Versus Magazine #59

Page 1


EDITORIAL

V E R S U S M A G A Z IN E Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal Email: versusmagazinept@gmail.com

IN S TA G R A M versusmagazinept

FA C E B O O K versusmagazinepage

P U B L IC A Ç Ã O B IM E S T R A L Download Gratuito

D IR E C Ç Ã O Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

Nã o qu e ria escrever est as palav ras e refe re n ci a r o te m a m a i s fala d o d o s ú lt i mos mui tos meses: a pa n de mi a ; ma s n ã o co nsigo falar sobre a enorme qual i da de do mun do d a s arte s e co mo consegui u reagi r e a da pt a r-s e à s d i f í ce i s co nd içõ es em que teve de v i ve r e s te s te m pos em Po rtu g a l e no est rangei ro. Se v i rmos a s vá ri a s form a s a r tí s ti ca s q u e exi stem - não só em torn o da m ús i ca - e co m o to d as ela s são ext remamente de pe n de nte s de p ú b l i co ( logo ab s olut amente frágei s a q ua l que r a m e a ç a à l i vre circu la ç ã o de pessoas), percebem os que que m v i ve d a m ú sica está possi velmente a passar pe l a pi or fa s e da s ua vid a p rof issional. Serão out ras áreas t ã o s e n s í ve i s a o te m a? Não tenho a respost a e conv i do- o a re s pon de r-n os , c a s o a tenha . Mai s uma vez o met al é u m ca s o a i n da m a i s n i c h o e te m sof ri do especi almente po r t udo i s to. Numa era e m q u e já n a normali dade, a vend a de m ús i ca n ã o p a g a a co nta d a luz; em que os músi cos tê m de ce nt ra r es fo rço s nas a ctuações ao v i vo … t ud o s e torn a m ui to co m plicad o . Mu itos proj ec tos verão um té rm i n o, out ros p rovavelme nte terão nasc i do ou sobrev i v i do compon do m ús i c a à d istância. Est údi os de gravaçã o j á a pos t a m t udo n o trab a lho re moto (até o soft ware se e s pe ci a l i z a n i s s o), p ro d uto re s e p romotores agora nun ca s e con h e ce m p e s s o a lme nte, apenas em v í deo- c ha m a da s ; e nfi m , o m un d o já tinha mudado mui to, agora foi um t s un a mi q u e i rá mu d ar as coi sas de forma mui to profun da , pa ra s e m p re, se g u nd o alguns espec i ali st as. O que que ro di ze r é: Ob riga d o a e s t a gente da arte, pelo e s forço e n orm e e Fo rç a p a ra o q ue ai nda aí vem para l ut a r! Forç a a e s t a ge nte q u e sof re t udo na pele, quase ca i ma s l eva nt a s e s e mp re, p a ra lut ar, para que a sua a rte s obrev i va e co nti n u e a inf lu enc i ar as pessoas, cont i n ue a m a rca r, a c r i a r ad miraç ã o , a músi c a não é só músi ca e o m et a l n ã o é s ó m eta l; é tão mai s do que apenas i sso. Som os gra n de s , s o m o s o s maio re s ! Adriano Godinho

2 / VERSUS MAGAZINE

COLABORADORES Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa, Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, João Paulo Madaleno, Nuno Lopes e Victor Alves

F O T O G R A F IA Créditos nas Páginas

C A PA Foto: Martin Häusler Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGAZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-ComercialNão a Obras Derivadas 2.5 Portugal.

O U T IL IZ A D O R P O D E : copiar, distribuir, exibir a obra

S O B A S S E G U IN T E S C O N D I ÇÕES: AT R IB U IÇ Ã O - O uti l i za dor deve dar crédi to ao autor o r iginal, da for ma especi fi cada pel o aut or ou l i cenci ante.

U S O N Ã O - C O M E R C IA L . O ut ilizador não pode uti l i zar esta obr a par a fi ns comerci ai s. N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S . O uti l i zador não pode al terar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.


44

HELLOWEEN

Foto: Fabio Augusto

C O N T E ÚDO Nº59

0 5 T R I A L B Y FIR E

30 IVO B R O N C A S

0 6 N O TÍC IA S

32 SEPULT U R A

08 RIP

42 ALBUM V E R S U S

1 0 E X ISTE NCE : VO ID

52 ARM A D A L U S A

7 8 PA L E T E S D E M E TA L

1 4 T H Y C ATA FA L QU E

54 CURTA S V E R S U S

92 GARAGE POWER

1 6 D E CL INE OF TH E I

56 RAGE

9 8 V IC K Y P S A R A K IS

2 0 N U NO LO P E S

59 PLAYL IS T

102 DORDEDUH

60 M ISS L AVA

1 0 4 D O D IC I C IL IN D R I

MOSH

2 1 E MA NU E L RO R IZ

A C U L PA É D O C E M I TÉ R I O

2 2 C R ÍT ICA S VE RS U S

P O S TA S D E P E S C A D A

66 CARCOLH 7 0 A N T R O D E F O L IA

EXISTENCE: VOID

SÉRIE AERONÁUTICA GORILA

7 6 A Z O R E S & M E TA L

A L E X VA N T R U E

O DELOREN DE OURO

64 M OON O R A C L E

3 / VERSUS MAGAZINE


4 / VERSUS MAGAZINE


Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforçado

3

Esperado

Helder Mendes

Hugo Melo

2

JP Madaleno

Básico

Adriano Godinho

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Gabriel Sousa

Nuno Lopes

2.0

4.0

4.5

3.0

3.5

4.0

3.0 3.5

2.5

--- 3.3

3.5

4.5

2.5

4.0

4.5

2.5

4.0 4.0

2.0

---

3.0

2.0

3.0

---

3.0

2.0

3.0 2.5

3.0

--- 2.7

2.0

4.0

4.0

2.5

3.5

3.5

--- 3.0

3.0

--- 3.2

2.0

1.5

2.0

2.5

3.0

1.5

--- 3.5

2.5

--- 2.4

1

MÉDIA

HEL L OW E E N

H ello wee n

(Nuclear Blast)

3.5

I N THE COMPANY OF SE RPE NTS Lu x (Petrichor)

LAN TL ÔS

Wildh un d

(Prophecy Productions)

SKYE Y E

S old iers Of Light (Reaper Entertainment)

TAAKE Avvik

(Dark Essence Records)

5 / VERSUS MAGAZINE


Notícias Mors Principium Est volta às origens

Após o desentendimento público entre o Ville Viljanen e o Andy Gillion e, consequente, saída deste último dos Mors Principium Est, foi anunciado através das redes sociais o regresso dos guitarristas originais, Jori Haukio e Jarkko Kokko. Também regressa à banda Teemu Heinola (baixo). Marko Tommila (bateria) passa a ser membro oficial. E já começaram a trabalhar no próximo álbum.

Amplifest 2021…22

Depois de ter sido dado como esgotada, a edição 2021 do festival Amplifest é adiada para 2022. O festival que tinha já confirmado nomes como Amenra, Cult Of Luna, Oranssi Panzuzu ou Pallbearer, passa a estar agendado para os fins de semana de 7,8 e 9 de Outubro e também para o seguinte, nos dias 13, 14 e 15 de Outubro. O local será novamente o já tradicional Hard Club no Porto. Com a adição de um segundo fim de semana chegam também novas confirmações de peso no cartaz com a novidade da presença dos Godspeed You! Black Emperor, Lingua Ignota ou Swans. Informações sobre os bilhetes podem ser consultadas no site da promotora Amplificasom.

Fernando Ribeiro – Livro Bairro sem saída

Depois de 3 livros de poesia, Fernando Ribeiro, vocalista dos portugueses Moonspell chega finalmente aos romances com a edição de “Bairro Sem Saída”, numa acção que se desenrola junto das suas origens, na Brandoa. O livro já se encontra disponível desde o passado mês de Maio, tendo sido editado pela Suma de Letras. Fernando Ribeiro afirma ainda ter várias ideias anotadas para diferentes romances e não esconde o desejo de lhes poder dar forma.

Metallica: 30 anos de Black Album

Com lançamento digital já disponível desde 10 de Setembro e em vinil a 1 de Outubro, os Metallica celebram o 30 º aniversário do seu álbum homónimo (“Black Album”), com uma edição um tanto ou quanto inédita. Um total de 53 artistas, com as mais variadas orientações musicais, gravaram versões dos 12 temas do disco e algumas destas canções têm vindo a ser já lançadas nas plataformas de streaming. O lote de artistas vai desde Ghost, Corey Taylor até Miley Cyrus ou Juanes, passando, por exemplo, pelos Volbeat, Idles, Cage The Elephant e Biffy Clyro. Os lucros das vendas reverterão a favor de instituições de caridade escolhidas por cada um dos artistas participantes.

Bizarra locomotiva – novo EP Fenótipvs

No passado dia 20 de Agosto foi lançado o novo EP dos portugueses Bizarra Locomotiva. Já a caminho das 3 décadas de actividade, Fenótipvs é um lançamento intermédio, enquanto não chega o sucessor de «Mortuário». Composto por 4 temas, “Veia Do Abandono” e “Dança Da Morte” são as novas composições, que estão aqui acompanhadas por versões dos Heróis do Mar e Radio Macau.

Deicide e muito mais no 23º SWR Barroselas Metalfest

A 23ª edição do SWR Barroselas Metalfest que já foi adiada por dois anos consecutivos devido à crise pandémica, vê o seu cartaz enriquecido com a confirmação da presença dos Deicide, reis do death metal e da blasfémia. Glen Benton e companhia estreiamse então no clássico festival minhoto e ainda trazem com eles os colectivos brasileiros Krisiun e Crypta.

6 / VERSUS MAGAZINE


7 / VERSUS MAGAZINE


Joey - #1 Lembro-me perfeitamente da primeira vez que vi e ouvi Slipknot. Muito embora o uso de máscaras não fosse à data algo um conceito inovador, havia algo na postura e na música que os fez sobressair das restantes bandas que lhes foram contemporâneas. Foi como se um vento ciclónico, movimentando-se caótica mas cirurgicamente, tivesse atingido a cena musical sem aviso, e tivesse apanhado todos desprevenidos. Musicalmente, a minha atenção era constantemente desviada para a bateria. Quantas vezes não dei por mim a ouvir Slipknot, precisamente para a ouvir. A forma como Joey Jordison tocava o seu instrumento, era quase magnética, atraindo inevitavelmente a atenção dos ouvintes. Foi sem sombra de dúvida um dos principais responsáveis pelo sucesso da banda. Não só porque o seu estilo muito próprio de tocar impulsionou as músicas dos Slipknot para um outro patamar, como também pelo facto de ser, como Corey Taylor já referiu, “um general dentro do estúdio.” Foto retirada de https://www.joeyjordison.com/slipknot/ - credito ao seu autor

Capaz de performances espetaculares ao vivo, foi sem dúvida, a dada altura, um dos melhores bateristas da cena metal. Quem não se recorda dos solos de bateria enquanto rodava e ficava na vertical? (Uma espécie de Tommy Lee, não completamente ao contrário, mas os seus solos também eram bem mais complexos..). Não só um dos rostos da banda, como também um dos rostos do movimento, teve o seu talento reconhecido por fãs e pares. Foi um autêntico pronto socorro para algumas bandas, caso dos Metallica, Korn, Marilyn Manson, Otep, Rob Zombie entre outras. Provavelmente a doença neurológica que se manifestou por volta de 2013 ditou o seu afastamento dos Slipknot, e quiçá a sua própria morte. Não há como não nos sentirmos insignificantes quando temos conhecimento que um dos melhores músicos da cena, de repente, perde o uso das suas pernas. Mais uma “Disasterpiece” na história da música. Texto: Ivo Broncas

8 / VERSUS MAGAZINE


Jeff LaBar – “One (more) For Rock and Roll” Quem passou pela década de 80/90, teve que lidar da melhor ou pior forma com o Glam Rock, Hard n’ Heavy ou mais uns quantos estilos onde os cabelos em forma de permanente ditavam as regras. Eu fui um desses gajos que lidou (e ainda lida) perfeitamente com estes estilos, diria mais… cresci a ouvir e a idolatrar as bandas que representavam esta forma de estar na música – se agora continuo serão “contas de outro rosário”. No entanto, ficaram sempre marcadas um punhado de delas que marcaram essa época e que, regularmente, vou matando saudades. Os Cinderella foram uma dessas bandas e uma das memórias que tenho bem presente foi de estar a ver, numa televisão a preto e branco, o Moscow Peace Festival – estávamos em 1989 e tinham lançado há o «Long Cold Winter». Não me esqueço da primeira vez que vi uma guitarra a girar à volta do pescoço… foi o Jeff LaBar nesse mesmo evento. Os Cinderella têm, somente, quatro álbuns, três dos quais poderemos dizer que pertencem ao do que melhor se fez no Hard Rock. («Still Climbing» surge já após os problemas de voz de Tom Keifer). Jeff LaBar foi sempre a sombra de Tom Keifer mas um elemento preponderante e energético nos Cinderella. Após o término da banda, Jeff teve mais um ou dois projectos musicais, acabando a gerir uma pizzaria e trabalhar na construção. Infelizmente acabou por falecer no dia 14 de Julho de 2021. Texto: Eduardo Ramalhadeiro | Foto retirada de https://www.cinderella.net - credito ao seu autor

O inconfundível Mike Howe Os Metal Church são uma instituição no Heavy Metal. Não estarão naquele primeiro plano da NWOBHM – mas são uma banda com uma sonoridade bastante distinta e que também ajudaram (e muito) a moldar o Thrash Metal e o movimento tal como o conhecemos hoje. Kurdt Vanderhoof formou a banda e o primeiro álbum saiu em 1984, Mike Howe só entrou como vocalista dos Metal Church em 1989, no álbum «Blessing in Disguise» mas voltou a sair em 1993. Após um hiato de 23 anos, Mike voltou para a banda e gravou mais três álbuns, tendo eu a sorte de os ver actuar no Vagos Metal Fest de 2017. Nesse dia Mike estava em grande forma, voz inconfundível, com um grande alcance… grande concerto! Mike Howe e os Metal Church ajudaram a erguer e a manter o Thrash. Ao longo destes quase 42 anos foram e são senhores de uma musicalidade bastante distinta, tudo também graças a Mike. Os Metal Church têm planeado novo álbum em 2022 e será complicado substituir Mike Howe…. pois esse era único. Texto e Foto: Eduardo Ramalhadeiro

9 / VERSUS MAGAZINE


Um vazio cheio de melodia Como se costuma dizer agora: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se!” É o que acontece com o nome desta banda e – já agora – também com a sua música. Os amantes de Black Metal cruzado com outras influências têm aqui uma estreia – adiada – a não perder. Esperamos onze anos, mas valeu a pena, sem dúvida nenhuma. Entrevista: CSA | Ernesto Martins

1 0 / VERSUS MAGAZINE


[O lançamento] Acabou por ser um acaso da vida, não houve qualquer decisão sobre isso. Só agora os planetas se alinharam […]

Olá, Filipe! Espero que esteja tudo bem contigo e a banda. É sempre um enorme prazer descobrir que um álbum maravilhoso é… português. E é bem verdade que o Metal já anda há uns largos anos a pôr Portugal no mapa da Europa e do mundo! Filipe: Existence: Void já existe desde 2010 e está agora a lançar o seu primeiro álbum. - Foi uma decisão da banda ou um acaso? Filipe – Acabou por ser um acaso da vida, não houve qualquer decisão sobre isso. Só agora os planetas se alinharam, haha! Acabou por ser um acontecimento refém de algumas conjeturas das nossas vidas pessoais. - O que andaram a fazer durante estes 11 anos? Filipe – Além da progressão das carreiras pessoais, surgiram os Destroyers Of All, banda em que sou mais ativo. Além disso, aceitei o convite dos Grimlet para ser o seu baterista. Além disso, participei/participo em outros projetos, além da Nox Liberatio Records, e expandi a minha

magazine, a The Black Planet. O Alex tem estado ocupado com um outro projeto, que irá surgir em breve. O Diogo também tem trabalhado em composições. O João mantém-se ativo nos Terror Empire, abriu o seu estúdio – o Golden Jack Studios (Coimbra) – onde foi gravado o disco. Para alegria de alguns, o João também esteve muito ocupado a compor o segundo disco dos Antichthon. - Em que medida esse percurso influenciou a música que podemos ouvir neste álbum? Filipe – Com o passar dos anos todos evoluímos como compositores e performers, enquanto o nosso gosto musical também se foi transformando. Acredito que o tempo fez com que os temas apresentados neste disco tenham maturado bem. Algumas influências descobertas durante este período também ganharam o seu lugar na nossa música. Falando agora deste álbum, focado no vazio existencial… - Que temas abordam nele? Alex – Não diria que nos focamos

no “vazio existencial”. Não gosto dessa expressão, invoca a ideia de se “sentir vazio”. Demasiado DSBM. Diria antes que abordamos o niilismo numa perspetiva filosófica, não para o celebrar ou para rebolar nele como um porco na lama, mas sim enquanto um fenómeno inevitável. Inevitável, mas não um fatalismo. Como tal, investimo-nos na sua superação, continuando a doutrina iniciada por Nietzsche. Tanto a perspetiva ocidental do niilismo quanto a oriental são abordadas, nomeadamente na forma do budismo, mas prepondera a imagética ocidental, sendo nós ocidentais. - Na edição do Eixo do Metal em que foram entrevistados, o Alex afirmou que, apesar de se tratar de um “álbum filosófico”, criou uma narrativa para o fundamentar. Sabes dizer-nos de que fala essa narrativa? Alex – Tão simplesmente, os temas acima mencionados estão revestidos de uma narrativa ocultista e iniciática, reminiscente dos Illuminati e influenciada

11 / VERSUS MAGAZINE


pela visão estética de Stanley Kubrick. Cada música tem a sua narrativa, frequentemente incorporando referências a doutrinas filosóficas, mas também elementos tradicionais. Tomese, como exemplo, a “Old Saint”, na qual está presente uma clara alusão à lenda da “Santa Compaña”, uma procissão assombrada tradicional do Norte de Espanha e Portugal. A lenda conjuga-se com o personagem de “Assim Falava Zarathustra” homónimo da música. Convido os ouvintes a investigar o texto de cada letra, se quiserem encontrar o significado último de cada música. - Neste disco, o Alex usa vocais de um estilo mais para o gritado e não tanto o registo áspero típico do Black Metal que usou nos Antichthon. De onde veio esta ideia? Há alguma razão especial para esta abordagem diferente? Alex – Houve sim. Enquanto vocalista, acredito que cada projeto merece uma voz diferente, ainda que só ligeiramente. Cada projeto tem o seu contexto e as vozes devem adaptar-se. Não gosto da ideia de se ser um “one trick poney”. Neste caso, as músicas foram compostas pelo Diogo.

Como tal, pesquisei que género de vocais prevalecia entre os projetos que o influenciaram, como Cult of Luna, e deixei-me influenciar na mesma medida. Senti também que Existence:Void quereria uma voz mais humana e não somente monstruosa. Note-se, porém, que estão as duas presentes. - Quem vos fez a capa e como a relacionam com o tema do álbum? Alex – Trata-se de um fragmento do quadro de John Martin, “The Great Day of His Wrath”, pintado em 1851. A pedra ardente que domina o céu da sua paisagem foi hipnótica para nós. É uma paisagem bíblica na qual o mundo é mastigado pelos dentes de Deus, um cenário de destruição. John Martin não calcularia, penso, que esta imagem se assemelhasse tanto à ideia contemporânea da criação do mundo, do berço vulcânico que foi em tempos o nosso planeta. Eis como se relaciona com «Anatman». Esta tempestade de fogo conjurada pelo divino é uma representação do poder que há no Universo, que existe não para o ser humano, nem por causa dele, mas apesar dele. O “cosmicismo” de H.P. Lovecraft como destruidor do solipsismo humanista.

- De entrevistas anteriores, já soubemos que a banda engavetou o álbum em 2011 por não estar satisfeita com a produção e por não ter, nessa altura, as condições técnicas que permitissem obter uma gravação melhor. Mas por que razão não procuraram, na altura, as condições necessárias, eventualmente fora de Coimbra e até com um produtor externo? É que fica a ideia que tinha tudo de ser feito necessariamente no Golden Jack Studios. Porquê? Filipe – Talvez devido à falta de alguns fatores tais como conhecimento, verbas e disponibilidade. Naquela altura, o Golden Jack Studios não existia, nem estava planeado existir. Decidimos esperar até haver condições e disponibilidade, até conseguirmos atingir a qualidade que achávamos que a nossa música merecia para ser veiculada. Apressar as coisas geralmente dá mau resultado. - Face à excelente receção que o álbum está a suscitar, não vos ocorre agora que tinham uma pérola demasiado preciosa para estar escondida do mundo durante tanto tempo? Alex – Vários fatores alinharam-

É uma regravação de tudo o que fizemos em 2011, sim. Mas as composições foram refinadas e também as letras reescritas e melhoradas.

1 2 / VERSUS MAGAZINE


se para, finalmente, permitir o lançamento deste trabalho. Fizemo-lo primeiramente para nós. Para o lançar para os outros, porém, foi crucial reunir as condições certas para garantir um lançamento dignamente trabalhado. Esse momento foi agora e, com o Golden Jack Studio firmemente estabelecido, novos lançamentos virão facilmente. Na altura, separados por fronteiras e diferentes projetos, simplesmente não tivemos oportunidade de o fazer. Filipe – É possível! No entanto, mais vale tarde que nunca. Quantos discos te vêm à memória que poderiam gozar de maior impacto, se tivessem uma produção em condições? Estou feliz que tenha finalmente saído, parece ser a altura certa. No entanto, também sinto que o disco está a passar ao lado de muita gente, infelizmente. - Este disco inclui todo o material que gravaram originalmente em 2011 ou ficou alguma coisa de fora? Alex – É uma regravação de tudo o que fizemos em 2011, sim. Mas as composições foram refinadas e também as letras

reescritas e melhoradas. De facto, temos composições novas, mas preferimos excluí-las deste lançamento e poupá-las para um próximo, mesmo ficando este álbum com uma duração reduzida. Tudo por uma questão de consistência, visto que evoluímos nas nossas composições desde então. Desta vez, apostaram numa combinação de editoras nacionais. Há alguma editora estrangeira que tente os Existence: Void? [Nos comentários à vossa entrevista no Eixo do Metal, alguém sugeriu a Season of Mist.] Filipe – Falou-se na Season of Mist, Transcending Obscurity e outras... Mas estamos bem como estamos. Somos muito valorizados pela Nox Liberatio e pela Gruesome. Como veem a perspetiva de virem a fazer concertos? Alex – Estamos abertos à possibilidade. Porém não será fácil, dado que membros-chave estão separados por países diferentes. Gostaríamos que acontecesse, claro, mas procurando apostar na qualidade antes da quantidade. Pelo menos um concerto grande

e memorável é o nosso objetivo próximo. Já pensaram na hipótese de fazer algum evento em streaming, opção que muitas bandas têm adotado nestes últimos tempos? Filipe – Sim, porém acreditamos que um evento ao vivo transmite muito melhor a nossa energia e atmosfera. Novamente, mais vale tarde que nunca. Tendo em conta que tudo o que está em «Anatman» é material “antigo”, faz sentido perguntar se já estão a trabalhar em composições novas? Como estão a sair? Alex – Sim, estamos. Posso dizer que há uma evolução, mas que, sendo o Diogo o compositor, a alma característica das suas composições mantém-se. Devo lembrar que todos nós compomos, e podemos pontualmente contribuir com uma ideia, mas as composições de cada um estão destinadas a projetos diferentes, alguns prestes a sair pelo Golden Jack Studios. Fiquem atentos. Filipe – Muito obrigado pelo vosso interesse e pelo apoio na divulgação! Um abraço a todos. Facebook Youtube

13 / VERSUS MAGAZINE


Fluir musical

Tamás Kátai, a alma de Thy Catafalque, conclui que a longa discografia da banda é afinal um único álbum, que se vai manifestando aos poucos. Entrevista: CSA

Saudações, Tamás! Como tens passado? Espero que esteja tudo bem contigo. Tamás – Estou bem, obrigado. Deve ser a sexta vez que te entrevisto!!! Aqui temos mais uma aventura musical que nos é proporcionada por Thy Catafalque. - O que nos podes dizer sobre este novo álbum? Ora bem! Este é o nosso décimo álbum. Para mim é sempre um grande marco na vida de uma banda alcançar este número de

1 4 / VERSUS MAGAZINE

álbuns. Tem uma duração superior a uma hora e, de um modo geral, parece-me que é mais tenebroso que «Naiv». É menos lúdico e mais intenso, embora também inclua canções e motivos mais alegres em alguns dos seus momentos. - Como te veio a ideia de o criar? Não há nada espetacular nisto. Quando «Naiv» foi lançado, já tinha uma canção nova feita. Para mim, é uma espécie de fluir constante, pelo menos nos últimos anos. Não me sinto a compor álbuns, parece-me que estou a criar um único grande álbum ao longo da

minha vida e deixo-me levar pela corrente. Mas há situações na vida em que a música não é a nossa prioridade ou nem sequer está na mesa. Já me aconteceu várias vezes e estou certo de que voltará a acontecer, por isso, enquanto posso e tenho energia e vontade para o fazer, dedico-me a criar música. Quando for tempo disso, pararei e farei o que for mais importante nessa altura. - De que trata o álbum? «Vadak» significa “animais selvagens” em Húngaro. O conceito-chave do álbum é a


[…] parece-me que é mais tenebroso que «Naiv». É menos lúdico e mais intenso, embora também inclua canções e motivos mais alegres em alguns dos seus momentos.

ideia de que nós, humanos, como todas as criaturas vivas, andamos escondidos e a fugir numa floresta de tempo até ao fim inevitável. É claro que a floresta é uma alegoria. A capa é muito diferente das dos teus outros álbuns. - Foste tu mesmo que tiraste a foto? Sim, foi tirada por mim. - É uma montagem ou o modelo estava mesmo no alto de uma montanha? É 100% real. Tirei esta foto durante a gravação do vídeo para “Embersólyom”, que foi rodado nas montanhas Bükk, no norte da Hungria. Se fores ver o vídeo, reconhecerás a jovem: é a Irénke, que pintou a capa para «Naiv» e a quem dediquei uma canção no novo álbum. Além disso, foi ela que forneceu a estranha e misteriosa frase que figura na canção intitulada “Tsitsushka” em «Naiv». - O que exprime esta bela foto? Como a relacionas com o conceito do álbum? Como já referi, o título do álbum refere-se a animais selvagens e, na foto, o modelo parece mesmo um animal da floresta, pronto a desaparecer a qualquer momento. A foto tem um toque pessoal, que é importante para mim. Usaste o teu velho equipamento para compor este álbum (incluindo o Korg)? Na realidade, não. Levei o velho Korg para casa, em Makó, há um

ano atrás, na esperança de me divertir com amigos de longa data e tocarmos juntos, mas isso nunca aconteceu sobretudo devido à pandemia. O teclado ficou lá até há pouco tempo atrás. Quando o consegui trazer, já tinha acabado de gravar o álbum. Mas usei a minha velha guitarra Ibanez de sete cordas, como sempre desde 2008. É mais pesado que o último, não é verdade? Provavelmente, sim. É mais pesado e escuro e menos alegre que «Naiv». No entanto, isso não aconteceu propositadamente, aconteceu assim. Adorei tocar depressa e escrever riffs de Metal. Na minha ideia, um bom riff alegra sempre o meu dia. Convidaste muitos artistas para este álbum. - Como fizeste para os recrutar? A pandemia não tornou o processo mais difícil? Pelo contrário. Devido à situação global, os músicos estão em casa e tentam tocar música sempre que for possível. Alguns encontrei-os na internet e outros conhecia-os pessoalmente e convidei outra vez a Martina. A minha ideia de base era usar instrumentos verdadeiros em vez de sintetizadores tanto quanto possível. É claro que a bateria era programada, mas fi-lo porque é mais conveniente para mim. Mas para o resto usei todos os músicos que pude encontrar, porque eles tornam a música viva

e real e dão-lhe aquele gostinho especial que acaba por me inspirar a mim também. - O Andrei Oltean (aka Solomonar) é meu amigo no Facebook. É um músico fantástico, não achas? [Já o entrevistei várias vezes para a Versus Magazine.] Sim. Fez um trabalho magnífico com a gaita de foles. Depois descobrimos que ele conhecia a Martina de uma digressão na Roménia com a sua antiga banda: Niburta. Partilharam o palco várias vezes. - E quem é o Bruno Machado? É português? É um guitarrista brasileiro. Encontrei-o na internet e convidei-o para tocar guitarra em várias partes do álbum. Também fez um belo trabalho. Foste afetado pela pandemia? Muito? Nem por isso? É claro que fui afetado e ainda estou a ser, como toda a gente. Sinto muito a falta do ginásio e da piscina. Por outro lado, este ano deu-me a oportunidade de escrever rapidamente este álbum, porque tinha mais tempo do que de costume e tentei passa-lo de uma forma útil. Agora que acabei «Vadak», ando a ver o que vou fazer a seguir. Talvez começar a compor o próximo. E, na verdade, até já comecei. Facebook Youtube

15 / VERSUS MAGAZINE


1 6 / VERSUS MAGAZINE


Um exercício de sedução AK dá início a uma nova trilogia dedicada à filosofia de Kierkegaard tratando o tema da sedução em mais álbum inspirador de Decline of the I. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

Saudações, AK! Espero que esteja de tudo bem contigo. Entrevistei-te sobre os dois últimos álbuns da trilogia centrada nos trabalhos de Henri Laborit («Rebellion», 2015, e «Escape», 2018). Como reagiram a crítica e os fãs a este último álbum? Excelente. Estou muito contente com o retorno relativo a esse álbum. Estamos numa bela tendência ascendente e eu noto que cada álbum que sai nos leva mais longe. Também sinto que, mesmo que continuem a ser uma minoria, alguns ouvintes são tocados mais intimamente e isso cria uma espécie de microcomunidade “de amigos” em torno deste projeto. E eu penso que isso é muito bonito.

Podes falar-nos um pouco do tema tratado neste novo álbum? «Johannes» é a primeira obra de uma nova trilogia baseada no trabalho do filósofo dinamarquês Kierkegaard e, em particular, na sua visão dos 3 estádios da existência: estética, ética e religiosa. O estádio estético, tratado em «Johannes», corresponde ao estádio em que o espírito vive no momento presente, só se interessa pelo prazer, pelas noitadas, pelo vinho. É um espírito dionisíaco, profundamente individualista e não se preocupa minimamente com os outros e a moral. É a figura do dândi. O que conta mais para ele é a beleza. Mas uma tal existência exige que se viva num gozo permanente e cada vez mais intenso, porque nunca é suficiente. Ao fim de algum tempo,

o espírito cansa-se, fatiga-se e a pessoa começa a pensar que a vida deve ser outra coisa. Então, a angústia aumenta, porque a pessoa pressente que pode viver de outra forma, regida por outros princípios. Então «Johannes» anuncia uma nova trilogia. Consagrada à sedução? A sedução é a base do primeiro álbum. A moral será o tema do segundo, dado o espírito passar do estado estético ao estado ético. A capa desenhada por Dehn Sora parece-me muito enigmática. Podes explicar-nos a que se refere esta imagem? E falar-nos um pouco do modo como Decline of the I participou na sua criação?

17 / VERSUS MAGAZINE


«Johannes» é a primeira obra de uma nova trilogia baseada no trabalho do filósofo dinamarquês Kierkegaard e, em particular, na sua visão dos 3 estádios da existência: estética, ética e religiosa.”

Eu expliquei ao Dehn Sora o conceito de base da trilogia e foi ele que teve a ideia que aparece na capa, que apresenta o herói “dândi” simultaneamente acariciado e incomodado por mãos lascivas e opressoras. Também usámos essa ideia no videoclip que fizemos para a faixa “The Veil of Splendid Lies”. Estava fascinado pela ideia de Dehn Sora e quis, com os meios de que dispúnhamos, animar esta imagem fixa. Por conseguinte, pusemo-nos nós próprios em cena, para nos incluirmos no processo evocado concetualmente na trilogia. No que me diz respeito, há sempre um aspeto autobiográfico nas minhas criações. É importante para mim reduzir a distância entre o que eu sou e o que eu produzo, nem que isso implique baralhar as fronteiras. Pretendemos que cada capa dos álbuns desta trilogia dialogue com as outras. Haverá entre elas uma unidade muito forte, muito superior há que havia na trilogia anterior. Curiosamente, essa capa e o vídeo fazem-me pensar no desenlace do romance “O Perfume”, de Patrick Süskind. Acertei ou não há qualquer relação entre os dois objetos artísticos? Não, é um acaso. Já li esse livro há uns anos, logo não sei dizer-te o que te pode levar a pensar assim, mas esse comentário despertoume a curiosidade. Também reparei que a formação de Decline of the I mudou. O que aconteceu? SI agora está na voz e AD no baixo e SK mantém-se na bateria (desde o segundo álbum). Mas, apesar das mudanças, pode-se dizer que, pela primeira vez, Decline of the

1 8 / VERSUS MAGAZINE

I tem uma verdadeira formação. Apesar de eu continuar a compor tudo e de considerar esta entidade como algo pessoal, ela converteuse numa banda. Começámos a fazer concertos no início de 2019 e isso marcou uma nova era para a banda. Converteu-se em algo que ultrapassa as minhas deambulações solitárias com os meus instrumentos. Insuflaramlhe uma nova vida e agora é uma equipa com relações. Portanto, estamos perante uma grande mudança para Decline of the I. Mas tu continuas a escrever tudo em Decline of the I, não é? Ou decidiste partilhar a tarefa desta vez? Escrevi eu tudo, mas esteve menos sozinho no processo. Pude ter opiniões mais facilmente, apoio, porque, quando bloqueava ou tinha uma dúvida, pedia conselho aos outros membros da banda e isso influenciou a composição, embora de forma indireta. Sozinho não teria criado exatamente o mesmo álbum. Já há diálogo, um efeito de “espelho” (com os outros a desempenhar esse papel). Podemos dizer que a música neste álbum é ainda mais trabalhada, cheia de pequenos detalhes ou sou só eu que o vejo desta forma? De facto, não és a primeira pessoa a dizer-me isso. Contudo, não é intencional. Penso que sempre compus desta forma, usando várias camadas de instrumentação, algumas mais percetíveis e outras mais escondidas. Gosto que um álbum não se esgote demasiado depressa e que, mesmo depois de o teres ouvido dezenas de vezes, continues a enWcontrar nele coisas novas. Mas talvez a produção mais

clara que a dos álbuns anteriores leve a essa sensação. Há mais espaço auditivo, mais ar. Ouve-se melhor esses diferentes estratos. Mas também é verdade que eu trabalhei imenso neste álbum e isso acaba por passar para o que se ouve! O que é que a banda e a Agonia Records previram para o lançamento do álbum? Fizemos o lançamento em streaming e eu sentia-me muito excitado por ver exposto à luz do dia o álbum no qual trabalhei durante três anos. Aliás, tenho a impressão de que faz precisamente 3 anos, de forma quase precisa, que eu compus as primeiras notas, em março de 2018. É sempre vertiginoso ver o caminho percorrido na perspetiva oposta. Entre os embriões de canções presentes nas demos de som duvidoso que, meses depois, se convertem em canções construídas, produzidas, digeridas… Já lancei muitos álbuns durante a minha “carreira” (cerca de 25 anos, penso eu…), mas é sempre um milagre quando um novo álbum vê a luz do dia. O próximo álbum já está no forno? Ainda não. Ainda não entrei nessa dinâmica. Já tenho algumas ideias, mas, de momento, ainda é demasiado cedo para sentir que já comecei. Num momento qualquer, haverá um clic, independentemente da minha vontade, um momento em que eu pensarei “já aconteceu, já estou a trabalhar no quinto álbum do Decline of the I”, mas ainda não cheguei lá. Facebook Youtube


19 / VERSUS MAGAZINE


EH PÁ! CALA-TE! Por: Nuno Lopes

Recentemente e num texto sobre outra personalidade, esta nacional, falava sobre os «famosos» Velhos do Restelo e aqui, devido a uma outra personalidade, esta internacional, vejo-me forçado a voltar ao tema, embora, talvez, de forma mais cáustica. Gene Simmons é um idiota, um imbecil que tem mais língua que barriga e ao longos dos anos fomos sendo fustigados por afirmações que, em nada, abonam a seu favor. Poderíamos dizer que tais afirmações poderão ser o ultimo suspiro de um músico ou, quem sabe, uma forma de estar na ribalta sem de facto o merecer (em concreto nas últimas décadas!). Percebe-se o desdém do músico sobre o estado das coisas e da forma como o público tem abraçado o Rock e a forma como, esse mesmo público, abraçou as novas formas de escutar música. Chama-se evolução. Gene, pá! Tens de aceitar! O que Gene fez na sua ultima afirmação foi cuspir no prato que comeu e morder na mão que o alimentou. Se em tempos o músico optou por declarar o óbito do Rock (vezes sem conta!), desta vez o baixista atirouse, pasme-se, aos fans, insinuando que foram os fans que mataram a industria musical! Ora, Simmons e os Kiss sempre foram uma máquina de fazer Dólares, Libras e Euros e foram, talvez, pioneiros na arte de fazer Merchandise. Os Kiss estão para o Rock como a Kittie está para as meninas na pré-adolescência. O grande problema é que o público cresceu e quer o baixista queira, quer não, a sua banda já ultrapassou (há muito) a validade, deixo até a questão: Há quanto tempo os Kiss deixaram de ser relevantes? O que Simmons parece esquecer é que nas últimas décadas a evolução tecnológica deu-se à velocidade da luz, ao mesmo tempo que as sucessivas crises financeiras e, agora, esta crise sanitária colocaram maiores desafios à industria (de músicos a editora. De promotoras a público.) e, como sempre a industria foi lenta a reagir, já antes com o advento do Napster o foi! Contudo, o fan de Rock, o gajo que vai aos concertos, o gajo que compra discos não o deixou de fazer, aliás, os Kiss continuam hoje a ser uma máquina de fazer dinheiro, por isso o Gene deveria era estar calado. Ao invés de atacar os fans e o público Simmons tinha, isso sim, a obrigação de atacar a industria, poderia e deveria atacar as plataformas de streaming (Spotifys e outras do género) e batalhar pelo pagamento devido do seu trabalho que é, também a sua arte. Atacar os fans numa altura em que muitos fazem o sacrifício para sobreviver e, mesmo assim, continuam a gastar o seu dinheiro nos seus artistas favoritos, seja de que forma for é de facto de uma injustiça tremenda. Os fans não têm culpa, podem ter alguma responsabilidade mas, nunca pode ser a maior delas. Gene Simmons prova, desta forma, que é um linguarudo que não olha a meios para estar nas noticias e para ser o centro das atenções mas, de cada vez que ouço o baixista e as suas tiradas, só me apetece mandá-lo (no mínimo) estar calado e observar o Mundo que o rodeia fora da sua esfera dourada. Será que Simmons consegue perceber que o Rock foi o género que mais cresceu nos últimos anos? Por isso digo: Gene Simmons, eh pá! Cala-te que só dizes merda!

