Ceos #5 Na raiz do preconceito (2020/1)

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DESMISTIFICANDO A DANÇA BAILARINOS HOMENS SOFREM COM O PRECONCEITO ENRAIZADO NA SOCIEDADE Bailarino: Mariano Netto

POR ROBERTA MONTIEL

Crédito: Cintia Bracht

E

m vez de estimular uma prática tão antiga e repleta de benefícios, o preconceito. Mas claro, não às mulheres, quem é julgado por isso são os homens. A dança é uma das três principais artes cênicas da antiguidade, ao lado da música e do teatro, mas mesmo antes disso, o homem já dançava para estabelecer códigos de comunicação, sinais e gestos de entendimento comum. Mais que isso, ela era sagrada, ajudava nas lutas e na conquista da perfeição do corpo. Portanto, por que passou a ser vista como uma atividade exclusivamente ou principalmente feminina? Atualmente, a dança é mais visível em toda a sociedade e manifesta-se nas ruas, em videoclipes ou em qualquer ambiente onde é contextualizado o propósito artístico. Mas se engana quem acredita que é aceita quando alguém decide torná-la sua profissão, principalmente no caso de um homem. E essa foi a escolha de Mariano Netto, 40 anos, que não teve o apoio total da família quando decidiu seguir a carreira. Nascido em Porto Alegre e formado em Educação Física no IPA, hoje ele é professor na escola de dança Rodrigo Garbin e no Estúdio de Dança Ângela Ferreira, onde também é coordenador artístico, na capital gaúcha. 20

“Toda vez que vou me apresentar, peço que os meus anjos me proteja sempre e bato o pé direito três vezes antes de pisar no palco” Mariano Netto O modo como fala são marcas das experiências vividas pelo bailarino que dança há 21 anos e dá aula de ballet, jazz e contemporâneo. Durante sua trajetória, por já ter se apresentado em diversos palcos do mundo, ganhou cinco vezes o reconhecimento de melhor bailarino. Uma vez na Argentina e as outras quatro no Prêmio Açorianos de Dança em Porto Alegre. Também fez parte de várias companhias do Brasil, como a Edtam (RN), Cisne Negro (SP), Cia H (RS) e Cia Municipal de Dança de Porto Alegre (RS). Mariano relata que, apesar de ser feliz com a profissão, sua família, principalmente por parte dos avós maternos, não aceitava a escolha. Além disso, conta já ter passado por situações constrangedoras. Quando trabalhava em uma escola de dança em Porto Alegre, foi chamado na direção pedindo que utilizasse calças e blusas mais largas, e não teve motivos concretos para a tal mudança, apenas foi exigido, mesmo que elas não definissem o que ele é. Existe na dança vários estilos para se manifestar, afinal,

o homem descobriu que não depende de um só motivo ou circunstância para praticá-la. Ela pode surgir de um sentimento, uma vontade, uma batida de música ou nem isso. No entanto, restringir os estilos de dança para um tipo de gênero ou dizer que somente um tipo de pessoa possa praticá-la, além de propagar a intolerância, é inaceitável. E isso aconteceu qunado Diego Cardallo começou a dançar. “Pra mim, dançar era dançar e eu queria aprender tudo o que fosse. Na minha cabeça não existia coreografia de menino e outra de menina, eu simplesmente queria dançar” Diego Cardallo Professor de heels class, jazz funk e sexy dance há 14 anos, Diego foi mais um de muitos bailarinos que já foram expostos a zombaria por querer dançar. Com 16 anos, em Brasília, onde começou a praticar, muitas vezes foi ridicularizado por querer aprender em sala de aula as coreografias criadas exclusivamente para as alunas do grupo. “Chegou um momento que eu fiquei tão sem graça que comecei a só olhar o que era passado para elas e ensaiava em casa depois da aula”. Depois de ter passado por inúmeros constrangimentos, Diego começou a se especializar no que


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