Dream Of You - Wait For You

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Dream of You Jennifer L. Armentrout


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Abby Erickson não está procurando um romance de uma noite, um relacionamento ou qualquer coisa que envolva tempo sozinha, mas quando ela testemunha um crime horrendo, ela é confiada às mãos do cara mais sexy que ela já conheceu – Colton Anders. Seu trabalho é proteger ela, mas com cada olhar, cada toque e cada beijo, ela está sobre o perigo de não só perder sua vida mas, como seu coração.

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Mil e uma noites escuras ..................................................................................................................................................................................................................... 4 Capítulo Um ............................................................................................................................................................................................................................................................ 6 Capítulo Dois ...........................................................................................................................................................................................................................................................11 Capítulo Três ...................................................................................................................................................................................................................................................... 23 Capítulo Quatro ............................................................................................................................................................................................................................................29 Capítulo Cinco ............................................................................................................................................................................................................................................... 42 Capítulo Seis ................................................................................................................................................................................................................................................... 50 Capítulo Sete .................................................................................................................................................................................................................................................... 58 Capítulo Oito .................................................................................................................................................................................................................................................... 65 Capítulo Nove .................................................................................................................................................................................................................................................... 72 Capítulo Dez ...................................................................................................................................................................................................................................................... 85 Capítulo Onze ..................................................................................................................................................................................................................................................97 Capítulo Doze ................................................................................................................................................................................................................................................. 101 Capítulo Treze.................................................................................................................................................................................................................................................... 119 Capítulo Quatorze ....................................................................................................................................................................................................................................126 Capítulo Quinze............................................................................................................................................................................................................................................ 138 Capítulo Dezesseis .....................................................................................................................................................................................................................................145

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Mil e uma noites escuras Era uma vez, no futuro... Eu era uma estudante fascinada pelas estórias e pelo aprendizado. Eu estudei filosofia, poesia, história, ocultismo arte e a ciência do amor e mágica. Eu tinha uma vasta coleção de livros na casa do meu pai e colecionei milhares de volumes de contos fantásticos. Eu aprendi sobre raças antigas e tempos muito passados. Sobre mitos, lendas e o sonhos de todas as pessoas por milênios. E quanto mais eu lia, mais forte minha imaginação ficava até que eu descobri que conseguia viajar pelas estórias... realmente me tornar parte delas. Eu desejo poder dizer que eu ouvi meu professor e respeitei meu dom, apesar do que tinha. Se eu tivesse, eu não iria estar contando esse conto agora. Mas eu era boba e confusa, misturando isso com coragem. Uma tarde, curiosa sobre o mito das Mil e Uma Noites, eu viajei para a Persa antiga para ver por mim mesma se era verdade que todo dia, Shahryar (Persa: ‫ شهری ار‬,rei) casava com uma nova virgem, mandando sua esposa do dia anterior para decapitação. Estava escrito e eu tinha lido isso, mas quando encontrei Scheherazade, a filha do vidente, ele tinha matado mil e uma Mulheres.

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Algo saiu errado apesar dos meus esforços. Quando cheguei no meio da estória e de algum modo troquei de lugar com Scheherazade – algo que nunca havia acontecido antes e, até esse dia ainda não consigo explicar. Agora eu estava presa naquele passado antigo. Eu tomei o lugar de Scheherazade e a única forma que sabia para me proteger e ficar viva é fazer o que ela fez para se proteger e ficar viva. Toda a noite o Rei chama por mim e pede para eu contar contos. E quando a tarde cai e a noite chega, eu paro num ponto que deixa ele sem ar, desejando por mais. Assim o Rei poupa minha vida para mais um dia, só para que ele possa ouvir o resto do meu conto. Assim que eu termino essa estória... eu começo uma nova... como você, meu caro leitor, fez e vai fazer Agora.

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Capítulo Um Você seria extremamente gostosa se perdesse um pouco de peso. Meus dedos envolveram as chaves do carro enquanto eu saia do bar, para dentro da pesada brisa de Julho. As pontas irregulares cravando na minha palma enquanto eu resistia à vontade de andar de volta e enfiar essas chaves em um dos músculos inflados daquele imbecil. Desde o momento que Rick me chamou para sair, eu sabia que isso seria uma péssima ideia. No segundo que eu pisei naquele aparelho elíptico da academia que era parte da Lima Academy. Eu tinha visto Rick pingando de uma menina para a outra, usando suas calças de nylon e uma camiseta justa da GAP, tão justa que eu sempre esperei que ela fosse estourar a qualquer momento. Eu não tinha percebido que ele trabalhava para a Lima Academy até hoje à noite, empregado no departamento de vendas e marketing, e eu senti como se eu soubesse tudo sobre ele porque isso era tudo que ele fazia. Ele falava sobre si mesmo. Deus, por que eu concordei em sair com ele? Eu era tão triste e sozinha assim? O barulho dos meus saltos pela calçada foi minha única resposta. Estacionar na cidade em uma sexta à noite era algo ridículo. Iria levar um ano para que eu chegasse ao meu carro. Você seria extremamente gostosa se perdesse um pouco de peso. Meus lábios ficaram mais finos. Eu não conseguia acreditar que ele realmente disse isso para mim, como se fosse um elogio. Mas que porra? Não era como se eu não soubesse que eu precisava perder uns três ou cinco quilos, mas em meus vinte e oito anos de vida, eu tinha há muito tempo aceitado que eu nunca, em toda história, teria um vão entre minhas coxas, minha bunda

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sempre teria furos estranhos nela e nenhuma quantidade de agachamentos iria balancear meu amor por cupcakes. Lá no fundo eu sabia por que eu concordei em sair com ele. Eu não estive em um bom encontro há dois anos, e meu ultimo relacionamento sério tinha revocado a clausula do ‘que a morte os separe’. Eu tinha vinte e oito anos. Viúva. Uma viúva de vinte e oito anos que precisava perder peso. Suspirando, eu virei à esquina, tirando meu cabelo do rosto. Uma fina linha de suor marcava minha sobrancelha. Eu me mantive perto da beira da calçada, andando sobre as luzes da rua e ficando longe da sombras escuras que os inúmeros becos formavam. Eu podia ver meu carro logo à frente, no final da quadra. Era cedo para uma sexta à noite, mas eu iria para casa, abriria uma lata de Pringles sabor Barbecue que chamou meu nome à tarde toda e esqueceria sobre Rick enquanto me afogava no ultimo romance de Lara Adrian 1. Por que vampiros alfas com um coração de ouro não eram de verdade? Uma dor repentina chamou minha atenção enquanto estava no meio do caminho para meu carro. Meus instintos ficaram vivos, queimando dentro de mim e me dizendo para continuar andando, mas eu olhei para a direita. Não consegui evitar. Minha cabeça virou por conta própria, um reflexo, e eu tropecei. Horror cresceu dentro de mim, congelando meus músculos e atirando dardos de gelo pelo meu sangue. Terror diminuiu o tempo, transformando a cena em algo extremamente detalhado. Uma luz amarela formava um halo sobre três homens no beco. Um deles estava mais para trás dos outros dois. Seu cabelo descolorido e gorduroso, grudado na sua cabeça. Ele tinha uma cicatriz. Um corte fino sobre sua bochecha, mais pálido que o resto da sua pele. Outro homem estava apoiado 1

Autora de livros New Adult. Mais famosa pela série Midnight Breed. www.laraadrian.com

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contra a parede de tijolos do prédio que cercava o beco. Eu não conseguia distinguir suas feições, porque sua cabeça estava pendendo de seus ombros, ele aparentemente mal conseguindo ficar de pé, obviamente machucado. O outro homem, sua cabeça completamente raspada, estava de pé diretamente em frente do homem machucado e, mesmo que eu só pudesse ver seu perfil, era um rosto que eu nunca esqueceria. Ódio sangrava por cada linha das feições desse homem, desde suas sobrancelhas escuras, seus olhos pequenos, até a linha de seu nariz aparentemente quebrado e seus lábios. Ele era um cara grande. Alto. Ombros largos. Ele usava uma camiseta regata e meu olhar vagou para seu braço, dando para dizer que a pele estava sombreada com marcas. Uma tatuagem. Mas eu não estava pensando sobre a tatuagem quando vi o que ele estava segurando. O homem careca estava apontando uma arma para o homem machucado! Meu instinto estava gritando como um alarme de incêndio. Corra. Saia daqui. Ele tem uma arma! Vai. Mas eu não conseguia me mover, dividida entre o choque, descrença e algo inerte, possivelmente uma tendência suicida para intervir e fazer... Um flash de luz brilhou e um trovão ecoou. O homem machucado desabou como se fosse uma marionete que alguém havia cortado as cordas. Ele caiu no chão com um barulho oco e, por um momento, tudo que eu conseguia ouvir era meu coração batendo forte, empurrando sangue nas minhas veias. O som não foi de um trovão. O flash de luz era um raio. Realidade me atingiu enquanto eu encarava o homem caído no meio do corredor. Uma poça escura se formava, espalhando da onde seu rosto estava pela calçada suja. Meu coração aumentou em meu peito enquanto eu abria minha boca, desesperada por ar. Não. Sem jeito. O homem com a cicatriz estava falando com aquele com a arma, sua voz um tom alto, animada, mas eu estava além de conseguir ouvir palavras

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exatas. Minha mão espasmava e as chaves deslizaram do meu aperto. Elas bateram na calçada, tão alto quanto eu tentando correr numa esteira. A cabeça do homem careca se virou rapidamente na minha direção e, se antes parecia que o tempo havia desacelerado, ele parou nesse momento. Nosso olhar se encontrou e em um instante, uma conexão horrível foi formada. Ele me viu. Eu o vi. Eu o vi atirar no rosto de alguém. E esse homem, o assassino, sabia disso. Seu braço começou a levantar. Todos meus músculos reagiram e destravaram nesse momento. Com meu coração palpitando, eu me virei e comecei a correr de volta, em direção ao bar, meus pulmões queimando enquanto um grito saia de mim, um som que nem em meus momentos mais obscuros eu já tinha ouvido antes. Os tijolos explodiram a minha direita, mandando estilhaços afiados pelo ar. Flashes de dor eclodiram da minha bochecha e eu cambaleei. O salto do meu sapato quebrou, mas eu me mantive correndo, deixando o sapato para trás. Eu precisava encontrar alguém. Eu precisava ligar por ajuda. Eu precisava... Virando a quadra, eu esbarrei em alguém. Um grito foi abafado enquanto eu cambaleava para trás. Ouvi um grunhido e eu vi uma mão tentando segurar meu braço, mas era tarde demais. Eu cai, aterrissando forte na minha lateral. Um flash de dor subiu pelos meus ossos, tirando o ar dos meus pulmões. “Puta merda,” uma voz masculina soou sobre mim. “Você está bem?” Eu engoli em seco e bufei, ar saindo na minha frente enquanto eu ouvi uma mulher dizer, “Claro que ela não está bem, Jon. Ela deu um ataque suicida em você!” Levantando minha cabeça, eu olhei sobre meu cabelo que tinha caído no meu rosto. Eu vi eles – aquele com a cicatriz e o homem careca, o assassino

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a sangue frio, fugindo pela calçada, além da onde meu carro estava estacionado. Eu os assisti até que eles desapareceram. “Senhora?” o homem perguntou. “Senhora, você está bem?” Com minhas mãos trêmulas, eu fiquei de joelhos. O mundo parecia algo bem mais claro. Os carros que passavam soavam como aviões. As portas se fechando por perto pareciam que estavam sendo constantemente batidas, meu próprio coração martelando como uma bateria. “Sim. Não.” Eu disse. Pressionando meus dedos na minha bochecha que queimava, eu afastei minha mão quando senti a umidade. Havia uma mancha escura no topo dos meus dedos. Meu olhar voltou para onde eu havia corrido. “Nós precisamos chamar a polícia. Alguém foi baleado.”

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Capítulo Dois Eu nunca tinha estado dentro de uma estação da policia antes. Alguém poderia pensar que eu vivi uma vida chata. Sem multas de estacionamento irregular. Nunca fui multada por dirigir acima da velocidade. Mesmo quando adolescente, eu obedeci à lei. Bem, eu bebi um pouco antes da idade aqui e ali, e eu definitivamente fumei um pouco de maconha quando era mais nova, mas eu nunca tinha passado dos limites. E eu fui esperta o suficiente para não ser pega. Mas agora eu estava sentada em uma daquelas salas que eu só tinha visto na TV. Eu tinha certeza que a câmera que ficava no canto não era enfeite. Apesar deu não ter feito nada de errado, eu meio que esperava que um detetive no formato de um barril fosse aparecer na porta e começaria a jogar acusações sobre mim. Meus dedos envolveram o lenço de papel que eu devia estar segurando a horas. O homem que eu tinha jogado um ataque suicida tinha ligado para a polícia, desde que eu não sabia mais como tirar meu celular da minha bolsa para usá-lo. Em choque. Foi isso que o paramédico que chegou atrás as luzes piscantes vermelhas e azuis da policia havia me dito. Eles queriam que eu fosse para o hospital para uns exames, mas os policiais estavam impacientes. Eles queriam respostas. Eu era uma testemunha de... de um assassinato. Por que o homem no beco estava morto. E não havia nada seriamente errado comigo. Minhas palmas estavam um pouco em carne viva e meu corpo doía onde eu havia caído. Os cortes na minha

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bochecha não eram nada em comparação com o que aconteceu com o cara que estava deitado com o rosto para baixo no beco. Eu iria ficar bem. Eu prendi a respiração, e me recusei a fechar meus olhos por mais de um segundo porque quando o policial me levou para a delegacia, eu consegui ver o homem careca puxando o gatilho. Eu ouvi o crack. Eu vi o outro homem se dobrar como uma folha de papel. Eu vi o homem careca apontar a arma para mim. Terror ressurgiu e eu o afastei antes que ele tomasse conta, mas era difícil não pensar no fato que aquele assassino tinha visto meu rosto. Ele sabia que eu era uma testemunha. Isso era assustador porque não haviam duvidas na minha mente que ele não teria problema nenhum em colocar uma bala em mim,. Ele não teve problema nenhum em fazer isso com aquele homem. Com meus braços cruzados sobre meu peito, eu encarei o copo de papel quase vazio que estava na minha frente. Eu tinha tomado um grande gole quando o policial o trouxe para mim. Um calafrio percorreu meus ombros. Estava tão frio aqui. Até a ponta do meu nariz estava gelada. Em vez de manter meus pensamentos neutros, eu me foquei no que tinha acontecido. Na quantidade de tempo que eu achava que tinha se passado desde quando sai do bar e andei até aquele beco. O que eu vi era importante. Alguém havia sido assassinado e eu tinha visto a pessoa responsável. Qualquer informação extra que eu conseguisse iria ajudar a encontrar a justiça. Então eu repeti os eventos uma e outra vez, até o momento horrível que a arma havia sido disparada, apesar de quão mal isso me fez tremer e como eu desejava que eu tivesse continuado andando. Isso seria errado, mas eu sabia que até eu morrer, eu nunca esqueceria aquela noite. Aquele homem tinha morrido com seu rosto colado no chão de um beco que cheirava a urina.

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Eu tremi de novo. Nunca, nem em um milhão de anos eu tinha pensado que aceitar sair com Rick, the Dick2, iria terminar comigo sentada em uma sala da policia depois de testemunhar... um assassinato. Eu não tinha ideia do tempo que estava sentada nessa sala, mas em algum momento um policial apareceu com as chaves do meu carro. Depois de confirmar a marca e o modelo, o policial tinha saído para recuperar meu carro da cena. Eu não tinha certeza se isso fazia parte do protocolo ou não, mas eu apreciei o gesto. A ultima coisa que eu queria era voltar ao local da cena. Minha respiração estava trêmula quando a porta se abriu, fazendo meu queixo voar para cima. Dois homens entraram. A primeira coisa que percebi era que o primeiro usava calça bege e o segundo, preta. O primeiro vestia uma camisa que estava levemente amassada, como se ele tivesse sido chamado no meio da noite e vestiu a primeira coisa que viu. Ele era mais velho, provavelmente em torno dos cinquenta, seu olhar escuro e simpático enquanto ele se movia para perto da mesa. O cheiro de café fresco vindo do copo que ele segurava. Ele colocou um arquivo fechado sobre a mesa. “Sra. Ramsey? Me desculpe te manter esperando. Eu sei que você teve uma noite longa. Eu sou o detetive Hart.” Ele parou, se virando. “E esse é o Detetive...” Eu já estava olhando para cima, para o outro cara, vendo como a camiseta polo que ele usava estava um pouco mais larga em sua cintura e mais justa em torno do seu peito e ombros claramente definidos. Esse exato momento não era a melhor hora para estar reparando em um cara, então eu me forcei a olhar para cima. Meu olhar tinha acabado de mover para seu rosto quando Detetive Hart introduziu o segundo detetive. Meu coração parou pela segunda vez naquela noite. Oh meu Deus.

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Seria Rick, o imbecil. Mas vou deixar Dick para rimar.

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Eu consegui sentir meus olhos arregalarem enquanto eu ficava de boca aberta olhando para o segundo homem, que estava abertamente me encarando com a mesma descrença em seu lindo rosto. Eu nem precisei ouvir seu nome ser falado. Eu sabia quem era. Colton Anders. Oh meu Deus, não tinha como eu estar enganada. Aquelas bochechas altas e angulares, a linha reta do seu maxilar, seus lábios cheios e aqueles brilhosos e profundos olhos azuis que tinham despertado fantasias durante o colegial e além. Deus, isso provavelmente me tornava uma péssima pessoa. Eu tinha um namorado durante todo o colegial – o menino que no final se tornou meu marido – mas sempre houve Colton. Ele era um deus intocável na escola, o menino que você ia para lá e tinha fantasias de longe, mesmo que um cubo de gelo tivesse mais chances de sobreviver ao inferno do que você chamar a atenção dele. Colton tinha a beleza clássica, assim como seu irmão mais novo, Reece, e ele parecia mais preparado para entrar em uma sessão de fotos para uma revista de saúde masculina do que em uma sala para uma investigação de homicídio. Eu estava tão chocada ao ver ele que a pergunta simplesmente saiu de mim. “Eu pensei que você trabalhava para o condado.” “Trabalhava, mas fui transferido para a cidade.” Colton levantou seu braço, passando sua mão sobre seu cabelo castanho escuro. Ele ainda morava em Plymouth Meeting? Ele tinha se mudado para Philadelphia? Essas perguntas eram tão inapropriadas e eu estava surpresa por ter conseguido manter minha boca fechada enquanto ele me encarava. “Merda, Abby. Eu não fazia ideia que era você que estava nessa sala.” Ele sabia meu nome? Melhor ainda, ele se lembrava dele? O cara tranquilo poderia atravessar aquele espelho, que na verdade era um vidro de uma única via, e eu não ficaria surpresa. Colton e eu não andávamos com os

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mesmos amigos, e eu tinha certeza, cem por cento de certeza, que eu não estive em seu radar na época da escola. “Vocês se conhecem?” Hart perguntou, franzindo o cenho, enquanto olhava entre nós. Colton deu uma pequena balançada em sua cabeça. “Nós frequentamos o mesmo colegial, mas eu não a via em...” ele abaixou seu braço. “Eu não te vejo há anos.” Oh, mas eu tinha visto ele pela cidade. Não muito. No mercado de vez em quando. Uma vez no cinema. Eu estava lá com uma amiga e ele com uma loira escultural. “Eu...” Engolindo forte, eu olhei para o Detetive Hart. Ainda chocada pelo que aconteceu, eu já me sentia como se estivesse presa em um sonho. Ou um pesadelo. “Eu fui embora para faculdade e me mudei para New York depois que me formei. Eu voltei há uns cinco anos.” Colton passou por Hart e aqueles olhos azuis, emoldurados por cílios escuros se estreitaram. “Você está bem?” Sua cabeça se virou na direção do outro detetive. “Ela já viu um paramédico?” “Pelo que o Policial Hun disse, ela foi tratada, mas se recusou a ir para um hospital.” Aquele olhar estreito terminou em mim. “Você precisa ir...” “Estou bem.” Quão ruim meu rosto estava? Eu resisti à vontade de olhar para o espelho. “Realmente estou.” “Alguém atirou em você,” Colton apontou. Eu me encolhi, sem conseguir me conter. Ou o policial que atendeu o chamado contou isso a ele ou essa informação estava no arquivo. “A bala deve ter atingindo a parede mais próxima. Foram estilhaços de tijolo.” Pausando, eu umedeci meus lábios. “Não é...”

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O olhar de Colton caiu para minha boca por um segundo longo demais e eu poderia simplesmente ter imaginado isso. Seus olhos encontraram os meus enquanto ele se sentava na cadeira mais próxima à esquerda. “Você já ligou para seu marido?” Mas que...? Eu pisquei uma, então duas vezes. Ele sabia que eu tinha me casado? Com certeza não era como se isso fosse um segredo ou coisa do tipo. Kevin e eu... nós nos casamos logo depois da formatura, durante o verão, e quando o inverno chegou nós nos mudamos. Sim, nós todos frequentamos a mesma escola, mas eu tinha sido completamente invisível para ele. Inalando, meio que falhando, eu soltei o lenço e reorganizei meus pensamentos. “Kevin morreu há quatro anos. Durante um acidente de carro.” “Merda.” Colton se endireitou enquanto seu olhar profundo ficava amis suave. “Eu não sabia.” Ele se inclinou, colocando uma mão sobre meu ombro. O peso foi estranhamente confortante. “Meus pêsames, Abby.” “Está...” Não estava exatamente okay, mesmo que eu já tivesse superado a morte de Kevin. Alguns dias ainda eram difíceis. Algo pequeno, como certo cheiro ou uma música no radio iria me lembrar dele e de como incerta a vida poderia ser. “Obrigada.” Ele me apertou gentilmente e abaixou sua mão, a ponta dos seus dedos passando sobre a pele do meu braço. “Okay. Vamos terminar isso para que você possa ir para casa.” Hart levantou uma sobrancelha enquanto olhava Colton. Ele se sentou na minha frente. “Eu sei que você já deu seu depoimento para o Policial Hun, mas nós queremos que você recomece tudo, okay?” Eu concordei devagar. “Eu estava saindo do bar Pixie’s e andando em direção ao meu carro. Ele estava estacionando a umas quadras de distância. Talvez três ou quatro quadras. Era cedo. Talvez umas oito e meia. Eu estava em um... um encontro, mas o cara era um completo idiota.” Minhas bochechas esquentaram enquanto meu olhar foi em direção a Colton. “Me desculpe, isso não é importante.”

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Os lábios de Colton se curvaram. “Tudo é importante.” Eu me forcei a inalar devagar de novo. “Certo. Eu estava andando para meu carro e realmente estava distraída. Essa área na cidade não é ruim então eu não estava esperando que algo acontecesse, você sabe? Eu estava apenas andando e vi meu carro logo à frente. Eu estava pensando sobre ir para casa e ler um livro,” eu continuei, sabendo que estava balbuciando de novo. “Eu ouvi alguém gemendo e foi como se eu não tivesse controle sobre meus pés. Eu parei e olhei para a direita. Havia um beco e foi aí que eu os vi.” Estendendo o braço, Colton pegou o arquivo que estava sobre a mesa e o abriu. Suas sobrancelhas franziram enquanto ele passava o olho sobre ele. “Você disse que viu três pessoas.” “Sim. Havia esse homem apenas de pé ali. Ele tinha... ele tinha uma cicatriz em seu rosto e cabelo loiro, descolorido. O outro homem, o que tinha a arma, sua cabeça era raspada e ele tinha essa tatuagem gigante em seu braço. Eu não consegui ver como ela era. Estava escuro, desculpe.” Ele olhou para mim, seu olhar percorrendo meu rosto. “Tudo bem. Você disse ao policial que poderia reconhecê-los, certo?” Quando eu concordei de novo, ele sorriu. Não aquele sorriso grande e caloroso que eu o vi usando quando éramos adolescentes. Nem um pouco perto. “Eles estão compilando algumas fotos de pessoas que atendem essa descrição agora. Então poderemos passar por elas em um momento.” Houve uma pausa enquanto ele se encostava de novo na cadeira. “Quantas vezes você ouviu a arma sendo disparada?” “Uma. Não, duas vezes,” eu disse. Detetive Hart estava escrevendo algo em um pequeno caderno que devia estar escondido em algum lugar. “Ele atirou. ele atirou no homem no beco e eu deixei cair minhas chaves como uma idiota. Oh!” eu coloquei minha mão sobre minha boca. “Me desculpe.” O tom azul dos olhos de Colton ficaram mais claros. “Querida, dizer idiota aqui não vai ofender ninguém.” “Palavras mais verdadeiras nunca foram tão bem ditas.” Hart acrescentou secamente.

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O sorriso que se formou em meus lábios parecia fraco e sem graça. Eu nunca tinha pensado que iria ouvir Colton me chamando que querida. Inferno, nunca em um milhão de anos eu iria pensar que estaria sentada do outro lado dele. Eu realmente precisava me focar, mas isso era difícil. A adrenalina já tinha se dissipado e já era bem mais tarde que minha hora usual para dormir. “Um, depois que eu deixei cair minhas chaves, o cara com a arma, ele se virou para mim. Eu o vi. Ele... ele me viu.” Meus dedos apertaram o pobre lenço enquanto uma onda de pânico percorria meu corpo. “Eu me virei e corri. Ele deve ter atirado na minha direção, mas errou. A bala atingiu um prédio próximo.” Eu levantei minha mão para minha bochecha e imediatamente a deixei cair em meu colo. “Eu continuei correndo e foi aí que eu esbarrei no homem.” Detetive Hart fez mais algumas perguntas. Se eu percebi que eles tinham entrado em um carro? Não. Meu nome foi dito alguma vez? Não que me lembre. Eles disseram algo para o homem que atiraram? Não tinha certeza. Eventualmente, ele se levantou e saiu da sala para pegar algumas fotos que eles queriam que eu visse. Eu fiquei sozinha com Colton. Qualquer outra hora eu provavelmente estaria me comendo de nervoso, mas nessa altura eu mal estava registrando sua presença. Tudo que eu queria fazer era ir para casa e esquecer essa noite. “Abby?” Meu olhar levantou devagar ao som do meu nome. Sua voz estava profunda e áspera – uma voz controlada. Ele se inclinou para mim, colocando seu braço sobre a mesa. Pequenos pelos sombreavam seu braço. As poucas vezes que eu tinha visto ele nesses anos, eu não tinha estado tão próxima a ele, mas agora eu podia ver as pequenas diferenças entre o Colton que eu admirava de longe durante a escola e aquele sentado na minha frente, uns dez anos depois. Finas linhas tinham se

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formado em volta dos seus olhos. Seu maxilar estava mais rígido e essa sombra de barba era algo novo. Algo sexy. Eu realmente precisava parar de pensar, no geral. “Você tem certeza que está bem, Abby?” Ele perguntou, uma preocupação real em sua voz. Eu balancei minha cabeça enquanto um calafrio percorria minha coluna. “Sim. Não? Me desculpe. Só estou cansada.” “Posso imaginar.” Ele olhou para a porta enquanto movia seus ombros, como se estivesse se aliviando de uma câimbra. “Nós vamos te deixar ir para casa logo.” Me segurando na cadeira de metal, eu suspirei. “Esse... esse é o começo do seu turno ou...?” Os olhos azul cobalto de Colton voltaram para mim. “Eu normalmente saio as oito, mas trabalhamos em ciclos nos casos de homicídio. Era nosso final de semana.” “Desculpa,” eu sussurrei, e franzi o cenho. “Eu nem sei pelo que estou me desculpando. Deve ser difícil trabalhar nesses horários, ter que estar à disposição.” “Eu imagino que seja para alguns, especialmente aqueles com família.” Um lado de seus lábios se curvou para cima e, apesar da situação, meu estomago caiu um pouco. Ele levantou sua mão esquerda. “Obviamente, eu não sou casado. Eu não saberia.” Eu pensei sobre a loirona que eu tinha visto ele com no cinema. “Sem namorada?” Meus olhos arregalaram. Eu realmente perguntei isso? Aquele meio sorriso ficou ainda maior, revelando uma covinha na sua bochecha esquerda. “Não. Realmente não.”

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Realmente não? Mas que porra isso significava? Isso importava? Não. Nem um pouco. Eu abaixei meu olhar para a mesa. Um momento se parrou e eu não pensei sobre o que estava dizendo. Simplesmente... saiu. “Eu nunca vi ninguém morrer antes. Nunca vi o momento exato que a vida deixa o corpo. Eu sobrevivi uma morte. Com meus pais e depois com Kevin, mas...” eu tinha visto meu marido depois que ele havia morrido. Ele estava pálido, como uma estátua de cera de si mesmo e por mais traumatizante que isso fosse, não era nada comparado com testemunhar uma vida se extinguir. “Eu nunca vou esquecer essa noite.” “Não vai,” ele disse, e eu levantei meu olhar até o dele. “Eu não vou mentir para você. Isso vai ficar preso a você. Ver a morte desse jeito não é fácil. É algo sombrio que não se pode explicar nem entender.” Isso era totalmente verdade. “Você vê muito disso?” Sua cabeça se inclinou para o lado. “Eu já vi o suficiente, Abby. O suficiente.” A vontade de me desculpar ressurgiu, mas eu a afastei. Era um péssimo habito que eu tinha. Me desculpar por coisas que eu não tinha controle. Sem me desculpar, eu não tinha ideia do que dizer a ele. “Eu preciso te perguntar mais uma vez,” ele disse, toda a gentileza longe de seus olhos. Eles eram como farpas de gelo azul. “Você tem certeza que não ouviu o nome deles?” “Um dos caras estava falando – aquele que tinha a cicatriz, mas eu não ouvi o que ele estava dizendo. Eu estava... chocada demais pelo que estava vendo. Eu desejo que tivesse ouvido, mas eu não conseguia distinguir nada, mas eu tive a impressão que ele... eu não sei.” “Que impressão?” Ele se inclinou, seu olhar mais afiado. Sem ter certeza de que o que eu iria dizer estava correto ou se era mais um sentimento, eu apertei um pouco mais forte a cadeira. “Eu tive a impressão que ele não estava bem com o que estava acontecendo. Ele aprecia chateado. Ele tinha sua mão em seu cabelo. Assim.” Eu levantei minha mão para meu

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cabelo, que batia na altura dos meus ombros, e passei meus dedos por ele. “Ele parecia chateado. Eu sei que não é muito...” “Não, isso é definitivamente algo. Isso é bom.” “Como?” Colton sorriu um pouco. Sem covinhas. “porque se esse cara não estava gostando do que estava acontecendo, então ele pode se virar contra aquele que puxou o gatilho.” “Oh.” Esse pensamento fazia sentido. Ele ficou quieto por um momento. “Que jeito horrível da gente se esbarrar de novo, huh?” Meu sorriso em resposta não pareceu tão forçado quanto o anterior. “Yeah. Não é a melhor das circunstâncias.” Eu levantei a mão e coloquei meu cabelo atrás da orelha. Eu comecei a bocejar, totalmente derrubada pelo cansaço, mas o machucado no meu rosto me fez gemer. “Ow.” Colton tinha se se aproximado e antes que eu soubesse, eu conseguia sentir o cheiro do seu perfume. Era algo almiscaro, me lembrando do ar da montanha. Um único dedo foi colocado sob meu queixo, me assustando. O toque era simplesmente eletrizante, como uma dose de cafeína pura injetada na corrente sanguínea. O toque foi surpreendentemente carinhoso. Aquela suavidade de volta em seu olhar. E tinha se passado tanto tempo desde que eu fui tocada que pareceu algo intimo. Por algum motivo estranho, lágrimas começaram a se formar na minha garganta. Com certeza, haviam motivos mais que suficientes para que eu começasse a soluçar histericamente, mas a ultima coisa que eu precisava era chorar sobre Colton. Eu sabia que deveria me afastar dele porque o conforto que esse pequeno toque estava oferecendo era demais. A parede que eu tinha construído envolta de mim por causa do terror começou a ruir. “Aquele homem... o

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assassino? Ele me viu,” eu repeti com a voz rouca. “Se eu consigo descrever ele, ele consegue me descrever.” Minha voz ficou presa, falhando um pouco. “Isso é assustador.” “Eu sei que isso é assustador, mas confie em mim, Abby.” Aquele leve brilho estava de volta em seus olhos gelados enquanto sua mão se movia um pouco, seu dedão passando levemente pelo corte em minha bochecha. “Eu vou me certificar que você fique segura.”

