ESTILO DE VIDA VIAGEM por Luis Dias
SAUDADES DO LONELY PLANET
Embarcar numa viagem antes das novas tecnologias, apenas munidos de um pequeno guia, podia ser um desafio, mas as surpresas e aventuras que emergiam eram, com certeza, surpreendentes.
L
argos anos antes dos smartphones, google maps, whatsapps, waze, booking, era o pequeno livro que nos acompanhava, guiava e nos dava alguma rede. Sem garantias prévias, sem planos fechados e com uma saborosa margem de surpresa. A chegada a Hanói noite dentro, após a curta estadia em Banguecoque, com tudo o que levávamos para ficar por três semanas numa mochila, foi intimidante. Encontrámos uma cidade, no trajeto aeroporto-centro, escura e sem movimento, debaixo da chuva intensa. Vinte minutos depois, lá estava o hotel, exatamente como descrito no livro. Modesto, mas acolhedor; somou-se o sorriso aberto dos nossos anfitriões na receção e o ambiente único criado pelo costume de andar descalço num chão impecavelmente limpo e pelo ritual de beber limonada fresca, acompanhada de bananas oferecidas nas boas-vindas aos viajantes. A minha impressão não parou de melhorar e o desconforto quase desapareceu. Manhã na capital do Vietname, verdadeiramente o primeiro dia neste país 122 FUNDSPEOPLE I JULHO E AGOSTO
do qual pouco mais sabia do que o que nos chegava dos clássicos americanos. Injustos em larga escala. Sol intenso, calor tropical, em plena monção. Tudo para correr bem. De Lonely Planet no bolso, saímos sem destino pela malha confusa das ruas, agora já apinhadas. As ruas organizadas por ofício: ourives, talhos, costureiros e lojas de tecidos, oficinas de bicicletas, pequenos armazéns de ferragens, etc., meticulosamente alinhados e a borbulhar de atividade. E especialmente encantadores, os vendedores de vegetais e frutas, frescos, coloridos e perfeitamente arrumados em cestos limpos espalhados pelo chão em cada esquina ou em equilíbrio nos cestos pendurados às costas entre chapéus de palha triangulares… e as vendedoras de flores, sentadas entre os ramos expostos em bicicletas.
Impossível adivinhar a hora do dia pelo movimento ou pelas rotinas: há quem não dispense o barbeiro, quem visite o dentista ou quem coma uma refeição digna de almoço reforçado às seis da manhã. Fascinante a diferença de hábitos. Fascinante a indiferença como nos admitem a misturarmo-nos, sem que nos sintam a interferir nas suas vidas.
FRENESIM
Atravessar uma rua, que não será mais larga do que qualquer rua no centro histórico de uma cidade europeia, é uma aventura. Os enxames de scooters nunca param e os condutores não parecem conhecer o conceito de parar e andar segundo uma ordem ou a utilidade de um semáforo… ainda assim, são notáveis a desviar-se de quem se atreve a cruzar o caminho! Enfim, nada que o infalível livro não anunciasse…
A CAPITAL VIETNAMITA, HANÓI, MISTURA A HERANÇA FRANCESA COM A MARCA DA VIZINHA CHINA