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REFRIGERAÇÃO PARANÁ Orgulho de todos nós
MINHAS MEMÓRIAS Um mergulho no tempo com a memória que ainda vive.
Eramis Braz Padilha
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Eramis Braz Padilha
MINHAS MEMÓRIAS Um mergulho no tempo com a memória que ainda vive
Ide para os vossos campos e jardins e aprendereis que o prazer da abelha consiste em retirar o mel da flor. Mas também a flor tem prazer em dar o seu mel à abelha. Pois, para a abelha a flor é uma fonte de vida. E para a flor a abelha é mensageira de amor. E, para ambas, abelha e flor, o dar e o receber de prazer é uma necessidade e um êxtase. Khalil Gibran
2020
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Índice Introdução..........................................................................................5 Capítulo I – Histórico Profissional............................................6 Capítulo II – O Retorno................................................................10 Capítulo III – O Patrão.................................................................12 Capítulo IV – A Fábrica no Guabirotuba..............................16 Capítulo V – Dentro da Fábrica...............................................18 Capítulo VI – O Aquecedor de Ambiente.............................21 Capítulo VII – A Grande Máquina...........................................24 Capítulo VIII – Lavadoras, Fogões e Bebedouros............26 Capítulo IX – Uma ideia que não deu certo........................29 Capítulo X – A Lã de Vidro.........................................................32 Capítulo XI – A Nova Ponte Rolante......................................35 Capítulo XII – Cenas do Cotidiano 1......................................38 Capítulo XIII – Cenas do cotidiano 2.....................................40 Capítulo XIV – A Fábrica 2.........................................................41 Capítulo XV – Graciosa Country Club....................................44 Capítulo XVI – Final de ano e Prêmios.................................47 Capítulo XVII – Protótipos........................................................49 Capítulo XVIII – Um Susto na Linha de Montagem........51 Capítulo XIX – Refripar- Electrolux......................................54 Capítulo XX – A Hora do Lanche............................................56 Capítulo XXI – Um Novo Eletrodoméstico........................58 Capítulo XXII – A Corrida e a Queda....................................60 Capítulo XXIII – O Triângulo Falsificado...........................62 Capítulo XXIV – O Aquecedor Portátil................................64 Capítulo XXV – Fumódromos na Refripar........................66 Capítulo XXVI – Acesso Proibido..........................................68
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Capítulo XXVII – A Cor do Dinheiro....................................70 Capítulo XXVIII – O Fator Feminino na Refripar...........72 Capítulo XXIX – O Bom Filho à Casa Torna......................74 Capítulo XXX – Inclusão Social..............................................75 Capítulo XXXI – Projeto Smile...............................................76 Capítulo XXXII – Homenagens..............................................77 Capítulo XXXIII – Trinta Anos de Casa..............................78 Capítulo XXXIV – Itália.............................................................80 Capítulo XXXV – Projeto Tanquinho..................................82 Capítulo XXXVI – Clube 3 Marias........................................83 Capítulo XXXVII – A Biblioteca – Ler e Escrever..........86 Capítulo XXXVIII – O Crachá e o Boato.............................88 Capítulo XXXIX – Inovando e Simplificando...................90 Capítulo XXXX – Acidente Zero............................................92 Capítulo XXXXI – Uma Longa Viagem...............................94 Capítulo XXXXII – Fim de Uma Jornada...........................96 Conclusão......................................................................................97 Galeria de amigos......................................................................97
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Introdução. Cada um de nós, desde o dia em que nascemos até hoje, temos a nossa própria história; história essa recheada de capítulos quer sejam eles importantes ou não, capítulos pessoais, capítulos profissionais, e que nem sempre percebemos o quanto eles determinam o rumo das nossas vidas. Assim que deixei o meu emprego na Electrolux em 2014, resolvi escrever as “minhas memórias”, desde o dia em que lá entrei, quando ainda era a Refrigeração Paraná, até o dia em que de lá me despedi. São apenas alguns momentos pessoais dentro da rotina de trabalho e que, uma vez lembrados, resolvi compartilhar com os amigos. Não é a história da fábrica. Portanto, nada de excepcional nas descrições a seguir; fiz apenas pelo prazer de escrever e de descrever aqueles momentos, enquanto a minha “memória ainda vive”. Quando comecei a escrever, eram textos esparsos, sem nenhuma pretensão didática ou literária. Eis que um dia alguns amigos sugeriram que eu escrevesse um livro. Então peguei aqueles textos, fiz uma formatação adequada e revisada, e resolvi reuni-los numa sequência que chamei de capítulos, como se fosse de fato um livro. Não seguem necessariamente uma ordem cronológica, pois, lembrar-se de datas passadas não é meu ponto forte, como poderão observar nas ressalvas no início de alguns capítulos. Para os amigos que não pertenceram, nem à Engenharia de Produtos e nem à Produção no chão de fábrica, sei que os relatos a seguir podem parecer alongados e até incompreensíveis, em função de alguns termos usados na Engenharia de Produtos, mas não há como descrevê-los de outra forma. Procurei ilustrá-los com algumas fotos da Internet para melhor entendimento, outras do Informativo Refripar, outras obtidas em eventos, algumas fotos minhas e alguns desenhos meus. Hoje fico pensando em quantas histórias, quantos momentos pitorescos que foram vividos por antigos amigos da Refrigeração Paraná, e que poderiam ser escritos e colocados à disposição do público, particularmente dos colaboradores, mas que, lamentavelmente, ficaram perdidos para sempre. Ao iniciar essas memórias sobre fatos vividos na Refrigeração Paraná, pensei em relatar apenas curiosidades e vivências ligadas diretamente com o ambiente fabril, com seus produtos, personagens, e que fizeram a história da empresa. Depois fiquei na dúvida se deveria ou não expor algo pessoal, pois poderia ser visto como uma autopromoção. Muito refleti sobre isso, e resolvi que não poderia deixar de registrar aqui, junto a essas memórias, o fato que deu início à minha longa jornada na Refrigeração Paraná.
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CAPÍTULO I HISTÓRICO PROFISSIONAL
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A rotina de trabalho, seja ele braçal ou intelectual, a gente vai adquirindo experiência e, portanto, avançando na nossa habilidade, sempre se sobrepondo à práticas anteriormente adquiridas.
Desde pequeno, como toda criança faz, gostava de desenhar; no meu caso, rabiscando papel de embrulho no balcão da mercearia do meu pai, lá no bairro Capão Raso. Ao avançar da idade, algumas crianças mudam de interesse por desenho e assumem outras habilidades. Eu mantive o gosto por desenho, e já na adolescência, com15 anos de idade, consegui meu primeiro emprego com carteira assinada como “Aprendiz de Desenhista” na Impressora Paranaense, que ficava na Rua Comendador Araújo, onde hoje está o Shopping Cristal. Foi ali que adquiri experiência com desenho gráfico e, claro, gostava disso. Atualmente, quando passo por aquele local, volto mentalmente ao passado lembrando o primeiro dia em que entrei ali, nessa casa da foto, buscando emprego. Daquela Indústria, hoje só resta essa casa frontal preservada, onde era o escritório da Impressora Paranaense. Quem passar por ali vai observar o símbolo “IP” nas grades daquelas janelas, como testemunho de uma grande empresa paranaense.
