a abdicar do seu objetivo de promover as políticas afirmativas em prol do desenvolvimento social e econômico, sendo esse fundamental para a manutenção e estabilidade da ordem econômica capitalista. Ou seja, haveria um retrocesso significativo, onde o Estado seria obrigado a retroceder a sua condição de mero coletor de impostos para suprir os pagamentos de nível previdenciário, deixando de lado o objetivo da justiça social e ocasionando uma maior desigualdade social (LEITE et. al., 2018).

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Diante do exposto supracitado, se pode perceber que o atual sistema tributário acaba por privar os cidadãos da justiça social, de modo que ocasiona um ônus no repasse e aplicação dos recursos, bem como onera os indivíduos de menor poder aquisitivo quanto a arrecadação de seus tributos. Desta maneira, a ordem econômica acaba por não materializar os seus preceitos constitucionais, uma vez que retira direitos sociais, quando deveria concedê-los. Para Barbosa (2017), é imprescindível que ocorra uma reforma tributária e esta deverá ser pautada nas diretrizes constitucionais que coadunem com a aspiração da justiça social. Assim sendo, se faz necessário verificar de que forma uma justiça social equitativa pode contribuir para a eficiente materialização da justiça social, preservando e aplicando de forma eficaz todos os ditames constitucionais que prezam pela concessão dos direitos sociais de caráter igualitário e que devem ser observados sob o prisma da equidade, levando em consideração as disparidades sociais existente no cenário nacional. Se pautando por essa observância, o próximo tópico desse estudo exporá a contextualização da influência que uma justiça fiscal pode ter sobre a materialização da justiça social.

3.4 Pressupostos de uma eficiente justiça fiscal na promoção da justiça social

No Brasil há uma nítida discrepância entre os interesses estatais e as ações tributárias. De acordo com Alves e Duarte (2015), cerca de 53,9% de toda a arrecadação tributária do país é proveniente de pessoas que são de origem simplória e tem proventos de até dois salários mínimos, e, apenas 29% desses contribuintes possuem renda superior a 30 salários mínimos. Cenário esse que alguns autores chamam por injustiça social, pois, se percebe que não há uma materialização do princípio da capacidade contributiva, onde o atual sistema tributário age na contramão da justiça social. Dessa forma, se pode afirmar que justiça social é o equilíbrio sobre a tributação, o que atualmente está impossibilitada, haja vista que as tributações tem uma maior preponderância sobre os tributos de consumo. Assim, para que haja uma equidade social, a reforma tributária é mais do que necessária, pois é ela que poderá desonerar a população de baixa renda e favorecer a arrecadação sobre a população que detém o maior capital, assim, o sistema tributária atingiria a tão almejada justiça social (LEITE, et al., 2019).

O Brasil possui uma carga tributária ligeiramente inferior à média dos países da OCDE, mas totalmente desalinhada pelas suas bases de incidência, estando completamente descomprometido com o princípio da justiça fiscal. O caráter regressivo decorre da reduzida participação relativa da tributação incidente sobre a

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renda e patrimônio na carga tributária nacional e na elevada participação relativa dos tributos que incidem sobre o consumo o que fazem do sistema tributário brasileiro um instrumento de agravamento das desigualdades econômicas e sociais. (LEITE et al., 2019, p. 21).

Ante o exposto supracitado, se pode compreender que o caráter regressivo do atual sistema brasileiro faz com que a justiça fiscal caia em declínio e, consequentemente, não há uma promoção da justiça social. Dessa forma, é fundamental que haja mudanças significativas na legislação tributária, de forma a modificar a concepção sobre a tributação e a maneira com que essa ocorre, desviando o foco centralizado nos tributos de consumo e ampliando a capacidade de arrecadação através da taxação de maiores tributos, esses, em tese, irão possibilitar uma maior distribuição de renda (LEITE et al., 2019). Um pressuposto positivo de uma justiça social é defendido sobre a tese da implementação do Imposto sobre Grandes Fortunas. Para Alves e Duarte (2015), esse tipo de imposto pode construir um mecanismo para a justiça tributária no Brasil, pois, permitirá uma maior arrecadação e justa distribuição dos tributos, permitindo assim que seja feita uma maior distribuição de renda e riquezas no país. Nesse contexto, seria possível uma maior redução das desigualdades sociais, promovendo a tão almejada justiça social (ALVES; DUARTE, 2015). De acordo com Reale (2013, p. 52), “a justiça em si é medida abstrata, suscetível de aplicação a todas as hipóteses a que se refere, a equidade já é a justiça no seu dinâmico ajustamento ao caso”. Assim, o autor afirma a igualdade deve ser compreendida sob a égide da equidade, sendo essa um requisito para o alcance da justiça social e, consequentemente, a redução das desigualdades social. O que se extrai das concepções aqui estudadas, é que para que haja uma justiça social, a justiça fiscal deve ser aplicada na medida da capacidade contributiva dos contribuintes e realizar o repasse das verbas fiscais de forma a suprir os objetivos constitucionais. Contudo, há de se observar o que diz Leite et al. (2019), afirmando que não basta apenas uma reforma tributária para que as mazelas do sistema tributário sejam resolvidas, mas se faz necessário que haja uma nova organização de todos os envolvidos no processo de tributação, de forma a evitar que os interesses estatais estejam dispersos da atuação tributária. Com isso, a autora se demonstra altamente preocupada com a necessidade de que haja uma maior justiça fiscal, sendo essa necessária para o alcance da justiça social. Assim, afirma que há uma “necessidade de um governo com legitimidade política para ter condições de conduzir, com sucesso, esse projeto” (LEITE et al., 2019, p. 91).

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Diante de tão preocupante quadro, o que resta é continuar a elucidar as deficiências e privilégios injustificados na política fiscal e atiçar a sociedade a se mover em prol de uma reforma tributária que promova eficiência sem perder de vista a equidade do sistema, se assim quiser melhorar a condição da imensa maioria dos trabalhadores e trabalhadoras desse país. (LEITE et al., 2019, p. 109).

Assim, não só é fundamental que ocorra uma reforma tributária, mas que o Estado reorganize a sua atuação de forma eficiente, fazendo com que os ditames constitucionais possam ser alcançados na prática da tributação e, principalmente, da distribuição de renda (ALVES; DUARTE, 2015).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa foi de fundamental importância para responder à problemática aqui analisada, de forma que pode demonstrar qual a real relevância de uma reforma tributária para a contemplação de uma efetiva justiça social, através da materialização de uma devida justiça fiscal, caso esse que não tem ocorrido no atual cenário brasileiro. A Constituição Federal de 1988 abrangeu uma série de direitos fundamentais que são inerentes e indispensáveis para a concessão da dignidade da pessoa humana. Dentre esses, se pode citar o direito à saúde, existência digna, emprego, segurança e afins. Por sua vez, o mesmo diploma legal positivou o instituto da igualdade e da justiça social como pressuposto para a materialização dos interesses primário do Estado de Democrático de Direito. Dessa forma, a justiça social deverá ser observada pela legislação infraconstitucional. Tal fator, reformulou os objetivos da legislação tributária, incidindo sobre ela a responsabilidade de se balizar por princípios constitucionais, tais como o princípio da isonomia e da capacidade contributiva, em prol do alcance dos interesses estatais. Assim sendo, o sistema tributário deve agir em consonância com a constituição federal, aplicando a as taxas tributárias em conformidade com a realidade do contribuinte, bem como realizando o repasse correto dessas verbas para atender ao objetivo de reduzir as mazelas sociais. Outrora, se nota que o atual sistema tributário brasileiro é questionado por uma série de autores que verificam nele uma discrepância operacional no que concerne aos interesses constitucionais tributários que deveriam ser observados. Diante da existência de tanta desigualdade social, é notória a ineficiente da operacionalidade que o sistema tributário tem no país, enquanto esse deveria ser uma ferramenta de alcance da justiça social, acaba por sobrecarregar a população mais carente com a cobrança preponderante de impostos sobre consumo de bens e serviços. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Ante o exposto, se nota que para que haja a efetivação de uma eficiente justiça social, se faz necessário que primeiro se adquira uma justiça fiscal, que vai desde uma correta arrecadação, bem como ao correto repasse das verbas tributárias. Desta forma, a justiça fiscal é um pressuposto para que haja uma justiça social, possibilitando a melhoria das precariedades sociais existentes no país. Portanto, se conclui que é indispensável uma reforma tributária, sendo essa necessária para modificar o atual cenário da tributação brasileira. Para além disso, se percebe que essa reforma deve ser feita de forma correta, em concordância com os interesses constitucionais, haja vista que a tributação é o mecanismo para o alcance da justiça social.

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AULAS REMOTAS DURANTE A PANDEMIA: Estratégias lúdicas utilizadas na educação infantil Carla Fernanda da Silva Gonçalves, Hiolanda Rodrigues Pinheiro, Katherine Brandão de Paula§§§§, Rogério Vieira Primo*****

RESUMO O presente trabalho resulta de um estudo que teve como objetivo investigar as estratégias utilizadas para aplicação de atividades lúdicas nas aulas remotas durante a pandemia na Educação Infantil. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa e de caráter exploratório. Para alcance dos resultados foi realizada uma pesquisa de campo, tendo como instrumento para coleta de dados entrevista semiestruturada in loco, com pedagogas de instituições particulares de Governador Valadares. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, recorreu-se a autores como, Kishimoto (2016), Vygotsky (1988), Leontiev (1988), Moran (2006), dentre outros, que contribuíram para a construção do aporte teórico e assim, embasar as discussões. As análises dos resultados apontaram que apesar das dificuldades vivenciadas no período pandêmico, escolas e professores conseguiram se reinventar com o auxílio da tecnologia e criatividade mantiveram a qualidade das atividades lúdicas desenvolvidas na Educação Infantil. Palavras-chave: Educação Infantil. Lúdico. Ensino Remoto. Estratégias. 1 INTRODUÇÃO

Este artigo resulta de uma pesquisa que teve como objetivo investigar as estratégias utilizadas no ensino remoto para garantia da prática de conteúdos lúdicos nas aulas. Para alcance dos resultados buscou-se responder à questão: quais estratégias as escolas particulares de Governador Valadares utilizaram para aplicação das atividades lúdicas na Educação Infantil durante a pandemia? A escolha da temática se justifica por sua atualidade, relevância e a necessidade de investigação do papel desempenhado pelas escolas, tendo o intuito de entender o atual cenário educacional vivenciado pelos professores e alunos com o enfrentamento da pandemia da Covid19; procura conhecer as estratégias utilizadas para aplicação de atividades lúdicas em aulas

Acadêmicas do curso de Pedagogia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mails: reis.carlafernanda@gmail.com. hiolandarodrigues@outlook.com. brandaokaty@gmail.com §§§§

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Professor de graduação e Pós-graduação. Mestre em Administração. Especialista em Educação Matemática; Gestão Financeira de Empresas; Gestão empresarial pela PUC Minas. Especialista Gestão Escolar pela Unipac e Marketing e Gestão Estratégica de Comunicação e Informação. E-mail: rogerioprimo@unipac.br

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remotas; entender como as escolas se organizaram durante o período pandêmico e identificar os desafios da aplicabilidade de conteúdos lúdicos no modo remoto. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a covid-19 causada pelo novo Corona vírus, é considerada uma pandemia, pois, provocou a disseminação mundial de uma nova doença. Pesquisas apontam que o vírus surgiu na China, com alto índice de propagação, como medida de proteção a população mundial foi orientada a ficar em quarentena. Com a pandemia e o isolamento social, escolas e professores tiveram que se reinventar. Passaram a utilizar diversas metodologias e tecnologias para ministrar os conteúdos. Nas escolas de ensino infantil não foi diferente. Houve uma movimentação e as atividades passaram a ser ministradas de modo remoto, aulas teóricas e práticas, incluindo nessa última a inserção de conteúdo lúdico. Contudo, acredita-se que esse estudo poderá ajudar a identificar caminhos com estratégias fundamentais para o ensino aprendizagem de forma lúdica na Educação Infantil, auxiliando a construção da identidade cultural e formação das crianças. Para melhor entendimento do artigo, inicialmente, será abordado o desenvolvimento histórico do lúdico na Educação Infantil, ou seja, contextos e conceitos que enfatizam a relevância do lúdico no processo de ensino aprendizagem. Por conseguinte, dissertar sobre a importância do lúdico na Educação Infantil, através da visão de autores como, Leontiev, Vygotsky, Kishimoto, Barcelar, dentre outros teóricos. Em vivências lúdicas durante a pandemia, discutirá os resultados alcançados pela pesquisa de campo, visto que, constatou-se novas maneiras de se trabalhar o lúdico na Educação Infantil.

2 MÉTODOS

A pesquisa que resultou na construção desse artigo é de natureza básica. Esse tipo de estudo além de ampliar o conhecimento da temática estudada, proporciona a busca de novos conhecimentos e a interdisciplinaridade das áreas do saber, a fim de verificar razões dos problemas práticos (GIL, 2017). Quanto aos objetivos, esse estudo é caráter exploratório. Para Gil (2017), pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, de maneira que se torne explícito e possibilite a construção de hipóteses. Com a fundamental finalidade de aprimorar ideias ou descobrir intuições, com planejamento flexível, possibilita a consideração TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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dos mais variados aspectos relacionados ao fato estudado, e na maioria dos casos, atribui-se o formato de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa. Segundo Silveira e Gerhardt (2009), a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização. Para Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma perspectiva de interpretação do mundo, estuda temáticas em seus cenários naturais, tenta compreender fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. Quanto aos procedimentos, realizou-se a revisão bibliográfica, utilizando fontes pertinentes sobre o tema a ser pesquisado. A revisão de literatura possui dois propósitos fundamentais: a construção de uma análise do problema de acordo com o contexto e a investigação das possibilidades evidenciadas na literatura consultada para a elaboração do referencial teórico da investigação (ALVES MAZZOTTI, 2002). Para alcance dos resultados, foi realizada uma pesquisa de campo, em escolas particulares que atendem à Educação Infantil em Governador Valadares, escolhidas estrategicamente por coordenadas geográficas, em bairros distintos da cidade, visto que, a rede particular da Educação Infantil nesta cidade possui 41 escolas. Desse modo, foi realizado um levantamento de dez escolas, no entanto, somente quatro concordaram em contribuir para um estudo mais aprofundado. A coleta de dados desenvolveu-se por meio de uma entrevista semiestruturada in loco, realizada com pedagogas das escolas, afim de coletar e analisar informações acerca do desenvolvimento de atividades lúdicas na Educação Infantil durante a pandemia. Para preservar a identidade das entrevistadas, as mesmas serão tratadas, nessa pesquisa por Pedagoga 1, Pedagoga 2, Pedagoga 3 e Pedagoga 4. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O lúdico é parte fundamental da Educação Infantil. Atualmente, tornou-se ferramenta fundamental para o desenvolvimento das atividades remotas devido a pandemia da COVID-19. Mas, para compreender a importância do lúdico durante o ensino remoto, faz-se necessário apresentar contextos históricos e conceitos que enfatizam a relevância do lúdico no processo de ensino aprendizagem.

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Segundo Kishimoto (2016), os jogos e brincadeiras surgiram na Roma e Grécia antiga, em que os jogos eram o uso de jogos deveriam imitar atividades da vida adulta, como um preparo para ocupações futuras. Esse conceito de lúdico evoluiu com o passar dos séculos. Um marco importante foi o surgimento da Companhia de Jesus, que coloca em evidência o jogo educativo e “compreende a importância dos jogos de exercícios para a formação do ser humano e preconiza sua utilização como recurso auxiliar do ensino” (KISHIMOTO, 2016, p. 15). Ainda, de acordo com o autor, somente no início do século XIX com Froebel o jogo começa a ser compreendido como instrumento e ação de brincar, passa a ser parte fundamental da história da Educação Infantil, tendo como características principais a liberdade e espontaneidade. No Brasil, somente com a Constituição Federal de 1988 (Art. 208, inciso IV) que a Educação Infantil se tornou obrigatória sendo que “o dever do Estado para com a educação será efetivado mediante a garantia de oferta de creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade”. A partir da Constituição Federal (1988) surgiram novos documentos que abordaram a Educação Infantil como: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (DCNEI, 1998) e recentemente a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017). Percebe-se que, no Brasil, existem uma série de políticas públicas destinadas a promoção e proteção da infância, brincar é um direito fundamental, vital, garantido por regulamentos legais e essenciais à criança (LIMA 2018). A BNCC considera a Educação Infantil como parte fundamental do processo educacional. A primeira etapa da Educação Básica também é marcada pela incorporação da criança em uma situação de socialização estruturada (BNCC, 2017). Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil:

a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas (BNCC, 2017, p.37).

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Na Educação Infantil o desenvolvimento se dá por meio das brincadeiras, relacionamento com outras crianças, com os adultos e consigo mesma. A utilização da ludicidade no cotidiano escolar contribui para o desenvolvimento infantil, visto que os estímulos lúdicos oportunizam uma ampliação das habilidades cognitivas, motoras e sociais, elas ajudam na formação da criança como um todo, visto que, brincadeiras e jogos podem e devem ser utilizados como ferramentas metodológicas. Por meio da experiência lúdica, as crianças expressam seus sentimentos, revelam conflitos, liberam angústias, ansiedades e emoções (BACELAR, 2009, LUCKESI, 2014).

3.1 A importância do lúdico na educação infantil

O lúdico se trabalhado de maneira adequada com as crianças desenvolve o cognitivo, afetivo, psicomotor e social. As brincadeiras e jogos são elementos distintos, mas, ao serem utilizados de maneira correta auxiliam e potencializam a exploração e a construção do conhecimento. “Assim, podemos observar como é possível explorar aspectos diversos de nossas crianças utilizando o brincar e o jogar de maneira associada” (LIMA 2018, p. 18). Entende-se que, na infância, a criança passa por diversos estágios de desenvolvimento, em cada fase a criança apropria-se de uma atividade principal, nesse sentido, para Leontiev (1988, p. 64) a atividade principal:

é a atividade da qual dependem, de forma íntima, as principais mudanças psicológicas na personalidade infantil, observadas em um certo período de desenvolvimento. E precisamente no brinquedo que a criança, no período pré-escolar, por exemplo, assimila as funções sociais das pessoas e os padrões apropriados de comportamento.

Percebe-se que, o lúdico exerce papel fundamental no desenvolvimento cognitivo das crianças na Educação infantil, o brinquedo, os jogos e desenhos ajudam a criança em seu desenvolvimento e modelagem de sua personalidade. “É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel assumido, suas competências e as relações que possui com outros papéis” (BRITO; ROMÃO, 2019, p. 17). A criança toma consciência disso e aplica o que aprendeu em outras situações. As brincadeiras propostas podem contribuir para a aprendizagem

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de conteúdo, assim, são muitas as contribuições da atividade lúdica ao desenvolvimento pleno da criança. Vygotsky (1988) evidencia que através da interação entre o brinquedo e a criança, esta desenvolve aspectos cognitivos, pois tais experiências externas configuram-se como mobilizadoras de conhecimentos e experiências internas. Sob a mesma perspectiva Kishimoto (2010, p.1) ressalta que:

Ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-lo e expressá-lo por meio de variadas linguagens. Mas é no plano da imaginação que o brincar se destaca pela mobilização dos significados. Enfim, sua importância se relaciona com a cultura da infância, que coloca a brincadeira como ferramenta para a criança se expressar, aprender e se desenvolver.

A criança nem sempre sabe expressar seus sentimentos e emoções. Nesse sentido, o brincar é fundamental para extravasar seus sentimentos. A aprendizagem pelo lúdico prioriza a liberdade de expressão, a criança aprende de forma prazerosa, ao mesmo tempo em que se desenvolve, interage com seus pares e ainda aprende a respeitar regras de convivência. Os brinquedos proporcionam um mundo de imaginação para as crianças. Além disso, ao internalizar tais vivências as crianças se desenvolvem corporal e cognitivamente e se mantém em constante atividade, despertando a curiosidade através da inter-relação com outras pessoas em um ambiente atrativo e propício à interação e aprendizagem (SANTOS; CRUZ, 2010).

3.1.1 Vivências lúdicas durante a pandemia

Como mencionado anteriormente, o lúdico se apresenta de diferentes formas de acordo com o contexto e as especificidades de cada época. Nessa perspectiva, a pandemia instaurou no meio educacional, e principalmente, na Educação Infantil novas maneiras de se trabalhar o lúdico. Com o ensino remoto foram inseridas novas tecnologias e recursos às aulas. O momento pandêmico exigiu dos profissionais da educação maior engajamento, inovação e dedicação. Foram muitos os desafios enfrentados para manter a qualidade da aplicação dos conteúdos lúdicos nas escolas. Nesse sentido, serão apresentados a seguir relatos obtidos através das entrevistas realizadas com pedagogos da rede particular de Governador Valadares. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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No que concerne à Educação Infantil, destaca-se que, o ensino remoto não está previsto na LDB (1996), mesmo que em situações emergenciais. Tendo em vista a continuidade das atividades educativas, o PARECER CNE/CP Nº: 5/2020 sugere que:

as escolas possam desenvolver alguns materiais de orientações aos pais ou responsáveis com atividades educativas de caráter eminentemente lúdico, recreativo, criativo e interativo, para realizarem com as crianças em casa, enquanto durar o período de emergência, garantindo, assim, atendimento essencial às crianças pequenas e evitando retrocessos cognitivos, corporais (ou físicos) e socioemocionais.

Desta maneira, para manter uma aprendizagem virtual e orientar os pais e/ou responsáveis na realização das atividades, as escolas precisaram se reinventar a fim de proporcionar conteúdos lúdicos e educativos durante a pandemia. Mesmo no ensino remoto as atividades desenvolvidas devem ir de encontro às necessidades das crianças. Segundo Bacelar (2009, p. 23), “não basta apenas propor brincadeiras: estas têm que propiciar a vivência de um estado lúdico”. A ludicidade é necessária no cotidiano escolar, pois contribui para o desenvolvimento infantil, oportunizando ampliação das habilidades cognitivas, motoras e sociais, sendo assim, as brincadeiras e jogos podem e devem ser utilizadas como ferramentas metodológicas no processo de ensino-aprendizagem, sendo direcionados de maneira intencional as atividades e experiências. A Pedagoga 1 em sua fala, reafirma o quão importante é o lúdico para o desenvolvimento da criança:

O lúdico é um recurso metodológico de suma importância para auxiliar a aprendizagem das crianças da educação infantil. Os jogos ensinam os conteúdos através de regras, pois possibilita a exploração do ambiente a sua volta, os jogos proporcionam aprendizagem de maneira prazerosa e significativa assim agrega conhecimentos.

Sob essa mesma perspectiva a Pedagoga 2 afirma que o lúdico é algo essencial:

porque através do lúdico que a gente chama atenção dos alunos e com o lúdico eles aprendem com mais facilidade. O lúdico é essencial não só para a Educação Infantil, mas, até para o Ensino Fundamental, com jogos e com atividades corporais, é muito importante, músicas, brincadeiras com rodas, muito importante mesmo, ainda mais na Educação Infantil. Eu acho que tudo tem que começar através do lúdico, qualquer

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aprendizado tem que ser através do lúdico, na Educação Infantil é muito importante mesmo.

Para (MACEDO, et al. 2011), através dos jogos e brincadeiras as crianças desenvolvem habilidades, sentimentos e pensamentos. Aprendem a desenvolver o respeito mútuo, compartilhar uma tarefa ou um desafio em um contexto de regras e objetivos, a reciprocidade, as estratégias para o enfrentamento das situações problema e os raciocínios. Ainda de acordo com o autor, o brincar é algo fundamental para o desenvolvimento da criança, é algo envolvente, interessante e informativo, pois, insere a criança em um contexto de interação, direciona, conduz, possibilitando à criança aprender sobre objetos, conteúdos pensados ou imaginados, trata-se de uma atividade agradável para as crianças. Por meio da pesquisa foi possível constatar que a Pedagoga 1 manteve sua preocupação quanto as atividades lúdicas no período de pandemia, com o intuito de minimizar possíveis danos ao desenvolvimento das crianças, relata que:

No ensino presencial, as atividades seguiam uma rotina aplicada pelos professores; entretanto, no ensino remoto não pode ser diferente, as rotinas devem permanecer. Diante disso, as atividades, os encontros aconteciam de forma remota, na qual os familiares e responsáveis assumia o papel de protagonistas nas práticas pedagógicas, com base no apoio dos professores.

Observa-se que, as pedagogas entrevistadas relataram a utilização de diferentes recursos metodológicos nas aulas remotas, dentre eles pode-se destacar, orientações através dos grupos de WhatsApp, publicações de vídeos no You Tube, atividades e jogos didáticos de caráter lúdico confeccionados pelos professores, publicações nas mídias sociais da instituição, aulas gravadas e em tempo real utilizando-se o Google Meet, lives e drive thru realizados em datas comemorativas. Assim, como o Quadro 01 demonstra a seguir: Quadro 1 – Estratégias e resultados obtidos nas aulas remotas Ferramentas Google Meet

You Tube

Estratégias Aulas remotas; Bingos de palavras; Jogo da memória; forca; momentos de conversa e socialização. Vídeos educativos; músicas; dança; produção de vídeos pelas professoras.

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Resultados Aprendizagem significativa, contemplou aspectos lúdicos da Educação Infantil. Aulas dinâmicas, propiciou momentos lúdicos e de aprendizagem.

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Class App

WhatsApp

Lives e Drive Thru

Encaminhamento de avisos aos pais/responsáveis; comunicação efetiva com os pais. Orientações e devolutivas das atividades das crianças e links de acesso as aulas remotas; encaminhamento de jogos online, vídeos, músicas. Celebrar datas comemorativas; realizar dinâmicas e brincadeiras, ter contato mais próximo as crianças e familiares. Fonte: Grifos dos autores

Viabilizou a comunicação efetiva com os pais/ responsáveis. Possibilitou a comunicação e uma avaliação contínua do desenvolvimento das crianças. Proporcionou momentos de interação e confraternização.

As pedagogas descrevem que foram criados grupos de WhatsApp para estabelecer uma comunicação ativa com os pais e responsáveis, por meio deles eram repassadas orientações, enviavam vídeos que auxiliavam na realização de atividades, tiravam dúvidas e também recebiam as devolutivas das atividades, através de fotos e vídeos feitos pelos responsáveis das crianças. Todos os materiais que foram utilizados para confecções de jogos e atividades, durante as aulas remotas, eram disponibilizados aos pais com antecedência. Como por exemplo, papel crepom, massinha, algodão, purpurina, cola colorida, cotonete, palito de dente, barbante, elástico, tinta guache, papel cartão, enfim, todos os materiais utilizados para o desenvolvimento de atividades lúdicas. Utilizando-se a plataforma do You Tube as pedagogas expõem que os professores foram criativos ao produzirem os conteúdos lúdicos, faziam contação de histórias, se fantasiavam, compartilhavam músicas para auxiliar na aprendizagem, como afirma a Pedagoga 4:

A professora L mandava músicas para poder trabalhar com eles, para fixar mesmo, para não ser uma coisa cansativa porque infelizmente, é cansativo, uma criança não consegue ficar um período muito grande na frente da tela, o que deixa a criança mais ativa na frente do computador são os jogos, algo que chama a atenção deles, se não chamar atenção e o professor ficar só falando, falando, assim não vai aprender não. Exemplo: quando a professora ensinava a letra cursiva ou uma sílaba na aula remota, ela fazia o vídeo para se depois a mãe precisar, ela tinha o vídeo para auxiliar.