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Capítulo Três Nenhumas das fotos que foram espalhadas na minha frente ou que estavam incluídas no álbum de foto mais bizarro que já vi tinham fotos dos homens que estavam no beco. Estranhamente, eu me sentia como se tivesse falhado. Eu queria ser possível de apontar para alguém e dizer que eram eles. Que os caras maus tinham sido encontrados e tudo isso teria acabado. Eu queria muito isso. Mas não foi o que aconteceu. Colton tinha sido chamado e, mesmo ele falando que voltaria, eu não o vi por um tempo enquanto saia da estação de policia e era guiada até meu carro pelo Detetive Hart. Eles entrariam em contato. Eu não tinha ideia do que isso significava e eu estava exausta demais para descobrir. O caminho do centro da cidade para a casa que eu comprei quando me mudei de volta não era rápido, mesmo perto das três da manhã. Mas por algum tipo de milagre, eu cheguei em casa, estacionei meu carro, subi os degraus e me deixei entrar. Foi só aí que me lembrei de que um dos meus saltos havia quebrado. Eu não me lembrava de como eu tinha pegado o sapato de volta. Talvez tenha sido o policial Hun? Ou foi Colton? Deus. Que não tenha sido Colton. Eu realmente não precisava que ele soubesse que tinha um pé do tamanho do de um homem das cavernas.

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Ligando a luz, eu rapidamente fechei a porta atrás de mim e comecei a tirar meus sapatos, agora arruinados. Meus dedos doeram, aliviados, enquanto eu encarava a escadaria estreita, diretamente de frente para a porta. Mais que tudo, eu queria subir aqueles degraus e me jogar na cama, mas eu me sentia totalmente suja e minha garganta parecia o deserto Mojave3. Essa sessão de casas havia sido construída no começo dos anos noventa então o piso térreo tinha o conceito de ser todo aberto. A sala de estar era aconchegante com um sofá e uma poltrona, arrumados em torno da TV e de uma mesa de centro. O espaço aberto à direita dava em uma sala de jantar que eu, honestamente, nunca usei. A maioria dos meus jantares era feitos no sofá. Todos os eletrodomésticos na cozinha eram novos, e eu tinha me apaixonado pelos balcões de granito cinza no momento que eu os vi. Eu liguei a luz da cozinha e fui direto para a geladeira. Que se fodam as dietas. Eu peguei uma lata de Coca, a abri e quase bebi tudo enquanto a porta da geladeira ainda estava aberta, exalando ar gelado. “Deus,” eu sussurrei, abaixando a latinha devagar enquanto eu fechava a porta da geladeira. “Essa noite...” Não havia palavras. Eu me virei e sai da cozinha, carregando a latinha de refrigerante e minha bolsa. Enquanto eu andava, passando a área de jantar, meu olhar foi para as fotos emolduradas que estavam na parede. Quando eu me mudei, eu tinha levado quase dois anos para pendurar aqueles retratos. Alguns eram mais fáceis que os outros. Como as fotos minhas com as meninas da faculdade, na Times Square4, ou a foto horrível da formatura da faculdade. Por algum motivo, eu terminei parecendo vesga nela. A maioria das pessoas iriam querer esconder essa foto, mas ela me fazia rir.

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Deserto de Mojave é o nome dado a parte mais elevada do Deserto da Califórnia, sendo que o Deserto de Sonora corresponde a sua parte baixa. 4 Famosa quadra em Nova York, repleta de comércios e onde é realizado a festa da virada de ano.

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Ela fazia Kevin rir. Meu olhar vagou até a foto dos meus pais. Ela tinha sido tirada na casa, na cozinha, em que cresci. Era a manhã de Thanksgiving 5e meu pai tinha assustado minha mãe, passando seus braços em volta da sua cintura por trás. Ambos estavam com um grande sorriso. Eles morreram em um acidente de carro quando eu estava no segundo ano da faculdade. Isso foi um grande choque. Lidar com a morte de ambos os pais de uma vez foi algo quase impossível, mas egocentricamente, eu tinha acreditado que essa seria minha única perda. Quero dizer, vamos lá, quais as chances de se perder outra pessoa que você ama de um jeito injusto e sem aviso como em outro acidente de carro? A única foto pendurada que eu tinha de Kevin era uma dele de pé, sozinho, no nosso casamento, vestindo um tuxedo que ele tinha alugado de uma loja barata na cidade. Era ao ar livre, no brilhante sol de Julho, e ele estava mais dourado do que loiro. Eu amava tanto essa foto porque ela capturou o calor em seus olhos castanhos. Esse era o Kevin. Sempre caloroso. Sempre acolhedor. Ele era o tipo de pessoa que nunca conheceu algo estranho. Eu pressionei meus lábios juntos enquanto encarava seu lindo rosto de menino. Quando os meses se tornaram anos, era mais difícil conseguir lembrar suas feições. A mesma coisa era com meus pais. Havia dias que todos poderiam aparecer perfeitamente na minha cabeça, tão claros quanto o dia, enquanto outras vezes eles não eram nada mais que fantasmas. Eu amava Kevin. Eu ainda amava. E eu sentia falta dele. Nós éramos um casal desde o colegial e ele foi o único homem que eu estive junto. Olhado para trás, eu sabia que não tínhamos o tipo de paixão que fazia meus dedos do pé se enrolarem ou que te fazia acordar no meio da noite, úmida e pronta, e que éramos simplesmente... familiares um com o outro, mas nós nos amávamos.

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Ação de Graças.

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E eu não me arrependia de nenhum segundo que passei com ele. Eu só me arrependia dos momentos depois disso porque eu sabia que Kevin iria querer que eu seguisse em frente, encontrar outra pessoa para amar. Ele não iria querer me ver sozinha. Minha garganta foi inundada e eu fechei meus olhos para evitar o rio de lágrimas. Me recompondo, eu continuei, indo para o andar de cima. Haviam três quartos mas um deles mal cabia uma cama, então esse tinha virado meu escritório. O que era perfeito porque o cômodo era virado para o quintal que havia abaixo, me permitindo procrastinar por horas quando eu deveria estar trabalhando. Eu passei pelo pequeno corredor e entrei no quarto principal na frente cada. O quarto era espaçoso, completo com seu closet e um banheiro conjugado. A jacuzzi tinha virado minha melhor amiga desde que eu me mudei. Ligando o abajur, eu coloquei minha bolsa sobre a poltrona cinza perto da porta. Peguei meu celular e o liguei no carregador sobre o criado mudo. Tudo que eu queria era me jogar de cara na cama, mas eu fui para o banheiro e tirei minhas roupas. Eu comecei a colocá-las no cesto de roupas sujas, mas em vez disso, eu as enrolei, incluindo meu sutiã e calcinha, e coloquei de canto para jogá-las fora amanhã de manhã. Eu não queria usar essas roupas de novo, nem vê-las de novo. Cansada, eu liguei a água e esperei, de costas para o espelho sobre a pia, até a agua esquentar-me um nível escaldante, do jeito que eu gostava. Eu tentava não olhar para mim mesma no espelho quando eu estava completamente nua. Eu não gostava de ver meu reflexo. Eu não estava... confortável com ele. Não eram os pequenos furos em certas partes do meu corpo que não me deixavam confortável. Não era nada físico. Ou talvez fosse, porque eu não me sentia... ligada a minha própria pele há um tempo. Eu sabia que isso parecia

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loucura, mas era como se eu não conhecesse mais meu corpo. Ele era algo que eu usava. Eu não era intima com ele além de usar meu vibrador de sempre. Talvez eu tenha passado tempo demais sem intimidade. E essa noite, pela primeira vez em anos, eu senti algo quando Colton tocou meu queixo. E o quão triste isso era? O cara tinha tocado meu queixo e essa foi à coisa mais próxima a uma atração física que eu senti depois de Kevin. Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, eu estava na cama, mas não conseguia dormir. Eu encarei o teto, para o ventilador silencioso, e eu não conseguia parar de pensar no homem que morreu hoje à noite. Ele tinha família? Uma mulher que iria receber essa batida horrível em sua porta? Ele tinha filhos? Seus pais ainda estavam vivos e iriam ter de enterrar o próprio filho? Eles pegariam o responsável? Eu deveria temer algo? Movendo-me, eu peguei o controle remoto e liguei a TV, mantendo o volume baixo, mas isso não ajudou a alinhar meus pensamentos. Eu tinha visto alguém morrer. Apertando meus olhos fechados, eu virei de lado e pela primeira vez em anos, eu chorei até dormir.

Na manhã seguinte, eu estava de pé, em frente a minha cafeteira, com meus olhos cansados e impaciente, enquanto esperava pela felicidade pura terminar de ser preparada. Tudo que eu tinha conseguido fazer foi prender meu cabelo em um coque bagunçado, mas as mechas mais curtas já tinham se soltado e estavam espalhadas em todas as direções. Em outras palavras, eu estava com uma péssima aparência, mas eu realmente não me importava enquanto passava o café e o colocava em uma xicara cheia de açúcar, e ainda ficava ali de pé, tomando meu primeiro, então o segundo, e o terceiro gole enquanto friagem subia pelos meus pés descalços.

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Eu tinha perdido a hora. Bem, quando se dorme até depois das oito da manhã, nos dias de hoje, era perder a hora. Já eram quase nove antes que eu conseguisse sair da cama. Isso não era nada demais. A única coisa que eu tinha planejada para hoje era encontrar com Jillian Lima para um jantar. Eu conheci Jillian em uma sessão de autógrafos na livraria da cidade. Ela quase dez anos mais nova que eu, mas a diferença de idade rapidamente evaporou. Jillian era dura na queda. Ela era incrivelmente tímida, mas seu amor pelos livros cruzava barreiras. Graças aos nossos atores e temas favoritos nós ficamos amigas e, uma vez que ela descobriu no que eu trabalhava, ela começou a se abrir. Durante o ultimo ano, nós nos encontrávamos todo domingo à noite para discutir livros durante o jantar. Às vezes íamos assistir a um filme ou eu iria sentir sua falta. Na primavera, ela iria se transferir para uma faculdade em West Virginia. Eu ainda não sabia por que ela estava fazendo isso. Essa era uma pequena informação que eu não conseguia tirar dela. Eu tinha acabado de tomar meu café quando a campainha tocou, me surpreendendo. Eu não estava esperando ninguém. Deixando a xicara sobre o balcão, eu andei pelo chão e espiei pela janela, mas como sempre haviam carros estacionados na frente que eu não conhecia, eu não dei importância. Revirando meus olhos, eu peguei a maçaneta da porta, xingando pelo fato que eu não tinha um olho mágico. Minha boca caiu aberta e eu inalei, minha habilidade de formar pensamentos coesos sumindo. Colton Anders, em toda sua glória de olhos azuis, estava na minha porta. “Bom dia Abby.”

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Capítulo Quatro Eu estava além de conseguir responder. Ele estava ali de pé, com uma caixa de tamanho médio, rosa, em uma mão e a outra enfiada no bolso de suas calças. A sua sombra de barba estava mais forte, dando a ele uma aparência rustica que minha mente levemente sombreada pelo sono achava extremamente sexy. Okay. Eu iria achar isso sexy em qualquer momento. Qualquer. Momento. Ele estava vestido como na noite anterior e eu tinha a impressão que ele ainda não tinha dormido, o que realmente não era justo porque como ele poderia parecer assim tão bem sem dormir? Um lado de seus lábios se curvou para cima, revelando a covinha esquerda. “Posso... entrar? Eu trouxe crepes comigo.” Eu pisquei. “Você gosta de crepes, certo? Você tem de gostar deles.” Ele adicionou, sorrindo. “Todo mundo ama crepes e esses são ótimos. Eles são envolvidos em canela e açúcar mascavo.” “Eu... eu gosto deles.” Minha bunda também gostava. Me afastando, eu dei um passo para o lado. “Como você sabe onde moro?” Colton entrou, seu queixo baixo. Eu não era baixa, tendo quase um metro e setenta, mas parada ao seu lado, eu me sentia pequena, até mesmo delicada, e isso era estranho. “Estava em seu depoimento. Eu provavelmente deveria ter ligado antes, mas eu estava em meu caminho para casa da delegacia e sua casa ficava no caminho. Assim como a padaria.”

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Eu não sabia o que falar enquanto fechava a porta atrás dele, mas meu coração estava palpitando no meu peito e meu estomago estava revirado de um jeito estranho, meio como eu tinha visto ser descrito milhões de vezes. Borboletas. Mas mais poderoso. Como pássaros de rápida ou pterodátilos. “Você mora aqui perto?” Seu sorriso ficou maior. “Eu moro na estrada de Plymouth.” Isso não era nem um pouco perto da minha casa. As borboletas ficaram mais fortes. “Oh. No condomínio de apartamentos?” Ele concordou. “Eu te acordei?” “Não. Eu...” Foi ai que eu percebi que não estava usando nada além de um shorts e uma camiseta velha que praticamente não escondia nada. Eu nem precisava olhar para meus mamilos para saber que provavelmente eles estavam aparecendo. E minhas coxas? Oh, bom Deus. Meu cabelo. “Eu sinto cheiro de café,” ele disse, olhando em direção à cozinha. “Então vou adivinhar que não estava?” Ele falou como se ele não tivesse percebido que eu estava com o farol aceso e com uma vassoura na cabeça, mas de novo, porque alguém como Colton iria reparar nisso em primeiro lugar? Minha atenção se voltou para a escadaria. Grande parte de mim queria correr para o andar de cima e colocar um casaco. Ou pelo menos um sutiã. Eu realmente precisava colocar um sutiã. “Não, Você não me acordou,” eu disse, olhando de volta para ele. Ar fugindo dos meus pulmões de repente. Colton não estava olhando para meu rosto. Ele estava olhando para baixo da linha dos ombros, seu olhar permanecendo mais em algumas áreas do que outras. Como na barra do meu shorts e em meu peito, como se ele estivesse tentando decorar as palavras Penn

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State. A ponta dos meus seios começou a formigar. Seu olhar vagou, vagarosamente, para meu rosto e aqueles olhos azuis... eles me lembravam do núcleo de uma chama. Calor cresceu dentro de mim, infiltrando minhas veias. A intensidade foi chocante. Foi tanto que eu dei um passo para trás. “Eu vou... eu já volto.” Aquele meio sorriso continuou no lugar. “Se importa se eu pegar café?” “Não. Nem um pouco.” Eu fui em direção à escada. “Se sinta em casa.” Virando-me, eu corri escada à cima para meu quarto. Uma vez do lado de dentro, eu pressionei minhas palmas contra minhas bochechas quentes. “Oh meu Deus.” Fui para o banheiro e vi que, graças a Deus, meu rosto não estava vermelho como sangue, mas minhas bochechas estavam coradas e meu olhos castanhos estavam mais marrons que verdes, meio brilhosos. Febris. Ligando a água gelada, eu me inclinei sobre a pia e rapidamente joguei água em meu rosto. Oh Deus, eu só tinha lido sobre homens que encaravam mulheres de um jeito que parecia um toque físico. Eu não acreditava que isso era possível. Mas era. Me endireitando, eu peguei minha escova de dente e rapidamente fiz o trabalho, tudo enquanto eu tentava voltar para a realidade. Não precisava ser um gênio para perceber que Colton estava aqui pelo que aconteceu ontem à noite. Nâo havia outro motivo, então eu precisava manter minha imaginação fértil onde ela pertencia, no meu trabalho. Sim, era estranho ele simplesmente aparecer, mas talvez ele sentisse que precisava me contar algo pessoalmente. E me olhar daquele jeito? Talvez ele estivesse apenas lendo minha camiseta. Okay. Isso era estupido. Definitivamente ele estava olhando para meus seios, mas ele era um homem e eu uma mulher, então essas coisas aconteciam. Especialmente quando seus mamilos estão alerta e você não está usando um sutiã.

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Eu peguei um sutiã e calças de yoga que eu nunca, na minha vida toda, usei para fazer yoga. Eu rapidamente reenrolei meu cabelo e resisti à vontade de colocar maquiagem. Nessa altura do campeonato, se eu voltasse lá para baixo com um brilho cor de pêssego e cílios definidos, isso seria obvio demais. Eu não conseguia acreditar que Colton Anders tinha me visto sem sutiã antes que eu tivesse minha primeira dose de café. O que aconteceu com a minha vida? Ugh. Ignorando o incomodo em meu estomago, eu voltei para o andar de baixo. O que vi tinha a sensação mais estranha e doce juntas. Colton tinha colocado a caixa de crepes na mesa de jantar e levado minha xicara de café para o lugar no canto, onde ele estava sentado, na cabeça da mesa. Uma xicara fresca de café estava na frente dele. Havia até pratos e ele encontrou meus guardanapos. E talheres. Isso era tão... familiar, e intimo. “Como você está depois de ontem à noite?” ele perguntou, sem olhar para cima. “Okay, eu acho. Quero dizer, estou tentando não pensar sobre isso.” Exceto que eu era uma péssima mentirosa. Quase tudo que eu pensava tinha a ver com ontem à noite. Ele olhou para cima e o canto de seus lábios se curvou. “Tenho de dizer, eu meio que preferia mais o que você estava usando antes.” Minhas bochechas coraram enquanto eu ia em direção à mesa. “Você deveria estar exausto então.” Uma sobrancelha levantou. “Oh, querida, eu nunca estou cansado para apreciar uma mulher bonita que acabou de acordar e ainda está andando por ai de pijama.”

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Eu me sentei, olhando ele como se ele fosse um extraterrestre. “Eu não sabia que você era encantador.” “Mais como um flertador descarado,” ele corrigiu, abrindo a caixa de crepes. “Obviamente, não sou bom nisso.” Colocando minhas mãos em meu colo, tudo que eu consegui fazer foi assisti-lo pegar um crepe e colocá-lo em meu prato. Será que ele estava dizendo que estava tentando flertar comigo? Isso, definitivamente, não era o protocolo de um detetive. Bem, isso fora dos livros de romance. “Eu ainda estou chocado por ser você naquela sala quando entrei. Deus. Quantos anos se passaram? Anos demais.” Ele se moveu, colocando o outro crepe em seu prato. “Estou realmente sentido de saber sobre Kevin. A única coisa que eu aprendi é que a vida não é uma garantia. Nunca.” “Isso é verdade.” Olhei para o crepe. Parecia delicioso, mas meus nervos estavam bloqueando meu apetite. “É difícil de lidar e de seguir em frente, mas você o faz, mesmo quando em vários momentos você pensa que essas coisas não vão acontecer.” “E você conseguiu?” Ele pegou o garfo e a faca, cortando o crepe. “Seguiu em frente?” “Eu...” A pergunta me pegou despreparada e eu olhei para a foto de Kevin. “Isso foi há quatro anos e eu... eu sempre vou amá-lo, mas eu... eu encerrei esse capítulo da minha vida.” Seu olhar encontrou o meu e ele não desviou enquanto levantava um pedaço de crepe até sua boca. Ele comeu com puro prazer, como se fosse o primeiro e o ultimo pedaço de comida que ele tinha provado, e eu não pude deixar de pensar que se ele comia comida com tanto gosto, como ele seria comendo... Eu cortei essa linha de pensamento e rapidamente voltei minha atenção ao meu prato. Oh, meu Deus, o que havia de errado comigo? Por que eu estava

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pensando sobre Colton comendo... bem, definitivamente não comida. Então, novamente, quem não pensaria nisso ao ver aqueles lábios cheios? “Então, o que você anda fazendo Abby?” Meu queixo levantou enquanto meu coração se virava, pesado. “Eu me formei em Penn State. Trabalhei em New York para uma editora.” Suas sobrancelhas arregalaram. “Mesmo? Isso é impressionante.” Eu dei de ombros. “Bem, não foi um trabalho fácil de conseguir. Eu tive que dedicar muito tempo. Por sorte, eu consegui passar o verão estagiando enquanto estava na faculdade. Isso ajudou a conseguir conexões, mas eu ainda era assistente de edição quando sai. Kevin trabalhava em outra editora. Ele chegou a editor sênior em tempo recorde, claro.” “Por quê?” Ele praticamente tinha acabado com seu crepe. Eu sorri. “A indústria de publicações amam seus meninos.” “Interessante. Eu não sabia disso.” Ele pausou. “E você foi embora depois que Kevin morreu?” Eu concordei. “Eu só... bem, eu não era fã da cidade. Mesmo Philadelphia não se parece em nada como New York. Era só caro demais e eu não via um motivo para ficar lá depois.” Ele pegou um segundo crepe. “E você ainda trabalha como editora?” “Freelancer.” Eu me movi, colocando uma mecha de cabelo que havia se soltado atrás da minha orelha. “Eu ainda faço trabalhos freelance para editoras e indies.” “Indies?” Seu tom carregado com curiosidade genuína.

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“Autores independentes – aqueles que não trabalham para uma editora. Agora, eu estou trabalhando na nova estória da Jamie McGuire 6. Ela se chama Other Lives7, e é incrível. Mas, às vezes, o trabalho é difícil.” “Por quê? Lidar com os autores?” Eu ri. “Todos os autores que eu trabalhei foram ótimos. E Jaime? Ela pode ser intensa, mas ela é um amor. Às vezes eu só sou péssima em lembrar que isso é um trabalho. Que eu preciso prestar muita atenção, mas eu me envolvo na história e a próxima coisa que sei é que eu tenho que voltar e reler o capítulo todo. Espero que ela me contrate para o próximo livro dos Irmãos Maddox. Eu sou uma grande...” Eu ri, meio consciente do que estava fazendo. “Desculpe. Eu meio que posso ser uma fangirl.” “Tudo bem.” Eu mordi meu lábio. “Não tem nada mais incrível do que ver um livro que você trabalhou ser comentado e amado ou quando chega a alguma lista. Você se sente como se fosse parte de algo grande.” Colton estava sorrindo enquanto me observava. “Você realmente ama seu trabalho.” “Eu amo livros,” eu disse simplesmente. “Não tem nada mais poderoso do que a palavra escrita. Ela pode te transferir para lugares que existem e que você nunca vai ter chance de visitar ou te levar para um mundo que não existe. Eles podem te mostrar coisas que você nunca vai poder experimentar na sua vida, e livros... acima de tudo, eles podem te tirar do seu mundo e, às vezes, isso é tudo que você precisa.” “Eu consigo entender.” Ele ainda estava me olhando de perto com aqueles olhos intensos azuis.

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Autora de livros New Adult. Mais famosa pela série Belo Desastre. http://www.jamiemcguire.com/ 7 Realmente um livro planejado pela autora para ser lançado. Ainda sem data e sem sinopse. http://www.goodreads.com/book/show/23251134-other-lives

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Um momento de silêncio passou entre nós. “Tenho certeza que você não veio aqui para ouvir isso tudo.” Ele abaixou seu garfo. “Na verdade, yeah, eu vim.” Eu pisquei. “O que?” Colton se inclinou na minha direção, seu olhar preso ao meu. “Eu não conhecia você no colegial, mas eu sabia sobre você.” “Você sabia? Não consigo imaginar que fosse algo interessante. Eu era tediosa como...” “Eu nunca tive a impressão que você fosse tediosa.” Ele me interrompeu e, por deus, eu podia me afundar naqueles olhos e nunca mais voltar. Por mais bobo que isso soasse, e se eu visse isso em algum livro eu iria dizer para mudar, mas agora eu entendia. Era possível. “Eu só pensava que você era essa linda menina que se sentava duas carteiras atrás de mim e que era tímida.” Várias coisas passaram pela minha cabeça. Ele lembrava que nós tínhamos aula de história juntos? Puta merda. E ele achava que eu era bonita? Eu provavelmente pesava mais naquela época e usava esses óculos horríveis e que hoje são moda. Colton estava flertando. “Olhando para trás, eu gostaria que tivesse tido bolas suficientes para falar com você.” Ele voltou sua atenção para o crepe enquanto minha boca caia na mesa. “Mas você estava com Kevin e,... yeah, esse não sou eu, você sabe?” Ele olhou em minha direção. “Você vai comer esse crepe, né?” “Yeah,” eu murmurei, cortando um dos lados. Eu me forcei a comer um pedaço e foi como se estivesse explodido um orgasmo na minha boca. Wow. Isso era inapropriado. Eu resisti à vontade de rir. “E você? Você esteve trabalhando como policial esse tempo todo?” “Yep. Sempre foi o que quis fazer. Eu comecei como um oficial e virei detetive do condado antes de ser transferido para a cidade. Eu amo o trabalho

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como detetive, mas com minhas horas todas bagunçadas, Reece, meu irmão, meio que interveio e adotou meu cachorro. Ela nem fica mais na minha casa.” Ele terminou o segundo crepe com uma rapidez incrível e se encostou-se à cadeira, esticando suas longas pernas. “Eu quase me casei.” Graças a Deus eu tinha acabado de engolir o pedaço de crepe porque havia uma boa chance que eu tivesse engasgado. “Quase?” “Fiquei noivo.” Ele sorriu e eu senti meu estomago afundar em resposta. “Nicole e eu estávamos juntos por... inferno.” Ele olhou para o teto, fazendo careta. “Por seis anos.” Puta merda, seis anos? Isso era um bom tempo. Eu imaginava se ela era a mulher que eu tinha visto ele no cinema daquela vez, mas isso foi ano passado, acho. “Chegamos ao ponto de decidir a data do casamento quando percebemos que queríamos coisas diferentes da vida.” Eu peguei meu café, mais intrigada do que deveria estar, mas eu não conseguia imaginar o que essa mulher misteriosa pudesse querer além de um anel de Colton. Com certeza, haviam mais coisa para a vida, para um relacionamento, além de ter um cara desses para se acordar junto, mas Colton e seu irmão mais novo, Reece, sempre tiveram essa vibe de serem os caras bons. Colton até poderia ter mudado desde a época do colegial, mas eu achava que não. “Como?” “No começo eu acho que Nicole gostava da ideia de namorar um policial.” Ele riu enquanto passava seu dedo pela borda da sua xicara e, merda, ele tinha dedos longos. “Mas não é uma vida fácil. As horas são estranhas. Então tem o fator de perigo. Eu faço um dinheiro decente, mas eu nunca fui de esbanjar. Eu acho que ela esperava que eu me cansasse de ser policial.” Eu não entendia. “Mas vocês ficaram juntos por muito tempo. Por que ela iria pensar que isso era algo que você iria se cansar?” Ele levantou um ombro. “Acho que algumas pessoas apenas fingem estar bem com algo porque elas acham que vai haver algum tipo de recompensa

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no final. Que eles vão, eventualmente, ter o que querem e quando eles percebem que isso nunca vai acontecer, eles só não conseguem mais fingir.” Eu balancei minha cabeça. “Eu ainda não entendo. Por que alguém iria perder seu tempo fingindo – fazer outra pessoa perder seu tempo? Não tem porque fingir algo em um relacionamento. Isso nunca funciona.” Seus cílios escuros abaixaram, encobrindo seus olhos enquanto um pequeno sorriso aparecia em seus lábios. “Concordo.” Dando mais um gole no meu café, eu tentei ignorar as milhares de perguntas que estavam fluindo na minha cabeça. Eu olhei para ele enquanto abaixava minha xicara e nossos olhares se encontraram. Ar escapou pelos meus lábios. Colton não olhou para longe, e nem eu. Absolutamente presa pela intensidade do seu olhar, as pontas de excitamento em minha barriga se transformaram em uma pequena queimação que fez meus batimentos acelerarem. Como um simples olhar poderia me fazer reagir assim? Ele abaixou seu olhar, e eu inalei profundamente, sentindo o calor viajar pelas minhas veias. Ele estava olhando para minha boca de novo? Oh Deus, estava ficando quente aqui. Por Deus, esse homem... mesmo seu olhar era puramente... puro pecado. Eu limpei minha garganta. “Então... um, quando você e Nicole se separaram?” “Há uns seis meses atrás.” Gelo substituiu o calor enquanto minha expressão ficava nula. Seis meses? Isso não era a muito tempo, especialmente considerando que eles estavam prestes a se casar e que estavam juntos por seis anos. Seis meses era... era nada. Depois que eu perdi Kevin, seis meses não mudaram nada em mim. Como ele poderia ter superado um relacionamento em apenas seis meses? E isso importava? Não, não importava, mas não tinha como negar a ponta de decepção. Eu queria bater em mim mesma.

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Colton se inclinou para frente. “Eu tive outro motivo para vir. E é sobre o que aconteceu ontem à noite.” “Claro,” eu murmurei, colocando um sorriso em meus rosto enquanto tinha vontade de sumir de novo. Ele me olhou estranhamente. “Eu não quero entrar nos mínimos detalhes...” “Eu posso lidar com eles.” Ou, pelo menos, eu achava que podia. Eu tinha certeza que poderia. Aquele meio sorriso estava de volta. “Quando me chamaram no meio da nossa conversa, foi porque o necrotério tinha pegado o... o corpo e ele tinha evidências. Claro, nós sabemos a causa da porte, mas eu queria parar para dizer que provavelmente teremos a identificação ainda hoje.” “Oh.” Eu tomei mais um gole do meu café morno. “Eu também queria que você me contatasse imediatamente se você visse qualquer coisa estranha, okay?” Alcançando seu bolso, ele pegou um cartão de visitas e o colocou sobre a mesa. Meu olhar caiu para o cartão. Tão formal. “O que poderia ser estranho?” “Apenas se você notar alguém por perto daqui e que você não conhece. Qualquer coisa que te dê uma má impressão. Esse tipo de coisa.” Eu olhei para ele, a inquietação de antes voltando. “Eu deveria estar preocupada?” “Não.” O sorriso que ele me deu não atingiu seus olhos. “Apenas sendo cuidadoso.” Isso realmente não me fez me sentir melhor, mas será que ele não poderia ter apenas me ligado? Se ele tinha meu endereço então ele tinha meu celular. Seu sorriso se transformou e seu rosto ficou mais suave. “Yeah, eu poderia ter ligado para te dizer isso.”