2 0 / VERSUS MAGAZINE


A culpa é do cemitério… Por: Emanuel Roriz

Fiquei a saber o que era o Enterro da Gata (ou a ter uma pequeníssima ideia) por culpa de um concerto que os Moonspell deram no Gatódromo, ainda não tinha eu habilitações para me candidatar à Universidade do Minho. Isto aconteceu ainda naquele mítico recinto, ali mesmo à beira da UM. Tenho perfeita noção que na altura não sabia sequer onde se situava o polo de Gualtar, nem tão pouco como me iria infiltrar numa festa académica a meio de uma semana de aulas. Em certa medida era uma ideia ultrajante…. Estou eternamente grato pelo meu primo que tratou de conseguir bilhetes de estudante e das boleias para lá e para cá! Os Moonspell encontravam-se a promover o disco «Darkness & Hope» e foi este que me tornou a mim e a mais dois ou três amigos, em seguidores devotos. Actualmente, se voltarmos a falar dos discos de Moonspell, vamos certamente fazer sentir um maior apego pelo «Wolfheart» ou pelo «Irreligious». Mas foi o «Darkness & Hope» que nos levou pela primeira vez ao Enterro da Gata e que ditou o início de um compadrio sem antecedentes nem precedentes, para com os Moonspell. Superamos as três dezenas de vezes em que os vimos subir a um palco. Este foi também o meu primeiro concerto de heavy metal. Por assim dizer, o entusiasmo era tal que quase fez com que os meus joelhos falhassem no momento que que Fernando Ribeiro entra em palco de candelabro na mão, acompanhado da declamação de Mário Cesariny pela voz do “nosso” Adolfo Luxúria. A partir daí, para mim, foi incrível. Não tive coragem de me juntar à movimentação desordenada do mosh pit, mas estou certo de que saí de lá com um brilhozinho nos olhos. Sim, o Sérgio Godinho também tocou nesta noite de Enterro.

2 1 / VERSUS MAGAZINE


CRITICAS VERSUS AARA

«Triad I: Eos» (Debemur Morti Productions) Os suíços AARA mantêm com este «Triad I: Eos» a média de um álbum por ano e em boa verdade talvez não fosse má ideia o duo Fluss e Berg acalmar um bocadinho. O antecessor «En Ergô Einai», que também foi alvo de crítica aqui na VERSUS Magazine, era um trabalho mais interessante que esta algo desinspirada novidade. E a grande diferença consiste na falta de elementos dignos de destaque. Ouve-se este «Triad I: Eos» e, chegado ao fim, não há propriamente vontade de voltar a colocar o disco no leitor, pois as faixas soam insípidas e tardam em causar uma impressão duradoura no ouvinte. É como se estivéssemos a degustar um prato sem qualquer tempero: come-se, mas há qualquer coisa ali em falta. E isto é uma pena, pois os AARA estavam a mostrar potencial dentro do âmbito do black metal atmosférico e melódico, mesmo não se tratando de um conjunto capaz de revolucionar o género. Tendo em conta ainda que «Triad I: Eos», como o título deixa antever, constitui a primeira parte de uma trilogia, as expectativas agora estão niveladas mais por baixo. Veremos se os AARA conseguem dar a volta por cima e retomar um rumo que até aparentava ser promissor, elevando a fasquia nas partes que se seguirão a estas seis faixas de 2021. [6/10] HELDER MENDES

ÆNIGM ATUM

«Deconsecrate» (20 Buck Spin) Tenho para mim que, no Metal, o ideal de beleza está na simbiose perfeita entre dois opostos: o virtuosismo delicado e o peso esmagador da sonoridade. Isto a propósito do novo opus dos Ænigmatum que cultiva este binómio com resultados assombrosos. Depois dum promissor disco de estreia publicado há apenas dois anos, o jovem quarteto norte-americano surpreende com um trabalho que promete encher as medidas de quem aprecia extremismos com musicalidade. Partindo duma fusão genética entre Death, Behemoth e Opeth antigo, a banda de Portland apresenta neste «Deconsecrate» um cocktail de death metal enegrecido que adquire um cunho particular graças a uma composição fluida feita de estruturas labirínticas e estonteantes, mas que integram a melodia essencial para tornar a audição permanentemente atractiva. A malha rítmica incorpora frenéticas e inesperadas mudanças de tempo, frequentemente em modo warp-speed sem dar tempo para respirar, outras vezes em compassados riffs quebra-ossos de onde emergem insanos esfarrapanços técnicos das mãos competentes dos guitarristas Kelly McLaughlin e Eli Lundgren, ou linhas serpenteantes do baixo fretless de Brian Rush. Inescapáveis são também os rolls frequentes do baterista Pierce Williams (integra também os Skeletal Remains), reminescentes da técnica de Steve Flynn dos Atheist, que acabam por sobressair como elemento distintivo na sonoridade geral do disco. Rico em substancia musical, algo progressiva, e com clara atenção depositada no mais ínfimo dos detalhes, «Deconsecrate» é um disco para degustar ao longo de muitas e prazerosas audições. A qualidade de reprodução é essencial para se apreciar todos os pormenores. [9/10] ERNESTO MARTINS

ANGEL DUST

«Into The Dark Past» (High Roller Records) Quando se fala de Angel Dust paira de imediato no ar a dicotomia estilística que os germânicos criaram ao longo da sua carreira. Depois da dupla de discos editados nos anos 80, a que se seguiu um hiato de cerca de 10 anos, os Angel Dust regressaram com uma abordagem ao power metal germânico, bastante popular então. Mas este «Into The Dark Past» foi o primeiro longaduração do grupo, editado em 1986 e que agora tem mais uma re-edição em vinil e CD, com toda a atenção que lhe é devida. Portanto, aqui falamos da fase thrash metal dos Angel Dust e esta nova edição é um portal que nos leva directamente à era de ouro do estilo. Em ’86 os Angel Dust apresentaram, sem dúvida, um trabalho muito interessante e competente, ao qual é merecido oferecer pelo menos um lugar para destaque junto dos pioneiros que todos bem conhecemos, Kreator, Sodom, Destruction, Slayer, Dark Angel…para citar apenas alguns. A sua imagem de marca estava aqui já bem definida. Muito criativos ao nível do riff marcante e de groove bem acentuado, já com tendência à exploração das melodias em determinados refrões. Acredito que talvez devido à paragem prematura logo depois do segundo disco, os Angel Dust não figurem de forma regular como referências no thrash metal. Mas, felizmente, há quem se dedique à sua obra e nos permita agora ter acesso, em formato físico, a este testemunho de adrenalina speed/thrash e a grandes canções como “Gambler”, “Legions of destruction” ou a slayeresca “Marching for revenge”. [8.5/10] EMANUEL RORIZ 2 2 / VERSUS MAGAZINE


ANNEKE VAN GIERSBERGEN

«The Darkest Skies Are The Brightest» (InsideOut Music) Não perderemos tempo a biografar a vocalista holandesa, cujo currículo é sobejamente conhecido. Mencionaremos apenas que «The Darkest Skies Are The Brightest» se enquadra nas divagações mais pop da carreira da ex-frontwoman dos The Gathering. O problema é não serem divagações excepcionais ou sequer acima da média enquanto pop. As músicas aqui apresentadas, à excepção de “Hurricane”, são pouco mais do que “pastilha elástica”: ouvem-se, esquecem-se e siga para diante. A voz de Anneke continua óptima, sim, pese estar mais delicodoce e com menos corpo que noutros tempos, falta-lhe talvez alguma selvajaria que ajudasse «The Darkest Skies Are The Brightest» a soar mais refrescante e menos padronizado. Assim o que temos nestas onze cançonetas é pop igual a milhões de tantas outras, sem particulares motivos de destaque. Não que tenhamos algo contra a pop em si; a própria Anneke, aliás, já tem composto músicas interessantes neste registo. Simplesmente há – como em tudo o resto – boas maneiras, e outras menos boas, de lançar um álbum/conjunto de canções dentro do género e, infelizmente, Anneke Van Giersbergen falha o alvo com este disco, pois as músicas não funcionam, e quando isso ocorre num conceito tão orientado para as canções como é o pop, pouco mais há a dizer, a não ser que, na encruzilhada exploratória da holandesa, com incursões pelo metal, pelo rock, pela pop, pela indie, este álbum não é dos momentos mais bem sucedidos. [5.5/10] HELDER MENDES

BAEST

«Necro Sapiens» (Century Media Records) Oriundos da Dinamarca o quinteto que dá pelo nome de Baest transformou-se de revelação para uma das mais imponentes bandas do país e do género. Depois da perfeição da estreia com «Danse Macabre» (2018) e com o disco seguinte, «Venenum» (2021), que lhes valeu, além de excelentes criticas a oportunidade de partilha os palcos com nomes como Abbath, Entombed ou Decapitaded. Ora, chegados ao, historicamente difícil, terceiro disco os Baest trazem um disco que, sem trazer surpresas ao género, traz uma banda mais capaz de esconder as suas influências de Morbid Angel ou Bolt Thrower e parece ter encontrado o seu caminho. «Necro Sapiens» é um rolo compressor que nos esmaga ao longo dos dez temas do disco. Há por aqui momentos como “Abbatoir” ou “Meathook massacre” que são uma verdadeira homenagem ao Death Metal e que são, de facto, um belo cartão de visita para um disco que, não roçando a perfeição, se escuta com a leveza de quem quer partir tudo à sua volta. «Necro Sapiens» é, por tudo isto, um excelente disco de Death Metal e, os fãs do género podem ficar descansados com a sobrevivência do género enquanto os Baest andarem por cá! [7/10] NUNO C. LOPES

BONGZILLA

«Weedsconsin» (Heavy Psych) Mais um álbum a tresandar a erva, cortesia dos potheads de Winsconsin que decidiram agruparse debaixo do nome de Bongzilla. Continuando na sua tripe sludge/doom com letras que invariavelmente tocam no tema do consumo e legalização de canabinóides (os apelos a “we must free the weed”, em “Free the Weed”, dificilmente poderiam ser mais explícitos), os norteamericanos em boa verdade não estão particularmente “inspirados” (sim, trocadilho!) neste «Weedsconsin», pois já fizeram melhor. Qualidade da erva, talvez?! Não é que as seis músicas não se oiçam com gosto, simplesmente não “batem” tanto assim, nem mesmo as mais viajantes e extensas como “Space rock” e “Earth bong/Smoked/ Mags bags”, ambas ultrapassando os dez minutos de duração. A sujidade característica dos Bongzilla está aqui, as incursões ao blues e ao stoner idem, mas muito provavelmente o prolongado hiato – mais de 15 anos sem lançar um álbum de originais! – teve as suas consequências e o trio norte-americano perdeu um bocadinho a mão. Ainda assim, «Weedsconsin» é engraçadote para quem aprecia este tipo de sonoridades, ou, por outras palavras, ainda serve para se apanhar uma moca ao longo destes pouco mais de 40 minutos de charro a rodar de mão em mão. Não se espere, contudo, uma pedra daquelas mesmo valentes. [6.5/10] HELDER MENDES

23 / VERSUS MAGAZINE


CIRCLE OF SIGHS

«Narci» (Metal Assault Records) Depois do não mais que mediano álbum de estreia «Salo», lançado há apenas um ano e descrito por muitos como uma espécie (discutível!) de fusão entre synthwave e doom metal, nada faria prever a surpresa que é este novo trabalho dos Circle of Sighs. Além de se pautar por uma composição, de longe, muito mais conseguida, «Narci» mostra que a enigmática banda (formada por três anónimos de continentes diferentes, sendo um deles português) enveredou, desta vez, por uma vasta gama de estéticas e vocabulários sónicos até agora inexplorados, com resultados não menos que admiráveis. Os dez minutos do emotivo “Spectral arms” dão logo a entender que estamos perante algo genial, seja pelos belos vocais aveludados sobre a hipnótica melodia de guitarra no início, os pesados riffs doomy que se seguem acompanhados de registos mais negros ou ainda pelas recorrentes linhas de piano, o baixo saliente e os arranjos de cordas, já no final, que carregam aquele vibe proggy dos 70’s à lá ELP ou Omega. O instrumental “We need legends” mantém o apelo e a veia inventiva, explorando agora guitarras esquizofrénicas, ritmos sintéticos destacados, samples de voz e muito trabalho de teclas. A industrial “A crystal crown of cosmic pain”, com vozes passadas a vocoder, é a primeira a fazer a ponte com «Salo». O psicadelismo inicial da versão de “Roses blue”, original de Joni Mitchell, dá lugar gradualmente a riffs arrastadões e vozes ásperas, que preparam o caminho para “Narci”, o tema mais Metal do disco, que surpreende no contexto, mas que se redime no desfecho com um adequado solo de sax. As duas faixas finais voltam a furtar-se a ortodoxias, reafirmando «Narci» como um trabalho que se eleva acima de fórmulas e categorizações. [8/10] ERNESTO MARTINS

CRESCENT

«Carving the Fires of Akhet» (Listenable Records) Depois do brilhante «The Order of Amenti», disco que em 2018 elevou a fasquia criativa dos Crescent para níveis inéditos, as expectativas relativamente ao que a banda egípcia iria apresentar a seguir subiram naturalmente para níveis... piramidais. E a verdade é que, três anos volvidos, o grupo não defraudou. A primeira constatação é que, apesar da turbulência causada pelas alterações de formação entretanto ocorridas, a identidade sónica da banda não se alterou. Embora não seja um trabalho tão imediato de absorver como o disco anterior, «Carving the Fires of Akhet» é outra exuberante besta de death metal tingido de black que se destaca da concorrência muito por conta das melodias exóticas baseadas em escalas e padrões rítmicos característicos do médio oriente, ocasionalmente embelezadas por sons discretos de instrumentos tradicionais, tudo isto sobre uma parede sonora de riffs esmagadores que conduzem a música para momentos de climax de proporções épicas. É notória a ausência pontual de elementos identificativos num ou outro tema, mas, em geral, a música mantém-se apelativa ao longo da totalidade do disco. Pela primeira vez o grupo decidiu homenagear duas das suas maiores influências, os Dissection e os Bolt Thrower (esta última influência ainda detectável no tom melodramático de alguns dos riffs mais lentos), com duas excelentes covers: “Xeper-I-Set” e “For victory”. Do alinhamento consta ainda uma versão renovada de “Dreamland” (original de uma demo de 1999) que revela de forma inequívoca a veneração marcante do génio de Jon Nödtveidt. Três faixas bónus, portanto, que fecham da melhor maneira um disco colossal, de criatividade acima da média, e por isso merecedor de toda a atenção. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

HELLOWEEN

«Helloween» (Nuclear Blast) Qualquer álbum dos Helloween é, e será sempre, um anseio. A notícia de que Michael Kiske e Kai Hansen se juntariam ao grupo, para a digressão “Pumpkins United”, encheu toda o “mundo do metal” com a esperança de ver um álbum com toda esta malta junta. Em Junho saiu o resultado desta reunião, sob o título “Helloween”. Óbvio que a minha curiosidade (e, como é óbvio) de todos os fãs da banda, seria como iriam ser geridos as vozes. Andi Deris ainda é, se bem que muito injustamente, considerado um “patinho feio” comparativamente ao mais amado Michael Kiske. No entanto, a banda soube gerir isto de forma sublime, adaptando o “peso” dos temas à identidade de cada um dos vocalistas, inclusive ao terceiro vocalista, Kai Hansen. O álbum não defrauda expectativas, há tudo e para todos os gostos mas o que me agrada são mesmo as reminiscências que brotam de alguns temas. Desde logo o primeiro avanço, a “cereja no topo do bolo”, o “Keeper of the 7 Keys” ou “How Many Tears” dos tempos modernos - “Skyfall” - que será, por ventura, um dos melhores temas jamais compostos pelos Helloween, uma Ode ao que representa o Power Metal alemão. O que poderá estranhar-se (e não, entranhar-se) serão as tais reminiscências resultantes das duas personalidades musicais, bem diferentes, de Andi Deris e Michael Kiske. Por exemplo, “Fear of the Fallen” ou “Mass Pollution” são temas feitos à medida da “voz de tabaco” de Deris, impossível Kiske imprimir a mesma “agressividade” à música e, portanto, lá

2 4 / VERSUS MAGAZINE


vamos nós para a época do «Master of the Rings» ou «Time of the Oath». Por outro lado, o tema que abre o álbum e que acredito abrirá os concertos da próxima digressão - «Out of the Glory» ou “Best Time” são típicos dos agudos inconfundíveis e intemporais de Kiske – E outros há ainda cuja cantoria é dividida pelos três vocalistas, sempre com “corridas desenfreadas”, entre Weikath, Gerstner e Loebe. Não, não me esqueci de Markus Grosskopf, cuja entrevista sairá nesta edição da Versus e que tem um sonzaço absolutamente magnífico e do melhor que tenho visto produzido e tocado nos últimos tempos. Não é fenomenal, não foi descoberta a roda, mas é divertido, é Helloween e é um dos álbuns do ano! [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

IN THE COM PANY OF SERPENTS

«Lux» (Petrichor) Os In the Company of Serpents encontram-se a comemorar uma década de carreira e este «Lux», o quarto álbum de originais, mantém o alto nível de doom/sludge que se associava ao (agora) trio norte-americano. «Lux» é um álbum pesado, tipicamente sludge, mas aqui e ali pincelado por apontamentos stoner e bluesy, como em “The chasm at the mouth of the all” ou nos interlúdios “Daybreak” e “Nightfall”, que lhe conferem uma certa aura de road movie americano sujo e decadente, mas ao mesmo tempo reconfortante, como se passássemos por sítios dos quais diríamos “isto é feio, mas não queria estar noutro lugar”. Há vários motivos de destaque ao longo destes quase três quartos de hora de duração, mas «Lux» é mesmo daqueles discos que pedem para ser escutados integralmente, tal é o equilíbrio e a coerência que encontramos desde a inicial “The fool’s journey”, um épico de dez minutos e indiscutivelmente dos melhores momentos que podem ser encontrados em «Lux», até ao término “Prima materia”. Para quem gosta de Crowbar, Cult of Luna, Mastodon nos seus primórdios, e doom/sludge em geral, este «Lux» é muito recomendado e não apenas por apresentar um grau de variedade (e, vá, sofisticação…) que nem sempre está presente em trabalhos deste subgénero, isto sem descurar o peso que, esse sim, será porventura o elemento quintessencial de qualquer disco com ganas de se aventurar por rumos doom e sludge. Que venham mais 10, 20, 30 anos e etc. assim. [8/10] HELDER MENDES LUNAR SHADOW «Wish to Leave» (Cruz del Sur Music) Depois das mudanças sonoras que trouxeram no anterior registo, «The Smokeless Fires» (2019) o quinteto germânico parece ter encontrado o seu caminho enquanto banda. Este terceiro registo, composto por meia dúzia de temas, é o seguimento lógico do registo anterior e esse acaba por ser o ‘calcanhar de Aquiles’ deste terceiro (e sempre complicado!) disco. Com isto não queremos dizer que «Wish to Leave» é um disco mau, não vamos exagerar, aliás, o maior elogio que se pode dar é mesmo a leveza com que o quinteto nos apresenta os seus temas sobre solidão, desespero e isolamento. Por entre guitarras acústicas e a voz quente de Robert Röttig, que nos recorda uma espécie de Ozzy Osbourne ou Klaus Meine, «Wish to Leave» é um registo feito para as noites de insónia em que os pensamentos pedem outra companhia. Há por aqui alguns temas como “I will lose you” ou “And silence screamed” que são sublimes no transporte da sua dor e tornando a audição num passeio noturno. Fica a certeza de que os Lunar Shadow encontraram o seu caminho sonoro, contudo, ficará a dúvida sobre o que o futuro possa trazer. «Wish to Leave» é, por isso mesmo, um disco de afirmação. [7/10] NUNO C. LOPES NORSE «Ascetic» (Transcending Obscurity Records) Já andam a dar nas vistas pelo menos desde o notável lançamento independente de 2012, «All is Mist and Fog», por causa da abordagem vanguardista que imprimiram no seu death/black metal de influências nórdicas. No álbum seguinte, «The Divine Light of a New Sun»(2017), abandonaram quase todos os traços melódicos, focando as suas composições em estruturas torcidas, dissonantes, e padrões rítmicos a roçar o caótico, num estilo próximo de bandas como Portal ou Deathspell Omega. O actual «Ascetic» (o quarto álbum) mostra que a banda australiana aprimorou a sua versão sui generis de extremidade sónica, agora ainda mais rombuda e cáustica, onde a melodia é rara e as composições incluem desta vez elementos pontuais mais apelativos que acabam por tornar o disco mais fluente. Isto sem prejudicar, note-se, o carácter não só perturbador mas também desafiante da música, aparentemente desarticulada, que se move entre segmentos de minimalismo rítmico e texturas monocromáticas mais elaboradas, quasi maquinais, por vezes avassaladoramente metralhadas e brutalizadas pelas vocalizações venenosas de ADR (Adric Ryan), que lembra vagamente o estilo demencial de Kvarforth dos Shining. A primeira metade do álbum incorpora tudo isto e muito mais e o resultado

2 5 / VERSUS MAGAZINE


é uma experiência estranhamente viciante embora, paradoxalmente, sempre algo desconfortável. Depois o disco perde algum momento e muito do seu interesse inicial nas faixas 5 a 7, só recuperando o ímpeto e a criatividade dos primeiros números no tema de fecho “Useless”. Mas apesar das partes menos conseguidas, «Ascetic» vale pela proposta intensa e refrescante de metal extremo que apresenta. [7/10] ERNESTO MARTINS

RAGE

«Resurrection Day» (Steamhammer / SPV) Desde há muitos anos, os Rage são, indubitavelmente, uma das minhas bandas favoritas e sempre que falo ou escrevo sobre estes germânicos, manifesto a opinião que são uma das bandas mais subestimadas no universo do Metal. Após o lançamento de «Wings of Rage», ainda antes da pandemia, que combinou todos os elementos estilísticos da banda, numa sonoridade homogénia e moderna, os Rage, em 2021 e bem no meio da pandemia, elevam ainda mais esse som moderno e surpreendem-nos com um álbum bem fresquinho: «Resurection Day». A juntar a esta versão Rage 2.0 há ainda o facto da banda se ter transformada num quarteto, algo que já não acontecia há muitos anos. Mais melódico do que nunca, sóbrio, inteligente, directo, influências muito interessantes de Thrash, como são os casos de “Virginity”, “The Age Of Reason” ou do tema que encerra o disco, “Extinction Overkill”, nunca deixando a técnica e a progressividade de lado – falando em progressividade, “Traveling Through Time” deverá ser um dos melhores temas compostos pela banda, soberbamente orquestrada por Pepe Herrero – e… falando em orquestrações e como seria de esperar, um álbum de Rage sem orquestrações, não seria álbum. Elas estão lá, impecavelmente enquadradas na música. Coincidência ou não, derivado à mudança para quarteto, o álbum parece estar bem “engrenado”, as músicas fluem como o vento, coerente, viciante e respirando melhor. Obviamente e como seria de esperar, um álbum de Rage sem orquestrações, não é álbum. Peavey e companhia excederam-se, deram-nos uma versão dos Rage 2.0, renovada e bem viva. Não sei como será o futuro, se no próximo álbum haverá mudanças outra vez, mas estou curioso para ver a evolução a partir de deste álbum e para os ver no festival “Milagre Metaleiro” [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

SKYEYE

«Soldiers of Light» (Reaper Entertainment) Há estilos que já estão tão batidos que tentar trazer algo de novo e refrescante, sem cair num crossover de estilos, é uma tarefa quase impossível nos dias que correm. O Heavy Metal puro, em si, é um deles. O que os Eslovenos Skyeye conseguiram fazer com o seu segundo trabalho «Soldiers of Light», foi balizarem o que faz a essência do Heavy Metal e criar o seu próprio Heavy Metal, com um som único, dando-lhe ao mesmo tempo um toque de modernidade. O cerne dos Skyeye está na voz portentosa e limpa do seu vocalista, que faz lembrar um Bruce Dickinson dos seus melhores dias, combinada com uma atitude mais crua mas ao mesmo tempo apresentando riffs melódicos, criando assim a sua assinatura musical. As músicas são poderosas e repletas de postura, sempre com uma vertente melódica bem presente, fazendo lembrar aqui e ali os Iron Maiden dos anos 80, influenciado não por acaso pelo seu vocalista Jan, principalmente na faixa “Brothers under the same sun” ou “Eternal starlight”. Um dos interesses dos Skyeye, reside neste cheirinho nostálgico à lá Iron Maiden, mas sem se colarem de qualquer forma descarada e evidente à banda da NWOBHM, apenas mais por pura coincidência tímbrica, podendo facilmente os Skyeye serem vistos como uns Maiden de hoje. Isto está bem patente na faixa de 14 minutos “Chernobyl”, a mais ‘Maiden’ de todas, mas também a mais bem conseguida faixa do álbum. Os Skyeye são uma banda recente que nos apresenta um Heavy Metal reminiscente dos famosos Iron Maiden, mas levado mais além, que é a sua maior força mas ao mesmo tempo a sua maior fraqueza, por comparação. [8.5/10] CARLOS FILIPE

TAAKE

«Avvik» (Dark Essence Records) «Avvik» é uma compilação de temas resultantes da participação de Taake em três split-EPs com as bandas Whoredom Rife, Deathcult e Helheim. Este sortido representa uma banda em fase de transição, apresentando uma seleção musical relativamente heterodoxa. Pode mesmo chegar a fazer-se uma cisão entre os três primeiros temas e os restantes. “Ubesiret” e “Heartland”, as primeiras faixas do álbum, foram extraídas do split com Whoredom Rife. O primeiro tema denuncia uma maior complexidade nos arranjos musicais, com articulada destreza composicional e floreados acústicos, sendo sintomático do percurso que se anuncia. “Heartland” consiste numa versão de um original dos Sisters of Mercy, maculado pela deselegância do black metal, sem contudo desfigurar o seu lustro gótico original. De referir a participação da

2 6 / VERSUS MAGAZINE


Dr Mikannibal dos Sigh no saxofone, trazendo igualmente alguma complexidade à abordagem. A terceira faixa, “Nattestid ser porten vid I” apresenta uma versão acústica do tema clássico da banda, em que Gjermund introduz algumas variações em estilo blues ao registo original. “Slagmark” e “Ravnajuv” revelam a faceta mais primitiva da banda, sendo a última, uma versão de um tema de Darkthrone, sem grandes acrescentos. As restantes faixas não apresentam surpresas significativas, mantendo-nos em território hostilmente familiar. “Avvik” revela-se assim, como uma curiosidade para colecionadores, um aperitivo para o próximo álbum de originais da banda… ou uma distração, enquanto fazemos tempo para ouvir o mais recente trabalho dos Darkthrone. [6/10] FREDERICO FIGUEIREDO

T HE M ONOLITH DEATHCULT

«V3 – Vernedering» (Human Detonator Records) Os holandeses The Monolith Deathcult estão de volta com «Vernedering» (humilhação), o sétimo álbum de originais e o último da trilogia “V”, que também inclui «Versus», de 2017, e «Vergelding» (retaliação), de 2019. Ouvindo toda a sua discografia, desde 2002, é visível uma evolução consistente da banda dentro do Death Metal, tendo criado um estilo muito próprio e pouco convencional: no início, essencialmente brutal e, actualmente, cada vez mais atmosférico e com apontamentos electrónicos de industrial, a fazer lembrar-me os emblemáticos Ministry, principalmente em “Connect the goddamn dots” e “They drew first blood”. Este álbum começa com uma faixa falada, “Infowars”, numa sátira e humorística associação ao site americano de notícias falsas e de teorias da conspiração de extrema-direita do polémico Alex Jones (não posso afirmar que seja a voz do próprio), desenvolvendo uma teoria de conspiração sobre a própria banda. Ao longo do álbum encontram-se mais excertos falados. Quiçá é uma crítica aos críticos da banda. Os recursos musicais e rítmicos utilizados são infindáveis. Nada é deixado ao acaso. O álbum é poderoso, intenso e minimalista – a cada audição, vou-me apercebendo de mais pormenores. É me difícil escolher uma faixa que se destaque das restantes. São todas de elevado nível. Em suma, temos aqui um álbum de audição obrigatória, sozinho ou em conjunto com os restantes da trilogia. [9/10] JOAO PAULO MADALENO

T OM AHAWK

«Tonic Immobility» (Ipecac Recordings) Sabem aquele sentimento quando o vosso espírito começa a desmoronar-se perante tudo o que absorve do meio que o rodeia? Aquele sentimento de impotência ou aquela angústia de estar preso? Pois bem, é isso mesmo que este regresso dos Tomahwak pretende ser, aquele grito e aquela bipolaridade que uma qualquer bipolaridade pandémica causa. Depois de oito anos de silêncio a banda de Mike Patton, Duane Denison, John Stanier e, claro, Trevor Dunn regressa com um disco de Rock feito à medida para este ‘novo normal’. É claro que com músicos deste calibre e cuja carreira nem vale a pena dissertar, só poderia sair um disco de pura esquizofrenia mas, ao mesmo tempo, de uma beleza sonora que, curiosamente, se inicia com uma capa repleta de uma falsa tranquilidade. Patton continua a ser um dos mais geniais e talentosos vocalistas do universo Rock e o melhor é que se rodeia de outros músicos que não o deixam tomar as rédeas e desafiam as suas regras. «Tonic Immobility» é, por isso mesmo, um resumo (quase) fiel do que a banda tem vindo a produzir desde o homónimo de 2021. É claro que as artimanhas continuam aqui mas feitas à velocidade da luz, seja através dos singles “Business casual” ou “Dog eat dog” (este a fechar o disco) o que fica é a sensação de que estes senhores só sabem fazer as coisas de uma maneira: a correcta. Os Tomahawk de 2021 são a versão musical de um Western Spaghetti, com temas “Predators and scavengers” (delícia para ouvir em repeat) que se misturam com “Doomsday fatigue” (um alívio mental). Se há uma banda que o Mundo precisa em 2021 essa banda pode muito bem ser os Tomahwak. Obrigatório. [9/10] NUNO C. LOPES TUESDAY THE SKY «The Blurred Horizon» (Metal Blade) Quando ouvi que Jim Matheos tinha um projecto novo, lá esfreguei as mãos de contente: aqui vem mais um álbum de Metal Progressivo de qualidade. No entanto, o guitarrista dos Fates Warning, surpreendeu-me com um álbum bastante… intrigante. Em 2017, Matheos pegou em todos os temas que não tiveram lugar nos Fates Warning e demais projectos, tais como OSI, John Arch ou Arch/Matheos e lançou-se a compor novos temas que resultaram no álbum «Drift». As influências que o movem são de todo inesperadas - isto para quem conhece a música de Jim Matheos – Brian Eno ou Sigur Ros. «The Blurred Horizon» é a continuação, uma evolução, se assim lhe quisermos chamar – Uma mistura de post-rock, bastante selecto,

2 7 / VERSUS MAGAZINE


introspectivo, calmo, sereno e tranquilo, “salpicado” com alguns elementos eletrónicos. Num dos temas lembrei-me de imediato da banda sonora de Angelo Badalamenti, da série Twin Peeks. O álbum é totalmente instrumental, com excepção do tema “Everything is Free” que é uma cover de Gillian Welch e David Rawlings. Praticamente todos os temas como que “levitam”, com excepção de “Hypneurotic” (e que pode ser quase visto como um interlúdio), tal é a sobriedade e, sonicamente, o álbum é excelente. Álbuns instrumentais são sempre mais complicados de se ouvir, dado que se podem tornar, de alguma forma… monótonos. «The Blurred Horizon» necessita do estado de espírito para ser “digerido”, absorvido e compreendido. Não deixa de ser, no entanto, um excelente registo. [8.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

WITCHFYNDE

«Give ‘Em Hell» (reedição) (High Roller Records) Lançado originalmente em 1980, em pleno boom da NWOBHM, este é um daqueles clássicos menos famosos que ainda dá gosto recordar. O colectivo britânico em causa foi um dos mais influentes no que toca ao imaginário ocultista que viria a inspirar correntes mais extremas de metal, muito embora praticassem um hard rock/heavy metal ao estilo de Thin Lizzy, Budgie, Diamond Head e Judas Priest dos 70s, com algumas influências mais sofisticadas de rock progressivo. «Give ‘Em Hell», o primeiro álbum e o mais emblemático da discografia, é um festim de guitarradas orelhudas e refrões sumarentos, que gruda logo em “Ready to roll” mantendo-se apelativo até ao último dos dez temas. O dedilhado electrizante que conduz “Pay now, love later” é absolutamente irresistível e é possível que o riff eriçado que abre “Divine victim” tenha inspirado os Budgie no metálico «Power Supply». Há aqui um pouco de tudo, desde temas directos como “Gettin’ heavy” ou o infeccioso titulo-tema do disco (que me ficou para sempre no ouvido desde que o escutei no inesquecível Lança Chamas, da Rádio Comercial), marcado pelo estridente registo vocal de Steve Bridges (não muito distinto dum Burke Shelley ou Sean Harris), até números mais envolvidos como o épico “Unto the ages of the ages”, que inclui deliciosos momentos de aparente jam a puxar ao psicadélico e onde as influências de Rush (tal como no melancólico “Leaving Nadir”) são mais do que evidentes. Repescada duma obscura gravação de 1977, “Telestai” é a mais saliente das três faixas bónus que fecham esta nova reedição (já houveram várias) deste clássico de heavy metal primordial, que aí está para recordar como tudo começou. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

XAEL

«Bloodtide Rising» (Pavement Music) Para os amantes de Death Metal sinfónico, esta banda estado-unidense é uma agradável surpresa e não se pode deixar de ouvir este «Bloodtide Rising», o seu segundo álbum. A primeira vez que o ouvi fez-me viajar até «Codex Omega», o álbum mais orquestral dos Septiflesh, e, ao mesmo tempo, a «Veleno» dos Fleshgod Apocalypse pela abordagem mais rude e “Technical”, com grande aceleração da bateria. Voltando ao início, a banda formou-se em 2017 e, no ano seguinte, lançaram o álbum de estreia: «The Last Arbiter». Xael tem na sua formação vários elementos com participação noutras bandas, nomeadamente, Nile e Wehrwolfe. “Suun rai aru” (Paixão gera ruína) tranquilamente faz a abertura do álbum com um diálogo de harmonias vocais, para sermos assaltados de surpresa pela batida bruta e vertiginosa do segundo tema “As decreed: the law of Vuul Athmar”. Várias faixas contêm apontamentos acústicos, como é exemplo da terceira faixa, “The waste of dreadrift”, que começa com o dedilhado de uma guitarra acústica. A seguir, “Srai - The demon of Erring” e “Dark world mirrors” são, talvez, as faixas mais sinfónicas. O sexto tema (dá nome ao álbum) é mais uma vertigem. “The red odyssey” tem duas partes. É um bom tema, mas penso que faria mais sentido a primeira parte ser a abertura de outro álbum que fosse conceptualmente desenvolvido a partir daí. Por último, “The odium and the contrition” contém vários apontamentos orquestrais muito interessantes. [8.5/10] JOÃO PAULO MADALENO

2 8 / VERSUS MAGAZINE


2 9 / VERSUS MAGAZINE


Postas de pescada “Postas de Pescada: devaneios de dois energúmenos sobre personalidades da música” será um espaço partilhado, entre dois “jornalistas”, onde se falará sobre músicos, bandas, acontecimentos e outras coisas que tais... Como devem ter reparado, o “outro” ainda não “mandou as postas”. Para a próxima edição não há a Parte 3 e depois, talvez o “outro” contribua...

