R$ 14,90
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ISSN 1982-9469
00116
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MAIO 2018 N.116
GUERRILHA david vélez fez de sua startup um unicórnio, pretende atrair 60 milhões de brasileiros para o Nubank e revolucionar o sistema bancário nacional
NO VÁCUO
A entressafra de RACHEL MAIA, uma das poucas negras do C-Level
BAIRRISTA
O empresário
FERNANDO TCHALIAN
conta como faz para unir espaço e conteúdo nos Jardins
HOLOFOTE
Como se comportar nas redes sociais para conseguir – ou manter – uma posição de destaque
PÃO SÍRIO
PAULO SÉRGIO PINHEIRO
diz para onde o Brasil e o mundo caminham E MAIS
A roteirista MARIA CAMARGO fala sobre Roger Abdelmassih, o polvo vai à mesa, a Polinésia Francesa de Marlon Brando e o estilo Rio-Lisboa do ator RICARDO PEREIRA
poder
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Auditoria Digital: sua empresa estĂĄ praticando o futuro?
Š 2018 EYGM Limited. Todos os direitos reservados.
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Quanto melhor a pergunta, melhor a resposta. E melhor se torna o mundo de negĂłcios.
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SUMÁRIO
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EDITORIAL COLUNA DA JOYCE A REVOLUÇÃO ROXA
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O Nubank vale US$ 1 bilhão sem controle acionário e sem ir à bolsa
50
ALMOÇO DE PODER
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O novo conceito de ocupação imobiliária de Fernando Tchalian
APAGUEM O QUE ESCREVI
Todo cuidado é pouco: publicações nas redes sociais podem se voltar contra o autor 30
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CORAÇÃO DE PAPEL
Ricardo Pereira tem novos planos para a carreira 44
56 58 60
CANTO DE PODER
O sorriso, os suspensórios e a deliciosa gastronomia de Massimo Ferrari
PODER VIAJA É DE PODER NO CAMPO E NA CIDADE
Novos modelos de SUVs mais compactos e econômicos 64
VELOZES, MAS NÃO FURIOSOS
Tecnologia, luxo e conforto em alta velocidade
CLÁSSICOS EM AÇÃO
O inesquecível diretor italiano Luchino Visconti
O SONHO DE MARLON BRANDO
A Polinésia Francesa é de tirar o fôlego
CEO DE SI MESMA
Saiba como Rachel Maia aproveita para reorganizar a carreira
QUEBRANDO BARREIRAS
Por que sabemos tão pouco sobre Virgínia Bicudo?
Um bate-papo otimista com Paulo Sérgio Pinheiro 26
O CRIADOR DE LUGARES
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COZINHA DE PODER HIGH-TECH CULTURA INC. ESTANTE UNIVERSO PARTICULAR POLE POSITION CARTAS ÚLTIMA PÁGINA
DAVID VÉLEZ POR ROBERTO SETTON
NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder
FOTOS BRUNA GUERRA; MAURÍCIO NAHAS; BEATRIZ CHICCA; PICO GARCEZ
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PODER EDITORIAL
M
uita gente cita por aí a frase famosa de Tom Jobim, a de que o Brasil não é para principiantes. Nada contra essas pessoas e nem contra o maestro, pois o Brasil é mesmo complicado. Mas há principiantes e principiantes. O colombiano David Vélez, por exemplo, soube entender as complexidades do país e, mais do que isso, tirar partido delas. Ao notar que faltava aos bancos daqui qualidade de atendimento, soluções digitais rápidas e simples e taxa zero nos produtos e serviços oferecidos, decidiu ele mesmo abrir uma fintech com esses features. A startup virou o Nubank, que começou apenas com cartão de crédito e agora, com carta-patente, já pode atuar como banco. Vélez não pensa pequeno e diz que há um mercado potencial de 60 milhões de correntistas fora do sistema bancário que ele quer trazer para o Nubank. Explicar as nuances do Brasil também não é tarefa das mais simples, mas o professor e ex-secretário de Direitos Humanos de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Sérgio Pinheiro, hoje na ONU, estrela do Almoço de PODER, veio dar uma luz. Já saber o que dizer – e o que não dizer – nas redes sociais também exige suas manhas, e disso pode depender o sucesso no mundo corporativo. Mundo que prega a diversidade, e que acaba de perder, aqui no Brasil, uma de suas raras CEOs negras, Rachel Maia, que deixou a Pandora, mas mantém uma agenda (e uma ansiedade) de executiva, como o repórter Chico Felitti pôde constatar. Vindo do outro lado do Atlântico, o português Ricardo Pereira, galã da Globo e no ar em Deus Salve o Rei, tornou-se o vilão que nós brasileiros amamos odiar (e que eles odeiam amar). E isso não é pouco, não. Ainda fomos conhecer o mítico resort de Marlon Brando na Polinésia Francesa, navegamos em barcos que são pura tecnologia e colocamos o polvo onde deve estar: na mesa. Quer saber? Fazer uma revista como a PODER também não é para principiantes.
GL A MU R AMA . C O M
As últimas semanas do reinado de CÁRMEN LÚCIA à frente do STF e do CNJ estão sendo comparadas por colegas da ministra à reta final do mandato de Joaquim Barbosa. Tantas foram as crises criadas por JB que ministros contavam as horas para a posse de Ricardo Lewandowski. Logo depois se soube que a ansiedade por um epílogo de Barbosa era ainda maior. O novo São Sebastião do Supremo, DIAS TOFFOLI, ao contrário, deve vir com força total. Ele tem acolhido com interesse todos os projetos e estudos que lhe chegam para aperfeiçoar o funcionamento da Casa. Toffoli assume o comando do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça em setembro.
QUAL É A MÚSICA?
Nada é perfeito nesta vida. ROBERTO KALIL FILHO, o cardiologista dos poderosos, está dedicando cada vez mais o seu tempo livre – que é bem pouco, aliás – ao hobby de tocar saxofone. Ele tem feito aulas particulares em casa aos domingos e também ensaiado com um grupo de funcionários do InCor, onde é presidente do Conselho Diretor. A questão é que até hoje os poucos amigos que tiveram a oportunidade de acompanhar as performances musicais de Kalil nem sempre conseguiram decifrar que música afinal o doutor estava tocando.
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ESTACIONADO
O apartamento no qual o milionário OLACYR DE MORAES morava na rua Leopoldo Couto Magalhães, em São Paulo, em um dos prédios mais luxuosos da cidade, continua fechado desde a morte do “rei da soja” em 2015. Quase três anos depois não se sabe qual será o destino do imóvel de 500 metros quadrados. Moraes morreu aos 84 anos, vítima de câncer de pâncreas, e deixou dois filhos, Ana Claudia e Marcos.
FOTOS FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL; PAULO FREITAS; BRUNA GUERRA; ANDRÉ LIGEIRO; ROBERTO SETTON; MAURÍCIO NAHAS; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO
DOSIMETRIA
FERVENDO
PETIT COMITÉ
Se a moda é ter casa em Trancoso, a turma de Brasília não quer ficar para trás. Alguns milionários locais decidiram comprar juntos um enorme terreno por lá, o paraíso dos ricos no sul da Bahia, e estão construindo por conta própria um condomínio de luxo no local. O espaço fica atrás do Quadrado. Entre os figurões envolvidos no empreendimento está o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o KAKAY, defensor de boa parte dos implicados na Lava Jato.
O jovem chef italiano RODOLFO DE SANTIS chegou de mansinho, mas está mandando ver no circuito de top restaurantes em São Paulo. Sócio já de quatro hotspots no Itaim, entre eles o concorrido Nino Cucina, o chef mal inaugurou o Da Marino, especializado em frutos do mar, e já está pensando no cardápio de uma nova casa. Na mesma rua Jerônimo da Veiga, o Julieta será vizinho dos irmãos descolados e adotará estilo fogo e vinho. As obras do local deverão ser entregues no segundo semestre.
DIGA-ME COM QUEM ANDAS...
Citado em depoimentos à Polícia Federal, ALEXANDRE ACCIOLY está tão preocupado com o andar da carrua-
gem e sua proximidade de Aécio Neves que tem acusado o golpe. Com tanta ansiedade, ele está comendo bem mais do que o habitual e isso já está refletindo em sua forma física, especificamente na cintura. Accioly é o melhor amigo do senador tucano e teme que as denúncias contra Aécio acabem o atingindo.
OS LEITE BARBOSA
Nos anos 1950, o mercado de capital contava moedas no Brasil quando o empresário cearense MARCELLO LEITE BARBOSA iniciou, no centro do Rio, as operações do que viria a ser, por décadas, a maior corretora de valores do país, berço de figuras tão manjadas quanto polêmicas como Artur Falk, Fábio Nahoun e Salvatore Cacciola. A saga da Leite Barbosa, corretora que revolucionou o mercado – e depois caiu em derrocada – é contada agora em livro produzido pela neta de Barbosa, Antonia, e escrito pelo jornalista George Vidor, referência na área econômica. “É também uma obra sobre uma época, sobre um período de mudanças no Brasil”, contou Antonia Leite Barbosa à coluna. O lançamento é dia 21, no Rubaiyat do Jardim Botânico, Rio. PODER JOYCE PASCOWITCH 7
3 PERGUNTAS PARA... RODOLFO MEDINA, presidente da Artplan, a maior agência de publicidade com capital 100% nacional, e vice-presidente comercial e de marketing do Rock in Rio os dias focado nisso. Desde pequeno, dentro de casa, já acompanhava a rotina e os desafios que ele trazia do seu trabalho na agência, seu jeito inquieto, criativo e transparente de lidar com as pessoas. Nossa principal semelhança é o foco nos negócios, porém ele sempre teve um olhar mais criativo dentro do processo, enquanto eu, desde que assumi a liderança da Artplan, tenho investido muito em gestão. O ROCK IN RIO CRIOU A CAMPANHA “RIO, DESISTIR JAMAIS”. VOCÊ ACREDITA QUE A VIOLÊNCIA PODE IMPACTAR NO CENÁRIO CULTURAL
DE A ABERTURA DA ARTPLAN. TEM GENTE FALANDO QUE O “MUNDO FICOU CHATO”. É ISSO MESMO?
O mundo mudou muito e, obviamente, o mercado de publicidade e comunicação também. Esses dois caminhos estão intrínsecos um ao outro, portanto, não apenas às marcas, mas também às agências, que precisam estar atentas ao que está acontecendo na sociedade, suas principais reivindicações, discursos e comportamentos para que a comunicação saia da maneira mais apropriada àquele públi-
co. Isso inclui ainda trabalho de gestão de pessoas para que as agências tenham equipes diversas e que representem os mais variados consumidores. A forma da comunicação mudou, assim como o timing dela junto aos avanços tecnológicos e isso nos imprime um ritmo bastante desafiador e apaixonante. QUANDO O ASSUNTO É TRABALHO, O QUE VOCÊ APRENDEU COM SEU PAI [ROBERTO MEDINA, CRIADOR DO ROCK IN RIO]?
O maior aprendizado foi, e tem sido, acreditar em sonhos e trabalhar todos
UBERCÓPTERO
A fim de não abrir mão do luxo, alguns empresários graúdos estão optando pelo uso compartilhado de helicópteros particulares. Em meio a crise, tem sido a solução encontrada para reduzir custos corporativos e pessoais. Os planos são os mais variados. Em uma empresa que presta esse tipo de serviço, a Avantto, cotas de 5% das aeronaves custam R$ 240 mil e oferecem ao cliente 60 horas anuais de voo durante cinco anos. Márcio Rocha Mello, do ramo petrolífero, e o empresário Salo Seibel são alguns dos usuários ativos do apelidado “ubercóptero”.
8 PODER JOYCE PASCOWITCH
A campanha tem o objetivo de mobilizar, de levantar a estima. O carioca está vivendo um momento muito difícil e claro que, de alguma forma, isso abala a parte cultural e turística. Mas a verdade é que o Rio de Janeiro continua sendo uma das cidades mais lindas do mundo, ela tem todo o legado deixado pela Olimpíada, então é um lugar que já está pronto para o turismo. Temos que levantar a cabeça e lutar, mesmo sabendo das dificuldades. É muito importante a colaboração dos empresários locais para criar essa mobilização em torno da recuperação da cidade. O Rio vai sair dessa.
FOTOS DIVULGAÇÃO; ISTOCKPHOTO.COM
E TURÍSTICO CARIOCA? A PUBLICIDADE MUDOU MUITO DES-
NAVE MÃE
Os mais de 400 brasileiros que compraram imóveis em Portugal nos últimos anos, de olho nos vistos de residência, estão na mira do Parlamento Europeu. Na avaliação do órgão, o mecanismo pode estar sendo usado em crimes financeiros e fiscais e precisaria ser interrompido imediatamente por falta de transparência – há ainda o medo de se conceder cidadania a terroristas. O Golden Visa foi criado em Portugal em 2012, quando o país sofria os piores efeitos da crise econômica global. De lá para cá, apenas os chineses solicitaram mais vistos do que os brasileiros.