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Meu queixo caiu e eu quase deixei minha xicara cair junto. “Você consegue ler mentes? Oh, cara, espero que não.” Seu olhar fez aquele pequeno desvio de novo. “Agora eu fiquei curioso para saber o que eu iria descobrir se pudesse.” Eu arregalei meus olhos e não disse nada porque, sério, minha mente estava a um passo de me fazer passar vergonha quando ele estava por perto. Movendo, ele bateu em meu braço com seus dedos. “Eu não queria apenas te ligar.” “Oh,” eu repeti. Deus, essa conversa estava indo no caminho errado. E não era culpa minha. O toque dos seus dedos tinha mandado um calafrio pelo meu braço. “E eu queria os crepes,” ele continuou. “E quando você quer crepes, você quer dividi-los com uma mulher bonita.” Minha boca se abriu mas as palavras não saíram. Ele riu enquanto se levantava. “Eu tenho que ir.” “Okay,” eu murmurei, colocando minha xicara na mesa. Eu levantei, seguindo ele até a porta e, quando ele parou de repente, eu quase bati em suas costas. Seu sorriso brincalhão fez mais uma aparição. “Desculpa.” Colton inclinou sua cabeça para o lado. “Eu manterei contato, Abby.” Enquanto ele saia e eu fechava a porta atrás dele, eu me inclinei para frente, gentilmente pressionando minha testa contra ela enquanto tentava parar meus pensamentos de vagarem e tornar isso uma coisa maior do que era. Mas foi difícil. “Ugh.” Eu pressionei minha testa contra a porta e gemi. Colton era um flertador – um descarado. E era isso que ele deveria estar fazendo porque não tinha como isso ser nada além. Afinal, como poderia? Não

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quando ele estava noivo a seis meses atrás, e ele não tinha dito quem havia terminado o relacionamento. Além do mais, eu não era seu tipo. Eu não estava me menosprezando ao saber disso. Colton era... ele era lindo. O tipo de beleza masculina que poderia estampar capas dos livros que eu editava, e ele também era gentil – charmoso e, pelo que me lembrava, inteligentíssimo. E eu? Eu era o tipo de mulher que sempre terminava com esses caras nos livros. Mas não na vida real. Nunca na vida real.

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Capítulo Cinco “Oh meu Deus, isso é tão assustador.” Jillian afastou sua franja castanha de seus olhos arregalados. “Você está bem?” “Estou ótima.” Um pouco de corretivo ajudou a cobrir os cortes no meu rosto e as minhas palmas só incomodavam de vez em quando. “Foi assustador e tão inesperado.” “Quem iria esperar isso? Ugh.” Jillian olhou para seu prato vazio. Nós tínhamos atacado nosso jantar e, depois, cheesecake. “Eu nem posso imaginar. Provavelmente eu teria corrido, gritando e fazendo um escândalo, na direção oposta.” “Foi praticamente o que fiz.” Eu olhei para o pequeno pedaço da torta ainda em meu prato e me perguntei o quão gulosa eu seria se comesse esse pedaço. “E é provavelmente por isso que você ainda está viva,” ela respondeu. “Mesmo meu pai teria tido trabalho em lutar do que apenas fugir.” O pai de Jillian era dono da Lima Academy, e o prédio que ficava no centro da Philadelphia era bem mais do que apenas uma academia. Era um daqueles centros sofisticados de treinamento de Mixed Martial Arts 8. O pai de Jillian era especialista em jiu-jitsu brasileiro e provavelmente teria usado suas habilidades ninjas para derrubar os caras. “Falando no seu pai, como ele está lidando com a ideia de você ir embora na primavera?” eu perguntei, mudando de assunto. Ela se encolheu enquanto se inclinava contra o assento do banco, cruzando seus braços sobre seu peito. Seu rosto estava tenso. “Ele ainda não está exatamente animado sobre isso. Ele não gosta da ideia de não estar à vista.

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MMA = Artes Marciais Mistas

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Como se algo fosse ac...” ela se cortou, balançando a cabeça. “De qualquer maneira, você ainda quer ir para aquela noite de autógrafos na terça?” “Tiffany King9? Claro que sim.” Eu relaxei quando um sorriso genuíno apareceu no rosto dela. As conversas sobre seu pai normalmente eram um beco sem saída. “Ela vai estar autografando A Shattered Moment10. Jillian tirou novamente sua franja do rosto. “Eu amo esse livro. Não vai ter outro autor lá com ela?” “Yeah, eu acho que Sophie Jordan11 e Jay Crownover12 vão estar lá.” Eu olhei para as pessoas que passavam pela nossa mesa. “Você quer me encontrar na livraria?” Ela concordou enquanto pegava seus óculos. “Então,” ela arrastou a palavra. “Esse tal de Colton que você mencionou? Vocês frequentaram a mesma escola?” Tive de conter um suspiro. Eu não sabia por que mencionei ele, mas eu tinha, e eu era mulher suficiente para admitir que eu queria ficar obcecada por cada detalhe que ele havia dito para mim, mas tudo que consegui fazer foi concordar. Jillian virou sua cabeça para o lado e atirou um longo olhar. “Você sabe, quando você mencionou ele antes, você corou.”

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Autora de livros Young adult/New Adult. Mais famosa pelo título Wishing for Someday Soon. http://authortiffanyjking.blogspot.com/ 10 Mackenzie Wilson tinha esperança pelo que a vida poderia oferecer, mas tudo mudou na noite da sua formatura. Um ano depois, o único jeito que ela consegue encontrar conforto é mantendo sua cabeça baixa e esperando que ninguém a note na faculdade. Quando Bentley James descobre Mac naquela SUV estranha, ele era apenas um paramédico novato em seu primeiro atendimento. Foi algo difícil que o fez perceber que nem todos podem ser salvos e, às vezes, eles não querem ser. Um encontro sem querer no meio do campus traz Bentley de volta a vida de Mac. Apesar de sua resistência inicial, ele está tentando descobrir a menina que se esconde atrás de um escudo de reclusão. Ele trás de volta memórias dolorosas para Mac, mas ele também trás sentimentos. Quando a faísca entre os dois cresce, Mac precisa decidir se ela pode abandonar o passado e acreditar em algo frágil como o amor. http://www.goodreads.com/book/show/23281939-a-shattered-moment 11 Autora de livros Young adult/Romances Históricos. Mais famosa pela série Firelight. http://www.sophiejordan.net/ 12 Autora de livros New Adult. Mais famosa pela série Marked Man. http://www.jaycrownover.com/

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“Não.” “Sim, você corou.” Meus olhos se estreitaram e eu ri porque, yeah, eu provavelmente corei. “Eu tinha uma queda por ele no colegial, e eu sei que isso é horrível porque eu estava com Kevin, e que isso faz de mim uma péssima pessoa.” “Não, não faz.” Ela revirou os olhos. “Só porque você estava com alguém não significa que você era cega para o mundo.” “Verdade.” Eu pausei. “E Colton era gostoso.” Jillian riu. “Era?” “E agora ele adicionou um ‘t’ e o ‘o’ extras em gostoso. Ele... ele se lembrou de mim. Ele sabia qual classe tínhamos juntado.” Ela levantou uma sobrancelha que desapareceu por baixo da sua franja. “Mesmo?” Eu concordei enquanto enrugava meu nariz. “E eu acho que ele estava flertando comigo. Okay. Ele estava definitivamente flertando comigo, mas eu acho que ele gosta de flertar. E caras que são assim vão flertar com qualquer uma.” Eu pausei. “Me pergunto, quantas vezes é possível dizer a palavra ‘flertar’ em uma frase?” Jillian deu um grande sorriso. “Oh, eu sei tudo sobre caras que flertam com qualquer coisa que respire.” Ela olhou para a mesa vazia. “De qualquer modo, ele pode estar interessado?” “Ah, e eu não sei isso.” Não resistindo, eu peguei o ultimo pedaço da torta. Ela franziu o cenho. “Por quê? Você é inteligente e engraçada. Você é linda e você ama livros. Por que ele não estaria interessado?” “Obrigada,” eu ri. “Mas ele estava noivo até seis meses atrás.” “Oh.” Ela fez bico.

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“E eu não estou julgando o fato dele ter tido um relacionamento sério antes, porque eu também tive, mas...” Me cortei, rindo de novo. “Por que eu estou pensando desse jeito? Eu o vi ontem à noite porque ele é o detetive investigando um homicídio que eu testemunhei, e ele apareceu essa manhã.” Eu balancei minha cabeça, afastando esses pensamentos. “Eu nem quero pensar nisso desse jeito.” “Eu não sei,” ela respondeu depois de um tempo. “Mas toda essa coisa meio que me lembra de um romance.” Outra risada escapou de mim. “Com certeza lembra, exceto que na vida real isso nunca funciona.” A verdade era que, mesmo que essas coisas só acontecessem nos livros, eu secretamente sonhava que acontecesse comigo. Meio que uma versão adulta de um conto de fadas. Ela deu de ombros enquanto seu olhar divagou e sua expressão suavizou. “Eu não sei nada sobre isso. Eu quero acreditar – eu preciso acreditar – que o final feliz existe na vida real também.” Naquele momento, ela pareceu bem mais velha que seus dezenove anos. “Para todas nós.”

Depois do jantar, eu parei no mercado para pegar alguns itens necessários para trabalhar. Café. Energético. Skittles Chocolate Coca Zero.

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Sem essas coisas, eu não tinha serventia quando se tratava de edição. Quando eu trabalhei em New York, eu tinha uma gaveta na minha mesa cheia dessas cinco coisas. Havia uma pequena brisa quando sai e, enquanto voltava para fora. Eu coloquei meu carrinho de compras no lugar e segurei a sacola forte. Mesmo que fosse sábado à noite, eu estaria trabalhando uma vez que voltasse para casa e tivesse colocado meu moletom confortável. Trabalhar em casa significava que eu tinha um horário esquisito. Ou, em outras palavras, eu simplesmente trabalhava todos os dias. Eu, com certeza, trabalhava mais agora do que quando eu tinha de ir para um escritório todo dia. Naquela época era fácil separar a casa do trabalho. Agora, nem tanto. Enquanto me aproximava do meu carro, meus passos ficaram mais devagar. Quando eu tinha entrado na loja, o lugar ao lado do meu carro estava vazio, e eu tinha passado por vários lugares vagos no meu caminho para dentro e para fora, mas agora havia uma van parada ao meu lado. Não qualquer van. O tipo estranho, branca e sem janelas, o tipo que um sequestrador usaria. Meu estomago afundou enquanto parava a alguns metros da van. Talvez eu estivesse apenas sendo paranoica depois da noite passada. Ou, talvez, tinha a ver com Colton me alertando sobre prestar atenção em qualquer coisa estranha, mas de qualquer modo, uma pequena bola de inquietação se formou no estomago. A sacola estava machucando meus dedos e o pacote de Coca-Cola estava ficando mais pesado. O que eu iria fazer? Largar minhas compras e correr? Ligar para Colton porque tinha uma van estranha parada ao lado do meu carro? Deus, eu assistia muito o canal Investigation Discovery. Então, antes que eu pudesse me decidir, a porta do lado do passageiro da van se abriu e um homem saiu. Meu coração acelerou. Ele não parecia com

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alguém que estava saindo da sua van de trabalho. Não tinha como. Eu não estava tentando ser uma pessoa que julgava os outros, mas suas calças escuras com uma blusa azul marinho para dentro e seus sapatos polidos não combinavam com a van enferrujada. Óculos escuros obscureciam seus olhos, mas eu tinha a impressão que ele estava me encarando. Provavelmente porque eu estava parada ali como uma idiota, mas de novo, nessa hora do dia, eu não conseguia entender o motivo dos óculos escuros. Ignorando o calafrio que percorreu minha espinha e meus dedos que formigavam, eu comecei a andar de novo, totalmente preparada para transformar a sacola de compras em uma arma mortal. “Está uma noite gostosa, não?” o homem disse. Meus dedos doloridos apertaram ainda mais a alça da sacola de plástico. Eu não sorri. Eu não respondi. O fator estranho estava sobre a mesa e, enquanto eu me aproximava da parte de trás da van, eu dei um grande salto, pronta para que uma horda de palhaços me sequestrassem. Claro que, as portas não se abriram. Eu iria andar para o lado do passageiro e tentaria ver se havia mais alguém na van antes que eu abrisse a porta do lado do motorista. Parecia legítimo. “Seu nome é Abby, certo?” o homem disse. O ar congelou em meus pulmões, como se eu tivesse acabado de entrar em um lugar com a temperatura abaixo de zero. Pequenos cabelos em todo meu corpo se eriçaram como se um exercito de baratas estivesse correndo sobre minha pele. Eu olhei sobre meu ombro para ele. Ele estava perto da parte de trás da van com um sorriso assustador. Um sorriso frio. Predatório. “A Abby Ramsey, nascida e criada em Plymouth Meeting? Casada com seu namorado do colegial que tragicamente morreu em um acidente de carro há uns quatro anos atrás. A mesma Abby Ramsey que trabalha em casa como editora freelance?” Puta merda.

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Puta merda, por tudo que é mais sagrado. “Yeah, essa é você.” Ele continuou. “Você viu algo ontem a noite que precisamos conversar.” Conversar era a ultima coisa que precisávamos fazer. Meu coração palpitava em meu peito enquanto eu olhava para ele. Por que o estacionamento parecia tão vazio agora? Não estava. Pessoas estavam em todos os lugares, mas ninguém estava prestando atenção em nós. Meu olhar foi para a entrada do mercado, tentando determinar a distância que eu teria de percorrer caso resolvesse correr. Eu não era uma boa corredora. Ele deu um passo para frente, e eu fiquei pálida, levantando a sacola pesada, pronta para atirar ela se ele chegasse ainda mais perto. Ele levantou suas mãos. “Eu não vou te machucar.” Famosas ultimas palavras. “Não chegue mais perto.” “Não vou. Podemos ter nossa pequena conversa de uma distância que te deixe feliz.” Ele sorriu de novo, mas era um sorriso frio. “Tudo que eu preciso é que você entenda, e realmente entenda isso, que você não vai ser capaz de identificar ninguém da noite anterior.” Uma bola de gelo se instalou no meu estômago. “Isso é tudo, e não é grande coisa, é? Apenas mantenha sua boca fechada daqui em diante e nada de ruim vai acontecer. E você não quer que algo ruim aconteça, quer?” Eu estava além de conseguir responder, meu coração batendo forte no meu peito. Essa era uma ameaça, uma ameaça bem clara. Parte de mim não conseguia acreditar que isso estava acontecendo. “Nós queremos ter certeza que você vai manter sua boca fechada,” ele disse daquele mesmo tom amigável que estava usando. “E eu acho que você entendeu bem rápido o quão sério estamos falando.”

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Nesse momento, a janela do lado do passageiro abaixou e eu vi um braço sendo estendido. Uma mão apareceu do lado da van, fazendo meu coração pular. O homem se afastou, batendo suas mãos juntas enquanto dizia. “Agora, tenha uma boa noite.” Eu não me movi enquanto ele andava de volta para van e subia. Eu não me movi quando aquela coisa velha ganhou vida ou quando ela saiu direto da vaga, virando à esquerda e saindo do estacionamento. “Oh meu Deus,” eu sussurrei. Tomada pela emoção, eu enfiei minhas compras no porta malas rápido e subi, ficando atrás do volante. Eu nem pensei por um segundo sobre o que fazer a seguir. Não tinha como eu não ligar para a polícia. Esqueça isso. Antes de sair para jantar, eu tinha colocado o cartão de Colton na minha bolsa. Minha mente reagiu. Fazia sentido ligar para ele porque ele sabia o que estava acontecendo. Ligando para o 190, eu teria de contar toda a história de novo. Enquanto eu pegava meu celular da minha bolsa com mãos trêmulas, um toque inesperado me assustou, me fazendo dar um gritinho. Jesus. Eu olhei para a tela. Era um número local que eu não reconheci. Normalmente eu não iria atender, mas por algum motivo, dessa vez eu o fiz. Eu coloquei ele na minha orelha e disse. “Alô?” “Abby?” Minha mão livre terminou no volante. Eu reconheci imediatamente a voz. “Colton? Eu...” “Graças ao bom Deus você atendeu,” ele disse, me cortando. “Onde você está?” Eu pisquei devagar, completamente pega de surpresa. “Eu... eu estou sentada no estacionamento do mercado perto... perto do Mona’s.” “Eu quero que você me escute, okay?” Ouvi o som de uma porta de fechando e motor sendo acionado. “Eu quero que você vá para dentro e fique aí, okay. Não vá para casa.”

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Capítulo Seis Eu meio que fiz o que Colton pediu. Eu tinha entrado no mercado e esperado próximo a farmácia e, quando eu vi Reece, seu irmão mais novo, entrando pela porta, eu sabia que algo realmente ruim tinha acontecido. Reece, um policial do condado, estava usando seu uniforme. Eu via bastante Reece ao redor da cidade e sabia que ele estava namorando sério uma das bartender do Mona’s, uma menina que tinha frequentado a mesma escola dele, mas sendo ele a aparecer tinha me feito congelar. “Algo ruim aconteceu na sua casa,” ele disse e foi tudo que ele pôde contar. Ele deveria esperar comigo até Colton chegar da cidade, mas eu não iria aguentar isso. Como ele poderia me dizer que algo aconteceu na minha casa e esperar que eu fosse ficar por aqui? Era a minha casa. Depois de muita discussão e mais de uma pessoa olhando para gente desconfiado, Reece concordou – ou cedeu – me acompanhar até em casa. As estrelas já preenchiam o céu quando saímos, enquanto Reece murmurava “Colton vai chutar minha bunda.” Uma olhada em Reece me disse que isso não ia acontecer. Yeah, Colton era mais alto uns poucos centímetros mas em quesito peso, Reece com certeza conseguia sobrepujar. Em sua viatura, ele me guiou até uma pequena distância da minha casa. Minhas mãos doíam o tempo todo durante o caminho e, quando sai, eu queria chorar. Mas não chorei. Não quando eu sai do carro e vi dois policiais parados na minha porta. Eu não chorei quando eu vi a janela da frente quebrada. E agora, eu dei a volta

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em Reece e entrei. Eu não podia deixar tudo que aconteceu nas ultimas vinte e quatro horas me afetar. A TV, que costumava ficar perto da janela, estava derrubada, quebrada no meio do chão. Perto dela havia um bloco de cimento. Eu não tinha ideia de como alguém poderia jogar essa coisa pela janela. “Nada mais parece ter sido danificado,” Reece disse quando eu olhei para ele. Suas mãos estavam contra seu cinto. “Mas nós vamos precisar dar uma olhada para garantir que nada tenha sido roubado.” Inalando, eu tentei processar o que estava vendo. Não tinha como isso estar relacionado com o que aconteceu ontem à noite ou o cara estranho do lado de fora do mercado, mas ainda era difícil de acreditar. Não por que eu estava ignorando a evidência que estava logo na minha cara. “Ambos vizinhos não estavam em casa,” Reece explicou. “Ninguém mais ouviu nada. Quando sua vizinha da direita chegou e viu, ela imediatamente ligou para a polícia.” Eu precisava agradecer Betty, a mulher mais velha que ele deveria estar se referindo. Chegar em casa e ver isso, além de tudo mais, deve ter sido assustador. “Você está bem, Abby?” Reece perguntou, se aproximando. “Eu sei que pode ser difícil lidar com o fato que alguém fez algo assim com a sua casa.” “Eu imagino que você vê muito disso, huh?” Eu entrelacei meus dedos juntos, esperando que o sangue voltasse para eles enquanto outro policial pegava o bloco de cimento usando luvas. Então algo me passou pela cabeça. “Como Colton sabia sobre isso?” Essa não era sua jurisdição. Reece viu o outro policial carregar o bloco para fora da casa. “Ele mencionou o que aconteceu ontem à noite quando eu o vi essa tarde – ele mencionou você.” Um meio sorriso apareceu, praticamente idêntico ao de Colton. “O que é estranho porque ele normalmente não fala sobre as testemunhas ou sobre o fato que ele compartilhou crepes com uma essa manhã.”

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Minhas mãos travaram e meus olhos arregalaram. “Eu fui o segundo policial a responder a chamada,” Reece continuou, seu sorriso sumindo. “Quando sua vizinha disse seu nome, eu liguei para Colton.” Isso era permitido? Eu não sabia. Saindo do estupor, eu andei até a poltrona e me sentei, exalando. Durante os anos, desde a morte de Kevin, eu tinha aprendido a lidar com as coisas. Noite passada, eu tinha me deixado ter uma pequena crise. Era compreensível. Eu tinha testemunhado um assassinato. Se você vai surtar sobre algo, isso provavelmente está no topo da lista de coisas permitidas. Mas eu precisava me recompor. Eu não era nenhuma fracote, muito menos histérica. O policial que respondeu a chamada entrou e eu respondi todas suas perguntas. Quando eu tinha saído da casa? Onde eu estava? Quando eu disse a ele sobre ter parado no mercado e sobre toda a coisa com a van, Reece entrou em ação. “Por que você não disse nada no mercado?” ele exigiu, seus olhos ficando mais afiados enquanto ele pegava seu celular. “Um, eu meio que estava distraída pela ordem de não poder voltar para casa,” eu disse. “Mas estou contando agora.” Reece abriu sua boca mas pareceu repensar o que ia dizer. “Eu já volto.” Saindo, eu o vi erguer seu celular. Eu não tinha certeza de quanto tempo se passou antes deu levantar e fazer o que Reece havia sugerido. Eu olhei todos os lugares, focando no meu escritório e em meu quarto. Nada de valor estava sumido, o que eu disse a Reece quando ele apareceu em meu quarto. Eu sabia que o que esse bloco sendo atirado pela janela era. Uma mensagem.

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Enquanto eu me erguia em frente a minha caixa de joias, eu tremi. A mensagem foi recebida, mas isso não significava que eu iria escutar. Eu já tinha dito a um policial e a Reece, e eu iria dizer a Colton. “Abby?” uma voz grave soou no andar de baixo. “Reece?” Eu me virei ao ouvir a voz de Colton, junto à resposta de Reece. “Estamos aqui em cima.” Uns segundos depois, Colton apareceu na porta. Ele tinha trocado suas roupas desde hoje de manhã, usando outra polo da polícia. Seus olhos azuis voaram para mim enquanto ele entrava em meu quarto. “Você está bem?” ele perguntou. “Ela está bem,” Reece respondeu, revirando os olhos quando Colton atirou um olhar a ele. “Estou bem,” eu insisti, passando minhas mãos em minha saia. “Eu estou apenas chocada.” Colton percorreu o quarto e, um segundo depois, estava parado na minha frente. Uma mão em meu pescoço, de um jeito familiar e confortante. A outra mão em meu ombro. Nossos olhares se encontraram e meus lábios se afastaram. “O homem na loja, ele não te machucou nem nada?” ele perguntou, seu olhar intenso no meu. “Não,” eu sussurrei, tensa. “Ele só me disse que eu... eu precisava manter minha boca fechada. Que era melhor que eu não identificasse ninguém que vi ontem. E então, ele disse que eu iria entender logo o quão séria essa mensagem era.” Um músculo pulsou no maxilar de Colton enquanto seu olhar percorria meu rosto. “Por que você não me ligou?”

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“Eu ia ligar. Eu estava pegando o celular para te ligar, mas você me ligou antes. Eu fiquei tão surpresa com o que estava acontecendo que me foquei nisso,” expliquei. A mão que estava em meu pescoço o apertou mais. Não era um movimento restritivo ou ameaçador. Era estranhamente gentil. Intimo. Muito mais do que ele tinha que fazer, como um membro da força policial, me confortar assim. Esse momento, o que quer que estivesse acontecendo entre nós, se prolongou. Havia algo ali, uma faísca. Como tocar em um fio. Ele inalou audivelmente. Seus dedos se abriram em meu ombro e havia essa necessidade de acabar com a distância entre nós, pressionar meu corpo contra o dele, que me surpreendeu. Sem pensar, eu dei um passo para frente. Reece limpou sua garganta. Corando, eu parei de olhar para os olhos intensos de Colton. Um calafrio começou no lugar onde sua mão estava enquanto ele a abaixava. “Eu preciso que você me diga exatamente o que aconteceu no mercado.” Colton disse depois de um momento, sua voz mais pesada que o normal. E eu fiz exatamente isso. Era estranho ter tanto Colton quanto Reece no meu quarto. A presença deles me fez sentir muito menor do que eu era. Qualquer outra hora eu ficaria surpresa por ter dois homens extraordinariamente lindos, e que também eram policiais, na minha frente, mas eu estava muito absorvida em tudo. O assassinato ontem. Colton aparecendo essa manhã. O cara estranho da van. Propriedade vandalizada.

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E agora o jeito que Colton tinha aparecido e... e aquela faísca? Minha pele ainda estava formigando. Isso tudo em vinte e quatro horas. Era insano. Minha vida costumava ser entediante. Quando terminei de responder as perguntas de Colton, era apenas nós na casa. Reece tinha ido embora um tempo antes depois do outro policial para atender outra ocorrência, e já eram quase dez da noite. Colton tinha ido ao andar de baixo para fazer algumas ligações e eu estava prestes a seguir ele. Uma brisa morna levantou as cortinas na frente da janela quebrada e eu percorri o chão com meu olhar. O vidro já era. A TV também estava perdida, quebrada e inutilizável. Descendo as escadas, eu olhei para a cozinha a tempo de ver Colton colocar o vidro na lata de lixo. Ele ainda estava no telefone. “Foi isso que pensei,” eu ouvi ele dizendo enquanto colocava a pá no chão. “Você sabe como ele opera. Todos nós sabemos como ele opera.” Houve uma pausa enquanto ele se virava. Seus olhos encontraram os meus. “Yeah,” ele disse no telefone. “Eu entro em contato.” Voltando a consciência, eu olhei para a janela e de volta para ele enquanto estava de pé perto da escada. “Obrigada por limpar. Não precisava ter feito isso.” Ele colocou seu telefone no balcão enquanto olhava para mim. Minha pele começou a formigar. “Você tem algo para cobrir sua janela essa noite? Amanhã eu posso ir à loja de ferragens e pegar umas tábuas para cobrir até que alguém venha trocá-la.” Será que eu cai e bati a cabeça? “Você não tem que fazer isso. Obrigada, mas...” “Eu sei que não tenho. Eu quero fazer.” Com suas longas passadas, não levou esforço nenhum para que ele estivesse logo na minha frente. “Estou de folga amanhã e eu tenho tempo a não ser que seja chamado.”

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Eu inclinei minha cabeça para trás para encontrar seu olhar enquanto eu considerava se devia ou não aceitar sua ajuda. Parecia bobeira não aceitar, mas era muito para ele fazer por... por mim. “Eu não quero que você saia do seu caminho, Colton.” Um lado de seus lábios curvou para cima. “Eu não ligo de sair do meu caminho por você.” Ele colocou sua mão no corrimão da escada acima de mim. “Nem um pouco.” Aquela borboleta carnívora que apareceu no meu estomago essa manhã estava de volta, dançando no meu estomago. “Deixe-me te ajudar com isso,” ele disse gentilmente. Eu inalei profundamente. “Okay.” Seu sorriso ficou maior enquanto ele tirava a mão do corrimão e pegava uma mecha do meu cabelo, colocando ela atrás da minha orelha. “Agora, isso não foi tão difícil, foi?” Eu nem mesmo entendi o porquê. “Você tem uma lona que eu possa usar para cobrir a janela?” ele perguntou. “Tem uma no barracão aos fundos. Já estava lá quando me mudei então não sei em quais condições ela está.” “Eu vou dar uma olhada.” Ele começou a se virar, mas parou. Colocando a ponta de seus dedos sob meu queixo, ele inclinou minha cabeça para trás. Nessa hora, havia uma boa chance do meu coração ter parado. “Posso te perguntar uma coisa?” Naquele momento ele poderia me perguntar o que quisesse. “Claro.” A covinha apareceu em sua bochecha esquerda e, então, ele mordeu seu lábio inferior. Algo sobre isso mexeu com meu interior. Eu queria ser aquele dente. Ou o lábio. Inferno. Eu toparia ser qualquer coisa. “Você acredita em segundas chances?” ele perguntou.

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Essa não era a pergunta que eu estava esperando, mas minha resposta foi imediata, assim como era verdadeira, algo que eu realmente acreditada no fundo de mim. “Sim.” “Bom.” Seus dedos saíram do meu queixo e seu dedão acariciou a pele embaixo dos meus lábios. “Eu também.”

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Capítulo Sete Eu estava finalmente começando a ter sorte. A lona que Colton pegou do barracão era usável. Eu passei café enquanto ele trabalhava, usando fita, fingindo que eu não estava observando ele cobrir a janela. Eu realmente estava checando ele. Quero dizer, quem não iria? Quando ele foi esticar a lona, ele tinha se abaixado e, puta que o pariu, aquele homem tinha uma bunda incrível. E quando ele começou a prender, eu fui presenteada com a vista dos seus músculos se contraindo, expandido sua blusa. O que eu não daria para ver aquele homem nu. Nessa hora eu fiz uma nota mental para acionar a companhia de seguro na segunda de manhã, assim eu não iria esquecer. Eu levei sua xicara até ele, colocando ela na mesa de centro. Trabalhando no canto, ele olhou para mim sobre seu ombro. “Obrigado.” Como eu já tinha tentado ajudar e fui enxotada, eu me sentei no sofá. “Eu realmente estou grata pela ajuda.” “Não tem problema.” Ele cortou um pedaço de fita. “Tem umas coisas que eu preciso falar com você. Eu estava planejando em te atualizar amanhã. Talvez com algumas panquecas dessa vez.” Eu apertei meus olhos fechados por um momento e desejei que suas palavras significassem mais do que apenas uma flertada natural. “Okay.” “Nós identificamos a vitima.” Ele esticou a fita sobre o lado direito enquanto me atualizava. “Não era o melhor cidadão do mundo, mas suas acusações eram por pequenos crimes, alguns envolvendo drogas. Parece que o que aconteceu na sexta pode ser mais do que uma simples execução, obviamente bem maior que isso.”