Fiquei quatorze meses empregado naquela empresa e, após, por circunstâncias que não vêm ao caso aqui descrever, fui com meus pais para o Interior do Estado, conseguindo emprego de desenhista, numa fábrica de celulose que estava sendo
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construída. Permaneci lá por quase três anos, trabalhando e aprendendo muito, dessa vez com desenho mecânico (dos 16 aos 18 anos).
Nessa foto: Eu, com 17 anos e o Office boy José Elias, no meu empego antes da Refrigeração Paraná. Na parede, uma pintura minha.
Nunca fiz um curso na área de desenho, por isso me considero um autodidata, aprendendo na prática do dia a dia e auxiliado por literatura técnica. Só deixei aquele emprego para prestar o Serviço Militar em Curitiba em 1965 e, depois disso, meu destino profissional ficou estabelecido na Refrigeração Paraná. PROCURANDO UM EMPREGO Em março de 1966, eu, então com 19 anos de idade, tinha saído há três meses do Serviço Militar em Curitiba, e estava desempregado. Voltei para o interior do Estado, mas empresa em que trabalhara como desenhista antes do serviço militar, não quis me readmitir porque estava falindo. Logo fiquei sabendo de uma fábrica de geladeiras no bairro Guabirotuba, chamada de Refrigeração Paraná, onde trabalhava a cunhada do meu irmão. Disse-me ela para que eu fosse até lá para ver se conseguiria alguma coisa. Não sabia nada a respeito daquela fábrica, mesmo assim me animei. Voltei para Curitiba.
Era uma manhã de quinta-feira 10 de março de 1966. Naquele dia me dirigi até a Refrigeração Paraná à procura do tão sonhado emprego. Chegando ao portão, falei com a pessoa que cuidava da entrada, dizendo que eu queria ir até ao Departamento de
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Pessoal. Ele me orientou, e lá chegando me apresentei ao então chefe do departamento, Sr. Lauro Golemba, - que já tinha sido indicado pela cunhada do meu irmão – e perguntei a ele se haveria uma vaga para desenhista. Nem tinha um currículo em mãos, apenas a cara, a coragem e a Carteira de Trabalho. Após alguns minutos de diálogo, contando meu pequeno “histórico” pessoal e profissional de três anos na área de desenho, deu por encerrada a entrevista e pegou o telefone ligando para alguém. Em seguida ele me pediu que o acompanhasse ao Escritório Técnico (Departamento de Engenharia no mezanino da Fábrica 1), e lá me apresentou ao Dr. Luiz Carlos B. Vieira que era o diretor técnico, ao Dr. August Jacques Vanhazebrouck que era o Diretor Industrial, ao Sr. João, técnico do departamento e também a outro técnico o Sr. Pieter Jan Valeton, - explicando que eu estava me candidatando a desenhista. Naquela ocasião, já trabalhavam lá dois estudantes de Engenharia Mecânica, e que faziam estágio na área de projetos, sendo que um trabalhava de manhã e estudava à tarde e o outro trabalhava à tarde e estudava de manhã. Um era o Luiz, o outro era o Manuel. O TESTE Foi então me dada uma peça para desenhar para testar minha habilidade; Era uma peça de plástico, que ainda me lembro da forma, (Suporte da Caixa Interna) e que ainda hoje sou capaz de reproduzi-la de memória, de tão marcante que foi na minha carreira, pois ali naquela peça, estava lançada a minha sorte. Se eu me saísse bem no teste, poderia ter o emprego, caso contrário... Para o teste, me forneceram os instrumentos de medições disponíveis, Paquímetro, Transferidor, Pente de Raios, e para desenhar, uma Lapiseira, Escala triangular, Compasso e uma prancheta com Tecnígrafo. (Na época, só grandes empresas possuíam Tecnígrafos - era um luxo. Empresas pequenas usavam Régua Paralela e esquadros de plástico.) Após uns 40 minutos terminei o teste e o apresentei para o Sr. João, juntamente com o Dr. Luiz Carlos B. Vieira. Após rápida analisada no desenho, o Dr. Vieira me pediu que o acompanhasse até o Departamento de Pessoal. Naquele momento estava apreensivo, e não tinha certeza se estava aprovado, mas essa dúvida se dissipou quando, no caminho, em pleno pátio da fábrica, ele me perguntou quanto eu queria ganhar de salário. Surpreso e sem saber o que dizer, respondi que aceitaria o que me fosse oferecido ou mesmo o Salário Mínimo. Naquele momento, como eu estava desempregado, qualquer oferta seria lucro! Cumprindo as formalidades de praxe, fui convocado para exame médico admissional no dia seguinte, e fui considerado apto. Na ocasião, o salário mínimo era algo em torno de 70.000 Cruzeiros e fui contratado com 100.000 mensais! Estava empregado!
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MEU PRIMEIRO DIA DE TRABALHO Quatro dias depois, no dia 14 de março de 1966, numa abençoada e iluminada segunda feira, começava minha longa jornada na Refrigeração Paraná.
MEU ÚLTIMO DIA DE TRABALHO Naqueles últimos dias de dezembro de 2000, (já Electrolux) corria o boato que haveria corte de pessoal na Engenharia de Produtos. Na época tinha sido contratada uma empresa de auditoria para analisar custos e despesas com pessoal. Foi um duro golpe quando fui chamado para uma tensa reunião com meu então chefe, e fui informado do que estava ocorrendo, visando à redução de custos no Departamento, e que, lamentavelmente, eu e outros colegas seríamos desligados da Empresa. E assim, em 20 de dezembro de 2000, terminou aquele primeiro ciclo na Refrigeração Paraná. Mas minha história não terminou aqui; continua.
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CAPÍTULO II
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O RETORNO
iquei desempregado durante quatorze meses após aquele 20 de dezembro de 2000, sem conseguir colocação em outra empresa, apesar de muitos currículos enviados e sem nenhuma resposta.