As aulas remotas eram realizadas pelo Google Meet, todas as pedagogas explicam que para manter os conteúdos lúdicos, os professores executavam aulas dinâmicas, faziam bingos de palavras, jogo da memória, forca, momentos de socialização com as crianças, conversas sobre final de semana, orações para iniciar as aulas e músicas, com o intuito de se aproximar da realidade e dia a dia da criança. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Concomitante às aulas remotas, as professoras também utilizavam jogos online, que além de serem utilizados nas aulas remotas, eram encaminhados para os pais trabalharem com as crianças em casa, os games, possibilitaram uma aprendizagem concreta, pois, além de ser lúdico, está de acordo com a realidade das crianças. Os games podem e devem ser utilizados pelos professores a fim de proporcionar interação entre as crianças, para trabalhar e desenvolver novas habilidades e competências, onde possam criar hipóteses, testar, errar e aprender. “Quando as crianças jogam, elas se arriscam por meio de ensaios e erros, explorando o jogo mediante a colaboração com outros colegas, desenvolvendo atividades cognitivas” (MEIRA, BLISTEIN, 2020, p. 29). O class app é uma ferramenta que a Pedagoga 3 citou ter utilizado na instituição, tratase de um aplicativo que permite um estreitamento da relação entre os pais e a escola. Através dele é possível a escola encaminhar avisos, áudios, orientações e devolutivas das atividades das crianças e links de acesso as aulas remotas. As Pedagogas 2 e 4 mencionaram a utilização de lives e drive thru em datas comemorativas, como dia das mães, dos pais, festa junina, Dia do Índio, Páscoa, dentre outras, afim de priorizar o lúdico, com músicas, brincadeiras, jogos, homenagens e lembrancinhas. Além de propiciar a interação com os colegas e professores. A partir deste pressuposto, pode-se inferir que as falas das pedagogas vão de encontro com a afirmação de Moran, et al, 2006, p. 32, ressalta que:

O professor tem um grande leque de opções metodológicas, de possibilidades de organizar sua comunicação com os alunos, de introduzir um tema, de trabalhar com os alunos presencial e virtualmente, de avaliá-los.

Com os avanços tecnológicos e, atualmente, com as aulas remotas, torna-se impossível a não utilização de aparelhos eletrônicos, como forma de mediar o ensino aprendizagem de forma lúdica por meio de jogos e atividades. Nas escolas, o uso das tecnologias exerce cada vez mais um papel importante no cenário educacional. De acordo com Alves (2020), muito são os questionamentos quanto o ensino remoto para as crianças de Educação Infantil. Pois, para muitos o Ensino Remoto e Ensino a Distância (EAD), seria a mesma coisa. Entretanto, o ensino remoto são as atividades de ensino mediadas por uso de tecnologias orientandas pelo princípio da educação presencial, no entanto, o EAD, utiliza plataformas digitais, mas tem seu modelo próprio de ensino. “A educação vem tentando TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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se adequar a uma nova realidade em decorrência da pandemia, para tanto temos visto e ouvido falar muito em Educação a Distância e ensino remoto” (ALVES, 2020, p.23). Em relação as dificuldades enfrentadas pelas escolas durante a pandemia, a Pedagoga 3 afirma que:

No início ter ideias para fazer atividades sem a criança estar presente foi um desafio, porém quando começamos a desenvolver o trabalho, percebemos que as crianças participaram muito bem. Outra dificuldade foi o acesso as aulas, infelizmente nem todas as crianças podiam participar das aulas online.

Em contrapartida a Pedagoga 2 relata que além de dificuldades quanto as aulas remotas, também enfrentaram outras situações e problemas:

Primeiramente, que a evasão foi grande. Muitos pais acreditavam que o modo online não ia ter algum resultado, então além desse problema não foi fácil mesmo não, os professores não estavam preparados para fazer aulas remotas, só que Educação Infantil os professores foram bem dinâmicos, eles reuniram e foram também muito criativos aqui na nossa escola os professores prepararam atividades, os pais buscaram aqui com materiais tintas guache, massinha, todo tipo de material para fazer atividades em casa e eles também aí os professores gravavam vídeos, contos de histórias, passavam músicas para os pais já preparando para fazer as aulas remotas.

Quanto as práticas pedagógicas dos professores para ministrar as aulas remotas a Pedagoga 4 argumenta que:

Eles não estavam preparados, eles precisaram renovar coisas que eles faziam em sala de aula mudar para poder conseguir fazer em casa, adaptações. Mas, eles desenvolveram bem a gente percebe com que, os alunos que fizeram aulas remotas e os alunos da mesma idade que saíram e retornaram a diferença você vê muita. O 2º período foi para o 1º ano que é alfabetização chegaram no 1º ano (que já teve aula presencial nesse ano desde fevereiro) os que precisavam de reforço de um trabalho pedagógico foram os que não fizeram online.

Observa-se que as instituições das pedagogas entrevistadas preconizaram o lúdico nas atividades desenvolvidas em aulas remotas, utilizaram os mais diversos recursos para garantir uma aprendizagem significativa durante a pandemia. Mesmo com todas dificuldades

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enfrentadas, foi possível constatar, que as escolas e os professores conseguiram se reinventar para proporcionar as crianças conteúdos lúdicos. A pandemia e o isolamento social interviram diretamente na forma lúdica de trabalhar com as crianças. Durante este período, a tecnologia foi uma importante aliada na mediação de teorias e práticas pedagógicas que auxiliaram no desenvolvimento cognitivo das crianças. Ao realizar a pesquisa torna-se evidente que as escolas conseguiram desenvolver em um momento atípico e com a ajuda da tecnologia, estratégias que proporcionaram uma aprendizagem lúdica e significativa para as crianças da Educação Infantil.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo, visou abordar as estratégias utilizadas para aplicação de atividades lúdicas nas aulas remotas durante a pandemia nas escolas da Educação Infantil, assim como, entender a organização das escolas para garantir a ludicidade durante o período pandêmico e identificar os desafios da aplicabilidade de conteúdos lúdicos no modo remoto. Sua elaboração permitiu compreender que as brincadeiras se constituem como a atividade principal das crianças. Nesse sentindo, a ludicidade é algo primordial na aplicação de atividades na Educação Infantil. Pode-se inferir, que a criança aprende brincando, o ato de brincar possibilita o desenvolvimento de aspectos cognitivos, sociais e motores. Percebeu-se também, que as práticas pedagógicas devem ir de encontro as necessidades das crianças, os professores ao criarem seus conteúdos, devem proporcionar uma vivência lúdica. A brincadeira na educação infantil não é distração, brincar é coisa séria, propicia o desenvolvimento integral da criança, além de contribuir para a formação da sua identidade e subjetividade. Ao entrevistar as pedagogas tornou-se evidente que, a equipe pedagógica, juntamente com os professores desenvolveram estratégias para viabilizar a aplicação de atividades lúdicas nas aulas remotas. Com o auxílio de tecnologias, disponibilização de materiais, estreitamento de relações com os pais/responsáveis e adaptação das práticas pedagógicas. Apesar dos obstáculos e desafios apresentados, pôde-se inferir que as atividades lúdicas foram empregadas de forma positiva. O lúdico aliado às tecnologias possibilitou a continuidade da aprendizagem das crianças de maneira significativa, sem tantos prejuízos ao desenvolvimento da mesma, visto que, o ensino remoto embora tenha ajudado não substitui as aulas presencias, e a interação que estas propiciam. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Após finalizar a pesquisa, conclui-se que o objetivo inicialmente definido foi alcançado, uma vez que, permitiu um estudo aprofundado da questão, e por consequência, a obtenção de conhecimento das estratégias utilizadas pelas escolas afim de promover atividades lúdicas significativas durante o ensino remoto. Ademais, compreendeu-se a importância do trabalho em conjunto, entre a equipe pedagógica, professores e pais, para que, oportunizasse experiências relevantes às crianças. Evidenciou-se que, através das estratégias utilizadas pelas escolas no ensino remoto, foi possível alcançar resultados significativos no processo de ensino aprendizagem das crianças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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OS BENEFÍCIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA CONTABILIDADE DIGITAL NA GESTÃO E TOMADA DE DECISÃO NAS EMPRESAS

Camila Regina Santana Machado, João Paulo Costa Barbosa, Karen Neves de Oliveira, Leticia de Paula Reis, Vanessa Oliveira de Jesus†††††, Aías Alves de Lana‡‡‡‡‡, Amilton Quintela Soares Junior§§§§§, José Francisco da Costa Júnior******

RESUMO A contabilidade sempre busca se adaptar à realidade vivida, na era da informação vem a contabilidade digital. Entender quais os benefícios de sua implementação nas empresas em relação a gestão e tomada de decisão se faz necessário, para isso foram feitas pesquisas bibliográficas primeiramente para conceituar contabilidade digital, posteriormente para entender o efeito da mesma na tomada de decisão nos ambientes organizacionais e seus benefícios para as empresas. Conclui-se com o estudo que entre os benefícios para as empresas está na agilidade e eficácia que as obrigações acessórias por meio sistema de informação contábeis e também nas informações que o contador tem acesso que podem ser utilizadas na gestão e tomada de decisão das empresas. Palavras-chave: Contabilidade digital. Tomada de decisão. Sistemas de informação. 1 INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos recentes, sobretudo a internet, trouxeram muitas mudanças para sociedade: o modo de se relacionar com as outras pessoas, o acesso à informação, o comportamento de compras, as formas de estudar e até mesmo no que diz respeito à realização do trabalho. Com a contabilidade não foi diferente. Desde o seu princípio ela vem se adequando com a realidade vivida. De acordo com Araújo (2018), em artigo publicado na revista eletrônica

Acadêmicos do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. Emails: camilaregina04machado@hotmail.com; jpcostabarbosa2015@gmail.com; karen.nevesoli@hotmail.com; leticiadpaula16@gmail.com; leticiadpaula16@gmail.com; contato_vanessa@outlook.com; ‡‡‡‡‡ Bacharel em Ciências Contábeis pela Univale; MBA em Gestão Financeira, Auditoria e Controladoria pela FGV, professor dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Govenador Valadares. Email: aiaslana@unipac.br. §§§§§ Bacharel em Administração pela Faculdade Maurício de Nassau. MBA em Gestão Empresarial pela FGV e Mestre em Gestão Integrada do Território pela Univale. Professor de Graduação e Pós-graduação da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. Email: amiltonquintela@unipac.br ****** Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br †††††

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do centro de ciências sociais aplicadas, a contabilidade como ciência social absorve as influências sociais, ambientais e tecnológicas objetivando alcançar os interesses da sociedade. A grande característica da contabilidade digital, segundo Corrêa (2018), é o fácil acesso e transmissão de dados financeiros em formato eletrônico. Computadores e ferramentas digitais tornam o profissional contábil mais produtivo ao mesmo tempo que reduz custo e tempo de execução de tarefas. Dessa forma, nesta pesquisa busca-se responder à seguinte problemática: quais os principais benefícios da implementação da contabilidade digital na gestão e tomada de decisão das empresas para os profissionais contábeis? A partir do problema de pesquisa, este estudo tem como objetivo analisar os principais benefícios da implementação da contabilidade digital na gestão e tomada de decisão das empresas verificar a aceitação da contabilidade digital no processo de geração de informação contábil e os efeitos de sua implementação em um escritório contábil de Joinville/SC. Em linhas específicas, definem-se como objetivos específicos: i) conceituar contabilidade digital; ii) evidenciar os efeitos da implementação de tecnologia; iii) analisar as diversas vertentes dessa implementação como investimento, aprimoramento de técnicas e desprendimento cultural; iv) verificar o processo de geração de informação no escritório contábil de Joinville/SC; v) e verificar o nível de entendimento dos participantes da pesquisa sobre contabilidade digital. Esse trabalho foi elaborado a partir de uma revisão da literatura definida por Gil (2019) como processo de busca, análise e descrição de um corpo do conhecimento em busca de resposta a uma pergunta específica. “Literatura” cobre todo o material relevante que é escrito sobre um tema: livros, artigos de periódicos, artigos de jornais, registros históricos, relatórios governamentais, teses e dissertações e outros tipos. Para que se possa construir um melhor entendimento do tema se fez necessário conceituar contabilidade digital, posteriormente será descrito sobre os efeitos da contabilidade digital na tomada de decisão em ambientes organizacionais, na fase seguinte os principais benefícios da contabilidade digital para as empresas vão ser identificados e por fim se dará a análise dos principais desafios na implementação da contabilidade digital, a partir da perspectiva dos profissionais contábeis.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Nesta seção serão discutidos a definição do que é contabilidade digital, será falado sobre os sistemas de escrituração púbico instituído pelo governo para realização das obrigações acessórias, sobre a influência da contabilidade digital, sobretudo os sistemas de informação contábeis no processo de tomada de decisão e gestão, será discorrido também sobre alguns problemas na implementação da contabilidade digital e por fim seus benefícios para as empresas.

2.1 Contabilidade digital e as obrigações acessórias.

Não é novidade para ninguém que estamos vivenciando uma era de constante evolução em diversas áreas, o mesmo acontece com a contabilidade, que não é mais vista somente como sendo a parte burocrática, cheia de papeladas, e passa a ser vista como automatização e agilidade. De acordo com Pereira, (2017), a contabilidade digital usa de ferramentas tecnológicas para facilitar os serviços contábeis. A contabilidade atualmente é imprescindível para qualquer tipo de negócio, através dela se tem garantia de que todas as obrigações acessórias serão cumpridas dentro dos prazos estabelecidos. Um exemplo de tais obrigações, seria o sistema público de escrituração digital (SPED), que é um sistema criado pelo Governo Federal para receber as informações fiscais e contábeis das empresas, facilitando o cumprimento das obrigações fiscais por parte dos contribuintes. Existe também o eSocial, que é uma parte do SPED, criado em 2014, é um programa que busca agilizar e unificar o envio das informações fiscais, previdenciárias e trabalhistas das empresas. Devido a nova forma de executar tais processos, o eSocial e o SPED Fiscal, demandam um esforço na digitalização das informações, o que fez as empresas se adaptarem diante a essa nova era. Na contabilidade digital é possível extrair dados relevantes como a apuração de tributos, agilidade nos relatórios contábeis, para que o gestor possa conseguir enxergar a verdadeira situação da sua empresa, traçar as metas necessárias, e muito mais. O profissional contábil precisa ser visto como um comunicador de informações essenciais à tomada de decisões, pois a habilidade em avaliar fatos passados, perceber os presentes e predizer eventos futuros pode ser compreendido como fator preponderante ao sucesso empresarial. (SILVA, 2018, p. 3) TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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A contabilidade digital é a simplificação de todos os serviços, ela veio para facilitar a interação entre cliente e contador, pode-se dizer que é uma plataforma online sistematizada, que garante precisão das informações e agilidade nos serviços demandados. De acordo com De Sá (2020), a contabilidade digital utiliza a tecnologia para desburocratizar a rotina dos processos contábeis e aumentar a produtividade e a eficiência das tarefas, visando sempre os melhores resultados para os clientes através de uma relação de proximidade e parceria. A ideia é usar a ferramenta como um agregador de valor no trabalho dos contadores, mas, ainda assim, o contador continua tendo participação direta na gestão da empresa, traçando novas estratégias e decisões que impulsiona a competitividade para alavancar seu negócio. A todo momento surgem novas empresas, principalmente relacionadas ao marketing digital, e consequentemente, os clientes buscam por escritórios contábeis especializados na gestão eficaz, rapidez na comunicação e execução das tarefas. A busca por meios práticos que facilitem o cumprimento das obrigações, demandas fiscais e trabalhistas, estão cada vez maiores. As vantagens de adaptar-se à contabilidade digital são vastas, e abre um leque de oportunidades. Conforme Cleto (2006, p.11) [...]os novos profissionais da era digital deverão pensar em mudança de foco. Evoluir de um mero fazedor de guias e lançador de papéis e fichas, para um consultor na gestão dos negócios de seus clientes. Seu conhecimento, sua experiência e sabedoria são dons a serem aplicados para gerar lucro para as empresas, racionalidade para as organizações e riquezas para nosso país.

Dentro dessa praticidade, temos o envio do SPED Fiscal e o eSocial, que como citados acima, são programas criados pelo governo, e são formalizadas digitalmente, tornando então, a contabilidade digital obrigatória para as empresas. Inspirados em modelos utilizados em outros países como Espanha e Chile, o governo brasileiro lançou em 22 de janeiro de 2007 o projeto do SPED, com o intuito de modernizar e otimizar o sistema de cumprimento das obrigações acessórias e facilitar a fiscalização do fisco sobre as empresas. Ele teve início com três projetos: I.

Escrituração contábil digital (ECD) que é a substituição da escrituração de papel para sua versão digital, via arquivo, do livro diário, do livro razão, seus auxiliares e do livro balancete diário.

II.

Escrituração fiscal digital (EFD) que consiste em um arquivo digital composto pelas escriturações de documentos fiscais, de outras informações de interesse do fisco e do

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registro da apuração de impostos referentes as operações e prestações praticadas pelo contribuinte. III.

Nota fiscal eletrônica (NF-e) é um documento de existência apenas digital emitido e armazenado eletronicamente para documentar de maneira fiscal uma operação de circulação de mercadorias ou uma prestação de serviço. Auxiliados dos sistemas de contabilidade utilizados nas empresas a geração desses

arquivos em formato especifico, através do programa fornecido pelo SPED, acontece a validação pela assinatura digital depois dessa etapa o arquivo é enviado aos órgãos públicos e os livros eletrônicos são registrados na junta comercial. Segundo o portal da nota fiscal eletrônica (2021) a implantação da NF-e é um grande avanço veio para facilitar a vida do contribuinte e as atividades de fiscalização sobre as operações e prestações tributadas pelo imposto sobre circulação de mercadorias (ICMS) e sobre o imposto sobre produtos industrializados (IPI). As facilidades geradas pela nota fiscal eletrônica incluem a importação do arquivo XML relativo a nota fiscal, que através das ferramentas dos sistemas contábeis, tornam de certa forma dispensáveis lançamentos manuais, pois o mesmo contém todas as informações pertinentes sobre a nota fiscal, cabendo ao responsável apenas a conferencia das informações. O Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas, mais conhecido como eSocial, como explicado brevemente acima, foi instituído pelo Decreto nº 8373/2014, e foi um dos últimos módulos implantados pelo SPED. Esse sistema, faz com que as empresas enviem ao Governo Federal, as informações relativas aos trabalhadores, de forma unificada, para simplificar o envio das informações, como, por exemplo, os vínculos, contribuições previdenciárias, folha de pagamento, comunicações de acidentes de trabalho, aviso prévio, escriturações fiscais e informações sobre o FGTS. Para enviar essas informações, é necessário gerar eventos em arquivos eletrônicos, contendo as informações referentes ao cadastro inicial, eventos não periódicos e eventos periódicos. Os arquivos deverão ser assinados digitalmente. (Manual de Orientação e Desenvolvedor eSocial). Os eventos iniciais contêm informações sobre o empregador, como classificação fiscal e estrutura administrativa, logo após, são enviados os eventos de tabela, que são informações que se repetem em diversos eventos periódicos e não periódicos, uma vez enviadas, é necessário mantê-las sempre atualizadas. A tabela de estabelecimentos, de rubricas, lotações tributárias, são alguns exemplos dos eventos de tabelas. Os eventos não periódicos, são eventos que não TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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possuem data certa para acontecer, relacionados a direitos e deveres trabalhistas, previdenciários e fiscais. A admissão de um novo funcionário e alterações salariais, são exemplos dos eventos não periódicos. Os eventos periódicos, como o nome mesmo já diz, são acontecimentos que possuem data certa para acontecerem, como por exemplo, a folha de pagamento, que é enviada mês a mês. (Jornal Contábil, 2020) A contabilidade que acumulava arquivos impressos, caixas sobre caixas, e que demandava horas na produção de planilhas, está na moda antiga. Nos tempos de hoje, as empresas precisam se adaptarem, para trazer mais comodidade e agilidade nos processos, para que assim, tenham mais tempo para elaborar estratégias, e atender a maiores demandas dos clientes. Demandas essas que estão relacionadas a gestão e tomada de decisão que assunto do próximo tópico.

2.2 Contabilidade digital e tomada de decisão em ambientes organizacionais

O conceito de Tomada de Decisão em empresas é definido como a seleção de um curso de ação entre alternativas. A decisão deve estar vinculada a outras atividades, ou seja, a geração, avaliação e seleção de soluções de forma racional. O sistema de informação (SI) cobre toda a gama de operações e atividades de tomada de decisão, por si só, é a sua filosofia, complicandose desta forma. Outros pesquisadores apontam que o efeito potencial da tecnologia da informação (TI) na tomada de decisões em todos os níveis tem sido capturado pelos profissionais de SI desde o início da era do computador, porque o mundo está caminhando para mercados abertos e globais. A necessidade de acesso a informações oportunas, confiáveis e fáceis será a chave para a tomada efetiva de decisões, de modo que os gerentes devem determinar se os SIs ajudam a alcançar as metas de tomada de decisão (LEONE, 2000). A tomada de decisão é um dos papéis mais importantes dos executivos, também os usuários, especialmente, quando esse processo em uma organização é multidimensional, porque a importância de uma decisão é seu impacto na empresa e seu desempenho de longo prazo. A qualidade das informações permite que um tomador de decisão justifique a base das decisões, argumentando que, se as informações utilizadas forem oportunas, precisas e confiáveis, qualquer decisão tomada é boa. Para sistemas que ajudam a tomar decisões ou fornecer um serviço para o usuário, é muito mais difícil estimar os benefícios, havendo poucos exemplos dessas tentativas, no entanto, a qualidade da decisão foi encontrada para ser mais estreitamente relacionada com a participação atual do utilizador (STROEHER, FREITAS, 2018). TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Em muitas organizações, as responsabilidades de tomada de decisão foram descentralizadas para permitir maior controle, autoridade e autonomia aos trabalhadores, levando em conta que um esforço é bem-sucedido se levar a (PASSOS, 2010): a) Uma transformação de padrões de resposta de decisão (por exemplo, decisões diferentes, procedimentos diferentes para tomada de decisão, uso diferente de informações ou uso de informações anteriormente inexistentes). b) Um grande entendimento da situação da decisão e os conceitos utilizados. c) Benefícios operacionais, como alta lucratividade. d) Maior confiança e menos tempo para tomar uma decisão em particular. Se os usuários são considerados para tomar suas decisões com base nas informações de qualidade obtidas no SIC e juntamente com a urgência de gerar tomadas de decisões rápidas em todos os setores produtivos, muitas organizações não modernizaram seus sistemas de computador tanto em hardware quanto em Software e continuaram com softwares obsoletos criados na década de 1980 ou sistemas que não atendem às suas reais necessidades (MOREIRA et al., 2013). A tomada de decisão gerencial é um processo complexo de solução de problemas que consiste em uma série de etapas sucessivas. Esses estágios serão unidos como possíveis se a administração esperar qualquer grau de sucesso que deriva do processo de tomada de decisão. As seis etapas do processo de tomada de decisão são (STROEHER, FREITAS, 2018): I. II.

Detecção e identificação de problemas Procure um modelo existente aplicável ao problema ou o desenvolvimento de um novo modelo.

III.

Definição de cursos alternativos à luz do problema e do modelo escolhido

IV.

Determinação dos dados quantitativos e qualitativos que são relevantes no problema e uma análise dos dados relativos para o curso de ação alternativo.

V.

Seleção e implementação de uma solução ótima que seja consistente com os objetivos de gerenciamento.

VI.

Avaliação pós-decisão através de feedback para fornecer à gerência os meios para determinar a eficácia do curso de ação escolhido na solução do problema.