EM MAIO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... • Conhecer o novo Sesc Paulista, projetado pelo escritório Königsberger Vannucchi. O prédio de 17 andares é quase uma extensão da própria avenida, com amplas áreas de convivência e um rooftop com vista 360 graus da cidade. A cereja da estreia? Uma exposição do videoartista Bill Viola
• Planejar uma viagem diferente para a primavera europeia, desbravando um destino mais ao leste, como Varsóvia ou Budapeste • Passar uma semaninha em Paris, com direito à exposição do artista tcheco Kupka, pioneiro da abstração, que fica até 30 de julho no Grand Palais • Prestigiar a dupla de designers brasileiros Marcio Mota e Cris Inoue, a única da América Latina na 18ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza. A abertura acontece no dia 26
• Hospedar-se na recém-inaugurada suíte que leva o nome do tenista espanhol Rafael Nadal no MonteCarlo Bay Hotel & Resort, em Mônaco. É lá que o número 1 da ATP fica quando está no principado • Visitar o Zeitz Mocaa, na Cidade do Cabo, o maior museu do mundo dedicado à arte contemporânea africana
• Descobrir a história de amor entre a imperatriz Catarina, a Grande, e seu oficial do Exército Potemkin, no novo livro de Simon Sebag Montefiore, autor dos best-sellers Jerusalém e Os Románov. Da Companhia das Letras
• Ler Sophia de Mello Breyner Andresen na seleção de Eucanaã Ferraz. A antologia joga luz sobre uma das vozes mais cultuadas da poesia portuguesa • Curtir o Festival of Disruption, no Brooklyn, com curadoria apurada de David Lynch. Além de música, tem talks, filmes e exposições • Ver o premiado documentário Em um Mundo Interior, primeiro longametragem brasileiro sobre autismo, dos cineastas Flavio Frederico e Mariana Pamplona
• Aproveitar um fim de semana prolongado para visitar Alto Paraíso, o destino preferido da turma mais descolada de Brasília • Pedalar de mountain bike pela Cordilheira dos Andes, uma excelente opção para quem deseja começar a ter contato com as montanhas sobre duas rodas
• Rever os clássicos Rio, 40 Graus e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, precursor do cinema novo que morreu em abril
com reportagem de aline vessoni e dado abreu PODER JOYCE PASCOWITCH 9
O colombiano David Vélez, CEO e cofundador do Nubank
10 PODER JOYCE PASCOWITCH
COFRINHO
A REVOLUÇÃO
ROXA
Com 3 milhões de usuários de seu cartão de crédito, Nubank atinge valor de mercado de US$ 1 bilhão sem vender controle acionário nem ir à bolsa. E as coisas podem ficar ainda mais emocionantes para a fintech com o lançamento da conta bancária por paulo vieira fotos roberto setton
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S
e de graça até ônibus errado, que tal cartão de crédito sem taxa de anuidade? A julgar pela quantidade de clientes que o Nubank, a mais bem-sucedida fintech brasileira, vem amealhando com seu até aqui principal produto, o pessoal gosta muito de ônibus errado – e ainda mais de cartão de crédito. De 2016 para 2017, a base de clientes da empresa, fundada em 2013 pelo colombiano David Vélez, o norte-americano Edward Wible e a brasileira Cristina Junqueira, todos executivos na casa dos 30 anos, dobrou de tamanho atingindo 3 milhões de pessoas. O perfil do consumidor é jovem, está espalhado pelo Brasil e foi atraído exclusivamente pelo boca a boca ou pela indicação de um amigo ou conhecido que já utilizava o produto. Não havia alternativa: o Nubank não fez investimento em mídia tradicional para comunicar a existência de seu cartão roxo, que se tornou famoso pela cor improvável e pela taxa de anuidade de R$ 0. O serviço de atendimento ao cliente, que consegue preservar o humor do sujeito do outro lado da linha, também contou pontos na popularidade do cartão. A princípio, o negócio era ortodoxo: só era emitido com a bandeira Mastercard e não acumulava milhas ou pontos para troca por passagens aéreas e outras recompensas. Ortodoxo é eufemismo. A melhor palavra é “pelado”, ou seja, “nu” – Nubank, aliás, vem daí. Com pouco mais de dois anos de existência do produto, surgiu uma versão incrementada: a um custo de R$ 19 mensais o usuário pode acumular milhas. Mas se preferir permanecer na política do ônibus errado, continua a nada pagar (e a não pontuar). Este ano, após uma nova rodada de captação de investimentos, o Nubank anunciou que se tornava um unicórnio, como são chamadas as startups que alcançam valor de mercado de US$ 1 bilhão. Antes, no Brasil, só a 99 Taxis atingiu o sonhado patamar ao ser vendida para os chineses do conglomerado Didi Chuxing; o PagSeguro, que abriu capital na bolsa de Nova York, também é tratado como unicórnio, mas, por pertencer a uma grande empresa, o UOL, muitos não o consideram parte do “ecossistema” das startups e, portanto, indigno do título. O Nubank chegou lá sem mexer na sua estrutura acionária nem ir ao mercado, mas o passo simbólico não foi celebrado com foguetório no QG
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“O Brasil tem um setor financeiro altamente concentrado no qual as pessoas sofrem experiências horríveis como consumidores”
da empresa, o colorido prédio da avenida Rebouças, em São Paulo. “É óbvio que ficamos muito contentes em ser uma das primeiras empresas brasileiras e a primeira fintech na América Latina a virar unicórnio, mas nosso objetivo nunca foi esse. Essa é só a primeira página, ainda há muito a fazer”, disse David Vélez, CEO da companhia, em entrevista a PODER. A história pode não ser exatamente essa, mas Vélez, o protagonista, lhe dá fé, como a reportagem de PODER pôde comprovar na entrevista na sede do Nubank.
Consta que o colombiano teve a ideia de sua empresa depois de tentar abrir uma simples conta bancária no Brasil. Ele trabalhava para o fundo global Sequoia, não por acaso o primeiro acionista do Nubank junto com o fundo Kaszek Ventures. Ao notar que tudo era complicado numa agência bancária e que ninguém parecia gostar de estar ali, teve o estalo para a futura fintech. “O Brasil tem um setor financeiro altamente concentrado, no qual, além de as pessoas pagarem um dos juros mais altos do mundo, sofrem com experiências PODER JOYCE PASCOWITCH 13
“Ficamos muito contentes em ser uma das primeiras empresas brasileiras a virar unicórnio, mas essa é só a primeira página, o começo da revolução no setor”
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horríveis como consumidores. Quisemos mostrar que autorização presidencial para operar com conta banera possível oferecer um serviço financeiro diferente cária, uma exigência para instituições financeiras de do que as pessoas estavam acostumadas e do que eu capital estrangeiro, pode ter sido a primeira condição vivi na pele quando cheguei aqui. Criamos uma experi- objetiva atendida por Vélez para deflagrar a revolução. ência digital, com um aplicativo intuitivo que funciona “Há mais de 60 milhões de pessoas desbancarizadas no Brasil que podem se beneficiar muito de uma expeo tempo inteiro, em tempo real”, diz. Tendo como antípoda a ideia da fila de banco, é na- riência bancária simples e inteiramente digital”, diz. O Nubank já parte com uma vantagem competitiva, tural que grandes investimentos tenham sido feitos em tecnologia buscando rapidez, descomplicação e pois tem condições de rapidamente seduzir os 10 mifacilidades para o usuário. E isso, aparentemente, foi lhões de candidatos que acabaram sem aquilo roxo – alcançado. Da solicitação pelo aplicativo à chegada do cartão BRIGA DE CACHORRÕES pelo correio são poucos dias – Para implantar a tal revolução roxa e se tornar um e para ter o pedido aceito (ou player no concentradíssimo sistema bancário branegado), o que costuma dar sileiro, o Nubank vai precisar se armar para brigar mais trabalho é fotografar a com cachorros do tamanho de ursos. A briga, aliás, cédula de identidade. Depois já começou. A empresa de Vélez denunciou os cinco maiores bancos do país, Bradesco, Itaú, Santandisso, todos os processos poder, Banco do Brasil e Caixa por “adotar medidas dem ser feitos pelo app, inclupara impedir a entrada e dificultar a atividade de sive a reclamação de compras novos agentes no mercado de emissão de cartão de não reconhecidas. A interface crédito”. Tais medidas incluiriam, por exemplo, a é simples e completa. A máimpossibilidade de correntistas dessas instituições contratar débito automático para pagar o cartão gica que o Nubank não fez foi Nubank. Vélez não quis comentar o assunto, mas eliminar a análise de risco. Seisso certamente só o estimula a multiplicar sua base gundo Vélez, cerca de 10 mide nucorrentistas. Outra arma é a contratação de lhões de candidatos a ter um Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, cartão Nubank foram gongapara atuar como conselheiro estratégico. “Um de seus papéis é contribuir para discussões de assundos – de cada três propostas, tos regulatórios e de capital, além de fornecer portanto, apenas uma, ou quaembasamento macroeconômico para tomadas se isso, tem sido aceita. de decisão”, diz o CEO. No mundo das startups, aproximar-se ou chegar ao primeiro bilhão costuma significar troca de comando o cartão de crédito –, e que podem se interessar pela ou venda sem piedade da empresa e, em seguida, o iní- conta bancária. A política de isenção de taxas é idêncio de um novo ciclo empresarial. David Vélez garan- tica, neste caso ainda com gratuidade nas transferênte que está em outra. Ele se enxerga como agente de cias, mesmo para outros bancos. E o correntista ainda uma “revolução no setor financeiro do Brasil”. E há, na pode faturar algum, pois sua conta irá compartilhar de verdade, mais gente que vê tal revolução em marcha. investimentos em papéis do Tesouro Nacional. Segun“Acho impossível ela não acontecer, pois não são só as do o site do Nubank, a 100% do CDI. Pelas contas do CEO, seus clientes já economizaram fintechs que questionam o mercado financeiro. Há a Amazon querendo montar banco, Facebook com licen- R$ 1,5 bilhão em “tarifas inúteis” e 500 mil horas que ça para operar pagamentos digitais na Europa, Apple seriam perdidas em filas ou em call centers “tentando e Samsung com seus sistemas próprios. Não sei se o resolver problemas sem sucesso” – para esse cálculo, Nubank vai ser player no Brasil, mas a revolução virá”, Vélez usa uma média de 25 a 30 minutos por atendidiz o consultor Marcelo Bradaschia, do FintechLab. mento. Com a conta bancária, a economia tende a se No caso do Nubank, ter conquistado recentemente a potencializar. PODER JOYCE PASCOWITCH 15
JURO E CÃOZINHO Embora remunere-se como banco – se não cobra tarifas, tem taxas de juros no rotativo que podem bater nos 14% ao mês e parcelamento da fatura com taxa de até 9,75% mensais –, o Nubank é uma empresa de tecnologia, e todas as soluções para seu app foram desenvolvidas lá dentro. Uma dessas soluções, simplérrima, mas ao mesmo tempo muito útil, é a possibilidade de modificar a razão social do favorecido da compra no extrato, o que ajuda no acompanhamento da despesa (veja no boxe). Recentemente, a empresa passou a ocupar um espaço de coworking em Berlim, a primeira sucursal internacional do Nubank, onde, segundo Vélez, é possível recrutar bons profissionais da área de engenharia de dados, uma carência brasileira. Com tudo isso, o maior contingente de funcionários do Nubank não é de engenheiros ou desenvolvedores,
tante autonomia. E, de fato, a estrutura do Nubank, muito pouco usual, parece favorecer isso. Não há departamentos estanques, mas o que chamam de “squads” (times, em tradução livre), cada um deles composto por profissionais de áreas distintas como CRM, design e tecnologia. Uma ou mais dessas equipes podem estar dedicadas exclusivamente ao processo de fechamento de fatura, por exemplo. Consequência direta disso ou não, em menos de cinco anos de vida o Nubank colecionou alguns prêmios relevantes. Numa seleção muito sucinta, foi considerada uma das dez empresas latino-americanas mais inovadoras segundo a lista de 2018 da incensada revista americana Fast Company (a primeira dentre as quatro companhias brasileiras); antes, em 2016, arrebatou um prêmio outorgado no Vale do Silício, o Marketers That Matter, alinhando-se com gigantes globais como Google, Netflix e GoPro; e já teve seu app premiado mundialmente pela Apple Store.
TECNOLOGIA EM PRIMEIRO LUGAR
Ter capital humano para desenvolver as próprias soluções digitais é, junto com o atendimento humanizado, o grande ativo do Nubank. Tudo pode ser feito pelo smartphone, inclusive a troca do nome dos estabelecimentos onde são feitas as compras. Acaba, assim, a necessidade de investigar o que são aquelas razões sociais estranhas que aparecem no extrato. Extrato também é coisa do passado, pois as despesas aparecem em tempo real, ou muito próximo disso, no smartphone. “Inovação faz parte do nosso DNA. Somos uma empresa de tecnologia que oferece serviços financeiros. Utilizamos tecnologia e design para desenhar produtos que sejam úteis para os clientes, que permitam que eles tenham o controle sobre suas finanças”, diz Vélez.
mas de pessoas que lidam com o público. Esse é outro diferencial do Nubank, algo inesperado para uma empresa que busca com sofreguidão aprimorar a experiência digital que proporciona. Viralizaram nas redes sociais atendimentos como o realizado a Walter, cuja cachorra, a Belinha, comeu seu cartão de crédito roxo. Alertado pela postagem dele numa rede social popular entre “cachorreiros”, o pessoal do Nubank não só enviou uma segunda via do cartão a custo zero – outra política default da empresa – como também anexou um presentinho para Belinha. Uma carta escrita à mão explicava tudo direitinho para o cliente. Walter e outros pet friends exultaram e, mais tarde, em suas próprias redes sociais, o Nubank capitalizou: “Esperamos que a Belinha tenha adorado o nosso presente e que não precise mais comer roxinhos por aí”. Ter uma equipe com habilidade para sacadas desse tipo exige conhecimento de CRM (gestão de relacionamento com cliente, a bola da vez na área de comunicação) e bas-
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A acreditar no que hoje dizem dez entre dez gestores, que veem na diversidade de seu capital humano o maior ativo que podem ter, muito das soluções que o Nubank cria possui vínculo direto com sua política de recrutamento. Há ali gente de 25 países diferentes e 40% da “brigada” é feminina, algo incomum numa empresa, nunca é demais lembrar, de tecnologia. A comunidade LGBT interna também é amplamente significativa – talvez a palavra “comunidade” não seja muito adequada aqui. Para dar conta, ou celebrar tal diversidade, um mapa-múndi cheio de alfinetes decora uma área comum do térreo do prédio do Nubank. Cada nação ou região espetada sugere que há gente oriunda desse lugar na empresa, mas o pessoal andou tomando certas liberdades. Na Groenlândia, por exemplo, um alfinete foi cravado bem no meio daquele imenso território gelado, mas até agora não encontraram nenhum esquimó suando em bicas e conspirando alegremente pela revolução roxa na avenida Rebouças. n
Área de convivência no lobby do edifício do Nubank, na avenida Rebouças, em São Paulo, e detalhe do mapa que mostra de onde vêm os funcionários que trabalham na empresa, que também tem escritório num coworking em Berlim
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PÃO SÍRIO
PAULO SÉRGIO PINHEIRO Amigo de Lula e FHC, de quem também foi ministro, Paulo Sérgio Pinheiro, hoje observador da ONU sobre violações de direitos humanos na Síria, alerta que a Constituição brasileira foi violada e que é preciso reestabelecer a normalidade para não ficarmos mal aos olhos do mundo POR FÁBIO DUTRA FOTOS PAULO FREITAS
J
á diria a avó deste repórter: “A gente faz planos e Deus ri”. Pois o jovem Paulo Sérgio Pinheiro, intelectual desde o berço, extremamente culto de pai, mãe e parteira, elegante e bem formado conforme os melhores ditames da etiqueta ocidental, queria ser diplomata. Formou-se em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e dedicou-se a entrar no Itamaraty, sonho de toda família carioca nos tempos da Guanabara. Bateu na trave. A barreira? A língua francesa com a qual se comunicava – e se comunica – com destreza desde antes da alfabetização. Segue a vida e o garoto que passou toda a pós-graduação, pasmem, na França, onde ficou amigo de Fernando Henrique Cardoso e de outros expatriados da elite brasileira, retornou ao Hemisfério Sul para puxar aquele papo chato – “precisamos falar sobre direitos humanos” – e assim acabou na Organização das Nações Unidas (ONU), responsável, entre outras coisas, por analisar os desrespeitos à dignidade humana ocorridos na comentada guerra da Síria. “Só não vá me escrever que sou diplomata, que meus amigos do Itamaraty vão brigar comigo”, explica um dos mais bem cotados diplomatas sem formação da história do Brasil.