Kill the Kardashians? Posers e o elitismo “Metálico” Por: Ivo Broncas | Eduardo Ramalhadeiro | Fotos: créditos aos seus autores

A recente moda de socialites, como as Kasdashians em vestir t-shirts vintage de bandas de metal, abriu toda uma polémica dentro da comunidade metálica, chegando mesmo a questionar-se o direito de o fazerem. Mas faz sentido esta polémica? Ou estará a existir um chamado “elitismo metálico”? Terá o Gary Holt razão?

“Poser.” Quantas vezes ouvimos nós este termo, de carácter pejorativo, ser proferido com tom de acusação dentro da comunidade metálica? São inúmeras as definições, e há quem se dê mesmo ao trabalho de ensinar em como não o ser. Exacto, demasiado tempo livre.. Afinal, o que é um poser? A Wikipedia diz que é “uma pessoa que finge ser algo que ela não é, copiando vestimentas, vocabulário e/ou maneirismos de um grupo ou subcultura, geralmente para conseguir aceitação ou popularidade dentro de um grupo, mas que, de fato, não compartilha ou não entende os valores ou a filosofia daquele grupo.” Há quem descreva também um “Poser” como alguém ”desprovido de autenticidade, sinceridade e coerência”, e cujo o gosto musical parece pender para o que é comercialmente mais conhecido, ostracizando bandas que outrora seguiram, por esse mesmo motivo, por perderem a popularidade. Escusado será dizer que esta atitude nunca foi bem-encarada dentro do meio, e recordo-me inclusivamente dos relatos da década de 80, época em que eram parados concertos para expulsar os “posers”. Ao que parece, Paul Baloff dos Exodus era uma pessoa muito atenta a esse assunto, e muito activa nessa missão. Como tal, um emblema de Mötley Crüe num concerto de Trash Metal era sinónimo de humilhação pública. Ao analisar este exemplo em concreto, consigo, de certa forma, perceber estas reações. Foi uma época de afirmação para muitas bandas, tanto a nível musical como a nível pessoal. Conquistaram a pulso o espaço para aquele que era à data, um novo estilo. O trabalho árduo levado a cabo pelos jovens músicos, os sacrifícios por que passaram e as frustrações que vivenciaram, terão levado a uma atitude mais extrema de preservação do que era para eles, não apenas estilo de música, mas também um estilo de vida. O sentimento de orgulho, e

3 0 / VERSUS MAGAZINE


mesmo de posse, por aquilo que criaram, pode ter levado à necessidade quase visceral de expulsar quem achavam que não estava empenhado na sua causa. E como é que isto se aplica ao vulgar espectador que está no fundo da sala de espetáculos a queixar-se que o público são todos uns “posers”? Provavelmente nada, mas isto leva-me a um outro tema que pode, ou não estar relacionado: o elitismo. Na sua génese, e um pouco à semelhança do punk, o Metal surgiu nos subúrbios e pela mão de músicos nascidos em famílias de operários. Estavam, portanto, longe, em todo os sentidos, do que se poderia chamar a elite. E entenda-se aqui elite como a classe alta, com um maior poder sócio económico. Se houve situação com que a comunidade metálica desde cedo se insurgiu, foi contra a atitude segregadora que exibiam. Sempre foi criticado, e ainda hoje é, e bem, o preconceito. Fazer juízos de valor sobre alguém apenas porque o penteado e a forma de vestir foge aos seus padrões, é efectivamente algo medieval e resultado de uma pobre diferenciação intelectual. Dito isto, cabe ao metaleiro criticar o jovem que usa uma t-shirt dos Linkin Park num concerto de Tool ou Dream Theater? Ou aquela jovem de all star branco e casaco de ganga atado à cintura que assim que começa a música quer fugir para trás? Ou mesmo aquele grupo de jovens irritantes que passam o concerto sem reação e deliram quando a canção mais comercial de todas é tocada? A meu ver a resposta é: depende. Ao assumirmos em absoluto e sem reservas este tipo de reações, até que ponto estamos a ser diferentes dos grupos que criticamos abertamente? A meu ver, nada. Se podemos e, permitam-me a forma como o vou dizer, ser diferentes? A meu ver, sim. Quem não se recorda daquelas fotos que mostravam um cenário pós festival Sudoeste absolutamente dantesco? Lixo até onde a vista alcançava, o que revelou, inevitavelmente, algo sobre o carácter da maioria das pessoas que o frequentaram. E como ficou o festival de Vagos? Imaculado! Isto foi uma enorme chapada de luva branca para todos os preconceituosos, e como eu gostava de as distribuir em massa! Sim, é verdade, temos aquele sentimento quase de posse em relação às nossas bandas de eleição, e quando vemos socialites como a Kim Kardashian (É assim que se escreve? Esqueçam, não quero saber!) com t-shirts de Canibal Corpse, Slayer e Metallica, é necessário muito autocontrole, para não dizer outra coisa. Mas lá está, as pessoas não são livres para fazer as suas escolhas? Toda esta polémica não é óptima para promover, de uma forma indirecta, as grandes referências do metal? Visto de fora, este mau estar pode ser interpretado como uma tentativa de controlar de alguma forma o que algumas pessoas vestem, o que está um passo à frente da segregação social que as chamadas “elites” tendem a fazer. Parece-me que não é a mensagem que os metaleiros querem transmitir. Portanto, ou a comunidade metálica assume com orgulho o seu elitismo, ou então, cabe-nos ser melhores. Não nos podemos esquecer que a dada altura, qualquer um de nós, até mesmo quem se considere o mais “troo” que pode existir… a dada altura todos fomos “posers”. Todos fomos miúdos que foram cativados pelas músicas e bandas mais comerciais, sem qualquer conhecimento do género musical. E também é verdade que queríamos saber mais e mais, e mais… E essa atitude, é de valorizar, e porque não, ajudar? E se não quiserem saber mais, e só vão aos concertos para postarem nas redes sociais... critiquem à vontade! São posers!

31 / VERSUS MAGAZINE


resistência e 3 2 / VERSUS MAGAZINE


adaptação 33 / VERSUS MAGAZINE


S

e tem algo que os Sepultura tão bem demonstraram ao longo de seus quase 37 anos de existência é a enorme capacidade de resistência e adaptação. Implacável e incansável, rompendo a barreira inexorável do tempo, o grupo se notabilizou pela persistência. Refuse/Resist – recusaram e resistiram – todas as adversidades. Empurrando o tempo sempre para o adiante. Respeitando o passado, vivendo o presente, porém levando para a frente todos os aconteceres. A necessidade, rubra de tão forte, de seguir sempre adiante. Quando lançaram o aclamado Quadra em fevereiro de 2020, os Sepultura tinham a agenda preenchida de março a dezembro. A pandemia da Covid-19, entretanto, forçou a banda a mais uma adaptação em sua carreira. Todos em casa, músicos, crew, fãs, era impossível excursionar e dar concertos. Em março de 2020, tudo eram dúvidas, questionamentos, todo o mundo tentava aprender a conviver com uma ameaça cujas proporções eram desconhecidas. Em meio ao caos e às incertezas, surgiu a ideia da SepulQuarta. Eventos semanais em que os Sepultura se apresentavam de forma direta aos seus fãs. Um conceito que buscava inspiração nas concepções do Quadra: realizado inicialmente às quartas-feiras, iniciando-se às quatro da tarde no horário de Brasília e dividido em quatro partes - introdução, o direto sempre com convidados e aberto a perguntas dos fãs, a performance da música e o storyteller. De uma destas seções deste evento semanal, surgiu o novo álbum SepulQuarta. Um lançamento que não fora planejado por Andreas Kisser, Paulo Jr., Derrick Green e Eloy Casagrande quando, lá em abril de 2020, iniciaram as transmissões no canal de YouTube da banda na qual executavam uma “versão de quarentena” de alguma de suas músicas. Muitas destas versões contaram com a participação de diversos convidados ilustres, todos amigos da banda, e 15 delas estão incluídas neste álbum, lançado oficialmente no dia 13 de agosto, via Nuclearblast. Em uma conversa de cerca de 45 minutos, o guitarrista Andreas Kisser contou a Versus Magazine como surgiu a ideia e a concepção do evento semanal SepulQuarta e de que forma isto evoluiu para o álbum homónimo. Explicou-nos porque algumas das versões ficaram de fora, abordou as transmissões feitas com ícones da cultura brasileira como Ney Matogrosso e Zé Ramalho, deixando em aberto a possibilidade de no futuro voltarem a se apresentar com Zé Ramalho e a vontade de fazer algo com Ney Matogrosso. O músico falou, ainda, sobre a questão ambiental, um tema cuja preocupação da banda se encontra expressa desde o Chaos AD e que mais recentemente voltou à baila com a situação amazónica e que foi documentada no videoclipe de “Guardians of Earth”, também lançado durante o confinamento. Entrevista (em Português do Brasil): Emanuel Leite Jr. (com Eduardo Ramalhadeiro) Fotos: Marcos Hermes

34 / VERSUS MAGAZINE


A banda não é só no palco, a banda conversa fora dele. A banda briga. A banda fala de futebol.

Antes de falarmos sobre o SepulQuarta, queria começar a falar sobre o contexto que vos levou a essa experiência. Ou seja, a pandemia. Pois é. Foi a pandemia que forçou a gente a buscar um caminho diferente. A gente estava com um disco que havia saído em fevereiro de 2020. A expectativa era excelente, foi muito bem aceito. As turnês também. O ano 2020 estava repleto de shows, América do Norte, depois Europa, todos os festivais. Pois é, vocês lançaram o Quadra em fevereiro de 2020, um álbum aclamado pela crítica e adorado pelos fãs – considerado por muitos o melhor álbum do ano e um dos melhores da vossa carreira. A pandemia impediu que vocês fossem para a estrada… Com pandemia ou não pandemia,

cada dia é um novo dia. Obviamente que você tem um planejamento, mas eu acho que as coisas mudam e tudo mudou não só para o Sepultura, mas para todo o mundo. O que deu essa possibilidade de a gente saber que estava todo mundo em casa, os fãs estavam em casa, não podiam ir ao show, as bandas não podiam sair, etc. O Charlie Benante começou a fazer algumas colaborações com vídeo, cada um na sua casa, fazendo um som, uns covers. O Metallica começou o Metallica Monday, com shows completos e exclusivos em streaming. Em abril, depois que fechou tudo na segunda semana de março, eu conversei com a banda e passei essa ideia, disse que a gente precisava inventar alguma coisa para não perder o contacto com a galera e meio que nesse formato dos vídeos do Charlie e de uma vez

por semana ter um evento, a gente criou o SepulQuarta. Obviamente com o conceito ainda do Quadra, geometria, quadrivium, o quarto dia da semana, começava às quatro da tarde no Brasil e dentro desse evento, quatro eventos: que eram a introdução, o live Q&A, a performance da música e o storyteller, em que a gente lembrava coisas do passado. Então, isso salvou a banda! Eu não imaginaria o Sepultura sem o palco, sem turnês. Aliás, a gente nunca fez um Sepultura diferente disso. A gente sempre estava sempre em show, sempre em turnê. Era a nossa vida. E o passo seguinte de divulgação do Quadra era turnê. Que é o principal, merchandising e tudo. Então, o SepulQuarta foi o nosso palco, nosso backstage, nosso tour bus. A banda não é só no palco, a banda conversa fora dele. A banda

35 / VERSUS MAGAZINE


briga. A banda fala de futebol. Fala de tudo. Isso é ser banda. É você ter um relacionamento além do lance profissional. O SepulQuarta foi isso. A gente toda quarta-feira estava unido, conversando, quem é que a gente vai chamar, qual música vai tocar, qual vai ser o tema do live Q&A. Isso manteve a gente muitor unido. É bom ressaltar que a gente não planejava fazer um disco disso. Mesmo porque a gente não sabia quanto tempo ia durar isso. Lá em março falavam “em julho já está tudo beleza”, “em agosto já está tudo certo” e porra nenhuma, estamos aqui ainda, né? Sim, é verdade. E o SepulQuarta a gente foi fazendo, de acordo com os dias, já que não tinha possibilidade de volta. Aí ali para o fim de 2020 a gente começou a fazer quinzenal e para 2021 a gente resolveu parar. Foi aí que a gente viu que tinha um material fantástico nas mãos, com incríveis convidados. E, principalmente, com versões únicas. Não é um disco ao vivo e nem é um disco de estúdio. Está cada um na sua casa, gravando de uma forma diferente. A gente nunca tinha feito um disco nesse formato. Aliás, nenhuma banda havia feito um disco nesse formato. Esse é o primeiro disco assim. Então, era sobre isso que eu queria comentar. O processo de gravação foi completamente diferente. Para vocês é uma experiência nova. Total! Foi uma porta que se abriu. Não que vá substituir o estúdio ou a turnê. Obviamente que não. Mas, é uma possibilidade a mais. Imagina o que seria fazer um disco com todos esses convidados, o trabalho que não ia dar, o tempo, a necessidade de viajar, hotel, horário em estúdio, montar três baterias para fazer a “Ratamahatta”, por exemplo (risos). Pois é! (risos) Nesse formato foi muito simples, cara. Muito rápido, cada um

3 6 / VERSUS MAGAZINE

fazendo no seu tempo, no seu espaço, na sua maneira. Por exemplo, o Charles Gavin dos Titãs mandou a bateria dele gravada só do telemóvel – áudio e vídeo – lá da fazendo dele. A filha dele gravou e ele mandou. E está no disco. Também é importante falar que no disco a gente não fez nenhum overdub, só porque ia para o disco. Obviamente a gente fez uma remixagem, algo mais profissional, masterização, etc. Mas, não teve nenhum overdub, de nada, nem dos convidados, nem nosso. Então, é um disco muito autêntico, espontâneo e que é um formato diferente. É um formato novo, que acho que nem tem nome. E a gente nem ficou pensando muito em super produção. Porque normalmente quando você vai para o estúdio tem que pensar demais, aí quando você vai escutar a demo fala “porra, na demo estava melhor, hein?!” (risos) E isso acontece direto. Então, é aquela coisa, na demo você está mais espontâneo, no estúdio você começa a pensar demais, você perde. Para a gente é muito importante essa espontaneidade. E o SepulQuarta é 100% espontâneo. Quem fez a mixagem? Foi o Conrado Ruther, que é um amigo nosso, profissional aqui no Brasil. E a “Mask” foi a única faixa mixada pelo Devin Townsend. Ele pediu para mixar. Afinal, ele é um super produtor. Vocês convidaram uma série de pessoal para participar. Como foi esse processo? Foi fazendo contato com os amigos? Afinal, vocês são amigos de todos, né? Total! Foi ligar para os caras e falar “Estamos fazendo isso. Está afim de participar?”. Todo mundo falou sim. Eu falei com o Schmier do Destruction, por exemplo, mas ele estava sem data, mas não que ele não quis fazer, ele agradeceu, só que não deu. Mas, 98% deu certo. Mesmo quando eu voltei a falar com os convidados, quando disse que a gente ia fazer o disco e todos

eles assinaram, autorizando de maneira tranquila. Foi muito fácil. Foi muito legal. E qual foi o critério para a escolha das músicas? Claro, Phill Campbell em “Orgasmatron” foi por uma razão óbvia, bem como a Emily Barreto em “Fear, Pain, Chaos, Suffering”. Mas, e com os demais convidados, como foi essa escolha? Tem várias obviedades. Tipo, “Ratamahatta” com três bateristas. Matt Heafy do Trivium, eles já gravaram uma versão de “Slave New World”, então foi uma boa oportunidade de fazer junto com ele. “Sepulnation” com Danko Jones, foi ele quem escolheu a música, porque ele conhece mais o Sepultura do que eu, toda a banda e você (risos). Ele realmente é estudioso, conhece tudo dos discos, de cada música. A gente passou para ele acho que quatro ou cinco opções e ele escolheu a “Sepulnation”. E a gente também aproveitou esse formato para tocar uns lados B, lados C. “Apes of God”, “Hatred Aside”. “Hatred Aside” ficou muito boa, inclusive! Pois é, com as três mulheres nos vocais. A gravação original já tem três vocais, que é o Derrick, eu e o Jason Newsted. Foi meio que óbvio a gente pensar “vamos fazer Hatred Aside com elas”. Então, cada uma tem a sua história. E o setlist foi sendo feito sem pensar. Porque a gente pensava de quarta em quarta. A gente não estava montando um álbum. Tanto é que tem músicas que ficaram fora do disco. Pois é, eu ia perguntar sobre isso. Nem todas as músicas que vocês tocaram neste projeto entrou no álbum. As que não tinham convidados, eu entendo o porquê. Mas, de cabeça, lembro da versão de “Biotech is Godzilla/Polícia” com Tony Bellotto (Titãs) e Shavo Odadjian (System of a Down) que não entrou. Por quê? Porque a gente quis manter


Admiração! Eu já conhecia o Ney, de nos encontrarmos em alguns eventos, de tirar fotos. [...] Secos e Molhados! Um dos pioneiros do Rock.

alguma coisa para o futuro, entende? São versões fantásticas e exclusivas, como todas do SepulQuarta. Só que a gente já tinha 15 músicas, já estava um disco bem completo. A gente tem “Meaningless Movements” com o guitarrista do Jinjer, “Desperate Cry” com dois bateristas, com o Jason Bittner do Overkill, e essa que você mencionou com o Shavo do System of a Down e o Tony Bellotto do Titãs. Isso a gente deixou para algum lançamento no futuro, para ter algo na manga mesmo. Entendi. Por coincidência, com exceção de Orgasmatron, não há nenhuma música do Arise na SepulQuarta. Por isso. A gente não tinha intenção de fazer um disco. A gente não estava equilibrando.

Tanto que a gente estava fazendo pela SepulQuarta. Então, foi isso, a gente escolheu aquelas músicas para o disco e manteve outras para lançamentos mais para a frente. Vocês aproveitaram a SepulQuarta para lançar o clipe da música “Guardians of Earth”, feito em parceria com a organização sem fins lucrativos Amazon Frontlines. É um clipe fantástico, de uma faixa musicalmente sensacional e cuja letra traz uma mensagem fundamental. Como foi que se deu esse contato com a Amazon Frontlines? Foi através do Derrick. Ele tem o contato direto com a Seashpherd, que também participou de uma SepulQuarta. E através deles o Derrick conheceu a Amazon Frontlines. E eles foram fantásticos. Eles têm um acervo

de imagens que é inacreditável e abriram esses arquivos para o diretor e o Raul montou um clipe maravilhoso. A gente usou o SepulQuarta para isso, já que era tipo o nosso programa de TV, aquela coisa semanal, que tinha as novidades, com interação com os fãs e para colocar algo oficial mesmo, usar como plataforma oficial do Sepultura. Foi uma forma de se comunicar diretamente com o fã, né? Exato! E foi lindo. O impacto do vídeo foi assombroso! Foi maravilhoso. Gente que nunca tinha ouvido falar do Sepultura, inclusive. E, cara, o momento que o Brasil está passando, com esse governo, a destruição ainda mais rápida e letal desse governo, então acho que chegou em boa hora. E não foi uma coisa de aproveitar

37 / VERSUS MAGAZINE


a situação e fazer. É algo que o Sepultura sempre fez. Aliás, essa música foi escrita três anos atrás, dois anos antes do disco – foi uma das primeiras músicas que eu fiz. O Sepultura sempre se notabilizou por ter letras conscientes, com manifestos e denúncias. Falando sobre a questão indígena e do meio-ambiente vocês têm, por exemplo, Kaiowas (que tem versão na SepulQuarta com Rafael Bittencourt do Angra) e Ambush, que fala do Chico Mendes, que era um ativista da causa ambiental. É lamentável, passados quase 30

na relação com a natureza, o uso da água, coisas das quais a gente depende para sobreviver. Para mim é um absurdo isso de a gente ter que pagar para tomar água. O processo de engarrafar, em plástico, algo essencial para nós que é beber água. É uma coisa sem noção. A gente tem que lutar por uma relação mais saudável com a natureza, menos predatória. Está cada vez mais predatória. Até por causa do modus operandi da indústria e também dos nossos hábitos mesmo. Entendo que como músico e artista, temos que usar a

mundial. No nosso caso, a gente tem um presidente que estimula a estupidez, a ignorância, a falta de respeito, a não escutar e apenas ditar, como uma doutrina, um dogma. O pior desse governo do Brasil é que ele representa a antítese de tudo o que temos. Ele colocou como ministro do MeioAmbiente um negacionista que, inclusive, agora é investigado por envolvimento em venda ilegal de madeira, ele coloca à frente da Fundação Palmares uma pessoa

Você vê o Metallica fazendo som com a Lady Gaga, que também conhece muito Metal. E Pablo Vittar também tem essa capacidade vocal.

anos desde o Chaos AD, vocês têm “Guardians of Earth” vindo com este clipe que é também necessário no momento. É um vídeo que já nasce histórico, como um documento do momento que a gente vive no mundo. Como é que você vê essa situação? A gente sempre tocou nesse tema. Sempre falou disso e de forma mais intensa no Roots, principalmente. Mas, sempre teve elementos da música indígena, pois sempre foi nossa intenção fazer algo mais cultural. Acho que a gente tem muito a aprender com os indígenas, principalmente

3 8 / VERSUS MAGAZINE

nossa música para expressar esse tipo de coisa, para fazer parcerias como com a Amazon Frontlines, para chamar a atenção. Porra! Foi do caralho quando a gente lançou a “Guardians of Earth”. Eu recebi mensagens da Sibéria, por exemplo, falando que lá eles estão enfrentando problemas parecidos em suas florestas. Pessoas da Tailândia, dos EUA, de diversos países, não obviamente falando sobre a floresta Amazônica, mas sobre a questão da natureza, tribos e rios, principalmente. Esse é, infelizmente, um problema

que nega a existência de racismo no Brasil. Exato! Mas, a verdade é que o Brasil está largado já há muito tempo. Agora o que esse presidente está fazendo é um processo mais destrutivo, mais rápido. Ele ligou o “foda-se” e governa para os apoiadores dele, gente da Igreja, seja lá quem for. Nessas motociatas, o cara só fala da esquerda, de pão com mortadela. Mano! O Brasil é muito maior do que isso. É muito maior que essa briga de direita contra esquerda. A gente regrediu muito por causa dessa disputa ideológica.


A gente tem que viver o presente de forma a projetar o futuro. Essa questão do meio-ambiente é um exemplo. Exato. Mas, pensar o presente também. Essa questão de a gente ter que pagar para tomar água é absurdo, velho! É uma questão da nossa sobrevivência. Primeiro, vamos tomar água e vamos comer, depois a gente briga, beleza? (risos) Eduardo: O que eu admiro em vocês, entre outras qualidades, é a vosso ecleticismo. Foi genial vocês convidarem o Ney Matogrosso e o Zé Ramalho, do qual eu tenho o vinil do Roque Santeiro que comprei por causa do “Mistérios da Meia Noite” Sensacional! Eduardo: Disseste que estavas nervoso, é verdade? É sempre assim, né cara? Eu vejo os caras do Metallica, do Black Sabbath e vou ficar nervoso para sempre. O Scott Ian que é meu amigo, mas sempre estou assim, vai ser sempre ídolo. É difícil, quando você é fã, mesmo que você conheça o cara. Tipo o Jason Newsted, eu tinha uma amizade com ele de quase nos falarmos todos os dias, mesmo assim era “porra, Metallica”. E Zé Ramalho é a mesma coisa, o Ney Matogrosso. São dois ícones da música brasileira. São caras com estilos muito próprios. Principalmente o Ney Matogrosso, sendo homossexual, sempre de peito aberto, encarando a situação, não tentando esconder. Um cara que na década de 1970, velho, ser o que ele é, de maneira aberta, no possível da época, e isso é muito estimulante. É um cara de verdade. Um cara que sabe o que quer e luta pelo que ele quer. E o Zé Ramalho também. Um cara do Nordeste. Você é nordestino, Emanuel, sabe como é aqui no Brasil. E a gente aprende com esses mestres. O Zé Ramalho é um desses. É um privilégio de trabalhar com um cara desses.

Como foi que aconteceu esse contato com o Ney Matogrosso? Com o Zé Ramalho vocês já têm uma relação, mas com o Ney Matogrosso? Admiração. Eu já conhecia o Ney, de nos encontrarmos em alguns eventos, de tirar fotos. Mas, é admiração. Secos e Molhados! Um dos pioneiros do Rock. Aquele lance da pintura, a influência sobre o Kiss, eu sempre quis conversar sobre isso. Ele foi super solícito e ficou muito feliz. Foi um dos melhores Q&A que a gente fez, um dos que teve mais visualizações O fã do Sepultura já se acostumou a essas parcerias fora da caixa, digamos assim, para os padrões conservadores do Metal. Porque o headbanger é bastante conservador em relação ao Metal. Ainda é. É verdade. Mas, o fã do Sepultura já se acostumou que a banda é isso, pensa fora da caixa, vai além. E a live com o Ney Matogrosso mostra isso. Sem dúvida. Foi das mais assistidas. Já agora, de que forma Zé Ramalho e Ney Matogrosso te influenciaram como músico? Em todos os aspectos. Tudo o que você escuta te influencia. Até a Anitta se você escutar no rádio do Uber vai te influenciar – ou a fazer ou a não fazer (risos). Aproveitando, deixa eu te fazer uma pergunta. Vocês nunca pensaram em falar com a Pablo Vittar? Ela é fã de Metal. É verdade. Já ouvi dizer isso mesmo. - Pois é. É capaz de curtir Sepultura também. Seria interessante. O Sepultura está aberto. Você vê o Metallica fazendo som com a Lady Gaga, que também conhece muito Metal. E Pablo Vittar também tem essa capacidade vocal. E se conhece Metal, ajuda demais a fazermos alguma coisa juntos. O Zé Ramalho, por exemplo, o

repertório dele quando a gente foi fazer a pesquisa para fazer juntos, era rock’n’roll. Década de 1970 era tudo Rock na verdade. Os Novos Baianos, por exemplo. Alceu Valença também. Sim! Alceu Valença também. Os caras tocavam e você ouvia guitarra mesmo, rock. Pepeu Gomes. O Rock na década de 1970 era muito mais presente em outros estilos. Na Jovem Guarda também. Pois é, muito da Jovem Guarda tinha influência do Rock italiano. Pois é! Exatamente. Total. “Tomo um banho de lua” e outras músicas. Então, o rock nos anos 1970 e 1980 era muito forte, uma coisa natural, não era algo forçado. Por isso, foi muito fácil fechar um repertório com o Zé Ramalho e a voz dele encaixou muito bem com o Sepultura. Mesma coisa com o Ney Matogrosso se eventualmente a gente fizer alguma coisa juntos. Ele tem o DNA roqueiro. Com o Zé Ramalho vocês já haviam gravado “Dança das Borboletas” para a trilha de Lisbela e o Prisioneiro, além de terem tocado juntos no Rock in Rio, dando origem ao ZéPultura. Será que no futuro é possível novamente alguma parceria com o Zé? Com certeza! A nossa vontade é fazer um show completo. No Rock in Rio foi mais curto. Tem espaço para a gente fazer mais coisas. E Ney Matogrosso? Já chegaram a falar? Deixar algo em aberto? Falar ainda não, mas em aberto sempre. Acho que também tem que ser algo que tenha uma energia que valha a pena, no sentido de não fazer por fazer. Acho que essa coisa da química, de um certo objetivo que a gente tenha junto. O Zé Ramalho a gente já tinha feito a trilha sonora e a nossa vontade era mesmo de fazer algo no palco. Zé Ramalho também participou do teu álbum solo, Hubris.

39 / VERSUS MAGAZINE


Sim, fez “Em Busca do Ouro”, que é uma música sensacional. Uma letra de Tony Bellotto e música minha. Fui gravar no Rio de Janeiro, Zé Ramalho passou a música duas vezes e resolveu. Tem até clipe da música. Sim, quem fez o clipe foi um pessoal da Metodista de São Bernardo, que estava se formando em cinema. Eu não gastei nada com o clipe e eles fizeram um trabalho fantástico. E como eu não pude estar junto com o Zé Ramalho, a gente inventou aquela coisa do telão. Eu lembro de ter te sugerido um convite ao Fernando Ribeiro, do Moonspell, para a SepulQuarta. Acho que as duas bandas têm muito em comum, a começar por partilharem a mesma língua-mãe, mas também pela trajetória, principalmente pelo reconhecimento em casa só ter vindo depois do sucesso internacional. O Fernando até foi entrevistado no teu programa de rádio com o teu filho, Yohan, o Pegadas de Andreas Kisser. Chegou a rolar um convite para a SepulQuarta? Não rolou porque não teve espaço, realmente. A gente falou muito do Moonspell. Inclusive, um dos nossos empresários trabalha com o Moonspell também. Eu tenho muito contato com o Fernando. Eles estão com a página do Patreon e a gente está abrindo a nossa e ele tem ajudado muito a gente nesse aspecto, sabe? Pela própria experiência que ele tem. A gente se conhece muito bem, tem um contato bom com o Moonspell. Infelizmente, não deu por falta de calendário mesmo. Mas, o SepulQuarta pode voltar a qualquer momento. É uma possibilidade que a gente abriu e não é porque a gente parou em 2020 que nunca mais vai voltar. Confesso que eu sou bastante pessimista em relação ao nosso futuro. Não acredito que um dia voltemos ao que chamávamos de

40 / VERSUS MAGAZINE

“normalidade”. O que tu achas? Com pandemia ou sem pandemia, eu não sei o que é “normalidade”. Normalidade é voltar ao quê? Três anos atrás, 10 anos atrás, 20 anos atrás? Tudo muda. A gente tem que aceitar. A gente tem essa ilusão de que controla a nossa vida, que tem escolhas. E não é assim. Muitas das coisas que acontecem a gente não tem controle nenhum. E a gente vai se adaptando. Como artista, a gente está muito acostumado com isso: agora não é mais vinil, é CD; agora não é mais CD, é Napster, é download. Então, a gente tem que ir se adaptando. Eu nunca fiquei buscando volta para nada. É o presente que existe. A nossa relação com o passado e o futuro é sempre feita hoje, agora. Nesse aspecto, eu não tenho ansiedade de volta nenhuma. É trabalhar com os elementos que a gente tem nas mãos, que estão sempre mudando. Max Cavalera saiu da banda e não tem mais Max, tem Derrick, então vamos trabalhar com ele e não pensar em voltar a uma normalidade. Como se uma volta do Max fosse voltar para alguma normalidade. Isso é verdade. Estamos em 2021, não tem como voltarmos para 1996. Pois é. O que é o Sepultura? O Sepultura se cria todos os dias. Aliás, acontece isso com as nossas vidas, todos os dias. També não estou com medo do futuro. Nunca tive medo do futuro. Porque a gente vive hoje. Todo dia vai ser um dia. Lógico, a gente tem responsabilidades, consequências de outras histórias e memórias, para não fazer certas coisas, você tem que ser responsável. Mas, não ficar preso ao futuro, porque ele não existe, nunca chega, pois o que chega é sempre o presente. E o SepulQuarta foi isso. Caralho! Turnê pronta, tudo ensaiado, show perfeito, bilhetes vendidos. Acabou de uma hora para outra, da noite para o dia. No dia seguinte eu já tinha outra ideia na cabeça. Não dá para sair em turnê?! Vamos inventar outra coisa. SepulQuarta

foi o que nós inventamos. E o Sepultura ficou muito mais forte. Eu não imaginava o Sepultura fora de turnê e a gente viu que o Sepultura é possível sem estar no palco. Obviamente que por um período limitado, não quero ficar aqui para sempre. Mas, acho que foi um período de transição e de possibilidades que se abriram. Aí sim, para o futuro, de ter uma nova maneira de gravar um disco, fazer um vídeo-clipe dessa forma, com convidados de várias partes do mundo. De repente um diretor de cinema está em Londres e te liga dizendo que está mandando alguém ir onde você está para te filmar. Com o Derrick foi assim – olha estamos mandando alguém para filmar você – quando fizemos “Guardians of Earth”. Enfim, esse aspecto sim. Então, eu puxei esse assunto para perguntar sobre seja como for essa questão do futuro, achas que no futuro, quando passarmos realmente por um processo de maior (re)abertura, as bandas e os músicos possam usar esta experiência adquirida no confinamento ou esta forma diferente de trabalhar para fazer algo de diferente? Sim! Sem dúvida. Tudo muda, tudo está sempre mudando. Eu tenho isso muito claro na minha cabeça. É algo que é sensacional. Você acha que tem as coisas prontas e vai ser assim para o resto da vida? Não tem essa ilusão. As coisas realmente mudam. A mesma coisa é com o vírus. A gente vai ter que aprender a viver com o vírus, pois ele não vai sumir. Vai ficar aí para a geração da sua filha, dos seus netos. A gente vai aprender a viver com isso como vive com febre amarela, com varíola, etc. E isso é mais uma delas. E o mundo da música vai ter que se adaptar. A gente tem que aprender a conviver, não é ignorar. O que as pessoas estão tentando fazer é ignorar. Mas não se pode ignorar o vírus. Ele existe e está aí. A gente tem que aprender a conviver com ele.


Por exemplo, quando a gente foi para a Índia. Se a gente não tivesse vacina contra febre amarela não entraria na Índia. Isso sempre teve. Aliás, existem lugares dentro do próprio Brasil para os quais você nem pode ir se não tiver vacinado para a febre amarela. Agora temos uma nova vacina. Isso de aprender a conviver com o vírus nós temos visto aqui em Portugal. Eu, por exemplo, fui a jogo de futebol. Certificado digital de vacinação no telemóvel, máscara no rosto, álcool em gel no bolso, distanciamento entre as cadeiras e estava lá. Sensacional! Aliás, o Moonspell já fez alguns concertos também. Sim, acompanhei. Acho que a gente vai ter que ir aprendendo mesmo com acerto e erro. Quanto mais o tempo passa, mais a gente vai ter informação acerca desse vírus. Em março de 2020 era o caos total, ninguém sabia nada. Agora a gente já vai sabendo, temos as vacinas, sabemos que não é tão transmissível pegando em superfícies. A gente sabe que não pode ficar em um lugar fechado com muita gente, etc. Então, falando de futuro deste futuro mais próximo, vocês têm turnê agendada para a Europa em novembro e dezembro. Tocam no Porto dia 18 de novembro, inclusive. Como está a vossa expectativa para, finalmente, poderem voltar à estrada? Espero que aconteça, né? A gente tem visto muita turnê sendo

interrompida por causa de infecções. Muitos países na Europa que têm fronteiras fechadas, vacinas que não são aceitas. Não dá para a gente fazer turnê assim, né?

Verdade. Tanto que as apresentações tendem a melhorar com a passagem da turnê, né? Exato. E é isso que a gente precisa para o Quadra, para evoluir, desenvolver, para o próximo disco.

Pois é. No Brasil muita gente tomou a vacina da Coronavac, que ainda não é aceita pela União Europeia. Pois é. A gente não tomou Coronavac, por acaso. Mas, é isso. Sei que alguns países estão se abrindo aos poucos. No contexto europeu, fazer turnê como a gente fazia, até agora hoje ainda não é possível.

Por sorte, vocês tocam no Porto já a meio da turnê. Já vamos ver vocês engrenados. Assim espero (risos).

E como está, então, a logística para esta turnê do fim do ano? As datas estão mantidas? Sim, estão mantidas todas as datas. A gente se baseia nisso. Nós estamos prontos para sair em turnê. Lógico, a gente tem que fazer alguns ensaios para pegar o ritmo. Mas, também, ritmo só em shows, porque é como no futebol. Não adianta de nada deixar o cara treinando seis meses se não colocar em campo. É outro ritmo, outra intensidade.