Embora as empresas de pequeno porte tenham sido tradicionalmente vistas como relutantes em investir em Sistema de informações Contábeis, as evidências mostram um aumento na conscientização do usuário e na administração de sistemas de computador em TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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pequenas empresas durante a última década por proprietários e gerentes. Nesse sentido, o gerenciamento de informações pode ser considerado como o controle de um processo ou processos em direção a um objetivo ou meta específica. Há uma consciência crescente de que as informações podem ser consideradas como um recurso a ser gerenciado coletivamente e, independentemente de sua tecnologia, as informações podem fornecer vantagens competitivas importantes e melhorar o desempenho geral da organização e no processo de tomada de decisão (PASSOS, 2010). O caminho a seguir para os administradores é, portanto, desenvolver técnicas e ferramentas com a implementação de Sistemas de Informações Contábeis, que permitam à gerência geral orientar o uso e o desenvolvimento de dados, considerando que os usuários tomam suas decisões com base nas informações de qualidade obtidas do Sistema de Informações Contábeis. Assim, o correto desenvolvimento da organização depende da existência de um fluxo adequado de informações entre ela e seu contexto e entre as diferentes unidades que a compõem, pensando que uma empresa é mais competitiva do que a que se destaca na exploração da informação ambiental (MOREIRA et al., 2013). Dentro do modelo de tomada de decisão, a contabilidade de custos ajuda a melhorar a decisão, de acordo com a qualidade da informação mantida. Em todas as organizações, as decisões são tomadas diariamente, algumas são rotineiras, como a contratação de um novo funcionário; outros não são, como introduzir ou eliminar uma linha de produtos, ambos exigem informações adequadas (STROEHER, FREITAS, 2018). A qualidade das decisões de negócios, pequenas ou grandes, depende diretamente do tipo de informação disponível; portanto, para uma organização se desenvolver normalmente, é necessário ter um bom sistema de informação, para melhor qualidade da informação, uma melhor decisão é garantida. Considera-se que a qualidade das decisões de qualquer empresa, pequena ou grande, é uma função direta do tipo de informação disponível, portanto, se você quer que uma organização se desenvolva normalmente, você deve ter um bom sistema de informação: Para melhor qualidade da informação, uma decisão sábia é assegurada (MOREIRA et al., 2013). A boa gestão do Sistema de informações contábeis (SIC) trata-se de um problema fundamental de estudo, tanto para a contabilidade quanto para a gestão, uma vez que as informações contábeis e financeiras ajudam a orientar a escolha entre diferentes alternativas, na alocação ou demanda de recursos. Este tópico foi abordado várias vezes na história da disciplina contábil, mas os eventos recentes ainda são válidos. Os princípios contábeis que TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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caracterizam este tipo de informação têm historicamente demonstrado relevância e solidez como elementos que contribuem para a representação fiel da situação financeira organizacional e, com base nisso, para a construção da confiança dos diversos usuários a mesma (KRAEMER, 2011). A empresa, para enfrentar todos os desafios impostos pela sociedade do conhecimento, deve ter informações relevantes, completas e tempestivas de seu passado, presente e futuro, combinando dados e informações de fontes internas e externas, qualitativas e quantitativas. É responsabilidade vital do sistema de contabilidade provê-lo sob medida para as necessidades dos usuários, com abordagens abertas e flexíveis para integrar informações como conhecimento organizacional que muda e se adapta à dinâmica da empresa (STROEHER, FREITAS, 2018). Um SIC compreende uma coleção de dados e procedimentos de processamento contábil que gera as informações necessárias para seus usuários, a fim de criar cursos de ação, sempre pensando no benefício da organização. O uso do sistema de informação contábil e a percepção de efetividade permitem definir um papel chave na determinação de sua eficácia, mas se for dito apenas que o uso trará mais benefícios sem raciocinar sua natureza, é claramente insuficiente. Por um lado, o uso variável refere-se à inclusão da informação gerada pelo sistema no processo de tomada de decisão pelo usuário. Por outro lado, no caso da eficácia, ela é medida pelo uso das informações fornecidas pela SIC expressas em termos de satisfação do usuário e da qualidade das decisões tomadas (KRAEMER, 2011). O uso do SIC e sua eficácia podem indicar fenômenos completamente diferentes; mas o uso é uma variável central na investigação do SI que foi definida e conceituada como o número de vezes que um SI é usado porque uma empresa que paga por um sistema que usa e não suporta os objetivos de negócio, não tem Sucesso, é como se ele não o usasse e fizesse um mau investimento (PASSOS, 2010). Acredita-se que a operação do SIC seja um comportamento que reflete uma expectativa dos benefícios líquidos daquele uso, fornecendo um resultado comportamental do sucesso do sistema, mas um dos problemas mais sérios é a presunção se a maneira como o sistema é testado, será o mesmo em uso e operação reais. Se o usuário considerar que o SIC não é confiável e seus dados são imprecisos, essas dúvidas se refletirão no seu uso (ou não), mas quando a satisfação impactar o uso, com um alto nível, constrói uma maior dependência do sistema. É adicionado ao acima, que pessoas com mais experiência têm uma média maior de usar um SI, também o uso passado de um sistema aparentemente influencia sua facilidade de operação e é o fator chave na determinação do uso futuro, mais precisamente em sua satisfação geral. Portanto, essa TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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variável tem sido frequentemente usada por pesquisadores do SI como uma medida do sucesso do sistema em determinar os benefícios da tecnologia, mas quando usada isoladamente, não consegue medir completamente o sucesso (MOREIRA et al., 2013). O tempo e as relações humanas são elementos fundamentais do processo de tomada de decisão. A tomada de decisão relaciona as circunstâncias atuais da organização com as ações que a levarão ao futuro. A tomada de decisão também se baseia no passado; Experiências passadas positivas e negativas desempenham um papel importante na determinação das opções que os gerentes consideram viáveis ou desejáveis (STROEHER, FREITAS, 2018). O gerente, quando toma as decisões, não fica isolado; enquanto toma as decisões, outras pessoas tomam decisões dentro da mesma organização e fora dela, nos escritórios de outras empresas ou do governo. A tomada de decisão é um processo conduzido por gerentes relacionados a terceiros que também tomam decisões. O modelo racional para a tomada de decisões e a solução de problemas significa que as decisões mais eficazes são o resultado de um processo de quatro etapas, seguido pelos administradores, que consiste em investigar a situação, desenvolver alternativas, avaliar alternativas e escolher a melhor e, em seguida, implementar a decisão e acompanhamento (PASSOS, 2010). Os dados e informações produzidos pelos SICs utilizados para planejar, analisar, gerenciar, direcionar e controlar as operações de negócios tornaram-se importantes por um longo tempo. A falta de definições conceituais formais e regras de decisão dificulta o desenvolvimento de sistemas práticos para avaliar a confiabilidade dos dados. Sem dúvida, o conceito de qualidade da informação contábil para tomada de decisão é uma questão atual que nenhuma organização pode negligenciar ou ignorar, porque nos tempos modernos sua dependência é vital, definida como adequada para uso, sem aceitação e difícil de mensurar usando esse termo muito amplo (MOREIRA et al., 2013). 2.3 Principais desafios da implementação da contabilidade digital

A contabilidade tem sofrido alterações em seus métodos de escrituração, e a tecnologia da informação tem se tornado útil para integração dos dados contábeis. Surgiram leis que criam um sistema unificado para a formação dessas informações. Tema esse, que trouxe muitas alterações na forma de escrituração contábil, num ambiente cada vez mais competitivo, onde contadores e demais profissionais envolvidos na área TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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contábil, precisam estar sempre atualizados para cumprir as exigências de seus clientes, bem como da legislação pertinente. Assim, busca-se apresentar o conceito de contabilidade digital, e quais as formalidades da sua escrituração, além de demonstrar os conhecimentos aplicáveis à rotina profissional. O mercado de trabalho tem exigido qualificação dos profissionais. Mas só isso não basta, precisa que tenha experiência em sua área de atuação. Pois atualmente encontrar mão de obra qualificada não é uma tarefa fácil. Segundo Ritto e Brasil (2018, p.10) “Acompanhar as mudanças, caminhando para a sustentabilidade sob modelagens plurais requer capacitação das pessoas para enfrentar esses desafios, assumir postos de trabalho e desenvolver novas atividades”. A contabilidade Digital trouxe diversas alterações à rotina de trabalho, onde o profissional precisa se inteirar dos assuntos relacionados à legislação vigente, para efetuar os serviços da maneira certa. Contudo, a entrada de novas tecnologias nas áreas contábeis e de finanças, também impõe desafios. O primeiro diz respeito à disponibilidade de soluções efetivas, além disso, existem desafios relacionados a obtenção de orçamento para investimentos em ferramentas e conhecimento sobre como e, também, o que mudar dentro do processo de transformação digital das áreas de contabilidade e finanças. Outro desafio depende do profissional contábil se adaptar para acompanhar o ritmo de alterações das normas contábeis e da tecnologia, demandando investimentos em recursos humanos no desenvolvimento de novas habilidades, já que a tecnologia vem transformando o perfil desse especialista. A transformação digital está submetendo os profissionais de finanças e contabilidade a uma jornada desafiadora, uma vez que essa mudança extrapola iniciativas isoladas relacionadas exclusivamente a processos de negócios e implementação de novas tecnologias, mas, também, possui um forte viés na cultura e nas pessoas. As empresas que capitalizarem essa transformação e vencerem a batalha da transformação de dados em valor assumirão posições relevantes e terão a oportunidade de alavancarem novos negócios a partir do uso estratégico da informação contábil. (Jornal Contábil, 2021)

2.4 Benefícios da contabilidade digital para as empresas

A evolução tecnológica trouxe diversos benefícios para a sociedade. Com alguns cliques é possível pedir comida, transporte, conversar com alguém, enfim, são inúmeras possibilidades. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Com a contabilidade não é diferente. A tecnologia da informação vem desenvolvendo instrumentos específicos para uso no setor contábil, proporcionando redução de custos e inovando na utilização de meios que proporcionam a integração de sistemas, gerando com isso a possibilidade de melhorar o desempenho das atividades contábeis, através da criação de soluções práticas e inovadoras (CARVALHO, 2018). São muitos os benefícios adquiridos ao utilizar a contabilidade digital. Segundo Carvalho (2018), alguns benefícios são adquiridos por meio do armazenamento virtual de dados. Através do SPED (Sistema Público de Escrituração Digital), é possível diminuir significativamente os transtornos causados por grandes quantidades de papel, que além de ser oneroso guardá-los, ainda se corre o risco de eventuais extravios de documentos e perdas pela ação do tempo. Ainda que exista a necessidade de manter certos tipos de documentos, que precisam por força de lei estar disponíveis para eventuais fiscalizações, a utilização de instrumentos tecnológicos para armazenar documentos traz uma boa economia de espaço, além de facilitar a procura e o armazenamento dos mesmos. A redução do papel também promove a preservação do meio ambiente e proporciona um diferencial para a empresa. Segundo Sá (2020), empresas que se unem a causas sustentáveis acabam ganhando maior empatia do público e, consequentemente, contam com mais clientes. Ainda segundo a Receita Federal do Brasil (2021), o SPED também possibilita: redução de custos com a racionalização e simplificação das obrigações acessórias; uniformização das informações que o contribuinte presta às diversas unidades federadas; simplificação e agilização dos procedimentos sujeitos ao controle da administração tributária; fortalecimento do controle e da fiscalização por meio de intercâmbio de informações entre as administrações tributárias; redução de custos administrativos; melhoria da qualidade da informação; entre outras vantagens. Outro benefício citado por Carvalho (2018) diz respeito à segurança das informações. Por meio da Certificação Digital as trocas de dados via ambiente virtual estão protegidas e possuem validade jurídica, já que a assinatura digital é pessoal e intransferível. Dessa forma, todos os documentos e informações importantes estão protegidas por firewalls, criptografia e senhas de acesso. Tornando praticamente impossível o acesso às pessoas não autorizadas. A contabilidade digital também permite uma integração na gestão contábil. Segundo Oliveira (2003, p. 17):

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[...] a automação das empresas produz a integração dos diversos setores, de forma que a informação flua com maior rapidez para as áreas que necessitam utilizar esses dados, estimulando-as por meio dos resultados alcançados a adotarem a informatização na busca pelo aprimoramento deste processo. Segundo Sá (2020), a contabilidade digital propicia uma significativa redução dos custos, já que os serviços oferecidos são significativamente mais baratos do que o método tradicional, proporcionando redução de custos nas empresas. Pois com os serviços sendo feitos em ambiente virtual, não há necessidade de se ter uma estrutura física, com isso refletindo no preço cobrado pelos profissionais. Outro benefício é a praticidade na gestão contábil. Com a automatização de cálculos e de tarefas repetitivas, otimiza-se os processos contábeis da empresa, os quais passam a ser executados de maneira menos burocrática e descomplicada. Ainda de acordo com Sá (2020), ela também propicia mobilidade, já que ao aderir à contabilidade digital, é possível acessar a plataforma e se comunicar com o contador de qualquer lugar e a qualquer momento. Desse modo, fica mais fácil para o empresário consultar as informações em tempo real e acompanhar de perto todas as movimentações. Outras vantagens são obtidas através da NFe (Nota Fiscal Eletrônica), que é um instrumento que possibilita um controle maior na coleta fiscal, pois através de cruzamentos dos dados se torna praticamente impossível burlar o controle do fisco sobre as obrigações tributárias. (CARVALHO, 2018). Segundo a Receita Federal do Brasil (2021), as vantagens adquiridas através da NFe são: aumento na confiabilidade da nota fiscal; melhoria no processo de controle fiscal, possibilitando um melhor intercâmbio e compartilhamento de informações entre os fiscos; redução de custos no processo de controle das notas fiscais capturadas pela fiscalização de mercadorias em trânsito; diminuição da sonegação e aumento da arrecadação; redução de erros de escrituração devido a erros de digitação de notas fiscais; entre outros benefícios. Por último, uma vantagem apontada por Duarte (2020), é relacionada a consultoria. Como a contabilidade digital permite a integração entre os sistemas contábeis, o contador passa a focar mais na análise de resultados, prestando um serviço de consultoria para a empresa. Tal análise feita por um profissional permite que o empresário possa tomar melhores decisões, baseadas em dados reais do seu negócio e já analisadas e recomendadas pelo seu contador. A contabilidade digital ainda permite que a entrega de relatórios possa ser feita de forma personalizada, sugerindo melhorias, pontos de atenção, ou indicando quais áreas a empresa se destaca. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizar o presente estudo, nota-se a importância da contabilidade digital, além de se tratar na realidade de algo obrigatório para empresas, devido a exigências legais do governo, e também pelo ambiente tecnológico atual, em que se faz necessário cada vez mais de informação de forma rápida e precisa, para todos os usuários da contabilidade seja ele o fisco, as empresas, os clientes dentre outros, possam fazer uso dela para atender a suas demandas. De acordo com a pesquisa bibliográfica realizada, a implementação da contabilidade digital nas empresas além de contribuir para que as obrigações acessórias, que passaram a ser feitas digitalmente pelo SPED e pelo eSocial, sejam feitas de maneira rápida e eficiente, sobrando tempo para que o contador possa trabalhar como consultor, utilizando-se dos sistemas de informação contábeis e da grande quantidade de informação relevante disponível no gerenciamento e tomada de decisão da empresa, fazendo que elas tenham mais chance de obterem sucesso no mercado. A qualidade e a confiabilidade da informação utilizada para essa tomada de decisão dependem bastante da tecnologia advinda da contabilidade digital, os cruzamentos de dados resultados do SPED fazem com que as informações sejam obrigatoriamente as mais corretas possíveis para que não ocorram fraudes que são mais facilmente descobertas. Resultando em decisões baseadas em dados confiáveis.

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O ENSINO REMOTO PARA O PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL EM TEMPO DE PANDEMIA DA COVID-19 Ana Gabrielly Bedone, Emília Martins da Silva, Isabella Mendes Rodrigues, Izabela Lopes de Oliveira22, Eliane Aparecida Silva Duarte23, Sandra Maria Perpétuo24

RESUMO O presente trabalho traz uma análise sobre o Ensino Remoto para o público alvo da Educação Especial em tempo de pandemia da COVID-19. Teve-se como objetivo centrar sobre como a Educação Especial, através do Atendimento Educacional Especializado (AEE) poderia contribuir para que as crianças e estudantes com deficiência tivessem a oportunidade de darem continuidade ao trabalho desenvolvido na escola inclusiva e na Educação Especial, mesmo através do Ensino remoto, para que não ficassem ainda mais prejudicados. Para alcance dos resultados da pesquisa, além de pesquisa bibliográfica, análise de documentos do Centro Municipal de Referência e Apoio à Educação Inclusiva (CRAEDI) do município de Governador Valadares, também realizamos entrevista semiestruturada com a gestora desse Centro. Tivemos a oportunidade de perceber o quanto a Educação Especial foi importante para que o trabalho com as crianças e estudantes com deficiência não fosse interrompido em tempo de pandemia, pois, a equipe da Educação Especial continuou oferecendo o AEE – Atendimento Educacional Especializado de forma remota através da plataforma da Secretaria Municipal de educação SMED/GV, com recurso de vídeos e orientando a escola inclusiva nas flexibilizações necessárias nas atividades disponibilizadas. Palavras-chave: Educação Especial/Inclusiva. Ensino Remoto. Pandemia. 1. INTRODUÇÃO

Em tempo de pandemia de COVID-19, que teve início em março de 2020 e assola o mundo até os dias de hoje, foi necessário investir em muitas mudanças em todos os setores e serviços. Essas mudanças que ainda estão prevalecendo, passou a determinar o momento atual como o “novo normal”, e a educação assim como as demais áreas, também foi impactada. Com isso, as escolas precisaram se reinventar para que crianças e estudantes não ficassem em prejuízo, no que diz respeito, ao ensino e aprendizado, uma vez que uma das medidas protetivas

Acadêmicas do curso de Pedagogia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. Emails: gabriellybedone@hotmail.com; izabelalopesmd@gmail.com; 23 Professora de graduação da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: elianeduarte@unipac.br 24 Professora do curso de Pedagogia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. Email: sandraperpeteuo@unipac.br 22

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foi o distanciamento social, impedindo que a escola funcionasse com a presença de alunos e professores. Nesse contexto a tecnologia foi a maior aliada para que professores e alunos estivessem sempre em contato, mesmo que virtualmente, para que os estudos não parassem. Tablets, celulares e computadores alimentados pela internet, tornaram-se ferramentas essenciais nesse novo modelo de ensino pedagógico. Diante desse cenário, em que nem todos tiveram acesso a essas ferramentas, devido à falta de recursos econômicos ou mesmo devido ao espaço geográfico, que não possibilitava acesso à internet, é que se centra nossa preocupação. Pois, também associada a essa demanda, estão as crianças e estudantes público alvo da Educação Especial, que necessitam além de todos os aparatos necessários para acessar as aulas, também requerem maior atenção e apoio no desenvolvimento das atividades, muitas vezes, com estratégias diferenciadas e adaptações para o desenvolvimento dessas. Sendo assim, surge o seguinte questionamento: Como é possível desenvolver o ensino remoto com crianças e estudantes público alvo da Educação Especial que estão incluídos nas escolas regulares? O presente trabalho se justifica pela necessidade de refletir sobre como a Educação Especial pode contribuir para que as crianças e estudantes com deficiência matriculados nas escolas regulares também tenham a oportunidade de darem continuidade ao processo de ensino e aprendizagem, desenvolvido na escola inclusiva e na Educação Especial, para que não fiquem ainda mais prejudicados. Dessa forma, a metodologia aplicada foi, além da revisão bibliográfica com base em autores que dedicaram seus estudos em Educação Especial/ Inclusiva, e no Ensino Remoto em tempo de pandemia, também foi realizado estudos do Projeto Político Pedagógico do CRAEDI e entrevista semiestruturada realizada com a gestora do Centro de Referência e Apoio à Educação Inclusiva (CRAEDI), com objetivo de obter conhecimentos e nos situar na realidade do ensino remoto para o público alvo da Educação Especial.

2. DISCUSSÃO E RESULTADOS

Antes de realizarmos a análise de como a Educação Especial poderia contribuir com a continuidade do processo de aprendizagem das crianças e estudantes com deficiência através do ensino remoto, é preciso entender o que é a Educação Especial na atualidade e como essa contribui para que as crianças e estudantes com deficiência incluídos nas escolas regulares TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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tenham garantido o direito à educação com igualdades de oportunidades, onde as necessidades e dificuldades individuais são atendidas. Na educação inclusiva, todos os alunos com deficiência ou não têm a chance de viver e aprender juntos. Dessa forma o objetivo é remover as barreiras que limitam o aprendizado e a participação do aluno no processo educacional, promovendo a diversidade entre os alunos e buscando uma mudança no meio pedagógico.

Para se chegar até a proposta da Educação Inclusiva, existiram outras concepções históricas que transferem o progresso do conceito sobre as pessoas com deficiência durante os últimos anos, todavia, elas não se expressam juntamente em todos os países, como resultado representa uma visibilidade histórica global que não condiz ao mesmo estágio evolutivo de qualquer povo. De acordo com Madureira (2015), desde os primórdios, os seres humanos, assim como outros animais, possuem a característica de excluir os mais fracos ou aqueles que não se encaixam no que é estabelecido como comum. Na Antiguidade, por exemplo, como o meio de sobrevivência era, basicamente, a caça e a pesca, os indivíduos que não conseguiam realizar essas atividades eram descartados. Por terem de ser alimentados, cuidados e protegidos – uma vez que não conseguiam fazer as atividades por si – os deficientes eram considerados um atraso para o grupo. Em outras civilizações, porém, poderiam ser protegidos, pois agradavam aos deuses, seres temidos na terra. Naquela época, agradar aos deuses garantiria um lugar junto deles quando a morte chegasse. A deficiência em todo tempo encontrou-se existente na raça humana, por isso é propício voltamos ao passado e assimilar em como o povo compreendia e comportava associado aos deficientes e assimilar as lutas travadas por essa classe. De acordo com Laraia (2009), nos primórdios, na época dos nômades, se uma criança nascesse com algum tipo de deficiência, era rejeitada pelo grupo, pois não conseguiria acompanhar os demais durante os deslocamentos, caças e necessidades básicas em um ambiente hostil. Com o aparecimento das primeiras civilizações, em cada uma delas, o deficiente era visto de maneira diferente. No Egito Antigo as pessoas deficientes integravam-se ao povo nas diferentes classes sociais. Na Grécia, as pessoas com deficiência eram chamadas de “disformes”, e não eram bem vistas aos olhos da sociedade. Em Roma, os deficientes eram abandonados em rios ou deixados em locais sagrados, eram explorados e serviam de atração em circos. Na Idade Média os

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deficientes eram vistos como “castigo de Deus”, resultado dos pecados que os pais cometiam ou fruto de bruxarias (GUGEL,2015). Na Idade Moderna a ignorância começou a ser deixada de lado e começaram a explorar novas ideias com fortes tendências humanistas na arte, na música e na ciência. Iniciou-se a preocupação em estabelecer a língua de sinais para deficientes auditivos, as primeiras cadeiras de roda para os deficientes físicos, o Braille para os deficientes visuais e os primeiros atendimentos às pessoas com deficiência em hospitais ou instituições próprias (GUGEL,2015). Com o passar do tempo, surgem alguns ícones que defendem a proteção e a integração dos deficientes ao convívio da comunidade. Na Idade Média, por exemplo, o famoso Nicolau (bispo de Mira ou de Bari; século III) dava amparo a todos, incluindo aqueles que portavam algum tipo de deficiência. Ele foi um ícone da época, já que as pessoas, em geral, persistiam com a ideia estabelecida de que era mais fácil eliminar quem não fosse comum a todos (em geral, aqueles que apresentavam algum tipo de anomalia), a fim de se evitar maiores atrasos ou prejuízos ao grupo. Até que após constituição de 1988, Conferência Mundial sobre Educação para Todos, aconteceu na cidade de Jomtien na Tailândia, em 1990, Declaração de Salamanca, aprovada na Espanha, em 1994, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/1996 – (1996), passa-se a pensar em uma educação para a pessoa com deficiência pautada nos moldes da educação inclusiva, onde a Educação Especial como uma modalidade transversal à educação regular.

E assim, com a aprovação, em 2006, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência pela ONU, deu início a garantia de um sistema de Educação inclusiva em todos os níveis de ensino. Esse mesmo movimento aconteceu novamente 2008, com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, e em 2011 com o decreto 7.611, que regulamenta o Atendimento Educacional Especializado (AEE), como uma política atrelada à matrícula do aluno no ensino regular. Assim como já mencionado acima, a educação especial nos moldes da educação Inclusiva conta com auxílio de professor (a) de Atendimento Educacional Especializado (AEE), que atua tanto de forma individual com o aluno quanto de forma coletiva juntamente com o professor (a) regente de turma e os demais alunos. O principal objetivo desse profissional é acompanhar o aluno com deficiência no seu desenvolvimento e aprendizagem e ajuda-lo durante esse processo. Existem várias estratégias de ensino para inclusão de alunos público alvo da educação especial, como: Atividades adaptadas e disponibilização de recursos materiais, refere-se as atividades preparadas de acordo com as necessidades do aluno com determinada deficiência, os TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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recursos de materiais implica em jogos de apoio disponibilizados pela instituição de ensino ou confeccionados pelo professor regente de sala ou o professor de AEE, o intuito é de colaborar com o desenvolvimento e aprendizagem do aluno. Competências dos professores no desenvolvimento do AEE: De acordo com o PPP do CRAEDI para desenvolver o AEE é necessário: Elaborar e executar o Plano de AEE do aluno, contemplando a identificação das habilidades e necessidades educacionais específicas dos alunos; a definição e a organização das estratégias, serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade; O tipo de atendimento conforme as necessidades educacionais específicas dos alunos; e o cronograma do atendimento individual ou em pequenos grupos; Acompanhar o processo educativo e investir no desenvolvimento do educando, propiciando atividades adequadas às suas necessidades; Identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos que desafiem os alunos e possibilite a plena participação nas classes comuns, considerando as necessidades específicas; orientar e propor para o professor/monitor, estratégias e recursos pedagógicos. Informar e orientar diretor, professores/monitor e especialistas sobre questões relevantes ao aluno e o processo ensino-aprendizagem; Estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos, das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares; Organizar e manter atualizado os arquivos com as devidas anotações e relatórios de seu serviço; Orientar a família quanto ao processo de inclusão; Contribuir com a formação continuada dos professores regentes e monitores que atendem alunos com deficiência, TEA, psicose infantil e altas habilidades na escola comum. (PPP CRAEDI, 2019, p.03)

Esta política garante o ingresso e permanência de alunos com necessidades especiais, "alunos com deficiência, transtornos invasivos do desenvolvimento alto / superdotado", em

escolas normais e nos orienta quanto à finalidade e objetivos do Serviço Educacional Especializado. A política nacional sobre a educação especial na perspectiva da educação inclusiva, as funções do AEE são desenvolver e organizar recursos educacionais e de acessibilidade, remover obstáculos à plena participação de alunos, atendendo às suas necessidades específicas”.

A Política informa ainda que este serviço não substitui a sala de aula comum, pois tem por objetivo completar e completar a formação destes fora da escola regular. Este serviço pode ser

garantido de diferentes formas, tanto em instituições privadas como públicas. De modo que o objetivo deste estudo é a rede pública, limitaremos este estudo ao como o atendimento especializado é garantido apenas nas escolas municipais de Valadares-MG.

De acordo com o PPP do CRAEDI (2019): Garantir salas de recurso ou atendimento específico em cada escola demandaria muito mais recursos financeiros, materiais e humanos do que a proposta de um Centro único que contemple não somente a necessidade dos alunos e de suas famílias, mas também se responsabilize pela capacitação dos profissionais das escolas municipais no que tange à promoção da inclusão de alunos com necessidades especiais (PPP CRAEDI, 2019, p.03).

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A instituição, atualmente está localizada na Rua Afonso Pena, 3313 – Centro – Governador Valadares/ MG e atende cerca de mil alunos de aproximadamente 70 instituições municipais de ensino, algumas regiões rurais e crianças de creches conveniadas. OCRAEDI iniciou o atendimento em novembro de 2005, sob o comando da Psicóloga Leila Salgado e uma pequena equipe e logo foi reconhecido como instituição podendo receber e administrar seus recursos financeiros. Toda a questão orçamentaria da instituição é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação (SMED/GV) e o Centro conta também como apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). O Centro conta com uma considerável equipe multiprofissional envolvida no atendimento aos alunos com deficiência, TGD e altas habilidades/superdotação. A equipe é formada pela diretora, vice-diretora, pedagogas, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicóloga, assistente social, terapeuta ocupacional, professores (as) de AEE com especializações, equipe técnica e funcionários administrativos, totalizando 58 funcionários. Os profissionais do Centro são responsáveis por garantir o apoio necessário para favorecer a participação e aprendizado dos alunos nas classes comuns, em igualdade de condições, como está previsto na LeiNº6.349, Art.4º (2013). O CRAEDI tem como função: [...] ofertar Atendimento Educacional Especializado nos aspectos físico, psicológico, intelectual e social, com atividades e recursos pedagógicos e de acessibilidade organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação do público alvo da educação especial, matriculados no ensino regular no contraturno (Lei Nº 6.349, Art.5º, 2013).

O serviço sob a forma de oficinas dura 1 hora e tem uma vez por semana para cada aluno, essas oficinas podem ser com um único aluno ou em grupo, o da especificidade de cada aluno. Alunos surdos e aqueles que precisam de fisioterapeuta são vistos mais de uma vez por semana

por mais de uma hora, dependendo de suas necessidades. A organização da sala de aula e o tempo para o desenvolvimento das atividades pedagógicas também é de extrema importâncias para o aluno deficiente. Pois se trata do posicionamento do aluno em sala de acordo com suas necessidades, exemplo: se o aluno tem deficiência visual ou auditiva, recomenda-se posiciona-lo mais à frente para facilitar o seu entendimento em sala de aula. O tempo das atividades pedagógicas realizadas, definidas pelo professor devem ser de acordo com a necessidades de todos os alunos, pois em determinadas atividades os alunos especiais irão precisar de mais tempo do que os demais.