Mas naquela bela manhã de 04 de março de 2002, enquanto fazia uma arrumação na minha garagem, recebi um telefonema do meu antigo amigo da Engenharia de Produtos, o engenheiro Marco Antônio Pereira, e que viria a dar um novo rumo na minha vida. Na ocasião, o Marco Antônio liderava uma equipe na Engenharia de Produtos, que começava o desenvolvimento de fogões que a Electrolux planejava lançar no mercado. Como a equipe era pequena, precisava de mais mão de obra para colaborar no projeto; Marco então se lembrou de mim e me ofereceu a oportunidade de fazer parte daquela equipe. Não pensei duas vezes e aceitei imediatamente. Em poucos minutos já estava na fábrica tomando conhecimento do Projeto, e iniciando todo o processo para o novo emprego. Naquele momento, a Empresa não estava contratando novos colaboradores, porém, como era um novo desenvolvimento, havia a exceção para contratos com Autônomos ou Terceirizados ou Prestadores de Serviço. Assim, fui contratado, sem vínculo empregatício, sem registro em carteira, sem plano de saúde, sem férias, ganhando apenas por hora trabalhada, conforme valor estipulado. Melhor do que ficar sem emprego, pensei. Mas foi uma nova experiência em projetos, com outros conceitos em relação àquilo que estava acostumado na área de freezers e refrigeradores. Essa fase durou até 08 de agosto de 2005, quando fui dispensado dos projetos de fogões, pois eles – os fogões - já estavam no mercado e a fábrica não precisava mais do meu serviço. Estava novamente desempregado.
UMA NOVA CHANCE Dois meses depois, em 04 de outubro de 2005, e por indicação do Marco Antônio Pereira, recebi um telefonema do Sr. Flávio Monich (Engenharia de Lavadoras) me convidando (ainda como Prestador de Serviços) a participar do desenvolvimento de detalhes de um novo modelo de Lavadora que estava em projeto na ocasião. Imediatamente lá compareci, obtendo novas experiências na área de Lavadoras, ficando durante seis meses até abril de 2006, quando pedi para sair da área, pois o
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trabalho estava escasso, só que, desta vez, voltando para a área de projetos de fogões a convite do Marco Antônio Pereira, já que, naquele momento, novas versões dos fogões estavam sendo estudadas, e precisavam de mim novamente. Finalmente, no dia 12 de março 2007, deixei de ser Prestador de Serviços e fui registrado em carteira. A etapa final perdurou até 09 de maio de 2014, quando, em consenso com a Empresa, me desliguei em definitivo. Foi uma experiência longa e incrível essa vivência de quase 47 anos trabalhando na mesma empresa, aprendendo muito com os colegas de profissão e chefias de reconhecida competência em cada área, aos quais sou eternamente grato por terem divididos seus conhecimentos comigo e confiado no meu trabalho.
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CAPÍTULO III
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O PATRÃO
ra uma figura diferente no seu modo de agir, compenetrado e interessado em tudo aquilo que dizia respeito à Empresa. Não ficava só na sua sala da Diretoria; percorria a fábrica rotineiramente para ver o andamento da produção e anotar alguma coisa que deveria ser melhorada. Não poderia ser diferente, pois foi a peça chave na fundação da Refrigeração Paraná: JOÃO ANTÔNIO POSDÓCIMO, tratado carinhosamente como “Seu Joanin”.
Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente e de tê-lo um dia, sentado ao meu lado, conversando comigo e procurando resolver na prancheta um pequeno problema surgido no novo Projeto que estava começando.
UM FATO DIGNO DE NOTA Alguém já disse: “Uma imagem vale por mil palavras” - Como não tenho a imagem daquela ocasião, vou descrevê-la a seguir. Naquele dia – impossível lembrar a data; acho que era no fim de 1966 ou no início do ano de 1967 – eu, com 20 anos de idade, era funcionário recente na Engenharia (menos de um ano) e estava já às voltas com o projeto de uma nova versão da geladeira denominadas 129 e 134, que nós chamávamos apenas de “02” e “03”, ou 290 e 340 litros. Esses parâmetros de capacidade volumétrica determinavam as dimensões do gabinete interno (caixa interna) e do gabinete externo (caixa externa).
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Nos novos projetos, era recomendado que – na medida do possível – usássemos componentes já em uso nos modelos anteriores, a fim de economizar em ferramentais. Quando comecei o desenho na escala natural (1:1) da parte inferior daquele produto, (fundo) já apareceu o primeiro problema a ser solucionado. Essa peça que fechava o gabinete por baixo era levemente inclinada de trás para frente, tendo ainda uma inclinação maior na traseira, de modo que houvesse espaço para acomodar o compressor. Ocorre que esse compressor ficava alojado numa estrutura que era padrão, chamada de “berço”, o qual era fixado no Gabinete. Do jeito pretendido, o canto traseiro da caixa interna quase encostava a esse fundo, não dando muito espaço para o isolante térmico. Para piorar, o compressor ficava muito próximo desse ponto crítico, o que não era recomendado, devido ao calor desprendido pelo compressor durante o funcionamento. Bem sei que uma ilustração seria mais explicativa, por isso fiz esse desenho para melhor entendimento.
Como havia chegado a um impasse nesse particular, a menos que mudasse radicalmente alguns parâmetros pré-estabelecidos, não havia como levar a bom termo o projeto.
PROCURANDO UMA SOLUÇÃO É nesse ponto que entra em ação aquela figura carismática mencionada acima. Naquele dia, o Sr. João Antônio Prosdócimo fazia uma das visitas à Engenharia, e queria saber como estava indo o novo Projeto. Quando o vi acompanhado pelo Dr. Vieira e o Dr. August se aproximando da minha prancheta, - (para quem não conheceu essas duas pessoas, tratava-se do Diretor Técnico Luiz Carlos Baeta Vieira e do Diretor Industrial e August Jacques Vanhazebrouck) - fiquei um pouco nervoso e pensei: Ué, o que será que o Patrão está fazendo aqui?
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Ele educada e firmemente me perguntou sobre o andamento do Projeto; eu expliquei que estava indo bem de um modo geral, mostrando alguns detalhes, mas tendo dificuldade de achar uma solução para o problema surgido, devido a ter que usar o “berço” padrão. Mostrei a ele algumas simulações de montagem como alternativas. Ele olhou os desenhos, pensou um pouco, em seguida pediu-me a lapiseira e a banqueta; Sentou no meu lugar, baixou os óculos até a ponta do nariz e, meio sem prática no manejo do Tecnígrafo, começou movimentá-lo e a riscar em cima do meu desenho (Ai ai ai, pensei!) tentando achar uma solução. Não demorou mais que uns minutos e desistiu. Entregou-me a lapiseira, saiu da banqueta e disse: continue tentando. E foi embora. O jeito foi modificar o “berço” a fim de afastar o compressor, dando mais espaço naquele ponto crítico. E assim foi feito. Como se vê, era uma pessoa participativa. Um Presidente de Empresa, envolvido em grandes decisões, responsável pelo emprego de centenas de pessoas, ainda achando tempo para dar palpites no desenho de uma peça de produto. Coisa rara! – Lembrado ainda que o Sérgio, seu filho, não foi diferente do pai. Também tinha os mesmos hábitos na fábrica, inclusive dando palpites nos meus desenhos! Estava no DNA da família; ser atuante e participativo nas atividades da Empresa, e ter respeito por todos, sem estrelismo.