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da Síria (presidente da comissão de inquérito sobre a Síria, para ser mais preciso), cargo diplomático na essência, e divide os dias entre São Paulo e Genebra. Por conta da posição que ocupa e do histórico da ONU de neutralidade política, recua um pouco toda vez que chamado a opinar sobre desrespeitos a direitos humanos perpetrados desde a derrubada de Dilma Rousseff e a instalação do novo governo. Os chamamentos podem vir tanto do gabinete autoempossado quanto de autoridades e grupos civis armados, paramilitares, que se aproveitam da instabilidade institucional para arbitrariamente atacar agrupamentos dos quais discordam materialmente. Apesar disso, não se furta a criticar o novo governo em geral e mira em ações oficiais em desacordo com os tratados internacionais firmados pelo Brasil. Como é o caso da revisão das definições de trabalho escravo, ação iniciada por FHC, e que pela flexibilização proposta passará a li-
momento sem esquecer das próprias, e consegue se referir com o mesmo respeito e carinho aos presidentes Fernando Henrique e Luiz Inácio Lula da Silva (a quem promete visitar tão logo a juíza federal Carolina Lebbos passe a autorizar as visitas de notáveis comme il fault – a execução da pena de Nelson Mandela, na África do Sul, é o exemplo que ele sempre usa pra explicar o porquê de isso ser natural). Num momento que precisa de tanta explicação e de tanta experiência, PODER decide almoçar com alguém cuja trajetória é incontestável – e cuja leitura da conjuntura se faz necessária. Atualmente, Paulo Sérgio Pinheiro é observador da ONU sobre violações de direitos humanos na guerra
vrar a cara de muita gente que pela descrição antiga se enquadraria como escravocrata. “Estamos falando de trabalho escravo no século 21 e uma democracia moderna conivente com isso é absurdo. Chegaram ao cúmulo de tentar não publicar a lista suja (nomes de pessoas condenadas por reduzir trabalhadores à condição análoga à escravidão), até porque tem deputado com o nome lá...”, indigna-se Pinheiro. Quando o assunto é o Congresso, aliás, não tem arrego. O foco das críticas é, principalmente, a “saraivada de projetos regressistas” para aguar alegados avanços como o já comentado combate ao trabalho escravo, a Lei Maria da Penha, o desarmamento e outros. Pinheiro faz troça: “Esse Parlamento clepto-
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Entre a França e a ONU passaram-se qualquer coisa como 50 anos, bem vividíssimos, e Pinheiro casou-se, separou-se, casou-se de novo com a senhora Ana – sua companheira até hoje, a quem ele se refere o tempo todo, com um misto de admiração e de medo, mormente na hora de aceitar a sobremesa além da cota permitida pelo cardiologista. Teve três filhos, quatro netos, brincou de jornalista ao editar o caderno internacional da IstoÉ dos tempos de Mino Carta sob a égide de Roberto Pompeu de Toledo, foi ministro da Secretaria de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso, um dos sete membros da Comissão Nacional da Verdade, que investigou os crimes da ditadura, e criou uma visão íntegra de Brasil, dessas de quem vê o jogo de xadrez de fora do tabuleiro. Tudo isso sem perder a ternura. O garoto, diplomata – sustentamos nós –, consegue ver as questões nacionais com muito embasamento e alheio às paixões do
“Esse Parlamento cleptocrata aprova tudo desde que remeta ao passado: ‘se é retrocesso eu estou aí’ é o lema” crata aprova tudo desde que remeta ao passado: ‘Se é retrocesso eu estou aí’ é o lema”. Nesse sentido, de iniciativas arcaicas que partem ou recebem apoio incondicional do Legislativo, ele ainda cita a reforma trabalhista abjeta – “conseguiram extinguir o limite das oito horas diárias e 18 anos como idade mínima padrão, que eram pautas das greves de 1907 e 1917 no Brasil e também no resto do mundo. Foram jornadas globais!” – e, principalmente, a PEC 55, que congela investimentos sociais por 20 anos independentemente do desempenho da economia. “Meu colega, relator da ONU para a pobreza extrema, Philip Alston, publicou documento em que alerta sobre o risco de isso prejudicar irremediavelmente as gerações vindouras”, denuncia. A carga contra o presidente em exercício Michel Temer não para: Pinheiro não se conforma com a dissolução da Secretaria de Direitos Humanos, que tinha status de ministério e para todos os efeitos práticos se tratava de um. “Demoramos 30 anos para fazer o ministério, não é algo que se faça do dia para a noi-
te, passou bem, ficando robusto e mais consolidado a cada dia, por três governos desde o FHC, quando eu até fui ministro, e eles fecharam. É um retrocesso”, lamenta, antes de completar, crítico e quase resignado: “Essas pessoas não têm a menor ideia do que é a comunidade internacional e da importância do Brasil, eles são provincianos. Esses ataques maculam nossa imagem, o que é bastante prejudicial. É como a [cela] solitária chic do Lula e a proibição de visitas tão ilustres quanto a do intelectual e religioso Leonardo Boff, um senhor de idade, e de um prêmio Nobel, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, defensor dos direitos humanos na América Latina, totalmente desnecessário e malvisto pela comunidade internacional”. O otimismo ao discorrer sobre o futuro, porém, e a doçura na fala enquanto tece críticas tão duras formam um paradoxo extremamente PODER JOYCE PASCOWITCH 21
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“Está claro que agem para tirar o Lula da disputa e temos o risco de esse Congresso, que topa qualquer parada, passar o semipresidencialismo ou parlamentarismo, mas prefiro acreditar que isso não vá acontecer” agradável – algo louvável e bastante bem-vindo durante a refeição. A luz do outono paulistano sobre a figueira que batiza o mais famoso restaurante da rede Rubaiyat e a figura meio dândi de Pinheiro – paletó com lenço no bolso, camisa e calça de cores distintas, bengala – a saborear vagarosamente seu bacalhau completam a inusitada e amistosa imagem que ficará na memória. Passamos a falar da Síria e ele nos conta da dificuldade que encontra para coletar documentos e receber denúncias, dado que o presidente Bashar al-Assad não permite a entrada de observadores internacionais. À vista disso, acaba por frequentar os campos de refugiados na Europa para entrevistar expatriados e, com a ajuda de ONGs e outras associações independentes consegue, via Skype, falar com um ou outro cidadão sírio em meio aos escombros. Apesar de dizer que está velho com seus 74 anos e atribuir às dificuldades físicas correspondentes as razões de não ministrar mais aulas, quanto mais nos cursos noturnos que USP e Unicamp oferecem, o diplomata que não quer ser chamado de diplomata é bastante ativo e entusiasmado com a ponte aérea São Paulo-Genebra – qualquer lugar do globo (os comissionados da ONU para esses assuntos nunca avisam para onde vão e quando vão). “Eu tenho a sorte de ter direito a bilhetes de classe executiva como prerrogativa da função, por isso consigo”, diz, modesto, o jovem de quase oito décadas. O cardiologista francês (ele se consulta em Paris, bien sûr) permitiu uma sobremesa por semana e Pi-
nheiro embarca de cabeça num crepe de doce de leite argentino que ele diz adorar e degustar toda vez que vai à Argentina. Ficamos desconfiados que ele acabou por estourar a cota semanal, mas não nos cabe acusar sem provas. O sol aperta e ele empunha os óculos escuros redondos e os mete na cara, reforçando a recomendação ao fotógrafo para não registrá-lo com aquele acessório: “Fico parecendo um mafioso!”, gargalha. Ainda dá tempo de perguntar sobre as eleições de outubro, jogo rápido: “Esse Jair Bolsonaro me lembra o plebiscito da monarquia em 1993, quando 13% da população votou naqueles fascistas da família Orleans e Bragança: acho que é isso que ele tem de votos”, avalia, cético quanto a um voo mais longo do capitão reformado do Exército brasileiro. Mas teremos eleições livres? “Acho que está claro que agem para tirar o Lula da disputa e temos o risco de esse Congresso, que topa qualquer parada, passar o semipresidencialismo ou parlamentarismo, mas prefiro acreditar que isso não vá acontecer”, analisa. E qual será o cenário então, professor? “Acho que o campo democrático, que falhou em defender a Dilma quando ela precisava ser defendida até por quem não concordava com o seu governo para impedir que esses que aí estão chegassem ao poder pelo golpe, precisa fazer uma frente única – não falarei ampla para não dar azar [em referência ao movimento que levava esse nome capitaneado por Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart em 1966]. E acho que vai ocorrer”, palpita, otimista como um garoto. n
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DESINVESTIR PARA CRESCER Pesquisa realizada pela EY aponta tendência estratégica a ser adotada por companhias globais para competir em ambiente de rápida evolução da tecnologia
Nos próximos dois anos, 87% das empresas planejam desinvestir negócios e reorganizar portfólios. Isso em um ambiente recorde de fusões e aquisições que atingiu, em janeiro, a máxima histórica dos últimos 18 anos – quando as transações globais somaram US$ 323 bilhões. A conclusão é do estudo recente da EY Desinvestimento Corporativo Global 2018. Nesta edição, o número de entrevistados que planejam adotar tal estratégia nos próximos dois anos duplicou em relação ao ano passado (de 43% para 87%), demonstrando que o decrescimento ascendeu na lista de prioridades das grandes corporações. “Mais do que nunca, os executivos estão olhando internamente para entender o que está impedindo suas organizações de serem mais competitivas. O avanço da tecnologia e mudanças regulatórias têm levado um número maior de grupos a considerar a venda de ativos como alternativa para se adequar às rápidas mudanças no perfil de consumidores e financiar crescimento”, afirma Fabio Schmitt, gerente sênior de transações corporativas da EY. A arrancada nas intenções e realizações de desinvestimentos se dá também por conta das recorrentes questões geopolíticas e macroeconômicas como o Brexit e a recente reforma tributária dos Estados Unidos, por exemplo. Toda essa pressão coloca os desinvestimentos como um fator-chave para o crescimento e para a transformação estratégica das companhias.
No Brasil a situação não é muito diferente. Aproximadamente 80% das empresas brasileiras entrevistadas esperam começar o processo de desinvestimento até 2020. Desse total, 60% preveem iniciar um desinvestimento ainda nos próximos 12 meses. De acordo com análise de especialistas da EY, em um mercado em constante mudança, as instituições precisam de um processo de revisão de portfólio que as preparem para agir a qualquer momento. Aquelas que conduzem uma revisão anual do seu portfólio têm o dobro de chances de exceder as metas de desempenho quando se trata de desinvestir na hora certa. “As empresas devem entender o que está mudando em seus setores. Se você não é capaz de contar essa história, como será capaz de decidir se vale a pena ou não manter seu investimento naquele negócio? Ao mesmo tempo, se você não consegue demonstrar o valor do seu negócio a possíveis compradores, está correndo o risco de perder muito capital. Todo esse cenário depende de dados. Especificamente, a habilidade de assimilar uma quantidade enorme de informações e criar um quadro detalhado do seu portfólio”, conta Paul Hammes, líder global de desinvestimentos da EY. Para mais informações e recortes regionais e setoriais do estudo “Desinvestimento Corporativo Global 2018” da EY, acesse DIVEST.EY.COM
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TRETA
APAGUEM O QUE ESCREVI Conseguir uma boa posição – e mantê-la – no trabalho depende cada vez mais do que se publica nas redes sociais POR PAULO VIEIRA
À
s vésperas da esperada quarta-feira de abril em que o STF rejeitou o habeas corpus preventivo do ex-presidente Lula e manteve a decisão do TRF-4 de encarcerá-lo, o promotor público Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, comunicou a seus seguidores no Twitter que iria acompanhar o julgamento do Supremo “em jejum, oração e torcendo pelo país”. Muito por conta do apelo à religiosidade, sua manifestação foi bastante criticada. “Procurador, promotor não deixa de ser cidadão. Me expressei em rede social pessoal”, treplicou Dallagnol. A tocante convicção do promotor na liberdade de expressão – como se sabe, Dallagnol é um homem de convicções – talvez pudesse ser aplicada ao mercado corporativo, setor em que cada vez mais as redes sociais são vasculhadas para efeitos de contratação, e às vezes de demissão, de pessoal. Uma pesquisa, divulgada pela plataforma digital americana CareerBuilder, revelou que 43% das empresas consultadas faziam esse controle. Dos gestores ouvidos, 51% disseram ter desistido de uma contratação com base no
que viam nas redes sociais dos candidatos. Para os recrutadores, fotografias provocativas e textos espinafrando empregos e empregadores pregressos eram razões mais do que suficientes para gongar o infeliz. No Brasil, a prática de examinar as redes sociais também é comum. Para Millie Haji, gerente de projetos do Grupo Cia. de Talentos, empresa especializada em seleção e identificação de profissionais, é bom evitar certas posturas as redes. Reclamar o tempo todo e manifestar opiniões políticas extremadas não ajuda. Usando um exemplo ao mesmo tempo literal e metafórico, Millie diz que “não há problema em torcer para um time, desde que você se coloque também no lugar do torcedor do time adversário”. “É preciso saber mostrar empatia”, completa. Bom senso, que, ao contrário da famosa formulação cartesiana, não parece ser a coisa no mundo melhor distribuída, é fundamental na hora de sair disparando loucamente no Facebook, Instagram e Twitter. “Os gestores de RH e recrutadores costumam dizer que mesmo com diversas facetas, a pessoa é uma só”, diz Milton Beck, diretor regional da América Latina do LinkedIn, mais importante mídia social de interesses
profissionais do mundo. Por isso ele sugere manter o “bom comportamento” nas redes. E para aqueles com aspirações mais elevadas, é interessante seguir a velha máxima da mulher de César, a quem não bastava ser honesta, era preciso também parecer honesta. “Quanto mais alto na hierarquia, mais seu comportamento pode se espalhar pela organização”, diz Beck. E não será bom para ela, a organização, se o líder, para usar um exemplo do executivo, for “tolerante com o preconceito”. Beck, contudo, faz a ressalva de que “a maior parte das empresas tem tolerância zero com pessoas que não prezam a diversidade”. Uma maneira de prevenir danos seria pouco publicar ou, quem sabe, seguindo os conselhos que o pai dá ao filho no célebre conto “Teoria do Medalhão”, de Machado de Assis, jamais expressar algo que lembre uma opinião. Mas isso levantaria dúvidas sobre a personalidade do candidato – e as habilidades socioemocionais são cada vez mais importantes no ambiente corporativo. “As redes sociais são um excelente recurso para construir, modular e divulgar a própria identidade, e, do lado dos recrutadores, um ótimo lu-
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“O candidato pode ganhar pontos se mostrar que tem networking e que, com suas redes, pode vir a ser bom influenciador”
gar para entender o modus operandi da pessoa”, diz Ju De Mari, da Prosa Coaching, consultoria especializada em ajudar mulheres que buscam, mais do que recolocação, “uma nova maneira de se relacionar com o trabalho”. As redes podem ser estratégicas também por outro motivo. “O candidato pode ganhar pontos se mostrar que tem networking e que, com suas redes, pode vir a ser bom influenciador para determinados negócios da empresa”, diz Millie, da Cia. de Talentos.