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Uma aprendizagem colaborativa entre os alunos, contribui no processo de inclusão em sala de aula, pois refere-se aos alunos tutores que ajudam uns aos outros e principalmente aos alunos portadores de deficiência que precisam de uma atenção e tempo a mais para sua aprendizagem. Em concordância com o PPP do CRAEDI 2019, o Projeto Político Pedagógico do CRAEDI constitui-se no ponto de referência das ações e decisões no âmbito da Educação Especial da Rede Municipal, assumindo os princípios de compromisso e engajamento na organicidade e dinamicidade do mesmo, principalmente, na sua implementação e avaliação constantes, sendo instrumento de realização da missão institucional concebida pelo CRAEDI, que é “Oferecer o Atendimento Educacional Especializado no Centro com o objetivo de promover a inclusão escolar de forma complementar e suplementar.” Na sua estrutura, este documento apresenta as concepções, princípios, fundamentos, objetivos e perfil do públicoalvo, bem como a organização dos processos de atendimentos pedagógicos e lúdicos, assim como infraestrutura, corpo docente e avaliação por entender que o AEE não é um serviço formatado e idealizado, pronto a ser aplicado, mas implica em uma concepção com base no processo de participação e colaboração recíproca entre todos os envolvidos, pois, nessa perspectiva, pode vir a contribuir para a construção da cultura educacional inclusiva. No âmbito educacional, a luta era a concretização da educação para todos, inclusive aos deficientes. A Constituição de 1988, em seu artigo 208, estabelece como dever do Estado garantir

“atendimento

educacional

especializado

aos

portadores

de

deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino” (Art. 208°, III, C.F,1988) porém, não deixa explícito nesse artigo mais informações a respeito desse atendimento. A preocupação pela inclusão de crianças, jovens e adultos na rede regular de ensino também foi palco de discussão na Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais, realizada entre 7 e 10 de junho de 1994, conhecida como Declaração de Salamanca. Essa conferência consiste em um conjunto de recomendações e propostas que lançam um novo olhar e pensar sobrea Educação Especial. Nela acredita-se e proclamam a educação como direito fundamental de cada criança, expõe também que cada aluno aprende e se desenvolve de maneira diferente e por isso o sistema deve respeitar essa diversidade nas escolas regulares. Tendo ciência dessas questões e colocando-as em prática é possível combater atitudes discriminatórias criando uma comunidade aberta, solidária e inclusiva que respeita as diferenças (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA,1994. p.2).

Deficiência, dependendo do que seja, pode comprometer a aprendizagem de um aluno,

colocando-o em desvantagem em relação aos outros. O Ministério da Educação / Secretaria de Educação Continuada, pela Diversidade e Inclusão, incluindo esta condição reconhecendo as lutas sociais desse público, presente na Política Nacional Educação Especial na Perspectiva Inclusiva TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Educação, como suporte para o ingresso e permanência de alunos com necessidades especiais nas

escolas regulares. Toda escola, seja privada ou pública, que recebem alunos para a modalidade de Educação especial, precisa se preparar devidamente para recebe-los, e um marco para esse acesso, é o PDI, Plano de Desenvolvimento Individual. O PDI é um documento obrigatório a todos os estudantes da Educação Especial, Ele deve ser elaborado no início de cada ano letivo e contar com a participação dos professores, dos pais e da equipe responsável pela gestão escolar, os documentos são trabalhados a partir da coleta de dados e avaliação prévia dos perfis dos discentes. O PDI é visto como um instrumento de acompanhamento da trajetória escolar do aluno com Deficiência, Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), Altas Habilidades/Superdotação na rede regular de ensino. O PDI, além de ser uma exigência legal para nortear a condução das ações e estratégias da instituição educacional na oferta de uma educação de qualidade ao aluno público alvo da educação especial, deve, principalmente, acolher e contemplar os anseios e necessidades do educando e

de

sua

família, contribuindo com o desenvolvimento e aprendizagem desse

público no espaço escolar. As escolas, ao organizarem o PDI, devem fazê-lo desde o início da vida escolar, para cada aluno com deficiência e condutas típicas, e atualizá-lo continuamente, em função de seu desenvolvimento e aprendizagem alcançados para que a sua ação educacional tenha um plano norteador e as informações Intercursos, Ituiutaba, v. 18, n. 2, Jul-Dez. 2019 – ISSN 2179-9059 205 sobre o aluno sejam discutidas e registradas sistematicamente. [...]. A organização do PDI vem criar para as escolas a oportunidade de ouvir o aluno, a família e, mediante parceria, outros profissionais que atuam com o aluno, também durante o processo avaliativo. [...]. (SEEMG, 2005, p. 5).

Nas normatizações vigentes, mantém-se a proposta do PDI para o acompanhamento e avaliação do aluno público alvo da educação especial matriculado na rede regular de ensino com o mesmo entendimento das legislações anteriores. No Parecer CEE nº 895/2013, tem-se: As necessidades educacionais dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades exigem que o projeto pedagógico da escola contemple desde a avaliação multidimensional do aluno, que deve subsidiar o Plano de Desenvolvimento Individual – PDI – até a adoção de medidas simples às mais complexas, [...]. (CEE, 2013, p. 2).

Na Resolução CEE nº 460/2013, no Art. 7º, diz que: Compete às instituições de ensino para oferta da educação especial: identificar e elaborar recursos pedagógicos, produzir e organizar serviços de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos; elaborar e aplicar o PDI, visando avaliar as condições e necessidades dos alunos; [...]. (CEE, 2013, p.2).

O PDI é amparado na Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13146/2015) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/1996). Ele visa orientar o atendimento de alunos com TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades. Por isso, torna-se uma ferramenta que contribui para garantir a acessibilidade na escola.

2.1. O Ensino Remoto para o público alvo da Educação Especial

A pandemia escancarou-se em nosso cotidiano, e com ela vimos a desigualdade se revelar de forma tão grande, na mídia ouvimos falar sobre os impactos econômicos, sanitários, mas pouco se falou sobre os impactos educacionais desse período que estamos ainda vivendo. Esses impactos que vão, desde alunos realmente sem ter acesso as aulas por falta de internet, celulares, tabletes ou até mesmo suporte familiar, até aqueles que não conseguem prestar atenção em aulas remotas que é o caso das alunas e alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento (TGD) e altas habilidades/superdotação. Em 2020 quando as escolas suspenderam as aulas presenciais, muitas tentaram traçar uma rota para se chegar a uma educação que alcançasse os seus alunos, uma pesquisa feita pelo CIEB que é o Centro de Inovação pra Educação no Brasil, revelou que 84% das secretarias municipais de educação já haviam se pronunciado sobre a suspensão das aulas, mas que 63% a grande maioria não sabia como ia proceder a partir de então. Quem tinha condição começou a mudança seja por vídeo ou enviar atividades por e-mail, plataformas etc. Entendemos que educação a distância, não é somente enviar os trabalhos por e-mail, ela tem todo um sistema metodológico que precisa ser trabalhado. Necessitamos do apoio da família, a família é peça chave nesse modelo de ensino. Mesmo com a pandemia o Direito à Educação deve ser garantido, porém, tendo como marco delineador o direito à saúde. Com efeito, a Constituição Federal estabelece no artigo 227: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL 1988, Art. 227)

Porém, essa parceria nem sempre acontece. Seja, por falta de interesse, condições financeiras ou até mesmo, porque o próprio responsável pelo aluno está em home office e não consegue dar o suporte necessário nesse momento. Diante disso, nesse momento a saúde falou mais alto. Principalmente quando se fala em aluno da Educação Especial. Pois, muitos têm a saúde frágil, e realmente, era necessário estar atento a esse fato.

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Aliás, especificamente em relação a este aluno com deficiência, a educação emancipatória, prevista constitucionalmente (CF. art. 205), foi mais bem traduzida no Plano Nacional de Educação (Aprovado pela Lei n. 13.005/2014), que na meta 04 estabeleceu a garantia de um sistema educacional inclusivo que contempla todas as ações a serem desenvolvidas para que os alunos com deficiência possam exercer o seu direito à educação (FERREIRA, 2020, p. 188), com os recursos necessários para tanto. Esse plano, de maneira exemplificativa, cita as salas de recursos multifuncionais e serviços especializados, a acessibilidade aos prédios, a oferta de educação bilíngue, tecnologia assistiva, apoio ao atendimento escolar integral e, também, o estímulo à participação das famílias. Assim, a garantia do direito à educação ao aluno com deficiência, mesmo em tempo de pandemia, deve ter como linha de atuação este sistema educacional inclusivo, ou seja, mesmo em casa, deve o aluno receber toda a assistência necessária para que possa se desenvolver educacionalmente. Pois, a socialização para esses alunos é fundamental para o desenvolvimento íntegro e pleno. O distanciamento ora vivenciado por conta da pandemia torna-se mais uma barreira para a inclusão das pessoas com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades. A escola caracteriza-se como um espaço importante para o convívio com as diferenças, e garante, assim, uma formação integral que envolve competências e habilidades relacionadas às dimensões do desenvolvimento intelectual, social, emocional, físico e cultural. A manutenção do vínculo afetivo e social do estudante com deficiência com o profissional da educação especial, professores da educação básica e colegas de sala de aula, é um fator importante a ser considerado durante este período de pandemia. Deve-se, dentro do possível, manter uma rotina regular. Para o estudante com deficiência estar afastado do contexto escolar pode gerar angústia, medo e insegurança, principalmente por não compreender a situação que passamos a vivenciar repentinamente. Assim, estabelecer contato com profissionais e professores, de forma online, pode ser muito importante para manter o vínculo social dos estudantes com deficiência e estabelecer um sentimento de pertencimento à um ambiente que fora frequentado presencialmente. Diante do que foi falado, percebe-se que teve uma brusca mudança na forma de ensinar, e esses alunos da Educação Especial, de certa forma foram o que mais sofreram com esses impactos. Atualmente, o retorno as aulas tem sido gradativo, em muitas cidades isso á é uma realidade mesmo que de forma hibrida. Devemos nesse primeiro momento manter um vínculo acolhedor. Ouvir os estudantes e suas famílias e acolhê-los, neste momento inicial no ambiente TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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escolar, será fundamental para traçar um planejamento pedagógico e um plano de ensino individualizado que garanta o atendimento de suas necessidades formativas, bem como o nivelamento e equidade de oportunidades de condições de acesso e permanência com qualidade em um sistema de ensino. Como a pandemia não acabou, mediadas de higiene e prevenção ao COVID 19 deve ser mantida, a conscientização e a compreensão dos estudantes com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades devem ser garantidas para que sua permanência no contexto escolar seja exitosa pós-pandemia. “O aluno com deficiência, dentro deste cenário de pandemia, deve receber uma atenção especial, em face das reações que poderão advir desta situação adversa. A título de exemplo, a forma de contaminação é mais evidente, pois o deficiente visual depende muitas vezes do tato; o deficiente cadeirante faz sua locomoção utilizando como apoio a roda da cadeira, que tem contato direto com o solo; o usuário de libras necessita de observar os lábios para facilitar a compreensão, e estes estarão tapados pelas máscaras; aquele que necessita de auxílio para o uso de sanitário, tem maior risco de contaminação. Enfim, há necessidade de um olhar mais atento para estes alunos, utilizando-se um conjunto de recursos e de apoios para a sua plena inclusão” (FERREIRA E FERREIRA, 2020, p.07)

Ressalta-se que a educação pós pandemia não será a mesma, pois ela trouxe mudanças significativas na forma de ensinar, ressaltamos que também devemos fortalecer todo o vínculo com esse aluno, e aos poucos esse aluno se sentirá num contexto educacional apropriado novamente. Crianças, adolescentes, jovens e estudantes de um modo geral passaram a estudar à distância, o que evidenciou mais ainda as fragilidades da educação brasileira quando nos deparamos com a realidade de que o acesso ao ensino remoto não contempla a todos, revelando uma intrínseca insuficiência. Esta lacuna é ainda maior quando pensamos na perspectiva da Educação Especial/Inclusiva e na garantia do direito à educação das pessoas com deficiência. Neste sentido, o Centro Municipal de Referência e Apoio a Educação Inclusiva Doutor Dilermando Dias Miranda (CRAEDI) a partir do dia 18 de março de 2020 iniciou o Atendimento Educacional Especializado (AEE) no formato remoto, tiveram que se ajustar a algumas mudanças, principalmente na forma de comunicação com os alunos e os familiares, uma vez por semana, foram postados vídeos produzidos pelos próprios professores ou atividades de cada oficina na Plataforma SMED/GV. Outro recurso utilizado pelos mesmos foram encontros virtuais através da plataforma Google Meet. Também, para cada oficina criouse um grupo no WhatsApp para melhor interação entre professor e estudantes. Nestes grupos foram postadas às dúvidas, as resoluções das atividades e recados. De acordo com a gestora do CRAEDI os vídeos foram produzidos pelos próprios professores AEE, onde cada um foi responsável por gravar e editar um vídeo semanalmente e TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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em caso de necessidade alguns professores foram selecionados para edição dos vídeos do colega que apresentou dificuldades com esta tecnologia. Juntamente ao vídeo produzido o professor também redigiu um roteiro explicativo contendo os objetivos propostos, material de apoio para impressão quando necessário (tabuleiro de jogo, atividade de registro, moldes ou outros) e o passo a passo para os pais/responsáveis utilizarem o material digital (vídeo). Os professores além alimentarem a plataforma SME GV estabeleceram contato por ligação telefônica/WhatsApp com a família e criança/estudante de sua turma para orientar, estimular o acesso à plataforma, sanar dúvidas e recolher informações sobre o desenvolvimento dos mesmos.

2.2 A Importância das Adaptações e Flexibilizações

A pandemia afetou fortemente a educação, pois muitos professores e alunos tinha um vínculo de se encontrar todos os dias na sala de aula, e de repente todos se conectaram somente através das mídias digitais. As adaptações foram acontecendo aos poucos, pois não era possível saber quanto tempo ficaria afastado do ensino presencial, e com isso foi se adaptando para organização dos estudantes e dos professores para trabalhar em ensino remoto, disponibilizando meios de plataformas online e aulas gravadas para os alunos acompanharem. “A legislação brasileira não permite que a educação infantil e o ensino fundamental sejam de forma EAD, porém diante da emergência que o mundo se encontrava com a pandemia do COVID-19 foi adotada algumas flexibilizações para que os estudantes desse prosseguimento as aulas’’ As adaptações realidade de acordo com o novo modo de atendimento, está sendo individual, pois antes era realizado em grupos, ainda existe um número pequeno de atendimento remoto, de acordo com a decisão de cada responsável pela criança. As novas adaptações precisaram de material EPI’s, matérias recicláveis, papel sulfite, que facilita para a higienização, não podendo ser utilizado tecidos, nenhum tipo de material que já foi usado, ou então usado com pasta plastificadora, álcool líquido e em gel em cada mesa, portas. E assim, a cada atendimento todo o espaço é higienizado e preparado para o próximo atendimento. Os contatos diretamente com a criança e adolescente, foram proibidos seguindo as regras do protocolo da saúde, máscaras e tela de acrílico são matérias indispensáveis nos atendimentos. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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3. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Com base na entrevista semiestruturada com a gestora do Centro Municipal de Referência e Apoio à Educação Inclusiva – CRAEDI, entende-se que a Educação Especial continuou oferecendo o AEE – Atendimento Educacional Especializado de forma remota através da plataforma da Secretaria Municipal de educação SMED/GV. Realizou ainda reuniões através de videoconferência com os professores das salas regulares orientando sobre o PDIE – Plano de Desenvolvimento Individual Escolar e adequações de materiais para alunos com deficiência. Durante esse período também foi oferecido através da plataforma curso básico sobre educação especial inclusiva. Mesmo com todos os desafios enfrentados os professores se reinventaram através de recursos e continuaram com todo esforço ensinando seus alunos, foi de extrema importância a continuidade das atividades remotas para as crianças e estudantes com deficiência. Para a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva as funções do AEE são “identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades específicas” (BRASIL, 2008, p.11).

Os planejamentos foram realizados com base no conhecimento das potencialidades e limitações dos estudantes e de suas deficiências. Buscando oferecer atividades lúdicas de fácil desenvolvimento para que a família não tivesse dificuldade em estar realizando as tarefas propostas junto aos seus filhos. No caso de altas habilidades os professores fizeram grupos de WhatsApp nos quais não só incentivavam a participação na plataforma, mas passavam as atividades, realizando também aulas e encontros através de vídeo chamadas. Os professores realizaram o planejamento de forma sucinta para que os pais conseguissem ajudar as crianças através das atividades que eles enviavam, e sempre muitos atenciosos para os alunos não ficarem prejudicados, mesmo de forma remota. (...) ressignificação da aprendizagem, colocando em evidência a construção da identidade, a conquista de autonomia, a melhora de convívio social do educando, as aprendizagens para enfrentamento do medo, a descoberta das limitações do ser humano, a expressão de seu estado de espírito, a interpretação e ação no mundo onde vive, a simulação de ações do cotidiano” (PPP CRAEDI, 2019, p.24).

O ensino remoto teve como apoio a comunicação através de ligações e WhatsApp, alguns professores elaboravam atividades e combinavam dia e horário para que o responsável viesse ao CRAEDI receber jogos e atividades impressas. No momento da entrega o professor explicava a forma de usar o material, e alguns professores ligavam e realizavam vídeo chamada para conversar e fazer alguma explicação, a criança no momento ficava feliz por ver o professor.

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Também tinham encontros que eram marcados no CRAEDI para os pais ou responsável buscar o material e então acontecia uma orientação. Os professores tiveram que se reinventar. Elaborar vídeo aula trazendo jogos e atividades práticas que desenvolvessem habilidades de forma prazerosa, as habilidades com informática, edição de vídeo, postura diante de câmeras, forma de abordagem e orientação das famílias e dos professores das escolas de forma remota através de vídeo chamada, criação de links de reunião, etc. Pode-se afirmar que o desafio tecnológico foi ainda maior para professores, estudantes e familiares. Foram muitas as aprendizagens, mas, a maior delas, foi perceber o quanto o contato e o vínculo com os alunos, familiares e escola é necessário para que o desenvolvimento do estudante aconteça. No início foi muito difícil principalmente para essa área da Educação Especial onde o educador precisa ter muito contato físico com a criança para ensinar, é preciso mostrar, pegar na mãozinha da criança e orientar para fazer junto, e desenvolver isso sem estar presente e estando somente a família foi desafiador. Para Garcia, Morais, Zaros & Rêgo (2020, p. 5) “ ensinar remotamente não é sinônimo de ensinar a distância, considerando esta última uma modalidade que tem uma concepção teórico-metodológica própria e é desenvolvida em um ambiente virtual de aprendizagem, com material didático-pedagógico específico e apoio de tutores. ” O CRAEDI, através de seus professores e pedagogos realizou várias reuniões de orientação aos professores das escolas sobre como adequar o material e atividades para alunos com deficiência. Além de orientar na confecção do PDIE. Para a realização da inclusão, é preciso garantir a aprendizagem e ensinamento, dos alunos na escola, fortalecendo a formação dos professores e criar uma boa rede de apoio entre alunos, docentes, gestores escolares, famílias e profissionais de saúde que atendem as crianças com necessidades especiais. A princípio não foi um período fácil, visto que no AEE o contato físico com as crianças/estudantes é muito necessário. Mas foi um período de grande aprendizado com muito estudo e pesquisa sobre como fazer o atendimento educacional especializado acontecer no ambiente familiar. Sabendo que de uma forma geral temos muito trabalho pela frente para recuperar as defasagens que foram adquiridas nesse período de isolamento, mas acreditamos que aos poucos tudo vai se ajeitando e teremos dias melhores pela frente. As adaptações das atividades a distância para a criança com deficiência, seja ela da educação infantil ou do ensino fundamental. As escolas tiveram de se adaptar, às pressas, para oferecer ensino remoto, mas a inclusão da criança com deficiência, planejar as aulas TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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considerando diversificar estratégias e flexibilizar atividades, de modo a incluir a criança com deficiência. Todo o processo precisa continuar para a melhoria delas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com estudo bibliográfico, análise do Projeto Político Pedagógico e entrevista com a gestora do Centro Municipal de Referência e Apoio à Educação Inclusiva de Governador Valadares (CRAEDI – GV), entendemos que no período de Pandemia da Covid-19 o ensino para as crianças e estudantes da Educação Especial foi desafiador, pois se deu de forma abrupta, sem aviso prévio, entretanto observamos o quanto foi importante para os professores essas novas adaptações e a falta do professor para o aluno em sala de aula no modo presencial. Com a realização deste trabalho podemos analisar que a existência de diferentes métodos de ensino é um dos principais desafios que os professores enfrentaram, para que os estudantes tivessem uma melhor assimilação do conhecimento. Os professores utilizaram as teorias conhecidas, com diversos métodos de aplicações e tiveram que se reinventar de maneira didática e objetiva. Os recursos tecnológicos se tornaram os melhores aliados como forma de transmitir as aulas e todo conhecimento. Considerando esses aspectos e os estudos apresentados, compreendemos que o ensino remoto para o público alvo da Educação Especial foi aplicado conforme a necessidade da criança e estudante, e que em algumas vezes, precisou ser adaptado para melhor desenvolvimento do mesmo. O impacto do novo Corona Vírus tem feito com que os educadores, pesquisadores e administradores da educação buscassem formas de atualizar o ensino, pois mesmo com todas dificuldades encontradas os professores se esforçaram para ensinar tudo mesmo de forma virtual. Entendemos que as dificuldades do ensino remoto para crianças e adolescentes com necessidades especiais foram muitas, mas hoje, temos a oportunidade de refletir e aprimoramos nossa conduta como profissionais da área da educação. Por tudo isso, podemos concluir que a Educação Especial é possível ser trabalhada mesmo com os obstáculos enfrentados, mas que sempre requer empenho por parte do educador para se alcançar evolução do educando.

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REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394. 1996. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf. Acesso em 12 de setembro 2021. ______. Política Nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília, MEC, 2008. _______. Decreto nº 6.571. Dispõe sobre o atendimento educacional especializado, Brasília, 2008. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Salamanca – Espanha, 1994. FERREIRA, Luiz Antônio Miguel e FERREIRA, Luiz Gustavo Fabris. A volta às aulas no novo normal. 2020. http://miguelferreira.com.br/2020/07/10/a-volta-as-aulas-no-novonormal/ GARCIA, T. C. M.; MORAIS, I. R.D.; ZAROS, L. G.; RÊGO, M. C. F. D. Ensino remoto emergencial: proposta de design para organização de aula [recurso eletrônico]. Natal: SEDIS/UFRN, 2020. 18p. GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua relação com a história da humanidade. Ampid (associação Nacional dos Membros do ministério Público de defesa dos Direitos dos idosos e Pessoas com Deficiência), 2015. Disponível http://www.ampid.org.br/ampid/Artigos/PD_Historia.php Acesso em 10 de outubro de 2021. LARAIA, Maria Ivone Fortunato. A pessoa com deficiência e o direito ao trabalho. Mestrado em Direito. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, 2009. MADUREIRA, Gilza Helena. (AANEE). São Paulo: Cengage Learning, 2015 OLIVEIRA, Adriele. Educa + Brasil – Educação. 2021 PARECER CEE/MG nº 895 de 2013. Consolida normas sobre a Educação Especial na Educação Básica, no Sistema Estadual de Ensino de Minas Gerais. PARECER CEE/MG nº 460 de 2013. Consolida normas sobre a Educação Especial na Educação Básica, no Sistema Estadual de Ensino de Minas Gerais. PPP – Projeto Político Pedagógico. Centro de Referência e Apoio à Educação Inclusiva Médica Zilda Arns – CRAEDI Governador Valadares - MG , 2019. Pesquisa analisa estratégias de ensino remoto de secretarias de educação durante a crise da COVID-19. CIEB, 2020 https://cieb.net.br/pesquisa-analisa-estrategias-de-ensino-remotode-secretarias-de-educacao-durante-a-crise-da-covid-19/

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RODRIGUES, David. LIMA-RODRIGUES, Luzia. Formação de professores e inclusão: como se reformam os reformadores. Curitiba. 2011. SILVA, Lídia Martins. Educação inclusiva e formação de professores. Cuiabá. 2009.

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PSICOM25OTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A IMPORTÂNCIA DA COORDENAÇÃO MOTORA FINA PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRAÇADO

Cinthia Aguilar Moreira, Izabel Cristina Dias, Juliana Schayder de Souza, Roberta Coleta Januário Rodrigues, Tâmara Alves Vargas, Thais Viana Gonçalves, Luiz Carlos Ribeiro dos Santos26, Sandra Maria Perpetuo27,

RESUMO Esse artigo resulta de um estudo que buscou conhecer como a psicomotricidade é trabalhada na educação infantil, com ênfase na contribuição da coordenação motora fina para o desenvolvimento do traçado. Teve-se com objeto de investigação a busca de resposta à questão: como são desenvolvidas as atividades que trabalham a coordenação motora fina na Educação Infantil em escolas particulares de Governador Valadares – MG? Para alcance dos resultados foi realizada uma revisão bibliográfica e estudo caso desenvolvido por meio de preenchimento do questionário na plataforma Google Formulários. O campo de pesquisa foi delimitado em oito escolas selecionadas, de cinco regiões da cidade: Norte, Leste, Oeste, Sul e central. Os resultados apontam que todas as escolas reconhecem a importância da psicomotricidade, em especial a coordenação fina, para promover a aprendizagem. O estudo mostra que a coordenação motora fina colabora com o desenvolvimento do traçado da criança e exerce influência em toda a sua vida escolar. Palavras-chave: Psicomotricidade. Coordenação Motora Fina. Educação Infantil.

1 INTRODUÇÃO

Segundo Fonseca (2011), a Psicomotricidade abrange três áreas do ser humano: físico, psíquico e emocional. O desenvolvimento psicomotor da criança se dá principalmente nos seus primeiros anos de vida, de 0 a 5 anos de idade, nessa fase o trabalho deve ser voltado para que a criança alcance a completude do domínio corporal. Assim como afirma Rossi (2012, p. 8), através de jogos e brincadeiras lúdicas os movimentos adquiridos pelas crianças trazem inúmeros benefícios, sendo algumas delas a autonomia, desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio e flexibilidade, reconhecimento dos objetos através dos sentidos, melhoramento da concentração, relações socioafetivas.