UM CASO CURIOSO Certa vez ouvi um relato, no qual o Sr. João Antônio Prosdócimo quase sofreu um acidente dentro da fábrica. Naquela época, sempre no início, no intervalo para almoço, e no final do expediente, ouvia-se a sirene tocar. Como é comum, até mesmo em escolas, o pessoal, ao ouvir aquele som, saia correndo de seus postos de trabalho, afunilando-se no corredor de saída. Conta-se que o Sr. João observava isso e não gostava dessa atitude dos trabalhadores. Num certo dia, resolveu enfrentar aquela situação, pondo-se de frente ao fluxo naquele corredor, a fim de evitar a correria no horário de saída. Mal tocou o sinal, e lá vem aquela turba disparada a “60 km por hora” pelo corredor. Os primeiros “atletas” logo notaram a presença parada daquela figura conhecida e desafiadora pela frente e “pisaram no freio” diminuindo a velocidade; mas os que vinham atrás não entenderam o que ocorria lá na frente e se chocaram com os mais lentos, justamente a poucos passos do Sr. João, que por pouco não foi derrubado e pisoteado! Imagine se tal ocorresse de fato, seria um acidente sério. Daí para frente, o pessoal foi orientado a não correr, mas isso era difícil de controlar. Era até engraçado ver o pessoal não correndo, mas andando com passos largos e rápidos, parecidos com aqueles atletas da “Marcha Atlética”.
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O DESCANSO DO GUERREIRO Naquela manhã um pouco nublada de 12 de novembro de 1967, cheguei de bicicleta no portão da fábrica e notei que havia alguma coisa incomum, diferente; Trabalhadores parados por ali cabisbaixos, outros voltando para suas casas, e nenhum som vindo da fábrica. Aquela sirene que todos os dias chamava os trabalhadores para assumirem seus postos, agora estava calada. Fiquei sabendo, naquele momento, que o Sr. João Antônio Prosdócimo havia nos deixado para sempre. A família refripariana estava de luto pelo seu grande Líder.
A HOMENAGEM PÓSTUMA. Mais tarde, já com a superintendência do Sr. Sergio Prosdócimo, foi criada a Fundação Joanin Prosdócimo – que trouxe muitos benefícios para todos os funcionários, em homenagem àquele grande pioneiro da Refrigeração Paraná.
UM MOMENTO FELIZ. Certo dia estive envolvido involuntariamente naquele empreendimento (Fundação Joanin Prosdócimo). Na ocasião, foi solicitada a uma empresa de propaganda, a confecção de um símbolo gráfico como identidade visual para a Fundação. Lembro que o Sr. Sérgio Prosdócimo analisou algumas propostas recebidas daquela empresa, mas não decidiu de imediato por nenhuma. Então ele me mostrou aqueles desenhos e me pediu para que fizesse mais algumas sugestões. Fiz três propostas e apresentei a ele. Em seguida ele convocou uma reunião dele com outras pessoas na Fundação, a fim de escolher uma das propostas que seria usada. Desnecessário dizer – mas já dizendo - que fiquei feliz ao saber que um dos meus desenhos foi o escolhido. A seguir, foi usado na impressão dos artigos da Fundação como, bolsas, mochilas etc. Era um círculo formado pelas letras estilizadas FJ-P.
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APÍTULO IV
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A FÁBRICA NO GUABIROTUBA
história da Refrigeração começou há muito tempo, e merece um volume à parte. Foi um desenvolvimento gradual ao longo da década de 50 e 60, sendo significativamente até 1963 quando mudou da Rua Marechal Floriano para novas e modernas instalações no bairro Guabirotuba em 1964.
Era assim quando comecei a trabalhar em 1966. Num dia de expediente normal na Refrigeração Paraná, um ou dois caminhões carregando na Expedição a grande produção do dia (cerca de 100 Refrigeradores com embalagem de madeira!). Lá no canto, o estacionamento interno com espaço para uns 20 veículos no máximo, mas que eram ocupados por uns 10, apenas para Diretores, Gerentes e Engenheiros. A maioria dos chefes de departamentos e funcionários ia para o trabalho de bicicleta, motoneta (Vespa, Lambreta) ou ônibus. Entre os veículos, havia um Studbaker antigo, entre outras antiguidades da época (Ford e Chevrolet) e alguns fusquinhas 1300. Lembro que o diretor Industrial, o Dr. August, tinha um fusca 1300 verde abacate, que mais tarde trocou por um “Simca Esplanada” (era um carro de luxo na época, sendo uma nova versão do Simca Chambord). O diretor técnico Dr. Vieira tinha um fusca 1300 azul marinho, que mais tarde trocou, se não me engano, por um Aero Willys. Já o Sergio Prosdócimo tinha um fusca 1300 dourado. Para outras pessoas da diretoria, não lembro que tipo de automóveis eles tinham. Para o restante dos funcionários, havia um bicicletário que comportava cerca de 200 bicicletas.
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A rua em frente (Min. Gabriel Passos) não tinha saída para a Av. Salgado filho, devido ao córrego que vem lá da lagoa, e que passava na parte mais baixa da rua e, sobre o qual havia apenas uma tábua para a travessia de pedestres que eventualmente passavam por ali. Que beleza! E só. A entrada e saída dos trabalhadores, bem como os caminhões de matéria prima e produtos embalados, se dava pela Rua Dionísio Baglioli, (hoje fechada) até a Av. Salgado filho. Restaurante interno? Nem pensar! Mas havia um Refeitório com aquecedor de marmitas para aqueles que moravam longe e traziam seu almoço, - (Houve um caso curioso de um funcionário – folgado - que foi pego comendo a marmita de outro...), porém, muitos funcionários (inclusive eu) almoçavam em suas casas, já que o horário era de duas horas; da 11h00 às 13h00, o que dava até para tirar uma soneca para quem morava nas proximidades. Andando pela fábrica nesse horário, era comum ver trabalhadores dormitando sobre placas de papelão pelos cantos da fábrica.
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CAPÍTULO V
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DENTRO DA FÁBRICA
o mundo, na vida, nada é permanente; tudo pode mudar a qualquer momento. Na nossa casa então, nem se fala! Uma nova pintura, uma ampliação, uma demolição, um eletrodoméstico novo, descarte daquilo que não serve mais, um conserto aqui, outro ali... Parece que nunca termina! Numa Indústria não é diferente.