Vocês pretendem fazer um setlist especial, devido ao tempo parado por conta da pandemia? Ou vão focar no Quadra? O foco é Quadra, total. A gente está com sete músicas do Quadra no setlist. A gente está muito ansioso nesse aspecto, de tocar as músicas novas. E a galera quer ver isso também. Devem se perguntar – será que eles conseguem tocar “Pentagram” ao vivo? E nós conseguimos! (risos). Aliás, foi a música mais difícil de pegar nos ensaios, mas a gente pegou ela, está fantástico. Então, é esse tipo de coisa que a gente precisa desenvolver, evoluir para um próximo estágio e sem o palco a gente não consegue isso. É isso, Andreas. Chegamos ao fim da nossa conversa. Obrigado pela atenção. Eu que agradeço. Facebook Youtube

4 1 / VERSUS MAGAZINE


ALBUM

VERSUS E X I ST E NC E: V O I D «Anatman»

(Gruesome Records/Nox Liberatio Records)

Depois das primeiras rotações de «Anatman» a interrogação que nos assalta de imediato a mente é esta: por que raio esteve um trabalho deste calibre guardado numa gaveta durante dez anos? Ao que parece, parte dele chegou a ser apresentado ao vivo em 2011, mas, por algum estranho motivo, os seus criadores não quiseram apostar seriamente nele, na altura, adiando a sua gravação até 2019. Felizmente o atraso não afectou muito o impacto da música que soa hoje (quase) tão excepcional como soaria há dez anos atrás. Suportado numa inusitada mescla conceptual que junta Nietzsche, ideias budistas e mitos do folk luso-galaico, os conimbricences Existence:Void (que são 3/4 do line-up dos Antichthon mais o baixista Filipe Gomes, dos Destroyers of All) apresentam aqui um trabalho claramente ancorado numa variedade de influências black metal, mas que convergem numa fusão de estilo coerente e num resultado final que está aí para resistir ao teste do tempo. A erupção desenfreada de “Eternal recurrence”, com subtis arranjos orquestrais (recorrentes, aliás, ao longo do disco) pode remeter de imediato para o black norueguês, mas depois as mudanças de tempo bem colocadas e o apelativo trabalho de guitarra revelam algo bem mais galvanizante. “Paragons of fury” reitera inclinações progressivas (à lá Akercocke), ao passo que o tornado de riffs em “Sword of overman” introduz referências a Mayhem a par de alguma dissonância. Ao contrário do que fez no álbum dos Antichthon, o vocalista Alex Mendes dá aqui preferência a um registo mais limpo, de quem apregoa manifestos a plenos pulmões, o que parece exprimir melhor as temáticas filosóficas subjacentes. Elementos contemporâneos de post-black (e.g. Cult of Luna) surgem em “Old saint” sem com isto comprometer a integridade e o traço progressivo (e não propriamente avantgarde) que volta a evidenciar-se no sofisticado “Resplendent sun”, particularmente nas tiradas criativas da parte final. A terminar em tom heróico, “Metamorphosis of man” sugere uma evidente vénia aos franceses Blut Aus Nord, sendo pois o número mais cerebral em oferta. Com um estilo de composição inteligente e apelativo e beneficiando de uma produção ao nível do que sai dos estúdios mais badalados do mundo, os Existence:Void acabam de apresentar um trabalho colossal com uma capacidade de impacto semelhante ao que os Sirius conseguiram em 2000 com o histórico «Aeons of Magick». Esperamos é de não ter de aguardar outros dez anos para ouvir o próximo disco da banda. [9/10] ERNESTO MARTINS

42 / VERSUS MAGAZINE


4 3 / VERSUS MAGAZINE


T

he Ruins of Beverast

De uma forma bem atual, esta banda veterana alemã transmite uma mensagem de condenação da atitude do ser humano em relação à natureza, que serve de pano de fundo ao seu último álbum: «The Thule Grimoires». Entrevista: CSA

44 / VERSUS MAGAZINE


4 5 / VERSUS MAGAZINE


Passado, Presente e… Futuro Os Helloween, uma verdadeira instituição do Heavy Metal, estão de volta com um dos mais aguardados álbuns do ano. Se os Iron Maiden regressaram com três guitarristas, os Helloween não se fizeram rogados e reuniram-se com Kai Hansen e Michael Kiske – dois vocalistas e três guitarristas. “Helloween”, o álbum, é uma reminiscência sonora, com um “olhar” directo ao futuro, uma forma de estar na vida (e na música). Se valeu a pena? Valeu! Melhor álbum desde o Keepers pt2! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Franz Schepers

46 / VERSUS MAGAZINE


Olá Markus! Em primeiro lugar, espero que esteja tudo bem com vocês, família e amigos. Markus: Sim está tudo bem, obrigado Na minha humilde opinião, Helloween teve dois álbuns muito importantes: Obviamente, «Keepers» foi a referência – ainda é – que definiu a vossa música e «Master of the Rings» – o álbum mais importante – porque depois desses dois, surgiram álbuns não tão consensuais, os problemas com o processo, a saída de Michael e a morte repentina de Ingo, e a banda precisava de um álbum que colocasse a banda de volta no topo. Então, «Helloween» é o álbum que permitirá redefinir a vossa música ou é outro álbum crítico? Yeah! Quando o Andi entrou para a banda disse: “tudo bem, vou juntar-me a vós, mas apenas se Helloween soar da forma que deve ser”. Ele foi uma verdadeira lufada de ar fresco para o coração desta velha banda e nós fizemos esses dois álbuns. Trabalhar com ele no início foi tão rápido e teve óptimas ideias sobre o que deveríamos ser e isso foi como dar-nos um chuto no traseiro! Portanto, foi um trabalho muito interessante e permitiu nos fazer um álbum realmente novo. É esta a razão pela qual este álbum se chama “Helloween”? Bem, é uma espécie de renascimento dos tempos dos «Keepers», pois tem elementos desde o início e elementos sobre o presente e também algo sobre o futuro. É disso que realmente eu gosto: há muito para vir, dado que somos compositores e já temos muito mais ideias. De volta àqueles anos sombrios e não tão bem-sucedidos entre 89 e 94, passou pela tua cabeça que a banda poderia acabar? Nunca pensamos em desistir. Quando começamos algo, sabemos que temos que passar por merdas, problemas e momentos difíceis.

Não podemos desistir só porque está a chover. O que quero dizer é que quando se começa uma coisa não se deve desistir ao mínimo obstáculo e, claro, é normal cometer erros. Quando começamos, éramos muito jovens e “empurramo-nos” para o rock ‘n’ roll, mas de repente, tivemos de lidar com um grande negócio e acabamos por cometer erros, no entanto, isso não nos impediu de seguir em frente. Em determinado ponto, sabíamos que algo estava errado, tratamos muito mal o nosso negócio e cometemos erros graves. Hoje em dia acho que vemos as coisas um pouco melhor. Nos primeiros tempos, as coisas eram muito novas para nós, mas só pensaríamos em desistir se sentíssemos que não éramos suficientemente bons para continuar o que começamos. Mesmo que voltem a surgir tempos difíceis, nós não desistiremos, não se vão livrar dos Helloween! Até a pandemia não está a conseguir matar nos! É necessário algo mais do que uma pandemia para nos matar! (risos) Há alguns anos, conversei com o Michel e perguntei-lhe algo sobre o «Chamaleon». Agora vou perguntar-te algo sobre «Pink Bubbles». Quando as pessoas dizem que «Pink Bubbles» não é um bom álbum, eu sempre digo: “O único problema deste álbum é ter sido o sucessor de «Keepers»”. Concordas? Por que fizeram essa mudança musical entre «Keepers» e «Pink Bubbles»? Estávamos com um estado de espírito muito estranho e não entendíamos que os nossos membros estavam meio loucos e tolos e algo estava errado. Então, entrar num estúdio com a banda assim foi realmente estranho e trabalhar com um estado de espírito como este foi muito pesado, mas fizemos o melhor que pudemos para sair disso e, de alguma forma, considero que é um bom álbum, mas provavelmente não o suficiente bom para uma banda chamada Helloween. De

facto, não é um álbum clássico dos Helloween que se esperaria, mas depois de todos esses anos, vendo bem, «Chamaleon» também não o é. Agora, de volta ao «Helloween», 28 e 33 anos após a última vez no estúdio com o Michael e o Kai, o que sentiste quando entraste no estúdio pela primeira vez? Nostalgia ou sensação de um novo começo? Ambas. A nostalgia estava muito presente porque os dois tipos com quem trabalhei no passado já estavam lá, sempre por perto, dando-me ideias de músicas novas e, depois, também foi tudo novo por causa do Andi e do Sascha. E a combinação disso deu-me a velha sensação com novas ideias, o que foi óptimo. Ao mesmo tempo tivemos coisas dos bons velhos tempos e ainda temos planos para o futuro. Acho que este álbum contém uma surpresa muito especial: Dani toca com a bateria original de Ingo. De quem foi a ideia de usá-la? Foi algo que decidimos quando fizemos o álbum. Não sei se viste algum concerto dos Helloween na última digressão… Sim, vi-vos em Portugal… Quando Dani tocou a bateria e gritou, foi uma das partes mais emocionantes do concerto. Portanto, pensamos como poderíamos obter esse espírito quando voltássemos para o estúdio. E pensámos que seria uma excelente ideia para trazer de volta o grande espírito do Ingo, usar o kit que era dele. Dani deu o seu melhor! Foi inspirador. Também usámos o mesmo estúdio que Ingo estava a compartilhar connosco e as mesmas máquinas analógicas muito antigas com as quais a sua bateria foi gravada. Tentamos trazer o espírito do Ingo para o estúdio. É possível ver o Ingo a tocar com esse kit no Youtube? Acho que sim. Penso que podes ver

4 7 / VERSUS MAGAZINE


isso nalguns concertos realizados no Japão. Outra coisa que vai surpreender as pessoas é o facto de terem gravado totalmente analógico. É assim mesmo? Usaram algum tipo de equipamento especial? Não sei. Tivemos que nos separar por causa do Covid. Anteriormente, costumávamos ter no estúdio cerca de 10 pessoas, incluindo produtores e tudo mais… Eu gravei na Alemanha com o Dennis Ward, Kai e os outros gravaram noutro lugar e estávamos a enviar as músicas e as nossas partes uns aos outros pela internet. Portanto, não te posso dizer como é que eles fizeram. No que me diz respeito usei aparelhagem muito antiga, baixos Sandberg, claro e em alguns

48 / VERSUS MAGAZINE

temas usei, também, um antigo Fender de Jazz, de 1964 e também um Fender Precision de 1973. Mais uma vez, Charlie Bauerfeind produziu os Helloween. É ele o oitavo membro da banda? (risos) Ele é mesmo um membro da banda porque já nos conhece muito bem, ele é tão membro como o Dr. Stein, ou a abóbora, ou o Keeper… percebes? (risos) Ok, agora, 3 vocalistas e 3 guitarristas - acho que vocês deveriam contratar um segundo baixista, só para equilibrar as coisas, pode ser o Dennis - como é que a banda decidiu quem cantava o quê? (risos) Foi como já te disse, como estávamos todos separados, eu não estive envolvido nessa decisão

mas quando o ouvi pela primeira vez, fiquei surpreendido… eles sentaram-se num bar a discutir essas coisas, juntamente com o Dennis e o Charlie. Com sete pessoas a tentar apresentar as respectivas ideias e tantas coisas a acontecer ao mesmo tempo, o processo de trabalho e composições foi mais complicado e diferente do que vocês costumam fazer? Bem, fazer um álbum nunca é fácil mas tendo mais duas pessoas que são muito criativas a atirarte ideias enquanto estás a tentar assimilar… a minha cabeça ia explodindo (risos) e se tentarmos tudo para ver o que a música realmente necessita, o processo não se torna mais fácil, no entanto,


(Helloween...) “[...] é uma espécie de renascimento dos tempos dos «Keepers», pois tem elementos desde o início e elementos sobre o presente e também algo sobre o futuro. cada segundo perdido a trabalhar essas ideias valeu a pena e é isto, no fundo o que um artista necessita. Relativamente à composição dos temas, qual foi a tua contribuição? “Indestructible” foi resultou de uma ideia minha e tenho outra que só saiu como bónus na edição Japonesa… só tive uma contribuição neste disco mas eu gosto! (risos) Que eu conheça tiveste dois projetos paralelos. Nestes tempos de pandemia e confinamento alguma vez pensaste que poderia ser uma boa oportunidade para outro álbum a solo, por exemplo, Bassinvaders ou Shockmachine? Isso consome muito tempo e eu estive muitos anos fora de casa e eu decidi não fazer mais nada a não ser renovar o meu apartamento, cuidar da minha família, conhecer novas pessoas, cozinhar para os meus amigos, pescar… basicamente, fazer nada. (risos) Para o ano vai começar a digressão e depois não terei tempo para nada disto. (risos)

Quando ouço “Out for the Glory” a minha primeira ideia foi: “ok, no próximo concerto em Portugal vão abrir com este tema”. Há planos de tocarem aqui na próxima digressão? Não sei… ainda não tenho memorizado o plano de digressão. Nós podemos ir a Portugal mas se tudo correr bem queremos é tocar em todos o lado e Portugal sempre foi bom para nós! ... mas esta música traz-me de volta algumas memórias, especialmente quando eu ouço o refrão, eu vejo uma vibe de Pink Bubbles, mas depois ... vêm aqueles gritos de Kai e ... ok, eles misturam Pink Bubbles com um pouco de The Walls of Jericho (risos) Se for assim, foi intencional ou saiu naturalmente? (risos) Eu não sei… mas se o Kai canta… vai soar definitivamente ao… Kai dos tempos antigos (risos) mas toda esta mescla está ligada ao passado, presente e ainda, ao futuro. Com o Andi soa a presente… (risos) mas o Kai soa ao passado, só que melhor. (risos) Mas é muito bom porque me faz lembrar toda a Era dos Helloween.

Mas… a forma como «Skyfall» foi recebido pelos fans, e claro, pela música em si, poderemos dizer que, até hoje, poderá ser uma das melhores músicas dos Helloween Isso não sei, depende do ouvinte. Daquilo que compreendo das letras, «Indestructible» e «Best Times» podem definir a banda nos dias de hoje. Estou certo? A «Best Time» foi composta porque as pessoas necessitam de algum positivismo e de algumas vibrações positivas. É o que gostamos de fazer, é heavy metal, usamos os clichés, mas no final do dia é a procura da luz ao fundo do túnel. É o sair da pandemia e voltar ao normal. É o que gostamos de fazer juntos. É o que descrevo na «Indestructible». Poderemos dizer que «Helloween» é uma remanescência dos melhores momentos da banda? É como uma viagem musical. É assim que este álbum soa. Na capa encontramos referencias a álbuns anteriores, e é incrível que ainda não tenha recebido a minha edição de Black Vinyl

4 9 / VERSUS MAGAZINE


Earbook. Quem fez o design e como está relacionado com a música? Descreve perfeitamente a história dos Helloween porque tens os anéis, as chaves, existe o Keeper, o Dr. Stein encontra-se por lá escondido, as abóboras… É uma fotografia familiar. Como vês o esforço da Nuclear Blast para promover os «Helloween», incluindo 10 edições diferentes? Sim, estão a fazer um trabalho excelente. É a vantagem de trabalhar com eles, não tens um gajo de fato e gravata atrás da secretária, estás rodeado de pessoas que adoram heavy metal e trabalham por paixão. Tens edições para todos os gostos e colecionadores, tens verde, preto, azul, coloridas. Não diria que todas as pessoas os adquirissem todos, mas na música rock existem por aí muitos colecionadores e creio que é uma peça emocional muito porreira para quem gosta. Falando de promoção, o «Hellbook» está esgotado, existe algum plano para uma nova edição»

Não deverás encontrar porque não foi lançada pela Nuclear Blast. Creio que daqui a 10 ou 15 anos faremos outra com uma nova formação (risos). Da última vez, falei com o Mike e perguntei-lhe sobre o «Live in the UK» e se haveria planos para lançar o concerto inteiro, e ele disse-me que o Daniel já tinha efetuado alguma programação das partes das baterias. Existem desenvolvimentos? Um possível «Live in the UK» parte 2? Não sei, não sei… acabámos de lançar um álbum ao vivo e não sei se faria muito sentido lançar já outro. Antes desta reunião muitas pessoas estavam sempre a comparar o Andi e o Michael, e de alguma forma, criticavam a banda. Achas que a partir de agora o deixarão de fazer? Andi fez um enorme trabalho no passado sem o Michael e a cantar as músicas dele. Às vezes ouvia gritos a dizer que o Michael as cantava melhor. Mas a verdade é que ele teve a coragem de dizer que o Michael as canta melhor. No entanto, não quero saber,

não deixam de ser músicas dos Helloween e iria sempre cantálas ao vivo… precisamos daquelas músicas. A digressão «The Pumpkins United» foi fantástica, com um excelente setlist. Como vai ser esta digressão, ainda maior? Teremos grandes bandas de suporte, como os «Hammerfall» que irão tocar cerca de hora e quinze minutos e depois teremos cerca de duas horas e quinze a duas horas e vinte dos «Helloween». Vai ser fantástico. És um dos dois membros originais, por isso 16 álbuns e 36 anos depois como vez a tua viagem a bordo dos «Helloween»? Tem sido boa, mostra-me que fiz tudo bem (risos), foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Adoro. Arrependes-te de alguma coisa? Absolutamente nada! Claro que com o conhecimento de hoje farias coisas diferentes em termos do negócio, mas na altura era impossível, por isso não me arrependo.

(Pink Bubbles...) “Estávamos com um estado de espírito muito estranho e não entendíamos que os nossos membros estavam meio loucos e tolos e algo estava errado. 5 0 / VERSUS MAGAZINE

Facebook Youtube


5 1 / VERSUS MAGAZINE


ARMADA LUSA AZORES & M ETAL Vol#1

(Independente)

“Antes morrer livres que em paz sujeitos” – este é o lema constante no brasão de armas da Região Autónoma dos Açores e que até poderia ser o mote, também, para o trabalho desenvolvido por Mário Lino sob a forma do Museu do Heavy Metal Açoreano. Sim, para os mais incautos melómanos, o conjunto das sete ilhas plantadas no meio do Atlântico tem um conjunto de bandas de categoria. Este primeiro volume do “Azores & Metal” reflecte todo o trabalho e dedicação ao Metal Açoreano por parte do Mário Lino que criou uma compilação com produção 100% Açoreana e nela podemos encontrar uma panóplia de bandas que merecem atenção e divulgação. Poderíamos começar, talvez, pelos Morbid Death, a banda mais representativa (ou conhecida) que contribuiu com um tema inédito e exclusivo, assim como os Veia. Os Wrek Age juntaram-se ao fim de alguns (muitos) anos e apresentam, em primeira mão, “Carved in Stone”. Podia continuar com várias descrições, o punk dos Palha d’Aço ou os acabadinhos de nascer Mazk. Não faltam é razões para adquirir e descobrir o que de melhor tem o Metal Açoreano e esperar por mais volumes. Não há classificação: comprem, divulguem e promovam [--/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

H EXITIUM

«Sorcery of Revenge» (Miasma of Barbarity)

Bem… caríssimos leitores, leitoras e pessoal sem género… imaginem vocês que querem sugar toda e qualquer réstia e esperança de vida a uma pessoa, no sítio mais escuro e sombrio à face da terra. Este tormento que vocês querem que seja eterno precisa de uma banda sonora. Hexitium e «Sorcery of Revenge» é o que precisam. Sonoridade putrefacta, quase impercetível, do mais cru que existe, voz ultra cavernosa, riffs repetitivos, claustrofobia, desespero. «Sorcery of Revenge» suga a alma – para quem a tem - o corpo e a mente em direcção a um buraco de negritude. Isto é para pessoal que gosta do extremo eu não aguento tamanha escuridão, preciso de luz! E vocês? [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO LAW OF CONTAGION «Woeful Litanies from the Nether Realms» (Gruesome Records)

Saiu em CD, em 2020, via Moribund Records, e surge agora no velho formato K7. É o álbum de estreia do novo projecto de Ishkur, o multi-instrumentista português já conhecido de outros grupos como os Wistful, Sonneillon BM ou Nefret, que apresenta aqui uma tortuosa fusão de black e death metal sueco old school, de atmosfera opressiva e com uma produção caustica a condizer. Ao todo são sete temas muito competentes, com guitarras melódicas no habitual registo tremolo a sobressair bem da amálgama sónica infernal, mas também com uma apreciável dose de malhas que não descolam de construções genéricas, já ouvidas ad nauseam. “Litany”, “Cult of the damned” e “Mors ultima ratio” são os números a destacar. [6.5/10] ERNESTO MARTINS NAGASAKI SUNRISE «Turn on the Power» (Miasma of Barbarity)

Quem disse que o Punk está morto incorre numa blasfémia! Os Nagasaki Sunrise nascem da reunião dos membros dos Midnight Priest, Roädscüm e Vürmo. A banda descreve a sua sonoridade como Charged Pacific Rim Crust Punk of War – sim, não sei o que raio é isto, posso reduzir isto ao velhinho Punk, puro e duro, sem grandes merdas, sem efeitos ou floreados… simplesmente, Punk. O EP acaba num “abrir e fechar d’olhos” e é pena, muita pena, porque até estava a curtir – “Loud as Fuck” descreve bem a banda! [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

5 2 / VERSUS MAGAZINE


V OID OF APEP

«Horror Vacui – EP» (Independente) Os Void of Apep é um projecto nascido em 2020 e Mysticus, o único membro da banda, chama a si toda a responsabilidade de compor e interpretar esta inquieta negritude em forma quatro temas que vos irão remeter para o cru (underground) Black Metal dos anos 90. O EP, apesar de ser editado de forma independente, está bem “fabricado”, a música é crua e o ambiente criado suficientemente “sujo” e sobrenatural que deixa transparecer uma atmosfera luciferiana, digna de uma qualquer banda sonora saída das profundezas do inferno. Aguarda-se, portanto, com grande expectativa o lançamento do álbum de estreia. [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

PASSATEMPO A VERSUS, juntamente com o MUSEU DO HEAVY METAL AÇOREANO, tem cinco cópias para oferecer do CD «Azores & Metal», vol#1 - Vejam como na nossa página do Facebook ou Instagram

5 3 / VERSUS MAGAZINE


CURTAS MOANAA

«Embers» (Deformeathing Productions)

Já há algum tempo que venho seguindo os Moanaa, banda originária da Polónia. «Embers» é só o terceiro álbum mas auguro voos mais altos a este quinteto. Originalidade não será o (grande) forte dos Moanaa mas compensam e muito bem, em todos os outros aspectos: sonoridade, musicalidade, produção, etc., etc. … A música é uma boa mescla de post-black-rock-metal ora com temas um pouco mais atmosféricos e melancólicos, ora com blast beats bem rasgados e pesados, onde a voz é desesperadamente agressiva ou, então, muito mais calma e introspectiva. “Triad” por exemplo, começa numa suave e pura melancolia, para acabar num crescendo de fúria e agressividade. O álbum vive muito desta dicotomia, muito bem repartida entre a acalmia melancólica e a desesperada fúria dos riffs pesados, dissonantes e blast beats bem rasgados. Uma nota muito especial para a qualidade do design geral deste lançamento… impecável! Uma banda a seguir com muita atenção! [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

NETHERBIRD «Arete»

(Eisenwald)

Não é que tenha encontrado neste «Arete» algo de inovador ou extremamente refrescante no que a ideias diz respeito, mas é o momento de inspiração que os suecos estarão a atravessar que se transforma na grande mais-valia deste trabalho. Quando é bem feito aprecia-se com prazer. A raiz escandinava é bem pulsante, com alusões claras ao black/death metal mais melodioso, pelos quais a região é sobejamente conhecida. As paisagens são familiares, mas mesmo assim o passeio é surpreendente, com vários momentos em que nos fazem parar para contemplar o que nos estendem perante o nosso ouvido. [7.5/10] EMANUEL RORIZ

O BSIDIAN M ANTRA

«Minds Led Astray» (Independente)

«Minds Led Astray» é já um disco do final de 2020, no entanto, só em pleno verão me chegou à mãos e senti que, mesmo assim, era de grande interesse vos dar a conhecer. Este trio que nos chega directamente da Polónia, descarrega uma mescla de furioso e groovesco death metal, dissonante mas muito técnico e progressivo. «Minds Led Astray» é o terceiro álbum e deixa transparecer uma qualidade técnica e sonora muito acima da média, mesmo sendo de uma banda independente. Mais uma vez, não há nada de absolutamente novo, os temas estão bem estruturados, quanto a mim com o tempo certo, sem serem demasiado longos ou monótonos e o mais importante de tudo é que os Obsidian Mantra prometem muitas dores no pescoço. Claro, quase me esquecia da voz, cavernosa o quanto baste, apesar de sentir que poderia haver mais um pouco de versatilidade na forma de cantar. De qualquer forma, prestem atenção porque irão precisar de muito voltarem. [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

P ERILAXE OCCLUSION

«Raytraces Of Death» (Debemur Morti Productions)

É inegável que densidade sonora arremessada por estes canadianos causa um dano substancial. O death metal encorpado segue as regras clássicas, alternando entre a alta velocidade e momentos mais arrastados, mas onde a temática das letras é a modelação 3D, ilusão de óptica e a morte. Com uma mistura final curiosa, pela forma como posiciona os diferentes elementos, guitarras claramente à frente de tudo, enquanto a voz cavernosa e as batidas da bateria se deixam ficar mais ao fundo, talvez os Perilaxe Occlusion tenham argumentos para cativar fãs do estilo. [6/10] EMANUEL RORIZ

5 4 / VERSUS MAGAZINE


THE M ELVINS

«Working With God» (Ipecac Recordings)

Finalmente aconteceu e, percebe-se agora que seria inevitável. Não se sabe bem se foi Deus que desceu a Terra ou se os The Melvins é que subiram aos céus, ou porventura terá sido uma estrada de duas vias. O que importa é que aconteceu e, se tal não é suficiente, então não sabemos mais o que dizer! Dito isto, «Working With God» é uma experiência de Rock sónico, sujo e de experimentação alucinogénica, aliás, não fosse ilegal poderia ser sugerido um comprimido desses para a tosse ou para a má língua, é que Dunn, Osbourne e Deus chateados e, talvez ate tenham razão. Há por aqui uma “I fuck around”, versão de “I come around” (Beach Boys), que abre o disco e que desmonta quaisquer armas de defesa que possa existir. A partir daí o que vem é um estranho encontro de Naked Lunch com qualquer coisa de David Lynch. E o conforto dos The Melvins continuarem a ser os The Melvins. [8.5/10] NUNO C. LOPES

WHEEL

«Preserved in Time» (Cruz del Sur Music)

Este era um dos registos mais aguardados do ano e o caso não é para menos. Os germânicos Wheel (não confundir com os finlandeses) lançam, ao fim de um silêncio de oito anos o, sempre, difícil terceiro disco e. A tarefa parece ser ainda mais complicada após dois discos que apanharam o underground pelos pulsos. «Preserved in Time» é um enorme disco de Doom Metal e, ao mesmo tempo, uma ode a bandas como Candlemass ou Cathedral. Ao longo destas sete faixas somos empurrados para uma missa negra, caminhamos por sombras e nevoeiros, arrastando o nosso cadáver. Mais do que celebrar a vida é necessário preservar a memória, partir sem sair do mesmo sítio. É isso que a banda transmite num disco épico, onde o grande destaque vai para Arkadius Kurek, que funciona como o guia e o guardador de todas as memórias. «Preserved in Time» é, por tudo isto, um disco que apanhará velhos, e novos seguidores, de surpresa, este disco fica na memória de qualquer doomster, mas não só. [9/10] NUNO C. LOPES

5 5 / VERSUS MAGAZINE


Rage 2.0 Quase quatro décadas depois os Rage ainda se conseguem reinventar. A juntar a este facto, há mais de vinte anos que a banda não tocava como quarteto e, coincidência ou não, é um dos melhores álbuns na respectiva discografia: fresco e moderno. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro| Fotos: Julez Braunc

5 6 / VERSUS MAGAZINE


Olá Peavey, espero que esteja tudo bem contigo, amigos e família! Peavey: Sim, está tudo bem, obrigado! O álbum está previsto para ser lançado no dia 17 de setembro, mas tenho a sorte de o poder estar a ouvir ... e devo-te dizer: este álbum vai arrasar! Claro, eu só posso depreender que esperas reações muito boas. Estou certo? Nós damos sempre o nosso melhor para criar novos temas para os fãs. Isto é tudo o que podemos fazer. É inútil esperar o que quer que seja. As coisas vão acontecer como vão... Vocês seriam cabeças de cartaz no Festival “Milagre Metaleiro” mas este foi adiado. Há planos voltarem num futuro (muito) próximo? Pelo que eu sei, o festival acontecerá no próximo ano e estamos prontos para ele. O Covid agora é uma realidade - não por muito tempo, espero - e «Ressurection Day» nasceu no meio desta pandemia. Existe algum aspecto da música ou letra que foi influenciado por isso? Não muito, já que tinha feito a maioria das músicas antes. Apenas a letra do “Black Room” lembra um pouco sobre esse sentimento depressivo coletivo que muitas pessoas experimentaram durante esse longo período... Falando nas letras, tu disseste que não é um álbum conceptual, mas que, de alguma forma, as letras estão relacionadas. Podes-nos explicar um pouco sobre essa relação e o que te levou a escrevêlas? É uma visão filosófica da evolução cultural da humanidade desde a época da pedra até agora. 10.000 anos atrás, na era neolítica, houve uma mudança muito importante nos nossos hábitos. Antes de vivermos COM a natureza como nómadas, caçando e juntando apenas o que precisávamos,

vivendo em pequenos grupos, a população da terra não era grande. Aí nos viramos CONTRA a natureza, virámos fazendeiros, começamos a nos estabelecer, passámos a criar gado e a juntar bens, enquanto a população

Ao vivo é mais fácil tocar com dois guitarristas, pois temos mais liberdade em relação aos arranjos de guitarra em geral.

crescia com todos os efeitos negativos sobre o nosso planeta e o meio ambiente, como guerras, aniquilação da biodiversidade e colapsos climáticos. Os Rage tiveram uma grande mudança na formação: «Ghosts» foi o vosso último álbum como quarteto, em 99 e agora estão

de volta, outra vez, com quatro músicos. -Quais são / foram os principais motivos que te levaram a esta mudança? A ideia de colocar um segundo guitarrista já nasceu quando o Marcos ainda estava na activo. Infelizmente, ele teve de nos deixar devido a problemas pessoais que o obrigaram a desistir. Ao vivo é mais fácil tocar com dois guitarristas, pois temos mais liberdade em relação aos arranjos de guitarra em geral. - Como compositor principal, há alguma diferença assinalável entre trabalhar com 3 ou 4 músicos? Na verdade, não. Como eu componho o básico da maioria de nossas canções (acordes, melodias, riffs e grooves), há sempre uma certa estabilidade. O Jean, Stefan e até o Lucky adicionaram muitas ideias ao que já tinha, o processo criativo funcionou de forma fantástica. Se «Wings of Rage» me levou de volta ao passado, sinto que este me mostra uma espécie de “novos” Rage, sem perder as respectivas raízes, tremendamente melódico, técnico como sempre e ainda assim com um som moderno. É assim mesmo? Depois de quase 38 anos podemos chamar-lhe… evolução, assim, tipo Rage 2.0 (risos)? Sim, tu descreveste muito bem! Todos nós desejamos que esta situação permaneça estável, para que possamos continuar com o que fazemos e amamos por muitos mais anos! À medida que ouço cada vez mais, atrevo-me a dizer que «Ressurection Day» estará entre os vossos Top 5. “Traveling Through Time” é bom pra caralho – e os meus vizinhos também estão a gostar (risos) !!! - Concordas? “Ressurection Day” é, seguramente, um dos vossos melhores álbuns? … e claro, podes falar um pouco mais sobre “TTT”? Seria bom se os fãs elegessem

5 7 / VERSUS MAGAZINE


isso. O nosso espírito remonta às experiências e impressões de milhares e milhares de gerações que viveram antes de nós. Tudo isso está dentro de nós!

Nós damos sempre o nosso melhor para criar novos temas para os fãs. Isto é tudo o que podemos fazer.

«Ressurection Day» para estar no seu Top5. Sobre TTT: Foi baseado num tema de dança do compositor renascentista Giorgio Mainerio, mudámos o ritmo e adicionámos novas partes e grooves. A fantástica Orquestração de Pepe Herrer – maestro da Lingua Mortis Orchestra - leva-o de volta às suas origens... Se tivesses oportunidade de viajar no tempo, para onde irias? Passado ou futuro? Na verdade, todos nós fazemos

5 8 / VERSUS MAGAZINE

Obviamente, qualquer álbum do Rage sem orquestração não é um álbum dos Rage. Quem foi o responsável pelas partes da orquestração? Como já disse em cima, foi o Pepe Herrero a partir de Madrid. Ele é um músico excepcional que trabalha com todos os tipos de grandes estrelas da música espanhola, como maestro e a fazer orquestrações. Ele é também o responsável pela Lingua Mortis Orchestra e é guitarrista nos Stravaganza. As orquestrações são sintetizadas ou existe uma orquestra real (pequena? grande?)? Pepe gravou tudo com os próprios músicos no estúdio dele. Continuando sobre as orquestrações e orquestras… se não me engano, «Ghosts» em 99 foi o último álbum dos Rage com uma orquestra, um ano antes de «XIII» ser classificado no número 272 na revista Rock Hard - “The 500 Greatest Rock & Metal Albums of All Time”. Em 2013 vocês lançaram a LMO com duas orquestras. Sendo assim, há planos para, num futuro próximo, lançarem outro álbum com uma orquestra? Se não, o que é que vos está a impedir? Na verdade, temos planos para fazer algo do género para o nosso 40º aniversário em 2024. Essas e outras ideias ainda estamos a discutir. Espera e verás… Em «Wings of Rage» vocês incluíram um regravação de um tema antigo - “HTTS 2.0”, mas neste álbum não há nenhuma versão, em vez disso, lançaram “The Price of War 2.0” como single. Isso foi apenas para apresentar a nova formação? Basicamente, sim. Queríamos apresentar a nova formação da

melhor maneira possível aos fãs. Num futuro próximo poderemos ter um álbum com músicas regravadas ou estas duas foram apenas uma exceção? Não posso dizer o que faremos no futuro, mas não temos planos de fazer tal álbum ... Nestes tempos de Spotify e coisas do género, que não beneficiam as bandas de forma alguma, como vês… bem, vou-lhe chamar exploração, que afecta as bandas e músicos? Certamente não era o meu desejo que fosse assim, mas todos temos de aceitar o facto de que esta é a realidade. Agora, todo o artista precisa ter certeza de receber uma parte justa da receita digital. Renovei todos os meus contratos antigos e atuais sobre isso e agora a receita é muito melhor. Os Rage são uma das duas bandas que eu acho que são criminalmente subestimadas - sendo a outra Savatage. Concorda? Savatage não são, certamente, subestimados (risos) Recentemente os Metallica organizaram os “Big 4”. Se pensarmos no “Big 4” da NWOBHM poderíamos escolher: Maiden, Saxon, Priest e Diamond Head. Agora, da Germany Metal Scene, quais bandas é que escolherias? Scorpions, Accept, Helloween, Kreator Depois de 38 anos, como é que vês a tia vida com os Rage? Ótima! Espero que a vida me permita mais alguns anos para continuar com a banda, pois a música é o meu elixir da vida. Algum arrependimento? Eu deveria ter atendido a porta quando o gajo da lotaria me veio dizer que eu ganhei o jackpot (risos) Facebook Youtube


Playlist Adriano Godinho

Gabriel Sousa

Soundgarden - superunknown Tool - 10000 days Treyharsh - Eternal Cycles Mindwork - Cortex Fleshgod Apocalypse - Blue

Kansas - Point Of Know Return Damn Yankees - Damn Yankees Tuple - Welcome To Hell Krokus - To Rock Or Not To Be Metallica - Metallica

Carlos Filipe

João Paulo Madaleno

Therion - Beloved Antichrist Musk Ox - Inheritance In The Company Of Serpent - Lux Judas Priest - Nostradamus Thy Catafalque - Vadak

Descend - The Deviant Xael - Bloodtide Rising Airbag - A Day at the Beach Be’Lakor - Vessels Bohemyst - Čerň a Smrt

Cristina Sá

Helder Mendes

Groza - The Redemptive Way Linkin Park – Meteora Mayhem – Atavistic Black Disorder/Komando Moon Oracle – Muse of the Nightside My Chemical Romance – The Black Parade

Opeth - In Cauda Venenum Vallenfyre - Splinters Therion - Symphony Masses: Ho Drakon Ho Megas BSO 2001 A Space Odyssey Gojira - The Way of All Flesh

Eduardo Ramalhadeiro

Hugo Melo

Rage - Ressurection Day Bloodbound - Creatures of the Night Skyeye - Soldiers of Night Helloween - Helloween Elton John - Goodbye yellow brick road

Ophidian I - Desolate Thy Catafalque - Vadak Taake - Avvik Sepultura - Sepulquarta Borge Olsen – Music in the Dark

Emanuel Roriz

Nuno Lopes

Cannibal Corpse - Violence Unimagined Metallica - Metallica Angel Dust - Into The Dark Past Gojira - Fortitude Omitir - Ode

Vários Artistas - Azores & Metal Vol.1 Damn Sessions - Damn Sessions Aborted - Maniacult Arguesh - Excommunica Carcass - Torn Arteries

Ernesto Martins

Ivo Broncas

Jimi Hendrix - First Rays of the New Rising Sun Jimi Hendrix - Are You Experienced Crescent - Carving the Fires of Akhet Circle of Sighs - Narci Empress - Premonition

Gojira- Fortitude Metallica- ... And Justice For All Iron Maiden - Powerslave Pantera - Cowboys from hell Deftones- Ohms

5 9 / VERSUS MAGAZINE


MISS LAVA

Foto: André Cardoso

MÁQUINAS DESTRUIDORAS O poder do riff está com os Miss Lava! O seu quarto-longa duração de originais já está disponível, pronto para rumar à estante dos colecionadores de boa música. Afirmam que este Doom Machine será a banda sonora perfeita para o pósconfinamento e a abertura do disco com “Fourth Dimension” não poderia ser mais apropriada para tal evento, com a imagem de saída da caverna que propicia ao nosso imaginário. Estivemos à conversa com Ricardo Ferreira (baixo, vozes) e K. Raffah, que nos guiaram desde a sala de ensaios até ao momento em que estaremos na plateia a ouvir as novas malhas dos Miss Lava. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Emanuel Roriz

6 0 / VERSUS MAGAZINE


Eduardo e Emanuel: Antes de mais, parabéns, se bem que um pouco atrasados, pela excepcionalidade de álbum. Ricardo: Obrigado, antes de mais, pelo cumprimento, nunca é tarde para sermos elogiados! (risos) Eduardo: Ouvi várias vezes «Doom Machine» e acho que vocês deram um passo de gigante comparativamente ao álbum anterior, não que «Sonic Derbis» seja mau – nem por sombras, só acho é que este está mesmo excelente. - De um álbum para o outro o que é que mudou – se é que mudou – na vossa vossa forma de pensar e fazer música? Ricardo: Penso que em Sonic Debris, a banda procurou fazer a criação e desenvolvimento das músicas da forma mais criativa e livre que conseguia, havendo também uma enorme vontade de cada elemento de acrescentar e meter ideias no bolo geral. O disco foi feito com uma mudança na formação da banda, na forma de abordar a composição das músicas e de as gravar. Neste disco, tínhamos a ideia de criação do disco assente na experimentação instrumental e lírica, levar jams do início ao fim de cada ensaio, gravando esse exercício e escolhendo os esqueletos que gostássemos mais para depois desenvolver. Acredito que o facto de termos começado e arrancado esse processo algumas vezes, aliado a que o Johnny tenha estado muito tempo a trabalhar em Angola, o que nos deu “carta branca”, para exagerar no experimentalismo, sem que se definisse logo onde entraria a voz, versos refrão etc., e tudo junto, adicionado a um trabalho incrível de vozes, deu este Doom Machine. - Podemos considerar que «Doom Machine» é um álbum intenso e conceptual, fruto dos acontecimentos (e destes tempos pandémicos) que a banda passou (e está a passar)? Ricardo: Os tempos pandémicos não tiveram influência sobre a

criação do disco, apenas na data de lançamento e plano de divulgação. Todos os acontecimentos pessoais e do ambiente que nos rodeia foram decisivamente influentes para o disco. Não sei se conceptual, contando uma narrativa do início ao fim, mas criámos definitivamente uma ideia base, para novos aditivos à nossa obra, como são os interlúdios, o psicadelismo e experimentação à volta da escrita das músicas, as letras e a própria forma como gravámos. - Esta frase, pelo Johnny Lee, intrigou-me: “Este álbum reflete como cada um de nós pode gerar um poder autodestrutivo e projetá-lo à sua volta... tornandose parte de uma máquina de destruição global.”. Que poder autodestrutivo é esse e, no fundo,

o que levou o Johnny a escrever esta frase? Ricardo: Diria que a forma como o mundo é hoje um lugar de cada vez maiores extremos. Podíamos falar dos incríveis avanços tecnológicos, de consciências ecológicas e afins, mas a verdade é que prolifera com muito maior velocidade, o ódio, o egoísmo e o extremar de posições das pessoas, quanto a política, relações etc. Hoje é possível incendiar a opinião pública com um tweet e aquilo a que o Johnny se refere nessa frase específica, mas integrada um pouco por todas as letras, é que estamos numa era perigosa, em que algumas pessoas têm um poder gigante, mas que o adquirem ou desenvolvem com base nessa projeção destrutiva e de ódio.