Acadêmicas do curso de Pedagogia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. Professor de graduação da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: luizsantos@unipac.br. 27 Professora de graduação do curso de Pedagogia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares 25 26

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A Psicomotricidade quando bem estimulada, contribui no processo de aprendizagem tendo um reflexo positivo na coordenação motora fina, como na escrita, leitura, nos traços e caligrafia. Observações feitas a partir do desempenho psicomotor da criança alegam as dificuldades de aprendizagem. Sendo assim, podem ser feitas as intervenções pedagógicas exatas diante dessas dificuldades. Algumas delas como: escrita espelhada, falta de distinção da esquerda e direita, pouca concentração, coordenação motora comprometida, dificuldades de leituras e transcrições de textos. A habilidade na coordenação motora fina proporciona uma melhor experiência para a criança no momento de atividades em folhas que envolvem o traçado. Ter dificuldades na escrita está correlacionado com dificuldades em abotoar ou em dar um laço nos sapatos, porque todas estas atividades motoras (praxias) exigem uma maturação neuromotora muito complexa, que precisa ser potencializada e enriquecida por meio dos padrões motores básicos. (CRATTY (1994) apud FONSECA (2011, p. 259) Na busca de promover uma reflexão sobre como as escolas particulares de Governador Valadares utilizam a psicomotricidade para o aprimoramento da coordenação motora fina na Educação Infantil, teve-se como hipóteses de que as crianças que tem contato com atividades psicomotoras na Educação Infantil desenvolvem melhor o traçado e a pintura de desenhos, garantindo resultados satisfatórias referente a coordenação motora fina, e que a psicomotricidade poderia ser usada apenas como um momento de recreação, de forma errônea. O artigo tem o objetivo de apresentar resultados de um estudo que investigou como são desenvolvidas as atividades que trabalham a coordenação motora fina na Educação Infantil em escolas particulares de Governador Valadares – MG. A pesquisa foi realizada através do preenchimento do questionário na plataforma Google Formulários, com o prazo de uma semana para o envio das respostas, onde oito escolas foram selecionadas, de cinco regiões da cidade (Norte, Leste, Oeste e Sul) contribuindo para análise de como são aplicadas as atividades que promovem o desenvolvimento da coordenação motora fina.

2 MÉTODOS

A pesquisa desenvolvida que resultou na produção desse artigo é de natureza básica. Segundo Appolinário (2011, p. 146), a pesquisa básica tem como objetivo principal “o avanço do conhecimento científico, sem nenhuma preocupação com a aplicabilidade imediata dos resultados a serem colhidos”. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Trata-se de um estudo de objetivo exploratório. De acordo com Mendeiros (2021, p.34), a pesquisa exploratória possibilita familiaridade com o problema, para permitir a construção de hipóteses. Em geral, esse tipo de pesquisa compreende: levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que vivenciaram o mesmo problema, análise de exemplos semelhantes. O estudo exploratório apoia-se sobretudo em revisões da literatura e restringe-se a trabalhos realizados com base em textos ou informações divulgados na literatura científica. Quanto à abordagem, trata-se de uma pesquisa qualitativa, em que, como afirmam Rodrigues e Limena (2006, p. 90), o pesquisador tenta descrever a complexidade de uma determinada hipótese, analisar a interação entre as variáveis e ainda interpretar os dados, fatos e teorias. Os procedimentos utilizados para a construção desse artigo envolvem a pesquisa bibliográfica, que para Appolinário (2011), restringe-se à análise de documentos e tem como objetivo a revisão de literatura de um dado tema, ou determinado contexto teórico. A leitura de artigos sobre os temas da Educação Infantil, a importância da psicomotricidade, o desenvolvimento da coordenação motora fina, foram analisadas com o intuito de agregar e servir de base para a análise desse artigo cientifico. Outro procedimento aplicado foi o estudo de caso das escolas particulares das regiões norte, sul, leste, oeste e central de Governador Valadares – MG, na Educação Infantil. Em relação às crianças da Educação Infantil, com um delineamento específico, o estudo de caso assim como afirmam os autores Ludke e André (1986, p. 17)

[...] é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio, singular. O interesse, portanto, incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente venham a ficar evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações. A escolha das escolas participantes da pesquisa foi feita conforme a localização geográfica da cidade de Governador Valadares – MG. Separado em cinco setores, sendo elas: setor 1 - central; setor 2 – leste; setor 3 – sul; setor 4 – oeste; setor 5 – norte. Selecionadas apenas as escolas particulares para responder como é trabalhado a psicomotricidade, em especial a coordenação motora fina das crianças da Educação Infantil, de zero a cinco anos de idade, os seus coordenadores pedagógicos foram abordados por meio de um questionário na TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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plataforma Google Formulários, este procedimento foi feito de modo online por conta da pandemia COVID-19.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Psicomotricidade é a área de estudo que envolve o psíquico, físico e emocional do ser humano, o desenvolvimento integral dessas três áreas. Alguns autores são referência quando se trata sobre a psicomotricidade. Entre eles, destaca-se: Wallon, Piaget e Ajurianguerra, que são autores europeus que aprofundaram o estudo voltado para o campo do desenvolvimento (FONSECA, 2011, p. 11). Como destacam Andrade e Barbosa (2017, p. 3), de modo lúdico que deve ser trabalhada a Psicomotricidade com as crianças. “Os recursos lúdicos, como a utilização de jogos e brincadeiras durante o processo de aprendizagem contribuem com a evolução motora da criança, pois as brincadeiras auxiliam no processo de construção de novas habilidades”. Os primeiros anos de vida da criança é um momento extremamente fundamental, onde há uma maior eficácia na educação integral das crianças, especialmente as crianças pequenas até por volta dos 5 anos de idade. Diante disso, todo o conjunto de expressões mentais e corporais com a função postural, e o psíquico que engloba toda a questão cognitiva é trabalhada e compreendida para o desenvolvimento motor. Esse estudo considera que a Psicomotricidade deve ter seu foco principalmente na Educação Infantil, onde as crianças estão no processo de desenvolvimento do corpo, dando os seus primeiros passos, pulos, aprendendo a brincar utilizando o seu corpo. O objetivo da Psicomotricidade é trabalhar a coordenação motora global e fina, esquema corporal, lateralidade e organização espaço-temporal. Sendo um momento primordial para o desenvolvimento da criança, na expressão, corporeidade, aspectos físicos e cognitivos. Constata-se que para além do desenvolvimento dos aspectos motores e afetivos, a psicomotricidade também trouxe benefícios para o enfretamento de problemas de ordem cognitiva, como afirmam Mantovani; Tavares (2020, p. 3): Quando surgiu a Psicomotricidade facilitou muito na aprendizagem, pois através dela era possível detectar nas crianças algum distúrbio na aprendizagem e também servia para tratá-las. Para os professores foi de grande melhoria no desenvolvimento das crianças.

Além de desenvolver os aspectos motores na criança, como correr, andar, pular, conseguir segurar objetos e manuseá-los corretamente, o estudo da psicomotricidade trouxe um TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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olhar mais apurado para detectar os possíveis distúrbios de aprendizagem, e utilizando do mesmo para tratá-las.

3.1 A importância da psicomotricidade na Educação Infantil A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica. Ao receber crianças de 0 a 5 anos, é preciso promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações (BNCC, 2017, p. 42-43).

No desenvolvimento natural do homem, o seu corpo é o que em primeiro lugar começa a desenvolver. Nesse sentido, conhecer e reconhecer seu corpo é a base sólida que se constrói a educação de 0 a 5 anos. O controle corporal, aprender a andar, falar, correr, se relacionar com o próximo, tudo isso faz parte da aprendizagem dos primeiros anos de vida de uma criança.

Wallon encara o desenvolvimento psicomotor como uma sequência cronogênica de diversas fases articuladas, revelando uma integração de funções, e não a sua simples adição segmentada ou empilhada, integração dita neurofuncional porque subentende uma reorganização prospectiva de conexões de redes preexistentes e distintas. (FONSECA, 2011, p.70)

Logo, para conseguir trabalhar corretamente, de modo cronológico e natural de acordo a sua evolução. É preciso que seja estimulado o desenvolvimento das partes do corpo, da consciência até o domínio corporal. A Psicomotricidade busca alcançar algumas metas, como: a aquisição do domínio corporal, definindo a lateralidade, a orientação espacial, desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio e a flexibilidade; controle da inibição voluntária, melhorando, o nível de abstração, concentração, reconhecimento dos objetos através dos sentidos (auditivo, visual, etc.), desenvolvimento socioafetivo, reforçando as atitudes de lealdade, companheirismo e solidariedade. (ROSSI, 2012, p. 8

É importante compreender que o trabalho da Psicomotricidade não é uma atividade exclusiva da escola ou dos centros psicopedagógicos. Ela tem fins educativos e por isso qualquer pessoa disposta e interessada em estudar e colocar em prática os conhecimentos adquiridos pode fazer. Os pais das crianças em suas casas podem oferecer a elas momentos de brincadeiras lúdicas que trabalham a coordenação motora da criança, atividades como de pintar, colorir e desenhar, por exemplo, vão desenvolver a coordenação motora fina. Usar este

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momento para estar junto dos filhos, momento de afetividade é importante para a integridade da educação. A maturidade fisiológica é um ponto primordial quando se fala sobre o desenvolvimento motor, além de ter os estímulos pelo meio que cerca a criança, é preciso entender que esse processo também ocorre de acordo com o tempo e maturação da criança. O desenvolvimento motor acontece de forma individual onde cada criança possui suas próprias percepções através de uma relação com imagem do corpo, sendo muito associada com o desenvolvimento das percepções do mundo em que vivem. Outra relação a ser associado, é com os objetos, fazendo assim a relação entre seu corpo e a de um objeto, ou seja, ao meio social que está acontecendo a maturação. (DE ARRUDA; SILVA, 2014, p. 2) A coordenação motora global trabalha movimentos amplos com todo o corpo e coloca grupos musculares diferentes ao mesmo tempo em ação, esta coordenação depende da capacidade de equilíbrio de cada pessoa que ocorre através dos movimentos que por sua vez vão se coordenando. A organização espacial ajuda a criança crescer de maneira independente, aquelas que não possuem uma boa organização espacial estarão sempre se machucando, batendo seu corpo em outras pessoas, em paredes e em corredores estreitos. A descoberta dos acontecimentos da vida, a lembrança do dia do passeio, do aniversário é captada na memória da criança e, trabalhando a organização temporal ela irá conseguir distribuir esses fatos em ano, meses, dias, horas e etc. Segundo Sisto, apud Macena, (2007), uma organização espaço-temporal inadequada pode provocar, por exemplo, um fracasso em matemática, pois as pessoas precisam ter noção de fileira, coluna, agrupamento de espaço. Podem cometer erros no cálculo escrito, não percebendo a ordem das palavras, não conseguindo dispor os números em fileiras retas e misturados os números. Outro aspecto impo importante no desenvolvimento motor para garantir o domínio corporal é a lateralidade. Conhecendo seu corpo no dia a dia as crianças aprendem sobre a bilateralidade, direita e esquerda. Sendo assim, entender a importância do brincar, da consciência corporal, da lateralidade, equilíbrio, ritmo, noção de espaço, melhoram o movimento do corpo, estimulam a imaginação e a criatividade, fatores determinantes para garantir a excelência no aprendizado e no desenvolvimento das crianças.

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É verdadeiro afirmar que uma pessoa que se desenvolve sem uma organização em seus segmentos corporais afinada, a cada movimento que lhe é exigido possui um gasto energético muito maior que outra pessoa que possui uma organização corporal mais afinada. (DE ARRUDA; SILVA, 2014, p. 4)

Logo, o desenvolvimento psicomotor pode variar de uma criança para outra no quesito idade. Analisando o desenvolvimento psicomotor criado por Piaget (1945) apud Fonseca (2011), existem etapas que correspondem a um grupo da faixa etária. A distorção de crianças com a mesma idade deve ser pequena, pois algumas podem ter recebido mais estímulos para determinadas atividades que trabalhem áreas especificas do que as outras. Porém, uma distorção grande do desenvolvimento psicomotor deve haver uma intervenção.

3.2 A coordenação motora fina

A coordenação motora é dividida em dois pontos: global (macromotricidade) e fina (micromotricidade). Engloba os movimentos realizados pelos maiores músculos, envolvendo todo o corpo para alcançar êxito no desenvolvimento corporal; utiliza-se dos músculos menores do corpo, como a mão e a face; respectivamente.

A motricidade global e fina (fine and gross motor skill): embora sendo difícil estabelecer classificações rígidas, a motricidade global (e não a motricidade grosseira, porque todos os movimentos globais ou finos começam por ser inicialmente grosseiros para, progressivamente, passarem a ser cada vez mais regulados e controlados) refere-se à realização de tarefas motoras que envolvem essencialmente os grandes músculos do tronco e dos membros inferiores, chamando-se também macromotricidade, enquanto a motricidade fina se refere à realização de tarefas motoras que envolvem os pequenos músculos da mão e dos dedos e também é chamada micromotricidade. (FONSECA, 1999 apud FONSECA 2011, p. 258)

O desenvolvimento psicomotor reflete em diversas áreas se for bem trabalhado. No caso da coordenação motora fina, ela é responsável pelo domínio principalmente das mãos, é necessária para conseguir realizar diversas tarefas como escrever, segurar os talheres sem deixar cair comida, segurar e pegar objetos, amarrar cadarço, movimentos de pinça, entre outras ações tão importantes. Na Educação Infantil, o primeiro contato da criança com a escola, é proposto o progresso das habilidades manuais, intelectuais e sociais. Em vista dos conceitos gerais e habilidades que a Base Nacional Comum Curricular indica para o desenvolvimento pleno da criança, é de extrema importância conduzi-la à autonomia, tendo como principais pontos: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se (BNCC, 2017, p. 38).

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Os primeiros rabiscos, desenhos e tentativas de escritas mostram que a criança já consegue ser capaz de segurar e guiar o lápis. A psicomotricidade deve trabalhar e ter a atenção voltada para orientar e melhorar esses movimentos, sendo assim contribuindo com o processo aprendizagem. A visão focal e cônica mais envolvida na micromotricidade, encontra-se mais centrada em situações de desempenho de praxia fina, ou seja, de magnificação do espaço próximo para guiar movimentos mais delicados e sutis da mão e dos dedos. (FONSECA, 2011, p. 268)

A coordenação motora fina pode ser trabalhada com brincadeiras e atividades, como o desenhar, colorir, pintar, brincar de massinha, pecinhas de encaixe, agarrar objetos, recorte com a tesoura, rasgado e colagem. Todas essas brincadeiras e atividades devem ser monitoradas pelo educador que está aplicando e, interferências precisam serem feitas caso aconteça um manuseio inadequado dos objetos. Afinal de contas, este é o processo da educação, corrigir e guiar a criança para o melhor que ela pode ser. A educabilidade motora (motor educability): refere-se à capacidade potencial para aprender a aprender mútiplas tarefas motoras, reforçando a presença de um fator geral de coordenação motora. (FONSECA, 2011, p.258)

O domínio adquirido com o exercício focado na coordenação motora fina faz com que as crianças aprimorem a condução dos movimentos das mãos e face. Guiar um lápis se torna mais fácil quando a micromotricidade foi bem refinada, os desenhos tomam formas, as letras ficam legíveis, conseguem respeitar a margem da folha, a força aplicada no lápis é menor e se utiliza mais da destreza em direcionar o lápis, autonomia na hora de se alimentar conseguindo levar o talher até a boca sem derramar, a atenção é mais focada na hora de realizar as atividades, isso por conta do controle psíquico, visual e manual que acontecem em conjunto. À exemplos de crianças que estudam em uma boa escola, com profissionais capacitados e que se importam com o desenvolvimento integral delas, eles aperfeiçoam bem a psicomotricidade, concentrando a atenção na aprendizagem e analisando se elas estão obtendo resultados. Já em uma escola onde os profissionais não priorizam a psicomotricidade como ferramenta fundamental da Educação Infantil e focam apenas em atividades de alfabetização e livros didáticos, querendo antecipar esse processo, não se tem sucesso, pois a coordenação motora fina e as demais áreas da psicomotricidade não foram priorizadas.

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3.3 Coordenação motora fina na Educação Infantil nas escolas particulares de Governador Valadares – MG A pesquisa foi encaminhada para oito escolas particulares de Governador Valadares – MG, apenas metade delas responderam o questionário. As outras não deram retorno da pesquisa respondida.

Regiões

Escolas selecionadas Escola A

Central

Escola B Não respondeu a pesquisa

Norte

Não respondeu a pesquisa

Sul

Escola C

Leste

Escola D Não respondeu a pesquisa

Oeste

Não respondeu a pesquisa

Referente a importância da psicomotricidade na Ed. Infantil todos os coordenadores pedagógicos das escolas que participaram da pesquisa compreendem o papel dela no processo educativo da criança. O trabalho realizado com o esquema corporal, tem foco no desenvolvimento cognitivo, atenção, memória, imitação. E sem trabalhar a psicomotricidade nessa fase pode desencadear dificuldades de aprendizagem. (FONSECA, 2011, p. 294). As escolas das regiões sul e leste não tem o profissional educacional exclusivo para a aplicação das atividades de Psicomotricidade. Já as escolas da região central podem contar com o apoio do profissional exclusivo para aplicação das atividades. Três escolas possuem horários pré-definidos para a aplicação das atividades de Psicomotricidade, sendo três ou mais vezes durante a semana. Apenas uma escola respondeu que não existe horário pré-definido para a mesma. Para auxiliar no processo de domínio da coordenação motora fina das crianças a escola C respondeu que utiliza de muitos jogos e materiais diferenciados para cada faixa etária. Escola A destacou o uso de jornais, tesouras e amassar papéis. Escola D relatou o uso de tesoura, colagem, massinha, uso de tubinhos e pinturas. Escola B utiliza diversos materiais destacando os jogos de encaixe e montagem, como quebra-cabeça e lego, contato com materiais que possibilitem abotoar, fazer dobraduras, nós simples e laços; desenho livre com giz, desenhos nas paredes com pincel e água. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Todas as escolas questionadas fazem atividades ou brincadeiras específicas para o desenvolvimento da coordenação motora fina. A avaliação do desenvolvimento psicomotor durante o ano escolar é realizada de forma especial em cada escola. A escola C avalia através de fichas distribuídas durante o ano e é analisada se o aluno está conseguindo dominá-la, já a escola A avalia diariamente através de observações sendo elas trimestralmente, a escola D leva em conta os progressos e as dificuldades, e a escola B avalia o desempenho dos alunos de acordo com a BNCC, através de textos descritivos. As crianças que possuem a coordenação motora fina mais apurada conseguem segurar no lápis corretamente, fazer desenhos mais detalhados, coloridos dentro do espaço limitado, de acordo com as escolas. A intervenção para o progresso de uma criança que possui mais dificuldades em relação a coordenação motora fina (pega do lápis, desenhos, coloridos, pintura, movimentos de pinça e etc.), todas as escolas fazem um trabalho especifico daquela habilidade que precisa ser melhorada ou adquirida. A escola C utiliza de jogos e atividades. A escola A intensifica o trabalho individualmente com recursos variados, e pode encaminhar para um especialista caso seja necessário. A escola D utiliza-se de brincadeiras com massinha de modelar, argila, rasgados de papel, colagem com grãos e também alguns brinquedos de encaixes. A escola B trabalha com atividades especificas para a dificuldade individual. Ao perguntar se é possível ver diferença de desenvolvimento entre as crianças que possuem maior domínio corporal, a exemplo nos desenhos, letras, traçados, pintura, colagem, todas as escolas unanimemente responderam que sim, que é possível ver o contraste no processo de aquisição do domínio corporal de cada criança. Consequentemente a escola que não prioriza o domínio corporal da criança, neste caso o aspecto motor fino, a habilidade manual fica debilitada e, em decorrência disso o processo de alfabetização ficará mais árduo para elas. Observações podem ser feitas que, quando existe um domínio das habilidades motoras finas a caligrafia é mais legível, consegue escrever dentro do espaço permitido, os desenhos são mais detalhados. E também a obtenção da distinção entre direita e esquerda, que é realizada pelo conceito de lateralidade, estabelece na criança a direção de leitura e diminui o erro de letras espelhadas. A investigação comparada entre crianças normais e crianças com dificuldades de aprendizagem ilustra igualmente esta discrepância entre os dois tipos de praxia. Enquanto a praxia global aproxima os desempenhos dos dois grupos na corrida de agilidade, no equilíbrio e nos saltos, os desempenhos em relação à praxia fina, na coordenação oculomanual, na distribuição de cartas, nas provas de precisão e de velocidade grafomotora demonstram superioridade óbvia nas crianças com rendimento

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escolar normal. (FONSECA, 2011, p.267 apud DENCKLA, 1985; FONSECA et al., 1994, 1999b)

Portanto, a apuração da Psicomotricidade reflete diretamente no aprendizado educacional presente e futuro da criança. Além de conseguir guiar a criança para à autonomia, a Psicomotricidade é imprescindível na educação integral, pois ela fomenta uma base firme de conhecimentos primordiais. Com isso, os profissionais das escolas devem ser formados e capacitados para garantir o pleno desenvolvimento da criança, uma educação de qualidade e resultados satisfatórios.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desse estudo desenvolvido foi possível perceber que todas as escolas que participaram da pesquisa reconhecem a importância do desenvolvimento da coordenação motora fina no processo de aprendizagem da criança. Entretanto, as escolas investigadas não seguem o mesmo método de aplicação das atividades psicomotoras. Constatou-se que os recursos utilizados pelas escolas são diferentes. Porém, todas tem o mesmo intuito de desenvolver a coordenação motora geral, desde a praxia global à fina. De acordo com cada realidade, algumas escolas investiram em profissionais específicos para trabalhar a psicomotricidade, em outras é a própria professora regente da turma de Educação Infantil que aplica as atividades, jogos e momentos. O estudo mostra que as crianças que tem contato com as atividades psicomotoras na Educação Infantil desenvolvem melhor o traçado e a pintura de desenhos. Os coordenadores pedagógicos que participaram da pesquisa destacam que há um melhor desempenho no traçado das crianças quando a coordenação motora fina é bem trabalhada, o que contribui na aprendizagem e fortalece os pré-requisitos da alfabetização. Evidenciou-se que as escolas entendem o papel fundamental da psicomotricidade para as crianças pequenas e, portanto, não utilizam apenas como um momento de recreação, mas sim para a evolução do processo de domínio corporal, principalmente a coordenação motora fina na qual foi abordada com mais ênfase. Destacou-se nos resultados da pesquisa os procedimentos de avaliação e intervenção individual realizada pelas escolas com as crianças. Por meio da avaliação são observadas as dificuldades particulares de cada criança, possibilitando melhores resultados diante do processo de desenvolvimento do traçado.

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Em vista de garantir melhor aproveitamento na aprendizagem, o trabalho investido na coordenação motora fina colabora com o desenvolvimento do traçado da criança e em toda a sua vida escolar, dando-lhe autonomia e firmeza para adquirir um bom desempenho na sua formação integral. REFERÊNCIAS

ANDRADE, Ana Sthephane; BARBOSA, Carla. A Importância Do Estímulo Ao Desenvolvimento Da Coordenação Motora Global E Fina. Universidade Estadual de Goiás, v. 13, 2017. APPOLINÁRIO, Fabio. Dicionário de Metodologia Científica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 146. BARBOSA-LIMA, Maria da Conceição; CARVALHO, AMP de. O desenho infantil como instrumento de avaliação da construção do conhecimento físico. REEC, v. 7, n. 2, p. 337348, 2008. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. p. 38, 42, 43. DE ARRUDA, Kleiton Marcelo Ferreira; SILVA, Eduardo Adrião Araujo. Desenvolvimento Motor na Educação Infantil através da ludicidade. Connection Line-Revista Eletrônica Do Univag, n. 4, 2014. FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: ArtMed, 2011. ISBN 9788536314020. FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade: uma visão pessoal. Constr. psicopedag., São Paulo, v. 18, n. 17, p. 42-52, dez. 2010. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141569542010000200004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 09 set. 2021. LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1986. p. 17. MACENA, Gabriel Ricci. (2007). A Intervenção do Profissional de Educação Física para o Desenvolvimento das Habiliadades Motoras em Crianças de 06 a 07 Anos. 2007. 51 f. Dissertação (Graduação) - Curso de Educação Fisica, Departamento de Gpa - Saùde, Univag Centro Universitario, Varzea Grande – Mt. MANTOVANI, Laura Henrique; TAVARES, Luciane Madeira Motta. A psicomotricidade na educação infantil. 2020. MEDEIROS, Bosco J. Redação de Artigos Científicos. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2021. p. 34, 35.

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RODRIGUES, Maria Lucia; LIMENA, Maria Margarida Cavalcanti (Orgs.). Metodologias multidimensionais em Ciências Humanas. Brasília: Líber Livros Editora, 2006. p. 90. ROSSI, Francieli Santos. Considerações sobre a psicomotricidade na educação infantil. Revista Vozes dos Vales da UFVJM, v. 1, n. 1, p. 1-18, 2012.

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O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NO ENSINO REMOTO NA REDE PRIVADA DE GOVERNADOR VALADARES DURANTE A PANDEMIA Dayanne Neves Magalhães, Karolynne Campbell Santos, Lorena de Oliveira Matos, Maria Cecília de Oliveira Pessoa, Samyla Portes Silva, Thaelen Eduarda Almeida Martins28, Sandra Maria Perpétuo29, Úrsula Bianca Ribeiro Herzog30.

RESUMO Este artigo resulta de um estudo acerca do processo de alfabetização no modo de ensino remoto nas escolas privadas de Governador Valadares, Minas Gerais, no período de pandemia da Covid-19. Teve-se como objetivo central investigar as estratégias utilizadas pelos professores do primeiro ano do ensino fundamental para promover a alfabetização no ensino remoto. Como objeto de investigação buscou-se identificar as tecnologias utilizadas no ensino remoto durante a pandemia e apontar as adaptações adotadas pelos professores para minimizar o impacto da pandemia durante o ensino remoto. Trata-se de um estudo quanti-qualitativo, elaborado por meio de uma revisão bibliográfica e uma pesquisa de campo. Para a coleta de informações utilizou-se um questionário, através da ferramenta on-line, Google Formulários. Nos resultados foi traçado um perfil de 20 professores participantes, bem como os desafios vividos no ensino remoto e as estratégias utilizadas por eles no processo de alfabetização. Com base no que foi apresentado, apesar das dificuldades impostas, os professores precisaram buscar formas eficazes de alfabetização no ensino remoto para que os educandos tivessem o menor prejuízo possível na sua caminhada escolar. Dessa forma, é de suma importância o uso da didática, assim como a utilização da tecnologia de forma correta, para que esta possa atuar como aliada no processo de ensino-aprendizagem, possibilitando assim, uma educação de qualidade. Palavras-chave: Alfabetização. Ensino Remoto. Pandemia. COVID-19. 1 INTRODUÇÃO O dia 11 de março de 2020 se tornou um marco histórico por ser o dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a disseminação comunitária da COVID 19 em todos os continentes a caracterizou como pandemia. Apesar de terem sido tomadas ações de contenção, como isolamento e tratamento dos casos identificados, testes massivos e distanciamento social, em 22 de março de 2020 foi decretada a suspensão, por tempo indeterminado, das atividades presenciais de educação escolar básica em todas as unidades da rede de ensino do estado de Minas Gerais, conforme determinou a deliberação COVID 19 n° 18 de 22 de março de 2020.