ÓDIO E PAIXÃO
Num ano de eleição presidencial, com candidatos a despertar ódios e paixões, os próximos meses podem ser pródigos em pancadaria virtual – e em queimação de filme dos autores de postagens. No jornalismo, setor em que a confusão entre pessoa física e jurídica atinge o paroxismo, o exemplo da Folha de S.Paulo é eloquente. Em outubro, o diário circulou um comunicado interno entre seus jornalistas para normatizar o tema. Embora diga que “encoraja seus profissionais a manter contas em redes sociais” inclusive para “expandir o alcance do material publicado”, a empresa
alerta no documento que “revelar preferências partidárias e futebolísticas ou adotar um lado em controvérsias tende a reduzir a credibilidade do jornalista e a da Folha, que tem o apartidarismo como princípio editorial”. Em entrevista a PODER, o editor-executivo do jornal, Sérgio Dávila, diz que “nada é proibido, mas os jornalistas são lembrados que suas publicações podem ter consequências em suas atividades”. Para o repórter Diego Bargas, a consequência de mostrar simpatia em suas redes pelo PT e suas estrelas foi nefasta. Ele foi demitido, no fim de 2017, após publicar no jornal uma entrevista com o humorista Danilo Gentili, que então estreava o filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola. Contrariado com as críticas ao longa (que, aliás não foram feitas por Bargas) e tendo visto nas preferências políticas do entrevistador razão para duvidar de sua isenção, Gentili sugeriu que seus seguidores “pesquisassem” o repórter. A chama de “cyberbullying” o que se passou em seguida. Para Dávila, esse método não é exclusivo das Nêmesis do PT. “Grupos mais extremados de esquerda e de direita se irmanam no bullying contra jornalistas que publicam algo que por algum motivo os desagradam”. n
CARREIRA
CEO DE SI MESMA
Uma das poucas negras a presidir uma empresa no Brasil, Rachel Maia viu seu cargo ser extinto, mas só chorou por um dia, antes de aproveitar a entressafra para cuidar da família e planejar seus próximos passos por chico felitti
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o primeiro dia em que ficou em casa, depois que seu cargo como CEO da joalheria Pandora foi sido extinto, e o poder centralizado nas mãos de um executivo mexicano, Rachel Maia chorou embaixo do chuveiro. “Não me envergonho de falar”, conta ela, que passou nove anos na empresa. Antes de sucumbir às emoções, a executiva trabalhou duro. “Estava completamente perdida no meu primeiro dia sem trabalho. Acordei e levei minha filha para o colégio, como sempre faço. Pegar o carro e voltar para casa foi uma coisa estranha.” Decidiu, então, mudar de lugar toda a mobília da sala de estar. Algumas vezes. “Coitada da moça que trabalha em casa. Eu me demitiria”, brinca, na sala redecorada com rendas e imagens de arcanjos, em um condomínio de prédios de luxo na zona sul de São Paulo. Porém, em vez de pedir as contas, a funcionária disse um “já basta”. A CEO reconhece que talvez tenha se excedido. E se pôs a pensar. “Passei metade do meu dia cuidando das plantas. Foi bom e ao mesmo tempo reflexivo. Eu não sei se sou forte, mas sou humana”, diz, balançando as mãos, ornamentadas por anéis prateados e com um Apple Watch no pulso. Rachel Maia é uma mulher alta e elegante, com uma presença que pode ser notada em qualquer lugar. Dias antes da conversa com PODER ela havia ido ao Shopping Iguatemi JK. Não para fazer compras. Havia participado da formatura da primeira turma do #Capacita-me, seu projeto social. O curso ofereceu 160 horas de aulas com apoio do Senac a 40 jovens que tinham deficiência de formação e dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. “Eu me propus a fazer um pequeno grupo para medir os erros e os acertos.” Parece ter havido mais acertos. Tantos que os 40 formandos receberam 45 propostas de emprego, a maioria delas em cargos de varejo, como vendedores, e a próxima turma terá o apoio do grupo Mulheres do Brasil, de Luiza Helena Trajano, além de parcerias com vários CEOs amigos.
seu projeto. “A ideia é ter educação ‘plus’ empregabilidade, ‘you know’.” A pronúncia que adota do seu nome soa como Reicheól, como no inglês, para facilitar o contato com estrangeiros, uma constante na sua vida. Outra constante atual é procurar maneiras de converter para a prática a vontade de diversificação do quadro de executivos das grandes empresas. “O mercado está tentando se conscientizar. A diversidade de gênero e de raça não fazia parte.” Por isso, ultimamente uma pergunta (sem resposta) vem martelando na sua cabeça: “Como aumentar a representatividade de raça em um escalão em que ela ainda é rara?”. PODER aproveita para questionar se seu exemplo, em palestras como as que deu recentemente na Cargill e na Souza Cruz, não seria útil. “Ajuda, ajuda. Mas falta. Não basta.” Rachel conta que pretos e pardos, que compõem 54% da população do pais segundo o último senso, ocupam 11% dos cargos corporativos. “Em quanto tempo pretendemos fazer que essa conta chegue a um percentual mínimo razoável? Vinte, 30 anos?” Ela mesma não sabe dizer. Mas
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BABADO E CONFUSÃO
Ela não escolheu à toa o shopping em que estão grifes como Prada e Gucci para a realização do curso. “Eu queria chocar. Mostrar para essas pessoas, que nunca tiveram a oportunidade de estar naquele lugar, o que é o mundo de luxo. Experimentar aspectos das duas vidas e ter o poder de escolha. O negócio é babado e confusão.” Rachel intercala expressões populares com outras em inglês, um cacoete de nine a cada ten CEOs, quando fala do PODER JOYCE PASCOWITCH 31
quer continuar trabalhando. O caminho da consultoria para grandes corporações é uma possibilidade desse futuro trabalho? “Não, vige Maria, eu quero meu crachá de volta”, diz ela, que estava “há bons anos” sem férias. O afinco à carreira é só um dos fatores que a levou a vencer as estatísticas e se tornar uma das poucas CEOs negras do mundo. “Eu estive no lugar certo na hora certa e com a resposta certa.” Conta de quando foi entrevistada pelo CFO global da multinacional onde trabalhou. O executivo, em vez de falar de negócios, perguntou: “O que está acontecendo no mundo?”. Nervosa, ela respondeu: “My name is Rachel Maia”, mas logo emendou seu conhecimento de contemporâneos, citando o escândalo de corrupção em uma telecom e outros assuntos da ordem
sua vida. Um mês depois de se desligar da empresa, Rachel já se encontrava ocupada em ligações que recebia, tanto de headhunters quanto de CEOs. Antes de PODER chegar a sua casa, estava ao telefone com um possível empregador, que mantém em sigilo. “Para contratar um CEO, a média é de seis a nove meses. Eu não vou conseguir esperar tanto tempo”, ri. Até porque Rachel já espera por outro acontecimento: o filho que foi autorizada pela Justiça a adotar. “Ele vai chegar. Não sei quando, mas o quartinho está pronto”, diz ela, que não vê problema em aumentar a família e conseguir um novo trabalho. Mesmo porque seu plano de carreira não exige que ela seja CEO na próxima empreitada. “Tem algumas
“Para contratar um CEO, a média é de seis a nove meses. Eu não vou conseguir esperar tanto tempo” do dia. Foi contratada. Depois ascendeu até o posto mais alto da companhia. Durante a sua gestão, o número de lojas da Pandora passou de dois para 98. Fato que, ela acredita, tem a ver com seu método de trabalho. “Eu levo tudo para a primeira pessoa do singular. Aquilo é meu.” A história da executiva em breve vai para o papel. Ela vai escrever uma coluna mensal para a revista Forbes e trabalha em um livro que mistura memórias profissionais com passagens autobiográficas. “A trajetória profissional está contida dentro da minha vida pessoal.” Nas páginas falará, por exemplo, sobre as escolhas entre firma e família. “Houve meses em que passei 50% do tempo fora. Nós, mulheres, aprendemos a reavaliar esse tema com mais clareza: o tempo é recurso escasso e finito.”
UMA GESTAÇÃO
O tempo nem chegou a ser um recurso abundante na
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empresas que eu sou apaixonada, e há cargos estratégicos que não são de CEO.” Na ocasião, ela aponta um estudo que mostra que o número de mulheres no posto de CEO no Brasil saltou de 11% para 16% nos dez últimos anos. “A gente está aprendendo a trabalhar em conjunto, a se fortalecer juntas”. E dá como exemplos as reuniões do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “Conselhão”, que congrega 96 expoentes do mercado, da cultura e da política que se reúnem eventualmente para aconselhar o presidente. Além de Rachel Maia, há um punhado de mulheres, como Claudia Sender (TAM) e Luiza Trajano (Magazine Luiza). “Somos poucas, mas não somos inibidas. Somos firmes e falamos mesmo.” Seu estilo de embate é mais soft do que power. “Eu não sou ativista, sou pacifista. Digo: ‘Senta aqui, vamos conversar? Sabe por que eu consigo te explicar isso? Porque eu sei sobre isso’. E sabe que eles me ouvem?” n
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Lifestyle e conforto Com a mesma elegância e finesse de sua gama de produtos, a Trousseau acredita que todos os dias merecem ser desfrutados com máximo conforto. Estar em casa é sempre um refúgio. Seja para receber bem os amigos em um fim de semana na praia ou no campo, seja simplesmente relaxando no sofá. Afinal, momentos preciosos pedem extremo bem-estar. Esse é o norte da Trousseau. Por essa direção a tradicional grife familiar vem moldando, há mais de duas décadas, a forma com que entendemos o espaço e assim tornou-se sinônimo de excelência em artigos de cama, mesa e banho. Para mais, pouco a pouco a marca derrubou as paredes dos cômodos, ganhou novos ambientes e passou a fazer parte do dia a dia dos clientes em um conceito 100% lifestyle. Hoje é possível decorar, vestir e até mesmo pedalar com Trousseau. “É um orgulho ver a Trousseau inserida no lifestyle dos nossos clientes, cada qual com seu jeito particular de aproveitar o melhor da vida. É uma honra e um privilégio perceber como ajudamos a construir um dia a dia mais gostoso para tantas pessoas que admiramos”, diz Adriana Trussardi, fundadora da marca ao lado do marido, Romeu Trussardi Neto. A linha everywear colabora com esse cotidiano prazeroso. Roupas leves e confortáveis foram desenvolvidas para homens e mulheres
de Trousseau, como t-shirts, calças, casacos, vestidos, pijamas e uma série de outras peças com estilo para serem usadas tanto de dia quanto de noite. Em casa ou na rua. Sempre com o mesmo conceito de conforto e design que a marca imprime em todas as suas linhas.
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A Trousseau oferece além da linha everywear (roupas), petit (para crianças), essências, gifts, uma linha dedicada especialmente para atender o mercado de hotelaria e os consagrados produtos de cama, mesa e banho. TROUSSEAU.COM.BR
RESPIRO
CLÁSSICOS EM AÇÃO
O diretor Luchino Visconti (1906-1976) está no panteão do cinema italiano. Fez um dos filmessíntese do neorrealismo, Rocco e Seus Irmãos, e adaptou clássicos intocáveis como O Leopardo, O Estrangeiro e Morte em Veneza, de Lampedusa, Camus e Thomas Mann, respectivamente. Era nas obras dessas vacas sagradas da arte ocidental que Visconti gostava de imprimir um dos olhares mais sensíveis do cinema de todos os tempos.
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Luchino Visconti não se assustava com as obras máximas da literatura – ao contrário, transformavaas no melhor cinema possível
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LUZ, CÂMERA, ESTRATÉGIA E... AÇÃO Referência no meio cinematográfico, o badalado Festival de Cinema de Sundance foi buscar a expertise de consultoria estratégica da PwC para recriar seu modelo de negócios e continuar cumprindo sua missão Criado há 40 anos pelo ator e diretor Robert Redford, o Festival de Sundance tornou-se referência no cinema independente e aclamado por dar oportunidade ao trabalho de novos artistas. Nele debutaram, entre outros longas, os premiados Gosto de Sangue, dos irmãos Coen, e Boyhood, do diretor Richard Linklater. Mais do que vitrine, o evento tem como missão expor novas perspectivas e incentivar a criatividade extrapolando limites, causando impacto e provocando reflexões que contribuam para a melhora da sociedade. As transformações ocorridas nos últimos anos em variados setores e esferas tiveram reflexos na cena. Aliado a isso, o crescimento do ecossistema indie, tanto em quantidade quanto em diversidade de trabalhos, fez com que os líderes do Sundance Institute percebessem a necessidade de reformulação do negócio e fossem buscar especialistas para reavaliar a estratégia de seu principal ativo. Trabalhando conjuntamente, uma equipe de profissionais da Strategy&,
consultoria estratégica da PwC, elaborou um modelo para a tomada de decisões de forma a garantir a aderência à estratégia de negócio. O processo envolveu a realização de benchmarking com eventos similares, avaliando preços, atendimento e patrocínio, e apontando oportunidades de melhorias; análise do ecossistema e o desenho do futuro cenário; identificação de aspectos estratégicos a serem priorizados para garantir a sustentabilidade futura; realização de pesquisas com os vários públicos; e mensuração e análise de impacto, avaliando o conteúdo, o alcance e a repercussão causada pelos filmes após a exibição no festival que acontece todos os anos, no mês de janeiro, em Park City, Utah. Esse trabalho resultou na elaboração de um plano estratégico com o objetivo de fazer com que o Sundance Institute concretize a missão de dar voz aos artistas e fazer a diferença social. O relatório também permitiu compreender com profundidade as tendências emergentes no setor cinematográfico e, a partir
disso, definir as ações necessárias, identificando oportunidades e descartando iniciativas não alinhadas à missão de Sundance. Os pilares que passaram a direcionar as ações incluem a busca por maior diversidade entre os artistas participantes, com espaço a profissionais de regiões sem representatividade no cenário; adoção de novos critérios na curadoria da programação com foco em temas globais, novas mídias e novos formatos; e ampliação da audiência por meio de transmissões ao vivo das sessões e desenvolvimento de uma plataforma com conteúdo adicional. Assim, o Festival de Sundance está absolutamente preparado para tirar proveito de inovações e experiências que possibilitarão adotar novas tecnologias, acompanhar as transformações do mercado e se adequar às preferências de seu público nas próximas edições. Tudo isso para desempenhar o papel de valorizar e promover filmes e artistas independentes e incentivar a transformação do planeta.
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ENSAIO
CORAÇÃO de PAPEL
Ricardo Pereira não se lembra da última vez que escolheu o próprio visual. Há 15 anos no Brasil, o lisboeta que adotou o Rio vive na pele a constante transformação de seus personagens. Por eles, deixou de lado o sotaque lusitano e agora ensaia novos rumos para a carreira por dado abreu fotos maurício nahas styling cuca ellias (odmgt)
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astou lampejar o primeiro flash no ensaio de PODER para perceber qual foi a porta de entrada do ator Ricardo Pereira no meio artístico. Fica evidente. As participações em 23 novelas, quase 30 filmes e dezenas de peças de teatro só aconteceram depois de outra bem-sucedida e talentosa carreira. “Nunca sonhei em ser ator. Eu comecei a trabalhar bem garoto como modelo, aos 14 anos. Morei em Milão, Paris, Madri, Barcelona, Munique, Nova York. Foi um grande barato poder viajar, experimentar, conhecer outras culturas e fazer amigos no mundo todo”, lembra o português. “Mas em um dado momento achei que para melhorar na publicidade e na moda eu precisava de mais acting e decidi estudar teatro.” Desde então as cortinas se abriram e o gajo não parou mais de atuar. No Brasil já são 15 anos, três filhos cariocas (Vicente, Francisca e Julieta) e uma respeitável trajetória na TV Globo, onde está em cena como Virgílio em Deus Salve o Rei – o vilão é um dos principais destaques do folhetim ao lado das personagens de Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa. Pereira conta que para construir o papel do comerciante de tecidos que ascende à nobreza mergulhou fundo nas séries medievais como Vikings, Spartacus e Game of Thrones, o que também contribuiu para o seu visual.