MUDANÇAS e AUTOMAÇÃO Lembro-me que, todo ano ao se aproximar o período de férias coletivas na Refrigeração Paraná, havia uma movimentação entre o pessoal da Manutenção, Planejamento Industrial e Engenharia, para traçar planos de trabalho para quando a fábrica parasse a produção. Era nesse intervalo de produção que o interior da fábrica virava um canteiro de obra, com alteração no “layout” das linhas de montagem, retirada de equipamentos obsoletos, instalação de novos, mudança no piso, pintura nova, reparos em telhado, instalações elétricas e muito mais. O cronograma era apertado e tinha que ser concluído antes do retorno do pessoal. Salvo algum contratempo por conta de fornecedores, as coisas acabavam satisfatoriamente. Anualmente, o aspecto interno da fábrica ia mudando com as modificações e, principalmente com os novos equipamentos para a produção. A fábrica ficava mais moderna, mais limpa e, portanto, mais produtiva. A modernidade numa indústria vem para simplificar a fabricação de seus produtos, tornando mais rápida a produção, mas também tem o seu lado obscuro, que às vezes passa quase despercebido. Quando a Refrigeração Paraná (e outra indústria qualquer) nas décadas passadas produzia seus produtos, não havia muita tecnologia na fabricação; os equipamentos eram antigos, pouco produtivos e empregava muita mãode-obra braçal mesmo, pincipalmente na Metalurgia. Lembro-me da grande quantidade de pessoas em volta das máquinas e dos dispositivos, manuseando e soldando grandes peças metálicas, outros martelando, outros lixando. O ambiente era muito barulhento e com pouca ventilação. Para produzir um refrigerador tipo monobloco, isto é, um gabinete composto de várias peças unidas entre si, como era o caso dos produtos na época – anos 60/70, esse processo era quase artesanal, e por isso, muito demorado. Não apenas na área metalúrgica, mas também em outros setores da fábrica acontecia a mesma coisa. No setor de plásticos tinha muita mão-de-obra no acabamento e colagem de peças. Na pintura era tudo manual; os pintores com gorros, óculos, máscaras e com pistolas davam conta do recado, já que a produção era pequena. Mais tarde a pintura foi automatizada na fábrica 1, dando mais impulso à produção.
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Outro ponto problemático na produção estava na linha de montagem do refrigerador. Sendo o gabinete composto de várias peças metálicas, sempre havia frestas entre elas que deveriam ser vedadas internamente, antes de seguirem em frente na linha. Essa vedação era muito importante, pois sem ela o produto poderia apresentar sudação externa durante o uso. Na época, essa vedação era feita com asfalto – isso mesmo – que era derretido num recipiente aquecido a gás, no início da linha de montagem. O funcionário enchia uma caneca no recipiente que continha o asfalto e derramava naquelas frestas a fim de vedá-las. Mas antes dessa operação, e para evitar que o asfalto escorresse para fora do gabinete, as frestas internas maiores eram preenchidas com pedaços de jornal velho – por incrível que pareça, um item “importante” na fabricação da geladeira era... Jornal velho, sim senhor! Ao lado da linha tinha uma pilha da Gazeta do Povo e da Tribuna do Paraná! O pessoal, de vez em quando, até dava uma lida em notícias velhas! Agora, imagine a poluição, o cheiro forte no local com o asfalto sendo derretido num caldeirão na sua frente! Não era trabalho fácil para os operadores. (Houve pelo menos um caso, em que o operador da caneca deixou de efetuar a vedação numa geladeira, e essa geladeira foi parar justamente na casa do meu sogro; algum tempo de uso, começou a sudação externa e umidade no chão. Desconfiei do problema e desmontei-a e, de fato, estavam lá todas as frestas sem jornal, sem asfalto, e com a lã de vidro encharcada! Tive que fazer a vedação com um punhado de asfalto que levei da fábrica e, depois de secar a lã montar tudo novamente). A seguir era introduzida no gabinete uma manta isolante de lã de vidro, antes de encaixar o gabinete interno no externo. O manuseio dessa manta exigia que os operários naquele posto – e também na montagem de portas - usassem máscaras, gorros, óculos de proteção e luvas sintéticas longas. A movimentação dessa manta tinha que ser com muito cuidado para não dispersar resíduos no ar do local. Havia, de fato um pouco de poluição. Mas esse era o método de fabricação vigente. Era o que se fazia na época naqueles produtos; calafetador químicos para o caso era muito caro, razão para que se usasse o asfalto. Esse processo perdurou até o dia em que a fabricação daqueles produtos foi definitivamente encerrada, dando lugar a uma nova geração de produtos que viria a seguir, com novos métodos de trabalho, novos equipamentos e automação de processos, simplificando a produção, o que resultava num ambiente mais limpo, mais seguro, mas também na redução do número de pessoas nos postos de trabalho. Lembro-me de alguns cortes de pessoal, principalmente no chão de fábrica, o que nos deixava entristecidos vendo aquelas pessoas sendo dispensadas do seu trabalho. Às vezes os cortes de pessoal tinham – e ainda tem - outros motivos, como, a baixa demanda dos produtos no mercado e acúmulo de estoque; outras vezes, não havia dispensa, mas eram dadas férias coletivas fora de época, enquanto o estoque permanecia alto. Em casos mais sérios, chegava-se ao cancelamento de algum turno de
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trabalho. Às vezes era motivos financeiros mesmo como “redução de custo”, não apenas no chão de fábrica, como também na área administrativa e técnica. O interessante é que, quando passava aquela fase ruim, a empresa voltava a contratar, dando preferência para ex-funcionários. Por outro lado, conheci muitas pessoas que, por razões pessoais, saíram da empresa para novos desafios, como costumavam dizer, porém, passados alguns anos, lá estavam trabalhando novamente na Refrigeração Paraná. Parece que a empresa era um ímã que atraía muitos daqueles que se afastavam, e também segurava muitos daqueles que pretendiam sair. Eu mesmo, em duas ocasiões, pensei em sair da Refrigeração Paraná, e até fui a outras empresas procurando uma vaga. Numa delas cheguei a fazer uma entrevista, mas nunca mais voltei lá para saber o resultado. Acredito que os amigos que trabalharam lá na época, vão se identificam com essa situação. Mais recentemente na Electrolux, fui dispensado e, no entanto, pouco mais de um ano depois fui chamado de volta para fazer aquilo que mais gostava: Projetar! É traumático para um trabalhador, ser dispensado do seu emprego, porém, uma empresa é impessoal; tem a finalidade de gerar lucro para seus proprietários ou acionistas, e só sobrevive com a venda dos seus produtos, caso contrário, fecha as portas. Isso lembra uma frase atribuída a Henry Ford: “Não é o empregador que paga os salários – ele apenas administra o dinheiro - Quem paga o salário é o produto”. Logo, se o produto é bom, moderno, bem feito, atrativo e competitivo, só pode ter boa aceitação no mercado, dar lucro para a empresa, e satisfação para aqueles que contribuíram de alguma maneira na sua fabricação.
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CAPÍTULO VI O AQUECEDOR DE AMBIENTE
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uem lembra ou não teve um desse? Eu tive um na cor bordô! Esse era o objeto do desejo quando foi fabricado e disponibilizado para os colaboradores. O nosso clima recomendava...