Acadêmicas do curso de Pedagogia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares Professora de graduação do curso de Pedagogia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: sandraperpetuo@unipac.br. 30 Professora de graduação do curso de Pedagogia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: ursulaherzog@unipac.br 28 29

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É irrefutável que a pandemia da COVID 19 trouxe inúmeras mudanças não só no cotidiano das pessoas, como também no mercado de trabalho. Um dos setores mais afetados foi o educacional, de modo que as atividades pedagógicas presenciais foram suspensas e os órgãos reguladores nacionais indicaram a continuidade do semestre letivo, por meio de atividades remotas. Nesse contexto, as mudanças no sistema educacional tiveram que ser realizadas rapidamente, os professores precisaram se adaptar à transposição de conteúdos de suas aulas presenciais para plataformas on-line com o emprego das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC). Contudo, essa mudança ocorreu sem preparação, ou com preparação superficial, também em caráter emergencial. Cabe destacar que a incorporação das TDIC nas instituições escolares ainda é um entrave na realidade nacional; problemas de infraestrutura e de formação docente deficitária são variáveis importantes que interferem diretamente em uma utilização crítica, intencional e produtiva das tecnologias (BRAGA, 2018; THADEI, 2018). Este artigo tem a finalidade de apresentar os resultados de uma pesquisa de campo, desenvolvida no contexto dos anos iniciais do Ensino Fundamental, com vistas à aprendizagem de alunos em processo de alfabetização da língua materna. Sendo que a questão norteadora da pesquisa esteve focada nas estratégias de ensino adotadas pelos professores dos anos iniciais, na turma do primeiro ano do ensino fundamental, para alfabetizar no modo remoto. De acordo com Soares (2007) a alfabetização, com efeito, é compreendida como o processo de apropriação do sistema de escrita de uma língua, e especificamente no contexto da pandemia, alunos e professores alfabetizadores foram obrigados a interromper esse processo de alfabetizar de forma presencial e por meio do contato físico. Este trabalho tem a finalidade de apurar os efeitos desencadeados pela adoção do ensino remoto, com o propósito de investigar as tecnologias empregadas nesse modelo de ensino durante a pandemia e as práticas que surtiram mais resultados satisfatórios no processo de alfabetização. Os aportes teóricos para as reflexões surgiram a partir do conceito de ensino remoto formulado por Hodges et al (2020), de mudança rápida dos processos de ensino e aprendizagem presenciais para modelos alternativos, tecnologicamente mediados. Sob essa perspectiva, este estudo poderá contribuir para apresentar as estratégias de ensino utilizadas pelos professores do primeiro ano do ensino fundamental da rede privada de Governador Valadares, que visaram garantir a alfabetização à distância.

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2 MÉTODOS A proposta metodológica empregada neste trabalho tem abordagem quanti-qualitativa. Em relação à natureza, classifica-se como uma pesquisa básica, por proporcionar maior familiaridade com o problema da alfabetização no ensino remoto. Em relação aos objetivos, constitui-se como uma pesquisa exploratória. E, em relação aos procedimentos, configura-se como uma pesquisa de campo, efetivamente apoiada em uma revisão bibliográfica. Segundo Richardson (1989) apud Coelho (2019), um estudo quantitativo é caracterizado pelo emprego na quantificação na coleta de informações e em seu tratamento através de técnicas estatísticas, números, garantindo a precisão exata e enumerada dos trabalhos realizados e reduzindo as chances de distorções dos resultados obtidos. Já um estudo qualitativo, de acordo com Denzin e Lincoln (2006), está associado a uma abordagem interpretativa do mundo, isso implica que os pesquisadores devem examinar o seu objeto de investigação em conexão com seus cenários naturais e interpretativos, com o objetivo de compreender os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. 2.1 Procedimentos para revisão bibliográfica No primeiro momento foi feita uma pesquisa através do “Google Acadêmico” – uma ferramenta de pesquisa do Google que permite pesquisar em trabalhos acadêmicos, literatura escolar, jornais de universidades e artigos variados. Utilizaram-se critérios de busca por temas: “Alfabetização”, “Alfabetização no ensino remoto” e “Desafios da alfabetização na pandemia”, com limitação de pesquisa dos artigos de até 15 anos atrás (de 2006 até 2021). O segundo critério foi selecionar apenas artigos publicados em Congressos e Periódicos. O terceiro critério foi realizado por “títulos” que se identificavam mais com a pesquisa em questão. A triagem foi feita por “resumo” e pela leitura dinâmica dos artigos selecionados. Por fim, utilizaram-se livros de autores renomados, que são pilares na alfabetização. 2.2 Procedimentos para pesquisa de campo Por este estudo se dedicar a investigar as estratégias implementadas para promover a alfabetização no modo remoto, na rede privada, os sujeitos dessa pesquisa constituíram uma amostragem de vinte (20) professores que atuam no primeiro ano do ensino fundamental, na

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rede privada de ensino, atuantes em dez (10) escolas que atendem ao ensino básico em Governador Valadares, Minas Gerais. Atualmente, na cidade em questão, há 34 escolas que atendem ao ensino básico. Para tanto, como critério de seleção foi utilizado o fator geográfico, sendo distribuído à luz da região de cada integrante desta pesquisa, chegando ao número final de dez (10) escolas. Pressupôs-se necessário dar voz aos professores que estavam à frente desse processo, e, a fim de explicitar algumas questões, o instrumento utilizado foi um questionário on-line no formato de uma entrevista semiestruturada, devido aos cuidados com o protocolo sanitário nas escolas. O questionário foi elaborado utilizando o aplicativo Google Forms, e foi aplicado online, sendo disponibilizado no e-mail de cada participante em outubro de 2021; por meio deste recurso foi possível realizar a coleta de dados. Ademais, segundo Mota (2019), essa ferramenta digital possibilita atender à prática acadêmica e também serve para fins pedagógicos. O professor participante dessa pesquisa devia ser obrigatoriamente professor do primeiro ano do ensino fundamental e estar lecionando na rede privada de ensino básico na cidade de Governador Valadares, Minas Gerais, assim sendo os e-mails disparados com os links foram exclusivamente e somente para estes professores. O instrumento é constituído por quinze perguntas distribuídas em cinco focos: Perfil do entrevistado; O início da alfabetização no ensino remoto; As estratégias utilizadas no ensino remoto; As dificuldades encontradas durante o ensino remoto e Medidas / estratégias adotadas para a promoção da aprendizagem no ensino remoto. O questionário foi dividido em três partes, que são: •

Boas-vindas: Deixava o participante ciente de que tipo de pesquisa iria participar, além de informar ao participante qual a finalidade e do que se tratava a mesma, antes que de fato começasse a responder as perguntas.

Perfil: Identificava o perfil dos participantes (descrição opcional), sexo, nível de escolaridade e por fim, há quanto tempo atua na docência, mais especificamente na alfabetização.

Investigação: Composta por 3 questões obrigatórias de múltipla escolha, 9 discursivas obrigatórias, e 4 discursivas não obrigatórias. Procurou-se investigar como tem sido para os participantes ministrar as aulas de alfabetização remotamente durante o período pandêmico da COVID-19 nas 10 escolas selecionadas da rede privada da cidade de Governador Valadares, Minas Gerais. As perguntas versavam sobre a ministração das aulas como um todo, como o uso de tecnologias antes e depois da pandemia, assim como

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as estratégicas, metodologias didáticas, adaptação de materiais e formas de avaliação no ensino remoto. Foram abordadas, também, as dificuldades dos docentes, além de questionar sobre a frequência dos alunos e a reação dos mesmos frente a esse novo sistema de ensino. Traçando dois eixos temáticos das perguntas realizadas na parte três (Investigação) do questionário, o primeiro abrangia 3 questões de múltipla escolha, claras e objetivas, tendo como opção de resposta apenas sim ou não, que abordavam sobre utilização de recursos digitais, a comunicação entre alunos e professores e a frequência dos discentes. Já o segundo eixo, contendo 9 questões discursivas obrigatórias e 4 não obrigatórias, abordava assuntos que indagavam a opinião dos docentes, assuntos acerca da alfabetização dos alunos no modelo do ensino remoto, assim como seus desafios. Tendo em vista a análise da reação dos professores em relação à alfabetização no modo remoto, optou-se por uma abordagem que privilegie aspectos linguístico-discursivos, fundamentando-se nos aportes teóricos de abordagens discursivas (HENKEL, 2017). Depois que a entrevista foi realizada, as informações coletadas foram analisadas pelas autoras da pesquisa e confrontadas com a realidade investigada com a literatura estudada. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Esta seção visa detalhar e organizar os dados coletados, permitindo responder ao objetivo proposto no início do trabalho. A princípio, serão apresentados os resultados obtidos por meio do questionário aplicado aos vinte docentes, atuantes no 1º ano do Ensino Fundamental e, em sequência, serão expostas as considerações obtidas. Para uma disposição mais favorável dos questionamentos dirigidos aos entrevistados, esta seção foi subdividida. 3.1 Perfil do entrevistado Com o objetivo de conhecer melhor os participantes da pesquisa e traçar um perfil deles, foram elaboradas três perguntas iniciais sobre sexo dos professores, nível de escolaridade e o tempo de atuação na alfabetização. Na literatura é possível perceber que, vários autores vêm se dedicando a analisar o perfil do professor da educação básica no Brasil (GATTI; BARRETO, 2009; OLIVEIRA 2004). Ou seja, essas são análises importantes para se entender a realidade desses profissionais e que isso corresponde às preconcepções sobre as quais se constroem as políticas educacionais.

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Gatti e Barretto (2009) destacam a predominância das mulheres como profissionais da educação. Segundo estudo exploratório realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Brasil. Inep, 2009), no cômputo geral, a maioria dos professores em regência são mulheres, contudo, vale ressaltar que, a predominância marcadamente feminina se dá no ensino infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Ademais, em seu livro, a autora Carvalho (2018), relata que, após análise dos dados coletado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 2009, 2013 e 2017 pode-se chegar à conclusão de que o corpo docente na educação infantil é majoritariamente feminino, compondo 81% do total de professores nessa área. O gráfico 1 mostra a distribuição dos professores por sexo. Observa-se que os dados obtidos na pesquisa em questão reafirmam as informações levantadas pelos autores analisados, que apontam a predominância das mulheres na educação básica. Sendo assim, observa-se que o presente questionário resultou em um público 100% feminino. Gráfico 1 – Gênero dos entrevistados

Fonte: Elaborado pelos autores

Atualmente, as pressões para uma mudança no perfil de formação dos educadores têm sido cada vez maiores. Tal fato pode ser notado tanto pelas exigências legais estabelecidas, quanto por propostas de carreira, ao associarem remuneração com melhor formação. Um estudo realizado por Souza e Gouveia (2011) mostra que o percentual de professores com formação até o nível médio se reduziu ao longo da década 1997-2007, enquanto professores com nível superior demostraram índices de crescimento.

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Considerando as novas exigências no campo educacional, a formação continuada dos professores é aspecto importante e essa formação também tem apresentado números crescentes. Para os docentes com nível superior concluído, a respeito de titulações de pós-graduação, notase que há um crescimento gradual desse índice, apresentando efeitos positivos (GATTI; BARRETTO, 2009). O gráfico 2 apresenta os professores computados segundo seu nível de escolaridade. Ao serem questionados sobre isso, houve majoritariamente um grupo de pessoas com pósgraduação completo, totalizando 55%. Ademais, 25% cursam pós-graduação, e outros 20% possuem somente ensino superior completo. Esses dados coletados na pesquisa ratificam as informações encontradas na literatura sobre a redução do número de docentes com formação até o nível médio e a expansão nos índices de professores pós-graduados.

Gráfico 2 – Nível de escolaridade dos entrevistados

Fonte: Elaborado pelos autores

O gráfico 3 mostra o tempo de atuação na alfabetização dos respectivos interrogados. Essa atuação ocorre com maior frequência no que se refere a 0 a 9 anos de docência (60%), e mostra tendência decrescente ao longo do tempo. O espaço de atuação entre 10 e 19 anos na alfabetização conta com um percentual de 25% e de 20 a 29 anos somam 10% dos vinte entrevistados. O percentual de professores com tempo de docência acima de 30 anos é quase desprezível, contando com apenas 5%, ou seja, os percentuais vêm se reduzindo à medida que o tempo de atuação na área aumenta, demostrando ser um dado inversamente proporcional.

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Gráfico 3 – Tempo atuação na docência, mais especificamente na alfabetização

Fonte: Elaborado pelos autores

3.2 O início da alfabetização no ensino remoto Nesta seção, serão expostos os resultados obtidos na segunda parte do questionário, onde os professores responderam questões sobre como tem sido ministrar as aulas remotamente, incluindo questões sobre a utilização de recursos digitais, plataformas de ensino e a comunicação entre os professores e os alunos e a reação destes últimos frente à esse novo sistema de ensino adotado. Este cenário de período pandêmico tem sido um desafio para todos, afinal, os professores se viram pressionados a migrarem para o ensino on-line, transferindo e transpondo metodologias e práticas pedagógicas típicas dos espaços de aprendizagem presenciais, naquilo que tem sido designado pelos estudiosos do assunto como ensino remoto de emergência (MOREIRA, HENRIQUES E BARROS, 2020 apud VIEIRA e SILVA, 2020). No estudo em questão, a maioria dos participantes responderam que não utilizavam os recursos digitais em sua prática pedagógica antes da implementação do ensino remoto devido à pandemia, totalizando 60%, os outros 40% já utilizavam da internet para alfabetizar. Isso é importante destacar, pois esses profissionais que tinham habilidades com esses recursos digitais exibiram maior flexibilidade para lidar com o desafio. Os entrevistados relataram que foram utilizadas diversas formas de aplicativos para as aulas. As redes sociais também contribuíram grandemente para que houvesse comunicação, os TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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educadores utilizaram de todos os recursos cabíveis para garantir o aprendizado dos alunos que participaram de todos os meios e recursos disponibilizados. Pela análise da pesquisa os recursos mais utilizados para ministrar as aulas foram: Google Meet, Google Classroom, o Power Point e o WhastsApp com grupos da sala de aula. Ferramentas estas, essenciais para o ensino remoto, porque tornavam as aulas on-line mais atrativas, contextualizadas e produtivas para os estudantes. (SANTOS et al, 2020) Ao serem questionados sobre como os alunos reagiram ao ensino remoto nas primeiras semanas, os professores relataram que os alunos ficaram confusos, pois tudo era muito novo, alguns não obtiveram bons resultados e necessitaram da ajuda dos familiares, entretanto, em alguns casos não recebiam a atenção devida. Para os alunos que tinham mais dificuldade de aprendizagem, o ensino remoto se apresentou como algo ainda mais complexo e difícil. Sendo assim, para terem um bom aproveitamento das aulas, nos primeiros meses foi necessário se adequarem à nova realidade, mas com o devido auxílio dos familiares e dos professores. Isso ratifica a ideia de que o aluno passa a ser o principal responsável pela construção do seu conhecimento, tendo um papel mais ativo, buscando respostas para suas necessidades, sendo presente uma troca de informações em sala de aula, na qual o professor não é a fonte de todo o conhecimento, ele agora atua como um mediador (PEIXOTO, 2016). Na perspectiva positiva, as formas de comunicação utilizando as mídias digitais possibilita troca de informações e cooperações antes inimagináveis (KENSKI, 2008). Com a pandemia e as aulas gravadas, essas formas de comunicação digitais aproximam os educadores de seus alunos (SOTERO, COUTINHO & MEMES, 2020). Considerando os dados da pergunta subsequente do questionário, chegou- se à conclusão de que 80% dos entrevistados consideraram que a comunicação entre alunos e professores foi fluida. Em contrapartida, 20% dos professores alegaram que essa comunicação foi falha. Entretanto, ao mesmo tempo em que a comunicação virtual aproxima, também afasta. Assim como na pesquisa aqui presente, Anjos (2020) relata que professores alegam diariamente a falta de participação dos alunos nas aulas, fato que a relação de interação professor e aluno situa-se em constante transformação com o isolamento social, corroborando com os 20% dos entrevistados.

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Gráfico 4 – Fluidez ou não da comunicação entre alunos e professores no ensino remoto

Fonte: Elaborado pelos autores

3.3 As estratégias utilizadas no ensino remoto Pode-se afirmar que essa é uma das partes mais relevantes dessa pesquisa e após análise das informações foi possível observar que as principais estratégias utilizadas pelos entrevistados para promover a aprendizagem, levando-se em consideração o processo de alfabetização dos alunos no ensino remoto, foram estratégias voltadas para a ludicidade, com o intuito de prender a atenção das crianças, com jogos, histórias, poesias, músicas, vídeos com atividades utilizando materiais de fácil acesso pela família. Seguem abaixo alguns relatos sobre as estratégias que foram utilizadas para assegurar a aprendizagem, levando-se em consideração o processo de alfabetização dos alunos no ensino remoto. Professor 1 – “Nesse período Pandêmico, as aulas expositivas dialogadas deram lugar a estratégias que viabilizassem o aprendizado de maneira mais prática e que pudesse utilizar os materiais que os próprios alunos tivessem em suas casas. Aulas práticas e lúdicas foram frequentemente utilizados, sempre no contexto utilizando o aluno como o principal protagonista de seus próprios aprendizados.” Professor 2 – “A principal estratégia foi desenvolver as atividades com ludicidade, utilizando de jogos, músicas, brincadeiras e situações da nossa rotina, afinal os alunos estavam na minha casa e eu na deles o tempo todo. Os animais de estimação, as pessoas e objetos da casa, contribuíram muito com o processo de alfabetização das minhas crianças.”

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Professor 3 – “Aulas com slides animados no Power Point, histórias, poesias, músicas, parlendas, deixando os alunos participarem durante as aulas com perguntas, opiniões, solicitando a leitura, e, para aqueles que ainda não sabiam ler, realizamos com intervenção. ” Professor 4 – “Neste momento nós quanto professores tivemos que reinventar, a sala de aula online nos fez aprender muito! Tivemos que investir no conhecimento da tecnologia e fizermos dela uma aliada no processo da aprendizagem. Trabalhei muito com jogos de plataformas diferentes, contação de histórias com recursos visuais e atrativos, trabalhei método fônico individualmente com os alunos. Trabalhei grupo por níveis dos alunos. Foi um tempo de difícil, mas que vi resultado do trabalho.” Diante do novo desafio imposto aos educadores, 100% dos entrevistados adaptaram parte de sua residência para se tornar um local de trabalho, seja uma sala, quarto que não era muito utilizado ou até mesmo um escritório. Ambiente calmo com uma internet potente, computadores, celulares, notebooks e uma boa iluminação foram mudanças necessárias para um bom desenvolvimento na alfabetização. Também foram utilizados quadros brancos pendurados nas paredes, utilização de plataformas como Classroom e Google Meet para que houvesse interação adequada com o aluno, não física, porém o mais próximo possível. A maioria dos professores entrevistados tiveram aulas 100% on-line, com uma interação em tempo real com o aluno, facilitando assim a aprendizagem dele, pois conforme as dúvidas fossem surgindo poderiam ser esclarecidas, dessa forma foi possível estabelecer uma comunicação ativa e funcional.

3.4 As dificuldades encontradas durante o ensino remoto De acordo com Grossi, Minoda e Fonseca (2020), os principais desafios concernentes ao processo de aprendizagem no ensino remoto são: a pouca experiência dos alunos e de seus familiares na utilização das ferramentas digitais requeridas para aulas, a falta de equipamentos para todos da casa usarem ao mesmo tempo, assim como de um ambiente adequado para os estudos, problemas com a internet (fundamental para as aulas remotas) e a falta de tempo e de preparação pedagógica dos responsáveis, pois não são professores, para acompanhar as atividades acadêmicas de seus filhos. Considerando as respostas dos entrevistados, pudemos observar que dentre os vários desafios, o maior deles para trabalhar a alfabetização no ensino remoto, assim como citado pelo autor acima foi a falta de apoio e empenho familiar, como pode ser observado pelo comentário de um dos participantes da pesquisa:

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Professor 2 – “Mesmo de dentro de suas casas o maior desafio muitas vezes era contar com o apoio da família, pois o período de alfabetização requer um apoio de ambas as partes. Como a presença do professor não estava sendo possível muitas mães tiveram dificuldades em auxiliar suas crianças nesse período tão importante. Por isso foi necessário sempre intervenções com as próprias famílias para que objetivo fosse alcançado”

3.5 Medidas / estratégias adotadas para a promoção da aprendizagem no ensino remoto Considerando as respostas dos entrevistados, percebemos que a estratégia que mais contribuiu de maneira eficaz para minimizar as dificuldades da alfabetização foi trabalhar de forma lúdica para que a criança pudesse se sentir totalmente atraída para poder desenvolver o processo de letramento. As duas alternativas complementares mais adotadas pelos entrevistados para os alunos com dificuldades ou que não conseguiram acompanhar as aulas foram: a entrega de atividades complementares que eram entregues à família presencialmente para um responsável e também o suporte com aulas programadas e individualizadas. Logo, através das respostas obtidas, é possível afirmar que as medidas e estratégias adotadas pelos professores entrevistados foram diversas. Corroborando com esse fato, Churkin (2021) afirma que as escolas do mundo inteiro estão descobrindo e explorando estas novas possibilidades, entrelaçando não só aluno e professores, mas também pais, especialistas, membros da comunidade e outros agentes que podem contribuir para o processo de aprendizagem, entendendo que o êxito virá quando todos os envolvidos se unirem de fato em prol de uma educação de qualidade.

3.6 O processo de alfabetização O termo Alfabetização, etimologicamente, segundo Soares (2007), significa: levar à aquisição do alfabeto, ou seja, ensinar a ler e a escrever. Assim, a especificidade da Alfabetização é a aquisição do código alfabético e ortográfico, através do desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita. Visando a compreensão do que é alfabetização, faz-se necessário entender que, na história do Brasil, a alfabetização ganhou destaque, principalmente, após a Proclamação da República, com a institucionalização da escola e com o intuito de tornar as novas gerações aptas à nova ordem política e social. A escolarização, mais especificamente a alfabetização, se tornou

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instrumento de aquisição de conhecimento, de progresso e modernização do país (MORTATTI, 2006). É fato que, com o passar dos anos houve um grande avanço no campo da alfabetização, surgiram conceitos, teorias, metodologias etc. Contudo, mesmo após tanto desenvolvimento, o Brasil ainda enfrenta um problema de muita relevância: a qualidade da educação básica, principalmente, a dos anos iniciais do ensino fundamental. Este é um problema que pode ser caracterizado como algo enraizado na educação brasileira, visto que é um obstáculo histórico. Há algumas décadas, a principal causa que apontava para a baixa qualidade da alfabetização era o ensino fundamentado na Pedagogia Tradicional. Atualmente, os principais fatores são outros. De acordo com Diogo e Gorette (2011), as principais causas estão ligadas à perda da especificidade da alfabetização, devido à compreensão equivocada de novas perspectivas teóricas e suas metodologias, que foram surgindo em contraposição ao tradicional e à grande abrangência que se tem dado ao termo alfabetização. Sendo assim, é importante resgatar a significação genuína da alfabetização, por meio de uma prática educativa que não perca a especificidade do processo de ensino- aprendizagem, sempre fazendo relação entre conteúdo e prática e que, fundamentalmente, tenha por objetivo a melhor formação do aluno, objetivando uma educação de qualidade e equidade.

3.7 A alfabetização no novo modelo de ensino remoto A pandemia da COVID-19 trouxe diversas mudanças na vida das pessoas em geral, em relação à educação não poderia ser diferente. O setor educacional foi um dos mais afetados, de modo que as atividades pedagógicas presenciais foram suspensas e os órgãos reguladores nacionais indicaram a continuidade do semestre letivo, por meio de atividades remotas, já que o contato físico presencial precisou ser interrompido. O conceito de ensino remoto formulado por Hodges et al (2020) define que: O ensino remoto emergencial resulta, pois, de uma resposta imediata a uma crise, concretamente a provocada pela pandemia COVID-19, com o objetivo de manter as atividades letivas. Traduz-se numa mudança rápida dos processos de ensino e aprendizagem presenciais para modelos alternativos, tecnologicamente mediados (2020, apud DIAS-TRINDADE, CORREIA, & HENRIQUES, 2020, p. 6).

Ainda de acordo com Hodges et al (2020), o ensino remoto emergencial se distingue da modalidade de Educação a Distância (EAD). Pois a EAD conta com recursos e uma equipe TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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multiprofissional preparada para ofertar os conteúdos e atividades pedagógicas, por meio de diferentes mídias em plataformas on-line. Em contrapartida, o intuito do ensino remoto não é estruturar um ecossistema educacional robusto, mas ofertar acesso temporário aos conteúdos curriculares que seriam desenvolvidos presencialmente. Consequentemente, em decorrência da pandemia, o ensino remoto emergencial tornouse a principal alternativa de instituições educacionais de todos os níveis de ensino, caracterizando-se como uma mudança temporária em circunstâncias de crise. Ou seja, as mudanças no sistema educacional precisaram ser realizadas rapidamente. Os professores precisaram fazer a translocação do ensino presencial para plataformas on-line com o emprego das TDIC. Apesar de todas as dificuldades que esse período pandêmico tem trazido, a bibliografia reforça que nesse árduo momento pode ser vantajoso, trazer inovações para o setor da educação, uma vez que os docentes e discentes não prosseguirão sendo os mesmos, em função da implementação do ensino remoto nas instituições de ensino. Portanto, as TDIC podem adquirir novos sentidos ao ocuparem um espaço importante no processo de ensino-aprendizagem, em todos os níveis de ensino, visto que o afastamento foi no espaço físico, pois boa parte das aulas foram síncronas, onde professores e alunos estiveram virtualmente podendo interagir, em tempo real. (MIRANDA et al 2020). Fazendo um recorte desse processo, podemos considerar que, provavelmente, nunca o processo de educação contou com tantas inovações. Foi a transformação digital mais rápida que se tem relatos num setor inteiro e ao mesmo tempo. Diante disso, novas ferramentas e mecanismos tecnológicos foram desenvolvidos e aplicados no processo de ensino. (DIASTRINDADE, CORREIA, & HENRIQUES, 2020, p. 7). É importante ressaltar que, no ensino remoto, o aluno é visto como o centro desse processo de aprendizagem, deixando de ser apenas um mero expectador, construindo juntamente com o professor o conhecimento e o professor é o mediador responsável por encarar os desafios impostos pelo ambiente escolar virtual. Contudo, as transformações provocadas na educação pelo ensino remoto escancaram as desigualdades que, até então, pareciam estar sendo obstruídas pelo acesso ao ensino de forma presencial nas salas de aula das instituições de ensino. Alguns aspectos influenciaram profundamente no processo da alfabetização, além da falta de acessibilidade à internet por grande parte educandos, a ausência de interação presencial e direta prejudicou significativamente o processo de ensino-aprendizagem.