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Minhas costas enrijeceram. “Eu imaginei isso. O cara estranho da van me deu essa impressão.” “O homem morto trabalhava para Isaiah Vakhrov. Já ouviu falar dele?” “Não. Deveria?” Ele balançou sua cabeça enquanto pegava outro pedaço de fita. “Não se você quer viver bem e saudável. Isaiah Vakhrov praticamente controla a cidade, mas não do lado certo da cerca, se você entende o que estou falando. Ele tem um dedo em tudo. Algum dos seus negócios são legítimos e alguns não. Muitas drogas entram e saem dessa cidade por causa dele.” Eu franzi o cenho. “Então, ele é algum tipo de rei do crime? E todo mundo sabe disso? Como ele ainda faz o que faz?” “Como eu disse, ele tem um dedo em muitas coisas, o que significa que tem muita gente na sua lista de pagamento. Ele é como teflon. Nada gruda.” “Wow,” eu murmurei. “De qualquer maneira, o cara assassinado trabalhava para Isaiah, e uma coisa que cada crápula desse estado sabe é que não se mexe com as pessoas do Isaiah a não ser que você queira ter uma bala em sua cabeça. Quem quer que sejam os atiradores, ou eles não são espertos ou eles têm mais bolas que cérebro. E pra quem for que eles trabalham, não quer que essa conexão seja feita,” ele disse para mim. “O que explica o que aconteceu no mercado e isso. Alguém identificou. Pode ter sido alguém na cena do crime ou...” Ou pode ter sido alguém no departamento de polícia. Bom Deus, isso era irreal. “A coisa é, conhecendo Isaiah, ele vai encontrar quem puxou aquele gatilho antes de nós.” Sua risada não tinha humor. “Ele quase sempre faz. E ele vai cuidar disso. Mas o que não gosto é que para quem quer que seja que aqueles caras trabalham, eles vão vir atrás de você.” Ele colocou a fita no lugar. “Eles não vão chegar perto de você de novo.”

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O jeito que ele disse isso quase me convenceu que ele sozinho poderia cuidar disso. Eu queria acreditar nisso, mas ele não poderia ficar comigo vinte e quatro horas por dia. O medo que estive segurando voltou à tona. “Eu... eu devo ficar preocupada com esse Isaiah?” “Honestamente?” Os músculos das suas costas se contraíram. “Não. Mas ele não é uma pessoa boa. Nunca deixe ele te convencer a achar isso, mas ele tem esse senso de moral e de conduta. Violência contra mulheres e crianças é um bom gatilho para ativar seu lado ruim. Ele vai te deixar em paz.” “Isso é meio confortante,” eu balbuciei, tomando um gole do meu café. “Meio que.” “Preciso dizer que, apesar de tudo, você está lidando com isso como uma profissional.” Eu fiquei meio distraída pelo jeito que seus bíceps se movia e se contraia e acabei falando. “Eu chorei até dormir ontem.” Colton enrijeceu. Meus olhos arregalaram. “Oh meu Deus.” Eu coloquei minha mão contra minha testa. “Não consigo acreditar que eu acabei de dizer isso em voz alta.” Abaixando suas mãos, ele deixou a lona solta enquanto se virava para mim. O rolo de fita pendurado em seus dedos. Calor invadiu minhas bochechas. “Quero dizer, eu não solucei nem nada, e eu não choro muito. É só que...” “Querida, você não tem que explicar nada. Você viu uma boa merda ontem à noite.” Soltando o rolo de fita no braço da cadeira, ele deu a volta na mesa de centro e ficou exatamente entre ela e eu. Pegando a xícara da minha mão, ele colocou ela ao lado da sua e se sentou na quina da mesa, olhando para mim. Ele estava tão perto, nossos joelhos pressionados juntos quando se inclinou, colocando seus braços em suas coxas. “Ter uma reação emocional é esperada. Se você não tivesse, eu ficaria preocupado. Para ser honesto, eu não gosto da ideia de você ficando sozinha depois de ter visto algo assim.”

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“Por que?” Eu perguntei antes que conseguisse me impedir. “Por que você se importa?” Ele inclinou sua cabeça para o lado. “Eu não sei o que pensar desse tipo de pergunta.” Eu exalei calmamente. “Quero dizer, você trata todas as testemunhas assim? Traz crepes para elas de manhã e conserta suas janelas vandalizadas?” Colton levantou uma sobrancelha. “Não.” Bem, essa foi uma resposta direta. “Então por que está fazendo isso agora?” “Quanto te perguntei se você acreditava em segundas chances eu estava esperando que você fosse dizer que sim.” Aqueles cílios grossos levantaram. “Eu não gosto de como nossos caminhos se cruzaram de novo, mas fiquei feliz que isso aconteceu.” Eu estava sem palavras. Um sorriso brincalhão apareceu. “Eu sabia sobre você no colegial, Abby. Eu te achava bonita e inteligente. Eu gostava de como você sempre era a primeira a chegar e a ultima a sair das aulas.” Oh meu Deus, eu sempre era a primeira a entrar e ultima a sair. “Eu gostava de como você era gentil com todos, mesmo os idiotas que não mereciam,” ele continuou, aqueles olhos azuis brilhando. “Então, yeah, eu te vi, mas você tinha um namorado. Você sempre teve um namorado. Eu respeitei isso, mas eu sei que você também me viu.” O calor que subiu para minhas bochechas não tinha nada a ver com vergonha. “Você sabe, de tempos em tempos você passava pela minha cabeça. Essa é a pura verdade.” Seus olhos encontraram os meus. “Sempre foi inesperado. Nunca indesejável. Você pensou em mim?” “Sim. Eu pensei sobre você,” eu sussurrei.

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Seu sorriso ficou ainda maior. “Ai sim.” Chocada com o que ele estava admitindo, isso ainda não fazia sentido. “Eu te vi pela cidade, Colton, desde que eu me mudei para cá. Em uma loja ou no cinema.” Eu deixei de fora a parte que ele estava com outra pessoa porque era irrelevante. “Você nunca me viu.” “Então eu sou um completo idiota se isso for verdade.” Eu pisquei e meu olhar caiu para sua boca. Como seria a sensação dela? Seria dura? Suave? Uma mistura de ambos? E qual seria o gosto? Eu apostava em uma mistura maravilhosa de café com masculinidade. “Colton...” “Eu deveria ter te notado. Merda, eu odeio a ideia que não o fiz.” Seu tom cheio de sinceridade. “Eu vi você agora, Abby.” Meu coração começou a tropeçar em si mesmo. “Isso não parece realidade.” Uma risada ecoou dele. “Por que não?” “Porque essas coisas não acontecem na vida real,” eu disse a ele, me encostando, precisando do espaço entre nós antes que eu decidisse realmente sentir sua boca. “Elas não acontecem.” Suas sobrancelhas se juntaram. “Isso está acontecendo. É a vida real.” “Você não entendeu o que estou dizendo.” Eu inalei profundamente. “Homens extremamente lindos como você...” “Você me acha extremamente lindo?” Seu sorriso apareceu de volta, assim como sua covinha. Eu atirei um olhar a ele. “Como se você não soubesse disso. E veja, essa é a coisa. Você é lindo, um policial confiante e eu não sou a pior coisa andando sobre duas pernas, mas eu não sou o tipo de mulher que chama a atenção de homens como você. Isso só acontece nos livros." Ele me encarou por um momento e, então, balançou sua cabeça. “Primeiro, o que você quis dizer com mulheres como você?”

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“Eu realmente preciso explicar isso?” Seus olhos se estreitaram. “Sim, você precisa.” Eu estava ficando frustrada, minha pele formigando. Ele não podia estar falando sério. “Eu não pareço com as mulheres de filmes. Elas são altas, magras, loiras lindas. Ninguém nesse mundo iria me descrever como aquela linda mulher com o cara gostoso. Eles falariam, wow, ele realmente está com alguém mediano. E eu estou bem sendo uma mulher mediana. Eu sei que sou, então não faz sentido. Eu quero dizer, a não ser que você apenas esteja com tesão, queira transar e não tenha mais nenhuma opção no momento, então isso faz mais sentido, eu acho.” Ele abriu sua boca, fechou e, tentou de novo. “Se eu estiver com tesão e quiser transar?” Yeah, eu meio que não podia acreditar que havia dito isso. “Querida, quantos anos você acha que tenho se tudo que quero é transar?” ele perguntou. “Bem, quero dizer, eu fico com tesão e também quero transar, e nós temos a mesma idade.” Eu realmente precisava calar a boca. “Tudo que estou dizendo é que isso é a natureza humana.” “Natureza humana?” Seus olhos azuis brilharam enquanto ele ria. “Posso te dizer o quanto eu gostei de saber que você também fica com tesão e, querida, se você quer transar, eu estou à disposição, mas você realmente não me conhece, Abby.” Eu ainda estava presa nele estar à disposição se eu quisesse transar, e cara, como eu queria. Não tinha considerado isso seriamente nesses quatro anos. Nenhum cara tinha chamado minha atenção, mas agora? Uma dor tinha nascido e minha respiração ficou falha, apenas da ideia de dormir com ele. “E nós vamos mudar isso,” Colton disse. “Nós vamos nos conhecer de um jeito que vai durar.” Minha respiração ficou presa quando um calafrio me atingiu. “Vamos?”

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Aquele meio sorriso fazia coisas insanas comigo. “Oh, nós vamos. Você sabe o por quê? Porque nós tivemos uma segunda chance para isso e não vamos desperdiçá-la, vamos?” Eu não conseguia olhar para o lado. “Não.” “Isso mesmo.” Levantando seu braço, ele colocou sua mão contra minha bochecha. “Aqui está uma peça importante de informação sobre mim. Se eu estou procurando apenas por uma transa, eu não vou trazer crepes pela manhã ou vou consertar sua janela. E eu, com certeza, não vou arriscar minha carreira apenas para foder com uma testemunha. Se eu vou me arriscar, eu quero que isso valha a pena.” Seu dedão passou pelo meu lábio, fazendo minha respiração ficar irregular. “E querida, eu tenho a impressão que você vale a pena.” Antes que eu pudesse responder, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa que provavelmente iria arruinar tudo que ele disse, ele deslizou aquela mão sobre minha bochecha, seus dedos entrelaçando em meu cabelo enquanto ele se inclinava, forçando seus joelhos entre os meus. Eu respirei. Meu coração bateu. Tudo que eu vi foi o azul de seus olhos. E, então, Colton me beijou.

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Capítulo Oito Cada linda coisa, exagerada, que meus autores escreveram sobre ser beijada eram totalmente verdade, e tinha se passado tanto tempo desde que fui beijada que eu tinha me esquecido como era. O momento que seus lábios tocaram os meus, meu corpo se encheu de calor, e foi um beijo gentil, nada mais que uma leve passada de seus lábios sobre os meus – uma, então duas vezes. Como se ele estivesse desenhando bem devagar o formato dos meus lábios, levando tempo para se familiarizar. Então ele pegou meu lábio inferior entre os seus, criando uma reviravolta em meu estômago. A mão que estava em minha bochecha se moveu e seus dedos foram para parte de trás da minha cabeça enquanto ele levantava sua boca da minha. Seus olhos queimavam um fogo azul. Havia essas perguntas em seu olhar e, quando eu não me afastei, sua mão segurou mais forte. Colton me beijou de novo, completamente, e seus lábios eram uma incrível combinação de suave e duro, cetim esticado sobre ferro. Minha mão caiu para seu peito e a outra para seu joelho enquanto eu sentia a ponta de sua língua traçando a borda da minha boca. Meus lábios se afastaram e o beijo se aprofundou. Eu senti o gosto de café em sua língua e eu sabia que ele sentiu o mesmo gosto. No começo, eu realmente não me movi. Eu deixei ele guiar, levar esse beijo para um lugar que fez meu sangue ferver, mas quando sua língua tocou na minha, foi como se eu tivesse acordado. Meus sentidos vieram à tona. Cada ponta nervosa no meu corpo despertou de uma vez. Isso... isso era o que eu estava sentindo falta. Inclinando minha cabeça para o lado, eu coloquei minha mão em volta do seu pescoço, ancorando sua boca a minha. Eu o beijei de volta, devorando ele.

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“Merda,” ele gemeu, e começou a se mover. Não para se afastar, mas para se levantar sobre mim, sua outra mão em meu quadril. Ele me levantou, e eu não era uma mulher pequena. Eu fiquei maravilhada com o fato que ele conseguiu me deitar de costas, sua boca nunca deixando a minha. Um cotovelo seu apoiado na almofada do sofá ao lado da minha cabeça, e ele manteve seu corpo longe do meu mesmo que seus lábios ficassem mais urgentes, o prazer que sua boca estava dando mais intenso. Eu não sabia que um beijo poderia ser assim. Como se ele estivesse tocando em cada parte de mim. Eu me agarrei a ele, desejando que ele abaixasse seu corpo no meu para que eu pudesse sentir seu peso. Um calafrio passou pela minha pele enquanto meus dedos percorriam seus cabelos, próximo ao seu pescoço. Ele tinha gosto de decadência, uma profunda e rica masculinidade. E quando ele levantou sua boca de novo, eu choraminguei pela perda. Realmente choraminguei. “Eu gosto desse som,” ele disse em uma voz rica e sensual. “Porra, realmente gosto disso.” Colton me beijou de novo. “Tem algumas coisas que eu preciso deixar claro.” “Isso requer uma conversa?” Sua risada em resposta reverberou pelos meus lábios. “Precisa.” Houve uma pausa enquanto sua boca percorria o canto dos meus lábios. “Mas eu sou multitarefa.” “Graças a Deus.” Eu sussurrei. Seu corpo tremeu com outra risada e, então, sua boca estava se movendo pela curva do meu maxilar. “Você não é bonita.” Meus olhos se abriram e arregalaram. “Licença?” “Eu não te acho bonita.” Sua boca encontrou o ponto sensível dos meus batimentos cardíacos. “Eu acho que você é incrivelmente linda.”

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“Oh,” Eu ofeguei enquanto minha mão envolvia seu bíceps. Um calor crescendo em meu peito. “Eu pensava que você era bonita há quase uma década atrás.” Aquela lambida quente contra meus batimentos fez minhas costas arquearem. “Com seu cabelo escuro e sua pele clara, você era como a Branca de Neve.” Aquela boca estava se movendo, descendo pelo meu pescoço, estilhaçando meus pensamentos. “Eu não tenho um tipo, Abby. Eu não gosto apenas das loiras ou similares.” Com sua outra mão, ele afastou minha blusa para o lado, expondo meu ombro. “Xadrez?” No começo, eu não tinha entendido ao que ele estava se referenciando, então eu senti a ponta dos seus dedos trilhando a alça do meu sutiã rendado. “Eu acho que o xadrez é subestimado.” Ele riu e beijou minha garganta. “E tem mais uma coisa que eu quero que você entenda, Abby. Você não é mediana. Você nunca poderia ser mediana.” Eu perdi o fôlego. “Você mal me conhece.” Trilhando minha garganta com beijos incandescentes, ele passou sua mão pela minha lateral, sobre minha cintura, até meu quadril mais uma vez. “Nada em você diz mediano. Nunca disse. Eu sei muito bem que isso não mudou.” Isso tinha de ser um sonho. Sua mão apertou meu quadril enquanto ele trazia seus lábios de volta para o meu, me beijando devagar, profundamente. Seus olhos ainda tinham aquele fogo azul quando encontraram os meus. Então ele vagarosamente trouxe seu corpo para baixo, sua parte mais dura pressionando contra a minha mais suave. Eu ofeguei ao sentir sua ereção. Calor me percorrendo. Um mormaço crescendo em mim, como fogo. Deus, eu não me sentia assim em...

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“Isso é o que você faz comigo,” ele disse, sugando meu lábio enquanto seu quadril investia contra o meu. Desejo percorrendo minhas veias. Deus, ele era... não tinha palavras. “Você entendeu o que estou te mostrando?” ele perguntou, suas palavras imersas em luxuria. Parte de mim entendeu. Mas havia essa outra parte que não conseguia compreender seu interesse e, finalmente, outra parte que queria parar essa conversa e voltar para os beijos. Mas a segunda parte de mim venceu. “Onde você vê isso indo?” Ele não respondeu de cara, e naquele curto período de tempo fui invadida pela realidade. Talvez essa não fosse a melhor hora para essa pergunta, mas o que estávamos fazendo? Noite passada foi a primeira vez que nos falamos em anos e agora estávamos nos beijando? Inferno, estávamos fazendo mais do que beijar. Eu estava de costas e ele sabia que eu estava usando um sutiã xadrez. E também sabia agora que todas as partes do seu corpo eram excepcionalmente proporcionais, algo que nem em meus sonhos mais ousados eu achei que presenciaria. Eu acreditava em desejo instantâneo completamente. Eu já havia experimentado isso na academia, mas eu nunca tinha agido baseado nisso. Ou tinha? Eu nunca realmente tive a chance. Eu nunca me dei à chance. Mas isso parecia rápido demais, porque era rápido. Talvez um novo recorde de rapidez, mas o cara que eu havia admirado de longe por tanto tempo achava que eu era bonita. E achava que não havia nenhuma parte de mim que me fizesse mediana. Meu olhar foi para seu lindo rosto enquanto os segundos passavam. Duvida me atingiu. “Colton, eu...” Sua boca silenciou minhas palavras, mas a suavidade do seu beijo, todo carinho por trás disso, acalmou minha descrença. Quando ele falou, seu nariz estava junto ao meu. “Essa é uma pergunta difícil de responder, mas você sabe o que, Abby? Apesar de como você voltou a minha vida ontem, eu fiquei

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animado em te ver. Eu vim essa manhã porque eu queria ver você de novo e não queria esperar uma oportunidade melhor. Eu sou impaciente assim,” ele adicionou, e eu senti um sorriso se formando em seus lábios contra os meus. “E eu beijei você e eu estou aqui porque eu quero você. Eu acho que você pode sentir isso.” “Eu sinto isso,” eu disse, minha voz falhando. Não tinha como eu não sentir isso. “E eu acho que o jeito que você me beijou de volta me diz que você está aqui porque quer estar.” Ele me beijou suavemente, fazendo meu estômago se revirar. Ele levantou sua cabeça um pouco e olhou para mim. “Eu não sei onde isso vai dar ou o que esperar, mas eu sei o que eu quero e eu sou o tipo de cara que corre atrás disso. Por que eu iria querer esperar minha mensagem chegar? Não parece como algo que vai mudar em uma semana ou em um mês.” O tipo de cara que corre atrás. Era realmente assim tão simples? Ele me queria, então ele estava correndo atrás de mim. Por que perder tempo? Poderia ser assim tão simples para mim? Porque eu queria ele. Eu queria tanto ele que já tinha virado uma dor física. E por que eu iria querer pensar no futuro, onde isso poderia parar? Nós éramos adultos, e não tinha como disfarçar o fato que ele estava atraído por mim. Eu conseguiria fazer isso? Poderia desperdiçar a chance de sentir de novo? De viver? Porque isso seria o que eu faria se ouvisse a pequena voz no fundo da minha cabeça. Nas horas que passei aqui e ali com Colton, eu senti mais nesses quatro anos desde que Kevin faleceu. Antes disso, eu só as palavras e histórias que eu editei me faziam sentir. Será que havia algo de errado em querer viver de novo, querer mais? Eu esperava que não. “Okay,” eu sussurrei, colocando minha mão trêmula em sua bochecha, trazendo sua boca para a minha.

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Colton veio sem protestos, sua respiração oscilando antes de sua boca se unir a minha. Não havia nada de doce nesse beijo. Nossos lábios se afastaram, sua língua quente, demandando mais da minha boca. Ele assumiu o controle, como se fosse dele, e havia um jeito possessivo em seu beijo que afastavam as memórias de todos os outros. Ele colocou sua mão contra minha bochecha, parado por um momento, então a trouxe sobre meu pescoço. Sua mão ficou ali, o toque gentil e tão estranho com a força do beijo. Eu gemi, meu corpo dolorido contra o seu, querendo derreter nele. Entre minhas coxas, eu pulsava e doía. Eu estava tão perdida no gosto e em sentir ele, mas aquela voz no fundo da minha cabeça voltou, dessa vez contando uma história diferente. Eu poderia ficar nua na frente dele? Falando em ficar nua, eu tinha certeza que os boy shorts 13 da Hanes14 que eu estava usando eram, provavelmente, a coisa menos sexy que eu tinha, junto com meu sutiã xadrez. Ele ainda estaria excitado uma vez que percebesse que eu tinha mais partes fofas que definidas? Seu quadril investia contra o meu, afastando esses medos como cinzas ao vento. Ele sugou meu lábio inferior, a pequena mordida mandando uma onda de prazer pelas minhas veias. Fazendo um som profundo vindo do fundo da sua garganta, ele levantou sua boca da minha. “Eu realmente preciso arrumar aquela janela.” “Que janela?” eu murmurei, entorpecida. Colton riu enquanto colocava sua cabeça no espaço entre a minha e meu ombro. “Fofo.” “O que?”

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Calcinha com a lateral bem larga, imitando um micro shorts Loja especializada em roupas confortáveis e básicas.

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“Você é fofa.” Ele beijou meu pescoço. “Você pode ser fofa.” Abri meus olhos. “Eu achei que era bonita?” “Você é ambos.” Se levantando, ele pausou tempo suficiente apenas para me beijar de novo e ficar de pé com uma graça que eu tinha inveja. “É bom ser ambos.” “Uh-huh.” Eu ainda estava deitada lá, meio esparramada no sofá, tentando controlar meus pensamentos e minha respiração. Eu umedeci meus lábios que pareciam inchados. Colton estendeu uma mão. “Se você ficar assim, eu vou ficar tentado demais.” Eu olhei para ele. “O que há de errado em ficar tentado?” Seus lábios se afastaram. “Merda, e você acha que eu lembro agora.” Isso trouxe um sorriso para meu rosto. Colocando minha mão na sua, eu deixei ele me puxar até estar sentada. “A janela,” eu o lembrei. “Oh yeah, isso. Acho que precisamos arrumar isso antes de darmos um show para os vizinhos.” Meus olhos arregalaram. Puta merda, eu nem tinha pensado nisso. Colton começou a se virar, mas parou. Um sorriso doce em seus lábios. “Quer saber? Fazia um bom tempo que eu não começava e terminava o dia com uma mulher. Fico feliz em ser com você.”

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Capítulo Nove Domingo de manhã eu fiz algo que não fazia há muito tempo. Quando eu tirei meu pijama e abri a porta do banheiro, eu não fugi de olhar do espelho para evitar ter um vislumbre de mim. Por que era isso que eu fazia. Como se eu realmente não me visse, eu não saberia como me sentia. Mas nessa manhã, eu olhei Os cortes em minha bochecha estavam rosa e meu olhar vagou enquanto soltava meu cabelo. Provavelmente era minha imaginação, mas meus lábios pareciam inchados. Não tinha como esse ser o caso, mas eu não precisava tentar me lembrar de como eram os beijos de Colton. Meus lábios tremiam. Aqueles beijos eram algo que eu nunca iria esquecer. Meu olhar desceu, sobre meus ombros e pelo meu peito. Eu pressionei meus lábios juntos enquanto levantava minha mão, colocando ela sobre meus seios. A pele era suave, meus mamilos enrugados. Calor começou a encher o banheiro, deixando minha pele úmida. Eu abaixei minhas mãos. Meus seios eram redondos e cheios. Nem chegavam perto da definição de arrebitados, mas eles... combinavam com o resto de mim. Minha cintura era ligeiramente curva e saltada, deixando meu quadril redondo. A área sombreada entre minhas coxas chamou minha atenção. Depilação brasileira? Uh, não. Eu quase ri só de pensar nisso. Deus, tinha se passado tanto tempo desde a ultima vez que tive sexo. Eu poderia fazer isso? Uma imagem de Colton se formou em meus pensamentos e um calor desceu pela minha garganta. Mordendo meu lábio, eu tinha quase certeza que eu conseguiria. O homem beirava a perfeição quando se tratava do seu corpo. Isso seria muito para se superar.

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Enquanto me virava de lado, olhando para minha parte de trás, eu tentei aceitar como eu me sentia sobre mim mesma. Não era fácil e o vapor tinha coberto todo o espelho antes que eu tivesse uma resposta. Eu entrei no chuveiro, deixando a agua quente cair em mim. Não tinha certeza se era baixa autoestima ou falta de confiança em conseguir agir. Ou, talvez fosse o fato deu passar o dia todo presa em um mundo fictício dos autores que eu editava, vivendo o amor por eles, suas dores e tudo no meio que eu não tinha feito, não nos últimos quatro anos, vivendo no mundo real e tendo tempo para mim mesma. Quando Kevin morreu, eu tinha me jogado no trabalho. Se eu fosse ser honesta, foi ai que eu comecei me perder, perder quem eu realmente era. Eu não queria mais isso. Eu tinha decidido ontem que não deixaria passar a oportunidade de sentir de novo. E o que eu vi no espero era aterrorizante. Era o mesmo corpo que Kevin chamava de ‘Beleza de Botticelli 15’. Curvas não eram uma coisa ruim. Eu só precisava que minha mente entrasse nesse barco. Como eu tinha acordado cedo, eu fui para o computador depois do banho e de ter colocado jeans e uma blusa folgada. Eu consegui trabalhar em algumas páginas antes que meu telefone tocasse. Era uma mensagem de Colton. Ele estava do lado de fora. Com meu coração pulando em todos os lugares, eu salvei meu trabalho e fechei o laptop. Meus pés descalços não fizeram barulho quando eu desci as escadas. O café recém-passado perfumava o ar. Indo para porta, eu abri enquanto respirava profundamente. E o mesmo ar escapou dos meus pulmões.

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Pintor italiano. Estudou na Escola Florentina do Renascimento e igualmente receptivo às aquisições introduzidas por Masaccio na pintura do Quatrocento e às tendências do Gótico tardio, seguiu os preceitos da perspectiva central e estudou as esculturas da Antiguidade, evoluindo posteriormente para a acentuação das formas decorativas e da atenção dispensada à harmonia linear do traçado e ao vigor e pureza do colorido. Suas obras tardias revelariam ainda um expressionismo trágico, de agitação visionária, fruto certamente da pregação de Savonarola. Sandro Botticelli usava todas as cores, em especial cores frias.

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O jeans que ele estava usando era desbotado na altura dos joelhos e a camiseta com a estampa velha esticada em seus ombros largos. Ele realmente viveu nessas roupas. Sem camisas e calças formas e, por mais que ele ficasse bem com a roupa de detetive, ele ficava muito bem de jeans. “Dia,” Colton disse, dando um passo para o lado. Ele me entregou uma caixa branca que cheirava como paraíso e, enquanto eu me movia para fechar a porta, ele se abaixou, colocando um beijo em minha bochecha. O toque inocente dos seus lábios na minha pele mandou um calafrio pelas minhas costas. “Eu passei na loja de ferragens e peguei umas coisas.” Fechando a porta, eu me obriguei a me recompor. “E na padaria também?” “Sempre na padaria.” Ele atirou um sorriso sobre seu ombro enquanto ia em direção à cozinha, onde ele colocou a caixa em cima do balcão. “Eu trouxe muffins e bombas. Você ainda não comeu, certo?” Minha barriga vibrou, feliz. “Não. Obrigada por fazer isso – por fazer tudo isso.” “Como eu disse antes, o prazer é meu. Você prefere chocolate ou frutas?” Eu o observei sobre meus cílios. “Chocolate. Sempre chocolate.” Ele riu enquanto pegava a bomba de chocolate, colocando ela em um guardanapo. “Eu tenho de lembrar disso.” Pegando a bomba de frutas, ele se virou para mim, se apoiando no balcão. “Dormiu bem noite passada?” No começo, eu tinha me revirado, pensando sobre o beijo e no que ele disse. Eu estava excitada e tive de cuidar disso. Não que eu fosse compartilhar essa informação. Claro. “Eu dormi okay. Você?” Seus cílios abaixaram e um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. “Eu demorei um pouco para conseguir dormir.” Será que ele teve o mesmo problema que eu? Uma imagem dele se formou em minha cabeça, vibrante e sensual. Eu o vi na cama, sua mão em

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baixo dos lençóis, segurando seu pau. Meu estomago revirou ao pensar nisso, minha boca ficando seca. Suas costas definitivamente estariam arqueadas e sua cabeça jogada para trás enquanto ele se aliviava... Ele inclinou sua cabeça para o lado. “No que você está pensando, Abby?” “Nada.” Me virando de pressa, eu coloquei a bomba de chocolate na boca. “Então... um, quanto eu devo pelo material e pelo conserto da janela?” “Um jantar.” Eu limpei meus lábios quando me virei. Minhas sobrancelhas erguidas. “Jantar?” Um meio sorriso apareceu. “Sim. Jantar. Você sabe, onde duas pessoas, às vezes mais, saem para comer?” Ele deu uma mordida em sua bomba enquanto meus olhos se estreitavam. “Hoje à noite.” Eu comecei a perguntar o porquê, mas consegui me parar antes que eu parecesse uma completa idiota. Bem, eu não tinha certeza se eu iria parecer uma, mas estaria tão evidente que minha confiança no que estava acontecendo entre nós estava num nível entre ruim e péssimo. Então eu sorri enquanto ficava animada e rezei para que não houvesse chocolate nos meus dentes. “Um jantar seria bom.”

Colton era tão habilidoso quanto era lindo, e eu realmente poderia me acostumar com ele trabalhando na minha casa. Na verdade, eu poderia me acostumar a tê-lo em casa. Enquanto ele colocava tábuas na janela, tornando ela mais segura até que os caras viessem arrumar, uma conversa leve fluiu entre nós, e foi a mesma coisa quando, mais tarde naquele dia, ele me levou para jantar.

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Ele tinha ido embora tarde, e foi realmente difícil me concentrar, mas eu consegui adiantar alguma coisa no livro da McGuire. Eu tinha sorte, seus manuscritos eram quase perfeitos. Meus nervos estavam à flor da pele e meus batimentos acelerados enquanto eu escolhia um vestido que eu não tinha usado há muito tempo. Na verdade, havia uma boa chance de nunca ter usado esse vestido sem alças florido em azul e rosa. Eu meio que me sentia usando o sofá da minha avó quando eu o coloquei sobre minha cabeça, mas a cintura mais alta e o decote em formato de coração ficavam bem em mim. Eu me sentia bonita naquele vestido. Até mesmo um pouco sexy. Eu levei uma sandália rosa para o andar de baixo e as coloquei apenas momentos antes de ouvir uma batida na porta. Colton tinha mandado uma mensagem para me avisar que já estava aqui. Com meu coração preso em algum lugar na minha garganta, eu abri a porta e minha língua quase rolou para fora da minha boca, percorrendo todo o chão. Ele estava de novo em jeans, e ele tinha combinado o jeans escuro com uma camisa branca de botões com as mangas dobradas na altura do ombro, mostrando seus braços fortes. Eu não sabia o que tinha demais nas mangas enroladas, mas elas sempre me excitaram. Eu era tão estranha. O olhar de Colton me percorreu e um pequeno sorriso apareceu. “Você está uma graça.” Como se eu estivesse apaixonada ou coisa do tipo, eu senti minhas bochechas corarem. “Obrigada. Você também. Quero dizer, você não está uma graça. Você está quente. Sexy. Muito bonito.” Suas sobrancelhas levantaram. Eu queria bater em mim mesma. “Eu acho que vou parar de falar agora.”

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Ele riu enquanto abaixava sua cabeça, me dando um beijo doce. “Na verdade, continue falando. Está fazendo maravilhas para meu ego.” “Eu não acho que você precisa de ajuda nesse departamento.” “Verdade,”

ele

admitiu,

se

endireitando.