Colete e gravata Hugo Boss, camisa Ricardo Almeida, óculos acervo pessoal
Terno Hugo Boss, camisa Merino, gravata Ricardo Almeida, relรณgio Baume & Mercier
“O Virgílio se destaca do elenco pela estética. Tem sensibilidade, gosto apurado. O próprio corte de cabelo, moicano, é diferente. Eu queria fugir do estilo mais comum da novela, com as tranças trabalhadas e as barbas longas.” O aspecto atual é o terceiro de época que Ricardo Pereira tem nos últimos anos. Em Novo Mundo (2017), deixou barba e cabelos compridos e, em Liberdade, Liberdade (2016), como Coronel Tolentino, usou bigode e costeletas, “visual que fez um tremendo sucesso”. “Nem lembro a última vez que pude escolher o meu próprio layout”, brinca. “É um bom sinal, significa que eu tenho emendado vários trabalhos”, analisa, ressaltando que também recusa outros tantos, ou por falta de tempo ou por considerar não ser o momento ideal para o projeto. “Adoro barba, mas gosto do ritual de barbear. Depois de uma sauna então... Tenho saudade (risos). O cabelo eu prefiro raspado. Acho bonito e além de tudo é prático porque faço muito esporte.” Mesmo sem poder decidir a aparência com que anda pelas ruas do Leblon, ele confessa que sempre dá um jeito de brincar com o look nas horas de folga. Aposta em chapéus, bonés, faixas, óculos. “Se estou com o cabelo grande eu posso descabelar, prender, colocar de lado, fazer coque, rabo de cavalo. Gosto dessa diversidade e desses vários Ricardos que a minha carreira proporciona.” Até o fim do ano serão mais dois filmes e dois novos Ricardos. Acaba de entrar em cartaz nos cinemas brasileiros Alguém Como Eu, comédia romântica em que contracena com Paolla Oliveira. Um segundo longa, Golpe de Sol, do premiado diretor português Vicente Alves do Ó, foi rodado e tem lançamento previsto para o segundo semestre. Depois, férias, ainda que sejam breves. “Trabalho em vários mercados e, obviamente, quero trabalhar mais nos EUA. Acho que quando a gente pretende consolidar uma carreira artística, como é meu caso, precisa passar um tempo lá.” A mudança de foco, no entanto, não significa que o Rio de Janeiro ficará para trás. Ele explica que “é só um break entre um projeto e outro”. Afinal, logo agora o português deixou para trás o sotaque lusitano e aumentou consideravelmente a possibilidade de papéis no Brasil. “Minha base é o Rio. Eu me sinto brasileiro. O Brasil me ensinou que sempre existe um lado bom nas coisas, que há sempre uma vida maior a ser vivida.” No caso de Ricardo Pereira, além de maior essa vida trará também um novo visual. n
“Gosto da diversidade de visual e desses vários Ricardos que a minha carreira proporciona”
Costume, camisa e gravata Ricardo Almeida, relógio IWC
Terno e gravata Hugo Boss, camisa Ricardo Almeida, Relógio IWC, óculos acervo pessoal Beleza: Paulo Fonte (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistentes de fotografia: Debora Freitas e Charles Willy
CANTO DE PODER por aline vessoni fotos beatriz chicca
EM NOME DOS PAIS Aos 5 anos de idade, Massimo Ferrari desembarcava no Brasil após cruzar o Atlântico com a família, deixando pra trás Piemonte, sua terra natal. Ele já estava alfabetizado, falava e escrevia italiano, mas teve de voltar algumas casas ao entrar na escola brasileira e recomeçar o processo de alfabetização. Desta vez, em português. Mas nem diante do desafio de aprender uma nova língua ele se sentiu intimidado. Desde 2009 à frente da rotisseria Felice e Maria, na Vila Olímpia, em São Paulo, Massimo busca sempre
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A rotisseria conta com um clube gourmet no subsolo. No amplo salão com uma cozinha bem equipada, a equipe do Felice e Maria organiza eventos privados para empresas. De oficinas culinárias a brunchs e jantares, a palavra de ordem é sempre respeitar o gosto do cliente
Outros detalhes do “santuário” de Massimo Ferrari, que procura recriar ambientação que homenageia vilas italianas. Da caixa registradora ao boneco Pinóquio, a casa por onde circula o restaurateur tem um que cenográfico, com suas muitas arcadas, num trabalho assinado pelo arquiteto e cenógrafo Renato Scripilliti
melhorar o que já está bom. Ele é do tipo que prefere mexer em time mesmo se ele estiver ganhando. É por isso, aliás, que seu canto de trabalho não é exatamente um canto, mas muitos cantos. Para tornar ótimo o que é bom, ele se movimenta por toda a rotisseria, seja para receber os clientes no salão, supervisionar as finanças no escritório e dar o pulso na cozinha. Massimo prova quase tudo o que é feito lá e dá a sua bênção às receitas que de lá saem. Na rotisseria ele ainda mantém uma bonita biblioteca, lugar em que
aproveita para estudar gastronomia e se municiar de mais conhecimento para suas novas criações. Não que precisasse. Massimo cresceu nos restaurantes dos pais em São Paulo e foi com eles que aprendeu muito do que sabe de sua arte. Da mãe, Maria, herdou os conhecimentos financeiros; do pai, Felice, o rigor do atendimento. Não surpreende, assim, que Felice e Maria seja o nome de sua rotisseria. “Eles eram de uma bondade única. Tive sorte de ter dois grandes exemplos. Eu só tenho futuro porque tive um passado”, diz. n
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ESPAÇO
O CRIADOR DE LUGARES
Fernando Tchalian deixou o varejo para lançar, com a Reud, um novo conceito no mercado imobiliário, no qual as construções levam em conta a escala humana, o convívio dos moradores do bairro e a memória da cidade por dado abreu fotos bruna guerra
uais são as três coisas que você mais gosta de fazer nas horas de lazer? Fernando Tchalian era um garotinho de 6 anos, filho de empresários do ramo de calçados, quando revelou em letras cursivas suas preferências no diário escolar. “Gosto muito de hotéis, de ir a leilões de arte com a minha tia e andar pelas ruas da cidade.” A resposta revelaria mais do que as predileções da criança. Era o vaticínio de sua carreira profissional. Fernando Tchalian é dono e CEO da Reud, que chama de desenvolvedora imobiliária – “não uma incorporadora”, como ele gosta de salientar – dedicada a aperfeiçoar a vida urbana sob a máxima “espaço com conteúdo”. “Criamos lugares, esse é o nosso objetivo. Mas lugares só existem quando você tem escala humana, quando as pessoas se apropriam dele”, conta o empresário, apontando para um dos pedestres sentados nos bancos de madeira na entrada de
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“Estou tão encantado que brinco dizendo que vou montar um loft pra mim na casa das máquinas”
Em fase de acabamento, o teatro do Santos Augusta terá configuração flexível e capacidade para 230 pessoas
mais novo empreendimento, o edifício Santos Augusta, localizado a uma quadra da avenida Paulista, na esquina das ruas que dão nome à construção, em São Paulo. “Cenas como essa que imaginamos quando pensamos no projeto, com o fluxo constante de gente. Porque é a ocupação que mantém o espaço vivo e dá significado ao local.” seu Na calçada de seu edifício nos Jardins o empresário bate-papo com PODER. O projeto, de Isay Weinfeld, um dos arquitetos brasileiros mais renomados do mundo, combina áreas comerciais, com uma torre de lajes coorporativas de 450 a 582 metros quadrados, escritórios menores, espaço público arborizado, teatro, restaurante, bar e café. Conceito mixed use herdado do vizinho famoso, o Conjunto Nacional, marco da arquitetura paulistana projetado, na década de 1950, por David Libeskind e um dos primeiros edifícios modernos multifuncionais implantados na cidade. “[O Conjunto Nacional] É uma obra-prima, um complexo que ancora toda a região, muito bem re-
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solvido. Estar de frente para ele foi um grande desafio para nós.” Por esse motivo, o empresário cercou-se de renomadas referências do mercado antes de dar vida ao projeto Santos Augusta. Além da arquitetura premiada de Isay Weinfeld, foi atrás dos restaurateurs Fabrizio e Thiago Tatini, herdeiros do italiano Tatini, inaugurado em 1954, para cuidar da parte de alimentos e bebidas – Kennedy Nascimento, mixologista campeão mundial de coquetelaria em Londres, foi quem desenvolveu a carta de drinques. O mesmo cuidado e preocupação foi adotado no teatro. A casa de espetáculos com capacidade para 230 pessoas, palco de 450 metros quadrados e boca de cena de 11 metros, ficou sob a responsabilidade de Emilio Kalil, ex-diretor do Theatro Municipal de São Paulo e do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No lobby de entrada, outro grupo de notáveis: Zanine Caldas, Rino Levi e Carlo Hauner, ícones do design brasileiro, assinam o mobiliário vintage original dos anos 1950 e 1960. “As pessoas vão tomar uma taça de vinho sentadas em obras de arte, em
peças únicas. Acho isso sensacional. Teremos também um carrinho de chá dos anos 1950 que vamos usar para servir doces na hora do cafezinho”, alegra-se Tchalian. “Eu amo o que faço e acabei me apaixonando pela arquitetura. Acho, inclusive, que sou um arquiteto frustrado. Estou tão encantado com o resultado final que eu brinco dizendo que vou montar um loft na casa das máquinas para não sair nunca mais daqui.” Enquanto passeia com a reportagem de PODER pelos 19 andares do
Santos Augusta, Tchalian explica que o varejo foi sua principal escola na empreitada arquitetônica. Antes de entrar no ramo de imóveis, ele era dono da marca de sapatos Capodarte, criada em 1991 e vendida para o grupo Paquetá em 2007. Nela era também encarregado de desenhar alguns dos calçados, sem jamais ter estudado moda, design ou desenho industrial. Hoje segue no mercado de sapatos como dono da Prego, com 24 lojas espalhadas pelo Brasil. “Além da questão do belo, que permeia tanto a moda quanto a arquitetura, no varejo é preciso prever o que as pessoas vão querer com seis meses de antecedência e entender muito bem quem é o seu público. Então, antes de decidirmos o que faríamos nessa esquina, realizamos uma pesquisa com mais de 200 pessoas para conhecer quem vive e trabalha na região.” Após quatro anos de obras e alguns meses da abertura, as primeiras reações da vizinhança têm sido positivas, segundo ele. “Outro dia um senhor veio conversar comigo, perguntou se eu era o dono e agradeceu pelo que fizemos. ‘Moro aqui há 40 anos e fiquei preocupado quando vi a obra, mas olha só que prédio lindo que vocês construíram, foi um presente para o bairro’, ele disse”, lembra Tchalian. “Acho muito legal ter esse retorno, normalmente as incorporadoras imobiliárias são tidas como gângsteres.” A aprovação da Reud origina-se em uma prática incomum somada à compreensão bairrista de seus proprietários – Tchalian e seus irmãos. Diferentemente do que ocorre em outras empresas do setor, mais de 80% dos negócios criados pela desenvolvedora imobiliária, entre eles o Santos Augusta, permanece em posse da Reud, que aposta quase sempre em investimentos de longo prazo e tem a política de não se preocupar com lucro imediato. Pro-
va disso foi o Mirador Oscar Freire, inaugurado em 2012. O prédio envidraçado de quatro andares, projetado em parceria com o escritório Triptyque, permaneceu por mais de um ano com espaços vazios. “Recusei uma rede de fast-food na operação porque achei que não tinha nada a ver com o espaço.” Foi o Grupo Chez, dono de restaurantes e baladas, que tempos depois Tchalian escolheu para tocar o estabelecimento do local. “Hoje a rua Oscar Freire vive um movimento de restaurantes menores, com cafés, sorveterias,
livrarias, padarias, estabelecimentos com mesas nas calçadas, como acontece em Buenos Aires e Nova York, onde as pessoas gostam de andar nas ruas.” Fernando Tchalian fala sobre a rua mais chic da cidade com o conhecimento de quem tem novos planos para a praça. Dono de mais de 50 imóveis na região, revela um projeto ainda maior do que o Santos Augusta. “Estamos bem encaminhados. Ainda não tenho muito o que dizer, mas garanto que o empreendimento vai perpetuar a região e respeitar quem está em volta.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 49
MENTE
QUEBRANDO Precursora no debate das questões raciais, Virgínia Bicudo foi a primeira profissional não médica do Brasil a ser reconhecida como psicanalista por dado abreu
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FOTO REPRODUÇÃO
BARREIRAS Somente a lamentável incapacidade do brasileiro em aceitar todas as suas formas de diversidade para explicar a razão pela qual a trajetória de Virgínia Leone Bicudo (1910-2003) não ter o devido reconhecimento. Filha de uma imigrante italiana e de um brasileiro neto de escrava alforriada, ela foi a primeira profissional não médica do país a ser acolhida como psicanalista e uma das primeiras sociólogas a estudar o racismo no Brasil – à época inaugurou o debate acadêmico com a tese “Estudo de atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo”. Foi também uma das primeiras professoras universitárias negras, lecionando na Universidade de São Paulo, na Santa Casa e na Escola Livre de Sociologia e Política. Nos anos 1990, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Virgínia contou que se dedicou ao objeto de sua pesquisa motivada pelo preconceito e o consequente sofrimento causado pela discriminação de raça. “Não foi por acaso que procurei psicanálise e sociologia. Eu fui buscar defesas científicas para o íntimo, o psíquico, para conciliar a pessoa de dentro com a de fora. Fui procurar na sociologia a explicação para questões de status social. E, na psicanálise, proteção para a expectativa de rejeição. Essa é a história.” Passado quase um século do início de sua produção intelectual, a discussão das relações raciais permanece atual no Brasil. Prova de que o país ainda tem muito o que aprender sobre Virgínia Bicudo.
VIAGEM
O SONHO DE MARLON BRANDO
Em 1962, durante as filmagens de O Grande Motim, o astro de Hollywood se encantou por Tetiaroa, na Polinésia Francesa. Brando desembolsou US$ 250 mil, arrendou o pequeno pedaço do paraíso por 90 anos e transformou o local no primeiro resort pós-carbono do mundo. Como se não bastasse, ainda conheceu na ilha o grande amor da vida texto e fotos pico garcez
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bordo de um monomotor é possível avistar a ilha privada de Tetiaroa, na Polinésia Francesa – um atol composto por 12 ilhas ao redor de uma lagoa cintilante a 48 km a nordeste do Taiti. Bem-vindos ao The Brando, o paraíso imaginado por Marlon Brando e amparado pela natureza. São 35 vilas em praias de areia branca, frequentadas por tartarugas marinhas, arraias e famosos como Leonardo DiCaprio e Barack Obama – o ex-presidente dos EUA passou quatro semanas no local escrevendo seu livro após deixar a Casa Branca. Brando conheceu a região bem antes. O ator esteve pela primeira vez em Tetiaroa durante as filmagens de Mutiny on the Bounty (O Grande Motim, em português), de 1962, e ficou encantado com a beleza rara da ilha. Entusiasmado pelo modo de vida polinésio e pela atriz local Tarita Teriipaia, que viria
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a ser o amor de sua vida, encontrou uma maneira de possuir um pedaço do éden três anos depois ao desembolsar US$ 250 mil para usar o atol durante 90 anos. O Godfather estava convencido de que o arquipélago poderia trazer o bem para o mundo. Inicialmente, transformou Tetiaroa em um centro de pesquisa e educação. Em 1999, pediu então a Richard Bailey, um residente de longa data na Polinésia que compartilhava a paixão de Brando pelo meio ambiente e que havia criado alguns dos melhores resorts do planeta, a ajudá-lo a conceber um sonho. Juntos, eles perseguiram a ideia de projetar o primeiro e mais importante resort pós-carbono do mundo – uma ilha onde tecnologias inovadoras permitiriam um ambiente de luxo autossustentável para hóspedes, residentes e alta pesquisa científica. Assim nasceu The Brando, o legado dessa fantasia. n
FOTO ISTOCKPHOTO.COM
AMOR DE CINEMA
Nascida em Bora Bora, Tarita Teriipaia atuou com Marlon Brando em O Grande Motim (1962). O casal teve dois filhos, Simon Teihotu e Tarita Cheyenne, e se divorciou em 1972. Apรณs a morte de Brando, em 2004, Tarita nunca mais pisou em Tetiaroa e publicou suas memรณrias, intituladas Marlon, My Love, My Suffering.