[...]tivemos momentos de exploração musical incríveis, onde nos “mandámos para fora de pé” e conseguimos resultados que gostamos muito de ouvir e ler. 61 / VERSUS MAGAZINE


Eduardo: “O disco carrega o calor e a alma de uma banda cheia de vigor e talvez os demónios destes tumultuosos tempos.” Agora, que já passou algum tempo sobre o lançamento do álbum, esses demónios já foram expurgados? Ricardo: Existem alguns desses demónios que tocam a banda como um grupo, mas que são muito pessoais. Sentimos esse vigor na criação do disco e tivemos momentos de exploração musical incríveis, onde nos “mandámos para fora de pé” e conseguimos resultados que gostamos muito de ouvir e ler. Os demónios e santos que acompanham os Miss Lava, estão pacientemente a aguardar para serem libertados, em palco! Emanuel: Deixem-me começar por dizer que ouvir este «Doom Machine» deixam-me ansioso para vos poder ver em concerto! Este novo disco tem essa inspiração de música orientada para o momento ao vivo? Ricardo: Vou dar uma resposta muito pessoal. Durante alguns anos fui um dos gajos que ficam na fila da frente a cantar as músicas de Miss Lava e a levar com o suor do Johnny. Pode parecer que a música é criada, a pensar no seu efeito ao vivo. Não é! Acredito que a enorme diversidade de bandas e estilos que cada um ouve, em determinado momento, nos leva a criar um riff de guitarra ou baixo mais catchy ou não, assim como neste disco, pareceme, existir uma bonita dinâmica entre momentos muito rápidos e ferozes, e outros calmos, em que me imagino a adorar, na plateia, sentir a banda a ir muito abaixo, ouvindo-se o sussurrar da sala… Mas no real fim de contas, se pensar por 2 segundos, diria que a capacidade do Johnny para fazer refrões orelhudos muitas vezes e outras seguir a maioria dos outros 3 elementos, quando não lhe apetece ir por esse caminho, acaba por ser o detalhe que poderá fazer da música de Miss Lava soar “feita para palco”.

6 2 / VERSUS MAGAZINE

Emanuel: A promoção do novo trabalho foi bastante apoiada pelo lançamento dos vídeos das músicas "Fourth Dimension" e "The Great Divide". Falem-nos sobre esta parte do projecto. (Realização / Equipa de Produção / Ideia / Local de gravação) Raffah: Nós sempre gostámos muito de juntar outros artistas e disciplinas ao nosso projeto, pessoas que estejam em sintonia connosco. No caso dos vídeos, esse click deu-se com o José Dinis, grande amigo e baixista do Dollar Llama. Ele é realizador e desde o primeiro vídeo que fizemos com ele para a “Black Unicorn” que a sintonia foi imediata. Quase não pedimos alterações às edições. No caso da “Fourth Dimension” quisemos ter um vídeo de performance, mostrando não só a banda após um hiato de 4 anos entre edições, mas também o vibe com que o disco tinha sido criado – fruto de jams. Em cima disso, reforçámos a mensagem da letra com um conceito narrativo baseado na “Alegoria da caverna” - muitas vezes temos de sair da caverna em que estamos, deixar de ler/ver apenas nas sombras e ver o que está lá fora por nós mesmos. Quanto ao “The Great Divide”, o Zé Dinis teve logo a ideia do vídeo e partilhou connosco como sendo uma narrativa que implicava uma produção com maior “esforço”. Desde o início acreditámos na sua ideia e o J. Garcia sugeriu filmarmos nas Minas de São Domingos, no Alentejo. O setting era mágico. Foi uma grande experiência e acredito que o vídeo passa uma visão apolítica, tal como a música, passando sempre uma mensagem de esperança. Emanuel: Sabemos que hoje em dia com as vendas on-line é possível ultrapassar qualquer barreira, mas a presença física terá sempre a sua importância. Estando a edição do disco a cargo da editora norte-americana Small Stone, até onde vai ser possível levar este disco? Ricardo: Não conseguimos

ter ideia. Claro que as vendas fisicas representam uma parte fundamental das vendas que conseguimos fazer. Isso é feito sobretudo com concertos, festivais etc. Previsões para termos isso tudo a acontecer em tempo útil de divulgação do disco? impossível prever, contudo, pelos feedbacks e reviews que têm surgido, por vezes pensamos “bem, com este disco íamos correr muitas capelinhas, de certeza!”, mas no fim do dia, vamos só aguardar, estar preparados, ensaiar, promover o disco da maneira possível, e quando surgirem oportunidades interessantes para tocar ao vivo e em segurança, vamos a correr! Eduardo: Vocês já tocaram no mítico Whisky a Go-Go em Los Angeles e já partilharam palco com bandas como os QOTSA e… W.A.S.P. - Qual foi a sensação de tocar nessa sala e com essas bandas? Raffah: Foram todas muito diferentes. Posso dizer que no Whisky a Go-Go todo o contexto da viagem, os ensaios lá e etc tornam essas experiências inesquecíveis. Era um cartaz com muitas bandas, em que apenas tínhamos tempo para line check e à última da hora estava até a ver que uma das bandas não me emprestava o amp para tocar! No fim tudo se resolveu e até tínhamos na plateia o Dave The Snake Sabo dos Skid Row, que estava na entourage de umas das outras bandas que tocaram, os California Windfall. É engraçado olhar para trás e ver que o baixista dessa banda na altura é hoje o guitarrista e mentor dos Hippie Death Cult, excelente banda que tem estado a fazer furor na cena stoner underground a nível mundial. Quando abrimos para os QOTSA, foi no palco principal de um SBSR cheiinho. Foi aquela sensação de subires ao palco e ouvires o “rrrooooarrr” do público. Entra por todos os teus poros e dáte uma energia incrível. Quando os QOTSA chegaram ao backstage, já durante o concerto do Gary Clarke


Jr., foram supersimpáticos. O Josh então, tirou fotos e fez piadas com toda a gente. 5 estrelas. Quanto aos WASP a história é outra. Sempre adorámos os WASP e alguns de nós cresceram a ouvir a banda. Fomos muito bem tratados pela organização do festival e o concerto em si correu de forma perfeita. Mesmo sendo uma banda stoner no meio de um cartaz assumidamente mais “clássico”, a reação foi do público foi muito boa. E aquela sala – Campo Pequeno – é mágica. No fim da noite, estávamos nós no nosso camarim a beber copos, aparece o guitarrista dos WASP em tronco nu a expulsar-nos e a dizer-nos que já não devíamos estar ali e que eles eram os WASP e etc e nós nada. Ainda deve viver na ilusão que criou nos anos 80. - Como disse o Emanuel, com a edição do álbum pela Small Stone e dada a excelência do álbum, vocês sentem que, com esta pandemia, perderam de alguma forma a oportunidade de se darem a conhecer ainda mais no gigantesco mercado Norte Americano? Ricardo: Sentimos de certa forma, que este disco poderia dar-nos mais algum reconhecimento e sobretudo oportunidades de experimentar palcos, países e realidades novas para nós. Emanuel: «Doom Machine» tem também edição em vinil. É uma edição para colecionadores? Qual o significado que tem para vocês editarem neste formato e o que é que esta edição em especial tem para oferecer ao apreciador de música? Ricardo: Eu sou bom gajo para responder a isto! Sou o único da banda que não tem gira discos! A minha coleção de vinis é a do Johnny, é lá que babo com aqueles discos todos! Diria que a compra de um album de música em formato físico é por si só, hoje em dia, um acto de colecionador. A forma como se ouve música mudou radicalmente e tanto as pessoas que nos ouvem,

como as pessoas que seguem este tipo de música, valorizam o formato vinil, que acaba por ser, artisticamente, algo mais interessante do que o formato CD, embora também o façamos, porque também ainda existem algumas pessoas, como eu, que utilizam esse formato. Além de tudo isto, a banda tem uma relação íntima com a arte e criação visual dos discos e é na capa de um vinil que essa arte tem mais espaço para se evidenciar.

[...] a banda tem uma relação íntima com a arte e criação visual dos discos e é na capa de um vinil que essa arte tem mais espaço para se evidenciar.

Emanuel: Estão anunciadas 3 músicas extra na edição em CD e Digital do disco. Qual a origem destas faixas bónus? Ricardo: São músicas que gostamos muito, tanto como as que estão no vinil, mas que dadas as limitações de tempo associadas ao vinil, tínhamos de retirar 3, que poderiam surgir como bonus no CD. Achámos que as restantes faziam um bolo mais homogêneo no vinil e que estas dariam um bom

“encore” para o CD. É também uma oportunidade para quem estiver indeciso entre comprar o vinil ou o CD, de ficar com os dois formatos! (risos) Emanuel: Neste momento é difícil fazer previsões sobre apresentações ao vivo. De qualquer forma, têm já algo idealizado sobre como pretendem mostrar o disco ao público? Ricardo: Tentar tocar o disco, se não na integra, dependendo dos tempos de set, praticamente todo, duma ponta a outra. Temos já em andamento, a preparação de gravações live para festivais e 2 concertos em festivais em Espanha a acontecer em maio e setembro. Emanuel: Infelizmente a pandemia que enfrentamos levou a que o conceito de música ao vivo tivesse de ser adaptada. Veem com bons olhos os concertos para gente sentada e com limitações espaciais. Ou preferem aguardar até que isto melhore para que a experiência possa ser o mais intensa possível de novo? Ricardo: Não abordámos este tema em conjunto, mas no que a mim diz respeito, vejo com bons olhos permitirem aos promotores, às casas de concertos e bares, delinearem uma estratégia que os permita trabalhar, que devolva isso a toda gente envolvido na cultura e espetáculo. Se a fórmula inicial for com limitações espaciais e lugares sentados, pois que seja. Quantos espetáculos e festivais não eram já realizados com casas a “meio gás” ou lugares sentados? Claro que em estilos musicais como o de Miss Lava, o calor humano e a proximidade entre bandas e público, são fundamentais, bem como a bilheteira, para promotores, bandas e todos os envolvidos na criação do espetáculo. Ainda assim, a solução inicial deveria estar em marcha, e suponho que todos os envolvidos dirão que importa é começar por algum lado. Facebook Youtube

63 / VERSUS MAGAZINE


Saber de experiência feito Fazendo uso da experiência adquirida nas diversas bandas de que já fizeram parte, Sûrya-Ishtara e Ur juntaram-se para criar um novo projeto musical imbuído de old Black and Doom Metal e tratando de temas lunares. Entrevista: CSA

Saudações! Espero que te encontres bem. Moon Oracle não é a tua primeira banda. - Como te veio a ideia de a formar? Sûrya-Ishtara – Eu e o baterista Ur andávamos a pensar na ideia de fazer um prolongamento de um projeto que tínhamos criado juntos. Essa primeira versão tinha deixado de existir, mas, enquanto o

6 4 / VERSUS MAGAZINE

projeto durou, tornou-se claro para nós que queríamos mergulhar mais fundo nos mistérios do old Black and Doom Metal. As nossas bases musicais eram um tanto diferentes, mas partilhávamos o interesse de verter cenários artísticos obscuros numa forma audível relacionada com as influências e inspirações musicais que tínhamos em comum. Mais tarde, quando já tínhamos criado o material para o primeiro álbum, convidámos o

Harald Mentor para se juntar a nós, porque a sua voz assentava na perfeição no nosso projeto. Ele gostou do material e o resto é história. - Até que ponto a experiência adquirida com outras bandas influencia este projeto musical? Sem as nossas experiências anteriores com bandas e projetos em que nos envolvemos no passado, todo o processo de criação de Oracle Moon teria


certamente sido diferente… ou o projeto nem viria a existir. Provavelmente um dos aspetos mais relevantes relacionados com essa experiência anterior tem a ver com a forma como o próprio processo teve lugar: por exemplo, já tínhamos alguma experiência de estúdio e isso permitiu que não tivéssemos de partir do zero. Não queremos dizer com isto que ter menos experiência possa ser um obstáculo. Se houver vontade de exprimir o que nos vai na alma, encontraremos sempre uma forma de o fazer. O vosso som é mesmo diferente e chama logo a atenção. - Que ingredientes podemos encontrar nele? As nossas influências musicais mais evidentes ligam-nos à Finlândia e à Grécia. No entanto, prefiro não referir nenhuma banda, prefiro que o ouvinte fala ele/ela mesmo/ mesma as associações. De um modo geral, a nossa música é uma amálgama de Black e Doom Metal perspetivada a partir de uma visão esotérica do mundo. - De onde vêm esses ingredientes. [Vocês são todos músicos experientes e, por esta altura, já devem ter ouvido imensa música.] Não posso falar pelos outros. Pela parte que me toca, tudo o que faço neste ou noutros contextos reflete as fontes de inspiração que estimularam profundamente o meu ser e assim fizeram de mim o veículo de transmissão dessa corrente de energia. Como todos nós admiramos a força primitiva subjacente a qualquer ato artístico, essa inspiração tornou-se o ponto de apoio a partir do qual procuramos exprimir tudo o que nos vem à mente. - Tendo em conta os títulos das faixas do álbum, era de prever um Metal mais old school. O que tens a dizer sobre esta ideia? Na minha maneira de ver, É Metal old school, mas que procura escapar ao lado convencional. As suas raízes mergulham bem mais fundo que as de muitas bandas de Metal contemporâneas. No

que toca às letras e aos temas abordados pelas canções, a ideia não é ser Metal de uma forma meramente convencional, mas antes partir numa demanda solitária que nos permita fundir a música e as palavras. Ambos os elementos têm de se contaminar mutuamente. - E, a propósito, a que temas se referem os títulos das canções? As letras estão entrelaçadas de forma a revelarem o conceito subjacente ao álbum: refletir os lados obscuros dos ciclos da lua recorrendo a temas mitológicos e mais ou menos “esotéricos” para desenvolver as ideias. Embora haja um devir cronológico que vai do princípio ao fim, não pode ser visto como uma história, que tem um desenvolvimento linear. Trata-se mais de uma contemplação relativa ao ciclo da vida na terra e além. Os vocais são muito dramáticos, por vezes até dissonantes. Que impressão pretendem transmitir através deles? Não demos nenhumas instruções específicas ao “senhor” Mentor sobre a forma como iria usar a sua voz. Ele fez a sua magia por sua conta e risco e, quando ouvimos o resultado final, ficou claro para nós que não precisávamos de alterar nada no seu desempenho: ficou tudo feito à primeira. Como conhecemos o trabalho que ele tem feito em Ride for Revenge, etc., não estávamos à espera de nenhumas falhas. A capa do álbum apresenta um desenho muito curioso. - Quem convidaram para fazer a arte deste álbum? Foi um artista finlandês e amigo nosso, conhecido pelo pseudónimo VT-Necromancy, que criou a ilustração para a capa do álbum sob a nossa supervisão. Trocámos alguma informação sobre o conteúdo concetual que constitui a essência do álbum e, depois de ele a ter digerido bem, produziu um trabalho extraordinário. E, tal como aconteceu com os vocais do Harald Mentor, não precisamos de lhe explicar cada detalhe do que tinha

de fazer, bastou confiar na sua capacidade de usar a sua intuição artística criativa, que, mais uma vez, resultou na perfeição. - Esta ilustração pretende representar a vossa “musa”? É isso mesmo. Trata-se de uma representação arquetípica da lua representada de forma tripla como filha/mãe/mulher idosa, mas incluindo um elemento amorfo de mudança indefinida de um aspeto para o outro. Como é que uma editora finlandesa e uma portuguesa se juntaram para lançar este álbum tão interessante? Já conhecia a Signal Rex através de Sammas’ Equinox e Pantheon of Blood, portanto sabia que eles seriam capazes de fazer um trabalho adequado juntamente com Bestial Burst, que é a editora do nosso vocalista e goza de uma boa reputação na cena Metal underground. Ambas as editoras estavam interessadas em lançar o material, portanto nós sugerimos que se associassem de forma a fazermos o lançamento sob várias formas em simultâneo. Aparentemente, a pandemia não nos vai deixar tão cedo. O que tencionam fazer para promover este álbum que será lançado até ao fim de agosto? Nós vamos sobretudo manternos na retaguarda e focar-nos na parte da criatividade. Quanto aos concertos, ainda não falamos disso e o mais certo é termos de nos manter longe disso para já. Já têm planos para o segundo álbum? Estamos a preparar um split com uma banda finlandesa chamada Sombre Figures (de que o nosso baterista também faz parte) e, ao mesmo tempo, a trabalhar no nosso segundo álbum. O que vai acontecer a Moon Oracle quando estes fardos tiverem sido retirados dos nossos ombros é uma incógnita. Facebook Youtube

65 / VERSUS MAGAZINE


Vida entregue ao doom «The Life And Works Of Death» é o segundo disco dos franceses Carcolh. Começaram a trabalhar nele mal tinham acabado de lançar o primeiro, perdoem-me a rima, mas isto é um verdadeiro salto de carneiro! Aficionados pelo doom metal, alcançaram um pleno de criatividade espelhado nas músicas, letras e artwork…tudo feito entre amigos. Estivemos à conversa com Sébastien Fanton que nos falou orgulhosamente deste trabalho. Entrevista: Emanuel Roriz

6 6 / VERSUS MAGAZINE


Aqui estão vocês com o vosso segundo álbum. Como tem sido a vossa história até aqui? De que forma se têm mantido activos desde o lançamento do primeiro disco «Rising Sons Of Saturn»? Sébastien Fanton: Bem, nós concentramo-nos principalmente na composição deste segundo disco. O Quentin e o Olivier apareciam sempre com ideias já muito avançadas, que nós terminávamos em conjunto na sala de ensaios. Posso-te até dizer que nos focamos quase exclusivamente na escrita deste «The Life And Works Of Death» logo após o lançamento do primeiro álbum. O «Rising Sons Of Saturn» foi muito bem recebido por uma mão-cheia de entusiastas, mas com este novo trabalho estamos prontos para conquistar o mundo! Falando a sério, alguns aspectos do primeiro álbum deixam-nos um pouco frustrados e não queríamos, de maneira nenhuma, repetir os mesmos erros no novo disco. Queríamos mais peso, mais melancolia, mais escuridão. Penso que fizemos uma dúzia de concertos, o que não é muito, todos eles organizados pela malta verdadeiramente activista das organizações Metal Is The Law/ Cabale, ou pelo pessoal da Late Heretic/Void. Assim que comecei a ouvir o TLAWOD, fui assaltado por um sentimento que já não experienciava faz tempo. Os Carcolh dão uma enorme importância ao riff. Consideramno o cerne da vossa criatividade? Muito obrigado! Dentro da banda ouvimos muitos e variados estilos, mas como fãs de metal tradicional, um bom riff de guitarra que te faz ter vontade de partir a loiça toda, é a base de tudo. Ainda que na forma estejamos longe de uns Priest ou Savatage, por exemplo, nós temos esta cultura em nós desde a nossa infância. Portanto, sim, acredito que o riff é um componente fundamental na composição, que quando combinado com a experiência das dificuldades das

Ainda que na forma estejamos longe de uns Priest ou Savatage, por exemplo, nós temos esta cultura em nós desde a nossa infância.

nossas vidas, que todos temos de enfrentar, e também com uma visão extremamente pessimista da humanidade, isso resulta na música dos Carcolh. É fácil perceber que o nome Carcolh está relacionado com uma figura do folclore francês. De onde veio esta inspiração e o que representa ela? Nós achamos que seria coerente que tivéssemos um nome relacionado com a nossa própria cultura. Então, quando o Quentin encontrou este nome bizarro de uma criatura ancerstral da nossa região, associada a toda esta mitologia obscura em torno da vila de Hastingues, nós pensamos para nós próprios: “fuck!! É perfeito”. É notória a evolução que tiveram do primeiro para o segundo disco. Parece-me haver uma abordagem mais madura ao processo de composição e à forma como colocam todas as peças juntas. Também vocês têm esta percepção? Claro que sim! O primeiro disco foi composto e gravado logo de seguida. Este segundo disco já teve um processo de composição que se estendeu por um maior período de tempo. Eu também penso que

é possível perceber isso. Acredito, tentando não ser pretensioso, que todos os elementos progrediram individualmente e que temos agora uma orientação musical muito mais clara. O facto de sermos todos amigos muito próximos, ajuda bastante em termos de coesão. A imagem e o trabalho de arte neste novo disco também apresentam uma abordagem com maior detalhe e dedicação. Quais foram as vossas preocupações neste campo? É trabalho de um amigo do Benoit, o nosso baterista. Ele criou esta belíssima pintura a óleo, com a imagem que adorna o nosso disco. Chama-se J.R. Erebe, é um verdadeiro artista que também faz esculturas…nós enviamos-lhe as músicas e as letras e este foi o resultado final. Espantoso! Até nos engasgamos quando vimos o trabalho completo. Também decidimos alterar o logo do nosso nome. Foi um outro amigo do Benoit, o Flo Brouard, que tomou conta dessa parte. Nós queríamos algo que não deixasse qualquer dúvida sobre o estilo de metal que praticamos no disco. O logo antigo fazia lembrar uma vulva ou qualquer coisa para fumadores de cachimbo de água.

67 / VERSUS MAGAZINE


As vossas canções são na sua maioria lentas, vivendo de acordo com as regras do doom metal, mas com surpreendentes mudanças de direcção, tal como podemos experienciar na secção final do tema “From Dark Ages They Came”. O conceito das vossas letras também segue a vibração das partes instrumentais? Sobre que tipo de assuntos te podemos ler enquanto ouvimos este «The Life And Works Of Death»? Normalmente, sinto-me embaraçado quando tenho de falar sobre as minhas letras, mas vou tentar. Inicialmente, a ideia era a de apresentar um disco com uma coleção de pequenas histórias em que o tema central seria a morte, a sua omnipresença. Os textos dos Carcolh são de natureza abstracta. “The Blind Godess”, por exemplo, foi escrito após um sonho em que a natureza furiosa nos varreu da superfície da terra; “Works Of Death” é uma história do fantástico, provavelmente influenciada por Edgar Allan Poe; “When The Embers Light The Way” é uma descrição de uma espécie de purgatório, com um ponto de vista de um dos seus ocupantes; “Sepulchre” já é mais difícil de explicar…é sobre o vazio, o infinito, amor…e morte. O texto de “Aftermath” é um poema de Frank Walker, ele que foi um soldado da primeira guerra mundial e é absolutamente bonito. Fala por ele próprio…

Nós achamos que seria coerente que tivéssemos um nome relacionado com a nossa própria cultura.

Os membros dos Carcolh são provenientes de muitos outros projectos musicais. O doom metal é aqui o denominador comum? Ah sim! De facto é um estilo musical que todos adoramos desde há muito tempo. E não nos esqueçamos do dinheiro, fama e mulheres…este é o maior denominador comum! Nós temos cerca de 500 seguidores no Facebook, o que faz de nós um fenómeno social como os Beatles no seu tempo. A pandemia provocada pela COVID-19 atrasou ou cancelou alguns dos vossos planos? Neste momento já têm alguns planos confirmados no que toca a próximos concertos de divulgação deste novo disco? Infelizmente, não temos nada agendado de momento. Mas, tal como é, provavelmente, o caso de muitos outros músicos, tentaremos dar alguns concertos de forma a “defendermos” este novo disco em cima do palco, logo que seja possível.Podemos contar com uma visita vossa a Portugal em breve? Eu adoraria! Por esta altura é difícil considerar-nos como um grupo “não profissional”. Parece-me óbvio que as coisas irão mudar após a pandemia, teremos de nos adaptar, tal como temos vindo a fazer até então. Veremos! Obrigado uma vez mais por ouvirem o nosso disco e pelas vossas questões! Mantenham a fé! Facebook Youtube

6 8 / VERSUS MAGAZINE


69 / VERSUS MAGAZINE


ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Um dos imaginários dos anos 80,são as pastilhas elásticas Gorila da empresa nacional Lusiteca. Produzidas desde 1968, estas encontraram forma de sobreviver e chegar até aos nossos dias, as quais, ainda hoje se podem encontrar nos mini-mercados ou cafés no seu formato tradicional. O sucesso destas pastilhas nas duas primeiras décadas da sua existência foi tal, que se tornaram um ícone nacional e o seu logotipo da cabeça de gorila sobre fundo vermelho, um branding reconhecível imediatamente, em qualquer lugar. No que respeita às pastilhas, havia e continua a haver a Gorila e Super Gorila, nos mesmos moldes que existia, sem ter havido qualquer evolução, a todos os níveis, quer de sabores, quer de embalagem, nem sequer do formato da pastilha ou da existência do seu ex-libris de sempre: O papelinho colecionável que acompanha sempre a pastilha Há uns tempos, comprei umas no minimercado aqui da vila e continuam exactamente iguais: A saber bem nos primeiros 20 segundos, então, o sabor desvanece e passados um bocado parece que estamos a mastigar um pedaço de borracha. E desta vez o papelinho não era nada de especial, apenas uma colecção com a prata da casa, o gorila, numa espécie de “emojis”, mas agora a cores! Alias, esta será a maior das evoluções, pois já neste século fizeram uma colecção de cromos da selecção com fotos a cor. O que continua imutável é a capacidade que a pastilha Gorila tem para se fazer balões – alias, a Super Gorila era para levar esta “actividade” um passo mais à frente – continuando a ser a rainha para tal façanha. Não há outra pastilha igual! Desde o início dos 90 que deixei de ter interesse nestas pastilhas, penso que na altura da colecção dos capacetes da F1. Acho que até ficaram esquecidas para mim durante décadas, tendo apenas comprado uma por mera curiosidade e nostalgia. O que verifico hoje, é que a concorrência, a par da inercia da empresa Lusiteca em inovar, deram cabo deste ícone nacional, e o sucesso de outrora está muito distante da realidade de hoje. Infelizmente, a minha afirmação baseasse apenas na minha percepção, pois não há nada que se possa encontrar para sustentar tal afirmação. Muito deste sucesso nos anos 80, deveu-se à magnífica ideia de lançarem uma série colecionável de aviões, nos ditos “papelitos”, desde então conhecida por “Série aeronáutica Gorila”, a qual ficou no imaginário de muitos jovens que viveram estes tempos da segunda década dos anos 80. Não há muito informação sobre a colecção, oficialmente não há mesmo nada, a wikipédia nada tem, e o melhor que se encontra é um blog que fala e mostra todos os papelinhos lançados, o tralhas e velharias ( https://tralhasvarias.blogspot.com/2012/09/ pastilha-gorila-coleccao-de-avioes.html ). Hoje, há muitas questões que ficam no ar, as quais possivelmente nunca serão respondidas. Penso que esta colecção, no mínimo, merecia uma entrada na wikipédia. A série aeronáutica foi lançada em 1985 ou 1986, e durou até 1988. Os papelinhos eram a preto e branco, a que se seguiu a dos capacetes da Formula 1, já a cores. Inicialmente estavam previsto 809 cromos, como atestava um dos papelinhos que descrevia a colecção. Os 809 cromos ficaram divididos pelos Pioneiros

7 0 / VERSUS MAGAZINE


Série Aeronáutica Gorila (aeronáutica), as máquinas voadoras, I Guerra Mundial, Entre duas guerras, II Guerra Mundial, O Após Guerra e para finalizar, Os Helicópteros. Assinado, Gorila. Infelizmente, dos 809 só 405 cromos – mais um, o 380 que teve duas versões - é que foram produzidos e lançados em 56 séries de 7 ou 8 cromos, da letra A à M com cada letra a ter 5 séries, à excepção da última letra, a M, que só teve uma, a M1, com dois cromos, o 458 e o 467 – o mais difícil de arranjar, quer outrora como hoje. No tralhas e velharias, mencionam que a razão para a colecção ter ficado por metade, deveu-se à empresa inglesa que produzia as chapas de impressão, a qual nunca chegou a envia as restantes da colecção à Lusiteca, ficando assim a colecção pela sua metade. A razão e questão ficará sempre no ar sem resposta oficial. Esta é a pergunta mor que muitos gostavam de um dia ver respondida: O que é que realmente aconteceu? Chapas à parte, a qualidade dos papelitos ou cromos era excelente e passados todos estes anos, os mesmos sobreviveram muito bem com o passar do tempo, mantendo intacto a impressão e integridade do papel tal como o encontramos originalmente nos anos oitenta, apenas tendo amarelecido, como é natural. Infelizmente, a impressão por vezes tinha problemas de sincronismo e cortava os cromos a meio ou nas pontas. Este, era a única crítica a fazer a par de não terem lançado a colecção toda. Ainda hoje, não se sabe que aviões componham o resto dos números, tal como, a verdadeira origem da colecção. Quem desenhou os aviões? Que outra colecção esteve na base desta? Quais os aviões dos restantes 404 cromos? De todas as 7 secções, só a da II Guerra Mundial (366-624) é que teve a honra de terem lançados todos os cromos, estando assim, completa. Os “Pioneiros(1-48)” só tem 17 dos 48 cromos, “As Máquinas Voadoras(49 - 96)” 12 de 48, a “I Guerra Mundial(97 - 206)” 32 de 109, “Entre Duas Guerras(207 - 365)” 45 de 158, a “II Guerra Mundial(366 - 624)” 259 de 259 ou seja 100%, “O Após Guerra(625 - 768)” 26 de 143 cromos e a pior cobertura com só 17% e por fim “Os Helicópteros(769 - 809)” com 15 em 40 cromos que compõem esta secção. Se “googelarmos” qualquer um dos aviões desta colecção, encontramos um modelo em maquete para montar e pintar. O universo aeronáutico é grandioso e esta colecção de 809 é apenas uma amostra. A colecção era bastante completa, indo dos primeiros desenhos de Leonard de Vinci até às primeiras tentativas da aviação, entrando com a I Guerra Mundial em 1914 (cromo 97) e indo até 1960 (cromo 733) e no final os helicópteros que são maioritariamente dos anos 60. Todos os cromos têm um desenho do avião, alguns cromos apresentam a planta da envergadura e todos são completados com a informação do ano, país, tipo e dados técnicos como a envergadura, velocidade, autonomia e altitude. Os países eram maioritariamente a Grã-Bretanha, Alemanha, EUA, Japão, Itália e França, havendo depois uma panóplia de outros países com uma produção aeronáutica pequena dos quais destaco a Holanda – os Fokkers - e a suécia – Os Saab.

7 1 / VERSUS MAGAZINE


ANTRO DE FOLIA Há uma razão para a colecção da II Guerra Mundial ter sido toda lançada. Não me recordo se logo que saiu a colecção ou algum tempo mais tarde, apareceu o papelinho mágico: “Junta as figuras dos números 366 a 624(II Guerra Mundial), envia-nos e receberás um magnífico álbum colorido com os aviões da II Guerra Mundial 39/45”. Este convite foi um golpe de marketing fantástico e um enorme sucesso. Todos os meu amigos e os seus amigos de então faziam a colecção, com o intuito de conseguir o precioso álbum colorido. Eu fui um dos que fiz a colecção e recebi o meu exemplar – o qual passados 30 anos ainda o tenho, num excelente estado de conservação – em casa tal como prometido pelo papelinho mágico. Assim, consegui na altura juntar mais de 3000 cromos da série aeronáutica, sem praticamente comprar uma única pastilha Gorila! Tinha para dar e vender, ou melhor, trocar. Cheguei a trocar 1 por 10, era à grande! Chegava a fazer maços de 100, tal como os maços de notas que vemos no cinema – Que pena nãos serem maços de notas de 5 contos… A série aeronáutica acabou, a febre da colecção passou, e fiquei com estes cromos todos para nada. Como nunca deitei nada fora que tivesse um valor de colecção, todos estes repetidos foram literalmente abandonados durante alguns anos, mas a maioria dos cromos sobreviveu até hoje. Foram então alvo de uma atenção cuidada, e estão hoje disponíveis numa plataforma online para venda ou troca, se por acaso alguém tiver um número para a minha segunda e terceira colecções. Perguntarão: “Se não comprou nenhuma pastilha, como é que conseguiu juntar tantos”. Ora aí é que está uma das partes mais interessantes desta minha história. Para já, vivíamos noutra época, e deitar o papel para o chão era bem mais comum do que hoje e a venda de pastilhas Gorila estava ao rubro, pelo que neste tempo, era comprar, abrir a pastilha, colocar na boca e deitar o involucro para o chão, ao contrário de hoje que não vejo um único papel Gorila no chão, mas não é por as pessoas estarem mais civilizadas e porque o sucesso moras ao lado. Assim, era muito fácil encontrar cromos da colecção no chão, a maior parte fora do papel exterior, às vezes já em mau estado – especialmente nos tempo de chuva – mas muitas vezes ainda dentro do invólucro que embrulhava a pastilha. A febre era tal, que chegava a ir com os amigos do bairro “bater” as ruas da vila à procura de cromos dos aviões. No meu caso, como sabiam que eu fazia colecção, tinha alguns familiares e amigos que juntavam e depois davam-me. E foi assim a receber e apanhar do chão que construí o número impressionante de cromos da Série Aeronáutica Gorila. E assim ficou esquecida durante décadas até que há uns anos atrás reconstrui a minha colecção, metendo tudo num álbum plastificado que arranjei da colecção dos Invizimal, dando início a mais uma aventura repleto de nostalgia. Há pouco tempo decidi organizar os meus repetidos, para ver os que se podia aproveitar para vender e também desta forma ajudar outros a completar as suas colecções. Afinal para que quero tantos repetidos? Rapidamente me apercebi que mesmo os melhores estavam bastante amarelados ou com manchas castanhas.

7 2 / VERSUS MAGAZINE


Assim, decidi tentar arranjar uma forma de os limpar ou branquear, sem que com isso danificasse o cromo. A primeira tentativa foi colocar o cromo “de molho” numa solução com vinagre. Resultou parcialmente mas o resultado não foi satisfatório e ainda por cima, o raio do cromo ficou a cheirar a vinagre – cheiro que “adoro”… (estou a ironizar, detesto). Com este processo, verifiquei que os cromo são resistentes à água. Ficam todos ensopados e mais maleáveis mas devem ter uma estrutura algo plastificada, que faz com que não se desfaçam na água. Depois, seguidamente, experimentei adicionar skip em pó à agua e o resultado foi perfeito, fazendo autênticos milagres ao remover aqueles manchas castanhas, tornando um cromo inviável para viável de se vender ou trocar. É caso para dizer “com skip, branco mais branco não há”. A partir daqui, foi simplesmente definir o processo: Alguidar com água e skip, deixar de molho até ficar branqueado, passar para uma bacia com água para enxaguar e depois de algum tempo, retirar para os secar. Aqui, também foi necessário investigar. Primeiro colocava-os no micro-ondas durante 1 minuto para eliminar a humidade. Resultou, mas deixava os cromos tal como uma nota gasta, em vez de perfeitos. Então tive a ideia de os colocar no tabuleiro e levar ao forno durante 5 minutos a 50-75 graus, tal como se faz bolachas caseiras. Bingo! As fornadas de cromos limpos saíam na perfeição. O passo final era a compressão. Colocar os cromos debaixo de livros para ficarem direitos e compactados.