“Minha

cabeça,

provavelmente, é grande demais.” A coisa era: Colton tinha confiança em si mesmo, talvez até um pouco convencido, mas ele não era arrogante. Ele era como um unicórnio. “Pronta?” “Um segundo.” Eu peguei minha bolsa e minhas chaves da mesa de centro e me juntei a ele ao lado de fora, fechando a porta atrás de mim. O calor estava quase sufocante, cobrindo minha pele enquanto eu olhei para a janela cheia de tábuas. Eu me encolhi. “Isso está horrível.” “Não é a melhor aparência possível,” ele concordou, colocando uma mão na parte baixa das minhas costas. Nós começamos a descer os degraus. “Você falou com alguém hoje depois que saí?” “Eu liguei para empresa de seguro – no 0800. Não faz sentido fazer um resgate, não com as deduções, mas eles me deram uma lista de empresas para ligar amanhã.” Apesar do calor, eu não consegui evitar o calafrio quando ele deslizou sua mão para o centro das minhas costas. Ele me olhou, como alguém que sabia de tudo, enquanto andávamos pela calçada. “Eu queria que alguém viesse dar uma olhada aqui rápido. Eu não gosto da ideia da janela ficar assim por muito tempo.” “Também não. Me sinto como...” Um grande ‘pop’ me fez pular e soltar minha bolsa. Ela deslizou dos meus dedos, caindo na calçada enquanto eu me virava. Com o coração acelerado, meu olhar procurava a fonte do barulho, com medo que eu estivesse prestes a ficar cara a cara com o homem careca. Ele não estava aqui.

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“Você está bem?” Colton colocou suas mãos em meu ombro, me virando para ele. Seu rosto cheio de preocupação. “Abby?” “Isso foi... foi um tiro?” No momento que perguntei eu já sabia a resposta. Se fosse um tiro eu duvidava que Colton estaria apenas aqui, parado. “Me desculpe.” Minhas bochechas queimavam enquanto eu olhava para longe. “Eu sei que não foi isso.” “Foi o escapamento de um carro. Provavelmente no fim da rua.” Ele colocou sua mão na parte de trás do meu pescoço enquanto guiava meu olhar de volta para o seu. “Eu entendo.” Isso foi tudo que eu precisava para acreditar nele. Concordando de vagar, eu forcei minha respiração a voltar a ficar estável. “Eu acho... que eu estou um pouco ansiosa desde sexta. Quando eu ouvi isso, eu pensei...” “Não estou surpreso.” Sua mão se moveu e ele passou um braço sobre meus ombros, me puxando contra seu peito. “Você ainda me surpreende, Abby, em como você está lidando com tudo depois de sexta, mas eu sei que isso te afeta e está tudo bem. É normal.” O cheio cítrico de seu perfume me cercou e meus batimentos diminuíram. A vergonha de ter entendido mal aliviando. “Obrigada.” “Não tem nada que você precise me agradecer.” Se inclinando, ele beijou minha testa e abaixou seu braço. Ele se abaixou e pegou minha bolsa. “Mas eu quero que você se sinta segura. Nada vai acontecer com você.” Eu não respondi enquanto ele pegava minha mão com a sua livre. Ainda segurando minha bolsa, ele me guiou para sua caminhonete que estava estacionada em baixo do grande carvalho. As folhas dançando com a leve brisa. “Reece tem ficado de olho na sua casa durante a noite e de manhã, fazendo rondas.” Eu o encarei, embasbacada. “Não é perfeito, mas eu duvido que você me queira acampado em sua casa, como eu preferiria, até que encontremos aqueles imbecis e os coloquemos

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atrás das grades.” Parando em frente à porta do passageiro, ele soltou minha mão e a abriu. “Entra?” Eu não me movi, nem quando ele colocou minha bolsa em minhas mãos. “Você colocou Reece para vigiar minha casa?” “Yeah. E outros policiais sabem que tem de ficar de olho.” Ele inclinou sua cabeça para o lado, me estudando. “Você parece com alguém que acabou de me ver sem calça16.” Eu acho que eu teria uma expressão totalmente diferente se tivesse visto ele sem calças. “Estou apenas surpresa. Isso é trabalho demais para eles.” “Não é nada.” Seu olhar encontrou o meu. “E eles ficaram felizes em fazer isso. Você é importante para mim. Eles sabem disso.” Pela milésima vez desde sexta, eu estava impressionada com Colton. Eu era importante para ele? Desde quando? Essa pergunta soava como uma coisa idiota de se pensar, mas ele poderia mesmo estar falando a verdade? Eu tinha algum motivo para duvidar que ele estava? “Você está com essa expressão de novo em seu rosto.” Ele disse. Eu sai do meu transe. “Que expressão?” “Como se você não acreditasse em nada que eu disse.” Meus olhos arregalaram. Eu era assim tão obvia? Puta merda. Mas ele não entendia. Ele não entendia que isso era parte de mim, não importando quanta atenção ou atração estivesse sendo jogada em mim ou o que ele dizia, eu realmente não conseguia acreditar que ele realmente queria tudo isso comigo. “Tudo bem.” Ele deu um tapinha em meu quadril, me mandando entrar na caminhonete. Eu fiz exatamente isso, encarando ele enquanto fechava a porta e dava a volta pela frente. Quando ele entrou, ele ligou o carro o ar

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Na verdade ele usa ‘dropped my pants’ que seria mais como ver algo que não quer. Porém, para a próxima frase fazer sentido, vamos deixar como ‘sem calça’ mesmo.

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condicionado estava forte. Pegando seus óculos de sol estilo aviador do painel, ele o colocou e olhou para mim. “Você sabe, pelo menos, por que isso não tem problema?” Eu balancei minha cabeça. “Eu aposto que você vai me contar.” Seus lábios se curvaram em um canto. “Nah, querida, eu vou te mostrar.”

Eu vou te mostrar. Essas palavras pairavam no fundo da minha cabeça durante todo o jantar, uma distração que ressurgia sempre que nossos olhares se encontravam. Apesar de não termos ficado sem conversar. Enquanto esperávamos pela comida, junto com o vinho, conversamos sobre o colegial e ele perguntou sobre a faculdade. Eu falei sobre como era viver em New York e ele admitiu que não conseguiria lidar com a rotina da cidade grande, nem mesmo com Philadelphia. Durante o jantar, ele me guiou numa conversa sobre edição, algo que muitos fora da indústria de publicações não teriam interesse algum, mas ele parecia genuinamente curioso sobre isso. E quando eu comecei a dar uma de fan-girl dos autores para quem trabalhava e que esperava trabalhar no futuro, ele disse que era fofo. De novo. Nós não conversamos sobre a investigação. Eu não tinha mencionado ela, imaginando que isso iria arruinar nosso jantar. Às vezes eu me encontrava perdida no que ele estava dizendo, apenas pequenas partes porque, por pior que isso soasse, eu terminava apenas encarando ele. Não era só porque ele era atraente. Era mais que uma coisa física. Uma mistura de seu charme e bondade, o fato que ele estava realmente aqui, depois desse tempo todo, jantando comigo, tinha muito a ver com isso. E yeah, e um pouco com o fato dele simplesmente ser quente. E eu era mulher o suficiente para admitir isso.

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Eu comecei a imaginar o que as pessoas pensavam quando nos viam juntos. Como quando a garçonete deu uma ‘espiada’ em Colton, o que passou pela minha cabeça? Será que ela se perguntava como eu terminei em um encontro com alguém como Colton, que era universalmente atraente? Ninguém gostava de admitir, mas eu sabia que as pessoas pensavam coisas desse tipo. Inferno, eu tinha feito isso. Depois de tudo, se eles não fizessem, não haveriam milhares de artigos online mostrando casais que não eram compatíveis no quesito aparência. Talvez eu não estivesse me dando crédito suficiente. Eu não queria pensar sobre essas coisas agora, porque o jantar estava meio que perfeito, e toda essa coisa sem sentido estava estragando isso. A noite tinha caído quando saímos do restaurante e as estrelas brilhantes iluminavam o céu cor de ônix. Ele manteve sua mão nas minhas costas até chegarmos a sua caminhonete. Era um gesto simples, mas eu senti como se tivesse muito mais significado. O caminho de volta para minha casa foi quieto enquanto eu me mantive perdida em meus pensamentos, repassando todo o jantar de novo e de novo. Eu nem mesmo percebi que chegamos à minha casa até ele ter estacionado o carro. Eu olhei para ele, o interior escuro da caminhonete, meio esperançosa que ele fosse entrar e parte assustada pelo mesmo motivo. Uma mão estava descansada no volante enquanto seu olhar encontrava o meu. Suas feições estavam sombreadas, então eu não tinha ideia do que ele estava pensando. “Te acompanho até a porta?” “Claro.” Eu fiquei desapontada. Então ele não queria entrar? Eu queria que ele entrasse? Colton tirou a mão do volante e se inclinou, enquanto tirava seu cinto de segurança, sua mão passou sobre meu estomago. Uma série de calafrios passaram pela minha pele. Oh yeah, eu queria que ele entrasse. Como se aquela porta estivesse escancarada.

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Nós andamos para a porta, em silencio com a exceção dos grilos. Eu não sabia o que dizer quando chegamos à porta e peguei minhas chaves, a abrindo. Eu desejava que pudesse ser corajosa e confiante, convidar ele para entrar com um sorriso sexy, mas tinha se passado muito tempo desde que eu fiz isso pela ultima vez. Na verdade, eu nunca fiz isso antes. Eu e Kevin tínhamos namorado enquanto estávamos no colegial. Nessa época os pais estavam envolvidos. Encontros terminavam na porta e recomeçavam com ligações na madrugada. Esse era um caminho totalmente novo que eu não tinha experiência nenhuma. Eu olhei para ele, inalando profundamente. Ele estava me encarando e, mesmo que eu não pudesse ver seus olhos, eu podia sentir seu olhar, e ele era intenso. “Eu realmente me diverti essa noite.” “Assim como eu.” Eu estava sem ar enquanto abri a porta e entrava. Quando me virei para ele e olhei para cima mais uma vez, o que quer que eu fosse dizer morreu, perdido no espaço entre nós. Havia certa intensidade na linha da sua boca, e eu sabia antes mesmo dele abaixar sua cabeça que ele iria me beijar. O ar ficou preso na minha garganta enquanto ele segurava minha bochecha com uma mão, inclinando minha cabeça para trás. Ele passou seus lábios sobre os meus como ele tinha feito antes, na noite anterior, tentando e perguntando. Havia algo tão doce sobre o beijo enquanto eu estava dentro e ele se inclinando. Noite passada foi à primeira vez em que fui beijada nesses quatro anos. Essa estava sendo a segunda, meus instintos rapidamente tomando o controle. Ou, talvez, fosse simplesmente apenas excitação. Prazer me percorria enquanto eu inclinava minha cabeça para o lado, e quando a ponta da sua língua tocou meus lábios, doçura era a ultima coisa que passava na minha cabeça. O beijo se aprofundou enquanto nossas línguas se fundiam. Minhas mãos terminaram em seu peito enquanto uma das suas estava no meu cabelo, seu

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braço em minha cintura me segurando contra ele. Eu o senti, contra minha barriga, e saber o quão afetado ele estava fez meu sangue ferver. O medo das coisas escalarem ficou em segundo plano, ainda ali, mas não consumindo toda minha atenção. Eu não conseguia pensar além dos seus beijos, eu mal conseguia respirar e, de alguma forma, estávamos nos movendo. Eu ouvi a porta bater atrás de nós, minhas costas pressionadas contra a parede e não havia nenhum espaço entre nós. “Eu estava com vontade de fazer isso desde que te vi nesse vestido,” ele admitiu e me beijou de novo, antes que eu pudesse responder. Eu me agarrei em seu ombro enquanto suas mãos deslizavam para baixo, parando na minha coxa, logo abaixo do meu quadril, deixando para trás uma onda de arrepios. Levantando sua boca da minha, ele respirava pesadamente. “Eu disse a mim mesmo que iria me comportar essa noite.” Minhas mãos seguraram mais forte seu ombro, enrugando o material de sua camisa. “E você não está?” Ele beijou meu maxilar. “Bem, eu planejava ser um cavalheiro.” “Por que?” eu perguntei, me surpreendendo. “Inferno. Boa pergunta.” Seus lábios se moveram pelo meu pescoço enquanto eu apoiava minha cabeça contra a parede. “Eu nem mesmo sei.” Eu ofeguei quando senti sua língua passar no ponto onde dava para sentir meus batimentos. “Eu só não consigo deixar minhas mãos longe de você.” Ele levantou minha perna o suficiente para que conseguisse se pressionar contra meu núcleo e, por Deus, a dor que desceu me fez gemer. “Merda,” ele rugiu, enterrando seu rosto no meu pescoço. “Isso não ajudou.” Meu peito levantava e descia rápido. “Não. Isso não ajudou.”

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Um gemido profundo reverberou dele e eu senti sua mão na minha coxa se mover, deslizando para baixo da minha saia. A sua mão contra minha pele nua me fez tremer, extraindo um gemido suave dentre meus lábios, e isso não era nada comparado com o que veio a seguir. Ele trouxe sua mão mais e mais para cima, apalpando minha bunda enquanto investia com seu quadril. Meus músculos se contraíram em resposta. Ele tirou seus lábios da minha garganta, encontrando minha boca enquanto sua mão agarrava minha bunda. O beijo me abalou, e não haviam duvidas na minha mente que eu não o pararia, se ele resolvesse tirar minha calcinha e me tomar contra essa parede. Só de pensar nele fazendo isso fazia minha pele queimar, meu interior se revirar de um jeito louco. A atração que eu sentia por ele era surpreendente. O beijo ficou mais devagar enquanto ele tirava sua mão debaixo do meu vestido. “Okay,” ele murmurou. “Eu disse a mim mesmo que não iria fazer isso essa noite.” Eu abri meus olhos, mal reconhecendo sua feições sobre a luz suave que vinha das escadas. Meu coração estava a mil. Eu queria dizer a ele para ignorar o que ele havia prometido para si mesmo. Eu estava úmida entre minhas pernas, pronta e esperando. Eu queria ele. Colton abaixou minha perna enquanto descansava sua testa contra a minha. Seu peito levantava rapidamente. Eu não disse nada enquanto ambos lutávamos para recuperar o controle sobre o que nossos corpos queriam, mas ele colocando os frios onde isso estava indo foi à coisa mais inteligente a se fazer. Tudo isso parecia tão rápido e eu sabia que poderia rapidamente ficar fora de controle, mas eu... eu queria isso. Eu gostava de Colton. Eu gostava dele no colegial. Eu gostava dele de longe, desde que me mudei de volta para cá. Eu realmente, realmente, gostava dele agora. E isso era assustador.

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Capítulo Dez Apertando o botão de enviar no e-mail, eu sorri para a tela do meu computador. Eu tinha me esforçado desde que acordei, pulando o banho e nem troquei meu pijama até que eu chegasse à última página. A vida glamorosa de um editor. Terminando a edição, eu tinha levantado da cadeira e pego um canetão. Indo até a lousa branca perto da mesa, risquei uma linha por cima de Other Lives. Nada me deixava mais sorridente do que tirar algo da minha lista de coisas a fazer. Bom, isso não era totalmente verdade. Colton estava no topo das coisas que me deixavam mais sorridentes agora. Essa ultima semana tinha sido... absolutamente incrível, quase como se eu fosse uma adolescente de novo ou tivesse nos meus vinte e poucos anos, toda entorpecida pela felicidade. Eu tinha me esquecido como era sentir... me sentir presa na felicidade e na ansiedade de ver alguém, de realmente sentir algo forte de novo porque se essa semana tinha me ensinado alguma coisa, era que meus últimos quatro anos tinha sido só sobre minha profissão e nada mais. Mas essa semana eu tinha aprendido muitas coisas. Desde que Colton trabalhava em turnos de dez horas, ele tinha três dias de folga – domingo, segunda e, estranhamente, a quarta-feira. Claro, ele estava de plantão nesses dias e não parecia como se fossem realmente dias de folga. Graças ao tiroteio semana passada, ele estava no escritório tanto na segunda quanto na quarta, atrás de pistas, mas em ambas as noites nós passamos um tempo juntos. Segunda foi no cinema, algo que eu realmente não tinha aproveitado desde Kevin. Na quarta, nós jantamos nesse restaurante na cidade, um que eu nunca tinha ido antes porque parecia o típico lugar para casais.

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Ambas as noites tinham terminado como a de domingo, pelo menos de um jeito. Ele me beijava na porta, mas de algum modo terminávamos no sofá, seu corpo sobre o meu, sua boca possuindo a minha, suas mãos fazendo coisas insanas com meu corpo. Só de pensar nisso agora, rolando a canela em minhas mãos, fazia meu corpo reagir. Eu corei e meu corpo respondeu enquanto eu me lembrava de como era sentir sua mão entre minhas coxas e quão fácil ele fazia meu corpo entrar em combustão. E ele sempre parava antes que algum de nós encontrasse algum tipo de liberação. Ele era um excelente provocador. Ou, talvez, ele apenas não quisesse ir tão longe e – eu interrompi essa linha de pensamento, afastando isso como se não fosse nada além de uma preocupação besta. Essa linha de pensamento não fazia sentido. Era estúpida. Eu estava cansada de ser estúpida. Além do mais, nós já estávamos indo rápido demais. Fazia sentido que uma parte do nosso relacionamento fosse devagar, o que basicamente foi o que ele disse. Eu podia e iria respeitar isso, e parte de mim estava agradecida que ele estava fazendo algo para nos desacelerar. Lá no fundo eu sabia que não estava pronta para isso. Bem, meu corpo estava. Eu imaginava que meu coração, que sempre batia forte, também estava, mas minha cabeça... minha cabeça estava tendo um trabalho em afastar os sussurros. Eu nunca pensei que eu seria o tipo de pessoa que tinha complexo com minha autoestima. Eu tinha uns problemas com meu corpo, como uma mulher normal, mas a falta de intimidade e toda a redução disso tinha sombreado o jeito que eu me via, o quão desconectada eu estava com meu corpo. O jeito que Colton olhava pra mim, como ele me tocava, isso trazia meu foco para mim mesma. Ele provavelmente não tinha ideia do que isso significava para mim... ou provavelmente o que isso estava fazendo comigo. Coloquei a caneta de volta na caneca que um dos autores havia me mandado, meus batimentos acelerados e notáveis em todos os lugares

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interessantes. Era domingo e nós tínhamos feito planos de nos ver essa noite, nada além e nada concreto, e eu estava totalmente ansiosa. Sendo honesta, eu não tinha certeza se eu senti qualquer coisa assim com Kevin. Não porque meus sentimentos por ele eram mais fracos, porque não era, mas nós tínhamos ficado juntos tão novos. O que eu sentia nessa época não era nada comparado com o que eu sentia agora e, talvez, se eu tivesse conhecido Kevin mais velha, eu estaria experimentando isso com ele. Toda essa oscilação de emoções era um pouco demais para se lidar. Era como ver em preto e branco e, de repente, tudo estava em cores vibrantes. Meu estomago revirou enquanto meus pensamentos eram invadidos por uma onda de percepção. Será que o que eu estava sentido era mais poderoso do que apenas a luxuria e excitação que vinha junto de novos relacionamentos? Seria isso amor? Eu engoli forte enquanto me virava, de costas para a lousa, meu olhar indo para a estante dos livros que eu havia editado em New York e do meu trabalho como freelancer, mas eu realmente não estava vendo os títulos. Será que eu tinha me apaixonado por Colton? Isso soava tão, mas tão ridículo. Nós só tínhamos voltado um para a vida do outro há uma semana, e realmente nunca estivemos na vida do outro antes. Não de verdade. Mas o que eu estava sentindo era muito poderoso, uma sobra do que eu sentia por Kevin. Era estranho pensar nele enquanto eu estava pensando sobre a palavra de quatro letras e sobre Colton, tudo envolvido numa mesma frase. Não era uma coisa ruim de sentir, como se fosse algo errado, mas era apenas estranho. Colocando meu cabelo atrás da orelha, eu pressionei meus lábios juntos. Não era como se eu não quisesse me apaixonar de novo. Eu esperava que eu fosse, mas era algo que eu realmente não tinha imaginado acontecendo tão rápido. Primeiro, eu realmente não tinha me aberto a ninguém, não tinha conhecido ninguém. Para fazer isso, eu teria que sair mais vezes.

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Sentindo o que estava me pegou desprevenida por várias razões. Eu não estava esperando que ninguém entrasse assim na minha vida, especialmente Colton Anders. Eu não estava esperando esse sentimento ser tão forte e, por mais que vários livros que eu editei serem sobre personagem se apaixonando rápido e de um jeito forte, eu não acreditava que isso era possível. Amor à primeira vista não existia no mundo real. Ou, talvez, existisse e eu que nunca havia experimentado isso. A bola no meu estômago aumentou. Uma mistura de pensamentos e emoções me invadiu. Estar apaixonada era algo excitante. Era devastador e, possivelmente, a coisa mais afrodisíaca. Mas também era assustador pra cacete. Porque eu já estive apaixonada e havia perdido esse amor. E sabendo o que sabia agora, agora que havia perdido Kevin, eu não voltaria e mudaria nada. Amar, não importando a quantidade de dor que poderia trazer, valia a pena. Não importava o que fosse eu não iria esconder o que eu estava sentindo. O que aconteceu com Kevin e o que eu tinha visto sexta à noite provava que a vida era curta demais para não se viver. Curta demais para ser covarde. Andando até meu quarto, eu tirei meu chinelo e olhei para o vestido que eu planejava usar essa noite. Não era nada chique, apenas um vestido estampado de algodão, mas eu estava tentando ficar mais confortável na minha própria pele. Eu tirei minha camiseta, ar varrendo sobre meus seios e já deixando meus mamilos duros. Enquanto eu tirava minha calça, eu não consegui evitar imaginar Colton fazendo isso. Eu poderia facilmente ver ele de joelhos, olhando para mim com aqueles olhos da cor do oceano. Meu estomago afundou enquanto eu me sentava na beira da cama. Eu precisava de um banho e precisava me arrumar, mas minha mão foi até a base do meu pescoço. Houve um momento de hesitação enquanto eu mordia meu

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lábio. Eu sabia o que meu corpo queria – o que eu queria. A tensão estava acumulando há semana toda e eu me sentia como se fosse arrancar minha própria pele. Me aliviar tinha sido uma necessidade quase clínica antes, quase como se fosse algo à parte do que estava fazendo e sentindo. Era só sobre ter uns momentos de prazer, mas isso, nesse momento, era muito mais potente. Minha mão tremia enquanto eu percebia que fazer isso, nessa hora, era muito diferente. A onda de prazer aumentou enquanto eu levava minha mão para baixo. Meu braço passou pela ponta dos meus seios, me fazendo respirar mais forte. Eu não estava pensando enquanto trazia meus dedos para baixo, minhas unhas arranhando de leve meu mamilo. Colton consumia meus pensamentos enquanto minha mão passava pelo meu estômago, além do meu umbigo. O momento que meus dedos tocaram minha umidade, um leve gemido escapou de mim. Eu deslizei um dedo dentro enquanto minha palma pressionava minha bola de nervos. O prazer estava aumentando, pesado e intenso. Eu me deixei cair contra a cama com minhas pernas abertas. Meus olhos estavam quase fechados. Eu podia ver a ponta dos meus seios, a curva do meu estômago e minha mão se movendo entre minhas coxas. Eu nunca tinha me assistido fazer isso antes, mas eu não conseguia olhar para outro lugar dessa vez, meu coração acelerado enquanto eu levantava meu quadril e investia contra meu dedo. Havia algo totalmente erótico nisso – sobre assistir o que eu estava fazendo. Minha respiração ficou falhada e nesse instante, eu vi a cabeça de Colton entre minhas coxas em vez da minha mão, e eram seus dedos em vez dos meus, sua boca. A tensão aumentou e se soltou em aviso, me devastando. Eu joguei minha cabeça para trás, gemendo no silêncio que meu quarto estava. A liberação foi mais intensa que qualquer outra vez que eu tinha feito isso, me assustando.

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Fechando meus olhos, eu soltei um longo suspiro enquanto eu, vagarosamente, afastava minha mão, a deixando descansar em minha barriga. Deus, meus hormônios estavam fora de controle. Na verdade, minhas emoções que estavam fora de controle, de um jeito bom. Meus lábios se curvaram, formando um pequeno e contido sorriso. Eu pisquei, abrindo meus olhos, meu olhar se focando no teto. Meus músculos não eram nada e sair dessa cama era a última coisa que eu queria mas eu... Eu me senti viva.

Colton sabia mesmo como me conquistar. Crab Rangoon17. Quando ele apareceu no domingo à noite, ele trouxe um pacote de comida para viagem, incluindo meu ponto fraco, o que consistia na mistura de caranguejo e cream cheese. Ele também tinha trazido um filme, já que eu tinha comprado uma TV nova a uns dias atrás. Não era tão boa nem tão grande quanto à outra, mas teria de servir enquanto eu não pudesse gastar tanto em uma TV nova. Ele tinha trazido o remake de um filme de terror antigo que tinha traumatizado minha infância e, quando terminamos de jantar, ele colocou o filme. Nós começamos sentados um ao lado do outro, mas, antes mesmo de quinze minutos terem se passado, Colton tinha esticado seu grande corpo no sofá. Ele conseguiu me convencer a me deitar, assim eu estava deitada ao seu lado, minha cabeça em seu braço e sua mão no meu quadril. E foi nessa hora que eu realmente parei de ver o filme.

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Bolinho frito com uma massa de wonton (tradicional da culinária chinesa) e recheado de cream cheese e carne de caranguejo temperado com cebolinha e/ou alho.

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Eu e Kevin tínhamos feito isso tantas vezes, preferindo ficar em casa aos sábados em vez de sair. Eu esperava que eu ficasse um pouco melancólica, mas o que senti foi uma sombra da dor que eu tinha vivido nos meses após sua morte. Eu tinha certeza que se Kevin pudesse ver o que eu estava fazendo agora com Colton, ele ficaria feliz. Saber disso tornava relaxar contra Colton mais fácil. Mas estar relaxada se tornou em estar atenta. Com cada respiração de Colton, eu estava consciente do quão perto estávamos. A cena da menina gritando na TV se tornou nada além do barulho ao fundo enquanto eu estava focada em cada parte que nossos corpos estavam se tocando. A parte da frente das suas coxas pressionadas contra a parte de trás das minhas. Eu mordi meu lábio enquanto eu me movi um pouco, parando no momento que seus dedos que estavam no meu quadril me apertaram, enrugando o fino material do meu vestido. Eu pensei sobre o que eu tinha feito essa tarde, me tocar enquanto pensava nele, e meu corpo ficou quente. Não de vergonha, mas de pura excitação. “Você está vendo o filme?” Colton perguntou, sua voz mais profunda, rouca. Eu tinha uma escolha. Eu poderia fingir que estava ou poderia confessar o fato que eu não estava nem um pouco interessada no filme, e que era ele que tinha toda a minha atenção. Não era... fácil começar isso. Minhas habilidades de sedução estavam abaixo do nível iniciante, mas eu já não tinha decidido isso? Não ser covarde. Viver apesar do risco de me machucar. Apenas... apenas deixar ir. Antes que eu pudesse me dar tempo de pensar demais sobre isso, eu fiquei de costas e levantei meu olhar até o dele. Nos olhamos por um momento até que seu olhar caiu para minha boca. Eu sabia que qualquer coisa que eu falasse provavelmente seria idiota. Então decidi que ações eram melhores que palavras.

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Pois palavras poderiam ser difíceis. Eu levantei minha mão e pressionei-a contra sua bochecha recémbarbeada. Meu coração palpitava enquanto ele se movia um pouco, colocando um beijo no centro da minha mão. Oh Deus, isso era tão doce, quase doce demais. Eu comecei a tirar minha mão, mas me parei enquanto seu olhar voltava para o meu. Tentado respirar, eu guiei sua boca para a minha. Eu o beijei, e eu não sabia se ele podia ler pensamentos ou se ele era simplesmente um maldito unicórnio, mas ele me deixou colocar o ritmo, me deixou brincar. Eu mapeei sua boca, cobrindo cada centímetro e, quando eu quis mais, ele abriu a sua boca procurando meu beijo. Eu cuidadosamente o explorei, vivendo do seu gosto. Totalmente imersa nas sensações que ele estava criando, eu aproveitei feliz o momento que ele tomou controle. Seus lábios pediam mais, e eu dei isso a ele, deixando um gemido contra sua boca quando sua mão, finalmente, se moveu do meu quadril, passando sobe meu seio. Minha respiração estava falha. O vestido tinha bojo e o algodão fino não era uma barreira poderosa contra sua mão. Eu gemi em sua boca quando sua mão se fechou em meu seio e o apertou de leve. Seu peito reverberou contra minha lateral. “Deus, nós nem conseguimos ver vinte minutos do filme.” Uma pequena risada escapou de mim. “Isso é uma coisa ruim?” “Inferno, você precisa mesmo perguntar isso?” Seus dedos habilidosos encontraram meu mamilo pelo tecido do vestido. Meu sangue virando fogo líquido. “Eu gosto que isso é uma coisa boa.” Eu estava ofegante. “Eu... eu gosto de ouvir isso.” “Você gosta?” Ele se moveu para que estivesse apoiado em seu braço esquerdo enquanto o direito passava sobre a gola do meu vestido. Minhas costas arquearam. “Yeah, você gosta.” “Gosto,” eu admiti.

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Ele trouxe sua boca para a minha mais uma vez, me beijando. “Eu não acho que consigo ser um cavalheiro por mais tempo. Eu quero te tocar.” Seus dedos beliscaram meu mamilo, extraindo um gemido de mim. “Mas eu realmente quero te tocar em outros lugares.” Meu corpo tremeu. Eu tinha uma boa ideia do que os ‘outros lugares’ eram. Eu fechei meus olhos e sussurrei. “Eu também quero isso.” “Graças a Deus.” Sua mão deixou meu seio e a perda era quase palpável, mas sua mão estava se movendo de novo, passando pelo meu estomago. Eu abri meus olhos, observando enquanto ele deslizava sua mão pela minha barriga, sobre minha coxa. Perdi o fôlego quando ele passou sua mão para baixo da barra do meu vestido. Eu mordi meu lábio enquanto segurava seu braço. Seu olhar voltou para o meu. “Não pare,” eu disse. “Não?” Ele me beijou, sugando meu lábio enquanto ele levantava sua cabeça. Quando eu balancei minha cabeça, ele fundiu nossas bocas juntas. Sua mão passou sobre minha coxa nua até chegar à barra da minha calcinha de renda. Eu segurei minha respiração, parcialmente por causa do prazer crescendo dentro de mim e eu sabia que ele podia sentir o quão suave eu era. Não havia nada duro nas minhas coxas ou no meu quadril. Ele não pareceu ligar, ou se importar, porque sua mão tinha feito seu caminho para dentro da minha calcinha. Minha mão apertou mais seu braço enquanto seus dedos encontravam o pico entre minhas coxas. Ele passou seus lábios sobre os meus. “Abre para mim?” Nunca, na minha vida toda, essas palavras tiverem um significado mais quente que agora. Minhas coxas se afastaram e seu dedo passou sobre minha pele úmida. O toque era suave, mas me fez tremer do mesmo jeito. “Tão sensível,” ele murmurou. “Eu gosto disso.”