Quando entrei na Refrigeração Paraná em 1966, ainda não era fabricado, mas estava para ser lançado, ainda naquele ano no mercado. Esse produto era da marca Flandria, uma indústria belga, detentora da Patente, e a Refrigeração tinha adquirido o direito de fabricação no Brasil com o nome Prosdócimo. Naquela época, vieram alguns exemplares para testes e também todo o ferramental de estamparia. Já o sistema de gás foi desenvolvido nacionalmente. As placas de cerâmica refratária do queimador eram importadas, pelo menos no início da produção. O produto teve boa aceitação no mercado e sua fabricação, pelo que me lembro, foi até 1973, quando comprei um. No Escritório Técnico (Engenharia) não tínhamos ar condicionado, e no inverno esse aquecedor era muito bem vindo. Vários deles espalhados pelo escritório. Algum tempo depois foram instalados dois Condicionadores, mas não davam conta devido a grande área do escritório. No verão esses Condicionadores também não eram suficientes e o calor lá dentro não era pouco.
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O AQUECEDOR EMBUTIDO
Dois anos depois em 1968, tendo o sistema gás disponível, foi lançada uma versão do aquecedor fixo para ser embutido na parede, (ver desenho) destinado a locais apropriados para sua instalação, já que exigiria local com ventilação, abertura em paredes de alvenaria, instalação de gás etc. o que limitava seu uso a poucos interessados dispostos a esse trabalho. O investimento foi pequeno para esse produto, pois usava ferramentas existentes. A produção não foi muito significativa na época, já que não houve grande demanda para o produto, e logo a produção foi encerrada. E morreu.
A CHURRASQUEIRA PORTÁTIL
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Paralelamente, aproveitando o queimador existente, foi feita uma churrasqueira portátil a gás, apenas para distribuição como brinde para fornecedores e outros. Com mostra o meu desenho, era uma maleta metálica com pés escamoteáveis. Dentro dessa maleta se acomodavam todos os componentes; espetos, grelha, queimador, mangueira e válvula de gás. Era de fato um objeto bem prático para quem gostava de pequenos assados. Claro que também tinha o inconveniente do imprescindível botijão de gás por perto, o que limitava seu uso apenas para áreas externas da casa. Da mesma forma que o aquecedor de parede, sua produção foi incipiente, limitando-se a algumas dezenas de exemplares. E morreu. Saudades daqueles meus desenhos!
A PRENSA QUE NÃO FUCIONAVA DIREITO
Foto internet Para comportar as grandes ferramentas de estampo do Aquecedor, só mesmo uma prensa hidráulica com capacidade compatível. Na ocasião, estava sendo reformada uma Prensa Hidráulica pelo pessoal da Manutenção da Refrigeração Paraná, semelhante a essa da foto. Ocorre que aquela máquina deu muito trabalho, tanto para sua reforma quanto para funcionar satisfatoriamente. Depois de terminada a montagem, começou a fase de testes. Começaram também os problemas: Não tinha força suficiente para aquilo que se propunha e, além disso, vazava óleo para todo lado. Nova modificação e substituição de bombas, válvulas, mangueiras etc. Até que, depois de meses vendo o pessoal mexer naquela “geringonça”, finalmente funcionou “quase” perfeitamente. Foi então deslocada para seu local de trabalho no meio da Metalurgia, e iniciada a produção das peças do aquecedor; sempre com algum vazamento aqui e ali. O piso naquele local ficava imundo! Não lembro exatamente quanto tempo durou a fabricação do aquecedor, acho que foi de sete anos; só sei que encerrada a produção, aquela prensa foi vendida.
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CAPÍTULO VII A GRANDE MÁQUINA
J
á próximo ao encerramento da fabricação do Aquecedor, veio a fabricação das máquinas de lavar roupas da extinta BENDIX em 1971. Junto com o ferramental de estamparia das peças das máquinas, veio também uma Prensa Hidráulica que fazia aquele serviço; era algo nunca visto antes na Refrigeração Paraná. Acho que deveria ter uns 2,5 metros de largura por uns 5 metros de altura, fora a parte que ficaria abaixo do nível do piso. (semelhante a essa da foto)
Foto Internet Durante alguns dias, essa prensa virou “atração turística” na fábrica, tal era o ineditismo do fato. A começar com a chegada de uma carreta trazendo aquele “belezura”. Parecia uma celebridade do cinema chegando, com direito a fotos e admiração do pessoal, (só faltava dar entrevistas...) e pelo seu descarregamento na rampa de recepção de chapas. Um trabalho lento e cuidadoso com auxílio da Ponte Rolante antiga, correntes e macacos hidráulicos. Suponho que deveria pesar, pelo menos, umas oito toneladas. A seguir, começa a operação de movimentação da “celebridade” em direção ao seu local de trabalho. Deitada sobre roletes de aço ia sendo puxada lentamente por cabos de aço e macacos hidráulicos. O percurso era de aproximadamente 20 metros, desde a rampa até o fosso previamente cavado e concretado, justamente onde tinha sido usada a antiga prensa do Aquecedor. Para chegar até onde seria instalada, foi necessário retirar temporariamente algumas máquinas por onde iria passar. O trajeto não era uma linha reta, já que no caminho havia colunas do prédio, o que exigiu algumas manobras na rota, complicando o trabalho do pessoal.
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A altura da “menina” chegava até a estrutura de madeira do teto, razão pela qual, até o telhado naquela área teve que ser aberto para se colocar andaimes, suportes e guinchos para levantá-la e colocá-la no seu devido lugar. Foi uma operação lenta e cuidadosa, feita apenas com poucas pessoas envolvidas, mantendo-se os curiosos a uma distância segura. Vai que aconteça algo imprevisto... Uma vez no lugar, mais alguns dias para ajustes, montagem de componentes e testes, finalmente estava funcionando. Teve início, então, a fabricação dos quatro modelos da Lavadora KARINA. Alguns anos depois, com o encerramento da fabricação das lavadoras e sendo vendido o ferramental, junto foi também aquela prensa, e o fosso onde ela estava foi aterrado e concretado. Fim de mais um capítulo na história da Refrigeração Paraná.
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CAPÍTULO VIII LAVADORAS, FOGÕES E BEBEDOUROS.