Quem tiver cromos desta ou qualquer série da Gorila pode fazer o anteriormente descrito para os deixar impecáveis. 1º, água com Skip em pó q.b. durante o tempo necessário para limpar, 2º, enxaguar em água durante um bom bocado de tempo, 3º, colocar os cromos molhados directamente num tabuleiro e levar ao forno (ventilado) 5 minutos a 50-75 graus; 4º , juntar uns quanto em pequenas pilhas e colocar debaixo de uns bons e pesados livros de capa dura; e por fim 5º, ir empilhando os cromos e colocar livros por cima para compactar. O único efeito secundário que encontrei até agora, pois há sempre o reverso da medalha, foi que os cromos depois do processo perdem aquela goma abrilhantada que os envolve, mas o ganho em termos de mais-valia é superior à perda da goma. E, eu penso que o amarelar e as manchas estão na goma e não no cromo propriamente dito. De resto, as propriedades do mesmo mantêm-se, podendo o mesmo ir “a banhos” novamente sem se desfazer. v

7 3 / VERSUS MAGAZINE


ANTRO DE FOLIA Depois deste processo, defini quatro níveis de conservação dos cromos: Excelente, Bom, Razoável e Estragado. Atenção que quando digo “ Excelente” é comparativamente aos outros dois estados Bom e Razoável. Não deixa de ser um “Excelente” com 30 anos de idade. Adquiri um lote de 400 cromos, pelo que tenho um total de 4335 cromos, 3160 repetidos e os restantes nas 3 colecções que construi, das quais só uma está completa, na 2ª faltam 6 e a 3ª faltam 34. Os mais repetidos são o 576 com 41 exemplares, o 612 com 37 e o 592 com 30. Devo ser o colecionador com mais cromos da série aeronáutica de Portugal. Se alguém tiver mais, que dê um passo em frente e levante a mão, que eu gostaria de o conhecer. Com a publicação dos anúncios de venda/troca, alguns interessados que me perguntaram acerca da colecção, pensando mesmo que os 809 cromos tinham sido publicados. Eu, também soube de coisas que me passaram ao lado todos estes anos, como o facto de ter havido uma caderneta para a 2º guerra mundial e uma reedição da série aeronáutica que saiu em 2012 apelidada de vintage com apenas 46 cromos da colecção original (Nºs 13, 262, 281, 366, 369, 370, 372, 373, 374, 376, 377, 382, 383, 403, 408, 409, 411, 416, 417, 421, 425, 426, 439, 440, 444, 457, 459, 460, 464, 478, 480, 481, 483, 485, 486, 487, 488, 493, 497, 498, 499, 511, 513, 516, 518, 520.). A Série Aeronáutica da Gorila é um acontecimento ímpar, que nunca mais se irá repetir. Merecia mais destaque, mais informação e quem sabe um livro que contasse a sua história e mostrasse todas as facetas, da ideia, passando ao desenho e indo até à sua produção.

7 4 / VERSUS MAGAZINE


7 5 / VERSUS MAGAZINE


Azorean Heavy Metal

O Museu do Heavy Metal Açoreano é um arquivo cronológico do Heavy Metal Açoriano. Mário Lino é responsável pelo catalogação da evolução da música Heavy Metal Açoriana, de uma forma leve e fotográfica.

7 6 / VERSUS MAGAZINE


Para o Museu Heavy Metal Açoriano (MHMA) é imperativo dar a conhecer a realidade do heavy metal no arquipélago, diga-se bastante rica, mas pouco conhecida e divulgada. Nos anos 2020 /2021, através de várias iniciativas e de alguma actividade das redes sociais, muitas das bandas começaram a ser promovidas e a sua música a ser escutada e apreciada, não só pelo continente, como além-fronteiras. A ideia desta compilação foi a motivação para que muitas das bandas existentes quisessem mostrar o seu trabalho, e para que muitas outras que demoravam em se afirmar o fizessem agora. E assim, surge “Azores &Metal Vol # 1”, uma compilação de 17 temas /17 bandas, com algumas particularidades como só uma edição de coleccionador tem: • A banda veterana Morbid Death participa com um tema inédito, composto em exclusivo; • Os Wrek Age, banda que não se encontra no activo desde o início dos anos 90, reuniram-se para compor o tema que consta desta compilação; • O colectivo MAZK nasceu para esta iniciativa e apresenta em primeira mão o seu primeiro, e único tema até então; • Veia participa com um tema inédito; • Depths of Mankind participam com um instrumental. Nas palavras de Mário Lino: “Sendo uma produção 100% açoriana, não podemos deixar de nos sentir agradecidos por todo o apoio que temos recebido, o que nos faz sentir um orgulho enorme no nosso heavy metal.” Bandas e temas que compõem a compilação: • Depths of Mankind - “Necessary Chaos” • Riots at Lobe - “Heads End Tails“ • Kaskaveil - “The VVoods “ • Morbid Death - “Over & Over” • Beware The Wolf - “Hunting Grounds” • Drvzka - “Queen of the Damned“ • Veia - “Ironheart” • Buried By Lava - “Blind Truth” • Wrek Age - “Carved in Stone” • KHTHON - “I. VIITH SEEΔLL“ • Sanctus Nosferatu - “1.e4” • Dark Age Of Ruin - “The Fallen Ones” • Mazk - “Always“ • Palha d´Aço - “Verdade“ • Drakh - “Queen Nebula” • Venên - “Wasting My Time” • Dreaming in Black - “A Better Tomorrow” “Este registo tem total apoio e promoção de perto de duas dezenas de entidades nacionais e regionais. Embora o MHMA ainda nem tenha um ano de existência, é garantidamente um orgulho ver desde rádios, labels, estúdios de gravação, webzines, e lojas da especialidade identificarem-se com este modesto projecto insular.” Facebook

7 7 / VERSUS MAGAZINE


PALETES Por: Carlos Filipe

Azarath - «Saint Desecration» (Polónia, Blackened Death Metal) «Saint Desecration» é a nova iluminação extrema revelada pelos AZARATH no altar do blackened death metal. Impenitente e provocante, o álbum foi criado para surpreender os conhecedores do terror sonoro. AZARATH surgiu das sombras há mais de duas décadas e é frequentemente descrito como uma mutação demoníaca de Krisiun, Behemoth e Immolation. (Agonia Records) Jahbulong - «Eclectic Poison Tones» (Itália, Doom Stoner) «Eclectic Poison Tones» é a nova mistura de sons e imagens criada pelo trio “fuzzlovers” dos JAHBULONG. O álbum pode ser descrito como um fluxo de mantras ácidas, rico em atmosferas sombrias e cheio de distorções. O disco é o resultado do processamento sonoro das influências musicais dos membros da banda que vão do psicadélico dos anos 70 ao grunge dos anos 90, tudo misturado com ecos retirados de Black Sabbath, a banda mais importante para os três. Jahbulong é um trio stoner doom sediado em Verona, Itália, desde 2015. O seu som é caracterizado por ritmos ásperos e opressivos misturados com mantras sombrias e melancólicas. (All Noir) Mitochondrial Sun - «Sju Pulsarer» (Suécia, instrumental) Menos de um ano após o álbum de estreia, o ex-guitarrista de Dark Tranquility, Niklas Sundin, regressa com um novo álbum dos MITOCHONDRIAL SUN. Enquanto o núcleo da música ainda é numa veia eletrónica e instrumental, o novo álbum mostra um aspecto muito diferente e provavelmente mais “metal” do que nunca. Se o primeiro álbum consistia principalmente de meditações silenciosas sobre espaço e tempo, «Sju pulsarer» (sueco para “Sete pulsares”) lança o ouvinte no olho de uma tempestade cósmica implacável, onde camadas de som são quebradas e reconstruídas ao ritmo de uma percussão feroz, mas ainda assim cheias de melodias carregadas de emoção e paisagens sonoras atmosféricas espreitando abaixo da superfície. (All Noir) San Leo - «Mantracore» (Itália, Psychedelic Ambiente Rock) Experimentais de fusão italianos, os shamãs do psych rock SAN LEO, estão prontos para lançar o seu quarto álbum, intitulado «Mantracore», explorando todos os tipos de elementos musicais, desde kraut-rock, folk psicadélico , pós-rock de forma livre, metal obscuro, música eletrónica e sons ambientais, para canalizar toda a sua energia e visão num nível totalmente novo. O som intransigente e muitas vezes imprevisível do SAN LEO sempre foi difícil de caracterizar, embora seu estilo poderoso e evocativo pode ser descrito como uma viagem selvagem de ampla gama dinâmica de grooves tribais, crescendos misteriosos e explosões magmáticas. (All Noir) Skelethal - «Unveiling The Threshold» (França, Death Metal) Oito anos desde do início da banda, uma mudança de formação, várias divisões, demos e o primeiro, e impressionante primeiro LP, SKELETHAL, regressam às hostilidades mais fortes do que nunca: «Unveiling The Threshold» revive não apenas com o death metal clássico, mas com a sua contraparte sueca do final dos anos 80 / início dos anos 90, quando o subgénero ainda estava na sua infância. «Unveiling The Threshold» agarra o ouvinte pela garganta antes de o circundar como um abutre. (All Noir) Anachitis - «The Sorcerer’s Sorrow» (EUA, Depressive Black Metal) Anachitis era uma pedra de adivinhação oculta usada na antiguidade, considerada um diamante bruto usado para comunicar com espíritos da água. Este é o nome escolhido pelo membro fundador e guitarrista dos Uada, James Sloan, para o seu projeto a solo, uma criatura caleidoscópica do black metal profundamente enraizada nos sons depressivos dos anos noventa. «The Sorcerer’s Sorrow» é a estreia de Anachitis, onde sintetizadores obscuros e minimalistas abrem caminho para riffs de guitarra obsessivos e gritos desesperados que recontam uma história de desespero e autodestruição. (Avantgarde Music)

7 8 / VERSUS MAGAZINE


Beltez - «A Grey Chill And A Whisper» (Alemanha, Black Metal) «A Grey Chill And A Whisper» é uma visão expandida do black metal contemporâneo da banda alemã Beltez. Este é o sucessor do aclamado disco «Exiled, Punished… Rejected» e lida com desespero, desesperança, mas também coragem e força. Esta ampla gama emocional é transmitida através de melodias assustadoras, gritos emocionantes e tambores batendo numa peça densa, sinistra e muito temperamental da música dark art. O resultado é uma entidade monolítica que assusta tanto quanto atrai, numa jornada inesquecível num mundo escuro e desesperado. (Avantgarde Music) Light Field Reverie - «Another World» (Internacional, Gothic/Doom metal / Electro) Todo o mundo conhece Draconian, e agora muitos conhecem igualmente Sojourner. Light Field Reverie é o que aconteceu quando as duas pontas se encontraram: Heike Langhans (Draconian, Lorelei) e a sua voz suave. Juntaram-se numa viagem completamente nova. «Another World» é o primeiro lançamento da banda recémnascida, uma coleção de músicas movendo-se de forma líquida entre o gótico e o doom metal, com uma injeção robusta de sintetizadores e drones, de tal forma que há momentos em que o metal está desaparecido. (Avantgarde Music) Void Paradigm - «Ultime Pulsation | Demain Brûle» (França, Black Metal) Chegou a hora de o trio baseado em Rouen, França, lançar o seu terceiro capítulo. «Ultime Pulsation | Demain Brûle» é, na verdade, duas faixas específicas, ao invés do seu álbum de estúdio normal, já que todo o álbum consiste em duas canções de mais de dezenove minutos cada. Os Void Paradigm chamam ao seu black metal de dodecafónico, já que Payan frequentemente se baseia numa técnica de composição de doze escalas, um método de composição com doze tons que estão relacionados apenas entre si, desenvolvido no início do século XX. Enquanto os Void Paradigm tentam experimentar novas maneiras de fazer black metal, às vezes escrevem a música literalmente na mesa e não procuram por riffs na guitarra. (Avantgarde Music) Spirit Adrift - «Enlightened In Eternity» (EUA, Doom Metal) O seu último álbum, «Divided By Darkness», causou um impacto inegável na paisagem do heavy metal, ocupando um lugar de destaque em quase todas as principais listas de melhor do final de ano. SPIRIT ADRIFT começou como uma válvula de escape para o multiinstrumentista Nate Garrett, que começou a banda em 2015 como um projeto de estúdio que englobava o seu amor pelas sensibilidades do hard rock e vários acordes de heavy metal atemporais. O domínio dos Spirit Adrift sobre o cenário atual do Heavy Metal é agora inegável. E enquanto «Enlightened In Eternity» já marca o quarto álbum da banda, Spirit Adrift está apenas a começar. (Century Media) Endezzma - «The Archer, Fjord And The Thunder» (Noruega, Black Metal) Os Endezzma foram formado em 2006 sobre as cinzas do Dim Nagel pelo frontman M. Shax. Com um som massivo, grandioso, mas também muito cru, a banda norueguesa de black metal, Endezzma, retorna com o seu terceiro álbum intitulado «The Archer, Fjord and the Thunder». Com este trabalho, Endezzma dá um passo grande em frente na composição. Misturando a severidade crua dos primeiros dias do black metal com a grandeza épica de bandas posteriores, o álbum preenche a lacuna entre o hino sombrio e a agressão primitiva. (Dark Essence Records) Bleakheart - «Dream Griever» (EUA, Doom/Alternative/Shoegaze) A unidade BLEAKHEART, de Denver doomgaze, lança o seu impressionante álbum de estreia, «Dream Griever». Um eclipse assombroso de tristeza e desejo, onde os BLEAKHEART tecem a sua psicadélica de desejo numa massa esmagadora de maravilha melancólica. Trazendo influências de indie rock, shoegaze, psych rock, doom metal e goth / darkwave, o coletivo manifesta uma atmosfera emocionalmente exuberante de guitarras ricas, sintetizadores assustadores e vocais dinâmicos. Ao justapor sons sombrios, low-fi e baseados em guitarras, com vocais e tons cintilantes e etéreos, Dream Griever busca assim refletir sobre o absurdo da condição humana. (Earsplit) Serpents Of Secrecy - «Ave Vindicta» (EUA, Heavy/Stoner Metal/Rock) Após vários anos em formação, SERPENTS OF SECRECY passou por uma dor avassaladora ao criarem o álbum «Ave Vindicta». Uma gravação massiva de onze canções, que oferece mais de cinquenta e dois minutos de hard rock clássico uma vertente doom metal. As músicas são claramente enraizadas e alimentadas pelo fértil doom metal que a sua cidade natal e área circundante são internacionalmente conhecidas, com uma generosa abundância de ritmos poderosos e dinâmicos entregues a partir de um núcleo intensamente emotivo. (Earsplit)

7 9 / VERSUS MAGAZINE


Jakko M Jakszyk - «Secrets Lies» (Inglaterra, Progressive Rock) Jakko Jakszyk teve um momento de mudança de vida quando viu King Crimson tocar no Watford Town Hall em 15 de julho de 1971. Ouvir a banda naquela noite incutiu no Jakko de 13 anos a determinação de se tornar um músico profissional, levando-o a construir uma carreira notável. 2020 vê o lançamento do mais recente álbum a solo de Jakko Jakszyk, «Secrets & Lies», com os colegas de banda dos King Crimson. Contendo dez canções que exploram tópicos como obsessão, traição, as mudanças de terreno da política contemporâneas e os fios emaranhados da história da família, «Secrets & Lies» equilibra escrita sensível, técnica musical e melodias acessíveis lançadas num mundo de som cinematográfico impressionante. (InsideOut Music) The Flower Kings - «Islands» (Suécia, Progressive Rock) Os rockeiros progressivos THE FLOWER KINGS lançam o seu novo álbum duplo «Islands», apenas um ano depois do famoso «Waiting For Miracles». THE FLOWER KINGS rapidamente ganharam impulso e foram uma das várias bandas que ajudaram a reviver a cena rock progressivo em todo o mundo. Os 92 minutos de «Islands» apresenta todos os sons e melodias da sua marca registrada pela qual a banda é conhecida. De tons vintage a solos de guitarra épicos, de padrões de bateria estranhos a elementos sinfónicos, THE FLOWER KINGS apresenta um disco dinâmico e complexo mas ao mesmo tempo ousado, bombástico e bonito. (InsideOut Music) Maudits - «Maudits» (França, Instrumental Post Metal Ambient Doom) Formados em 2019 pelos membros de Throane, Ovtrenoir e ex-membros do The Last Embrace, Maudits é um novo apelido instrumental. Influenciado por doom, pós-rock, progressivo e ambiente, o seu primeiro álbum autointitulado é imaginado como uma banda sonora de um ano inabitual. Motivado por uma necessidade catártica de liberação, cria desta forma imagens mentais para mergulhar num equilíbrio de luz e vazio. (Klonosphere) Uncut - «Blue» (França, Hard Rock) O trio francês UNCUT tem raízes profundas nas origens do rock americano. A banda de Poitiers foi formada em 2016 por Alexy Sertillange. A sua música é uma mistura magistral de agressão do rock e riffs de blues, impulsionada por baterias selvagens e elegantes. UNCUT leva-o numa viagem pela vibrante terra da música rock. UNCUT estabelece as bases para um potencial duradouro, com o grão dos dias de glória do início dos anos 70, combinado com o tempero das melhores memórias do rock dos anos 90. (Klonosphere) Misanthropia - «Convoy Of Sickness» (Holanda, Symphonic/Melodic Black Metal) A quarta ninhada que os Misanthropia lançam agora sobre a humanidade baseia-se no seu antecessor, «OMERTÀ». No que diz respeito à música, a grandiosidade e o bombástico não param de melhorar, e Misanthropia mais uma vez provam que são capazes de chegar em esplendor e grandeza quando o assunto é produção. Qualidade acima de tudo e arte que vai além da sua cara. Este álbum é sobre como tudo funciona: uma mão lava a outra. Sem arrependimentos, sem remorso, ultraviolência e, antes de mais nada: não confie em ninguém. (Massacre Records) Strydegor - «Isolacracy» (Alemanha, Melodic Death Metal) Por mais de 10 anos, os Strydegor têm fornecido um vento de norte musical constante na cena do metal. Eles misturam rajadas de death metal melódico com redemoinhos hínicoacústicos, salpicados com pitadas acentuadas de black metal cortante. Após os três álbuns, os nortenhos preparam-se para liberar outra tempestade de som com «Isolacracy», como um testemunho de seu desenvolvimento musical. O tempo de espera pelo novo álbum valeu a pena, pois «Isolacracy» é sem dúvida o representante do ponto mais alto do trabalho musical do quarteto. (MDD Records) Accuser - «Accuser» (Alemanha, Thrash Metal) Desde que começaram a hastear a bandeira do thrash alemão nos anos 80, os ACCUSER provaram ser uma das forças mais duradouras do metal global. Com onze LPs na bagagem, eles regressam em 2020 com a mais recente obra-prima, uma coleção autointitulada, empolgante, que captura tudo o que torna a banda tão vital e soar fresca. O resultado é um álbum dinâmico que está muito enraizado no thrash, mas ainda leva o ouvinte por vários humores e estilos, consolidando ainda mais o status de ACCUSER como líderes. (Metal Blade Records) Imha Tarikat - «Sternenberster» (Alemanha, Black Metal) Uma supernova é uma explosão estelar, um evento cósmico de dimensões tão gigantescas que é difícil de

8 0 / VERSUS MAGAZINE


compreender. Expresso em palavras mais simples, é a explosão de uma estrela. O segundo LP «Sternenberster» de IMHA TARIKAT, traduzindo literalmente como “explosão de estrelas “, refere-se assim à força esmagadora que emana dessas faixas. Em «Sternenberster», os IMHA TARIKAT levam o som áspero de seu álbum de estreia «Kara Ihlas» (2019) a um grande passo em frente enquanto ao mesmo tempo se mantém fiel ao seu curso. A banda de black metal alemã combina uma abordagem da velha escola baseada na segunda onda norueguesa com influências suecas melódicas sombrias, explosões violentas de velocidade, uma pitada de punk e até mesmo uma pitada de rock oculto. (Prophecy Productions) Harlott - «Detritus Of The Final Age» (Austrália, Thrash Metal) Mais de 30 anos após o seu início, o thrash recusa-se a morrer, e com tal os Harlott da Austrália, que continuam a atiçar fogo ao género. O seguimento do poderoso «Extinction» de 2017, «Detritus Of The Final Age» vê Harlot continuar a lutar o bom combate, entregando uma coleção de riffs serrilhados, bateria rítmica desenfreada e letras biliosas, batendo forte em todos os lugares certos. O resultado é talvez o lançamento mais dinâmico da banda, ao mesmo tempo em que mantém o som característico de Harlott. O resultado é thrash metal com um pouco de escuridão, um pouco de tristeza, um pouco de melodia e alguns ganchos lançados para uma boa medida. (Metal Blade Records) Pallbearer - «Forgotten Days» (EUA, Doom Metal) PALLBEARER está de volta com um novo álbum, «Forgotten Days». O quarto LP do quarteto evita o maximalismo composicional que ergueu o predecessor «Heartless» para o groove mais pesado e os ganchos mais viscerais até agora. Espalhado por oito imponentes faixas, «Forgotten Days» vê PALLBEARER abraçar novamente as suas raízes, mas desta vez com uma centelha metálica infundida de destruição que é infecciosa e transcendente. É uma evolução crua e fascinante, cheia de emoção e a exuberância única e abatida que definiu a carreira histórica da banda. (Nuclear Blast) Fortíð - «World Serpent» (Islândia, Viking/Black Metal) Os deuses nórdicos perecem na batalha final de uma cadeia de eventos apocalípticos chamada Ragnarök, que testemunha o velho mundo morrer em chamas. Porém, de acordo com o poema profético “Völuspá”, eles regressam na manhã seguinte a um mundo renovado, livre dos antigos pecados, no início de um novo ciclo. FORTÍÐ captou artisticamente um ponto de viragem cataclísmico com o seu sexto álbum «World Serpent», criando um álbum que consiste essencialmente em duas metades de cinco canções cada. Com «World Serpent», FORTÍÐ soltou uma criatura sombria e mortal no mundo pagão do metal! (Prophecy Productions) Six Foot Six - «End Of All» (Suécia, Heavy metal) Os amigos de longa data Kristoffer Göbel e Christoffer Borg decidiram juntar a banda enquanto mixavam o primeiro álbum «The Six Foot Six Project», em 2018. Dois anos depois, Six Foot Six vai deixar uma marca no cenário internacional de heavy metal com o seu novo e emocionante álbum. «End of All» é uma coleção poderosa de canções que mostra todas as várias faces da banda: o lado melódico, o lado épico e até o lado negro. Liderado pela voz incrível, pura e carismática de Göbel, o quarteto sueco, levar-lho-á numa viagem de metal de tirar o fôlego baseada nos pilares desse género, mas com um som moderno e um sentimento muito contemporâneo. (Scarlet Records) Serpents Oath - «Nihil» (Bélgica, Black Metal) SERPENTS OATH é uma nova criatura composta por três adeptos da cena do metal extremo da Bélgica. Assim que se encontraram e começaram a criar juntos, perceberam que estavam desenvolvendo uma entidade muito diferente. Assim, decidiram deixar o passado para trás e dar à luz a esta nova Besta. O seu álbum de estreia rebelde, «Nihil», está definido para conquistar o mundo com a sua versão implacável de Black Metal niilista. Não espere nenhum remorso desta obra, apenas riffs esmagadores, batidas de bateria e gritos aterrorizantes, empurrando os limites de um género musical marcado pelo caos e a morte. (Soulseller Records) The Deviant - «Rotting Dreams Of Carrion» (Noruega, Black/Death Metal) A banda foi formada por Violator em 2003 e mais tarde acompanhada por ex-membros da banda de culto do death metal 122 Stab Wounds. O novo álbum continua o ataque implacável que é THE DEVIANT. Com mais alguns acenos de volta ao death e doom metal do início dos anos 90, THE DEVIANT leva o seu som para o próximo nível. Espere os riffs, os solos e a velocidade de lançamentos anteriores, temperados com alguns novos elementos. Os abutres estão subindo! (Soulseller Records)

81 / VERSUS MAGAZINE


Autumnblaze - «Welkin Shores Burning» (Alemanha, Gothic Rock/Metal) Sete longos anos desde o seu último álbum, o rock melancólico e banda de dark metal, AUTUMNBLAZE, estão de volta. A dupla, formada em 1997, combina elementos do pós-rock, black metal, trip hop, com vozes e composição num estilo de metal experimental único. AUTUMNBLAZE transforma cada som pesado numa escuridão poética. (All Noir) Kaunis Kuolematon - «Syttykoeoen Toinen Aurinko» (Finlândia, Melodic Doom) Entre belas paisagens sonoras melódicas e vocais suaves, metal dirigido ao extremo e gritos ásperos, o finlandês KAUNIS KUOLEMATON está pronto para lançar seu terceiro álbum, intitulado «Syttyköön Toinen Aurinko«». Formado em 2012 e sem medo de cruzar as fronteiras musicais para expandir os estereótipos do Doom Metal, KAUNIS KUOLEMATON é a personificação definitiva do metal melancólico. Com dois álbuns, um EP e vários singles lançados até agora, a sua próxima magnus opus verá KAUNIS KUOLEMATON continuar a crescer. (All Noir) Shores Of Null - «Beyond The Shores On Death And Dying» (Itália, Melodic Black/Doom Metal) Shores Of Null é uma banda de metal com sede em Roma, uma presença inabalável no underground do metal desde o seu início em 2013, foi capaz de produzir dois discos impressionantes: o aclamado debut «Quiescence» e o segundo e mais complexo «Black Drapes For Tomorrow ». Shores Of Null pode ser esmagadoramente pesado e relaxante ao mesmo tempo, balanceando-se entre vibrações góticas e agressão enegrecida. A música destaca-se por uma vibração melancólica, porém majestosa, feita de texturas de violão do tipo coral, que exploram toda a sua gama, sustentada por uma seçcão rítmica poderosa e pontuada por uma mistura refinada de vocais limpos e rosnados. (All Noir)

Noir)

Nibiru - «Panspermia» (Itália, Psychedelic Sludge/Drone/Doom Metal) Nunca mude uma equipe vencedora. Juntos, lançaram quatro álbuns e um EP. Mas recentemente, o coletivo italiano lançará o seu sexto álbum dos NIBIRU, intitulado «Panspermia». Os NIBIRU nasceram em 2012, seguindo um processo implacável de conhecimento espiritual e emocional que envolve todos os membros da banda e se reflete numa abordagem criativa impetuosa. Os NIBIRU proporcionam um som muito especial, verdadeiramente único e inspirador, à medida que desenvolvem a sua estética musical. (All

Funeral Winds - «Essence» (Holanda, Black Metal) Pedimos ao compositor, cantor e multi-instrumentista da banda, para descrever a nova obra Funeral Winds, e aqui estão as próprias palavras de Hellchrist XUL. A música dos «Essence» ainda está profundamente enraizada na Old School, na primeira onda do Black Metal dos anos 80, naturalmente misturada com a segunda onda dos anos 90. «The Heart of Darkness» é uma dedicação a Satanás, enquanto «Rise of the Dark Imperium» narra o império do Diabo que se manifestará na Terra. (Avantgarde Music) Neige / Noirceur - «Bach» (Canadá, Drone / Dark Ambient / Black Metal) A prolífica banda de Neige Et Noirceur está de volta com uma nova obra. «Bach - Preludium Minor» é o verdadeiro seguimento de «Vent Fantôme». Três anos depois, Sion Daus volta a um de seus apelidos mais antigos, Spiritus, e presta homenagem a um dos maiores compositores de todos os tempos, Johann Sebastian Bach. Neige Et Noirceur estão, portanto, de volta com uma homenagem surpreendente dedicada ao grande compositor de Eisenach, consistindo em quatro prelúdios menores e uma invenção. (Avantgarde Music) Severoth - «Vsesvit» (Ucrânia, Atmospheric Black Metal) Severoth é a banda one-man da ucraniana e lança aqui o seu novo álbum de estúdio, «Vsesvit», ucraniano para “Universe”. Neste caso especificamente o universo dos pensamentos. Este novo álbum simplesmente continua a jornada através das estrelas. «Vsesvit» é um recipiente de pensamentos, experiências e reflecções na música. O resultado é uma jornada atmosférica de black metal que se estende por mais de uma hora, onde todas as músicas duram mais de onze minutos e são construídas em guitarras e melodias de sintetizador. (Avantgarde Music) A Forest Of Dreams - «Sacrum Terram» (Portugal, Atmospheric Black Metal/Ambient) O projeto musical de pós-black metal atmosférico criado por Mario Rodrigues (DS13), tem por temas a misantropia, a floresta e a mística de Sintra. «Sacrum Terram» conta com a participação de Vulturius na voz e na escrita, e Paulo Bucho na bateria. Uma abordagem lírica raia o autobiográfico, projetando muito da mundividência e modo de sentir do seu mentor. Em termos musicais, o mais notável será o cruzamento de

8 2 / VERSUS MAGAZINE


várias linhas melódicas como via de expressão não apenas musical, mas vivencial que marcam o seu criador. (Independentes) Alcohelldrugs - «Infernal Metal Punk» (Brasil, Speed/Thrash Metal) ALCOHELLDRUGS, banda do submundo nordestino brasileiro formada em 2014 por dois irmãos bêbados. Thiago Xaruto e Henrique Alcoólico uniram-se para tirar toda a sede do caos e toda a autodestruição que corre nas suas veias e faz-se sentir no peito. ALCOHELLDRUGS permanecem enterrados nas profundezas abissais do inferno com «Infernal Metal Punk», devidamente preparado com doses excessivas do mais puro Metal Punk infernal. Prontos para serem vorazmente consumido até chegar à overdose blasfema, que ALCOHELLDRUGS apresenta e transporta este álbum. (Independentes) Garth Arum - «The Fireflowers Tale» (Espanha, Avantgarde Black Doom) Garth Arum é um projeto de um homem só que consiste em canções antigas escritas entre 1997 e 2003. Apresentando a vibe da música black metal melódica e progressiva dos velhos tempos, toda a música de Garth Arum é inspirada em sonhos e numa profunda viagem em direção ao interior. O lugar onde está localizado o nosso próprio jardim secreto interior, aquele que está esquecido. As flores de fogo são a fonte da criação e dependendo de quem as usa, obtém-se resultados diferentes. Uma pessoa normal apenas mudaria a sua dimensão, mas o ser mais poderoso criaria um novo universo. (Independentes) Samuli Federley - «9 Classics On 8 Strings» (Finlândia, Guitar Hero) Samuli é um shredder Suomi altamente considerado como um dos mais talentosos guitarristas finlandeses. O seu novo álbum, «9 Classics on 8 Strings», é totalmente diferente do pesado trabalho solo de guitarra que ele normalmente faz, mostrando as suas habilidades absolutas na guitarra de 8 cordas. Algumas músicas são arranjadas para atender a um estilo moderno, mostrando que uma guitarra elétrica pode ser tocada assim num formato clássico como solista e sem ter que seguir uma abordagem de rock. Existem quatro canções épicas no álbum, duas baladas e três canções de estilo virtuoso muito desafiadoras. (Independentes) Lüt - «Mersmak» (Noruega, Post Punk, Alt-Rock, Punk) A música deles é edificante, cheia de energia e amigável para dançar. Imagine a diversão indie-pop do Paramore enlouquecido. O som experimental de rock alternativo de Foals que virou pop. Ambos misturados com essas vibrações pós-punk hipnotizantes dos vocais estridentes de Kvelertak, acompanhados pela energia punk rock incrivelmente crua do companheiro norueguês. Todos esses aspectos, culminam no som que LÜT disponibiliza. «Mersmak» oferece o melhor do rock alternativo moderno; às vezes fica louco, mas sempre autêntico. A música de «Mersmak» situa-se entre o rock alternativo enérgico, o indie pop cativante e um leve toque pós-punk difuso. (Indie Recordings) Darkenhöld - «Arcanes & Sortilèges» (France, Medieval Black Metal) Em 2008, Aldébaran (ex. ARTEFACT) e Cervantes juntaram forças para criar DARKENHÖLD com o objetivo de tocar o autêntico Black Metal Medieval. A banda, então parte para defender sua música em público, antes de iniciar o processo de composição da segunda obra. Com «Echoes To The Stone Keeper», a banda desenvolve o seu universo, poder evocativo e assinatura sonora: um Black Metal melódico feito de paisagens nebulosas, ruínas e misteriosa majestade medieval. Este terceiro álbum «Arcanes & Sortilèges» dá uma nova vida às velhas pedras carregadas de história através de um trabalho pessoal e imaginativo. Este majestoso Black Metal é um verdadeiro convite a uma viagem por lugares autênticos onde vivem os mitos e as lendas. (LADLO Productions) Spectrale - «Arcanes» (França, Acoustic Hypnotic) Spectrale, o projeto a solo de Jeff Grimal, nasceu em 2014. É o resultado de um trabalho de longo prazo na explorações de musicais acústicos, hipnóticos e esotéricos. Destaca-se uma liberdade total em termos de experimentação de composição, ritmo e harmonia. A gênese do álbum exige alguma meditação e escrita automática, mas também uma ampla e instintiva gama de técnicas musicais. (LADLO Productions) Exarsis - «Sentenced To Life» (Grécia, Old School Trash Metal) Dez anos após a sua primeira demo, os gregos Exarsis estão preparando para lançar o seu quinto álbum, mais uma vez levantando a bandeira do thrash metal da velha guarda. Após uma mudança na formação da bateria e o retorno do membro fundador e guitarrista Chris Tsitsis , «Sentenced To Life» é provavelmente o álbum mais melódico de sua discografia até o momento, mas que contém o típico sentimento Exarsisano. (MDD Records)

83 / VERSUS MAGAZINE


Bloodletter - «Funeral Hymns» (EUA, Melodic Thrash Metal) Bloodletter quer ensinar aos pecadores que rápido, melódico; o Thrash Metal veio para ficar e condenar todos os que ouvem há um bom tempo! Depois de estabelecer uma sólida reputação ao vivo dentro e fora de sua cidade natal, Chicago, a banda também encontrou o seu caminho para o estúdio várias vezes. Com vários eps e um LP no seu currículo, a banda começou a gravar o que se tornaria o álbum clássico «Funeral Hymns». Onze faixas de Thrash Metal furioso com leves dicas de crossover. (Petrichor) Katla - «Allt Þetta Helvítis Myrkur» (Islândia, Atmospheric Doom/Post-Metal/Rock) A infame “baixa islandesa” é definida como um grande e persistente centro de baixa pressão atmosférica que se forma entre a Islândia e a Groenlândia e costuma ser a causa de fortes ventos de inverno sobre o Atlântico Norte. KATLA artisticamente traduz essa depressão meteorológica em metal infundido de dark e profunda emoção musical. Uma sensação urgente de escuridão e turbulência interna impulsiona «Allt þetta helvítis myrkur» (“Toda essa maldita escuridão”), o segundo LP da dupla islandesa. Algumas das composições principais deste álbum datam de mais de uma década e nasceram de sessões de ensaio espontâneas que só agora deram forma final. O resultado é um fluxo de consciência musical cinematográfico, onde as canções se entrelaçam e fluem umas nas outras. (Prophecy Productions) Völur - «Death Cult» (Canadá, Ambient Folk/Doom Metal) Para o ouvinte casual, VÖLUR pode ‘apenas’ parecer escrever grandes canções de destruição com uma abordagem de vanguarda, usando elementos do folk, música clássica e free jazz. Aqueles que se aprofundarem no “Culto da Morte” descobrirão um mundo escuro e singular onde o antigo ritual se transforma em angústia moderna, um violino substituiu todas as guitarras e uma infinidade de fascinantes descobertas musicais e líricas o aguarda. VÖLUR encaixa-se no molde do Doom Metal, onde eles se conectam a uma paisagem sonora muito mais ampla. (Prophecy Productions) Eternal Majesty - «Black Metal Excommunication» (França, Black Metal) Formado em 1995, os ETERNAL MAJESTY fazem parte da primeira leva de bandas francesas de Black Metal que marcou a chegada do século XXI. Sombrio, brutal, pessoal, inspirado e cheio de melodias, a banda trouxe um nível mais alto de violência, escuridão e ódio ao Black Metal, que tornou o género ainda mais perigoso do que nunca. Após vinte e cinco anos a serviço do mais puro mal, sem o menor compromisso comercial, a banda anuncia o seu regresso musical 14 anos após «Wounds of Hatred and Slavery». Após 20 anos pontuados por apenas dois álbuns que marcarão para sempre a história do Black Metal, a banda decide fazer uma pausa e regressar para espalhar demónio musical. (Solstice PR) Sodom - «Genesis Xix» (Alemanha, German Thrash Metal) Sodom imediatamente voltou a trabalhar de forma criativa após o primeiro confinamento. Essa é uma das razões pelas quais «Genesis XIX» se tornou precisamente o que os músicos tinham em mente, definitivamente, uma das gravações de estúdio mais difíceis e diversificadas que Sodom já alguma vez lançou. A diversidade do resultado transmite uma mensagem clara: desde faixas de thrash metal não adulteradas, como ‘Euthanasia’, ‘Dehumanized’ e ‘Friendly Fire’, a números fora da caixa, como ‘Occult Perpetrator’, SODOM apresenta uma ampla gama de facetas de seu som típico. (SPV Steamhammer) Stormkeep - «Galdrum» (EUA, Black Metal) STORMKEEP começou como uma fortaleza para indivíduos que buscavam carregar a chama de uma época perdida. Ramificando-se nos mundos do sintetizador de calabouço épico e do Black Metal melódico. STORMKEEP remete a uma época em que, sem compromissos, melodias e teclados majestosos podiam conviver lado a lado com riffs afiados e produção bruta agressiva. «Galdrum» é uma banda sonora perfeita para viagens por montanhas cobertas de neve, masmorras medievais e castelos reais. Os quatro hinos criam um mundo de antigas lendas e magia, um lugar de há muito tempo atrás, num qualquer lugar passado. (Ván Records) Iron Mask - «Master Of Masters» (Bélgica, Power Metal) IRON MASK, os mestres do power metal neoclássico, e um dos principais artistas neoclássicos e mais originais do mundo, regressam após uma pausa de quatro anos. os belgas continuamente a entregar grandes álbuns, impressionando-nos com excelente trabalho de guitarra, ganchos vocais cativantes e composições inesquecíveis, reminiscentes de bandas como RHAPSODY, DIO ou HELLOWEEN. Mesmo nestes estranhos tempos, a banda conseguiu novamente gravar com paixão, energia e fogo. (AFM Records)