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GREEN ENERGY
O resort utiliza uma série de tecnologias inovadoras para atingir a meta de neutralidade de carbono, entre elas o sistema de ar condicionado com água do mar que aproveita o frio das profundezas oceânicas para fornecer resfriamento altamente eficiente e de baixo consumo de energia para todas as vilas.
HARMONIA
RELAX Consciente da ne intocado, o Va cessidade de preservar se u habitat puro rua Te Ora Po lyn e tos holísticos inspirados em esian Spa oferece tratamen técn E o cenário do espaço é deslu icas polinésias ancestrais. mbrante.
A principal meta de Brando era proteger e preservar Tetiaroa para sempre em seu estado natural. Por isso, todas as vilas foram concebidas sem obstruções de praia, para se misturarem harmoniosamente às árvores, e 100% do material utilizado na construção é de origem local ou certificado.
FOTOS ISTOCKPHOTO.COM
ESTRELAS MICHELIN
A gastronomia premiada do chef Guy Martin, do restaurante duas estrelas no Guia Michelin Le Grand Véfour, em Paris, pode ser saboreada nos dois restaurantes do resort. Martin funde a clássica cozinha francesa com pratos polinésios usando alimentos produzidos organicamente na ilha. Destaca-se também a impressionante adega do The Brando. COMO CHEGAR O trajeto de tirar o fôlego começa na sala vip do aeroporto internacional Fa’a’a, em Papeete, no Taiti, onde os hóspedes do The Brando são recebidos com quitutes e cocktails. De lá, um voo de 20 minutos leva à pista de pouso particular do resort cinco-estrelas – somente de avião se chega ao éden.
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PODER VIA JA POR ADRIANA NAZARIAN
LUGAR AO SOL
Boa-nova para quem não vive sem alguns dias de sombra e água fresca no verão europeu. A renomada rede Six Senses acaba de abrir uma unidade ao norte de Bodrum, na Turquia. Batizado de Kaplankaya, o destino reserva boas surpresas para os viajantes exigentes: são três praias privadas, marina e heliponto só para começar. Na lista de atividades, visitas ao mercado local, aula de culinária, esportes aquáticos, trilhas e pedaladas. Ainda tem jardim orgânico, três restaurantes e piscina à beira-mar. Difícil mesmo é deixar o spa, que segue os ensinamentos de um time de peso – nutricionistas e fisiologistas incluídos – para oferecer tratamentos como shiatsu na água, piscina de hidroterapia e hammam, o famoso banho turco. SIXSENSES.COM
TEMPO ZEN
Se a ideia é se desconectar completamente no próximo verão do Hemisfério Norte, a dica é seguir para Mallorca. É lá que fica o Cal Reiet, espécie de hotel e retiro holístico adorado pelos europeus. Cercada por figueiras e oliveiras, a propriedade, de 1881, tem 15 quartos e uma série de tratamentos e atividades pensados para cuidar do corpo e da alma. Vale aderir a um dos retreats da agenda ou montar sua própria programação – a lista vai de meditação até massagem craniosacral, passando por aula de culinária vegana. CALREIET.COM
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DE DIEZ
Não há como passar por Buenos Aires sem uma steakhouse, então vale anotar o nome da vez: Mecha. Formado por caixotes de ferro e vidro, o restaurante serve delícias como empanadas de cordeiro empanado, T-bone steak, milho doce e batatas rosti feitas em uma cozinha aberta. A localização também soma pontos: fica em Villa Devoto, bairro que vem sendo considerado um dos novos centros gastronômicos da cidade argentina, e ao lado de outros restaurantes favoritos na região, Alicia de Luca e Casa Lucca. MECHARESTAURANT.COM.AR
CARLA PALERMO
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DIRETORA DA AGÊNCIA NOVA SAFARI
“Sou uma pessoa do verão, adoro o astral da estação. Ano passado, minha escolha foi a Croácia. Embarquei em uma viagem num iate com um seleto grupo de amigos. Saímos de Split cheios de expectativas para o que veríamos. E, por mais que tenhamos feito boas pesquisas, nos surpreendemos com os vilarejos charmosos, as baías paradisíacas e os beach clubs descolados. Na ilha de Vis, paramos na praia de Stiniva. Tão minúscula quanto maravilhosa, faz jus ao título de mais bonita da Europa. Em Vis Town jantamos no Lola Konoba & Bar, um restaurante descolado e com trilha sonora de primeira. Em Hvar, fizemos um delicioso passeio de scooter para explorar os lados menos turísticos da ilha. Descemos por uma trilha até a praia de Dubovica e me fascinei com uma das praias mais pitorescas que já visitei: numa ponta, uma casa rústica de pedras do século 19; na outra, um barzinho charmoso e despretensioso servindo ‘watermelon martinis’. O incrível numa viagem de barco é ter a liberdade de ancorar em pequenas ilhas, dormir e acordar em baías totalmente privativas. Foi assim nas Pakleni Islands. Começamos o dia com um delicioso mergulho, onde o mar era só nosso, e depois finalizamos vendo o pôr do sol do beach club Laganini, degustando deliciosos drinques e fresquíssimos frutos do mar.”
MIRANTE NA SAVANA
Para os fãs de um safári autêntico – mas com doses deluxe, claro – vale prestar atenção no King Lewanika Lodge, o único camping permanente do Parque Nacional de Liuwa Plain, na Zâmbia. Instaladas em meio a vegetação selvagem e às margens do rio, as seis cabanas ultraestilosas têm detalhes como deque e chuveirão ao ar livre. Entre os passeios de jipe e de caiaque, prepare o binóculo: o lugar é um dos melhores do mundo para ver bichos como gnus, além de uma sucessão de pássaros, leões e outros animais da savana. TIMEANDTIDEAFRICA.COM
ARTE ESCOCESA
Em breve, a cidade de Dundee deve entrar no radar dos fãs de arquitetura. Isso porque o destino ganhará o museu V&A, o primeiro da Escócia dedicado ao design. A assinatura do projeto, que promete revitalizar a área portuária do lugar, é do japonês Kengo Kuma, responsável pela Japan House, em São Paulo, e o Estádio Olímpico Nacional de Tóquio 2020. Além de mostrar todo o histórico do design escocês, a ideia é revelar talentos contemporâneos e promover o clima de inovação para o futuro. VANDADUNDEE.ORG PODER JOYCE PASCOWITCH 57
É DE PODER POR ANA ELISA MEYER
MICHELLE PHILLIPS E JACK NICHOLSON
Típica garota da Califórnia, Michelle Phillips foi uma das integrantes do grupo The Mamas and the Papas, banda ícone do movimento hippie e da contracultura dos anos 1960. Hoje, aos 73 anos, pode se orgulhar de seus muitos relacionamentos amorosos ao longo da vida. Como o ator Jack Nicholson, na época em que tentou deslanchar uma carreira de atriz nos anos 1970. O relacionamento durou apenas um ano: foi interrompido quando Nicholson soube que sua finada irmã era na verdade sua mãe. Depois disso, ele nunca mais foi o mesmo. Quem seria?
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PONTO DE VISTA
A italiana Persol acaba de apresentar a nova linha de óculos Tailoring Edition. São quatro modelos feitos à mão com aquele estilo atemporal que não sai de moda. Destaques agora são as novas nuances de acetato tartaruga e as tonalidades metálicas suaves, além das lentes de cristal. Alguns modelos em edição limitada já estão disponíveis no Brasil. PERSOL.COM / LUXOTTICA.COM.BR
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As bolsas icônicas da Coach foram a inspiração para a criação do novo relógio da marca. Delicado, o Coach Delancey Charm Dial traz alças largas e arredondadas com caixa de aço 36 mm, bracelete dourado, além de ser resistente à água. O toque fun fica por conta dos charms colocados nos mostradores com flores, estrelas e tachas. À venda com exclusividade nas lojas da Vivara. VIVARA.COM.BR PODER JOYCE PASCOWITCH 59
SELEÇÃO MOTOR
NO CAMPO E NA CIDADE Eles são conhecidos pela robustez e versatilidade: encaram lama, pau, pedra e o fim do caminho. Mas agora os SUVs são também os queridinhos do uso urbano, especialmente nesta nova geração, de modelos mais compactos e baratos – sem perder a tecnologia e a beleza jamais. Conheça alguns que chegam às ruas brasileiras este ano por aline vessoni
O E-Pace é uma das estrelas desse novo nicho do mercado automobilístico, o dos SUVs compactos. Ele é o mais novo da categoria composta também pelo F-Pace, lançado em 2015, e pelo I-Pace, modelo 100% elétrico que deve chegar ao mercado mundial ainda este ano. Trata-se de um 4x4 compacto de suspensão extremamente leve, com agilidade para enfrentar qualquer terreno e condição climática. O E-Pace comporta até cinco adultos e vem com duas opções de motores a gasolina, com 249 cv ou 300 cv de potência. “As expectativas são positivas. Com o Jaguar E-Pace devemos aumentar consideravelmente a nossa participação de mercado, assim como já conseguimos com o F-Pace”, afirma Gabriel Patini, diretor de marketing América Latina da Jaguar Land Rover.
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E- PACE JAGUAR LAND ROVER
EQUINOX CHEVROLET O maior atrativo do novo SUV da Chevrolet fica por conta do motor robusto 2.0 turbo de 262 cv, o equivalente ao do Camaro americano. Com transmissão automática de nove marchas e tração integral, vai de zero a 100 km/h em 7,6 segundos. Uma performance digna de carro esportivo. “O segmento de SUVs é o que mais cresce no mercado. O consumidor é muito exigente e busca cada vez mais tecnologia, sofisticação, segurança para a família e performance superior. O Equinox mostra que um SUV não precisa ser monótono, é possível ter amplo espaço, versatilidade e segurança sem perder a performance”, afirma o diretor de marketing da GM Mercosul, Hermann Mahnke. Um “feature” do Equinox é seu sistema de atenuação de ruídos externos, tecnologia própria da indústria aeroespacial. A linha ainda conta com frenagem automática e alerta o proprietário se crianças são esquecidas no banco traseiro.
XC40 VOLVO CARS
Depois de ser eleito o carro do ano no Salão do Automóvel de Genebra, o XC40 acaba de chegar ao mercado brasileiro em três versões, o T4, o T5 Momentum e o T5 R-Design. A Volvo apostou em algumas soluções para que o espaço interno pudesse ser ainda mais funcional. Saíram as caixas de som laterais, liberando espaço para acomodar laptops, tablets ou garrafinhas d’água. O som se transformou em um subwoofer no painel. Além disso, os Volvo contam com um piso de assoalho inteligente que pode ser dobrado e transformado em ganchos para carregar sacolas. Para o presidente da Volvo Cars Brasil, Luis Rezende, o novo modelo tem um papel transformador para toda a indústria automotiva. “Temos uma grande ambição de vendas, tanto que o modelo deverá ser responsável pelo crescimento da marca em cerca de 50% este ano”, afirma.
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RAV4 TOYOTA
Em 2017, o RAV4 teve mais de 800 mil unidades vendidas no mundo todo, o que fez dele o veículo mais comercializado de sua categoria. No Brasil desde 1999, o SUV chega este ano ao mercado com uma nova configuração de seu modelo de entrada, a versão 2.0 4x2. Nos itens de segurança, conta com sistema de controle de estabilidade, assistente de arranque em subidas, controle de tração, sensor de estacionamento traseiro e três airbags, sendo dois frontais e um de joelho para o motorista. “A Toyota, ciente e atenta à alta procura por SUVs no Brasil, está ampliando as possibilidades para que os consumidores brasileiros possam provar a excelente experiência que o RAV4 pode oferecer. Por isso, há essa nova versão de entrada e preços ainda mais competitivos”, afirma Miguel Fonseca, vice-presidente executivo das divisões comercial e de produto da Toyota do Brasil.
NX 300 LEXUS
Para brigar no segmento de SUVs compactos de luxo, a NX 300 chega ao mercado nacional com uma nova versão, a Dynamic, com valor inferior aos irmãos Luxury e F-Sport. Para a linha 2018, os designers conseguiram manter a essência do modelo original, para uso mais urbano e sofisticado. Os para-choques, por exemplo, foram remodelados, sem confrontar a agressividade geral do design de série. A robustez externa contrasta com a proposta da marca para o interior do veículo, que busca unir inovação, funcionalidade e muito conforto a bordo. A Lexus se pauta pelo conceito expresso pela palavra japonesa omotenashi, que abarca hospitalidade e atendimento de todas as necessidades.
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MACAN PORSCHE
Como todo Porsche, o Macan denuncia de cara sua esportividade: aceleração máxima, alto poder de frenagem, ampla potência de motor, agilidade e precisão máxima de direção. Aqui ele chega em três opções: o Macan S 4x4, com motor V6 biturbo de 3 litros, que gera potência de 340 cv; a versão do mesmo modelo a diesel (com esse combustível sem atingir tanta potência); e o Macan Turbo, cujo motor V6 biturbo de 3,6 litros – usado pela primeira vez em um Porsche – chega a 400 cv e vai de zero a 100 km/h em, atenção, 4,8 segundos. O nome do carro não foi escolhido por acaso: macan é tigre, em indonésio.
TIGUAN ALLSPACE VOLKSWAGEN
A Volkswagen tem grandes ambições para o segmento de SUVs no Brasil, sendo o Tiguan Allspace o primeiro de cinco modelos que serão lançados no país até 2020. O Tiguan será produzido a partir de uma base construtiva comum, chamada MQB, que visa a fabricação em série de veículos mais compactos, com alto aproveitamento do espaço interno e com diversos recursos inovadores no que diz respeito a tecnologia e segurança.
