A dimensão religiosa do nacionalismo – o estudo de um caso: os Países Baixos Reinder Bruinsma*
A religião tem sido sempre um elemento fundamental no desenvolvimento das nações. Hoje, quando os problemas surgem nos Estados-Nação por questões étnicas, com muita frequência ele desempenha aí um papel importante. Religião e nacionalismo podem formar um cocktail explosivo, como se tem constatado no decurso da História. No início dos anos 1990, quando a ex-Jugoslávia se desmembrou, novos Estados, que envolviam fronteiras étnicas, não tardaram a surgir cada uma com uma religião dominante: católica para a Croácia e a Eslovénia, predominância muçulmana para a Bósnia-Herzegovina e ortodoxa para a Sérvia. Os conflitos na Irlanda do Norte permanecem igualmente bem presentes nas memórias: ainda nos lembramos do ódio que opunha os católicos e os protestantes de Ian Paisley se tem alimentado da diferença entre as suas respectivas tradições religiosas e as ideias que os dois campos faziam da futura nação. Igualmente, quando as Ilhas Fiji conheceram graves perturbações políticas, há alguns anos, a instabi-
lidade política veio, em grande parte, do facto de que uma grande percentagem da população (perto de um terço) ser indiana e adepta da religião hindu, e os “verdadeiros” fijianos serem na maioria católicos. Também no Sudão, as questões étnicas e religiosas têm contribuído, largamente, para o conflito permanente entre o Norte e o Sul, que eram um muçulmano e o outro cristão. Ambos experimentaram enormes dificuldades para encontrar um acordo de paz (concluído no início de 2005) e muitos pensaram que nunca o conseguiriam. Estes poucos exemplos escolhidos ao acaso mostram-nos como as nações são influenciadas pela religião. Bem entendido, outros factores, não religiosos, entram em jogo quer na formação, quer no desmantelamento das nações. Contudo, numerosos exemplos, para além dos citados acima, poderiam demonstrar que a religião tem sido, frequentemente, o principal detonador. E não falamos aqui de um passado longínquo, nem de uma ameaça à paz num outro continente para além do nosso. Ainda hoje, na Europa laica, o factor religioso poderá criar sérias tensões – ou pior ainda – pelo menos em certos 71