8 4 / VERSUS MAGAZINE


Voodoo Circle - «Locked Loaded» (Alemanha, Hard Rock) A partir da abertura ‘Flesh & Bone’ e das duas faixas subsequentes, é imediatamente aparente do que Beyrodt está a falar: a banda celebra um híbrido poderoso e profundamente melódico hard rock e metal melódico, com citações sucintas e elementos blues, intercalados com referências inteligentes aos seus próprios ícones. Acabou sendo uma decisão sábia adaptar a direção estilística de «Locked & Loaded» à situação atual do pessoal: Voodoo Circle alcançou uma mistura perfeita de diferentes influências, misturando sem esforço duas eras musicais, usando para isso sequenciadores e um solo de guitarra fuzz inspirado em Jimi Hendrix, o qual dá um toque vintage moderno. (AFM Records) Dark Tranquillity - «Moment» (Suécia, Melodic Death Metal) O retorno dos reis do death metal de Gotemburgo, Dark Tranquility, é mais do que um novo álbum, é um novo ciclo. Com o novo álbum, «Moment», eles não apenas lembram os seus designs inteligentes, canoros e ofensivos, mas também o de um grupo totalmente revitalizado e pronto para enfrentar o seu 31º ano. «Moment» tem o DNA inconfundível do Dark Tranquillity, bem como um avanço inflexível sobre o futuro. «Moment» é o oitavo álbum de Dark Tranquillity com um título de uma palavra. (Century Media) Mad Sin - «Unbreakable» (Alemanha, psycho punk/rock ‘n’ roll) Depois de uma década fugindo, a banda mais psicótica / punkabilly / rock ‘n’ roll da Alemanha, MAD SIN, está de volta! Novo álbum: «Unbreakable». MAD SIN permanece um grupo duro e sólido no meio das coisas, o seu género difuso duramente é conquistado - punk para country, blues para hardcore, metal de garagem para estourar. Onde quer que o peripatético DeVille se estabelecesse, ele escreve pedaços do 15º álbum de sua banda. Cada música em «Unbreakable» tem uma mensagem ou um significado. (Century Media) Akhlys - «Melinoë» (EUA, Black Metal) Na sequência do clássico moderno onírico de 2015 «The Dreaming I», AKHLYS apresenta o seu novo trabalho «Melinoë» - cinco hinos de Black Metal hipnótico, metamórfico e perigosamente viciante - intitulado após a Deusa Órfica, portadora de pesadelo e loucura. A iteração mais orientada do grupo, canaliza os arcos estruturais da experiência dos sonhos enquanto tecem percussão marcial, violões de contraponto, texturas ambientes escuras fascinantes e paroxismos vocais de terror eufórico. Espiritual, mítico, emocional e físico, com «Melinoë» AKHLYS aprofundou o mistério para desenhar ainda mais uma nova forma de sonhar. (Debemur Morti Productions) Cardinal Wyrm - «Devotionals» (EUA, Doom Metal) A banda de doom metal CARDINAL WYRM de Oakland, Califórnia, lança o seu quarto álbum, «Devotionals». Os devocionais do CARDINAL WYRM podem ser descritos, como música pesada, intrincada, estimulante, progressiva e de género que procura contar uma história. Muitas vezes parece que compartilhamos uma devoção a algo que parece sem esperança e está constantemente sob ataque. As raízes da banda, no entanto, ainda estão no doom metal. (Earsplit) Black Mold - «The Inheritance Of Evil» (Portugal, Black/Thrash Metal) Três anos após a sua formação, esta força das trevas isolada atinge o seu pior pesadelo musical, numa visão de terror que irá assombrá-lo durante o seu primeiro LP. «The Inheritance of Evil» consolida o caminho delirante do legado de Black Mold e não oferece ao ouvinte esperança para o futuro. Nada realmente mudou aqui porque não era para ser, desde o primeiro minuto, deste ataque assassino, por esta crueza sufocante e demência violenta. Definitivamente, há uma vibração punk negra que agride os seus sentidos com o seu grito de guerra! (Helldprod Records) Depression - «Ära Der Finsternis» (Alemanha, Death Metal/Grindcore) Vindo do século passado e tendo mais de três décadas na sua espinha dorsal, um longo caminho foi percorrido por esses veteranos germânicos. DEPRESSION tem feito tudo para ser uma referência na cena grindcore mundial. DEPRESSION claramente não mostra sinais de erosão e uma vontade imparável de manter a sua música como eles gostam e querem. A simplicidade resulta para eles como uma arma de destruição em massa feroz e mortal que não deve ser ignorada. A caminho de seu sexto álbum entre inúmeros outros lançamentos, DEPRESSION continua a esmagar nossos rostos até o esquecimento. (Helldprod Records) Meer - «Playing House» (Noruega, Progressive Rock) A orquestra pop progressiva alternativa norueguesa MEER, dá-lhe as boas-vindas com um som massivo, melodias fabulosas, harmonias fantásticas e algumas surpresas. MEER começou como uma dupla em Hamar,

85 / VERSUS MAGAZINE


Noruega, em 2008, e desde então expandiu-se consideravelmente para se tornar o que é hoje - um coletivo eclético de oito integrantes cuja música é uma mistura de pop orquestral, música clássica e rock progressivo. O som de MEER está longe de ser minimalista e flui num movimento aparentemente constante. (Karisma Records) Furious Trauma - «Decade At War» (Dinamarca, Thrash Metal) FURIOUS TRAUMA da Dinamarca está de volta ao thrash - mais rápido, mais pesado, mais alto do que nunca! «Decade At War» oferece faixas intransigentes, puras e agitadas, com canções em homenagem aos soldados dinamarqueses caídos, bem como canções que tratam de uma década de guerra e tocam em tópicos como, fanatismo religioso e heavy metal. Este é o quarto álbum da banda holandesa de thrash metal FURIOUS TRAUMA. (Massacre Records) Hatebreed - «Weight Of The False Self» (EUA, Hardcore) Com tenacidade inabalável, a fábrica de heavy metal impenetrável que é HATEBREED trouxe outra arma sónica de ferro fundido com «Weight Of The False Self». Não é nenhuma surpresa que o oitavo álbum seja o resultado do suor e sangue habituais que cimentaram o nicho único do HATEBREED no mundo da música por mais de duas décadas. Famoso pela sua capacidade de fornecer um lançamento intenso e catártico, HATEBREED desafiou o seu estilo de escrita ao longo deste ciclo de álbum para produzir material excepcionalmente identificável num mundo contemporâneo. (Nuclear Blast) Hjelvik - «Welcome To Hel» (Noruega, Viking/Heavy Metal) Um renascimento está a caminho! Prepare-se para a chegada triunfante de HJELVIK anteriormente conhecido como frontman e cofundador dos noruegueses Kvelertak, Erlend Hjelvik depois de se separar dos seus companheiros de banda, passou os últimos dois anos a ganhar tempo e planificando um regresso às hostilidades. Hoje, ele é um guerreiro do metal rejuvenescido e inspirado, preparado para lançar a sua própria banda a solo, HJELVIK, com o seu estrondoso álbum de estreia «Welcome to Hel». (Nuclear Blast) Insidious Disease - «After Death» (Noruega, Death metal) Induzindo sonoramente uma condição depravada e mórbida da mente, INSIDIOUS DISEASE voltou para apresentar o seu segundo álbum: «After Death». Este carrega consigo conceitos filosóficos que podem ser encontrados e entrelaçados ao longo do conteúdo lírico de todo o álbum. «After Death» é uma potência do death metal moderno que vai despertar os seus instintos da velha escola. O Death Metal não morreu, apenas exigiu uma ignição convincente e qualificada. (Nuclear Blast) Jack Slamer - «Keep Your Love Loud» (Suiça, Modern 70’s Rock) Voando alto como uma águia no céu, JACK SLAMER está de volta com um estrondo! «Keep Your Love Loud» marca o terceiro lançamento da banda. Desta vez, paredes de guitarras, riffs intermináveis e vocais agudos, juntam-se à bateria disco e Darbukas. As paisagens sonoras são frescas e quase frívolas, mas elas continuam a ser baseadas num gosto profundamente enraizado pela tradição. As principais características do álbum são imediatamente reconhecíveis: bateria forte, um som de baixo retorcido e linhas de guitarra intrincadas tecidas num tecido sonoro denso que acompanha os grandes registros do passado do rock n roll! (Nuclear Blast) Killer Be Killed - «Reluctant Hero» (EUA, Metalcore/Groove Metal) KILLER BE KILLED é o resultado formidável e inevitável da soma de suas partes, num turbilhão de bombástico pesado, rápido, melódico e thrashy. Três homens possuidores de algumas das vozes mais reconhecidas na música pesada, dividiram a função de frontman. Nascidos e criados em diferentes cidades e temperados por diferentes projetos, cada um é um participante igual na nova cerimônia do ritual inspirado, junto com um dos bateristas mais queridos da música pesada. (Nuclear Blast) Macabre - «Carnival Of Killers» (EUA, Thrash/Death Metal/Grindcore) Venha um! Venham todos, para o banho de sangue demente e hediondo de um circo de metal assassino que declara o retorno de MACABRE com «Carnival Of Killers». A julgar pelo título, pode-se assumir positivamente que «Carnival Of Killers» contém histórias dos seus psicopatas assassinos favoritos: Bundy, Speck, Gacy, Ramirez e uma série de assassinos hediondos nunca cantados por MACABRE. No verdadeiro estilo MACABRE, um senso de humor mórbido, bem como um gosto refinado no verdadeiro death metal, são necessários para apreciar as letras horríveis e as mudanças entre o trabalho complexo de guitarra e temas vibrantes. (Nuclear Blast)

8 6 / VERSUS MAGAZINE


Phil Campbell And The Bastard Sons - «We Re The Bastards» (Inglaterra, Hard Rock) Não existe um caminho fácil para triunfar e vangloriar-se no rock’n’roll. Mesmo para bandas com um dom natural para fazer o chão tremer, trabalho duro e muitos litros de sangue, suor e lágrimas fazem a mágica acontecer. Provando que a sua aclamada estreia não foi por acaso e habilmente capturam a essência fervilhante do seu material mais forte e estimulante até o momento, Phil Campbell And The Bastard Sons estão prontos para a açcão sempre que a pistola de iniciação da indústria musical for disparada. Nesse ínterim, «We’re The Bastards» é exatamente o pontapé turbinado de que todos precisamos enquanto esperamos que nossa família do rock’n’roll se reúna. Toque alto e esteja pronto! (Nuclear Blast) Scour - «Black» (EUA, Black Metal) Um supergrupo de metal extremo com pedigree coberto de vísceras, SCOUR é o coletivo de elite de Philip H. Anselmo. O som de SCOUR pode ser descrito como uma releitura moderna do que ficou conhecido principalmente como black metal, mas misturado com elementos de grindcore e pedaços de punk e thrash. O resultado é um minimalismo punitivo em tons sinistros sem as armadilhas de “retrocesso”, enquanto imagina a linhagem da escuridão punk primitiva para a modernidade. (Nuclear Blast) !T.O.O.H.! - «Free Speech 2020(Lavadome)» (Rep. Checa, Progressive Death Metal/Grindcore) A banda Checa progressiva e death / grind experimental está de volta com seu quinto álbum «Free Speech», o qual seria o primeiro álbum de estúdio da banda em 15 anos. No final das contas, «Free Speech» marca um novo começo para s ! T.O.O.H.!. O álbum, como tal, é um exemplo de como extremismo e criatividade podem misturar abordagem progressiva e experimental sem perder um pouco do punch metálico e cruel de sua expressão musical. As canções podem ser curtas, mas o detalhe técnico, os arranjos e as camadas têm uma profundidade extra única. (Independentes) Børge Olsen - «Music In The Dark» (Noruega, jazz rock/progressive metal) O guitarrista norueguês Børge Olsen lança o seu segundo álbum a solo «Music in the Dark». Este apresenta novas gravações das canções de Børge Olsen de hoje e outro tempo. Nenhuma das músicas foi lançada anteriormente. A música é uma mistura de jazz rock, prog e metal. Junte-se a Børge Olsen numa jornada musical através de músicas de progressivo, rock e fusão com guitarras estrondosas e execuções ultrarrápidas. (Independentes) Coexistence - «Collateral Dimension» (Itália, Technical Death Metal) Os magos do death metal técnico italiano invocam o seu tão aguardado álbum após o EP com «Contact with the Entity». As expectativas já eram muito altas, mas é seguro dizer que Coexistence não apenas as atendeu, como as superou por uma grande margem com «Dimensão Colateral». Há agressão controlada e melodias requintadas, abrigadas sem esforço nas suas elaboradas estruturas em constante mudança. O álbum é altamente variado e incorpora tudo o que se deseja desse estilo de death metal técnico. (Independentes) Mrtvi - «Omniscient Hallucinatory Delusion» (Sérvia, Experimental Black Metal) MRTVI, do Reino Unido / Sérvia, chocou o público ao redor do mundo com o seu álbum anterior «Negative Atonal Dissonance», que foi uma experiência surreal de experimentação e improvisação de black metal. Foi quase inconscientemente executado com três faixas gigantescas, misturando ruído, música ambiente e black metal. Com este álbum, MRTVI inventou canções mais curtas, segregadas em quatro capítulos, com o propósito subjacente de se infiltrar nas ondas de pensamento e inseminar sons angustiantes que alteraram a consciência. Ouvir «Ilusão Alucinatória Onisciente» é uma viagem psicótica que leva aos recessos mais sombrios da mente e esculpirá memórias que há muito foram subjugadas. (Independentes) The Scalar Process - «Coagulative Matter» (França, Technical Death Metal) A banda francesa de death metal técnico The Scalar Process, reuniu um sublime álbum que absorve tudo o que há de bom sobre o estilo, mantendo um elemento humano para não torná-lo muito mecânico. Poucos álbuns podem obter esse tipo de equilíbrio e execução, abrangendo uma miríade de humores e também não vagando o suficiente para perder o ímpeto; o álbum permanece adequadamente agressivo sem perder o valor emotivo. O futuro é brilhante para esta jovem banda promissora, cuja estreia deve ser considerada, uma das melhores do género nos últimos tempos. (Independentes) Edoma - «Immemorial Existence» (Russía, Black/Death Metal) Parece que a região de São Petersburgo é um terreno fértil para talentosos bandas de Metal. Quatro metalheads, musicalmente habilidosos decidiram unir forças e formar uma banda. Assim nasceu Edoma. Oito músicas e uma introdução foram gravadas, e formam «Immemorial Existence», o primeiro álbum que a banda

87 / VERSUS MAGAZINE


lança na humanidade. Black/Death Metal frio e sombrio com alguns toques progressivos e melodias adicionais sombrias e congeladas que assombram a existência. (Petrichor) Boris With Merzbow - «2R0I2P0» (Japão, DARK AMBIENT / DRONE / METAL) «2R0I2P0», é o novo álbum colaborativo de BORIS e MERZBOW. O álbum de 10 faixas mostra cada pedacinho da emoção do rock pulsante e do metal em todo o inimitável e expansivo catálogo BORIS, ao encontrar o ruído áspero e as paisagens sonoras do igualmente prolífico MERZBOW. Um álbum ao mesmo tempo familiar e único para a sua época, melódico e áspero em partes iguais, «2R0I2P0» visa encontrar a harmonia sonora. “2R0I2P0” traduz-se em “Twenty Twenty R.I.P.” (Relapse Records) Ilsa - «Preyer» (EUA, Death/Doom Metal/Crust) A ILSA está de volta com o seu sexto álbum «Preyer». Gravado enquanto o mundo fechava em 2020, ILSA aproveitou os medos e incertezas de tempos difíceis e usou-os como forças motrizes para a intensidade crua, caótica e violenta de seu metal enervante. O resultado é um novo álbum completo que oferece overdoses de destruição esmagadora e death metal ameaçador. «Preyer» não é simplesmente uma narrativa ou álbum conceitual. Permanecendo fiel ao etos punk de ILSA, «Preyer» serve como uma condenação catártica de uma sociedade Christo-fascista. (Relapse Records) Be The Wolf - «Torino» (Itália, Hard N’ Heavy) Be The Wolf está de volta ao que pertence. A partir do título, o quarto esforço marca uma espécie de retorno ao passado. Torino, a cidade natal da banda, não é uma cidade comum: ela marca-o para sempre, deixando uma sombra negra na alma. O trio refaz toda a sua experiência artística num trabalho repleto de sombras e luzes que engloba o frenesi pop da estreia «Imago», o tórrido rock blues do enigmático «Rouge» e a atitude direta do terceiro álbum, oferecendo no geral, o seu melhor lançamento de todos os tempos. Nada mudou dentro deles: os lobos ainda estão com fome. (Scarlet Records) Sole Syndicate - «Last Days Of Eden» (Suécia, Melodic Heavy Metal) Crescendo juntos e ouvindo as mais famosas bandas de hard rock melódico e heavy metal dos anos 80, os cinco músicos dessa banda sueca conseguiram revitalizar o género com o seu álbum de estreia de 2016, “Garden of Eden”. O estilo do Sole Syndicate pode ser descrito como clássico, pesado, com melodias fortes e cativantes (pop e country também fazem parte da base de suas composições). O título do excitante novo álbum é uma referência ao que está acontecendo agora com a pandemia em curso, o aumento do crime e da instabilidade política. (Scarlet Records) Winterage - «The Inheritance Of Beauty» (Itália, Symphonic Power Metal) Tendo lançado anteriormente o álbum de estreia «The Harmonic Passage» e dividido o palco com bandas renome, Winterage está pronto para liberar todo o seu potencial e alcançar um público mais amplo, com o seu novo e ambicioso esforço, «The Inheritance of Beauty» é um poderoso opus de metal sinfónico com fortes influências do folk irlandês, da música clássica e medieval. Ao lado dos instrumentos típicos do rock, a banda é conhecida pela presença no line-up de um violino tocado de forma clássica e pela utilização de uma orquestra de verdade e muitos coros durante o processo de gravação. (Scarlet Records) Emptiness - «Vide» (Bélgica, Dark Lounge / Misery Pop) Os EMPTINESS estão de volta com o seu 6º álbum «Vide», o disco que pode ser descrito como a representação musical mais precisa da banda. EMPTINESS implora para diferir e seu novo álbum, deixando bastante claro o quão longe os exploradores belgas dos tenebrosos estão dispostos a ir. Fundado no centro de gravidade da Europa, Bruxelas, Bélgica, no ano de 1998, EMPTINESS embarcou numa jornada musical com uma visão ardente de mergulhar profundamente na escuridão e no horror. Os belgas abordam a sua música de uma maneira aberta e experimentação contínua. (Season of Mist) Ad Nauseam - «Imperative Imperceptible Impulse» (Itália, Avantgarde Death/Black Metal) Ad Nauseam deu os seus primeiros passos em 2003, sob o nome de Death Heaven, numa pequena cidade em Veneto, norte da Itália. Nascido como um grupo de death metal, com o passar dos anos, o seu som começou a tornar-se cada vez mais heterodoxo, estranho e obscuro, revelando o lado mais enigmático e evocativo da banda. A música soava tão diferente do que era feito antes que uma mudança de nome foi necessária: assim nasceu Ad Nauseam. Com o seu segundo álbum «Imperative Imperceptible Impulse», os Ad Nauseam deram um passo em frente, em termos de composição, estrutura musical e som. A música não se destina a ser uma mera sequência fluida de riffs, permanecendo como uma estrutura naturalmente ordenada onde quase todos

8 8 / VERSUS MAGAZINE


os eventos musicais se referem ao passado e o futuro. A música representa uma fusão de muitos estilos diferentes, sendo os mais proeminentes o death/black metal extremo, avantgarde, jazz, post-core, doom/ sludge e ambiente. (Avantgarde Music) Vestindien - «Null» (Noruega, Black Metal) Com o nome retirado do último bordel conhecido em Bergen, os Vestindien são uma banda emergente de hardcore com um toque de heavy metal. A formação atual da banda consiste em Torjus Slettsnok nos vocais, Simon Skøien nas guitarras, Karl Johan Johannessen na bateria e Pål Eirik Veseth no baixo, e a sua estreia demonstra uma abordagem introvertida e menos agressiva do hardcore. Ainda há indícios das suas raízes hardcore, mas a banda envolveu-se numa mortalha escura que conjura a essência do black metal, punk e rock’n’roll da velha escola. As músicas são sombrias, desesperadas e desoladas, mas também têm fortes golpes de energia e groove. (Dark Essence Records) Molten - «Dystopian Syndrome» (EUA, Heavy/Thrash/Death Metal) O grupo de metal californiano MOLTEN completou o seu primeiro álbum, «Dystopian Syndrome». Formado no underground da Bay Area, o quinteto pesado MOLTEN incorpora thrash, death, doom e black metal, para trazer um ataque direto aos ouvidos do ouvinte. Com nove faixas de pouco menos de cinquenta minutos, «Dystopian Syndrome» leva o ouvinte por uma paisagem de pesadelo de terror político, guerra, fantasia e desastres naturais. (Earsplit) Vanden Plas - «The Ghost Experiment-Illumination» (Alemanha, Progressive Metal) Cerca de um ano atrás, a banda alemã de metal progressivo Vanden Plas entregou ao mundo da música a primeira parte de seu álbum conceitual em duas partes, «The Ghost Xperiment». Intitulado «The Ghost Xperiment – Awakening», o álbum terminou num suspense, onde durante uma sessão espírita, Gideon Grace, o personagem principal, finalmente encontrou os fantasmas que o perseguiram desde sua infância. Fantasmas? Exatamente! Agora vem a dramática conclusão da história com seu novo álbum, «The Ghost Xperiment – Illumination». Mas é claro que essas letras inteligentes e criativas para contar histórias precisam de um forte veículo musical para serem transmitidas e Vanden Plas surpreende igualmente. Embora os arranjos orquestrais do primeiro álbum da saga tenham sido reduzidos, em comparação com as duas séries anteriores “Chronicles of the Immortals”, desta vez os aspectos progressivos do som da banda são ainda mais aparentes. (Frontiers Records) Tusmørke - «Nordisk Krim» (Noruega, psychedelic / progressive folk rock) A banda progressiva mais distinta e única da Noruega, TUSMØRKE, está de volta - desta vez com um álbum de conceito duplo que está além do épico, além da vida - e acima da morte! O título «Nordisk Krim» (Crime Nórdico) refere-se ao facto, de que os corpos do pântano foram inicialmente considerados um caso de polícia. Na realidade, o verdadeiro crime foi perturbar os presentes aos deuses em seu sono. «Nordisk Krim» celebra as vítimas voluntárias de crimes antigos, aqueles cujos corpos estão no pântano, mas as almas estão entre as estrelas no céu. (Karisma Records) Blurr Thrower - «Germes Vermeils» (França, Atmospheric Black Metal) Tomando forma a partir de neurose pessoal, medos e ansiedade, BLURR THROWER visa exumar o éter secreto dos meandros da alma humana. O projeto oferece «Germes Vermeils» ao ouvinte uma jornada na sua diegese por meio de longas faixas compostas com riffs hipnóticos e incômodos. Profundamente inspirado no Cascadian Black Metal, BLURR THROWER tenta respeitar o legado de um Black Metal Crepuscular, carregado de ocultismo, para o qual a cena francesa muito contribuiu. (LADLO Productions) Crystal Viper - «The Cult» (Polónia, Heavy/Power Metal) Se leva o heavy metal a sério, provavelmente os CRYSTAL VIPER não precisam de uma introdução. A banda foi fundada pela cantora e guitarrista Marta Gabriel, que lançou o seu primeiro álbum em 2007. O seu novo álbum de estúdio intitulado «The Cult» marca uma nova era. Após o curto flerte com o melódico metal que dominou o seu último álbum, «The Cult» traz CRYSTAL VIPER de volta às suas raízes: o tradicional e puro Heavy Metal. «The Cult» é um álbum cheio de melodias épicas, riffs e harmonias de guitarra, solos arrebatadores e refrões cativantes. As letras foram inspiradas nas obras de H.P. Lovecraft. (Listenable Records) Thron - «Pilgrim» (Alemanha, Blackened Death Metal) Os objetivos iniciais dos THRON eram tocar black / death autêntico no espírito do início dos anos 90. THRON lançou o seu álbum de estreia, autointitulado, em 2017. Com «Abysmal», espalhou os seus ataques diabólicos de black / death metal com guitarras gêmeas, e agora a banda aprofunda ainda mais o território musical e

89 / VERSUS MAGAZINE


reforça todas as bases com «Pilgrim», com mais ênfase em melodias fluidas e perversas do heavy metal clássico. THRON nunca perde a oportunidade de realçar furiosamente a cada composição com uma sensação da velha escola muito equilibrada e coerente. Totalmente brutalizante e composto com maestria, o resultado final é verdadeiramente fascinante. (Listenable Records) Majestica - «A Christmas Carol» (Suécia, Metalcore/Melodic Groove Metal) Os heróis suecos do power metal MAJESTICA lançaram o seu álbum de estreia, «Above The Sky», que se tornou um grande sucesso na comunidade do metal. Agora, eles estão de volta com um novo álbum de power metal musical de Natal intitulado «A Christmas Carol». É puro power metal sinfónico no verdadeiro espírito dos MAJESTICA. O que torna este álbum de Natal único não é apenas a inclusão de muitas canções de Natal conhecidas, mas também porque o tema é a conhecida história de Ebenezer Scrooge do romance de Charles Dickens “A Christmas Carol”. (Nuclear Blast) Hate Forest - «Hour Of The Centaur» (Ucrânia, Black Metal/Ambient) Após 16 anos de sono mortal, Hate Forest está de volta com um novo álbum chamado «Hour Of the Centaur». O ouvinte não encontrará nada moderno ou novo aqui - a mesma parede escura e impenetrável da banda e redemoinho sem fundo exclusivo. Este é um black metal lacônico e honesto, feito na fronteira oriental da velha Europa, cheio de nojo ao pseudo-intelectual moderno, selfie / Instagram “black metal”. (Osmose Productions) Aborym - «Hostile» (Itália, Industrial Metal/Rock) A maioria dos álbuns do Aborym são reproduzidos como testemunhos de mudanças de humor turbulentas e imprevisíveis. O ruído harmônico predomina. Com «Hostile», os Aborym podem ser considerado parte de um grupo selecto de artistas que têm a distinção indesejada de ser uma banda. Este é um álbum que recompensa ainda mais a audição, mas ainda assim tende a permanecer uma experiência introspectiva levemente frustrante. As músicas são misturadas com o propósito de perturbar e agitar os ouvintes, visando oferecer um contraste fino ao equilibrar essa estética rock-metal pós-industrial (progressiva) com o delírio tecnológico enigmático. (Independentes) Mr Bungle - «The Raging Wrath Of The Easter Bunny Demo» (EUA, Avant-garde Metal/Fusion/Experimenta) Assim como a maioria das bandas de thrash metal dos anos 80, o Mr. Bungle foi formado em uma empobrecida cidade de madeira e pesca por um trio de adolescentes curiosos e voláteis. Embora Bungle regularmente alterasse e modificasse as suas orquestrações - incorporando instrumentos exóticos como saxofone, sintetizador ou até tímpanos (!!!) - eles mantiveram os pés no mosh pit de sua juventude e continuaram a fazer referência ao metal de uma forma ou de outra. (Independentes) Yoth Iria - «As The Flame Withers» (Grécia, Black Metal) Yoth Iria é a ideia dos veteranos gregos do black metal Jim Mutilator e The Magus - o dueto que desenvolveu e foi pioneiro na cena underground naquela época. A música de Yoth Iria é um amálgama das influências e visões. Sombrio, diabólico, emocional, poderoso e majestoso. Um novo olhar sobre o black metal oculto grego dos anos 90 com uma nostalgia do passado e um olhar para o futuro. (Pagan Records) Butterfly - «Doorways Of Time» (Austrália, Hard Rock) Heavy Metal que exibe guitarras gêmeas e harmonias vocais, enormes acordes de força e uma secção rítmica forte! Uma revolução sólida da música Rock que afastará toda a turbulência. Quatro músicos veteranos que compartilham um amplo histórico de influências e experiências musicais. O álbum «Doorways of Time» é uma viagem única por uma paisagem musical que contém dicas de psicadélicos, Rock e Metal. Butterfly consegue dar exatamente essa experiência. Esta não é apenas uma viagem nostálgica, é uma janela para o futuro. (Petrichor) Gama Bomb - «Sea Savage» (Inglaterra, Thrash Metal) GAMA BOMB regressa com um álbum com tema náutico que certamente será a banda sonora dos últimos meses para os amantes do metal da velha guarda em todo o mundo. GAMA BOMB deu saltos estilísticos com «Sea Savage», que apresenta a sua música mais lenta e mais rápida até agora, e incursões no metal clássico e hard rock liderado pelo falsete áspero de Philly Byrne. (Prosthetic Records)

9 0 / VERSUS MAGAZINE


CURIOSIDADESPALETES Género Black Metal Death Metal Atmospheric Black Metal Power Metal Progressive Rock Doom Metal Progressive Metal Metalcore Heavy Metal Thrash Metal Punk Rock Blackened Metal Death/Black Metal Thrash/Death Metal Avant-garde Metal Speed Metal Sludge/Doom Metal Death/Doom Metal DarkWave Crossover Black/Death Metal Alternative Metal Atmospheric Death Metal Heavy/Power Metal Grindcore Progressive Metalcore Black Metal / Neofolk Black/Speed Metal Black/Thrash Metal Pagan Black Metal Neofolk Blackened Doom Metal Sludge/Drone/Doom Metal Stoner/Doom/Folk Metal Dark Folk Progressive Death Metal Technical Death Metal Blackened Death Metal Gothic Metal Folk Black Metal

#LPs 34 19 11 9 7 7 4 4 4 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Género

#LPs

Hardcore Punk Symphonic Deathcore Progressive Rock/Metal Power/Folk Metal Death/Viking Metal Folk-Rock Heavy/Doom Metal Neofolk Atmospheric Black Viking Doom Metal Death Doom Power/Death Metal Psychedelic Sludge Metal Psycadelic Rock Stoner/Sludge Metal/Metalcore Power/Thrash Metal Atmospheric Folk/Black Metal Modern Rock N’ Roll Speed/Thrash Metal Death Metal/Goregrind Black Ambient Folk Acoustic/Folk Psychedelic Black Metal Technical/Brutal Death Metal Doom/Sludge Metal Progressive Metal/Rock Progressive Death/Groove Industrial Black Metal Groove/Industrial Metal Blackened Doom/Sludge Metal Post-Metal/Rock/Shoegaze Funeral Doom Metal Progressive Black Metal Progressive Thrash Metal Goth N’ Roll/Deathrock Stoner/Sludge Metal Progressive Doom Metal

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Álbuns por Países País EUA Alemanha Suécia Inglaterra Canadá Portugal Itália Noruega Finlândia Espanha Holanda Austrália Internacional Suiça Polónia Austria Chile Indonésia Dinarmaca Rússia Australia França Chéquia Dinamarca Islândia Ucrânia Balcãs Grécia Argentina Bélgica Eslovénia Beliorrússia Colombia Hungria Roménia Brasil

#LPs 40 22 18 10 9 9 8 7 6 5 5 4 4 4 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Nesta edição, chegaram-nos à redação um total de 185 álbuns para ouvir, analisar e criticar.

91 / VERSUS MAGAZINE


GARAGE POWER

Alex Vantrue Um gajo com causas Dos tributos (dentre os quais se destacam os One Vision) aos originais, Alex Van True foi construindo uma personagem com muitas facetas (da “Gaja das Causas” ao “Valente da Internet”), mas nunca desprovida de originalidade e coerência. Entrevista: CSA | Fotos: Gentilmente cedidas por Alex Vantrue

Olá, Alex! Estava à espera da oportunidade de te entrevistar. Não tenho quase nenhuma informação sobre ti, mas o que pude ver no Facebook sobre os teus trabalhos deixou-me curiosa. Para começar, fala-nos um pouco da tua carreira como membro de uma banda de tributos. Alex VanTrue – Olá, Cristina. Obrigado pelo tempo de antena. A minha carreira nos tributos começou em 2005, quando, completamente frustrado com a inutilidade da minha banda de Metal da altura (Wright – 20002008), respondi a um anúncio para cantar numa banda de tributo aos Guns N’ Roses. Não sabia nada do mercado de covers, muito menos

9 2 / VERSUS MAGAZINE

de tributos. Aliás, nem havia mercado de tributos. Havia umas 3 bandas de tributo nessa altura, no país. Eu vivia no meu mundo fechado do Metal e nada mais me interessava. Mas arrisquei, porque achava que consiga fazer mais do que berrar Thrash/Death e tocar guitarra. Esse tributo a Guns N’ Roses nunca aconteceu, porque, por minha ideia, veio a tornar-se nos One Vision, banda que me colocou onde estou hoje e fez de mim músico profissional. Desde então e, devido ao sucesso que os One Vision tiveram e têm, os tributos tornaram-se praticamente uma praga! A malta começa a ver o que está a bater e dá guita e começam

todos a fazer a mesma coisa, atropelando-se uns aos outros. Desde 2013, criei mais umas quantas bandas tributo, de modo a ter o máximo de dias ocupados, chegando a ter 10 bandas ao mesmo tempo. Atualmente, a tocar tenho 6. Aliás, atualmente a tocar tenho os One Vision, raramente, porque com isto da virose, foi uma razia completa. Passei de 150 concertos por ano para, com sorte, 30. A ver se, para o ano, isto volta ao normal. Gravar músicas em casa é muito giro, mas eu quero é tocar para pessoas. Mas não sentadas e de máscara. É aos saltos, umas em cima das outras.