GLA MERCEDES-BENZ
O novo Mercedes-Benz GLA chega às concessionárias brasileiras da marca em agosto com um visual mais robusto e em cinco diferentes versões: GLA 200 ff Style, GLA 200 ff Advance, GLA 200 ff Enduro, GLA 250 Sport e Mercedes-AMG GLA 45 4MATIC. Eles têm motor turbo 1,6 litro com injeção direta de combustível e 156 cv (Style, Advance e Enduro) ou turbo 2 litros com 211 cv (250 Sport), as duas motorizações com ótima entrega de torque em baixas rotações, o que garante eficiência no trânsito das grandes cidades. Outra função de série é o ECO Start/Stop, que desliga o motor sempre que o veículo para, diminuindo o consumo e emissões de poluentes, aposta da marca alemã na sustentabilidade. PODER JOYCE PASCOWITCH 63
MOTOR
VELOZES, MAS NÃO FURIOSOS Iates para quem só quer navegar durante o dia ou para os mais aventureiros que gostam de dormir na embarcação. A combinação parece simples: tecnologia, luxo e conforto em altíssima velocidade por aline vessoni
O Foiler foi feito para garantir deslocamentos que demonstram, de um lado, a rigidez e a resistência da embarcação, mas também a suavidade com que a tripulação desliza sobre as águas. Nesse caso, com os hidrofólios de fibra de carbono retráteis, é possível navegar a 1,5 metro acima da superfície hídrica deixando o passeio mais veloz e mais eficiente no quesito de gasto de combustível. Sem contar que a experiência se torna muito mais divertida. Com um sistema de propulsão que combina dois motores BMW 320 HP a diesel e elétrico, o iate vem revolucionando o conceito de velejar e pode alcançar uma velocidade de 74 km/h, o que na linguagem náutica é traduzido para 40 nós. A PARTIR DE R$ 5,5 MILHÕES
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FOILER ENATA
Q2 QUADROFOIL
Uma das alternativas para ganhar velocidade é diminuir o atrito do casco com a água. Foi esse o objetivo da empresa eslovena ao desenvolver esta lancha com quatro hidrofólios. O sistema de direção permite um controle simultâneo dos quatro fólios e do motor, tornando o Quadrofoil uma das lanchas mais ágeis e responsivas do mercado hoje em dia. Por ser elétrico o Q2 é silencioso e considerado "eco-friendly", autorizado a navegar em rios, lagos e mares, locais em que diversas outras embarcações motorizadas são proibidas. A PARTIR DE R$ 90 MIL
AZIMUT VERVE 40
Produzido exclusivamente no Brasil, este barco é o modelo ideal para quem gosta de velocidade, mas, ao mesmo tempo, não abre mão de luxo e conforto a bordo. Com seus três motores de popa de 350 HP cada, o Verve 40 pode chegar a 40 nós. Seus mais de 12 metros de comprimento dividem-se em espaços externos – em que a tripulação pode interagir com o piloto – e internos com cabine para pernoite, banheiro, cozinha e sala de jantar, tudo decorado com o melhor da arquitetura italiana. A PARTIR DE R$ 2,9 MILHÕES
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COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO
NA BOCA, O POLVO
Esse molusco de água fria com inteligência acima da média é um alimento saudabilíssimo, que, mesmo precisando de atenção no preparo, caiu nas graças dos brasileiros. Pode-se dizer que o polvo, com seus tentáculos, abraça o paladar
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FOTO ISTOCKPHOTO.COM
A
pesar de preferir águas geladas, o polvo pode ser encontrado em todos os mares. Ele tem o corpo caracterizado pelos oito tentáculos ligados diretamente à cabeça e já foi chamado pelos cientistas de “gênio dos oceanos” tamanha inteligência da espécie. Na gastronomia é o ingrediente da vez. Invadiu o menu dos melhores restaurantes e caiu no gosto dos consumidores brasileiros. Mas, salvo o glamour, a preparação ainda é um obstáculo a ser superado por quem adora se arriscar na cozinha. Um minutinho a mais no cozimento e, pronto, está borrachudo. Para ajudar, PODER bateu um papo com a chef Mariana Fonseca, dos restaurantes gregos Myk e Kouzina, em São Paulo, que dá a dica: “Para preparar o polvo em casa indico a panela de pressão, 17/18 minutos de cozimento costumam não falhar”, ensina. Na hora de comprar, vale ficar de olho na coloração e no cheiro. “O polvo precisa estar o mais branco possível com nuances roxas, mas no Brasil é difícil conseguir um produto tão fresco. Então, se estiver com a tonalidade amarelada você tirou a sorte grande. O cheiro também é importante, produto do mar de qualidade não cheira mal”, completa a chef. De nome científico Octopoda, são mais de 700 espécies que podem ser consumidas quase sem medo. O polvo é rico em proteínas, ômega 3, ferro, vitaminas como a B 12 e cálcio, além de ter poucas calorias. Só não é recomendado para quem tem colesterol alto. Então, prontos para mergulhar nessa delícia? n
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POLVO COM VINAGRETE DE PISTACHE, GENGIBRE E AZEITONAS PRETAS
GUSTAVO ROZZINO, CHEF DO TONTON INGREDIENTES • 1 polvo • 3 tomates cortados em quatro • 1 cebola • 2 dentes de alho • 1 pitada de sal • tomilho a gosto VINAGRETE • 1/2 xícara (chá) de vinagre • 1/2 xícara (chá) de azeite • 1/2 xícara (chá) de água • 1/2 xícara (chá) de suco de limão
BANDEJA MILLE NUITS Baccarat PREÇO SOB CONSULTA beganpresentes.com.br
• 1 pedaço pequeno de gengibre • 1 cebola roxa pequena picada • 2 tomates sem pele e sem semente picados • coentro a gosto • raspas de limão siciliano • 50 g de pistache triturado • sal e pimenta a gosto MODO DE PREPARO Cozinhe o polvo com o tomate, cebola, alho, sal e tomilho por aproximadamente duas horas em fogo baixo até que fique macio. Em seguida, corte os tentáculos e frite todos os lados até dourar em frigideira antiaderente com um fio de óleo. Espere esfriar e corte os tentáculos em pedaços com mais ou menos dois dedos de largura. Misture todos os ingredientes do vinagrete; adicione os pedaços de polvo e sirva ainda quente.
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FOTOS GIOVANNA BALZANO; DIVULGAÇÃO * PREÇOS PESQUISADOS EM ABRIL. SUJEITOS A ALTERAÇÕES.
SASHIMI DE POLVO ESPECIAL SERVIDO COM MOLHO PONZU, CIBOULETTE E PIMENTADEDO-DE-MOÇA
GEORGE KOSHOJI, CHEF DO KOSUSHI INGREDIENTES • 1 polvo • 1 pedaço de nabo • chá verde
MOLHO PONZU • 60 ml de shoyu • 20 ml de laranja • 20 ml de limão • cebolinha a gosto • pimenta-dedo-de-moça a gosto MODO DE PREPARO Lave o polvo. Em uma panela, coloque água e o nabo. Após fervêla acrescente chá verde, o polvo e deixe cozinhar por volta de 30 minutos. Depois de retirar, resfrie em uma cama de gelo por volta de cinco minutos. Corte em finas fatias, estilo sashimi, e acrescente o molho ponzu.
JOGO COM 4 PEÇAS PARA BAR Nuance R$ 600 luxe4home.com.br
SERVIÇO JANTAR, CHÁ E CAFÉ - 42 PEÇAS Porcelana Schmidt R$ 778 pontodaporcelana.com.br PODER JOYCE PASCOWITCH 69
HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI
DURMA BEM, MEU BEM
Tenha a tecnologia como parceira para desfrutar de um sono de mais qualidade e de um despertar cheio de entusiasmo
SOMNOX SLEEP ROBOT
Que tal um robô que dorme de conchinha com você? Sim, ele existe e foi criado pela holandesa Somnox para ajudar aqueles que têm dificuldade de pegar no sono a ter uma noite tranquila. A novidade, que parece uma almofada, vem equipada com uma série de sensores para acelerar o processo de adormecimento e dar sensação de segurança durante a noite. Quando você abraça a almofada-robô, ela parece respirar. A sensação é que, aos poucos, você reduz o ritmo respiratório, sincronizando com a “respiração” do robô, que é compassada, como numa meditação. Para completar, o robozinho pode tocar música, guiar meditações e até ler audiobooks para você relaxar antes de dormir. SOMNOX.NL | R$ 2.100
RESMED S+ SLEEP MONITOR
Perfeito para quem não gosta de dormir com máscaras, pulseiras ou qualquer aparelho que tenha sensores encostados ao corpo para monitorar o sono, o S+ faz isso sem qualquer contato físico, por meio de detectores de movimento. O aparelho monitora sua respiração e registra condições de luz, ruído e temperatura do quarto. Depois, sincroniza as informações com seu smartphone para fornecer feedbacks personalizados e sugestões para melhorar a rotina de repouso e as condições do ambiente. RESMED.COM | R$ 450
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PHILIPS WAKE-UP LIGHT
Inspirado na paleta de cores do nascer do sol, a lâmpada Wake-up aumenta gradualmente a iluminação do ambiente num intervalo de 30 minutos, começando com o vermelho suave do amanhecer, passando pelo laranja e terminando com uma luz amarela brilhante. Mimetizando a natureza, a sequência da Wake-up Light estimula seu corpo a acordar naturalmente. Além disso, quando o quarto está totalmente iluminado, o aparelho passa a tocar a música ou a emissora de rádio que você escolheu para despertá-lo. PHILIPS.COM | R$ 580
LUUNA ENTERTECH
Esta máscara inteligente ajuda quem precisa dormir bem e acordar melhor ainda. Isso porque ela vem com sensores capazes de registrar as atividades elétricas do cérebro de quem a usa. Esses dispositivos transmitem os dados para um chip de inteligência artificial que interpreta seu humor e escolhe canções e sons de ninar perfeitos para ajudar você a pegar no sono. Além disso, tem a função Smart Wake-up, que escolhe o momento certo para você despertar com muito mais disposição. Vem com três funções de sono: “dormir”, para noites completas de descanso, power nap, para um cochilo curto reparador, e “concentração”, que ajuda a dominar a capacidade de se concentrar por períodos mais longos. KICKSTARTER.COM | R$ 450
FABRICIO COBRA ARBEX,
* PREÇOS PESQUISADOS EM ABRIL. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS DIVULGAÇÃO
advogado, economista e diretor regional do Instituto Teotônio Vilela, foi secretário de Turismo do Estado de São Paulo “O aparelho que mais utilizo e dependo é o smartphone. A capacidade de processamento das versões mais modernas surpreende. Com o celular em mãos, os dedos correm rápido pelas teclas em conversas de WhatsApp. Compartilho via Facebook os acontecimentos do cotidiano, e gosto muito do Instagram, especialmente depois da adição do Stories. No Twitter interajo pouco, prefiro usá-lo para me informar. Além desses, abuso de apps de localização e trânsito, como o Waze, que acabaram se tornando indispensáveis.”
SLEEP NUMBER 360
Esta é uma cama inteligente. Para começar, a tecnologia SleepIQ, capaz de verificar batimentos cardíacos, respiração e movimentos de forma contínua. Além disso, o colchão FlexFit se adapta automaticamente aos seus movimentos durante o sono. Isso mesmo. Se você virar para o lado, ele ajusta a firmeza do colchão para potencializar seu conforto. Ah, sim, e para quem dorme acompanhado, tudo resolvido também. A cama tem dois lados ajustáveis de forma independente. Ou seja, os dois dormem da melhor forma, sem incomodar ao outro. Tem mais um detalhe: a Sleep Number 360 detecta o ronco e acerta a inclinação do colchão em 7 graus para acabar com esse incômodo. E você ainda pode conferir como anda seu sono pelo smartphone. SLEEPNUMBER.COM | R$ 7.200
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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA
Criadora de aguardada série inspirada em crimes do médico Roger Abdelmassih, Maria Camargo fala do desafio de escrever ficção a partir de histórias factuais
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FOTOS DIVULGAÇÃO
C
omo a vida de um escritor se reflete no seu texto? Maria Camargo ensaia uma resposta. “Eu já plantei árvore, escrevi livro, peguei onda, dancei em gafieira, dirigi uns filminhos, amei, desamei e amei de novo, perdi muitas pessoas queridas, mudei de casa, de cidade, tenho filhos, casa, cachorros, problemas de família e prazeres em família. Tudo isso está dentro de mim e aparece na escrita”, revela. Roteirista desde 1998, ela assina criação e redação final da aguardada série Assédio, da TV Globo, ainda sem data de estreia prevista. Escrita em dez episódios, a produção é livremente inspirada no caso de Roger Abdelmassih, médico especialista em reprodução assistida condenado a 181 anos de prisão pelo estupro de pelo menos 37 pacientes, violentadas muitas vezes sob efeito de sedativos. A pesquisa para a série – baseada no livro A Clínica: a Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih, do jornalista Vicente Vilardaga – incluiu reportagens da época, relatos e documentos judiciais. “O conhecimento profundo dos fatos e suas versões é, em casos assim, essencial para o processo de construção da dramaturgia, ainda que o resultado final seja uma história ficcional”, diz a roteirista. “Uma história que nasce da vida real, mas que não é a vida real. Essa preocupação, de equilibrar fatos e invenção com responsabilidade, foi permanente até o fim da escrita.” Se ao escrever o roteiro de um herói o desafio é mostrar suas fraquezas, para traçar o perfil de um criminoso uma das tarefas é encontrar o que há nele de humano. “Não se trata, é claro, de fazê-lo bonzinho, inocente ou minimizar seus horrores, mas de buscar as motivações e sentimentos que o levam, inclusive, a cometer as atrocidades que comete”, explica Maria. “Caso contrário, ele se torna um vilão de cartum, que me interessa menos”, diz a autora. “Afinal, estou falando da natureza humana, que contém em si o melhor e o pior. Antes de falar sobre qualquer personagem, seja ele bom ou mau, preciso falar por ele, que acredita, obviamente, em si mesmo. Todo personagem tem que ter a sua verdade em cena. Ainda assim há, é claro, a responsabilidade do autor permeando tudo isso.” As referências da escrita de Maria Camargo são muitas: vão da fotografia à filosofia, dos grandes romances russos às narrativas de aventuras. Entre seus mestres, ela cita pelo menos uma dezena de cineastas e roteiristas, “autores estupendos como Charlie Kaufman, Jean-Claude Carrière, Lucrecia Martel, Melissa Mathison, David Mamet, Michael Haneke”, mas um sobressai na sua lista. “Queria ter escrito cada uma das linhas que Billy Wilder escreveu”, confessa.
Em um momento no qual denúncias de assédio e de tratamento desigual de gênero na indústria do audiovisual ganham projeção no Brasil e no exterior, Maria Camargo acredita que o desafio ainda é longo para a equidade. “Essa é uma luta urgente, necessária e que exige empenho e fôlego”, diz a autora. “Podemos falar de falta de oportunidades, menor visibilidade, falta de escuta, de desrespeito, de remuneração desigual. Mas devemos falar também de assédio, que nasce dessa relação de poder distorcida e adquire contornos tão graves e, infelizmente, muito comuns. Assédio é crime, e é muito bom que se fale exaustivamente disso”, afirma. “Quebrar o silêncio é o único caminho.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 73
MÚSICA O CARA DOS DISCOS
Um dos mais importantes produtores do país, Alexandre Kassin lança segundo álbum solo e fala da relação intensa com a música Alexandre Kassin era um menino de 8 anos, no começo dos anos 1980, quando via na sala de um apartamento em Copacabana, no Rio, João Donato, Edu Lobo e Wanda Sá ensaiarem clássicos da bossa nova. Vizinho do casal de músicos Edson e Tita Lobo, o garoto cresceu ouvindo música como quem respira. Aos 44 anos, Kassin – que se tornaria um dos produtores mais requisitados do país, responsável por discos de Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto e Erasmo Carlos – acaba de lançar no Brasil o segundo álbum solo da carreira, Relax. Cantor, compositor e instrumentista, diz que procurou no novo disco uma personalidade musical diferente da que propôs no anterior, o experimental Sonhando Devagar (2011). “Desta vez eu tinha as ideias de arranjo claras na minha cabeça, o tipo de som de bateria que unificaria o trabalho todo. Nesse ponto, Relax é uma antítese do anterior.” A ordem das 14 faixas foi definida pelo produtor Carlos Eduardo Miranda, morto, aos 56 anos, em março, depois de sofrer um mal súbito. Miranda foi uma espécie de tutor para Kassin, que assinou o primeiro trabalho como produtor, com menos de 20 anos, por indicação do músico gaúcho. Durante a produção de Relax, a troca de ideias entre os amigos chegou a ser quase diária. “Gravava uma sessão de base e já mandava para ele”, conta Kassin. “[A morte dele] é uma perda até difícil de medir. Fiquei quebrado, quatro dias sem dormir.” Toda essa bagagem sonora é resultado de quase quatro décadas de consumo visceral de música. Nos anos 1980, com um irmão discotecário em casa, Kassin começou a colecionar LPs. “Lembro de a gente passar tardes inteiras ouvindo música”, recorda. Sua discoteca hoje ocupa uma parede inteira de cerca de 5 por 7 metros e tem até test pressing (espécie de primeira prova de um disco) de álbuns raros. “Não é maior do que a do Ed Motta, mas ele mesmo não despreza minha coleção”, brinca Kassin, que ancora com João Duprat um programa mensal em uma web rádio internacional para colecionadores de discos. “Não há um momento do dia em que não ouça música. Acordo, ponho um disco pra tocar, chego ao estúdio e trabalho com música, volto para casa e continuo ouvindo música”, diz Kassin, antes de afirmar não ter um filtro estético restrito. “Gosto de ouvir tudo. O que me anima são as diferenças.”