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Meu coração estava acelerado enquanto ele deslizava um dedo sobre minha umidade até que seu dedo estivesse dentro. Um som baixo escapou de mim e, quando seu dedão pressionou contra o pico de nervos, eu ofeguei. “Colton.” Sua boca cobriu a minha enquanto o calor aumentava, crescendo e crescendo até que eu tivesse certeza que iria entrar em combustão. Meu quadril se movia contra sua mão e meu sangue fervia, criando um chiado em meu ouvido. Não. Espere. Isso não era meu ouvido. Era um celular – o celular de Colton. Ele o ignorou – graças a Deus – enquanto seu dedo entrava e saia, me devorando com beijos. A tensão aumentou e, de repente, eu queria, não, eu precisava sentir sua pele contra a minha. Eu agarrei sua camiseta, puxando ela para cima. Seu corpo tremeu e ele fez um som rouco no segundo que minha mão tocou os picos duros do seu estômago. Bom Deus, não havia um milímetro dele que fosse suave. Meus dedos traçaram o pico de cada parte do seu abdômen. Minha mão indo mais para baixo, passando sobre o botão de seu jeans. O celular começou a tocar de novo, uns segundos depois que havia parado, e dessa vez a mão de Colton congelou entre minhas coxas. Eu quase rezei para ele não parar, mas ele parou. Xingando, ele levantou sua cabeça e olhou para onde seu celular estava sobre a mesa de centro. Sua mão saiu de mim. “É trabalho. Me desculpe.” “Tudo bem,” eu murmurei, entorpecida pela confusão de sensações que passavam pelo meu corpo. Me rolando em um movimento fluido, ele pegou seu celular e levantou. “Anders.” Houve uma pausa. “Yeah, eu não consegui pegar o telefone. O que aconteceu?” Eu olhei para ele, vendo claramente o monte da sua ereção empurrando contra seu jeans.

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Merda, isso era um desperdício. De repente, eu queria rir, exceto que Colton enrijeceu e eu tive um leve vislumbre de uma carranca enquanto ele se virava. Ele pegou o controle e pausou o filme. “Yeah, você sabe onde estou.” Minhas sobrancelhas franziram. Colton olhou de volta para mim, sua expressão impossível de se ler. “Você está falando sério? Merda.” Ele balançou sua cabeça, olhando para a janela que agora estava arrumada. “Não estou surpreso, mas eu não achei que isso iria acontecer tão rápido.” Olhando para baixo, eu vi que a barra do meu vestido estava levantada, mostrando minha calcinha preta. Com meu rosto ficando vermelho, eu rapidamente a arrumei. Então, eu imaginei que deveria me sentar. “Você precisa de mim hoje à noite?” ele perguntou, e eu mordi meu lábio inferior, esperando que nada de ruim tivesse acontecido, o que era estupidez. Colton era um detetive. Coisas ruins aconteciam o tempo todo. “Merda. Yeah, isso é bom e ruim.” Meu olhar foi para ele enquanto gelo se formava em meu estômago. “Okay. Eu te vejo amanhã.” Colton desligou o celular e o colocou de volta na mesa. Se sentando ao meu lado, ele exalou. “Desculpe. Era meu parceiro – Hart.” Aquele gelo ainda estava lá. “Tudo bem. Seu trabalho é importante. Quando alguém te liga, você tem que atender.” “Eu tenho.” Ele colocou suas mãos em seu joelho. “Eu meio que tenho boas notícias.” “Meio?” Colton concordou. “Nós identificamos um dos homens que você viu sexta passada.” Ele pausou, seu maxilar ficando tenso. “Não tem um jeito fácil de dizer isso. Aparentemente ele foi retirado de Schuylkill River.”

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Eu enrijeci, meus olhos arregalados. “O que?” “Um dos homens que você viu aquela noite está morto, Abby.”

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Capítulo Onze Todo o calor fugiu e uma tensão diferente se formou em meu estômago. No começo, eu não achei que tinha ouvido direito. A bomba que ele soltou veio do nada. Eu disse a primeira coisa que me veio à cabeça. “Você tem certeza?” E essa era uma pergunta idiota. Ele concordou. “Não é o homem que atirou. Parece ser o outro suspeito.” Me apoiando contra a almofada, me sentei sobre minhas pernas enquanto tentava processar o que tinha acabado de acontecer. Meus pensamentos estavam correndo em tantas direções. Não era o homem que puxou o gatilho – aquele com os olhos frios e mortais? “Como ele morreu?” Colton virou seu corpo para mim. “Querida, isso não é algo que você precisa saber.” Parte de mim queria saber, por mais mórbido que isso soasse. “Mas como?” Ele olhou para o filme pausado. “Lembra quando eu te contei sobre Isaiah Vakhrov?” O gângster. Como eu poderia me esquecer dele? Eu concordei. “Até onde sabemos, não tem evidência que diga que ele tem um dedo nisso, mas eu estaria disposto a apostar minha aposentadoria que foi ele.” Colton levantou sua mão, suspirando, enquanto passava ela pelo seu cabelo. “É uma bagunça, sabe? Esses caras tem seu próprio código de conduta, por mais errado que seja, e enquanto eles matam pessoas, matar eles não é a resposta.” “Concordo,” eu sussurrei, tremendo. “Eu... eu nem sei o que dizer.”

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“Não tem nada a se dizer, na verdade, mas com um morto, o atirador provavelmente vai fugir. Se ele for esperto o suficiente.” Meu olhar foi para o seu enquanto pressão aumentava em meu peito. “E os caras que vieram dar o aviso no estacionamento? Eles não acham que eu tive algo a ver com isso?” Seu maxilar enrijeceu enquanto seu olhar ficava gelado. “Eles tem de ser completos idiotas se acham que você teve qualquer coisa a ver.” Mas eles tinham sido idiotas antes para me abordar. Outro calafrio passou pelos meus ombros. Eu não tinha me esquecido deles ou do medo que eles introduziram semana passada. Isso era algo que eu tentava não pensar. Eu não gostava da ideia desse tipo de medo. Talvez isso não fosse inteligente. “E tem mais uma coisa. Hart conseguiu achar algumas fotos de pessoas que conferem com sua descrição do tiroteio,” ele explicou. “Nós gostaríamos que você olhasse elas o quanto antes.” Eu concordei de novo. Colton se moveu, colocando a ponta dos seus dedos sobre meu queixo. Ele levantou meus olhos até os seus. “Eu vou ter certeza que você fique segura, Abby.” “É por isso que você vem passando tanto tempo comigo?” O momento que essa pergunta saiu da minha boca, eu queria me socar. Eu não conseguia acreditar que essas palavras saíram de mim. Era como se elas existissem no escuro, um lugar estupido que eu não tinha controle nenhum. Suas sobrancelhas levantaram enquanto ele me encarava. “Desculpa?” Oh Deus. Minhas bochechas esquentaram. “Quero dizer, eu sei que sou uma testemunha e me manter segura é parte do seu trabalho, mas eu...” eu estava lutando para controlar uma quantidade épica de xingamentos. “Eu nem sei o que estou dizendo.”

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Colton abaixou sua mão. “Eu acho que você sabe, Abby.” Descruzando minhas pernas, eu passei a mão sobre a saia do meu vestido, nervosa. Minha pergunta era algum tipo de análise Freudiana? Claro que era. Porque eu era extremamente estúpida, essa parte obscura de mim que não conseguia aceitar que Colton estava aqui porque ele sinceramente estava atraído por mim, mesmo depois do que aconteceu entre nós. Eu era uma idiota. Seus olhos se estreitaram. “Você realmente acha que o fato deu estar aqui tem qualquer coisa a ver com o que aconteceu na sexta?” “Bem, foi assim que nossos caminhos se cruzaram...” “Você sabe que esse não é o ponto,” ele interrompeu. “E você sabe que não é isso que você quis dizer. Você acha que eu estou aqui, com você, com algum tipo de motivo secreto?” Uma sensação estranha expandiu em meu peito. “Eu não acho...” eu me cortei porque sendo honesta comigo mesma, eu estaria mentindo. “Eu faço tudo para manter uma testemunha segura e isso é parte do trabalho,” ele disse, balançando sua cabeça. “Mas eu não iria tão longe, Abby. Eu estou aqui e tenho estado aqui com você simplesmente porque quero estar. Eu acho que o fato que eu estava com minha mão entre suas coxas há dez minutos é prova suficiente disso.” Calor encheu minhas bochechas enquanto eu mordia o interior delas. Um momento se passou. “Me desculpe. Eu não quis insinuar nada.” “Você não precisa se desculpar.” Era minha vez de balançar a cabeça porque eu realmente precisava me desculpar. “Mas eu preciso, porque... porque dizer algo assim não é dizer coisas boas sobre você, como pessoa.” Eu exalei por um longo tempo. O que eu poderia dizer? Que eu estava tentando melhorar minha confiança? Que eu era... “Eu sou uma idiota.”

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Uma sobrancelha levantou. “Você não é idiota. Não é esse o problema.” Inquietação levantou em meu peito enquanto eu olhava para ele. Ele estava encarando diretamente sua frente, seu olhar fixo na parede. Um sentimento de torpor se formou em meu estômago. Seus ombros ficaram tensos. “Você é uma mulher linda, Abby. E você é inteligente e bondosa. Você é engraçada.” Ele se virou para mim, um brilho distante em seus olhos. “E é uma pena que você não enxergue isso.” O torpor girou em círculos gelados, cobrindo minha pele. Por baixo dele, vergonha queimava. Será que minhas dúvidas eram tão obvias? Eu apertei meus olhos fechados. Deus, isso era humilhante. “Eu vou... eu vou ir e sair,” ele disse, meus olhos se abrindo rapidamente. Ele estava encarando a parede de novo e desapontamento, remorso e mais um monte de outras emoções se misturavam em mim. “Fique com o filme. Assistimos ele depois.” Um nó se formou na base da minha garganta. Por algum motivo eu não achava que ‘depois’ seria tão rápido assim. “Okay?” ele perguntou. Pressionando meus lábios juntos, eu concordei enquanto ele se levantava e me forcei a sorrir quando ele se abaixou, pressionando seus lábios contra minha testa. Meu peito apertou com o gesto doce e, de alguma forma eu consegui levá-lo até a porta e dizer adeus. Quando eu fechei a porta, eu me apoiei contra ela, pressionando minhas mãos contra meus olhos. O enjoo aumentou, atingindo meu coração. Havia uma boa chance que nesse curto período eu tivesse me apaixonado por Colton e eu... eu já posso ter perdido ele.

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Capítulo Doze Colton tinha me mandado uma mensagem na segunda de manhã perguntando se eu podia passar na delegacia hoje e olhar novamente as fotos, mas quando eu cheguei lá, ele não estava. Eu tentei não levar isso para o lado pessoal enquanto eu seguia o Detetive Hart até uma sala, mas era difícil. Meu estomago revirou enquanto o Detetive Hart espalhava fotos pela mesa. Eu queria perguntar onde Colton estava. Inferno, eu queria apenas pegar meu celular e mandar uma mensagem para ele. “Leve seu tempo,” ele disse, se sentando em uma cadeira de metal. “Não tem pressa.” Meu olhar passou pelas fotografias enquanto meu coração palpitava em meu peito. Eu precisava me focar. Prioridades. Agora, o que tinha acontecido com Colton não era a coisa mais importante acontecendo. O atirador ainda estava solto. Levando meu tempo, eu olhei para cada foto espalhada na minha frente. No começo, todos pareciam o mesmo – homens com vinte e tantos anos, carecas, com tatuagens no braço e no pescoço, ou apenas nos braços. Eu olhei para vinte e tantas fotos antes que o Detetive Hart adicionasse mais cinco no montante. Meu coração parou e eu não conseguia respirar. Eu me movi, pegando a terceira foto e a segurei mais perto. Haviam três imagens: uma frontal e dois perfis. “Sra. Ramsey?” Por um momento minha língua pareceu não funcionar. Como se estivesse grudada ao céu da minha boca. Minha mão tremia enquanto eu

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encarava o rosto do homem que eu tinha visto atirar em alguém – matar alguém. Minha garganta estava seca. “É ele.” Detetive Hart se inclinou para frente, colocando seu antebraço sobre a mesa. “Tem certeza?” “Absoluta.” Limpei minha garganta. “É ele.” Sem conseguir olhar mais para a foto, eu a entreguei ao detetive. Satisfação enchendo meus olhos. “Qual seu nome?” Eu perguntei e, então, franzi o cenho. “Você provavelmente não pode me falar isso, pode?” Ele colocou a foto em um arquivo. “Você está certa. Pelo menos, não agora.” Se levantando, ele tirou seu telefone do bolso. “Tem só alguns formulários que você precisa assinar então vai poder ir.” Inalando descompassadamente, eu ignorei a inquietação que estava se formando dentro de mim. Detetive Hart parou na porta. “Você vai colocar esse homem atrás das grades, onde ele pertence.” Seu sorriso estava tenso. “E você, provavelmente, salvou sua vida.”

Segunda-feira foi estranha. Eu não conseguia ficar no manuscrito, não que pudesse culpar qualquer pessoa além de mim mesma. Depois de ter identificado um assassino essa manhã, segundo Detetive Hart eu tinha salvado sua vida. A não ser que o mafioso que Colton mencionou o pegasse antes. Colton. Durante o dia, eu tinha ficado obcecada em checar meu celular. Como se de algum modo eu tivesse perdido uma ligação ou mensagem dele. Claro que não havia nenhuma mensagem perdida. Meu estomago afundou. Depois de ter identificado o atirador, eu imaginei que Colton entraria em contato, mesmo que fosse só no sentido profissional.

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Segunda vagarosamente se transformou na terça. Sem ligações. Sem mensagens. Eu poderia ter mandado uma mensagem a ele, eu percebi isso, mas fui eu que estraguei tudo e, honestamente, eu não tinha experiência nessas coisas. Sair com alguém estava além da minha capacidade de entendimento. Eu deveria dar espaço a ele? Dar a ele tempo? Ou ele estava esperando que eu entrasse em contato? Ou ele só estava realmente ocupado? O ultimo fazia mais sentido. Ele provavelmente estava tentando localizar o atirador. Sentada na minha mesa, eu gemi enquanto me movia, colocando minha testa contra a madeira gelada. Eu era uma idiota. Eu tinha deixado à voz estupida e feia da minha cabeça ter o melhor de mim. Eu ainda estava deixando ela ter o melhor de mim, não estava? Se não, por que eu ainda não tinha mandado uma mensagem a Colton? Mandar uma mensagem a Colton seria a coisa normal a se fazer. Eu levantei minha cabeça e bem devagar a abaixei de novo contra a mesa. E fiz isso de novo. O que eu estava fazendo, além de bater minha cabeça contra a mesa? Porque isso nem era assim estranho nem nada. Okay. Eu precisava de um plano. Meu coração parou de bater quando levantei minha cabeça e vi meu celular. Eu poderia mandar uma mensagem para ele. Eu podia fazer isso. Pegando meu celular, eu toquei na tela e, então, no ícone verde de mensagem. Meus batimentos estavam acelerados enquanto eu procurava o nome de Colton e começava a digitar a primeira coisa que me veio à mente. Eu não me deixei parar para pensar ou permiti me sentir estupida por digitar isso. A mensagem tinha apenas cinco palavras. Sinto falta dos seus crepes. Okay. Era meio que uma mensagem fofa e meio estupida. Muito estupida. Antes de apertar enviar, eu apaguei a mensagem. Eu era uma completa idiota, geez18.

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Uma onomatopeia para um ‘puta que o pariu’

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Eu não mandei mensagem para Colton nem ouvi nada sobre ele. Minha vida tinha estado uma loucura essas duas ultimas semanas que era quase difícil de acreditar que tão pouco tempo tinha se passado. Eu não sabia como me sentir sobre ter testemunhado um assassinato, saber que alguém havia morrido, e a outra, o atirador, estaria logo – espero – preso. Eu não sabia como me sentir sobre muitas coisas. Na verdade, isso não era inteiramente verdade. Quando se tratava de Colton, eu sabia exatamente como me sentia. Como merda. Eu não achei que sua mensagem de segunda era uma desculpa para não me ver. Depois de tudo, depois do que tinha acontecido, ele estaria ocupado, e desde que ele normalmente trabalhava as terças, eu não estava esperando uma visita. E nem recebi uma. E ele não tinha mandado mensagem nem ligado. Havia essa parte de mim que queria ouvir todas as pequenas e, provavelmente, mais racionais, vozes que diziam que sua falta de contato não significava nada. Ele devia estar ocupado e, eu, também, não tinha entrado em contato com ele. Principalmente porque eu não sabia o que dizer. Eu ainda não conseguia acreditar que eu tinha feito aquela pergunta para ele. Se ele estava bravo, o que eu sabia que ele tinha ficado mesmo que ele tivesse dito que eu não precisava me desculpar, ele estava em seu direito. Insinuar que ele tinha algum outro motivo para estar passando tempo comigo e fazer as coisas que estávamos fazendo era realmente um insulto. E eu fodi tudo. E, enquanto Jillian se sentava na beira do meu sofá na quarta à tarde, me observando andar para lá e para cá na minha sala, eu contei a ela o quanto eu tinha fodido tudo enquanto ela bebericava seu latte. “Então, é isso.” Eu me larguei no sofá, olhando para o cappuccino que ela trouxe para mim. Ele já tinha acabado. “Não só ele, provavelmente, acha

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que eu sou uma idiota, mas ele também sabe que eu tenho a confiança de um rato de esgoto.” Jillian franziu o cenho de trás do seu copo. “Não acho que ele pensa que você é uma imbecil. Ele te disse para não pedir desculpas.” “Isso porque ele é um bom homem e ele não é rude com ninguém. Mesmo no colegial ele já era assim. Defendendo as crianças que eram perturbadas e amigável com todo mundo e, se essa ultima semana me ensinou qualquer coisa é que ele não mudou nada nesse sentido.” Eu peguei o copo vazio e me levantei, sem conseguir ficar parada. Andei para cozinha, jogando ele no lixo. “Se ele me acha uma imbecil, ele não vai dizer nada.” “Isso até pode ser verdade, mas eu não acho que é o caso.” Ela colocou seu copo de café na mesa de centro e esperou até que eu voltasse para a sala. “E sobre essa coisa de confiança? Você não deveria ter vergonha disso.” Parando perto da TV, eu levantei uma sobrancelha enquanto eu cruzava meus braços sobre meu peito. “Falta de confiança é, com certeza, uma das coisas menos atraentes por ai.” Jillian revirou seus olhos. “E é, de verdade, uma das coisas mais comuns por aí.” “Verdade,” eu murmurei. “Eu sempre pensei que quando falam que você deveria ter mais confiança, porque confiança é sexy, era como levar um tapa na cara,” Jillian disse. “Como ‘obrigada por apontar isso’.” Eu ri secamente. “É estranho, você sabe? Eu nem tinha percebido isso sobre mim mesma nesses últimos anos. Eu só meio que parei de pensar em mim como uma mulher. Eu sei que isso soa estranho, mas é o melhor jeito que eu consigo explicar isso. Eu acho...” eu me sentei de volta, colocando minhas mãos em meu colo enquanto eu dava de ombros. “E eu sempre me senti tão confortável com Kevin. Isso nunca foi algo em que tive de pensar, e eu acho que isso sendo uma coisa nova me pegou de surpresa.”

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“Isso é compreensível.” Um sorriso fraco se formou em meus lábios enquanto eu olhava para meu celular. Colton deve estar de folga hoje, a não ser que ainda estivesse lidando com a investigação. Meu estômago caiu um pouco. “Eu acho que isso foi uma benção disfarçada. Pelo menos agora eu sei como me sinto. E eu posso fazer algo sobre isso.” Ela se virou em minha direção. Seu cabelo grosso castanho deslizou sobre seu ombro enquanto ela inclinava sua cabeça para o lado. “Como o que?” Eu realmente não iria admitir toda a cena deu nua encarando a mim mesma. “Acho que eu preciso ficar mais consciente de mim mesma. Ter um tempo para mim, sabe?” “Você trabalha o tempo todo,” ela concordou depois de um momento. “Eu achava que meu pai trabalhava muito, mas eu acho que o único descanso que você tem é quando estamos juntas.” Essa seria uma afirmativa. Ela olhou para mim pelas sua franja. “Você... você quer mudar a si mesma?” “Quem não quer mudar a si mesmo nem que seja um pouco?” Eu ri enquanto colocava meu cabelo atrás da orelha. “Quero dizer, eu provavelmente poderia ser um pouco mais saldável. Parar de beber cappuccinos todo dia. Mas eu preferiria ser feliz comigo mesma que realmente tentar mudar tudo sobre mim.” “Isso é bom.” Ela abaixou seu olhar. “Eu gostaria de pensar assim. Sobre mim mesma, quero dizer.” Franzi o cenho. “Você quer mudar algo sobre você?” Quando ela não respondeu, eu entendi. “É por isso que você vai mudar de faculdade? Para recomeçar?” Ela meio que deu de ombros. “Eu só quero... yeah, eu quero recomeçar, e eu posso. Eu vou.”

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Preocupação passou por mim. Me movi, colocando uma mão em seu braço. “Está tudo bem?” Jillian concordou em resposta para a pergunta pesada. Essa menina nunca tinha sido muito de compartilhar informações, apenas deixando dicas aqui e ali. Eu sabia que ela não era próxima a ninguém exceto... exceto um cara chamado Brock. Ele era um tipo de lutador que trabalhava para seu pai. Pelo que eu tinha descoberto, ele tinha estado por perto da sua família há muito tempo. E sempre que ela falava sobre ele, o que não era sempre, seu rosto sempre assumia aquela expressão de adoração absoluta. “Jillian...” “Eu só não quero terminar fazendo o que minha família toda faz. Tudo é sobre a academia, e não é isso que quero fazer. O único jeito deu escapar é indo embora agora. De qualquer forma,” ela disse, seus lábios fazendo um bico como se ela estivesse pensando em algo. “Uma das coisas que você nunca vê em livros de romance é uma mulher que tem problemas de autoestima. Quero dizer, eu tenho certeza que eles existem, mas eles são poucos e difíceis de achar. Como se elas pudessem ter problemas alimentares, traumas de abusos sexuais e abuso mental. Elas podem ser vendidas em trafico de sexo e elas podem carregar uma quantidade enorme de culpa. Nós temos personagens femininas que sofreram grandes perdas e aquelas que tem cicatrizes mentais e físicas, mas onde estão as mulheres comuns? Aquelas que se olham no espelho e se retraem um pouco? Como, por que todas essas coisas são aceitas mas ler ou saber sobre outra mulher que tem problema de autoestima é algo pior que um drama meloso? Cara, eu entendo que se ler por prazer, mas você precisa ter um pouco de realidade na história.” Afastando sua franja dos seus olhos, Jillian exalou audivelmente e continuou. “Que seja. Isso não importa. Você é normal. Eu sou normal. Nós não somos perfeitas e não ter a melhor das confianças não faz de nós uma pessoa pior.”

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O que Jillian disse era totalmente verdade. Puta merda, a verdade nua e crua me atingiu. Mulheres queriam que outras mulheres tivessem autoestima e confiança. Ninguém queria admitir que não tinha tanta confiança e que elas não gostavam de se ver no espelho. Isso era errado e nós não podíamos ter nossos momentos de fraqueza. Que tínhamos de esconder o fato de estarmos desconfortáveis com nossas imperfeições. Que a jornada para amar a si mesma não excluía reconhecer que haveriam dias onde você só não gostaria de se ver nua. E que haviam coisas piores que ter problemas com sua autoestima. Eu olhei para Jillian. Esse era um dos momentos que eu esquecia que ela era tão nova, porque porra, ela realmente poderia ser bem mais esperta que eu. “Você está certa.” Seu rosto se transformou quando ela sorriu. “Eu sei.” Eu ri. “Modesta.” “Que seja.” Se inclinando para frente, ela bateu com sua mão sobre seu joelho. “Você quer sair?” “Ir aonde?” “Eu não sei. Você mora bem perto do bar ao lado do Outback.” “Mona’s?” Eu comecei a sorrir. Jillian, eu não acho que você tem permissão para ir lá.” “Eu já estive lá antes. E enquanto eu não beba, Jax não se importa comigo lá.” Minha sobrancelha levantou. “Jax?” “Ele é o dono. E é um bom amigo de Brock.” Ela se levantou. Eu olhei para ela. “Então... Brock vai estar lá?”

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“Duvido,” ela disse. “Normalmente ele está treinando essa hora.” Por algum motivo eu meio que não acreditei nela. “Vamos lá. Vai ser bom sair um pouco.” Ela pausou. “Além do mais, você sabe quem é bartender lá, certo?” Eu entendi a dica. “Espere. Lá é onde Roxy trabalha e ela está namorando...” “O irmão de Colton,” ela terminou. O redemoinho no meu estômago agora era por outro motivo. “Como você sabe isso?” Ela revirou os olhos. “Brock é um bom amigo deles e eu sou ótima em... escutar. Então, você quer ir? Eu vou me comportar e pedir uma Coca.” Eu atirei um olhar a ela. “Menina rebelde.” Jillian riu e eu tive de sorrir porque eu acho que nunca tinha ouvido ela rir. “Então?” Olhando para o relógio, eu vi que ainda estava cedo. Eu tinha planejado começar outro manuscrito que tinha recebido, mas eu não deveria estar tendo mais tempo para mim mesma? Além do amis, se eu ficassem em casa, tudo que eu iria fazer era ficar encarando meu celular, desejando coisas. “Okay,” eu disse, me levantando. “Vamos lá.”

Já tinha se passado um ano desde que estive no Mona’s e, mesmo que o bar parecesse decadente, não era um lugar estranho. Jillian e eu fomos com nossos próprios carros já que ela morava na direção oposta, perto da cidade. No momento em que vi Jax, eu me lembrei de quem ele era. Como eu poderia ter esquecido? Mesmo que ele fosse uns anos mais novo que eu, ele era o tipo de homem que passava a sensação que sabia como cuidar de tudo.

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Ele estava atrás do bar quando fomos em direção a uma mesa. Desde que Jillian era menor de idade, ela não podia se sentar no bar. Jax tinha esse grande sorriso e risada, o que ele estregava livremente. Agora, ele estava rindo de algo que alguém havia dito do bar. Inclinando sua cabeça para trás e deixando escapar uma risada profunda e contagiante. “Você só quer uma coca? Nada para comer?” eu perguntei. Jillian estava olhando para as cabeças abaixadas sobre a mesa de sinuca. “Nah. Uma Coca está bom.” Não haviam muitas pessoas no bar quando chegamos, então a menina atrás dele veio correndo para onde eu estava. Eu sabia quem ela era. Essa era Roxy – a namorada de Reece. Enquanto ela se aproximava, eu vi que ela tinha uma mexa colorida em seu cabelo castanho. Eu sempre quis ter essas cores estranhas no meu cabelo, mas eu não tinha o rosto nem a personalidade para usar. Sua camiseta tinha a inscrição I’m like a self-cleaning oven19, e logo abaixo um pequeno forno feliz. E abaixo dele, as palavras I’m self-sufficient, bitches20. Eu queria aquela camiseta. “O que eu posso...” Os olhos castanhos de Roxy arregalaram atrás de seus óculos. “Hey, como você está?” Chocada que ela me reconheceu, eu divaguei por um momento. “Bem. Estou bem. Você?” “Ótima. Eu não te vejo a um bom tempo. Wow. Faz muito tempo.” Ela se inclinou contra o bar, sorrindo. “Eu nem tinha certeza se você ainda morava aqui perto.” A porta se abriu e um grupo entrou, indo em direção ao bar. “O que posso pegar para vocês?”

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Eu sou como um forno auto-limpante Eu sou independente, putas

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“Apenas duas Cocas.” Eu pausei. “E o menu.” Roxy concordou. “Já trago.” Eu olhei para o outro lado da mesa. Jillian estava encarando seu celular, seus dedos voando a um quilometro por minuto. “Eu vou dar a eles outro minuto e, se ele não sair, eu vou entrar.” Eu ouvi Jax falar enquanto ele dava a volta em Roxy, pegando outra garrafa de bebida. “Resgate?” ela respondeu, suas sobrancelhas levantando enquanto ela colocava gelo em dois copos. “Hmm,” ele gemeu, abrindo a tampa. “Eu não tenho ideia do que está acontecendo ali. Eu pensei que eles estavam juntos,” ela disse, colocando dois copos na minha frente. Ela pegou o menu enquanto olhava sobre seu ombro para Jax. “Ele precisa correr de qualquer forma. Reece já mandou uma mensagem perguntando onde seu irmão está.” Meu coração parou. Eles estavam falando sobre Colton. Puta merda. Okay, havia essa pequena parte de mim que esperava que eles estivessem mesmo mas que também estava com medo do fato de que eles estivesse, porque isso significava que ele não estava trabalhando. E ele não tinha entrado em contato comigo. E eu não tinha entrado em contato com ele também. E não parecia que ele estava sozinho. “Aqui está.” Roxy sorriu enquanto ela colocava o menu na minha frente. Eu entreguei o dinheiro, entorpecida, e tinha acabado de pegar os copos junto com o menu quando eu o vi. Ele apareceu do outro lado do bar, e mesmo da onde eu estava eu pude ver que seu maxilar estava tenso. Meu coração começou a acelerar. Eu segurei os copos mais firme. Roxy disse algo, mas eu realmente não a ouvi.

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Então eu vi ela. A loira alta que eu já tinha visto com ele antes. Ela era linda assim como me lembrava. Cabelo brilhoso e liso, bem abaixo do seu ombro, e ela era magra. Como se eu pudesse machuca-la se sentasse no seu colo. Esse tipo de magra. O sangue foi drenado do meu rosto enquanto eu percebia quem essa mulher era. No meu coração eu sabia que era ela, sua ex-noiva. Oh meu Deus. “Eu estava ficando preocupado com você,” Jax disse, colocando a garrafa no lugar. Colton olhou para ele, e seu olhar estava gélido quando passou por Jax e Roxy, terminando em mim. Ele parou. Literalmente parou de andar, freiando com tudo. Nossos olhos se encontraram e eu nem consegui pensar. Não haviam pensamentos enquanto encarávamos um ao outro. Meu coração... parecia que ele tinha parado, assim como ele. “Um,” Roxy murmurou. A mulher com Colton disse algo. Seus lábios se moveram, mas ele não reagiu. Não no começo, até que ele respondeu. “Merda,” ele disse, se virando para a loira, que tinha colocado sua mão em seu braço. O toque era familiar, como se ela tivesse feito isso milhões de vezes antes. Eu me virei, minha pele formigando enquanto eu levava as bebidas e o menu até a mesa. Eu os coloquei para baixo antes que deixasse eles caírem. “Você está bem... oh meu Deus.” Os olhos de Jillian dobraram de tamanho. Com meu estomago revirado, eu me senti nauseada, ficando quente então fria. “Eu acho...” balancei minha cabeça, minhas bochechas queimando. “Deus, me desculpe, mas eu realmente preciso ir.”