Não sabia nada do mercado de covers, muito menos de tributos. Aliás, nem havia mercado de tributos. […] vivia no meu mundo fechado do Metal e nada mais me interessava. Mas arrisquei […]

Que critérios têm em conta para escolher as bandas que vão homenagear? [Vi-te em direto no Facebook há dias e falavas de bandas como Queen ou os Nirvana, que são bem diferentes.] Tenho que ser fã da banda. Recuso-me a fazer fretes. Tirando os Original Pranksters, que não foram ideia minha, sou grande fã de todos os meus tributos, principalmente de Queen e Nirvana. Não me preocupa muito se vai ter sucesso ou não. Os One Vision e os Abbamia chegam e sobram em termos de sucesso. O resto é para curtir. Outra coisa importante: tem que ser um projeto inovador. Não pode existir outro tributo a essa banda no país ou pelo menos na nossa zona de influência. Nos casos de Queen, Abba, The Offspring, Ozzy Osbourne e Guns N’ Roses, não havia nenhum tributo a isso em Portugal. Nos casos de Bon Jovi, havia uma banda no Norte, que, mesmo tocando pouco, nós

nunca fomos ao Norte e eles (acho eu) nunca vieram ao Sul. O que diz respeito a Nirvana, havia a banda do Nuno Norte, mas ele tinha emigrado para o Brasil e fiz a minha. Dou sempre atenção a isso. Nem quero lixar a carreira a ninguém, nem quero fazer o que os outros já fazem. O contrário já não acontece. Cada dia aparece um novo tributo a Queen ou a Abba, mas felizmente para mim, sem qualquer relevância no mercado nacional. Já percebi que dominas vários instrumentos (pelo menos, guitarra e voz). Há mais? Tens alguma formação musical? Como descobriste esses teus dons musicais? Eu tinha nega a Educação Musical na escola. Já na altura queria cantar, mas pautas e ditados rítmicos não era a minha cena. Aprendi tudo sozinho desde então. Cantar para mim é natural. Já cantava o “Radio Ga Ga” nas visitas

de estudo no preparatório. No caso da guitarra, que veio por influência de Metallica, Nirvana e Sepultura, fui vendo tablaturas quando tinha 14 anos e, no caso do piano, em 2009, com a ajuda do YouTube. Em 15 dias, já conseguia tocar 4 ou 5 dos Queen e, finalmente, os One Vision puderam despedir o teclista e ficarmos só 4 elementos, algo que sempre sonhámos fazer. Posteriormente, tirei um curso de produção/técnico de som e tive uma disciplina de teoria musical, o que me permitiu perceber o que estava a fazer. Tirar esse curso foi das melhores decisões da minha vida, porque finalmente pude gravar e misturar a minha música sem precisar de mais ninguém. Além de guitarra, voz e piano, também toco baixo, bateria e kazoo, eheh. Ao vivo não, porque felizmente dou-me com pessoas mais talentosas que eu nesses instrumentos. Os instrumentos de que, infelizmente, não percebo mesmo nada, são os metais. Não

93 / VERSUS MAGAZINE


T

enho que ser fã da banda. Recusome a fazer fretes. […] Outra coisa importante: tem que ser um projeto inovador. Não pode existir outro tributo a essa banda no país ou pelo menos na nossa zona de influência.

faço a mínima ideia de como funcionam. E gostava muito de tocar violino. Talvez um dia. Pelo que percebi, lançaste-te agora numa carreira pessoal com o teu «Teatro do Absurdo» (que já tenho em minha casa). - De onde te veio a ideia para esse projeto? Tudo começou em outubro de 2019, quando resolvi fazer uma letra para algo que já cantarolava há uns meses. Daí veio a música “Lisboa Era Seu Nome” e, ao outro dia, escrevo e gravo logo mais 3 de rajada, letra, música, tudo. Em toda a minha carreira, tinha feito 15 originais e, do nada, já tenho 4 em 2 dias. Decidi logo fazer um álbum, aproveitando a rara inspiração. Tens que ver que também, ao fazer covers já há 15 anos, deixei quase totalmente as criações próprias de lado, porque simplesmente não rendia e ninguém queria saber. Felizmente ao meu álbum a malta aderiu, muito por culpa da “Gaja das Causas”. Ganhei uns 3 mil fãs, só com essa música. Na boa! O problema agora é mantê-los. Não quero dedicar-me a politiquices só para manter os novos fãs. Quero fazer o que me apeteça. - É ideia minha ou foste tu que fizeste tudo nesse álbum? Tudo, menos o grafismo. Eu a desenho, sou uma absoluta nulidade. Podia ter contratado

9 4 / VERSUS MAGAZINE

Alex Vantrue

malta para tocar e para misturar. O resultado ficaria melhor, mas, acho que não era a mesma coisa. A solo é a solo, porra! Não me diz nada aquela malta que tem o seu disco a solo e depois vais ler e só deram a voz. Não escreveram uma única música, não tocaram, não misturaram. Isso não é nada. - Quem se ocupa da parte gráfica (capa, layout, fotos promocionais, etc.)? É a Filipa Sousa (instagram. com/furipasart), desenhadora espetacular e prima da minha namorada. Pedi-lhe cartoons meus a fazer determinadas coisas e ela saca-me aqueles desenhos lindos. Não queria um álbum vulgar com 4 páginas, sem letras e com uma foto ao vivo. Nada disso. Queria as letras todas, com cartoons quase para todas as músicas. Fica mais caro ter um desenhador e um livrete de 16 páginas, mas primeiro álbum a solo, só tens uma vez na vida. - Como te organizaste para a sua gravação? No meu estúdio, ocorre tudo por impulso e muito rápido. Basicamente, escrevi e gravei logo na hora, uma música por dia. Em 15 dias tinha tudo pronto. A “Gaja das Causas” e o “Valente da Internet” surgiram depois. Já depois do vírus. Tive que adiar o lançamento do disco, porque o meu plano era vendê-lo nos meus concertos de

tributo e, sem concertos, não iria vender nada. Esperei, esperei...é pá...e teve que ser agora em outubro. À medida que ia fazendo as gravações, mostrava à malta de confiança do costume e as opiniões eram sempre boas. Tudo muito surpreendido por eu estar a cantar em português, coisa que eu sempre disse que nunca faria. Erro meu, claro. Cantar em português é lindo. Eu escrevi tanta coisa nesses 15 dias que atualmente já tenho 7 músicas para o segundo disco. Começaste por fazer furor nas redes sociais com a tua “Gaja das Causas”. Podes falar-nos um pouco desse single? A “Gaja das Causas” surgiu depois das manifs que existiram em Portugal em relação ao George Floyd. Vi duas “ativistas” com cartazes mal escritos e sem saberem bem o que estavam ali a fazer e achei que ia ter piada fazer algo sobre a malta que vai a todas, porque é “in”. Comecei logo a cantar rimas parvas para o gravador do telemóvel e ao outro dia já tinha quase tudo feito. A música foi alta cena quando saiu, principalmente por dois fatores: a malta politizou logo a música como sendo de direita e gerou ódio em malta que se ofendeu, porque acharam que a música era de direita. E quem se ofende com aquela brincadeira inofensiva,


sinceramente, ofende-se com qualquer coisa. Bem, desde que falem de mim, por mim tá bom :) A música não foi feita para ser esquerda ou direita, foi uma paródia aos exagerados. E funcionou na perfeição. Melhor não podia ter corrido, até porque ser convidado por rádio ou TV com uma música daquelas é impossível, eheh. Tinha 140 mil views no Facebook e 40 mil no YouTube. Na altura até fui bloqueado do Facebook durante 30 dias e apagaram-me o vídeo. Aparentemente, o vídeo é muito “ofensivo” e gera ódios, então fiquei de castigo. Melhor para mim, porque ainda mais pessoas foram vê-lo ao Youtube. Desde então já fiquei de orelhas de burro virado para a parede mais duas vezes. Agora acho que nem precisas escrever. É por acumulação. “Ofendes” 4 vezes, levas um ban extra de borla. A Net tá um nojo. Nada a ver com os bons tempos do IRC em 1996. Antigamente, tinhas que ter alguma inteligência para conseguir ligar um modem por dialup. A malta toda curtia e passava a noite a rir. Agora, qualquer um se liga, tornando isto uma autoestrada de ignorantes e ofendidos. Já não me rio na net. É só promoção dos meus trabalhos.

Agora é o “Valente da internet”. O que tens a dizer-nos sobre esse novo êxito? Não lhe chamaria êxito, porque nem 10 mil views teve. A “Gaja das Causas” goza no geral com quem apoia qualquer causa da moda. O Valente não. O Valente é um gozo à malta que se indigna e clica no Report, coisa que ninguém vai admitir que faz, logo ninguém se ofendeu o suficiente para o vídeo ficar viral. É uma música mais complexa, com uma letra com muito mais indiretas e um vídeo de muito melhor qualidade. Quem ficou fã da Gaja curtiu o Valente, mas quem se indignou com uma, já não ligou à outra. A música foi feita como resposta à censura da qual fui vítima. Que, por mais merda que um gajo diga numa música, é uma vergonha. Parece que os anos vão passando e cada vez estamos mais perto do regresso à Idade Média. É a “censura do bem”, porque, segundo os censores, eu sou um facho horrível e mereço ser destruído, porque fiz uma canção e ela não pode ser escutada. Mas muito bem tou eu, tendo em conta, o que se sabe que andam a fazer a alguns artistas, filmes e séries nos “States” e UK. Quem não segue o protocolo, ou pensamento único, vai de vela. Tens que ser muito querido e fofo, se mudas uma vírgula, vais para o cadafalso. Pode ser que agora, sem o Donald Trump, os justiceiros desapareçam. Uma coisa é tu lutares por mais direitos para pessoas marginalizadas sem culpa própria. Outra coisa é tu achares que todos são marginalizados, tirar proveito disso e ainda obrigares quem não

concorda a mudar as suas opiniões. Isso é merda! Como fizeste para filmar os videoclips que os acompanham e que têm tanto a ver com o seu êxito? [Ficas impagável de totós na “Gaja das Causas” e tens um ar imensamente bimbo como Valente.] Escolhi sítios vazios em Sintra, Monsanto, Quinta do Conde, na minha casa e na casa da Filipa Sousa. Cravei a minha namorada para gravar a Gaja e algumas partes do Valente e cravei o Paulo Pacheco da banda Shakra e o seu espetacular drone, para os refrões do Valente. O clip do Valente tá muito bom! Adoro! Já que eu na Gaja assumi um personagem com os totós, no Valente, mudei outra vez o penteado. Faço o que posso para estar sempre diferente, mas sem mudar o meu visual normal. Não tenho muitas hipóteses, mas lá vou tendo ideias. Para os próximos clips, já tenho delineados os penteados e tudo, ehehe. É algo que quero fazer. Novo clip, novo visual. Com barba e cabelo comprido, claro! Detesto fazer videoclips já agora, mas se não fizer, nobody cares. Já me habituei e, com o PC que comprei especialmente para editar vídeos, a cena lá se faz. Para a “Gaja das Causas” foi um pesadelo de dias e dias no computador antigo :) Quem teve a genial ideia de fazer aquelas bonecas de voodoo que acompanhavam os primeiros exemplares do CD «Teatro do Absurdo»? Foi a minha namorada. Numa conversa sobre a “Gaja das Causas” e em fazer algo especial para aumentar as vendas, ela lembrou-se de espetar alfinetes numa boneca de voodoo. A família dela ofereceu-se para tratar da manufatura, colmatando a minha total inutilidade para trabalhos manuais e pronto. Foi e está a ser um sucesso! Eu consigo fazer os óculos e a pintura. O resto esquece...

95 / VERSUS MAGAZINE


Olha que não sei se venderia tantos discos se não fosse a boneca. A edição com a boneca não é nada barata, mas 90% da malta escolheu essa opção. Aliás, a malta curte tanto a boneca, que já não são só 50, já passou as 100!! Obrigado!!! De momento, não se pode pensar nisso. Mas, quando esta pandemia passar ou, pelo menos, se atenuar, estás a pensar em fazer concertos em nome pessoal? Não faz parte dos meus planos tocar originais ao vivo. Mas também não fazia cantar em português. Acho que não vai acontecer. Até porque o disco não é muito pesado e no palco prefiro estar a partir em vez de estar a fazer coisas mais calmas. Outra coisa que me faz ter essa decisão é não querer perder a minha quota de mercado com os tributos. Ao atacar uma digressão de originais, meto uma data de bandas na gaveta, com uma data de gente que fica em casa a olhar para o boneco. Não vou fazer isso aos meus colegas que me meteram (ou ajudaram a meter) onde estou. E agora algumas perguntas de curiosidade.

9 6 / VERSUS MAGAZINE

- Onde foste buscar o teu nome artístico? Tem alguma coisa a ver com o “True Norwegian Black Metal”? Na altura do IRC, a gente gozava e falava muito do True e do Untrue. Provavelmente por causa dos Manowar, que vinham cá a Portugal nessa altura. Eu, claro, considerava-me o Truest of Trues, mesmo sem gostar de Manowar e comecei a usar esse nick na net. Ficou até hoje. Soa bem. É bom quando podemos escolher a nossa alcunha :) Por acaso eu, nos anos 90, era muito fã de Cradle of Filth. Apesar de serem ingleses, eram muito influenciados por essa onda. Mas não. Black Metal não é comigo. A minha cena com o True só pode ter vindo dos Manowar e do True Metal. - Vives da tua arte? Ou tens uma profissão paralela? Sim, claro. Se bem que eu, ao fazer tributos, estou a viver da arte dos outros :) Desde 2008! Sempre detestei receber ordens e acordar cedo. Trabalhar por conta de outrem não é para mim. Nem fazia sentido eu dizer que sou músico ou cantor e depois trabalhar na “Tasca da Maria Alice”.

- Tens algum sonho artístico que ainda não conseguiste concretizar? Eu não sou muito de sonhos. Se acho que devo fazer qualquer coisa, vou logo nisso. Já consegui muito mais na música do que alguma vez sonhei. Talvez, uma tour internacional a tocar Metal. Eu desisti do Metal em 2008, mas ficou cá sempre o bicho. Algo também que gostaria muito de fazer, mas nunca será possível – só a sonhar mesmo – é substituir o Adam Lambert nos Queen. Mas posso esperar sentado :) Já ter estado com o Brian e o Roger já foi sobrenatural. Falta-me estar com o Ozzy. Mas sem pagar 600 euros, que isso é uma afronta. Conta como sonho artístico? :) Para terminar, queres deixar uma mensagem especial aos leitores da Versus? COMPREM O MEU ALBUM SEM PENSAR DUAS VEZES! :) E não desesperem com esta merda de ano de 2020. Eu sei que é difícil, mas tentem. Facebook Youtube


97 / VERSUS MAGAZINE


Vicky Psarakis Com ascendência grega, embora nascida e criada nos estados unidos, Vicky Psarakis dedicou a sua vida à música desde cedo. Catapultada para a fama quando agarrou sem hesitar o posto de frontwoman deixado vago por Alissa White-Gluz nos The Agonist quando esta migrou para os Arch Enemy, Psarakis fez-nos uma retrospetiva da sua vida artística e pessoal. Entrevista: Dico | Fotos: Cedidas por Vicky Psarakis

Nasceste em Chicago [Estados Unidos] mas tens ascendência grega. Aliás, aos 10 anos foste viver para a Grécia. De que forma a cultura europeia influenciou a tua vida e o teu trabalho? Sim, com efeito mudei-me para a Grécia aos 10 anos. Inicialmente senti algum choque cultural, mas dado que era muito jovem e sabia falar grego adaptei-me sem

9 8 / VERSUS MAGAZINE

dificuldade. Após ingressar nos The Agonist decidi regressar a Chicago para ficar próxima da banda. O maior impacto de ter vivido em dois ambientes radicalmente distintos manifestou-se em particular na forma como observo o mundo. Foi um verdadeiro abreolhos. Compreender e apreciar as diferenças culturais tornou-se algo intrínseco em mim. Estou

muito grata por ter tido essa oportunidade. Como é que a música e em particular o Metal chegaram à tua vida? Tens antecedentes familiares musicais? Não, de todo. Os meus pais não têm ouvido nenhum para a música [risos]. Não ouvem Metal, nem mesmo Rock. Apesar disso, canto


desde sempre. Comecei a fazêlo na escola, em coros de igreja, etc., mas apenas na adolescência, quando ouvi grupos de Rock e Metal pela primeira vez, senti necessidade de fazer música. Frequentaste aulas de canto? Sim, durante dois anos, mas não me sentia confortável. Para o meu caso não era a forma certa de cantar, portanto desisti e torneime autodidata na aprendizagem de outras técnicas. O que realmente me ajudou foi ouvir outros cantores, de todos os géneros musicais, e experimentar com base nisso. Foi assim que comecei a publicar covers de voz no Youtube. Foi uma espécie de desafio que me permitiu aprender e expandir o meu conhecimento vocal.

of Romance. Este registo chamou a atenção dos The Agonist quando a Alissa White-Gluzz abandonou para integrar os Arch Enemy. Como tem sido a experiência de preencher o lugar dela? Na verdade, os The Agonist descobriram-me antes o álbum ser editado, através das covers disponibilizadas no Youtube. Gravei o álbum dos Rage of Romance mas nunca fui membro permanente do projeto, que, na essência, também se circunscrevia ao estúdio. Por outro lado, não julgo ter substituído ninguém. Quando eles [The Agonist] me ofereceram o lugar de vocalista aceitei

A tua carreira musical iniciou-se de forma mais séria nos E.V.E., com quem gravaste o EP autointitulado Equations Vanquish Equality. Como foi essa primeira experiência? Fiz algumas coisas antes dos E.V.E. mas sim, pode dizer-se que esse foi o meu primeiro lançamento oficial enquanto vocalista e compositora. A principal razão pela qual me juntei à banda foi a escassez de bons grupos gregos sem vocalista feminina. Sempre gostei de ouvir cantoras no Metal, mas naquela época a maioria das vocalistas atuava em grupos de Metal Gótico e Sinfónico, numa interpretação operática. Decididamente, não queria fazer isso. Integrar os E.V.E. foi uma fixe. Trabalhei com ótimos músicos que me permitiram dar vida às minhas canções. Os E.V.E. sempre foram mais um projeto de estúdio do que uma banda ao vivo, daí nunca termos chegado muito longe.

Sentiste o apoio dos fãs desde o início ou foi um longo processo? Houve alguma resistência? Sim e não. Algumas pessoas aceitaram-me de imediato, aquelas a quem podemos chamar “verdadeiros fãs” da banda. Quem seguia os The Agonist meramente por causa da Alissa não mais nos seguiu, mas esse fenómeno é-me alheio. Independentemente de quem a substituísse a reação seria a mesma, julgo. Mas, como disse, tal não me preocupa. Concentrome apenas naquilo que posso controlar. Limitei-me a dar o meu melhor e a empregar o meu estilo ao serviço da banda. O meu objetivo é tornarme constantemente uma versão melhor de mim própria. Orphans chegou às lojas com chancela Rodeostar Records. Porquê esta mudança da Napalm Records para a Rodeostar? A Napalm Records poderá certamente responder melhor a essa pergunta. Como sabes, a edição de um disco envolve múltiplos fatores e, por vezes, a indústria musical é estranha. Posso apenas dizer-te que houve quem, nos “bastidores”, tentasse impedir o lançamento deste álbum. Portanto, fizemos o que tínhamos de fazer para o editar. As préencomendas do encontram-se disponíveis no site da Napalm. Continuamos a usar os recursos e as redes sociais da editora, portanto a diferença não é muita.

[Sobre aulas de canto] Para o meu caso não era a forma certa de cantar, portanto desisti e tornei-me autodidata na aprendizagem de outras técnicas.

Em seguida gravaste o álbum de estreia, autointitulado, dos Rage

imediatamente, embora ainda não fosse fã (à exceção de «Thank You Pain» não conhecia a obra deles). Ao contrário do que possa julgar-se não fui logo ouvir o fundo de catálogo com a intenção de “copiar” a Alissa. Esta foi, isso sim, uma oportunidade para fazer música com mais quatro pessoas. Penso que esta abordagem me tem permitido manter a sanidade mental. Os fãs irão sempre comparar-nos [Vicy Psarakis e Alissa White-Gluz], é uma inevitabilidade. Estava ciente disso quando me juntei à banda. Logo, não é algo que me preocupe.

Enquanto artista convidada já gravaste para os Barque of Dante, Collector, Daylight Misery, Mythodea, Orion’s Reign ou Until Rain. Estas participações especiais constituem uma forma de experimentares diferentes abordagens musicais e, simultaneamente, enriqueceres a tua carreira e técnica vocal?

99 / VERSUS MAGAZINE


homens, portanto, por que não criá-lo?

O meu objetivo é tornar-me constantemente uma versão melhor de mim própria.

Sim, claro. Sinto-me lisonjeada quando outras bandas me convidam para gravar em temas seus. É impossível aceitar todas as ofertas, mas adoro música e explorar todos os géneros musicais, portanto divirto-me sempre. Sendo tu uma mulher inserida numa indústria maioritariamente de homens, sentes que a mentalidade machista ainda se encontra muito enraizada na sociedade? Não, não creio. Somos como somos, todos temos a nossa personalidade. Existe machismo? Sem dúvida, mas julgo que, acima de tudo, tentamos cada vez menos adaptar-nos aos padrões sociais. Ao invés, procuramos as pessoas quem realmente nos sentimos bem.

1 0 0 / VERSUS MAGAZINE

Já foste sexualmente assediada por fãs ou agentes da indústria musical? Existe alguma situação que desejes partilhar? Nada que não pudesse enfrentar. Obviamente que há “esquisitóides” ocasionais nos espetáculos e mensagens de stalkers nas redes sociais, mas todas as mulheres passam por isso, mais cedo ou mais tarde. A minha vantagem é estar numa banda com quatro gajos — sei que eles me protegem, independentemente da situação. “Groupie” é um termo unicamente associado às mulheres. Na tua perspetiva faz sentido aplicá-lo aos homens? Existem “groupies masculinos”? Bem podes dizê-lo. Efetivamente, não existe um sinónimo para os

De que forma vês, atualmente, o papel das mulheres num mundo construído por homens? Entendes que existe igualdade salarial, igualdade a nível laboral e de oportunidades de carreira, por exemplo? Acho absurdo afirmar que vivemos num mundo construído por homens, em especial na atualidade. Vivemos o melhor momento histórico possível relativamente ao papel das mulheres na sociedade. É fundamental perceber que cada sexo tem as respetivas forças e fraquezas. Há determinadas profissões ou competências que “encaixam” melhor num género do que noutro. Os homens são naturalmente mais fortes do que as mulheres em termos físicos, ao passo que as mulheres são mais empáticas. Não há mal nisso. É completamente ultrapassada a preconceção de que esses padrões são inultrapassáveis, impossibilitando a prossecução de algo que não se “encaixe” num determinado género. Como analisas as mudanças políticas que têm ocorrido na Europa ao longo da última década, com o crescente apoio aos partidos de extrema-direita em vários países do Continente? Bom, não resido na Europa desde 2013, portanto não poderei pronunciar-me da melhor forma acerca deste assunto. Na minha perspetiva, existe uma enorme diferença entre viver na pele uma situação em curso e apenas ter conhecimento dela através dos órgãos de comunicação social. Por outro lado, a política em geral é uma matéria que implica um profundo envolvimento e uma vasta pesquisa antes de formarmos e expressarmos uma opinião devidamente consolidada. Muita gente dá opiniões totalmente infundadas e eu não quero ser uma dessas pessoas.


101 / VERSUS MAGAZINE


Estado atual Para Edmond Karban (aka Hupogrammos), o segundo álbum de Dordeduh – «Har» – representa o atual desenvolvimento da banda romena e não tem de ser comparado com o anterior. Entrevista: CSA

Saudações, Edmond! Espero que todos os membros da banda estejam bem. Passaram-se nove longos anos entre este «Har» e o vosso primeiro álbum («Dar de Duh», 2012). - Podes dizer-nos o que andou a banda a fazer durante esses anos? Edmond – O grande intervalo entre os álbuns deve-se ao facto de que eu fui pai e agora tenho uma bela família que inclui três rapazes. Tive de fazer uma pausa depois de termos tocado em grandes festivais como o Hellfest e o Wacken. Não foi nada bom para a banda, mas tive de dar prioridade à minha família, porque os anos em que as crianças são pequenas são cruciais e não voltam mais.

1 0 2 / VERSUS MAGAZINE

Depois de alguns anos, habitueime ao meu novo estatuto de pai e senti-me mais confiante na minha capacidade de o desempenhar, porque é um processo de aprendizagem que não tem fim, e comecei lentamente a regressar à música. Em 2015, lançámos um álbum intitulado «Mosaic» com Sunset in the 12th House e começámos a compor nova música para Dordeduh. E foi assim que nasceu este «Har». - A pandemia desempenhou algum papel na criação deste álbum? Talvez a banda tivesse mais tempo para compor música? Não, de modo nenhum. Já tínhamos o álbum quase todo gravado, quando a pandemia

começou. Recordo-me que as últimas coisas que gravámos no ano passado foram uma parte dos vocais e dos teclados. Já tínhamos o álbum gravado e editado no nosso estúdio – Consonance Music – e enviámo-lo a Jens Bogren em maio e em junho recebemos o álbum misturado e masterizado. Focando-nos agora em «Har»… - Este álbum é muito diferente do seu predecessor, não é verdade? Não me parece verdadeiramente diferente. A música que contém representa o nosso estado atual. O que compusemos para «Dar de duh» correspondia ao nosso estado na altura. - Tendo em conta a informação


dada pela Prophecy, fiquei com a impressão de que desempenhaste um papel de grande destaque na criação deste álbum. É verdade? Sim. Costumo ser eu a trazer as ideias, o conceito de base e a compor uma boa parte da música. Geralmente, apresento as linhas gerais do conceito aos outros e o mesmo acontece com a música. Depois, pegamos nesse material e trabalhamos juntos para o aperfeiçoar. Mas é preciso referir que o Sol também escreve algumas partes e ele e o Andrei trabalham comigo nos arranjos para as canções. Também desempenho o papel de produtor e vou moldando as coisas. Para ser franco, nenhum de nós tem um grande ego, logo cada um contribui o melhor que pode de uma forma honesta e genuína. O Flavius integrou-se no processo, quando as canções já estavam quase concluídas. Mas é preciso dizer que é um músico fantástico, muito intuitivo e com muita experiência como baixista, o que se nota imediatamente. Sinto que tenho uma equipa sensacional a trabalhar comigo. Costin Chioreanu é meu amigo no Facebook e já o entrevistei para a Versus Magazine há uns anos atrás, como artista gráfico e também como músico. Sei que fez a arte para o vosso álbum. Até tem publicado vários desenhos relacionados com este álbum. - Por que o escolheram? Na realidade, foi ele que decidiu trabalhar connosco. Perguntounos se lhe dávamos carta branca para fazer a capa do próximo álbum de Dordeduh. Respondemos afirmativamente e estamos radiantes por o termos feito. - Como foi trabalhar com o Costin? Já nos conhecemos os dois há muito tempo. Tenho de lhe perguntar qual foi o primeiro projeto em que trabalhámos juntos, porque já não me lembro. Fizemos algo juntos antes da capa para «Dar de duh» [o primeiro álbum da banda]. Pode ter sido um cartaz para um concerto ou algum

Não me parece verdadeiramente diferente. A música que contém representa o nosso estado atual. O que compusemos para «Dar de duh» correspondia ao nosso estado na altura

nesse género. Por outras palavras, fazemos muitas coisas juntos e estou muito habituado a trabalhar com ele. Penso que sou um cliente que lhe facilita a vida, porque não o pressiono e ele respeita isso. Somos bons amigos e encontrámonos nos eventos mais inesperados. - Até que ponto a banda contribui para esse trabalho? Ele apresentou-nos uma primeira proposta, que não nos pareceu adequada para o álbum e que ele acabou por usar para outros projetos. Para a segunda proposta, tínhamos uma ideia comum. Basicamente estávamos a pensar no mesmo em simultâneo. De qualquer forma, só tínhamos discutido a capa. Tudo o resto decorreu da forma como ele vê o nosso álbum. - E como descreverias a relação entre estes desenhos coloridos e os temas tratados no álbum? Queríamos algo com cores vivas, porque o conceito de base do álbum gira em torno da ideia de integrar tudo – branco ou preto, colorido ou descolorido – como acontece na vida de todos nós. Também era importante ter um artwork que desse a impressão de espaço e de ligação com o espaço/ universo. Queríamos ter um artwork que respirasse e que fosse simples e expressivo. E penso que ele foi muito bem sucedido com o nosso apoio. Como vão promover este álbum durante a pandemia? Gostariam

de fazer um concerto ao vivo num estúdio difundido em streaming como outras bandas têm andado a fazer? Infelizmente, não há muitas opções para promover este álbum e tivemos pouca sorte por termos lançado este álbum num contexto de pandemia. Mas, com um pouco de sorte, em breve teremos algumas oportunidades de promover este álbum também com concertos ao vivo. Live streaming não é uma opção que nos agrade. E acabámos de lançar um live DVD com muitas das canções que tocámos no concerto relativo ao nosso 10.º aniversário. Aparecem nele canções antigas de Negura Bunget, canções de «Dar de duh» e também uma versão antiga de uma das nossas novas canções: “De Neam Vergur”. Quando andei a fazer alguma pesquisa sobre a banda, verifiquei que começaram a vossa carreira em 2020. Conseguiram celebrar os primeiros 10 anos da banda de alguma forma? Sim. A banda existe desde 2009, logo depois de termos posto termo a Negura Bunget, porque para o Sol e para mim essa banda deixou de existir nessa altura. E, como já referi, fizemos um concerto de aniversário no dia 26 de outubro, no Quantic Club em Bucareste, que agora está disponível em DVD e em formato áudio no nosso novo artbook. Facebook Youtube

103 / VERSUS MAGAZINE


Dodici Cilindri

(porque o barulhos dos motores também é música)

Por: Carlos Filipe

O DeLoren de Ouro Por esta altura, penso que todos já ouviram falar do carro do filme “Regresso ao Futuro” de 1985, com Michael J. Fox e um Deloren DMC-12, em aço inoxidável escoado, um aspecto futurístico e portas em gaivota, como o outrora MercedesBenz 300 SL “Gullwing”. Se ainda hoje se fala e se conhece a história da DeLoren, fundada por John Zachary DeLoren, e do seu único modelo produzido em 9200 unidades, o DMC-12, deve-se a este incontornável clássico do cinema. O facto de um carro desportivo de caracter mediado, se ter tornado um ícone da indústria automóvel, deve-se única e exclusivamente ao facto de os produtores do filme “Regresso ao Futuro”, terem substituído um objecto estático, um frigorífico, que só poderia regressar ao futuro com uma explosão nuclear no Nevada, por um objecto dinâmico, o DeLoren, como forma de viajar no tempo, simplesmente por ser um objecto móvel e de a utilização do frigorífico, o qual se tinha de entrar e fechar a porta para o acionar, se tornaria um acto irresponsável por parte do filme, pois passava aos jovens que vissem o filme, a ideia de repetissem o mesmo lá em casa. A história de John DeLoren dava um filme, é o que se costuma dizer na praça pública, quando uma figura carismática tem uma história de vida rica. Bem, no seu caso até já deu dois… “Driven” (2018) e “Framing John DeLoren” (2019). De facto, a história de vida deste homem tem tanto de fantástico como de trágico. John Zachary DeLoren começou a sua viagem no mundo automóvel num dos Big Ones Americanos, a Chrysler, passando brevemente pela então em dificuldades, Packard, chegando em 1956 à General Motors (GM). Foi aqui que o nome DeLorean começa a ganhar força, levando-o até ao posto de executivo e mesmo o de vicepresidente da GM, pensando-se na altura que seria o próximo presidente da GM. Só não o foi, devido a constantes discórdias com a administração, tendo este saído em 1973. A sua ascensão meteórica na GM, deveu-se muito à sua visão do automóvel e aos inúmeros sucessos que ia agregando na sua passagem pelas submarcas como a Chevrolet ou a Pontiac, onde DeLorean ficou como o criador, o “Pai”, do famoso Pontiac GTO. Nas terras do Oncle Sam, este carro é puro mito automóvel tal como o Ford Mustang. Livre dos compromissos empresarias, DeLoren decide-se lançar em 1975 no desenvolvimento da sua própria marca, a DMC – DeLorean Motor Company. Daqui nasceu um único automóvel, o DMC-12 que posteriormente assumiu simplesmente o nome DeLorean, que viu a luz do dia em 1981 depois da apresentação do primeiro protótipo em 1976. O desenvolvimento deste carro foi sempre um esforço para conseguir financiamento e local para o construir, o que veio a ser na convulsa Irlanda do Norte dos anos 70, simplesmente porque o governo de Margaret Thatcher ofereceu mais dinheiro à DeLoren para construir a sua fábrica ali, uns quantos 100 milhões de dólares. Aqui está logo à partida, um dos factores que determinou o fracasso do DMC-12, pois, do ponto de vista empresarial, foi uma má escolha, pois todos os carros que chegavam aos EUA, saídos da fábrica, tinham de ser retocados e verificados, dada a pouca qualidade de construção evidenciada pelos inexperientes trabalhadores irlandeses do Norte para a construção de um carro. A fábrica bem podia ter sido nos EUA, mas ouve um juntar de forças dos construtores tradicionais Americanos, em particular da GM, que formaram uma força de bloqueio para travar qualquer sucesso da DMC – Também

1 0 4 / VERSUS MAGAZINE


já vimos isto em Itália com Bugatti de Roman Artioli (de quem a VW comprou os direitos da marca) que teve dificuldade em arranjar fornecedores, levando o renascimento da Bugatti dos anos 90 à falência. Na obstante, o DeLorean lá chegou ao mercado no início dos 80’s a uns 158 stands que pagaram adiantados $10.000 em acções da DMC por isso, com um preço competitivo de $ 24.000, mas numa época em que o mercado automóvel não estava no seu melhor, e, verdade seja dita, o estilo bastante europeu do carro não ajudou em nada nas terras do Oncle Sam. O DeLorean devia ter sido produzido em território Americano, com um V8 americano, mesmo que o estilo fosse europeu, na obstante, que carros americanos desenhados por designers europeus nunca foram um hit, vejam o Cadillac Allanté. Em 1981, a empresa estava em sangramento financeiro apesar de nessa altura já se saber que o carro não seria um hit. Pelo tempo em que a empresa festejava um ano de aniversário da produção do DMC-12, estava em sérios problemas financeiros. É aqui que começa a queda de um “gigante”. Afim de conseguir financiamento para continuar com o seu projecto, John DeLorean é persuadido por um informador confidencial da DEA e FBI a envolver-se num negócio de 15 Milhões de dólares em cocaína, tendo montado um encontro com um potencial traficante, com os agentes do FBI e DEA no quarto de hotel ao lado. Foi preso imediatamente tendo o julgamento começado logo depois e tendo atraído toda a imprensa de então. Um escândalo. Foi mais tarde ilibado mas continuou com a justiça á perna por causa de outras eventuais fraudes com dinheiros da DMC. O filme “Framing John DeLoren” (2019) conta muito bem esta história de contrabando de milhões em cocaína. Em outubro 1982, a DMC fechou para nunca mais ressurgir e John DeLorean nunca mais trabalhou na industria automóvel. Ficou, aquilo que se diz, “queimado”. O design do DMC-12 está muito bem conseguido e deve-se a Giorgetto Giugiaro, então na casa Italdesign, e para os anos 70, é bastante futurístico, em particular com a inclusão das suas portas em gaivota e os seus painéis em aço-inoxidável, sem pintura. O carro tem mesmo pinta de desportivo mas… sem alma de um, apesar de Colin Chapman da Lotus ter sido contratado para trabalhar o chassi do carro. Tal como referi, o DMC-12 podia ter tido um dos V8 americanos mas devido às forças de bloqueio, DeLorean teve mais uma vez de se virar para a Europa e assegurou o famoso V6 PRV do consórcio Peugeot-Renault-Volvo, que tinha 2.8 L e 170 cv, que para os anos 70-80 era muito bom, mas, depois de ter passado pela legislação anti-poluição dos EUA, que lhe fez acrescentar entre outras coisas um catalisador, ficou com uns míseros 132 cv, cavalos insuficientes para puxar este desportivo, que se quedou por uma velocidade máxima de 175 Km/h e 10s dos 0-100 Km/h! A distribuição de pesos 35% à frente 65% atrás - 50-50 é o ideal, aniquilou ainda mais qualquer carácter desportivo. Caso para dizer, desportivo, mas pouco! A história do DeLoren de ouro começa em 1979 com a maquinação de campanha publicitária por parte da American Express(Amex). A Amex tinha conseguido incutir nos seus clientes mais abastados, o famoso cartão de crédito de ouro, o Express Gold Card, que se tornara um sinónimo exterior de riqueza e sucesso. O carro estava a chegar aos showrooms americanos numa única cor, o acinzentado, e alguém numa reunião da Amex sugeriu que se se pintasse um com um pouco de pó de ouro, daria um excelente anúncio móvel para a Amex. A ideia pegou e na campanha de natal de 1979 da Amex, o DeLorean em Ouro foi a estrela do catálogo de Natal, apesar de não existir na realidade e ser apenas uma ilustração singular. Mas a ideia pegou na mesma, John DeLoren aceitou e foi então decidido fazer uma série especial do DMC-12 em ouro de 24-kilates, onde os paneis exteriores em aço-inoxidável seriam electro galvanizados com ouro de 24k. O número de carros a produzir seria de 100 unidades e o preço seria de $85.000, um valor astronómico, mais de 3 vezes o valor de um DMC-12 normal. A DMC já tinha problemas que chegasse com o carro de base e não necessitava de mais uma dor de cabeça com a produção desta série especial, pelo que decidiu esperar para ver quão bem os 100 carros escoariam. Foi um desastre. Apenas 2 encomendas foram efectivamente

105 / VERSUS MAGAZINE


realizadas. Entretanto, não desistiram da ideia e começaram a pensar como e quem iria produzir os paneis necessários em ouro. O maior problema foi encontrar uma empresa que conseguisse galvanizar em ouro painéis de aço inoxidável tão grandes, como o capô ou as portas. A Firma alemã Degussa foi a escolhida e construiu um tanque com 2500 litros de capacidade que podia albergar a solução de ouro supercara Auruna-311, uma espécie de ouro molecular. Se qualquer risco no aço inoxidável podia ser retirado com um polimento superficial, qualquer risco nos painéis galvanizados a ouro, seria impossível de retirar ou regalvanizar. Foram enviados peças para 3 DeLoren, os dois das encomendas e o terceiro para peças suplentes. Os DeLoren de ouro foram montados com todos os cuidados e assim entregues aos seus donos. O medo de estragar “a pintura” foi de tal ordem que, o primeiro nunca andou, pois o seu dono colocou-o imediatamente numa redoma de vidro na sede do seu banco, o segundo ainda andou umas 1500 milhas para o seu dono poder armar-se em rei midas, eventualmente ambos os carros acabaram num museu. Um está no National Automobile Museum in Reno, Nevada e o outro no Petersen Automotive Museum em Los Angeles. À posteriori, foi decidido montar um terceiro Gold DeLorean com as famigeradas peças suplentes, tendo este DeLoren de ouro ficado apenas “curto” de uma porta e com diferenças de coloração nos diferentes painéis em ouro. Depois da DMC falir, todos os restantes DeLoreans com todas as peças que sobraram da produção foram vendidos em lote, incluindo este terceiro de ouro que só tinha percorrido 636 milhas. Está numa colecção privada no Maryland. E assim, fruto do marketing uma das maiores excentricidades do mundo automóvel viu de forma efémero e rara a luz do dia. Foi tudo uma questão de timing, e os anos 80 pré-euforia de Wall street não foi a melhor altura, se calhar na 2ª metade da década dos 80 e certamente hoje, um carro com estas características encontraria facilmente não 100 compradores, mas sim 1000. Qual seria o magnata dos nossos dias, em particular do Médio Oriente, comprador de carros exóticos, que não quisesse ter um?

1 0 6 / VERSUS MAGAZINE


Foto: Ester Segarra

60

Carcass | Auri

Foto: Mikko Linnavuori

107 / VERSUS MAGAZINE


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.