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LITERATURA VOLTA AO CLÁSSICO
FOTOS FABIO AUDI/DIVULGAÇÃO; LEE KYUNG KIM/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
O Theatro Municipal de São Paulo monta, entre 12 e 23 de maio, La Traviata, de Verdi, com direção musical de Jorge Takla e regência de Roberto Minczuk. No palco, as sopranos Nadine Koutcher e Jaquelina Livieri se revezam no papel da “traviata”. Será também o debute do tenor russo Georgy Vasiliev em palcos brasileiros.
O LIVRO NUNCA ESCRITO Páginas retiradas do diário do poeta Carlos Drummond de Andrade, recolhidas por sua filha Maria Julieta [que faleceu antes do pai], compõem Uma Forma de Saudade (Companhia das Letras). No livro, Drummond escreve sobre familiares e amigos, como o também poeta Manuel Bandeira. A edição ainda traz fotos do arquivo da família e reproduções de anotações do poeta.
PALCO ATRIZ ESSENCIAL
Denise Stoklos sobe ao palco para demolir. Aos 50 anos de carreira, a premiada atriz paranaense dirige e atua no monólogo Extinção, adaptado de livro homônimo do austríaco Thomas Bernhard. O espetáculo, em cartaz até 20 de maio no Sesc Consolação, questiona valores da sociedade contemporânea. Desde 1968, Denise já escreveu, dirigiu e atuou em 27 espetáculos, em 33 países, que lhe valeram 22 prêmios. Nas peças ela explora o método do teatro essencial, pelo qual o ator usa o mínimo possível de recursos e o máximo da habilidade cênica.
EXPOSIÇÃO
MISTÉRIOS REVELADOS
É a primeira exposição na América Latina do galês naturalizado americano Mac Adams, um dos fundadores da narrative art. Mens Rea: a Cartografia do Mistério está em cartaz no Centro Cultural Fiesp. Com trabalhos conceituais de fotografia, Adams já expôs em espaços como o MoMA, em Nova York, e o Centro Georges Pompidou, em Paris. Britânico radicado em Nova York, o artista explora, desde 1974, o potencial narrativo da fotografia e da instalação para encenar cenas misteriosas, por vezes recompondo cenários de crimes ficcionais. Sua obra mistura referências dos contos do País de Gales, dos romances de Arthur Conan Doyle, dos filmes de Alfred Hitchcock e do cinema noir. PODER JOYCE PASCOWITCH 75
CABECEIRA
ESTANTE
por aline vessoni
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GRANDE SERTÃO: VEREDAS GUIMARÃES ROSA
“É um trabalho básico. Uma forma de entender o Brasil de maneira mais profunda.”
A PEDRA DO REINO ARIANO SUASSUNA
“Estou relendo a nova edição recémlançada, que é muito completa e bemfeita. Meu mergulho no Suassuna tem algumas interrupções, mas sigo lá.”
OS LOUCOS DA RUA MAZUR - JOÃO PINTO COELHO
PERGUNTEM A SARAH GROSS - JOÃO PINTO COELHO
“Este autor português me impressionou muito quando o li nas minhas últimas férias. É um livro curioso, pois tematiza a presença do nazismo na Polônia e a relação entre nazistas, cristãos e judeus no país na época da Segunda Guerra.”
“Tanto Os Loucos da Rua Mazur quanto esta obra são livros que refletem um momento muito interessante da Segunda Guerra. Ainda que haja contestações, são títulos elaborados a partir de uma pesquisa muito sólida.”
GETÚLIO - LIRA NETO
“A biografia que Lira Neto escreveu sobre Getúlio logo depois de sua grande pesquisa sobre a vida do Padre Cícero é fundamental para compreender nossa sociedade.”
PADRE CÍCERO: PODER, FÉ E GUERRA NO SERTÃO - LIRA NETO
“A obra reflete os séculos 19 e 20 no Nordeste, e com Getúlio, uma figura nacional, forma um quadro bem completo da realidade brasileira do ponto de vista político-cultural desse período.”
FOTOS BEATRIZ CHICCA; DIVULGAÇÃO
Danilo Santos de Miranda, o homem à frente do Sesc do Estado de São Paulo, tornou-se um aficionado por literatura desde muito cedo. Na década de 1950, muitas casas brasileiras tinham a Tesouro da Juventude, enciclopédia que também levou o pequeno Miranda ao mundo das letras. Depois de espremer os volumes da coleção, foi a vez dos clássicos infantis, “sobretudo os de Monteiro Lobato”. “Outros livros da escola começaram a despertar em mim o gosto pela leitura”, diz. De Lobato para Machado foi só uma questão de tempo, e ambos se tornaram importantes na construção intelectual de Miranda, que é diretor do Sesc São Paulo desde 1984. “Além deles li Guimarães [Rosa], Jorge Amado... Todos os grandes nomes da nossa literatura me interessam muito porque refletem de maneira muito completa e dão muita força à expressão artística brasileira”, afirma. Por conta das atividades incessantes de seu cargo – outra unidade do Sesc, agora na avenida Paulista, acaba de ser inaugurada, por exemplo –, Miranda confessa que nem sempre consegue ler como gostaria. Se o trabalho permitisse, seria um devorador de livros. “Sou um leitor voraz quando posso. Minha jornada de trabalho muitas vezes invade a noite e acabo não podendo me dedicar tanto à leitura”, revela. Assim, as férias ou viagens são os momentos em que ele se reencontra com os livros. “Se pudesse, eu parava tudo e ficava lendo o tempo todo. Sou totalmente seduzido pela leitura.”
UNIVERSO PARTICUL AR POR ALINE VESSONI
FOTOS ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO
Inquieta por natureza, a cineasta Carolina Jabor gosta de tematizar em seus trabalhos exatamente a inquietude contemporânea, como no desconfortável Aos Teus Olhos
A diretora Carolina Jabor não é do tipo que gosta de acordar cedo, mas, com dois filhos pequenos – João, 10 anos, e Alice, 4 –, dormir até tarde é artigo de luxo. Muito envolvida com a maternidade, ela prefere seguir o ritmo das crianças e pular da cama junto com elas. Daí, quando eles vão para escola, Carolina assume sua persona profissional. Aí ou vai para o escritório ou para a produtora
UMA CIDADE: Berlim UM PAÍS: México MELHOR VIAGEM:
Ilha Grande, sempre. MELHOR
Conspiração Filmes. Mas, sempre que o trabalho permite, ela e o marido, o diretor de cinema e TV Guel Arraes, fazem questão de reunir a família no horário dos pequenos irem para a cama. “Contamos histórias e conversamos sobre o dia deles”, afirma ela. Durante a entrevista, Carolina pediu licença algumas vezes para responder às brincadeiras imaginárias da caçula. Por conta da dinâmica de seu trabalho, nem sempre consegue ter uma rotina convencional. Mas o seu tempo é dividido basicamente entre o ofício e a família, um pouco de exercício físico, leituras e “tentativas de ver um filme ou uma série”. “Minha vida é simples. É o necessário, somente o necessário, tipo o que diz o [urso] Balu, do Mogli”, brinca. Seus dois últimos projetos, o longa-metragem Aos Teus Olhos e a série Desnude, do GNT, embora
INSPIRAÇÃO: gente que admiro,
como, Caetano Veloso, Pina Bausch e Fernanda Montenegro MATERNIDADE: Amor UM LIVRO: Grande Sertão: Veredas
distantes na temática, tratam de temas superatuais. Enquanto o filme mostra as consequências explosivas do uso das redes sociais, o seriado procura observar o prazer feminino por meio de uma narrativa construída por mulheres, já que foi elaborado por uma equipe quase 100% feminina. “Meu processo de criação está mais atento às questões da realidade, questões com as quais me deparo e que me intrigam. Acho que nestes últimos cinco anos os valores vêm mudando com uma velocidade muito grande. Isso me intriga e me faz ter vontade de falar sobre as relações de afeto, de comportamento, trocas”, explica a diretora, que se considera uma profissional movida pela inquietação. “Eu não aguento ficar parada contemplando, tenho vontade de estar sempre discutindo, analisando”, conta. n
HOBBY: dançar SET DE FILMAGEM:
o meu ESSENCIAL NO SET:
concentração MÚSICA PARA
PASSATEMPO COM AS
TRABALHAR:
CRIANÇAS: praia
Kraftwerk, Metronomy, Radiohead
UM(A) CINEASTA:
Michael Haneke
ATRIZ/ATOR:
muitos, não dá para listar ARTISTA: UM FILME: O Poderoso
Chefão
Louise Bourgeois
POLE POSITION por josé rubens d’elia
Atire a primeira pedra quem nunca perdeu a cabeça em um momento de estresse, discussão, insatisfação e muitas outras situações do nosso cotidiano perfeitamente humanas. E você simples mortal, executivo ou atleta? Já teve uma daquelas reações que ninguém acredita ter sido sua da qual, depois de alguns minutos, quando o estrago está feito, você se arrepende, querendo voltar atrás e passar tudo a limpo? Hoje, a neurociência e a inteligência emocional nos permitem conhecer esse fenômeno que pode acontecer com qualquer um de nós. O mais interessante é que após identificá-lo podemos aprender a lidar com ele, colocando-o sobre o nosso comando.
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Vamos à primeira lição: entender o que acontece com o cérebro em uma dessas situações. A grande responsável por perdermos a cabeça é a amígdala. Mas, não aquela que a grande maioria conhece e fica na garganta. É outra, uma pequena parte em formato de amêndoa localizada nas estruturas mais primitivas do cérebro. É ela que tem o poder de controlar as emoções. A amígdala atua como uma sentinela, ficando alerta a qualquer ameaça que possa abalar a estabilidade emocional. Então, quando vivenciamos uma emoção recorrente ou similar, que já estava no arquivo de controle da amígdala, ela entra em ação reagindo de maneira imediata e desproporcional. Essa reação consegue ser mais forte do que a parte mais desenvolvida do cérebro – a área frontal do córtex –, responsável pelo pensamento lógico e o planejamento das nossas ações. Cientificamente, esse fenômeno é chamado de sequestro de amígdala, que faz com que o organismo se encha de adrenalina e cortisol, alterando o corpo até por quatro horas e provocando mal-estar. Mas temos como evitar esse acon-
tecimento, que normalmente acarreta prejuízos ao lado emocional, bem como aos relacionamentos pessoais e profissionais. O aprendizado passa, necessariamente, pela autopercepção e prática de algumas atitudes relativamente simples, que fazem com que a parte lógica do cérebro – córtex pré-frontal – entre em ação, inibindo a força e a velocidade da amígdala. Eis alguns antídotos para não nos exaltarmos: ao percebermos que algo está nos desagradando devemos respirar de forma consciente, prestando atenção. A respiração oxigena o cérebro, acionando o sistema lógico; outra atitude é contar até dez, 100, mil, dependendo do tamanho do desconforto; e vale também dar uma volta, falar com alguém alto-astral, meditar, rezar... Conhecendo o caminho das pedras parece realmente simples. No entanto, para que lembremos imediatamente de ter uma dessas atitudes, é recomendável praticá-las diariamente, sem esperar uma situação de estresse. O exercício diário é uma forma saudável de desenvolver o equilíbrio e de ajudar o nosso córtex a ganhar a corrida da amígdala. n José Rubens D’Elia é fisiologista e treinador de pilotos, atletas profissionais, empresários e executivos. Diretor da Pilotech – Clínica de Performance de Pilotos, em São Paulo
ILUSTRAÇÃO ISTOCKPHOTO.COM; FOTO ARQUIVO PESSOAL
VOCÊ JÁ PERDEU A CABEÇA?
CARTAS cartas@glamurama.com
ALMOÇO DE PODER
Essa edição (PODER 115) ganhou um charme especial ao contar a história de duas pessoas da periferia. Eliane Dias tem uma biografia incrível, vencedora, e o Rincon Sapiência, no Ensaio, me deu a mesma impressão. Eles pensam e atuam nos lugares em que nasceram e cresceram. Parabéns pela escolha dos personagens! Cecília Cortez, Piracicaba (SP), via e-mail
EMPRESAS SEM ENDEREÇO
Eis uma fotografia do mercado hoje. A reportagem conseguiu retratar o lado positivo e negativo do coworking (PODER 115). Március Rezende, Brasília (DF), via e-mail
MARCELO SERRADO
Fazia muito tempo que não lia nada sobre Marcelo Serrado (PODER 115). Um ator de tanto talento precisa ter mais espaço na mídia. Ainda mais um cara que consegue rever sua trajetória de maneira sincera. Charlene Hilmann, Belo Horizonte (MG), via e-mail
FOTO PAULO FREITAS
UNIVERSO PARTICULAR
A foto de abertura da reportagem é maravilhosa. Seguir o trabalho de Cristiano Mascaro é acompanhar a evolução da arquitetura em São Paulo (PODER 115). Roberto Sílvio Araújo, São Paulo (SP), via e-mail
/poder.joycepascowitch
AGENDA PODER
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TEORIA & PRÁTICA
FOTO REPRODUÇÃO
Se a velha alegoria, há tanto tempo abandonada pela intelectualidade brasileira de esquerda, a de que teóricos deveriam conhecer a prática e “cumprir” uma ou duas jornadas no chão de fábrica – ou no canavial da Cuba revolucionária –, tivesse rostos, pode-se dizer que Paul Singer (1932-2018) seria um deles. Como lembrou Fernando Henrique Cardoso à Folha de S.Paulo, Singer, formado em eletrotécnica, trabalhou numa fábrica de elevadores e tornou-se militante sindical antes de iniciar sua carreira acadêmica, na qual, de exegeta da obra de Karl Marx, tornou-se expoente de estudos que faziam um “crossover” entre a economia, a sociologia e a demografia. Singer foi fundador do PT, secretário do Planejamento de Luiza Erundina quando prefeita de São Paulo e secretário nacional da Economia Solidária, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, pasta em que esteve por 13 anos até a virada neoliberal do segundo governo Dilma. A economia do lulopetismo deve a ele o desenvolvimento de programas de distribuição de renda como indutor do mercado, mas a marca mais lembrada do “professor” nas homenagens fúnebres, em abril, foi a da tolerância e da generosidade.
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