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Jillian se levantou, seu rosto cheio de simpatia. “Oh meu Deus, me desculpe. Eu não achei que algo assim pudesse...” “Eu sei.” Um nó se formou em minha garganta e a dor em meu peito me disse que o que eu sentia por Colton não era apenas atração. “Odeio ter de fazer isso.” Pressionando meus lábios juntos, eu exalei pelo nariz. “Isso é tão vergonhoso.” “Tudo bem.” Ela apertou meu braço. “Vá. Apenas me ligue quando chegar, okay?” Concordando, eu me inclinei e beijei sua bochecha, pegando minha bolsa. Eu não ousei olhar para trás enquanto ia para porta, e eu sabia sem nem antes abri-las que eu estava sendo covarde. Minha confiança era uma merda e eu era covarde. Ótimo. Uma combinação vencedora. Eu não lembrava muito do caminho até em casa enquanto eu entrava, tirando os sapatos e deixando eles perto da porta. Depois de ter mandado uma mensagem para Jillian, eu me senti horrível. Eu não deveria ter fugido. Eu deveria ter ficado sentada ali e fingido que nada tinha acontecido. Jogando meu celular sobre o sofá, eu pressionei minha palma contra minha testa. Toda a coisa de ser idiota era um bom tema. Mas Colton estava com a mesma loira bonita. A noiva – ex-noiva, e domingo ele tinha me beijado, me tocado, e me dito que eu era bonita e inteligente, e hoje a noite ele estava com ela? Mas que porra? Raiva surgiu, e eu peguei meu celular dentre as almofadas do sofá. Eu nem sabia o que eu iria fazer. Mandar mensagem? Ligar? Jogar meu celular? Todas pareciam opções possíveis. Uma batida na porta me parou. Eu me virei e, por um momento, não me movi. Apesar do fato deu ter acabado de ver Colton com ela, lá no fundo do meu peito a esperança

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aumentou, e o quão idiota isso era? Eu duvidava que eles simplesmente tinham se esbarrado. Então, novamente, foi pura coincidência eu estar lá. Eu não deveria ter ido embora. A batida ressoou de novo e meu pé desgrudou do chão. Com meu celular em uma mão, eu abri a porta. Tudo aconteceu tão rápido. Uma sombra – uma pessoa – se jogou para dentro, batendo a porta contra a parede. Vi um vislumbre de uma mancha preta em seu bíceps. Um grito começou a se formar e quase saiu mas dor explodiu do lado da minha cabeça, me atordoando. Eu cambaleei para o lado, meu celular deslizando dos meus dedos e caindo no chão. A porta bateu, fechada, e, um segundo depois, fiquei sem ar enquanto minhas costas batiam no chão. Meus pulmões doíam enquanto eu olhava para cima. Era ele - o atirador. Puta merda. Ele tinha me dado uma coronhada? Havia algo quente e úmido escorrendo pelo meu pescoço. Todo o lado esquerdo da minha cabeça doía. Uma fina camada de suor cobria sua testa enquanto ele pairava sobre mim, uma arma em sua mão. “Você tinha que abrir a boca, não?” Meu coração foi parar na minha garganta enquanto eu me arrastava para trás, minhas mãos deslizando pelas tábuas do piso. Um chinelo saiu enquanto eu chegava na borda do tapete. Ele me seguiu. “Tudo que você tinha de fazer era manter a porra da sua boca fechada. Só isso. Agora Mickey está morto e o filho da puta do Vakhrov esta atrás de mim, tudo porque você não manteve a porra da boca fechada.”

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Minha visão estava embaçada um pouco enquanto eu tentava lembrar que Mickey deveria ser o outro homem que eu vi com ele. “Eu... eu não identifiquei el...” “Cale a boca! Cale a porra da boca!” Ele gritou, seus dedos tremendo sobre o gatilho da arma que ele segurava. “Você vai me dizer que não disse porra nenhuma? Porque Mickey está morto e a porra da polícia apareceu na casa da minha mãe ontem.” Eu me trouxe até a parede, meu coração batendo tão forte que eu pensei que ficaria doente. Isso era mal, muito mal que eu nem conseguia processar o que estava acontecendo. A única coisa que eu sabia é que conseguia ver a morte em seus olhos. Seus lábios se curvaram, assim como haviam feito antes dele ter atirado naquele homem. “Puta estúpida. Levante as mãos.” Engolindo forte, eu levantei minhas mãos tremulas enquanto meus pensamentos corriam. Eu não tinha ideia de como sair disso. Será que eu poderia argumentar com ele? Seus olhos escuros tinham certo brilho e suas pupilas estavam dilatadas demais enquanto ele apontava a arma para mim. “Levante.” Quando não me movi, ele gritou. “Levanta, porra!” Okay. Eu estava levantando. Devagar, eu me levantei, perdendo o outro chinelo no processo. “Nós podemos tentar resolver...” “Cale a boca.” Ele deu um passo para frente. “Que parte disso você não entendeu? Não tem nada...” Um som abafado de sirenes o silenciaram. Esperança cresceu em meu estômago. Será que alguém – um dos meus vizinhos – ouviu meu grito ou os dele? Eu realmente precisava agradecer os meus vizinhos. Assar um bolo ou coisa do tipo. Se eu sobrevivesse a isso, claro.

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Ele ouviu as sirenes e, em segundos, o som ficou mais alto, mais perto. “Merda. Porra. Puta que o pariu.” Meu olhar voou pelo cômodo, procurando por algum tipo de arma. A não ser que eu pudesse pegar um abajur antes dele atirar em mim, eu estava fodida, mas eu tinha de tentar algo. Pela janela da frente, eu conseguia ver as luzes vermelhas e azuis piscantes. A policia estava aqui e eu realmente duvidava que esse cara planejava sair andando daqui vivo ou, pelo menos, me deixar ir. Gritos ecoaram na frente da casa e fiquei horrorizada quando reconheci a voz. Não. Não. Não. Uma batida forte me fez pular, me fazendo ficar tonta. “Abby? Você está aí?” a voz ressoou pela porta fechada. “É Colton. Abra a porta.” Antes que eu pudesse abri minha boca, o cara se jogou para frente, batendo em mim. A parte de trás da minha cabeça bateu na parede. Sua mão voou para minha boca enquanto ficávamos cara-a-cara. “Abby!” Colton gritou e a porta da frente vibrou enquanto ele, ou outra coisa, batia contra ela. O cara tinha hálito de bebida e cigarros enquanto se pressionava contra mim. “Malditos policiais, policiais filhos da puta,” ele grunhiu, pressionando a ponta da arma contra a lateral da minha cabeça. “Diga uma palavra e eu vou estourar seus miolos agora.” Agora, eu estava embasbacada. E depois? Uma risada histérica subiu pela minha garganta. A batida na porta da frente não parou, mas eu não ouvi mais Colton. Como ele estava aqui? Se tivessem chamado a polícia não tinha como ele ter descoberto assim tão rápido. Não fazia sentido, mas nesse momento, não importava. Se Colton de alguma forma passasse por aquela porta, eu sabia que esse homem iria atirar nele. Meu estomago revirou de medo.

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“Nós vamos sair pela porta dos fundos, okay?” Ele disse. “E você vai ter certeza que eu saia daqui. Entendeu?” Apertando meus olhos fechados, eu concordei. Ele iria me usar como um tipo de escudo e eu sabia que no momento que ele pisasse do lado de fora, ele iria atirar em mim. Ou era aqui ou lá, onde ele tinha a chance de atirar em mais alguém – um vizinho, um dos policiais, ou Colton. Eu não podia deixar isso acontecer. Nunca. Eu até posso ter a autoestima de uma preguiça mas eu não era covarde. Não. Eu sobrevivi à porta dos meus pais. Eu sobrevivi a New York. Eu sobrevivi a morte do meu marido. Eu sobrevivi. Eu não era uma covarde. Ele segurou meu ombro e me puxou para longe da parede. Com um empurrão bem colocado no centro das minhas costas, ele me guiou pela sala. Alguém estava gritando, de novo, na porta da frente mas não era Colton. “Fique quieta,” ele ordenou e quando eu não me movi rapidamente, ele me empurrou de novo. Eu cambaleei até a pequena sala de jantar. O impacto me fez esbarrar no vaso de cerâmica, jogando flores de plástico por todo o lugar. E o vaso rolou na minha direção. “Movendo,” ele ordenou e novo. Meu olhar voou para o vaso. Estava ao meu alcance. Logo ali. Meu coração parecia desacelerar. Tudo pareceu desacelerar, na verdade. “Porra.” Ele agarrou meu cabelo e jogou minha cabeça para trás com tudo. Meu pescoço doeu, me jogando de costas. “Mova sua bunda gorda...” Meu cérebro desligou enquanto eu pegava o vaso e me virava. O homem xingou e nivelou a arma novamente, mas eu podia ser rápida quando importava. A arma disparou logo quando eu bati com o vaso em sua cabeça. Houve um

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barulho estranho e algo quente e molhado respingou em meu rosto. A arma disparou de novo, assim como madeira voou da porta dos fundos. Ela se abriu logo quando o atirador caiu no chão. Colton correu para dentro, vestido com as mesmas roupas do bar, de jeans e uma camiseta velha. Ele tinha sua arma apontada e seu olhar azul brilhante absorveu a situação. Atrás dele, policiais uniformizados entraram. Ele deu um passo para frente, mantendo sua arma apontada para o atirador. “Abby?” Eu ainda estava segurando o vaso ensanguentado quando disse. “Eu não sou covarde.”

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Capítulo Treze “Você tem virando uma cliente regular,” Lenny, o homem que antes tinha arrumado minha janela quebrada disse, sorrindo. Ele tinha acabado de arrumar a porta quebrada, que terminou sendo uma porta totalmente nova. Colocando a conta junto a TV, ele passou por mim com sua caixa de ferramentas em mãos. “Mas fiquei feliz em ver que você está bem. Eu soube o que aconteceu no noticiário da noite. Essa cidade está ficando uma loucura. Toda essa violência vinda da cidade grande.” Eu sorri enquanto o seguia até a porta da frente. “Obrigada por vir assim tão depressa. Eu realmente estou agradecida.” “Sem problemas,” ele respondeu, dando um passo para fora. “Se precisar de qualquer coisa, sabe quem chamar.” “Obrigada.” Eu fechei a porta, suspirando. Me virando, eu olhei a parede recém-rebocada atrás da mesa de jantar. Lenny também tinha reparado os dois buracos de bala. Tudo que eu precisava fazer era repintar e ninguém iria saber o que aconteceu. Noite passada parecia algo de décadas atrás. Eu tinha passado a maior parte da noite, sentada no pronto-socorro, fazendo checkups e, então, respondendo milhares de perguntas da polícia. Descobri que o atirador tinha um nome – Charles Bakerton. Não soava como o nome de um maníaco homicida, mas Charles ainda estava vivo. Eu não tinha matado ele com o vaso. Eu estava aliviada por ouvir isso. Eu não queria saber como era ser responsável pela morte de alguém. Durante as horas intermináveis que vararam a noite, Colton permaneceu ao meu lado, maior parte do tempo em silêncio com uma cara irritada. Aqueles olhos azuis estava praticamente pegando fogo. Nós não tivemos a chance de falar, nada além do básico antes dele ser chamado.

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Surpreendentemente, Roxy e Reece tinham aparecido no hospital e tinham me levado para casa. Isso foi... estranho. Eu tinha tanta sorte. Todos continuavam me dizendo isso. Minha aparência era pior do que os machucados eram. Nem mesmo uma concussão e o corte ao lado da minha cabeça nem precisou de pontos. Umas doses de ibuprofeno21 tinham cuidado da dor e o resto era coisa pequena. Eu poderia ter morrido ontem a noite, então yeah, eu tinha sorte. Me movendo para o sofá, eu comecei a pegar o controle remoto quando ouve uma batida na porta. Meu estomago caiu. Colocando o controle para baixo, eu fui para a janela da frente antes. Aprendi minha lição ontem a noite. Então espiei pela janela. Era Colton. “Oh meu, wow,” Eu murmurei, voltando a ficar de pé. Eu não deixei meu coração acelerar para a terra da fantasia. Ele aparecer depois do que aconteceu ontem a noite não era surpresa. Entorpecida, eu andei até a porta e a abri. Suas mãos estavam em cada lado do batente e ele estava inclinado para frente. Seus olhos azuis encontraram os meus. “Abby.” De algum modo consegui colocar um sorriso no rosto, mas eu achava que ele mais parecia um sorriso louco. “Oi Colton!” O entusiasmo era um pouco demais, mas eu não consegui diminuir. “Como você...?” “Não faça isso,” ele me cortou, e eu senti o sorriso louco escapar e sumir. “Depois do que aconteceu ontem, não finja nada comigo.” Então tá. Ele abaixou suas mãos. “Precisamos conversar.”

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Analgésico

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Precisávamos. Dei um passo para o lado, pressionando meus lábios juntos. “Entre.” Colton fechou a porta atrás de si mas em vez de andar para o sofá, ele parou na minha frente. Eu perdi a respiração enquanto ele colocava suas mãos em cada lado do meu rosto com um toque suave. Seus olhos intensos passaram por mim. “Como você está se sentindo?” “Estou bem. Mesmo.” Eu forcei um sorriso menos assustador. “Obrigada por perguntar.” A pele em volta dos seus olhos enrugou. “Eu queria vir mais cedo.” E foi ai que eu percebi que ele estava usando as mesmas roupas de ontem a noite. Nem precisava dizer, eu sabia que ele deve ter tido muito... muitas coisas de policial para resolver. “Tudo bem. Eu...” “Não está bem. Quase me matou não poder vir aqui. Porra.” Ele abaixou suas mãos e passou uma delas pelo seu cabelo enquanto dava um passo para trás. “Ver você ontem a noite, com sangue em seu rosto – porra,” ele xingou de novo, olhando para longe. “Merda, eu disse que ia te proteger. E não o fiz.” “O que?” Eu pisquei. “Você não tinha como saber que isso ia acontecer. Mesmo o Detetive Hart disse que ele achava que o atirador fosse fugir depois do que aconteceu com seu amigo, ou o que fosse, sendo encontrado morto. Isso não é culpa sua.” Sua expressão dizia que ele não tinha tanta certeza disso. “Ele te seguiu até sua casa e ele te atingiu com uma marma. Você poderia ter morrido, Abby. Eu...” “Colton,” eu tentei de novo. “Falei sério. Não foi culpa sua. Okay? E você não precisava vir aqui para saber como eu estava. Estou bem. Você... você já fez demais. Fez seu irmão e Roxy me trazerem para casa e...” “Eu fiz o suficiente? Claro, eu não fiz nada perto disso.” Seu olhar encontrou o meu de novo. “Eu preciso deixar algumas coisas claras. Quando você saiu do Mona’s ontem a noite, você estava chateada. Eu entendo isso.

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Você tinha acabado de me ver com Nicole e você foi embora antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Não finja que você não viu isso.” “Okay. Você, um, parecia ocupado.” Eu engoli, dando um passo para trás. “Então essa... essa é sua ex-noiva? Ela é linda.” “Yeah, ela é.” Suas sobrancelhas franziram enquanto ele me encarava. “Você sabe, eu estava esperando por notícias suas. Eu imaginei que depois de domingo, eu achei que tinha deixado a bola com você.” Ele tinha? Ele tinha passado essa mensagem por algum código masculino? Eu não era boa em entender esses códigos masculinos. “Claro, você precisava resolver algumas coisas e eu estava esperando que você fosse me deixar ajudar com isso,” ele continuou. “Mas eu sou impaciente. Eu estava planejando em te ligar ontem a noite, mas meu irmão faz essa coisa toda semana em seu apartamento – noite de jogos. É estúpido, mas divertido. Eu pensei que poderia ficar lá por uma hora e depois te ligar.” Eu não sabia o que dizer sobre isso tudo, mas eu não iria ficar aqui como se fosse muda. Eu tinha uma voz e eu iria usa-la. “Mas você estava no Mona’s, com Nicole.” “Estava,” ele disse, um musculo pulsando em seu maxilar. “Eu encontrei ela no caminho para casa de Reece. Quando terminamos, havia esse relógio que meu avô tinha me dado antes de falecer. Uma noite, em seu apartamento, eu tinha tirado ele e nunca mais encontrei. Nicole finalmente encontrou ele.” Abaixando sua mão para o bolso do seu jeans, ele pegou um relógio de ouro que parecia bem caro. “Ela queria conversar. Por isso estávamos no escritório de Jax.” Eu encarei o relógio e assisti ele colocar de volta em seu bolso. Parte de mim se sentia como idiota, mas como alguém devia reagir nessa situação. “O que ela queria?” Colton não mentiu. “Ela sente minha falta. Era sobre isso que ela queria conversar.”

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Minha respiração estava falha enquanto deixava minha expressão neutra. “Okay.” Seus olhos se estreitaram. “Isso é tudo que você tem a dizer sobre isso?” A frustração aumentou de novo, percorrendo minha pele como um exercito de formigas. Se a noite passada me ensinou qualquer coisa, era que eu não era covarde. Eu era uma sobrevivente. Eu realmente encontrei minha voz. “O que você quer que eu diga, Colton? Como eu devo responder a isso? Eu não estou brava que ela sente sua falta, mas...” Minhas palavras começaram a sumir e, enquanto havia parte de mim que queria empurrar ele pela porta e me esconder, eu recusava a fazer isso. “Mas nós tínhamos acabado de nos reconectar e eu não sei onde nosso relacionamento estava indo. E você sabe o que? Sim, eu não tenho a maior autoestima do mundo agora. Eu não sai sério com ninguém além de Kevin e, nesses últimos quatro anos foram uma seca realmente longa. E eu sei que esse não é o maior dos problemas, mas que seja. Eu gosto de você.” Seus lábios começaram a se curvar. Meus olhos estreitaram. “Você acha isso engraçado?” “Não.” Seus olhos diziam que ele estava mentindo. “Nem um pouco.” “Uh-huh.” Eu cruzei meus braços sobre meu peito e repeti o que ele disse antes. “Isso é tudo que você tem a dizer sobre isso?” “Não. Não é tudo.” Seus lábios se curvaram mais ainda. “Eu não penso menos sobre você porque você não vê o que vejo e o que eu sei quando olho para você. Esse é o problema que estou disposto a ajudar. Você entendeu isso?” Eu concordei enquanto pressionava meus lábios juntos. “Eu gosto de você, realmente gosto de você.” Ele repetiu e esperança nasceu em meu peito. “Eu sempre gostei de você. E yeah, Nicole é linda, mas ela não é a pessoa que estou parado na frente agora e ela não é a pessoa que me deixa duro só de pensar nela. E, ela não é a pessoa que eu quase perdi noite passada. Essa é você, querida, simplesmente você.”

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Calor subiu para minhas bochechas. Oh... oh, wow. “Eu posso te dizer onde esse relacionamento está indo. Ou, pelo menos, onde eu espero que ele vá. Nós vamos passar mais tempo juntos. Nós vamos realmente conhecer um ao outro e, eu vou bater nessa baixa autoestima até que você veja o que eu vejo,” ele disse e um calafrio passou pela base da minha coluna em resposta a sua determinação. Perdi a respiração quando ele deu um passo para frente e levantou sua mão, gentilmente segurando minhas bochechas de novo. “Eu quero que isso funcione,” ele disse, sua voz baixa. “Porque, como eu disse antes, eu acredito em segundas chances e eu não acredito em coincidências. Tem um motivo que eu e você nos reconectamos e eu não quero desperdiçar isso. E nós quase perdemos isso ontem à noite, então realmente estamos encarando uma terceira chance. Eu quero que isso funcione.” “Eu... eu quero que isso funcione também.” Meu coração estava palpitando como uma bateria. “Então estamos na mesma página.” “Estamos,” eu sussurrei. “Bom.” Então ele me beijou e, no fundo da minha cabeça, eu percebi que estávamos na entrada da casa, mas eu não ligava. Seu beijo começou doce e carinhoso, mas eu queria mais. Assim como ele. Minhas mãos encontraram seu caminho até seu peito e eu conseguia sentir seu coração batendo tão rápido quanto o meu. Eu quebrei o beijo, com minha respiração pesada. “Você quer ficar?” “Claro que sim, yeah, mas se eu... se eu ficar, eu não estou indo embora essa noite.” Seu dedão acariciou minha bochecha. “E se eu não for embora essa noite, eu vou estar lá em cima e eu vou querer estar naquela sua cama e entre essas lindas coxas suas. Se você não quiser isso ou não estiver disposta depois

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de ontem à noite, me deixe saber agora. Eu posso esperar, mas de qualquer modo, eu não vou deixar você ir hoje.” “Estou bem.” Não havia nenhum pingo de hesitação. “Eu quero isso.”

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Capítulo Quatorze Colton não desperdiçou nenhum segundo. Ele inclinou minha cabeça para trás, trazendo sua boca para mim em um beijo profundo que não deixava espaço para negações. Não que eu queria. Essa era a última coisa que estava passando na minha cabeça enquanto sua língua se emaranhava na minha. Me guiando, ele manteve o beijo até que chegamos ao pé da escada e só ai ele afastou sua boca da minha. Seus olhos azuis encontraram os meus e minha garganta secou pela intensidade da paixão que eles demonstravam. Eu me virei e subi três degraus antes que ele me abraçasse por trás, seus braços em volta da minha cintura. Um segundo depois, seu corpo todo estava pressionado contra minhas costas e eu conseguia senti-lo, longo e duro, contra minha bunda. “Eu sou muito impaciente,” ele disse, beijando meu pescoço. “Esse quarto parece longe demais agora.” Eu ri, quase sem fôlego. “Não é tão longe.” “Porra se é.” Seu braço apertou mais minha cintura, selando nossos corpos juntos enquanto ele fazia um caminho com beijos quentes pela minha garganta. Cuidadosamente jogando minha cabeça para o lado e para trás, eu soltei um gemido enquanto sua mão vagava pelo meu estômago e ele apalpava meu seio sobre o vestido. Com uma habilidade incrível, seus dedos encontraram a ponta do meu seio. Então, eu senti sua outra mão entre minhas pernas e o fino tecido não era barreira nenhuma contra sua mão que procurava meu calor. Sem nem mesmo pensar, minhas pernas se afastaram, dando a ele mais acesso e ele o tomou, levantando o vestido enquanto sua mão se movia. Ele colocou a sua palma contra a minha pilha de nervos. Meu quadril se moveu e o

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som que ele fez em resposta mandou uma onda de pequenos arrepios sobre minha pele. Não tinha como controlar. Eu segurei seu pulso com uma mão e a outra se moveu, procurando cegamente por sua ereção. Eu o usei para me segurar enquanto me movia contra sua mão, investindo, procurando, exatamente ali, na escadaria. Meu prazer aumentando e pulsando por mim. “Merda,” ele gemeu, abaixando sua mão do meu seio. “Nós não vamos chegar na cama se continuarmos assim.” “Você que começou,” eu o lembrei. “Verdade.” Colocando um ultimo beijo no meu pescoço, ele se afastou. Meus joelhos estavam um pouco bambos enquanto eu voltava a subir as escadas. Eu já estava entorpecida e sem ar e nós nem tínhamos chegados ao quarto. O corredor, logo acima das escadas, estava iluminado pelo abajur que eu havia deixado ligado no quarto e, quando me virei para olhar Colton, eu me encontrei contra a parede do lado de fora do meu quarto, seu corpo pressionado contra o meu. “Eu realmente sou impaciente,” ele admitiu. Eu passei meus braços em seu pescoço, cedendo as emoções loucas que estavam crescendo em mim. “Eu também.” Colton me beijou e se afastou. Meus braços caíram ao meu lado enquanto eu buscava por ar. Pegando o colarinho de sua camisa, ele rapidamente a puxou para cima, sobre sua cabeça, deixando ela cair no chão. Eu já tinha visto ele sem camisa antes, mas a memória não fazia jus. Desde seu peito definido até os gomos em seu abdômen, ele era uma obra de arte de músculos definidos que eu queria tocar e provar. Eu alcancei ele, meus dedos encontrando o botão de seu jeans, facilmente abrindo ele. O zíper foi o próximo e, enquanto o material afastava para o lado, meus dedos passaram sobre sua longa e dura ereção que fazia volume em sua boxer.

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“Porra.” Suas mãos agarraram meu rosto e o beijo foi muito mais intenso. Nossos dentes bateram. Meus lábios pareciam inchados, mas eu relevei isso pelo calor da paixão. Me pressionando de volta contra a parede, seu quadril investiu contra mim bem devagar que me fez gemer. Suas mãos deslizaram pela minha garganta, sobre meus braços. Me puxando para fora da parede, ele me guiou para o quarto. Só aí ele soltou minhas mãos. “Tem certeza sobre isso?” ele perguntou. Eu me movi para que eu estivesse de pé, em frente à cama. “Tenho. E você?” “Nunca tive mais certeza sobre nada minha vida toda.” Jogando seus sapatos para longe, ele tirou suas meias em tempo recorde. “Eu quero você.” Meu estomago revirou. “Eu quero você.” Se movendo, ele tirou sua carteira. Um pacotinho prateado apareceu entre seus dedos. Eu levantei uma sobrancelha enquanto ele jogava isso na cama atrás de mim. “O que?” Seu sorriso ficou inocente, praticamente jovial. “Eu sempre gosto de estar preparado.” “Eu acho que é uma coisa boa que você esteja porque eu não tenho nenhuma.” Algo sobre o que disse teve algum efeito nele. Ele gemeu. “Então acho que temos que fazer essa valer a pena, huh?” Eu o assisti enquanto ele andava até onde eu estava, seus jeans quase caindo sobre seu quadril. Deus, ele era lindo de um jeito totalmente masculino. Eu quase não conseguia acreditar que ele era real, de pé na minha frente. Que estávamos prestes a fazer isso. “Eu quero ver você.” Ele deslizou seus dedos sobre as alças do meu vestido, puxando elas para baixo do meu ombro.

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Tão pronta quando eu estava, só me ocorreu nesse momento que eu teria de ficar completamente nua para fazer isso. Eu sabia que ele não iria querer fazer ainda vestido. Oh, não, ele era um homem que gostava do atrito. Toda minha confiança saiu correndo pelo quarto, com suas lindas pernas. Lindas pernas e seios arrebitados, o que eram duas coisas que eu não tinha. Eu dei um passo para trás, inalando profundamente enquanto olhava para ele. Eu odiava essa insegurança repentina, absolutamente odiava. Era minha própria pele, meu corpo e era parte de mim, mas nesse momento parecia mais como uma coceira desconfortável. Colton se aproximou, suas mãos em meus ombros. “Você está bem?” Mordendo meu lábio, eu concordei enquanto olhava para nossos pés nus. Ao lado do seu, o meu parecia tão pequeno. Ainda assim não era feminino. Não esse pezão. Okay. Meu pé não era um pezão. Eu estava sendo critica demais comigo mesma. “Então o que está acontecendo? Você já fez isso fora desse quarto. Provavelmente até fora dessa casa.” Ele pausou. “Isso é sobre Nic...” “Não.” Meu olhar voou para o dele e isso não era uma mentira completa. Eu não conseguia evitar me comparar com ela, porque porra, eu era humana, mas era mais que isso. “Eu... faz muito tempo desde que fiz isso, Colton.” Seus dedos acariciaram meu braço. “Eu sei.” Será que ele sabia mesmo? “Quatro anos.” Ele entrelaçou seus dedos aos meus. “Eu imaginei isso.” Fechando meus olhos, eu exalei levemente. “Você quer me ver, mas eu não tenho certeza se posso. Eu não pareço mais...” “Eu sei como você se parece,” ele disse, sua voz baixa enquanto seu olhar encontrava e segurava o meu. “Eu tenho dois olhos e eu estive te observando constantemente. O suficiente para, provavelmente, te deixar desconfortável se você soubesse. Eu simplesmente adoro o que vejo.” Ele levou

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minha mão para sua ereção, colocando minha palma sobre o cumprimento duro. “Eu quero o que consigo ver.” Perdi o fôlego enquanto ainda tinha ele em minhas mãos. Eu pensei que podia senti-lo pulsar. Meu olhou caiu para onde sua mão, bem maior que a minha, estava sobre nós. Colton estava certo. Ele tinha dois olhos, completamente funcionais. Não era como se as roupas que eu usava escondiam realmente o que havia por baixo e o calor queimando minha palma me disse que ele realmente queria isso, tanto quanto eu. Eu podia fazer isso. Tirando minha mão da sua, eu me movi, pegando a barra da saia do meu vestido. Eu não podia hesitar nessa altura. Era agora ou nunca. Antes que eu pudesse mudar de ideia, eu puxei meu vestido sobre minha cabeça e deixei ele cair no chão. Eu levantei meu olhar e perdi o fôlego. Seus olhos estavam colados ao meu e um leve sorriso estava no canto de seus lábios. Então ele abaixou seu olhar, percorrendo meu corpo e eu sabia que aqueles olhos brilhantes não perdiam nenhum detalhe. Nem sobre a renda desbotada azul que havia na lateral do meu sutiã. Nem como minha cintura se curvava e saltava um pouco. Minhas calcinhas não eram sexy. Elas eram apenas boy shorts de algodão e ela nem combinava com meu sutiã, mas seu olhar vagou até meus dedos do pé pintados e eu tive a sensação que ele não se importava com isso. “Você o que, Abby?” Sua voz estava rouca como se ele tivesse acabado de acordar. “Você é incrivelmente sexy. Cada pequena parte de você.” Ele passou as costas da sua mão sobre meu ombro. “Isso é.” Sua mão e seu olhar foram para meus seios. “Assim como esses, e como estes.” Ele passou um dedo pela minha barriga até meu umbigo. “E eu quero lamber esses quadris.” Sua mão passou sobre um e se virou, apertando minha bunda. “Na verdade, eu quero provar cada parte de você.” Meu coração palpitava. “Eu... eu estou a bordo disso.”

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Ele riu enquanto se aproximava. Com uma mão em meu ombro, ele me guiou para baixo até que eu estivesse sentada na cama. Mantendo minha atenção presa a sua, eu me movi para trás e recusei me permitir a pensar demais de novo. Não que eu poderia fazer isso quando ele estava tirando seu jeans. O jeito que os músculos do seu estomago saltaram e se contraíram era algo fascinante para mim. Também foi algo que me fez pensar no que ele disse que queria que eu fizesse, sobre me provar. Eu queria fazer isso com ele também. Ele deixou sua boxer preta justa enquanto andava em volta da cama, colocando um joelho nela enquanto subia ao meu lado. Havia pouco espaço entre nós. Nenhum de nós falou enquanto nossa respiração dançava sobre os lábios um do outro. Vagarosamente, cuidadosamente, Colton tocou minha bochecha com a ponta dos seus dedos. Ele parecia querer decorar cada curva da minha bochecha, do meu maxilar, antes de passar seus dedos calejados sobre meus lábios. O toque era leve, puramente sensual, e minha resposta foi intensa. O fogo ressurgiu, me mantendo longe de sucumbir aos meus pensamentos. Seus dedos passaram pela minha garganta até cada taça. Meus dedos do pé se contraíram enquanto eu sentia meus mamilos enrijecerem. Ele se moveu, desafivelando meu sutiã. As tiras deslizaram pelos meus braços e ele caiu na cama. “Esses...” Sua voz ainda estava rouca. “Esses são perfeitos.” O jeito que ele me tocava me fazia sentir como se tudo isso fosse verdade. Ele segurou eles como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Ele passou seu dedão sobre a ponta rosada, sorrindo com minha resposta imediata. Ele fez a mesma coisa com o outro seio. Não houve nenhum momento nesses anos que eu conhecia Colton que eu não fantasiei ele. Só quando me casei que eu tinha afastado esses pensamentos, mas eu sonhava com isso a tanto tempo que eu realmente queria isso.

