Versus Magazine #59

Page 22

CRITICAS VERSUS AARA

«Triad I: Eos» (Debemur Morti Productions) Os suíços AARA mantêm com este «Triad I: Eos» a média de um álbum por ano e em boa verdade talvez não fosse má ideia o duo Fluss e Berg acalmar um bocadinho. O antecessor «En Ergô Einai», que também foi alvo de crítica aqui na VERSUS Magazine, era um trabalho mais interessante que esta algo desinspirada novidade. E a grande diferença consiste na falta de elementos dignos de destaque. Ouve-se este «Triad I: Eos» e, chegado ao fim, não há propriamente vontade de voltar a colocar o disco no leitor, pois as faixas soam insípidas e tardam em causar uma impressão duradoura no ouvinte. É como se estivéssemos a degustar um prato sem qualquer tempero: come-se, mas há qualquer coisa ali em falta. E isto é uma pena, pois os AARA estavam a mostrar potencial dentro do âmbito do black metal atmosférico e melódico, mesmo não se tratando de um conjunto capaz de revolucionar o género. Tendo em conta ainda que «Triad I: Eos», como o título deixa antever, constitui a primeira parte de uma trilogia, as expectativas agora estão niveladas mais por baixo. Veremos se os AARA conseguem dar a volta por cima e retomar um rumo que até aparentava ser promissor, elevando a fasquia nas partes que se seguirão a estas seis faixas de 2021. [6/10] HELDER MENDES

ÆNIGM ATUM

«Deconsecrate» (20 Buck Spin) Tenho para mim que, no Metal, o ideal de beleza está na simbiose perfeita entre dois opostos: o virtuosismo delicado e o peso esmagador da sonoridade. Isto a propósito do novo opus dos Ænigmatum que cultiva este binómio com resultados assombrosos. Depois dum promissor disco de estreia publicado há apenas dois anos, o jovem quarteto norte-americano surpreende com um trabalho que promete encher as medidas de quem aprecia extremismos com musicalidade. Partindo duma fusão genética entre Death, Behemoth e Opeth antigo, a banda de Portland apresenta neste «Deconsecrate» um cocktail de death metal enegrecido que adquire um cunho particular graças a uma composição fluida feita de estruturas labirínticas e estonteantes, mas que integram a melodia essencial para tornar a audição permanentemente atractiva. A malha rítmica incorpora frenéticas e inesperadas mudanças de tempo, frequentemente em modo warp-speed sem dar tempo para respirar, outras vezes em compassados riffs quebra-ossos de onde emergem insanos esfarrapanços técnicos das mãos competentes dos guitarristas Kelly McLaughlin e Eli Lundgren, ou linhas serpenteantes do baixo fretless de Brian Rush. Inescapáveis são também os rolls frequentes do baterista Pierce Williams (integra também os Skeletal Remains), reminescentes da técnica de Steve Flynn dos Atheist, que acabam por sobressair como elemento distintivo na sonoridade geral do disco. Rico em substancia musical, algo progressiva, e com clara atenção depositada no mais ínfimo dos detalhes, «Deconsecrate» é um disco para degustar ao longo de muitas e prazerosas audições. A qualidade de reprodução é essencial para se apreciar todos os pormenores. [9/10] ERNESTO MARTINS

ANGEL DUST

«Into The Dark Past» (High Roller Records) Quando se fala de Angel Dust paira de imediato no ar a dicotomia estilística que os germânicos criaram ao longo da sua carreira. Depois da dupla de discos editados nos anos 80, a que se seguiu um hiato de cerca de 10 anos, os Angel Dust regressaram com uma abordagem ao power metal germânico, bastante popular então. Mas este «Into The Dark Past» foi o primeiro longaduração do grupo, editado em 1986 e que agora tem mais uma re-edição em vinil e CD, com toda a atenção que lhe é devida. Portanto, aqui falamos da fase thrash metal dos Angel Dust e esta nova edição é um portal que nos leva directamente à era de ouro do estilo. Em ’86 os Angel Dust apresentaram, sem dúvida, um trabalho muito interessante e competente, ao qual é merecido oferecer pelo menos um lugar para destaque junto dos pioneiros que todos bem conhecemos, Kreator, Sodom, Destruction, Slayer, Dark Angel…para citar apenas alguns. A sua imagem de marca estava aqui já bem definida. Muito criativos ao nível do riff marcante e de groove bem acentuado, já com tendência à exploração das melodias em determinados refrões. Acredito que talvez devido à paragem prematura logo depois do segundo disco, os Angel Dust não figurem de forma regular como referências no thrash metal. Mas, felizmente, há quem se dedique à sua obra e nos permita agora ter acesso, em formato físico, a este testemunho de adrenalina speed/thrash e a grandes canções como “Gambler”, “Legions of destruction” ou a slayeresca “Marching for revenge”. [8.5/10] EMANUEL RORIZ 2 2 / VERSUS MAGAZINE


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.