T
alvez poucas pessoas sabem que a Refrigeração Paraná não fabricava apenas refrigeradores e freezers. Lá nos anos 70/71, eram fabricados quatro modelos de máquina de lavar roupas e dois modelos de fogões e três modelos de bebedouros. Na verdade, as lavadoras eram produtos que a BENDIX deixara de produzir no Brasil, e a Refrigeração Paraná adquiriu todo o ferramental e passou a fabricá-los em Curitiba, no Guabirotuba. No caso das lavadoras, eram dois modelos grandes, sendo uma “Karina Automática Luxo” com alguns adereços e tampa em laminado padrão Jacarandá, e outro modelo mais simples “Karina Super. Automática”. Já os modelos menores, eram mais populares, muito semelhantes aos “Tanquinhos” atualmente no mercado. Um deles era bem simples chamada de Karina Pekina e o mais “sofisticado” chamado Karina Pekina Matic - esse dispunha de dois rolos de borracha num suporte acoplado ao gabinete e movidos à manivela, (muito parecido com aqueles rolos de afinar massas) destinados a espremer a roupa depois de lavada, fazendo às vezes da centrifugação! Era uma verdadeira traquitana! Nos modelos maiores, o sistema de funcionamento era diferente daquilo que estamos habituados a ver; ou seja, tinha o agitador semelhante ao que conhecemos, porém o Cesto interno era uma grande bolsa circular de borracha e estática, isto é, não girava para fazer a centrifugação; em vez disso, a máquina dispunha de um sistema aspirador que retirava o ar da bolsa e, dessa forma, ela espremia a roupa no fim da operação, eliminando a água restante nas roupas, sabendo-se que a tampa da máquina vedava hermeticamente a “boca” da bolsa. Era um sistema realmente estranho, mas funcionava. Naquelas máquinas o agitador, a bomba de escoamento e o aspirador que fazia o vácuo na bolsa e alguns componentes não eram de plástico e sim de Baquelita – esse material é um pó preto, sintético, que injetado num molde, forma a peça e é resistente ao calor. Esse material era usado antigamente, principalmente em cabos de panelas, carcaça de disjuntor etc.- No caso da Refrigeração Paraná, havia essa máquina de injeção da Baquelita e, quando estava em funcionamento, o cheiro forte e característico desse material se espalhava pela fábrica, pela vizinhança! (quem já queimou um cabo de panela com esse material, já sabe do cheiro). No caso dos fogões, foi um breve período e fabricação; Grande parte das peças era saldo do fabricante anterior. Uma vez esgotadas, encerrou-se a fabricação.
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Foi nesse lote de aquisição que veio também uma grande máquina para a Metalurgia para modernizar a confecção do gabinete do refrigerador. Era a tal “Rollforming” que recebia a chapa plana estampada numa ponta e entregava o perfil do
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gabinete dobrado na outra extremidade, eliminando, portanto, a trabalhosa operação da Prensa Viradeira. Com isso, a produção foi aumentada. Esse processo funcionou por vários anos, sendo, um dia, encerrada a produção dos refrigeradores com isolante de lã de vidro e essa máquina foi vendida. Foi também nessa época que a Refrigeração Paraná fabricava dois modelos de bebedouros verticais com garrafão de 20 litros, sendo um deles apenas com torneira para água gelada, e outro com duas torneiras, sendo uma com água gelada e outra com água quente. Também tinha outro bem simples e pequeno, apenas para água natural, destinado à bancada. Esses produtos não tinham a marca Prosdócimo, pois eram fabricados sob encomenda da Empresa fornecedora de águas Indaiá. Nas áreas administrativas e na Engenharia, tínhamos à disposição esses aparelhos para quem quisesse tomar água gelada o para preparar um chá ou café.
Bebedouro - Saudades dos meus desenhos!
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CAPÍTULO IX UMA IDEIA QUE NÃO DEU CERTO
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m novo produto ou uma melhoria posterior nele, só vai para o mercado depois de muito estudo, planejamento, protótipos, pesquisa de mercado, testes de funcionamento, teste de campo, teste de transporte etc.
Numa Engenharia de Produtos, nem sempre as coisas dão certo; é um laboratório de experimentação. Às vezes, aquilo que parecia ser uma boa ideia, uma melhoria no produto, nem sempre era viável. Mesmo sendo feito Protótipo e testada, pode acabar sendo abandonada, seja por alto custo no investimento, seja por não aceitação numa pesquisa de mercado. Passei por muitos desses episódios ao longo dos anos em que lá estive. Apesar de frustrantes, valeram como experiência. O pessoal da Engenharia de Produtos e da Produção vai entender muito bem o drama descrito abaixo... Coisas do dia-a-dia.
A BASE PLÁSTICA DO REFRIGERADOR
Acho que foi por volta de 1985, (não sou muito bom em memorizar datas) com a implantação do poliuretano como isolante térmico nos novos produtos, foi sugerido aplicar esse isolante também na geladeira 340, que era o último produto com isolante de lã de vidro que era fabricado na Refrigeração Paraná. E claro, a pessoa que aqui escreve, foi incumbida de fazer um estudo e desenvolver aquele Projeto. Para isso, a ideia proposta inicial, era fazer uma base plástica de modo a se encaixar na parte inferior do gabinete da então geladeira, e com
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isso eliminar várias peças metálicas. Teoricamente haveria uma redução de mão-deobra na Metalurgia e na Linha de Montagem, mas naquele momento o foco de atenção era apenas na Base; não se vislumbrava implicações e futuras dificuldades. A ideia não era absurda, mas já de início seria necessário um novo gabinete externo, pois o existente era impraticável naquele caso. A proposta tinha certas vantagens em relação àquilo que estava em uso. Além de servir de fechamento inferior do gabinete, deveria ter sapatas de apoio, um nicho para acomodar o compressor, encaixes diversos para fixação de tubulação, filtro secador, fixador do cabo elétrico etc., além de um sistema de encaixe em toda a periferia para o gabinete, de forma que a montagem formasse um monobloco sem uso de parafusos. A ideia era ousada! Vamos ver o que vai dar. Tarefa dada, vamos em frente.
O DESAFIO Comecei a traçar o desenho, no formato A-0, escala 1:2 que a cada dia ficava mais intrincado, necessitando de muitos detalhes à parte, para que pudesse ser inteligível e atender aos requisitos iniciais e, mais ainda, prever como tal peça pudesse sair do molde que iria produzi-la. Naquela ocasião, o Sr. Marco Moro Prosdócimo da Diretoria, estava de viagem marcada para a Itália, e na sua agenda constava uma visita a uma indústria que produzia moldes para injeção de plástico pelo processo de “Air Mold”, específico para peças de grandes dimensões. Claro que queria levar o meu desenho para um orçamento e eventual fabricação do molde. O prazo estava se esgotando, o tempo passando e eu ainda com aquele enorme desenho a cada dia mais complicado na prancheta. Tinha até dificuldade de achar espaços para novos detalhes necessários.
A PRESSÃO Na última semana do prazo estipulado, me senti pressionado a trabalhar fora do horário normal e também no sábado e domingo inteiro para concluir aquele desenho o quanto antes. Dá para imaginar a tensão daquelas últimas horas! Finalmente o projeto foi finalizado à duras penas. Um desenho muito “poluído de detalhes” e um tanto confuso que, para minha avaliação, merecia uma revisão total e até redesenhado em mais folhas. Confesso que fiquei até com vergonha de apresentar aquele desenho, mas não havia alternativa; o tempo não permitia; já estava nos 44 minutos do segundo tempo, e sem possibilidade de prorrogação! O desenho em prancheta era lento e braçal e não permitia as facilidades do desenho eletrônico de hoje. E assim, o desenho daquele jeito cruzou o Atlântico. Boa viagem!
