Ceos #5 Na raiz do preconceito (2020/1)

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A ERA EM QUE O VALOR MAIS IMPORTANTE É O DA BALANÇA ATITUDES GORDOFÓBICAS AINDA SÃO UM EMPECILHO PARA QUEM BUSCA SE SENTIR BEM COM O PRÓPRIO CORPO POR ANA LUÍSA RIBEIRO MARTINS

A obesidade é uma doença que tem recebido atenção dos médicos e especialistas. Já a gordofobia é um dos tantos tipos de preconceitos enraizados na sociedade. Essa situação vai ao encontro de duas histórias: a de Kerstin Schwalbe, 30 anos, e Carolina Sellmer, 21 anos. Ambas mulheres já sofreram com comentários e situações relacionados a gordofobia durante sua vida. Usar o termo “gordo” ou “gorda” é uma maneira coloquial para se referir a pessoas com excesso de peso. Tecnicamente, o termo correto é sobrepeso ou obeso(a). Carolina Guerini, professora do Departamento de Nutrição da UFRGS e do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, explica que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que caracteriza o sobrepeso é o Índice de Massa Corporal (IMC), tendo três graus de classificação.

“SEU ROSTO É TÃO BONITO, POR QUE NÃO EMAGRECE UM POUCO?” Segundo Carolina Sellmer, A frase acima já foi escutada diversas vezes na sua vida. Fotógrafa, estudante de publicidade e propaganda e modelo plus size, a jovem possui mais de 8 mil seguidores no seu perfil no Instagram, 6

onde fala muito sobre o preconceito. O sobrepeso é uma realidade que faz parte da vida de Carolina. “Eu sempre fui gordinha. Acho que a minha fase mais gorda foi em 2017, que eu estava pesando 105kg e estava demais para a minha autoestima”. A modelo conta que, durante a sua infância, sempre teve muitos amigos homens que a defendiam e a ajudavam a manter sua autoestima. “Nunca fui oprimida ou deixei de fazer algo por ser gorda”, afirma Carolina. Apesar disso, já ocorreram casos como a professora de sua escola se referir a ela por conta do seu peso. Por conta de um programa de reeducação alimentar da Secretaria da Saúde, dados sobre a estatura e o peso dos alunos foram recolhidos. Eles compilaram os números e ofereceram um programa de reabilitação para esses alunos. “Tive que ir de tarde, outro dia, na escola. Lembro de ir muito triste, porque nenhum dos meus amigos estavam, meninas ou meninos. Foi muito constrangedor ela ter me chamado na frente de todo mundo, porque eu sempre escondi meu peso, apesar de saberem que eu era grande. Nossa, que vergonha”, afirma a modelo. Ela conta que hoje, mais madura, entende que seria para mudar a sua saúde e sua vida. Mas que, na época, para uma criança, a exposição foi demais.

Ao contrário do relato de muitas amigas e seguidores nas redes sociais, Carolina nunca sofreu repressão por parte de sua família. “Sempre foi visto como normal, porque todo mundo é grande na minha família. Então, esse tipo de coisa não veio deles”. No entanto, cresceu achando que chamava atenção pelo peso, não por outras qualidades que tenha e, por isso, é bem posicionada e contesta os comportamentos negativos que vivenciou. “Eu sempre busquei respostas para isso, pela forma que me tratavam. Por que tu tá’ falando que eu tô’ gorda?


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