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Cordeiro (2020) alega que reaprender a ensinar e reaprender a aprender constituem desafios em meio ao isolamento social em que se encontra o setor de educação do país. Os educadores tiveram que se adaptar para ter êxito em lecionar à distância e este estudo especificamente, procura identificar como as escolas lidaram com esse processo de transposição para o ensino remoto, buscando inclusive, apontar as principais medidas usadas pelos professores para promover a alfabetização e minimizar os impactos provocados pela pandemia. É preciso ter em mente que, considerando o cenário pandêmico atual, o ensino remoto pode ser considerado um aliado na continuidade das atividades escolares, minimizando o atraso e as dificuldades de leitura e escrita dos alunos no retorno às aulas presenciais. Entretanto, para que as atividades escolares possam ser realmente significativas e as dificuldades sejam atenuadas, existe a necessidade em haver parceria e colaboração de todos os personagens envolvidos no processo educacional, é preciso também que as famílias e toda a comunidade escolar se apoiem mutuamente, se sentindo parte integrante do processo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente atividade de pesquisa constituiu-se no estudo acerca do processo de alfabetização no modelo de ensino remoto nas escolas privadas de Governador Valadares, em Minas Gerais. Sendo assim, baseado nas informações obtidas, é possível afirmar que os objetivos desta pesquisa foram alcançados. O estudo possibilitou identificar as estratégias de ensino adotadas pelos professores no modo remoto com a finalidade de alfabetizar os educandos da melhor maneira possível, dentro dos limites empregados pelo meio digital e a falta de contato físico devido à pandemia. É irrefutável que a transposição de aulas presenciais para o ensino remoto não foi algo simples. Com efeitos, foram diversas as formas que os professores encontraram para conseguir contornar os empecilhos do ensino remoto, almejando levar um ensino de qualidade para sua turma dentro de seu alcance. Dessa forma, depois de identificado como estão sendo administradas as aulas do primeiro ano do ensino fundamental trabalhadas durante a pandemia, cabe ressaltar que esses professores deverão continuar utilizando de toda sua maestria, procurando se apoiar nas TDIC, pois estas, se bem utilizadas, podem aumentar o engajamento dos alunos e despertar neles muito mais interesse e participação nas aulas. No decorrer do estudo foi possível perceber que os professores se adaptaram a essa nova realidade para que o processo de alfabetização fosse consolidado com êxito. Inovaram as

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estratégias de ensino e adequaram o ambiente de trabalho, além de terem implementado o uso de novas tecnologias. No entanto, apesar de a falta de apoio dos pais ter sido uma dificuldade constatada na pesquisa, foram também enfatizados os benefícios da participação e da parceria ativa dos familiares, em prol de uma de educação de qualidade, mesmo sabendo que está fora do alcance do professor intervir em certas situações de ensino, no contexto do ensino remoto. Por fim, a análise das informações contidas na amostra dos vinte professores ressalta que alguns ainda dependem de maior afinidade com tecnologias e apoio de terceiros para que consigam melhor desenvolver sua aula, enquanto outros lidam bem com tais aspectos, entretanto, todos conseguiram encontrar boas saídas para a ministração das aulas. Assim sendo, conclui-se que há algumas estratégias preferíveis por parte de alguns professores, mas é algo que ainda deve ser discutido com maior cautela. Portanto, o estudo do assunto representa uma importância significativa para a sociedade, pois é de interesse dela, dessa forma se faz necessário continuar investigando sobre o tema, pois ele deve ser mais explorado. REFERÊNCIAS ANJOS, A. C. P. Dificuldades no ensino-aprendizagem e comunicação entre professores e alunos durante a pandemia do covid-19. Rev. Franc. Edu. Santa Maria. 2020. BRAGA, R. Apresentação. In: FAUSTO, C.; DAROS, T. A sala de aula inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo. Porto Alegre: Penso, p. 6-7. 2018. CARVALHO, M. R. V. Perfil do professor da educação básica. Brasília. INEP/MEC. 2018. COÊLHO, J. J. de A; BERGAMINI, G. B. Uso da pesquisa quantitativa nas pesquisas em educação: possibilidades e desafios. Rev. Saberes, vol. 9, n. 1, jan/jul, 2019. CORDEIRO, K. M. A. O impacto da pandemia na educação: a utilização da tecnologia como ferramenta de ensino. Trabalho para disciplina de Pedagogia pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas). 2020. CHURKIN, O. M. Educação à distância um marco civilizatório, um olhar holístico da pedagogia: sinergia e reflexões na conectividade em tempos de COVID-19. Revista BrazilianJournalofhealthReview, Curitiba, 2020. DENZIN, N. K. e LINCOLN, Y. S. Introdução: a disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In: DENZIN, N. K. e LINCOLN, Y. S. (Orgs.). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, p. 15-41. 2006. DIOGO, Emilli Moreira e GORETTE, Milena da Silva. Letramento e alfabetização: uma prática pedagógica de qualidade. Paraná, 2011. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/5806_2767.pdf. Acesso em: 29 out. 2021. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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PERFIL DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA: UM ESTUDO DE CASO DE GOVERNADOR VALADARES /MG José Francisco da Costa Júnior31, Rogério Vieira Primo32, Walther Anastácio Júnior33

RESUMO Esse estudo buscou os aspectos da escolarização continuada e progressiva, para, posteriormente, identificar quem são as pessoas que procuram e frequentam a educação de jovens e adultos e o que pretende esses sujeitos. Teve como objetivo conhecer o perfil dos alunos do EJA de uma escola estadual da cidade de Governador Valadares, considerando que a qualificação profissional em todas as áreas tem provocado mudanças significativas na sociedade e esse fato tem estimulado a busca pelo conhecimento. O desenvolvimento da pesquisa consiste na leitura de autores que desenvolveram pesquisas sobre essa temática a fim de embasar teoricamente todo o trabalho. Com relação ao perfil, o estudo demonstrou que o aluno da EJA é composto por alunos predominantemente do gênero feminino, casados e com filhos. Possuem casa própria e vêm de uma história familiar de escolarização incompleta predominantemente no ensino fundamental. Palavras-chaves: Perfil de alunos. EJA. Escolarização. 1 INTRODUÇÃO A educação de jovens e adultos (EJA) ainda busca sua afirmação como modalidade de ensino que deve ser entendida como um direito à educação de qualidade, o qual é disponibilizado ao público adolescente e adultos, em comparação ao que é oferecido aos alunos durante o ensino fundamental. Esse é um processo que vem se caracterizando de forma particular nas últimas décadas no Brasil. A EJA deve cumprir com uma função de caráter de atualização permanente, procurando preparar esses jovens e adultos para as mudanças no mundo, as quais têm relação com questões relacionadas aos grupos etários envolvidos, posições de gênero, critérios socioeconômicos, religiosos, enfim, toda uma gama de fatores relacionados às práticas socioculturais que 31

Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br 32

Professor de graduação e Pós-graduação. Mestre em Administração. Especialista em Educação Matemática; Gestão Financeira de Empresas; Gestão empresarial pela PUC Minas. Especialista Gestão Escolar pela Unipac e Marketing e Gestão Estratégica de Comunicação e Informação. E-mail: rogerioprimo@unipac.br 33

Professor de Graduação e Pós-graduação. Graduação em Administração e Matemática. MBA em Gestão Financeira Controladoria e Auditoria; Especialista em Administração Escolar, Orientação, Supervisão e Inspeção; Professor de Planejamento e Gestão Estratégica da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: waltheradmjunior@gmail.com

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constituem esses alunos no decorrer de suas vidas. As discussões sobre a diversidade cultural e pela busca de um posicionamento intercultural devem estar presentes nos espaços educativos da EJA e da educação profissional, havendo cuidado para que não existam preconceitos ou discriminações de nenhuma ordem. Nesse aspecto, a educação de jovens e adultos vem ganhado espaço considerável, sendo incentivada pelas ofertas decorrentes das novas tecnologias da informação e comunicação. Segundo a política educacional brasileira, essa modalidade de ensino é um meio de se “democratizar o acesso ao conhecimento e de expandir oportunidades de aprendizagem ao longo da vida” (BRASIL, 2000.) No Brasil, dentre a legislação que regulamenta a educação a distância pode ser citada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei 939496, entre outras leis portarias e a contribuição da escola na Educação de Jovens e Adultos, temo como suporte ao desenvolvimento de projeto de educação comprometida com o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir na realidade para transformá-la. Considerando o exposto, o objetivo do estudo foi conhecer o perfil dos alunos que cursam a Educação de Jovens e Adultos de uma escola estadual de Governador Valadares – MG, tendo em vista que, com as transformações ocorridas nas últimas décadas, questões importantes como a qualificação profissional, a formação e o maior número de profissionais habilitados em diversas áreas têm provocado mudanças significativas no processo de trabalho, assim como buscar alternativas para que a educação atenda às exigências ocupacionais e o desempenho do indivíduo na sociedade.

2 MÉTODOS Para sistematizar as informações, a pesquisa foi realizada numa abordagem quantitativa e qualitativa, organizada em categorias de análise e dividida em blocos que englobaram os aspectos sócio demográficos, culturais e cognitivos, tendo em vista uma melhor compreensão da realidade dos educandos da EJA. A abordagem qualitativa é a que melhor atende este trabalho, pois possibilita uma aproximação com os sujeitos da pesquisa, sendo a “metodologia que tem o ambiente natural como sua fonte de dados e o pesquisador como principal instrumento [...] procura estudar os fenômenos educacionais e seus atores dentro do contexto social e histórico em que acontecem e vivem...” (GIL, 2019).

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Quanto à abordagem metodológica, a pesquisa também se caracteriza como quantitativa, pois se procurou coletar dados que possibilitasse traçar o perfil dos educandos da EJA. Lakatos (2017) destaca que a pesquisa quantitativa tem suas origens no pensamento positivista lógico e tende a dar importância ao raciocínio dedutivo, às regras da lógica e aos atributos mensuráveis da experiência humana. Trata-se de uma pesquisa de natureza básica e quanto aos objetivos pode ser considerada exploratória, pois segundo Aquino (2019), uma pesquisa exploratória tem como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. Seu planejamento tende a ser bastante flexível, pois interessa considerar os mais variados aspectos ao fenômeno estudado. Considerou-se adequado para esta pesquisa o estudo de caso que, segundo Gil (2019), tem como objetivo explorar situações da vida real e descrevê-las no contexto em que está sendo feita a investigação, partindo de análise documental secundária e permitindo uma análise mais detalhada do processo organizacional e dos fatores que podem levar a uma maior compreensão da causalidade dos fatos observados.

A população do estudo contou com alunos que estavam na classe num total de 47 alunos. Houve uma consulta prévia entre os participantes que mostraram interesse em participar do estudo e todos concordaram em ser orientado pelos pesquisadores e podendo desistir em qualquer momento. A primeira etapa da pesquisa foi baseada em estudo histórico documental. A segunda etapa do trabalho teve embasamento estatística de dados, através da aplicação de um questionário, utilizando o Google forms, com a intenção de averiguar a caracterização dessa população.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A educação é um direito assegurado pelas leis que regem o Brasil, logo,

precisa-se

traçar caminhos efetivos para construir uma nova história no contexto educacional brasileiro, a fim de que essas leis prevaleçam e sejam cumpridas, em especial na EJA, com a perspectiva de acabar com o analfabetismo e/ou sanar a problemática de crianças e adolescentes que não conseguem terminar o ensino regular na idade própria. Para melhor conhecer as peculiaridades desta modalidade de educação voltada para adultos, é preciso pesquisar profundamente as razões pelas quais esses sujeitos buscaram os estudos novamente. A EJA foi estabelecida pela LDB no 9.394/96, no Art. 37, que diz que a “[...] Educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. ” (BRASIL, 1996).

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A EJA trata de alunos com características diversificadas e diferenciadas das crianças e adolescentes do ensino em idade regular. São jovens e adultos de camadas populares que, ao interromperem sua trajetória escolar, repetem histórias, muitas vezes coletivas e familiares, de negação dos direitos. Negar o enraizamento dessa negação, dessa identidade coletiva, social e popular, compromete a percepção da própria identidade da EJA, correndo o risco de a modalidade ser encarada como mera oferta individual de oportunidades pessoais perdidas. Para discutir o problema da educação e chegar a considerações capazes de orientar uma solução para o analfabetismo adulto, é preciso um olhar justo e verdadeiro, que só pode vir do ponto de vista social: um olhar de direitos e não de caridade. É necessário enxergar o analfabetismo como um aspecto social, e não como um conceito abstrato, e partir do fato real, concreto, existencial, isto é, o homem adulto analfabeto. A análise dos dados coletados por meio dos questionários trouxe informações que possibilita traçar o perfil dos alunos do EJA de uma escola estadual de Governador Valadares. Os resultados foram apresentados em tabelas descritivas de variáveis, demonstrando as características dos alunos. Na Tabela 1 pode-se observar que 93,20% são do gênero feminino enquanto que 6,80% são masculinos, o que confirma a predominância do público feminino. Tabela 1 – Distribuição de alunos da EJA segundo gênero e Idade

Gênero/idade Feminino Masculino

-20 4 4 8

20-30 4 4 8

30-40 13 5 18

40 4 1 5

50 5 3 8

Total 30 17 47

Fonte: Dados da pesquisa

Em relação a idade, observa-se que 38,29% estão na faixa etária entre 30 a 40 anos, sendo que 13 (72%) pessoas são do gênero feminino. Tanto a faixa etária com menos de 20 anos, quanto nas faixas de 20 a 30 anos e mais de 50 anos, tem-se oito pessoas em cada grupo representando 17,02% por grupo de idade. Na tabela 2, observa-se a predominância do gênero masculino no grupo dos solteiros, 10 pessoas e do gênero feminino no grupo de casados com 19 mulheres.

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Tabela 2 – Distribuição dos alunos do EJA. Gênero e estado civil

Gênero/Est. civil Feminino Masculino Total

Solteiro 17 10 17

Casado 19 5 24

Viúvo 3 2 5

Outros 1 0 1

Total 30 17 47

Fonte: Dados da pesquisa

Segundo o Parecer no 11/2000 do Conselho Nacional de Educação (BRASIL,2000), a modalidade EJA se configura por 3 funções: reparadora, equalizadora e qualificadora. A função reparadora está vinculada ao fato de dar acesso à educação para as pessoas que não tiveram a oportunidade de continuar na “idade certa” no ensino fundamental e médio da educação básica. Já a função equalizadora está relacionada à oportunidade de todos terem acesso à educação, um dever do Estado garantido na publicação da Constituição Federal de 1988. E a função qualificadora tem o objetivo de ofertar uma educação permanente. Segundo Gadotti (2005): “A educação tem que ser popular, por sua origem, por seu fim e por seu conteúdo. O país é atrasado em virtude do modo de vida de suas massas (não de suas elites). Por isso, a transformação da existência do povo é o que constitui a substância da mudança na realidade da nação.”.

Tabela 3 – Distribuição segundo estado civil e quantidade de filhos

Est. Civil Sem filhos 1 a 3 filhos Mais de 3 filhos Total

Solteiro 14 3

Casado 2 16

Viúvo 0 3

Outros 0 1

Total 16 23

0

6

2

0

8

17

24

5

1

47

Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 3, as pessoas que não possuem filhos são 34,04%; entre estes foram encontrados 14 pessoas solteiras e 2 casadas sem filhos. A quantidade de filhos entre os casados é maior na faixa de 1 a 3 filhos com 34,04%. Com mais de 3 filhos encontrou-se 12,75% das pessoas casadas e 4,25% do grupo dos viúvos. Percebeu-se que as frequências maiores foram nos grupos dos casados. Paulo Freire é tido como um desbravador de uma educação apropriada para pessoas jovens e adultas no Brasil. Ele sistematizou, a partir de um olhar atento sobre o cenário políticoeducacional de sua época e a necessidade dos alunos, um método de educação que tinha o adulto como centro da discussão, desencadeando um processo de libertação e de conscientização dos educandos. Freire praticou a andragogia mesmo antes de o termo se tornar conhecido no Brasil. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Em sua obra ‘Pedagogia do Oprimido’, ele formulou, com clareza, uma proposta baseada em um processo de educação libertadora, que levava à conscientização do sujeito em oposição à ideia de um aluno apenas receptor de conteúdos predeterminados. Segundo Freire 2005, p. 25) “[...] é importante saber que se deve respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a coerência com esse saber.”. Tratamos aqui o perfil desse alunado com base nas palavras do autor e com a intenção de conhecer o(a) aluno(a) que procura a EJA. A tabela 4 mostra que entre os entrevistados que ingressaram no EJA, apenas 3 alunos do gênero masculino já tinham o ensino médio fundamental; 7 não concluíram o ensino médio e os outros 7 não tinham terminado o ensino médio. Tabela 4 – Distribuição segundo escolaridade

Escolaridade/Gênero Fundamental incompleto Fundamental completo Ensino médio (inc. completo)

Masculino 7 3

Feminino 20 0

7

10

17

30

Fonte: Dados da pesquisa

Siqueira (2017), menciona que o direito de todos terem acesso à educação foi afirmado com a publicação da Constituição Federal de 1988 – um momento importante de instauração da democracia no país. A educação para as pessoas que não tiveram acesso ou conseguiram continuar seus estudos ganhou a denominação de Educação de Jovens e Adultos com a publicação da Lei no 9.394/96, que, no artigo 37, destaca que: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.”. Desta forma, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) precisa ser realizada e planejada considerando as especificidades dos alunos, a partir de aulas em que o diálogo seja fundamentado e construído pelo respeito aos conhecimentos prévios dos alunos. Não basta só dar acesso a esses alunos à escola: é preciso ofertar um ensino de qualidade e formação crítica, em um ambiente no qual o aluno tenha prazer de permanecer. A escola para os alunos da EJA “[...] representa para eles um espaço ao mesmo tempo de recolocação social, de sociabilidade, de formalização do saber e de desenvolvimento pessoal. Nesse sentido, os alunos jovens e adultos diferem, em muitos aspectos, das crianças, e isto deve ser sempre considerado.” (BRASIL, 2006b, p. 8).

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Na EJA, o professor será um orientador que buscará, a partir de atividades, potencializar a aprendizagem dos alunos, mediando e orientando a construção do conhecimento ao valorizar os aspectos culturais e históricos dos alunos e seus conhecimentos prévios. Assim, ele conseguirá reconhecer a diversidade cultural da turma em suas aulas, promovendo momentos significativos para que a aprendizagem aconteça. Segundo o Parecer no 11/2000 do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2000), a modalidade EJA se configura por 3 funções: reparadora, equalizadora e qualificadora. A função reparadora está vinculada ao fato de dar acesso à educação para as pessoas que não tiveram a oportunidade de continuar na “idade certa” no ensino fundamental e médio da educação básica. Já a função equalizadora está relacionada à oportunidade de todos terem acesso à educação, um dever do Estado garantido na publicação da Constituição Federal de 1988. E a função qualificadora tem o objetivo de ofertar uma educação permanente. Os alunos da EJA precisam ser reconhecidos como um ser histórico, constituído de vivência e experiências, pois “[...] a cada realidade corresponde um tipo de aluno e não poderia ser de outra forma, são pessoas que vivem no mundo adulto do trabalho, com responsabilidades sociais e familiares, com valores éticos e morais formados a partir da experiência, do ambiente e da realidade cultural em que estão inseridos. ” (BRASIL, 2006a, p. 4).

Tabela 5 - Distribuição segundo tipo de moradia

Residência Entrevistados

Própria 35

Alugada 7

Cedida 5

Fonte: Dados da pesquisa

Analisando os resultados apresentados na tabela 5, observou que a maioria possuem residência própria.

Tabela 6 – Distribuição de alunos do EJA, segundo a renda familiar

Renda

1 SM

Entrevistado

18

Mais de 1 a 3 (SM) 22

Mais de 3 (SM)

Arrimo

6

1

Analisando o percentual de renda em Salários Mínimos (SM), observa-se que as médias mais altas estão entre 1 a 3 SM, representando a renda de 22 (47%) dos alunos seguidos de 18 (13%) com renda de 1 SM. Dos sete restantes a população pesquisada possui renda acima de 3 SM.

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Na Educação de Jovens e Adultos, as experiências pessoais influenciam a aprendizagem, as vivências, e a visão e leitura de mundo dos alunos ganham significados a partir da construção de conhecimento realizada de forma cooperativa e colaborativa entre colegas e professores (BRASIL, 2006a, p. 4): A visão de mundo de uma pessoa que retorna aos estudos depois de adulta, após um tempo afastada da escola, ou mesmo daquela que inicia sua trajetória escolar nessa fase da vida, é bastante peculiar. Protagonistas de histórias reais e ricos em experiências vividas, os alunos jovens e adultos configuram tipos humanos diversos. São homens e mulheres que chegam à escola com crenças e valores já constituídos. Tabela 7 – Distribuição dos alunos segundo motivo de abando escolar.

Causa da Evasão Total

Motivo de Trabalho 27

Falta de oportunidade 12

Falta de incentivo 5

Não acreditou 2

Não gostava de estudar 1

Fonte: Dados da pesquisa

A falta de incentivo da família apareceu por 10,63% das pessoas, porém destaca-se como principal causa de evasão o motivo de trabalhar. A construção de conhecimento a que todo ser humano tem direito precisa ser respeitada em sua amplitude e diversidade. Na EJA, em uma mesma sala de aula, estão reunidos jovens, adultos, e idosos de idades e gêneros diferentes, religiosidades, pertencimentos étnicos, culturais, trajetórias de vida, saberes acumulados, fazeres, especialidades vividas, temporalidades, concepções, etc. Além da diversidade, os sujeitos dessa modalidade são adolescentes, jovens e adultos que não completaram sua escolarização em período específico (idade); trabalhadores que precisam de diploma; pessoas que não tiveram acesso à escola e, por questões financeiras, tiveram que parar de estudar e pessoas com dificuldades de aprendizagem (SOUZA, 2011). A procura pela EJA tem aumentado ao longo dos anos e contribuído para baixar os índices de analfabetismo no Brasil. Essas pessoas buscam a realização de sonhos, o primeiro emprego ou a melhoria de sua vida profissional, o desenvolvimento ou mesmo a ideia de sair da situação de analfabetismo e exclusão social. A sociedade tem a ideia de que os jovens e adultos que procuram a EJA são pessoas fracassadas.

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Tabela 8 – Distribuição dos alunos segundo motivo de retornar aos estudos

Motivo

Cursar técnico

Total

27

Melhorar salário 8

Exigência do emprego 3

Cursar superior 9

Fonte: Dados da pesquisa

Para Siqueira (2017), a escola é um espaço privilegiado, pois pode mudar os valores dos indivíduos ao mesmo tempo em que trabalha para reduzir preconceitos. Assim, a escola um espaço de educação formal pode contribuir para a mudança do contexto social, porque ela não só promove a construção de conhecimentos, mas também faz repensar valores e atitudes, a valorizar, reconhecer e empoderar os sujeitos envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem. Segundo Siqueira (2017), na Educação de Jovens e Adultos (EJA) a escola passa ter uma função social, já que é um local que pode possibilitar aos alunos o resgate a consciência de sua participação na sociedade, como um sujeito ativo de direito e deveres. Os alunos da EJA, em sua maioria, são trabalhadores e, muitas vezes, a experiência com o trabalho começou em suas vidas muito cedo. Um dos alunos entrevistados relatou que seus pais saíam para trabalhar e ele já era responsável, ainda crianças, pelo cuidado da casa e dos irmãos mais novos. Outras vezes, acompanhava seus pais ao trabalho, realizando pequenas tarefas para auxiliá-los. É comum, em Governador Valadares, que estes alunos tenham realizado uma quantidade de atividades cuja renda completava os ganhos da família: guardar carros, distribuir panfletos, auxiliar em serviços na construção civil, fazer entregas, arrematar costuras, cuidar de crianças etc. Os alunos que procuram a EJA têm anseios em relação ao ambiente escolar associados com as necessidades diárias, a inserção social e a autonomia na vida, isto é, eles pretendem ampliar suas chances no mercado de trabalho e sua participação em situações que requerem escrita, além de elevar seu status social; suas falas remetem a questões políticas, econômicas e sociais. Aos poucos, quando o aluno percebe que o educador está por inteiro na relação que se estabelece em sala de aula, ele vai se reconhecendo e se engajando nas diferentes atividades. Para a consolidação desse processo, é importante que o educador valorize a fala do educando, sua autoria, sua vida, reconheça sua produção e o estimule a se colocar diante do grupo. Dessa forma, deve ocorrer a mediação entre os saberes que os alunos carregam e o conteúdo escolar. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Considerar esses aspectos é fundamental para o trabalho com jovens e adultos não alfabetizados ou pouco escolarizados, pois suas experiências e circunstâncias culturais, históricas e sociais propiciam situações de aprendizagem, promovendo o desenvolvimento.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola tem um papel importante na perspectiva de reconhecer, valorizar e empoderar sujeitos socioculturais subalternizados e negados. E esta tarefa passa por processos de diálogo entre diferentes conhecimentos e saberes, a utilização de pluralidade de linguagens, estratégias pedagógicas e recursos didáticos, a promoção de dispositivos de diferenciação pedagógica e o combate a toda forma de preconceito e discriminação no contexto escolar. Quando os alunos ingressam na EJA, ocorre uma transformação na sua autoestima: eles passam por uma satisfação e realização pessoal, tornando--se independentes e reavaliando seus objetivos. Eles constatam que não dispõem de tempo para regredir em seu aprendizado, voltando no caminho que já percorreram, ou seja, nesta evolução e transformação da sociedade e das tecnologias, eles reconhecem que, se abandonassem os estudos, cairiam na mesmice. A educação, aqui em especial a EJA, é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica. Assim, a EJA é uma instância pela qual é possível adquirir conhecimento. Neste contexto, o ato de aprender a aprender é uma das principais funções do ato de ensinar, ou melhor, do ato de educar, daí a necessidade de pesquisar sobre como a aquisição de conhecimento modifica as pessoas em um processo de conscientização e reconstrução de suas vidas, transformando-as como agentes transformadores de sua própria realidade. Desse modo, a análise dos dados desse trabalho pode fornecer parâmetros para balizar os planos de ação da escola, de forma a promover melhorias e inovações na EJA e adotar medidas par combater ou diminuir os índices de evasão. Além dos dados coletados, percebeu-se que a EJA é um dos meios encontrado para melhorar os conhecimentos, aprimorar o aprendizado, isto porque essa pesquisa contribuiu para que os estudantes refletissem sobre a importância de frequentar a escola e a busca por novos conhecimentos. Assim, ao ingressar na Educação de Jovens e Adultos, os alunos devem manter-se confiantes para buscar mais conhecimentos e novas oportunidades e, umas das consequências pode ser melhorias na vida pessoal e profissional.

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REFERÊNCIAS AQUINO, Ítalo de Souza. Como escrever artigos científicos: sem “arrodeio” e sem medo da ABNT. São Paulo: Saraiva, 2019. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: Acesso em: 25/01/2022. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997. BRASIL. Ministério da Educação Portaria N.º 343. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus – COVID-19. Disponível em: Acesso em: 25/01/2022. BRASIL. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. Parecer no 11, de 10 de maio de 2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: <http://confinteabrasilmais6.mec.gov. br/images/documentos/parecer_CNE_CEB_11_2000.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Trabalhando com educação de jovens e adultos: alunas e alunos de EJA. Brasília: MEC, 2006a. (Caderno EJA, 1). BRASIL. Ministério da Educação. Trabalhando com educação de jovens e adultos: a sala de aula como espaço de vivência e aprendizagem. Brasília: MEC, 2006b. (Caderno EJA, 2). CAMARGO, Fausto F. A sala de aula inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018. DEMO, Pedro. Professor do futuro e a reconstrução do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2019. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia Saberes Necessários à Prática Educativa. 49ª edição, São Paulo, editora Paz e Terra, 2014 GADOTTI. M. Romão, J.E. Educação de Jovens e Adultos: Teoria, prática e Proposta. 7ª edição. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2005. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Rio de Janeiro: Atlas, 2019. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. NOGUEIRA, Daniel Ramos Leal, Edvalda Araújo Miranda, Gilberto José Casa Nova, Silvia Pereira de Castro. Revolucionando a sala de aula 2. São Paulo: Atlas, 2020. SIQUEIRA, Antônio Rodolfo de; Guidotti, Viviane. Educação de jovens e adultos. Porto Alegre: SER - SAGAH, 2017.