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Minha mente finalmente se juntou a onde meu corpo já estava e, quando ele se esticou, eu fiz algo que me assustou. Sentando, eu fiquei de joelhos, colocando eles em cada lado de seu quadril. Sua mão imediatamente terminou em meu quadril e eu me abaixei, engolindo um gemido quando eu senti sua ereção pelo o tecido de sua boxer, quente e dura, contra o fino tecido da minha calcinha. “Eu realmente gosto da onde isso está indo,” Colton disse, sua mão gentilmente apertando meu quadril. Eu não me permiti pensar muito enquanto me inclinava e admitia o que estava pensando há uns segundos atrás. “Eu fantasiei isso por tanto tempo.” Seus cílios grossos levantaram enquanto ele congelava. Seu olhar era profundo, intenso. “Tá falando sério?” “Muito sério.” Seus dedos seguraram o elástico da minha calcinha e, com uma mão, ele trilhou minhas costas até a curva do meu pescoço. “Você realmente não deveria ter me contato isso.” “Por que?” Eu sussurrei, meu coração saltando. “Porque eu não tenho ideia de como eu vou conseguir fazer isso lento agora.” Colton puxou minha boca para a sua com um movimento de seu braço. Não havia nada gentil nem suave sobre o jeito que ele me beijou. Era forte e passional, um beijo que puro desejo explodindo no momento que nossas bocas se fundiram, um beijo cheio de necessidade. Ele absorveu meus gemidos enquanto ele me abraçava, selando nossos corpos juntos, peito com peito. Tudo nele ativava meus sentidos e eu sussurrei. “Faça amor comigo.” Colton soltou quase um rugido animalesco e me rolou de costas, se movendo tão rápido que meu coração quase saiu pela boca. Enquanto ele olhava para baixo, para mim, seu rosto estava concentrado.

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Então ele trouxe sua boca para o pico do meu seio. Eu soltei um gemido enquanto minhas costas arqueavam contra o colchão. Ele colocou uma mão entre nós, tirando sua ultima peça de roupa enquanto se movia para meu outro seio. Varias sensações serpenteavam pelo meu corpo e foi ai que me perdi, perdida em como sua língua acariciava meu mamilo, em como ele sugava minha pele e suavizava o local com um beijo, uma caricia de seus dedos. Quase sem perceber que ele estava tirando minha calcinha, eu estava em choque e animada, de repente sentindo cada parte dos nossos corpos pele contra pele. Sua mão deslizou para cima, seus dedos em minhas bochechas me segurando ali enquanto ele trazia sua boca para minha. Ele me beijou até que não houvessem mais pensamentos, sem hesitações, sem medos. Eu podia sentilo queimar contra minha coxa e meu corpo se movia de acordo. Eu me contorci e meu quadril moveu, procurando ele. “Você tem certeza que quer isso?” ele perguntou. “Sim.” “Eu não consigo esperar mais.” Eu segurei seus braços. “Nem eu.” Ele rolou, procurando a camisinha. Meu estomago revirou enquanto eu o assisti abrir o pacote de alumínio e rolar a camisinha por sua ereção. Isso ia mesmo acontecer. Parte de mim ainda não conseguia acreditar nisso enquanto eu trazia meu olhar de volta ao seu e vendo que ele estava me assistindo. Sem conseguir me conter, me movi, passando minhas mãos sobre seu peito duro e seu abdômen definido. Sua pele era como seda esticada sobre mármore. Eu abaixei minha mão, meus dedos passando sobre seus pelos escassos. Seu peito levantou com uma respiração profunda e ele parecia estar se segurando enquanto a parte de trás da minha mão passava sobre seu pênis. Ele fez um som profundo que esquentou minha pele e eu continuei, envolvendo ele com minha mão. “Porra,” ele gemeu. “Abby...”

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Vagarosamente, eu afastei minha mão. Por um momento nenhum de nós se moveu e, então, ele estava sobre mim, seu corpo forte me prendendo. Colton abaixou e possuiu minha boca, mas esse beijo era calmo e virou algo... infinitamente mais enquanto eu sentia ele se pressionando contra mim. Gemendo, eu movi meu quadril, trazendo ele mais para perto, mas não perto o suficiente, nem perto disso. Colton apoiou seu peso em um cotovelo enquanto levantava seu corpo um pouco e colocava uma mão entre nós, envolvendo seu pênis com ela. Seus olhos, de um tom de cobalto vibrante, encontraram os meus. “Eu quero que isso seja bom para você.” Meus lábios se afastaram enquanto exalava calmamente. “Não,” ele se corrigiu. “Eu quero que isso seja perfeito para você. Vai me matar tentar diminuir o ritmo.” Eu movi minhas mãos pelas suas costas enquanto meu coração palpitava. “Não vá devagar. Estou pronta.” A superfície dos meus olhos queimavam. “Eu... estou molhada... para você.” Ele disse alguma coisa mas eu não consegui entender sobre o som da sua respiração até que seu quadril se moveu, ele entrando em mim em uma investida forte e profunda que eu senti até na ponta dos meus dedos. Eu gemi, jogando minha cabeça para trás enquanto ele me esticava e me preenchia. Nada, na minha vida toda, pareceu como isso. “Você está bem?” ele perguntou, sua voz rouca enquanto ele congelava, parando profundamente. “Sim.” Eu segurei em seu braço enquanto engolia. “Sim. Não pare.” “Parar é a ultima coisa que está na minha mente, querida.” Ele afastou seu quadril, saindo metade, antes de investir novamente. “Parar iria me matar.” Iria matar ambos.

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Mas ele não parou. Oh, não, ele se moveu e ao contrario do que havia dito, ele usou investigas lentas e intensas enquanto sua mão tirava os cabelos que grudavam em minha testa. Ele criou um fogo dentro de mim enquanto sua respiração dançava sobre meus lábios, nossos olhares juntos. Havia uma conexão ali, indo e voltando entre nós, algo intenso e profundo. Era amor. Eu sabia isso, eu sentia em cada célula do meu ser e eu fechei meus olhos, não desejando mostrar a ele essa parte profunda de mim porque tudo parecia tão recente, e amor era algo que nunca falamos. Passando meu braço em volta do seu, daquele onde ele estava apoiado, eu envolvi seu quadril com minhas pernas, trazendo ele ainda mais profundo e tirando um gemido dele. Eu movi meu quadril e ele jogou sua cabeça para trás, seu braço tremendo. “Não se segure,” eu pedi. “Por favor.” E ele não se segurou. Suas restrições se quebraram. Aquelas investidas ficaram profundas e poderosas. Ele pegou minha mão, esticando ela sobre minha cabeça, segurando ela pelo meu pulso enquanto se movia dentro e fora de mim, seus quadris frenéticos. Uma pressão aumentou em minhas veias fazendo minha pele formigar. Eu gemi seu nome uma e outra vez enquanto a tensão aumentava em meu núcleo. Era intendo demais, tanto e ainda não o suficiente. Mudando seu apoio, ele pegou minha outra mão e a juntou com aquela que ele já segurava. Em um movimento fluido ele me tinha imóvel em baixo dele, completamente a mercê do seu controle, e ainda assim segura em seus braços. Algo nessa combinação me desfez. Eu gozei, quebrando enquanto o som do seu nome se misturava aos seus gemidos. Ele investiu uma vez e se moveu, forte e profundamente e, então, seu

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corpo estava esparramado sobre o meu enquanto ele enterrava sua cabeça em meu ombro. Quando ele levantou a cabeça e colocou um beijo em meus lábios, eu não tinha certeza se eu ainda estava na Terra. Parecia que eu estava flutuando nas nuvens, talvez até no paraíso. “Você está bem?” ele aliviou a pressão de sua mão em meus pulsos, trazendo meus braços para baixo. Eu inalei profundamente. “Eu acho que posso ter morrido de um jeito... totalmente bom.” Colton riu enquanto colocava um beijo na minha testa. “Já volto.” Depois um choque roubou meu ar enquanto ele saia de mim. Eu não era nada mais do que uma geleca enquanto ele se levantava e jogava a camisinha fora no banheiro. Quando ele voltou, eu não tinha me movido. Cada parte de mim estava entorpecida, mas eu disse a mim mesma que precisava me mover. Colocar umas roupas. Ele estaria indo embora logo e eu não queria ficar aqui deitada com tudo a mostra. Eu comecei a me apoiar em meus cotovelos. “Onde você está indo?” Ele subiu na cama, meio de lado. “Eu... eu pensei que devia pegar meu vestido.” “Por que?” Balançando sua cabeça, ele passou seu braço sobre minha cintura. “Não. Nem responda essa pergunta.” “Mas...” Ele me puxou para baixo para que minhas costas estivessem contra seu peito e seu braço, um peso agradável sobre minha cintura. “Não vou a lugar algum, Abby.” Eu apertei meus olhos fechados com força. Será que ele podia ler meus pensamentos? “Você entendeu?” Sua voz estava calma e quando não respondi, seu braço apertou mais minha cintura. “Não vou.”

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Mas ele iria, porque... Eu me contive. Afastei aquela parte feia de mim. Na minha cabeça, eu dei um tapa nela. Eu disse a ela para calar a boca porque essa parte ruim era um inferno e não tinha ajudado em nada antes. “Okay,” eu disse, colocando minha mão sobre seu braço. “Eu... isso foi incrível, você sabe, o que fizemos – que você fez.” “Claro que foi.” Eu ri um pouco. “Wow.” Houve uma pausa. “Foi, Abby. Foi perfeito.” Ele deu um beijo em meu ombro. “E não fui eu. Foi você. Você fez isso perfeito.”

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Capítulo Quinze Perfeição era um tema que eu estava começando a me acostumar ou, pelo menos, não era algo difícil. Não quando Colton era excelente em fazer me sentir como se fosse perfeita. Já tinha se passado um mês desde a noite que Charles invadiu minha casa. Ele ainda estava na prisão do condado e, pelo que ouvi, eu duvidava que haveria um julgamento onde eu tivesse que testemunhar. Charles assumiu a culpa pelo assassinato e pela tentativa de homicídio. Ele ficaria preso por um bom tempo. A não ser que Isaiah chegasse a ele. Mas isso não era algo que eu iria me focar. De vez em quando eu tinha... pesadelos. Às vezes, Colton estava lá para me ajudar a aliviar essas memórias. Outras noites, eu tinha de lidar com eles sozinha, e assim o fazia. Eu não podia acreditar no quanto tudo havia mudado em tão pouco tempo. Enquanto Colton tinha participação nas mudanças, eu estava me esforçando, aumentando minha autoestima e segurança junto. Yeah, as coisas que eu tinha ao meu redor ajudaram, mas usar a atenção de um cara para aumentar sua autoestima não era algo que duraria. Eu ficaria dependente dele e essa força poderia não durar. A força precisava vir de mim. E o melhor jeito que eu encontrei para voltar a ser forte foi em realmente aproveitar a vida. Eu não estava trabalhando tanto como antes. Ou seja, eu tinha os normais turnos de oito horas e me forçava a parar. Quem saberia quanto tempo extra havia quando você estava evitando... bem, realmente evitando viver?

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Eu visitei os museus da cidade com Jillian, algo que eu não tinha feito em anos, e até comecei a sair com Roxy, a namorada do irmão mais novo de Colton. Por ela, fui apresentada a Calla, que estava namorando Jax, e a Katie, uma stripper... muito estranha que aparentemente tinha frequentado a mesma escola que Roxy e eu. Pela primeira vez em anos, eu tinha um círculo de amigos e eu tinha me esquecido o quão importante isso era. Quando Kevin morreu e eu deixei New York, foi como se uma porta para uma vida que um dia existiu com ele, incluindo nossos amigos mútuos, tivesse sido fechada. Parecia meio tarde agora, quatro anos depois, para tentar reconstruir essas pontes, mas era algo que eu pensei muito sobre e que gostaria de tentar. E eu gostei do que Katie disse domingo passado, enquanto nós quatro tomávamos café da manhã no IHOP22, “Qual a pior coisa que poderia acontecer? Eles te ignorarem ou acharem que você é algum tipo de mulher solitária procurando companhia?” Eu também pensava sobre começar aulas de culinária. Essa outra coisa que eu tinha esquecido que amava – cozinhar. Colton apoiava cem por cento essa ideia, principalmente porque ele só queria comer. Falando do diabo... Colton apareceu atrás de mim, seus dedos indo para pasta de amendoim caseira. Eu bati em sua mão. “Nem mesmo pense nisso.” “Eu só quero provar um pouco.” Ele passou seus braços em minha cintura. Eu sorri enquanto colocava a tampa de plástico sobre o bolo de chocolate. “Você vai ter de esperar.”

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“Eu posso esperar pelo bolo mas...” ele abaixou sua boca para meu pescoço, colocando um beijo nele. “Mas tem outra coisa que quero provar que não sei se vou conseguir esperar.” Meu estomago revirou em resposta. Tudo que ele tinha de fazer era insinuar e meu sangue já fervia. Colton era assim tão bom. “Nós vamos chegar atrasados.” “É um churrasco com Jax, não uma festa de casamento.” Suas mãos passaram sobre minha barriga e desceram pelo meu quadril. Ele me beijou logo no espaço atrás da minha orelha. Eu mordi meu lábio enquanto me inclinava para ele, sentindo sua ereção pressionada contra minhas costas. Ele era insaciável. Eu amava isso. “Nós realmente deveríamos tentar chegar na hora,” eu disse enquanto inclinava minha cabeça para o lado, dando mais acesso a ele. Com suas mãos em meu quadril, ele me virou. “Nós podemos atrasar.” Colton me beijou enquanto deslizava suas mãos para baixo, levantando a barra do meu vestido e passando seus dedos pela pele nua das minhas coxas. Quando ele chegou a minha calcinha e efetivamente deslizou ela pelas minhas pernas, cada terminação nervosa minha estava em alerta. Ele me ajudou a sair delas. Nós íamos nos atrasar tanto. Nossos beijos ficaram mais intensos, sua língua entrando e saindo da minha boca e nossas mãos estavam necessitadas. Uma das suas estava em meu seio, provocando a ponta dolorida pelo tecido, sua outra firmemente colocava em minha bunda. Eu o apertei pelo seu jeans, amando como seu quadril se movia contra minha palma e o gemido profundo que ele fez contra meus lábios. Ele quebrou o beijo e me virou de costas. Um tremor descendo pelas minhas costas enquanto ele afastava meu cabelo, colocando sua mão no centro das minhas costas e me inclinando um pouco.

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“Se segure no balcão,” ele conseguiu dizer. E eu ouvi o som do seu zíper. Oh meu Deus. Eu fiz exatamente o que ele disse e quando ele levantou minha saia de novo, eu senti ele contra mim, quente e duro. Sua mão se moveu, parando entre minhas coxas, e seus dedos imediatamente começaram a trabalhar, me testando. E ele não precisou testar por muito tempo, porque eu já estava pronta. Com uma mão em meu quadril, me segurando no lugar, ele me penetrou por trás com uma longa e profunda investida. Eu gemi, segurando forte a borda do balcão. “Oh, Deus, Colton...” “Eu amo ouvir você dizer meu nome assim.” Ele começou a se moveu, suas investidas vagarosas e controladas. Meus músculos internos começaram a se contrair em volta dele. “Porra, isso é tão bom.” “Também acho,” eu disse. Suas investidas ficaram mais fortes e mais rápidas e gozei, uns momentos depois, gritando seu nome enquanto a liberação me percorria. Ele agarrava meu quadril agora, com ambas as mãos e eu fui levantada para a ponta dos meus pés. Quando ele gozou, ele gritou meu nome enquanto seu braço me envolvia, selando nossos corpos juntos e adivinha se isso quase não me fez gozar de novo. Eu mal conseguia me mover quando Colton me virou, me segurando, minhas pernas fracas. Eu coloquei meus braços sobre seus ombros. Seu hálito quente dançando sobre meus lábios. “Agora eu realmente quero o bolo.” Eu ri enquanto deixava minha cabeça cair em seus ombros. “Eu nunca vou olhar do mesmo jeito para esse bolo.”

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Roxy colocou suas mãos juntas sobre seu queixo. “Oh meu Deus, eu só queria enfiar meu rosto nele.” “Por favor não faça isso,” Calla disse enquanto passava por nós, seu longo cabelo loiro balançando em seu rabo de cavalo. “Eu tenho algo que você pode enfiar seu rosto.” Reece andou atrás de Roxy, mexendo em sua mecha roxa. “Por favor não faça isso na minha casa,” Jax respondeu, aparecendo no quintal com um engradado de cerveja em sua mão. “Nós não estamos na sua casa.” Reece se sentou na espreguiçadeira, puxando Roxy para seu colo. Jax mostrou o dedo para ele. “Apenas apontando um fato, cara.” Reece sorriu. Meu bolo de chocolate com cobertura de pasta de amendoim tinha acabado, mas o cheiro de hambúrgueres sendo grelhados fez minha barriga gritar todos os tipos de coisa feliz. Colton passou um braço sobre meus ombros enquanto levava o gargalo da garrafa até seus lábios. Quando ele desceu a garrafa, ele se abaixou e beijou minha testa. “Vocês são extremamente adoráveis,” Roxy disse, esparramada sobre Reece como se ele fosse sua cadeira. “Eu sei.” Colton sorriu. Ri enquanto revirava meus olhos. “Ele é incrivelmente modesto.” Reece bufou. “E eu não sei.” Calla passou por nós. “Eu vou pegar os pratos e outras coisas. Alguém quer algo?”

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“Vou ajudar,” eu me voluntariei, me afastando de Colton. Ou, pelo menos, tentando. Ele era como um polvo. Eu só conseguia ir um pouco longe antes que ele me arrastasse de volta. Ele sorriu para mim, revelando aquela covinha. “Você está se esquecendo de algo.” Não tinha como parar o sorriso enquanto eu me esticava e beijava ele. Alguém, provavelmente Reece, assoviou. Quando voltei a colocar meu pé todo sobre o chão e me virei, Colton bateu em minha bunda. “Extremamente adorável!” Roxy gritou dessa vez. Com meu rosto ficando uns cinco tons de vermelho, eu corri para alcançar Calla. Ela estava segurando a porta aberta enquanto entrávamos. “Vocês são adoráveis,” ela disse enquanto ia para onde os condimentos e os pratos estavam colocados sobre o balcão. “Obrigada.” Meu sorriso provavelmente ia fazer meu rosto quebrar em dois. Ela pegou uma bandeja grande. A luz do sol sobre a pia refletiu a cicatriz em sua bochecha. A primeira vez que eu tinha visto ela, eu não consegui evitar de notar o tamanho dela, mas agora era algo que eu mal registrava. Calla era linda, e era óbvio que ela e Jax estavam profundamente apaixonados. Meu estomago revirou de um jeito bom. Amor? Deus, isso era algo que eu vivia pensando. Havia essa parte de mim que duvidava do quanto eu me importava com Colton. Eu estava simplesmente abraçando esse amor instantâneo e aproveitando. “Você vai estar aqui no próximo final de semana?” Eu perguntei enquanto pegava os guardanapos e as colheres plásticas. Calla estava dividindo seu tempo entre Shepherstown e Plymouth Meeting até janeiro, quando ela poderia se mudar para cá. “Não, mas Jax vai para lá.”

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“Isso é bom. Eu adoro como vocês resolvem esse problema da distância.” “Eu também. E funciona, mas eu mal posso esperar quando não tiver que arrastar ele da sua casa, ou quando não precisar mais ir embora.” Ela pegou a bandeja, que agora estava carregada, enquanto eu pegava os inúmeros recipientes. Quem precisava de tantos tipos diferentes de mostarda? A campainha tocou e Calla suspirou enquanto ela começava a colocar a bandeja para baixo. “Provavelmente é Katie.” “Eu atendo,” eu ofereci desde que minhas mãos não estavam cheias. “Obrigada.” Ela sorriu, virando para a porta dos fundos. “Venha logo depois. Esses caras conseguem comer uma dúzia de hambúrgueres sozinhos.” “Wow.” Calla riu. “Yep.” Minhas sandálias tintilaram pelo chão enquanto eu corria para a porta da frente da casa. Imaginando que tipo de roupa Katie estaria usando, eu abri a porta e me preparei para ver algo rosa e brilhante. O vestido de seda preto não era de Katie. Parada na porta da frente estava a última pessoa que eu esperava ver. Era Nicole, a ex-noiva de Colton.

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Capítulo Dezesseis Uma pena poderia ter me derrubado. Eu estava extremamente chocada e tudo que consegui fazer foi ficar ali parada. Durante o último Mês, eu pensei muito nela, assim como eu pensei sobre o homem que eu vi ser morto, o homem que terminou no rio e no homem que quase me matou. Como eu não poderia? E agora ela estava aqui. Eu só tinha visto Nicole a distância e eu não estava preparada para o quão linda ela era de perto. Seu cabelo loiro era extremamente liso e brilhoso, sua pele impecável e não havia nem uma ruga a vista. Seus lábios eram cheios e seu nariz arrebitado, combinando com as bochechas altas, ela era o pôster da perfeição. Não houve reconhecimento em sua voz. “Oi,” ela disse com a voz suave. “Colton está?” Meu coração pulava em meu peito enquanto eu disse a primeira, e mais obvia, coisa que apareceu na minha cabeça. “Essa não é a casa dele.” E eu pensei que essa era uma afirmação totalmente válida. Ela olhou sobre meu ombro. Suas mãos juntas na sua frente. “Eu sei isso. Eu vi sua caminhonete do lado de fora.” Então ela sabia muito bem que ele estava aqui. “Você pode chamar ele por favor?” ela pediu, me dando um meio sorriso. “Eu realmente preciso falar com ele.” Por que ela iria aparecer sem ser convidada na casa de um amigo de Colton? Quem faz isso? Eu não achava que a maioria fazia isso. Um milhão de pensamentos se formaram de uma vez. Talvez não fosse totalmente sem aviso.

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Talvez ela e Colton tivessem mantido contato e eu simplesmente não sabia. Talvez ele quisesse... Eu puxei o freio nesse trem de pensamentos estranho. Colton era um homem honesto, e por mais estupido que fosse, aquela voz maldosa na minha cabeça não iria vencer. Mas ai eu percebi que eu tinha começado a me virar para ir buscar Colton, e isso foi um tapa na cara. Mas que porra eu estava fazendo? Sua exnoiva tinha vindo a casa de Jax procurando por ele – pelo meu namorado, e eu iria apenas sair e buscar ele? Oh não, claro que não. Eu encarei ela. “Por que você quer ver ele?” Nicole piscou, obviamente surpresa pela minha pergunta. “Eu não quero ser rude mas não é da sua conta.” “Na verdade, isso é Nicole.” Seus olhos arregalaram dessa vez. “Como você sabe...” “Eu sei quem você é.” Meu coração batia tão rápido que eu pensei que ficaria doente. “Você é a ex-noiva de Colton.” Suas sobrancelhas franziram. “Me desculpe mas eu não te conheço. Você não esta namorando nem com Jax nem com o irmão de Colton.” “Não estou.” Eu pausei e sorri. “Isso porque eu estou namorando Colton.” Qualquer outra hora eu teria rido da sua reação. Seu maxilar pareceu ter se soltado. Ela mexia a boca como um peixe fora d’agua. Meus lábios se juntaram enquanto seus olhos dobravam de tamanho. Era assim tão difícil de acreditar? Geez. “Eu... eu não sabia,” ela disse enquanto se recuperava. “Ele não disse nada.”

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Meu estomago se juntou a seu maxilar, caindo em algum lugar no chão. “Quero dizer, eu realmente não falei com ele,” ela adicionou rapidamente, abaixando seu olhar enquanto balançava sua cabeça. “Eu mandei mensagem para ele umas vezes... liguei, mas ele não atendeu.” Eu estava aliviada e nem me senti mal por isso. Nicole limpou sua garganta. “Eu... Deus, isso é tão vergonhoso.” Ela riu, mas era um som rouco e estranho. “Eu, honestamente, não estava planejando vir aqui, e eu sei que pareço como uma perseguidora, mas minha amiga vive aqui perto e quando eu passei e vi sua caminhonete eu pensei...” Eu não tinha ideia do que dizer. “Desculpa?” Deus, isso era bobo. Ela riu de novo e o som era ainda mais rouco dessa vez. Seu olhar levantou para o meu. “Você realmente se importa com ele? Porque se ele está com você, ele realmente se importa com você. Ele não namora em vão.” “Eu sei,” sussurrei e, naquele momento, eu realmente sabia. Com minha mão ainda na porta, eu exalei. “Eu venho sonhando com ele – com alguém como ele – por um bom tempo. Eu estou apaixonada por ele. Eu não sei se ele se sente do mesmo jeito, mas eu sei... eu sei como me sinto.” Os olhos de Nicole se fecharam por um momento. “Tenha certeza de dizer isso a ele,” ela disse, seus olhos se enchendo de lágrimas. “Tenha certeza de demonstrar isso a ele. Eu... eu nunca realmente fiz, você sabe? Eu era idiota. Não seja idiota como eu.” Ela deu um passo para trás, limpando sua garganta. “Pode me fazer um favor?” “Claro,” eu me ouvi sussurrando. Por algum motivo eu queria chorar. Ela sorriu um pouco. “Não diga a ele que eu estive aqui. Eu não vou tentar entrar em contato de novo. Não quando ele estiver com outra pessoa. Okay?” Pressionando meus lábios juntos, eu concordei.

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“Obrigada,” Ela disse e se virou. Eu a assisti ir embora e fechei a porta. Ainda estupefata, eu juntei os potes e andei para fora. Todo mundo estava em volta da mesa, pegando colheradas de salada de batata e colocando elas em seus pratos. Colton olhou para cima, seus olhos suaves, fazendo meu coração apertar. “Eu estava começando a ficar preocupado com você.” “Yeah, quem era na porta?” Jax perguntou. “Ninguém,” eu respondi, colocando os potes na mesa enquanto inalava profundamente. “Quero dizer, era alguém tentando vender velas. Me levou um tempo para conseguir fechar a porta.” Roxy pegou o pote de ketchup. “Se fosse os escoteiros vendendo cookies, eu espero que você os deixe entrar.” Eu sorri enquanto me movia para onde Colton estava, as palavras de Nicole girando na minha cabeça enquanto eu passava um braço em sua cintura. “Se fosse eles, eu teria esticado o tapete vermelho.”

Mais tarde naquela noite, eu estava deitada na cama de Colton, uma fina camada de suor cobrindo nossos corpos enquanto nossos batimentos acalmavam. Tinha dado um bom trabalho para Colton puxar os lençóis até nossa cintura. Ele estava deitado de costas e eu estava ao seu lado. Sua mão subindo e descendo pelas minhas costas, um carinho que eu nem sabia se ele percebia que estava fazendo. No silencio do seu quarto escuro, a conversa que eu tive com Nicole se repetia na minha cabeça. Em vários momentos durante o churrasco eu odiei não ter contado a Colton sobre ela, mas eu também não queria quebrar a promessa que fiz.

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Eu não queria que Nicole tivesse problemas. Se qualquer coisa, sua visita inesperada tinha sido um toque do despertador. Eu precisava dizer a Colton como eu me sentia. Poderia ser arriscado. Inferno, eu poderia assustalo, mas as palavras estavam queimando na ponta da minha língua fazendo meu coração revirar. E eu não era covarde. No pior caso, seria cedo demais e Colton iria fugir, mas se ele não se sentia do mesmo jeito agora, isso poderia mudar mais tarde? Não era como se as pessoas pudessem aprender a amar uma as outras, mas era algo firme que você sabia bem rápido quando o amor estava em jogo. Eu inalei profundamente. “Colton?” “Hmm?” ele murmurou. “Você ainda está acordado, certo?” Sua risada me percorreu. “Sim.” “Bom. Eu preciso te contar uma coisa.” A mão de Colton congelou no meio das minhas costas. “Você tem toda minha atenção.” Eu fechei meus olhos e me apoiei em seu peito porque eu estava começando a tremer. “Eu... eu realmente amava Kevin. Ele era mais que meu marido. Ele era meu melhor amigo também e, quando ele morreu, eu não tinha certeza se um dia sentiria o mesmo por alguém. Eu queria, mas eu... eu não tinha certeza.” Ele não se moveu. E tinha uma boa chance dele não estar respirando também. “Mesmo que eu estivesse com Kevin no colegial, eu ainda via você e eu ainda... Deus que me perdoe, eu tinha uma queda por você.” Eu apertei meus olhos fechados. “E, bem, o que eu estou tentando te dizer é que eu... eu te amo.”

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Ele não se moveu. Ou respirou. Meus olhos abriram e eu adicionei correndo. “E eu sei que é cedo e que provavelmente é cedo demais para eu estar falando isso para você, mas que queria que você soubesse isso. Eu te amo e eu sei que você está, provavelmente, a segundos de surtar e...” “Eu estou surtando.” Oh Deus. Colton rolou de lado e, de repente, estávamos cara a cara. “Eu estou surtando de um jeito bom.” “Oh,” sussurrei. Sua mão foi para minha bochecha. “Não é cedo demais. Ou se é, nós estamos sentindo isso cedo demais.” Perdi a respiração. “Você... você me ama?” “Yeah. Yeah, eu amo.” Seus lábios estavam sobre os meus. “Eu acho que me apaixonei por você no momento que disse que realmente gostava de crepes.” Eu ri enquanto lágrimas, o tipo bom de lágrimas, enchiam meus olhos. “Mesmo? Foram os crepes que fizeram você se apaixonar por mim?” “Eles tiveram algo a ver com isso.” Ele me beijou de novo. “Assim como sua linda bunda,” ele adicionou e eu ri de novo. “Seu sorriso teve muito a ver. Assim como sua força. E sua bondade. Tudo em você, na verdade.” “Wow,” eu sussurrei, colocando minha testa contra a dele. “Isso tudo é muito doce.” “É a verdade.” Sua mão deslizou pelo meu cabelo, afastando ele do meu rosto. “Eu te amo, Abby.”

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Com meu coração cheio de amor e minha mente vazia de todos os medos e preocupações, eu empurrei os lençóis, empurrei ele e subi em cima, montando em seu quadril. Colton sorriu abertamente. “Eu gosto da onde isso está indo.” Rindo, eu coloquei minhas mãos em seu peito. “Sabe o que mais?” “O que?” Seus dedos acariciavam minha pele. Eu me abaixei e o beijei. Mal havia espaço entre nossos lábios quando eu falei. “Eu sonhei com isso por tanto tempo.” Colton pegou minha mão e trouxe ela para sua boca, beijando minha palma. “Você não tem que sonhar mais.” Meus lábios se curvaram em um sorriso. Ele estava certo. Eu não precisava sonhar mais.

FIM.

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