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A GERÊNCIA BANCARIA E OS DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS PARA MANUTENÇÃO DA MOTIVAÇÃO José Francisco da Costa Júnior34, Rodlon Andrade Valadares de Almeida35, Rogério Vieira Primo36 RESUMO Há algum tempo estamos presenciando uma mudança de paradigmas no comportamento do setor bancário brasileiro, inclusive com a entrada de bancos estrangeiros. As mudanças são significativas, onde os bancos competem por clientes de forma alucinada e estes procuram o melhor para si, como melhores tarifas, taxas de juros mais baixas e melhor qualidade dos serviços. A automação de serviços e a ampla gama de serviços e produtos promoveram grandes avanços no setor de varejo bancário, mas os desafios ainda são grandes. Conquistar a fidelidade dos clientes de uma instituição bancária está na mente dos gestores desta e de qualquer empresa, em qualquer ramo de atuação. Parte deste esforço depende diretamente das forças de trabalho de uma empresa. Mas não basta ter funcionários qualificados, treinados nos produtos da empresa e com formação diferenciada se estes não estão satisfeitos ou seguros para dedicar ao trabalho a atenção que este exige. O presente trabalho tem o objetivo de analisar o modelo de gestão adotado pelos gerentes de uma agência bancária, baseado no comportamento e na satisfação dos funcionários para verificar o grau de motivação e satisfação dos funcionários. Palavras-chave: Motivação, liderança, ambiente organizacional.

1 INTRODUÇÃO

O desempenho profissional é resultado da capacidade para executar uma atividade, para isso, faz-se necessário esforço para obter resultados desejados e esses resultados poderão mais fáceis de ser alcançados considerando um funcionário motivado. Atualmente, a demanda por soluções frente às necessidades de motivação de uma equipe exige o papel fundamental do líder influenciador com postura determinante e a motivação tem sido considerada como um elemento mais importante da vida profissional, como um fator de estímulo à produtividade, à busca de soluções e à superação de obstáculos. Tratase, sem dúvida alguma de um tema vasto porque não dizer complexo.

Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br 35 Professor de graduação. Mestre em Administração. Especialista em Gestão da Educação e Gestão educacional e Matemática. E-mail: rodlonalmeida@unipac.br 36 Professor de Graduação e Pós-graduação. Graduação em Administração e Matemática. MBA em Gestão Financeira Controladoria e Auditoria; Especialista em Administração Escolar, Orientação, Supervisão e Inspeção; Professor de Planejamento e Gestão Estratégica da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: waltheradmjunior@gmail.com 34

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Observa-se, entretanto que em virtude das constantes exigências do mercado e, consequentemente, das organizações empresariais em cima de seus funcionários a motivação tem se tornado objeto de investigação permanente, tanto por parte dos cientistas comportamentais que estudam as organizações como por aqueles que a administram. A nova forma de gerenciamento das organizações propõe gerir trabalhadores e gestores participativos aliados aos objetivos da organização, considerando a competitividade na Gestão de Pessoas como foco principal de interesse acordado entre gerentes e funcionários. Há de se considerar o fato de que o fator humano permeia todos os níveis da organização e sem as pessoas os demais recursos tornam-se praticamente inoperantes. Os avanços tecnológicos são de uma dimensão inimaginável e até inacreditável. A robótica e a microeletrônica, entre outros, envolvem a realidade do homem em todas as dimensões. E a cada onda de inovação ocorre uma espécie de ansiedade social, a qual é caracterizada pelo temor de que as máquinas venham a desalojar o mão-de-obra humana permanentemente. As iniciativas das empresas, paralelamente o esforço de automação, têm empreendido processo de reengenharia como o enxugamento de seus quadros, têm provocado no seu ambiente interno, inquietações em seus trabalhadores quanto à sua capacidade de continuarem inseridos no mundo do trabalho em um futuro próximo. Por isso, dentro das organizações, deve-se ter a preocupação em manter as pessoas motivadas para o trabalho. É preciso atrair e manter as pessoas assegurando-lhes condições para que possam satisfazer os anseios internos de crescimento psicológico e desenvolvimento profissional. Isto é, é preciso mantê-las motivadas. Este trabalho pressupõe que o fator humano é determinante para o desenvolvimento de uma empresa objetivando direcionar os esforços das pessoas envolvidas para o alcance de um determinado objetivo e identificar prioridades entre os funcionários e o gerente. Para isso, deve-se ter a preocupação de manter as pessoas motivadas. A investigação para avaliar o nível de satisfação dos funcionários e dos gerentes é um fator importante sob o ponto de vista dos estudiosos e fontes utilizados para a produção desta pesquisa. Esse estudo fundamentou-se em investigar o comportamento dos funcionários e gerentes de uma agência bancária localizada no bairro Vila Isa em Governador Valadares / MG. Para isso, partiu-se do seguinte questionamento: o sistema de Gestão de Pessoas adotado pela Administração da Agência bancária estimula e promove a manutenção da motivação dos seus funcionários? TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Tendo como objetivo analisar o modelo de gestão adotado pelos gerentes da agência, baseado no comportamento e na satisfação dos funcionários para verificar o grau de motivação e satisfação dos funcionários. Para construção deste artigo, quanto à finalidade da pesquisa foi adotado a pesquisa de campo, interdisciplinaridade das áreas do saber, a fim de verificar razões dos problemas práticos. Em realização aos objetivos da pesquisa, é caracterizado o estudo exploratório, pois visou por meio da pesquisa bibliográfica e em campo a familiarização da temática estudada, referente à natureza da pesquisa, é de cunho quantitativo. O instrumento de coleta de dados foi um questionário composto exclusivamente de nove perguntas fechadas, aplicado entre os dias 31 de outubro de 2018 a 16 de novembro do mesmo ano visando verificar o tópico de maior interesse nesta pesquisa, ou seja, se o sistema de gestão de pessoas adotado pela agência estimula e promove a manutenção da motivação de seus funcionários.

2 BREVE HISTÓRICO DA AGÊNCIA

Primeira empresa privada brasileira a utilizar computadores e segunda maior empresa financeira privada de todo pais na avaliação realizada pelo Great Place to Work Institute em 2013, e essa organização bancária possui agências em todo o país. Com 100% de suas agências automatizadas, essa organização bancária inaugurou sua agência na cidade de Governador Valadares, bairro Vila Isa, no ano de 1998, prestando uma diversidade de serviços financeiros bancários. Especificamente, a agência, objeto de estudo possui em seu quadro 23 funcionários nos mais variados cargos, entre eles: Gerente geral, Gerente de Setor de Pessoa Física e Gerente do Setor de Pessoa Jurídica, Gerente Administrativo, Supervisor e funcionários operacionais. Na agência, sua administração é responsável pelo planejamento, aprimoramento e crescimento profissional da equipe tendo como meta a redução de transações de caixa, redução de horas extras e fechamento de expediente chamado ‘fim de log’. Trata-se de um componente crítico do banco de dados e caso houver uma falha no sistema operacional, é necessário retornar seu banco de dados a um estado consistente que contem “ID” de transação. A administração da agência considera o indivíduo peça fundamental no processo de obtenção de vantagem competitiva para o processo de melhorias e tem focado na satisfação dos funcionários e no desenvolvimento de suas atividades. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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A Forbes, em 2013, listou um ranking com as maiores empresas do segmento bancário do mundo em que entre as empresas brasileiras inclusas as quatro primeiras colocações foram: a Petrobrás, Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil. Estas classificações são realizadas a partir da combinação de quatro quesitos: receitas, lucros, ativos e valor de mercado. Nesse sentido, considerando a evolução e destaque que essa organização bancária alcançou em 2013, torna-se relevante investigar a situação do capital intelectual de sua agência em Governador Valadares, aperfeiçoar a atuação da gerência de modo a aprimorar o desempenho dos funcionários, para melhorar o processo de aprendizagem organizacional na realização de novos projetos.

2.1 A Gestão de Pessoas e o Capital Humano

A gestão de pessoas é um desafio constante. Uma boa estratégia é fazer com que o funcionário se transforme em administrador de suas próprias tarefas integrado aos demais setores colaborando de forma eficaz para o alcance das metas propostas pela gerencia. Bergamini (2013) observa que cada indivíduo deve ser tratado de forma diferente já que os motivos que os incentivam são diferentes. Para isso é necessário saber lidar com a motivação de cada pessoa. A valorização do capital humano ligado à tecnologia torna-se uma tendência no meio gerencial que se transforma em um dos principais ativos estratégicos de uma instituição para promover crescimento sustentado para as pessoas e por meio delas. Por mais que uma organização invista em tecnologia avançada e otimização do sistema, é preciso ter a percepção da necessidade de investir no capital humano para o alcance de melhor gestão com grande diferencial na busca da evolução e sucesso no empreendimento. Se gerenciar pessoas é integrar pessoas e organização não há como relatar a evolução dos modelos de gestão de pessoas sem relatar a evolução das organizações. Para cada fase de evolução, desde seu primeiro registro em 1903 surge um modelo diferente de gestão de pessoas. (BARBIERI, 2014) A Gestão de Pessoas dessa organização bancária, além de monitorar o risco social, possui uma ferramenta de gestão que valoriza o relacionamento saudável para o alcance dos objetivos, captando a percepção das equipes, o clima organizacional e possíveis desvios comportamentais. Dessa forma, proporciona o desenvolvimento das competências dos profissionais, reforçando, principalmente, a importância da gestão de pessoas e seus impactos no negócio. O TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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processo de transformação e mudança ocasionalmente ocorre com dificuldade por falta de sinergia e interação entre a equipe de trabalho e a liderança. De acordo com Fidelis (2014): As atividades de ARH, desde a antiguidade até o fim de século XVIII, tinham um caráter mais burocrático e eram vulgarmente discriminadas nas organizações. Entretanto, esta realidade foi se alterando, sendo exigido cada vez mais alcançar metas em níveis mais rigorosos.

Atualmente, as empresas buscam profissionais que saibam trabalhar em equipe, aceitam desafios e possam desenvolver projetos e ações atrelados a sua equipe e a gerencia. Nesse contexto a área de gestão de pessoas precisa assumir ações e estratégias para formar um alicerce competitivo. No conceito de Bergamini, (2013, p. 108): “A motivação pode e deve ser considerada uma força propulsora que tem as suas fontes frequentemente escondidas dentro de cada um”.

2.2 Gestão de Pessoas e motivação

A motivação é definida como motivo para agir, incluindo um elemento de estimulação, ação, esforço, movimento e persistência, bem como a recompensa. É um elemento fundamental para o ser humano. Determina a força que impulsiona o indivíduo a engajar-se em determinada atividade para alcançar seus objetivos. Independente dos motivos para agir, a motivação é um estado de espírito determinado e provocado por si próprio, podendo estar relacionada a fatores internos ou externos. Gerir pessoas é se responsabilizar por administrar e gerir o capital humano da empresa. Fator humano é o recurso mais importante de uma organização, pois, é a ponte para atingir os objetivos e as metas propostas. (OLIVEIRA, 2015, pg 108) Foram vários reflexos da segunda guerra mundial sobre o processo de liderança e gestão de pessoas, e um deles fez com que a administração de pessoal começasse a se preocupar mais com as condições de trabalho e com os benefícios disponibilizados aos seus empregados. (GIL, 2016, Pg 86) Para um bom resultado e sucesso na Gerência Organizacional, a gestão motivacional é o meio para manter os funcionários estimulados e promover um maior comprometimento com a organização.

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Segundo Kanaane (2017) os fatores motivacionais possuem uma mesma base, voltados a valores pessoais e sociais, porém há uma variação nas necessidades que movem cada indivíduo para atingir os objetivos estabelecidos. Com uma filosofia interna para valorizar o quadro de funcionários, o banco prefere preparar colaboradores para mudança de cargo incentivando os profissionais a superarem seus limites. “Estimular a criatividade em busca de soluções visando à satisfação dos funcionários, clientes e expansão dos negócios, é evoluir para a expansão”. Buscando na literatura encontrou em Gil (2016) que motivação é aquilo que leva uma pessoa a se comportar de um determinado modo a fim de cumprir um objetivo pois, segundo esse autor, “motivação é a força que estimula as pessoas a agir”. Para Reeve (2006), a motivação é o processo responsável pela magnitude, direção e perseverança que a pessoa tem para alcançar uma determinada meta, onde se procura definir as características pessoais, o papel e o ambiente do trabalho e, explicar a influência que afeta a motivação sobre o desempenho. A motivação está dentro de cada um. Vergara (2016) defende que a motivação é intrínseca, ou seja, que ela parte de cada um para acontecer ou não. Em outras palavras, ninguém é capaz de motivar ninguém se a vontade não partir da própria pessoa. Seguindo essa mesma linha de pensamento, Bergamini (2013) acredita que a motivação pode ser um sentimento vindo de dentro para fora, quando o próprio indivíduo possui maneiras de se auto motivar ou, pode vir através de fontes externas, por outras pessoas ou situações que levam esse profissional a buscar o melhor de si em suas ações. Complementando esta ideia: [...] todo comportamento motivacional só existe em função de um estado interior de carência, portanto quanto maior for este estado, maior será a motivação vigente, fazendo assim com que a necessidade seja sinônimo de motivação. Quanto maior a necessidade, maior a motivação. (BERGAMINI, 2013, p. 89)

Sabe-se que a motivação é o pensamento que se transforma em atitude. Tudo na vida exige motivação, de levantar da cama de manhã, dar início a uma nova dieta, começar um novo projeto no trabalho, até conquistar a pessoa desejada. Considerando esse raciocínio, o pensamento retrógrado de que a motivação é instigada por outras pessoas; sejam eles chefes, professores ou mesmo parentes ficou para trás. Ninguém tem capacidade de motivar ninguém, as pessoas apenas sentem-se inspiradas pelas outras. Quando se fala de motivação sempre tentamos entender o que motiva as pessoas e porque elas são motivadas. Ela nunca é aleatória ou surge do nada. O comportamento é sempre

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motivado e tal esforço pode ser proporcionado tanto por forças externas (de ambiente) quanto internas (de pensamento). Inteirando essa ideia: O comportamento é percebido como sendo provocado e guiado por metas da pessoa, que realiza um esforço para atingir determinado objetivo. A maioria dos autores considera a motivação humana como um processo psicológico estreitamente relacionado com o impulso ou com a tendência a realizar com persistência determinados comportamentos. (TAMAYO; PASCHOAL, 2003) Há pessoas que trabalham para realização pessoal, algumas trabalham por dinheiro, outras porque realmente gostam do que fazem. Algumas porque gostam de desafios, outras pessoas simplesmente gostam de preencher seu tempo com alguma ocupação, e há até aquelas que trabalham por status, sendo a motivação uma questão individual e diversificada. Cada pessoa é formada de opiniões e pensamentos diferentes, sonhos, necessidades, objetivos e desejos distintos, produzindo então comportamentos diferentes. Essa ótica nos leva à importância do estudo da motivação, que consiste basicamente em, compreender a individualidade de cada um e uni-los com os objetivos da organização. Sabe-se que a motivação além de gerar maior produtividade ela gera inspiração, dando ao funcionário a capacidade de ser inovador, já que um funcionário motivado é um funcionário criativo, sendo assim: [...] a pessoa motivada traz consigo, entusiasmo, seu humor melhora e ele acaba contagiando o seu ambiente de trabalho. (OLIVEIRA, 2015) Valorizar a pessoa, a profissão e a atividade do profissional, bem como estimular o pensamento criativo, aprimorar o relacionamento pessoal, o trabalho em equipe e melhorar a comunicação e o relacionamento entre a empresa e a família é abrir portas para o crescimento. O conhecimento das necessidades humanas pressupõe observação, mudanças e investimentos quanto à saúde, lazer, esporte e o bem estar da equipe de trabalho que transformam a insatisfação em qualidade pessoal, elevação da autoestima agregados a eficiência e produtividade. As empresas têm investido mais em recursos para motivar seus colaboradores. Pode-se observar várias técnicas que hoje em dia são aplicadas nas empresas e que tem dado bons resultados, ou seja, elas observaram que com a aplicação destes recursos, as metas e objetivos são atingidos com mais rapidez e eficiência do que antes se notava. Uma organização que pretende manter-se no mercado, precisa dar a devida atenção para a motivação constante da

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equipe, pois uma equipe motivada contribuirá significativamente para os bons resultados que se espera dela como um todo. É de suma importância que um líder, de qualquer nível hierárquico e de qualquer tipo de organização, visualize que motivar é algo a ser incentivado nas pessoas e para isso muitos recursos podem ser utilizados de maneira natural e satisfatória. As pessoas precisam perceber que tem potencial e capacidade para transformar algo que seria impossível em algo real dentro da empresa e para isso precisam ser estimuladas a produzir cada vez mais e melhor. Os bons resultados serão alcançados, o planejamento elaborado pela empresa será executado mais eficientemente e atingindo os objetivos estabelecidos. 2.3 Diferencial competitivo da ‘Organização bancária’ “Diferenciação é o ato de desenvolver um conjunto de diferenças significativas para distinguir a oferta da empresa da oferta da concorrência”. Com a globalização o mercado de trabalho tornou-se cada vez mais exigente quanto aos conhecimentos e habilidades de trabalhadores. Esse banco, uma das maiores instituições financeiras privadas do País, conduz duas grandes linhas de negócios com atividades de intermediação financeira e demais serviços bancários e Seguros. A instituição está presente em todos os municípios brasileiros com diferencial competitivo refletindo em uma rede composta de mais de 100 mil postos de atendimento entre agências, pontos de atendimento, máquinas de atendimento e Bradesco Expresso. Compõe-se de mais de 73 milhões de clientes e 100 mil funcionários, além de somar ativos superiores a R$ 1 trilhão. Sua sede corporativa está localizada na Cidade de Deus, no município paulista de Osasco. Desde a sua fundação, a Organização oferece ampla variedade de produtos e serviços bancários, financeiros e de seguros por meio de estrutura segmentada que atende clientes pessoas físicas e jurídicas. Além de promover ações em diversas frentes, como o incentivo e desenvolvimento de startups tecnológicos, coloca à disposição do mercado produtos que ajudam a fomentar a economia, como os programas de Arranjo Produtivo Local (APL). O novo modelo de Gerência tornou-se uma questão de sobrevivência para as organizações na busca de desenvolver novas estratégias e promover a flexibilização de sua

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estrutura em que valoriza a capacidade intelectual coletiva dos funcionários para vencer os desafios e alcançar vantagem na competitividade. Esse banco trabalha com dois pilares fundamentais sobre qualidade de vida: uma frente que fala do “Cuidar” e outra frente que fala do “Desenvolver”, ligados à questão de qualidade de vida e do bem-estar no trabalho como um todo. Considerando que, o banco é uma organização de carreira, observou-se que a empresa desde sua fundação, estimula e investe em ações voltadas para o desenvolvimento saúde e segurança por meio de programas específicos como por exemplo, gestação saudável, promoção e incentivo das atividades físicas, promovendo a satisfação de suas equipes. Para a empresa, à medida que o funcionário demonstra satisfação pelo trabalho, o retorno positivo é garantido e propicio a melhores resultados. Recompensa-se pelo desempenho e pela competência desenvolvida a fim de manter o colaborador motivado (CODA, 2016, p.47).

2.4 Identificar e estimular talentos e motivações

A Reforma Gerencial da Administração no Brasil iniciada na década de 90, estagnada no tempo, não mais respondia com qualidade e eficiência às necessidades e demandas das organizações e dos cidadãos, sendo necessário adotar modelos de gestão flexíveis, inovadores, capazes de responder com rapidez, eficiência e qualidade às demandas da sociedade de um mundo globalizado. Na Gestão de pessoas, o novo modelo de gestão sugere na formação de equipes, que os cargos sejam atualizados e adequados aos funcionários de acordo com as habilidades percebidas, evitando a insatisfação e desmotivação funcional. Compete ao gestor da organização, estimular talentos, valores, identificar as motivações e manter a integridade dos funcionários no ambiente produtivo. Para entender os desafios da gestão de pessoas na organização, cabe ao gestor estabelecer o contexto que envolve a humanização das relações e os resultados a enxergar os profissionais não apenas como números e elementos influenciados por recompensas materiais e salariais. Conforme D’área-Tardeli (2016): Para motivar um colaborador é necessário identificar as suas necessidades, e uma das formas de descobrir é através da Teoria de Maslow, onde faz menção de 5 tipos de necessidades (necessidades fisiológicas, de segurança, necessidades sociais, autoestima e auto realização).

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Funcionários motivados tendem a proporcionar melhores resultados garantindo o sucesso das empresas. O fato das empresas falhar não esta ligado somente a falta de conhecimento, mas também a maneira em que as pessoas são lideradas. A motivação humana influencia na qualidade dos produtos e serviços prestados. Kanaane (2017, p. 58) fala que “se as pessoas falham em agir, acompanhar, tomar decisões, analisar ou avaliar, os projetos desviam-se do seu curso.” A produtividade não deve ser limitada apenas á produção de bens, pois a produção de trabalho deve ser eficiente e econômica.

3. MÉTODO

Para construção deste artigo, quanto à finalidade da pesquisa foi adotado a pesquisa básica, que para Gil (2017, p. 26) “reúne estudos eu tem como propósito preencher uma lacuna no conhecimento”. O autor acrescenta que além de ampliar o conhecimento da temática pesquisada, a pesquisa básica proporciona a busca de novos conhecimentos e a interdisciplinaridade das áreas do saber, a fim de verificar razões dos problemas práticos. Em realização aos objetivos da pesquisa, é caracterizado o estudo exploratório, pois visou por meio da pesquisa bibliográfica e em campo a familiarização da temática estudada (GIL, 2017). Na visão de Appolinário (2015) o estudo exploratório é bastante flexível quanto ao fenômeno estudado e difícil caracterizar estilo único de pesquisa, com isso, para a realização do estudo exploratório em xeque, além do levantamento bibliográfico, foi selecionada uma agência bancária de natureza privada localizada na cidade de Governador Valadares, mais especificamente no bairro Vila Isa. Referente à natureza da pesquisa, é de cunho quantitativo que “caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas” (RICHARDSON et al, 2017, p. 70). Já MARCONI; LAKATOS, 2017, (p. 285) define a pesquisa quantitativa como a “descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”. O instrumento de coleta de dados foi um questionário composto exclusivamente de doze perguntas fechadas, aplicado entre os dias 31 de outubro de 2018 a 16 de novembro do mesmo ano visando verificar o tópico de maior interesse nesta pesquisa, ou seja, se o sistema de gestão

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de pessoas adotado pela agência estimula e promove a manutenção da motivação de seus funcionários. Esse trabalho se deu em duas etapas distintas. Na primeira, foi realizado um estudo teórico, ocasião esta que foram consultadas diversas obras que enfocam a temática da motivação nas organizações. De posse de tal embasamento, elaborou-se um questionário para investigar em campo a motivação dos funcionários de uma agência bancária localizada no Bairro Vila Isa, em Governador Valadares / MG. Optou-se pela utilização do questionário, pois ele é um instrumento de coleta de dados muito importante. A possibilidade de ser anônimo representa uma vantagem sobre a entrevista. Não havendo identificação o pesquisado se sente mais à vontade para responder as questões solicitadas. Também, o entrevistado pode responder o questionário no momento que melhor lhe aprouver, sem interromper ou prejudicar as suas atividades na empresa. (GIL 2017) O questionário foi aplicado por e-mail, sendo quatorze questionários disparados, com uma taxa de resposta de 92, 30%, ou seja, 13 (treze) questionários foram respondidos. Constou de questões que suscitavam respostas correspondentes a atributos valorativos, descritivos, expectativas e instrumentalidade.. . 3.1 Análise dos resultados

Do total distribuídos, ou seja, 14 questionários, apenas um não foi respondido. Na primeira foi indagado sobre o esforço das pessoas da agência na execução de trabalhos. Nesta questão 11 pessoas assinalaram que as pessoas encontram-se comprometidas com seus trabalhos. A segunda questão focou na satisfação no setor onde trabalha e todas as pessoas disserem estar satisfeitas no local de trabalho A terceira questão indagou se o setor de trabalho é bem estruturado e 10 pessoas disseram concordaram totalmente. A quarta questão focou-se na proporcionalidade entre esforço e recompensas, entre direitos e deveres no trabalho e 09 responderam que há proporcionalidade. Essa resposta surpreende, pois difere do que se supunha. A presença dessa proporcionalidade cria um clima propício para o desenvolvimento das atividades. Na Quinta questão indagou-se aos funcionários se os mesmos consideram-se reconhecidos e respeitados pelo trabalho que executam. Dos 13 participantes, 11 afirmaram que são reconhecidos pelo que fazem. TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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Dando continuidade, foi perguntado se o ganho financeiro era suficiente e estava de acordo com o esforço. Como era de se esperar, a maioria, ou seja, 11 disseram que é pouco para fazer frente a suas despesas, portanto precisariam ganhar melhor. Na questão que indaga se todo dia o funcionário faz tarefas muito parecidas, 11 pessoas disseram que sim, confirmando a expectativa, pois a rotina faz parte do cotidiano do trabalho bancário. Perguntamos se eles encontram prazer em trabalhar e realizar suas tarefas. Todos concordaram que sim, gostam do que fazem. Na questão seguinte, perguntamos se a gerência é participativo, motivadora e promove qualidade de vida dos funcionários e 11 pessoas responderam que sim. Perguntamos também se eles colaboram para o desenvolvimento da sociedade com o seu trabalho. Sobre isso, todos responderam que sim. Questionou-se também se eles assumem as consequências do que decidem em seus trabalhos, todos disseram que sim, assumem E por fim, perguntamos se é um meio de satisfação pessoal. Nesta questão apenas um disse que não preenche sua satisfação pessoal

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, as insituições financeiras, digam-se os bancos, procuram realizar mais atividades voltadas para os negócios cujos dividendos são mais significativos dos que aqueles que vinham realizando até tempos atrás, como recebimento de contas de água, energia elétrica, telefone, enfim, boletos de modo geral. Esse tipo de atividade foram perpassadas para os correspondentes bancários e demais empresas do gênero. Pois acreditam que agindo dessa maneira os funcionários ficam mais liberados para realizarem negócios que para a instituição é bem mais interessante em termos de retorno financeiro. Conclui-se com base nas informações levantadas no decorrer deste trabalho que a constante necessidade do mercado, fator que garantirá às organizações uma boa visibilidade, competitividade e resultados positivos, está intimamente relacionada à gestão motivacional de pessoas. Por fim, estudaram-se as teorias motivacionais, com informações baseadas em estudiosos da área e, reunindo tais pesquisas, fica claro que a motivação é um elemento de extrema importância nas organizações. Estas devem focar suas atenções e investir no relacionamento motivacional com sua equipe de trabalho, bonificações, treinamentos, TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022

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capacitações, participação nos lucros e segurança profissional, são alguns dos fatores que demonstram a disponibilidade da empresa para com seus colaboradores, tais ações valorizam o trabalhador, tornando-o motivado e comprometido com as metas e políticas da empresa e focando seus esforços mais amplamente a fim de alcançá-los.

REFERÊNCIAS

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