O COMEÇO DO FIM
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Enquanto isso, na fábrica foi feito um protótipo artesanal e experimental dessa peça e do gabinete, mas não ficou satisfatório, pra não dizer horrível. Passado uns meses, chegou à fábrica aquele molde enorme, pesando duas toneladas e algumas peças de teste. Confesso que aquelas peças não me inspiravam confiança; continham rebarbas e falhas. Como na fábrica não tinha injetora que comportasse aquele molde, a solução seria mandar injetar fora, mas por algum motivo, não foi feito; nem procurei saber, pois não era assunto de minha competência ali na minha banqueta de madeira na frente de uma prancheta. Ficou claro que o investimento necessário para o projeto não se limitava a essa peça; iria além, seria alto, principalmente em uma ou mais Injetoras de Poliuretano, Moldes para espumação, Ferramental para estamparia do gabinete, nova Caixa Interna, (possivelmente em plástico – aquela existente era metálica) readequação da Linha de Montagem e, provavelmente, uma Injetora de Plástico de alta capacidade devido ao tamanho da peça etc.. Era muita coisa envolvida para um produto já tecnologicamente defasado e, portanto, com os dias contados. Ou seja: não dava para, apenas agregar uma peça nova num produto existente; a coisa não era tão simples, ia muito além; teria que ser um novo projeto, completo, partindo do zero! Imagino que a Diretoria, certamente, avaliou tudo isso e resolveu colocar uma pá de cal em cima da ideia. E assim foi feito.
O FIM Aquele molde grandalhão ficou encaixotado, sem uso e morreu, sumindo em algum depósito ou ferro velho. Foi o fim de uma ideia interessante, mas que mal tinha nascido e o projeto abandonado. Não muito tempo depois, a geladeira 340 teve a sua fabricação encerrada. Fim de uma era. São coisas da vida; algumas ideias dão certo, outras não. A gente não aprende com as coisas que dão certo; aprende com os erros. Moral da história:
“Fazer remendo numa roupa velha e fora de moda, pode não ser um bom negócio; se for pequeno e pouco dispendioso, é aceitável; agora, se for muito grande, pode não ficar bom e acabar saindo muito caro. O melhor é investir numa roupa nova”. Mais uma tarefa cumprida.
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CAPÍTULO X A LÃ DE VIDRO
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Uem, mas quem nunca lambeu um algodão doce ou passeou com seus filhos por um parque, praça ou pelo Passeio Público? Lá estava um tiozinho com seu carrinho fazendo e vendendo algodão doce. Lembro que meu filho pequeno ficava admirado com aquela centrífuga girando, e o algodão aparecendo nas paredes daquela panela. Parecia mágica. Claro, o piá saía dali com um palito cheio daquele doce e logo ficava com a cara e mãos grudentas! Ah! As crianças! ALGODÃO DOCE
Foto Internet
A lã de vidro usada como isolante térmico nos refrigeradores e congeladores antigos, era produzida praticamente da mesma forma que o algodão doce, - claro, guardadas as devidas proporções - apenas no lugar do açúcar derretido, usava vidro derretido e algum aditivo numa centrífuga enorme. Mas o efeito era o mesmo. Esse processo com o vidro produzia além de fumaça, um cheiro forte no ar (Não tenho certeza, mas acho que era um aditivo químico chamado Aldeído Fórmico) e, dependendo da direção do vento, a fumaça e cheiro invadiam a Engenharia na fábrica 2, que ficava bem próxima. Um horror! Acho que a vizinhança não via com bons olhos aquela situação...
VIDROLAN A Vidrolan - empresa que fabricava a lã de vidro ao lado da Refrigeração Paraná – pertencia à firma Prosdócimo S/A desde a sua fundação em 1962 até 1982, quando então foi incorporada pela Refrigeração Paraná. Essa empresa recebia sua matéria prima em caçambas, que chegavam diariamente cheias de cacos de vidro, provenientes,
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principalmente do descarte de resíduos de empresas de bebidas da região metropolitana, onde tudo era engarrafado em vidro e não em PET e, naturalmente havia muita quebra de garrafas.
Na fabricação da lã, o material era lavado eliminando impurezas, e depois derretido, passando em seguida para a centrífuga, (enorme) donde saiam em filamentos que formavam aquele aspecto de algodão doce, sem forma definida. A seguir, passava para outra máquina para compactá-la e moldá-la em forma de manta, sendo depois recortada conforme pedido do cliente. Por ser um material muito fofo, aplicava-se uma espécie de costura espaçada sobre a superfície dessa manta, de modo a assegurar precariamente que, no manuseio, a mesma não desagregasse. Durante a montagem no produto, era necessário cuidado, sem movimentos bruscos, a fim de manter a sua integridade e para evitar resíduos flutuando no ar. Era uma operação delicada. Naturalmente os operadores daquele posto de trabalho estavam equipados com gorros, máscaras, luvas e óculos de proteção. Tanto na fabricação quanto no uso, se dava em ambiente pouco salubre. Na Engenharia, cada peça do produto era desenhada tendo todas as especificações quanto a dimensões, material, peso, densidade, acabamento etc. A manta de lã de vidro também tinha seu desenho, que era bem simples; comprimento largura e espessura e especificação quanto à densidade, peso, fator “K” de isolamento térmico requerido que atendesse ao gradiente de temperatura especificado, entre o gabinete interno e o externo e, eventualmente alguma nota a mais. Mas, sendo um material tão irregular e fofo, como é que poderiam ser controladas as dimensões? No comprimento e largura não tinha problema; a precisão não era tão rigorosa, mas a espessura era importante, pois, se não atendesse as especificações, poderia ocorrer sudação externa no gabinete da geladeira ou do congelador, o que seria inadmissível.
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Foto Internet
Cabia ao Controle de Qualidade verificar a espessura a cada lote, usando um medidor muito peculiar: Colocava-se a manta sobre uma mesa e, sobre ela o dispositivo, que era uma placa metálica padronizada (mais ou menos 20 x 20 cm) que tinha um furo no meio; e através desse furo passava uma haste graduada em mm até encontrar a superfície sólida da mesa. Em seguida, fazia-se a leitura na haste em relação com a superfície da placa. Atualmente esse material não é mais usado em geladeiras e freezers, mas ainda é usado como isolante térmico em fogões, fornos, tetos residenciais etc. A tecnologia na fabricação de hoje é mais moderna e são fabricadas além de mantas, também em placas mais densas conforme aplicação, e ainda revestidas com lâminas de alumínio, que dá uma forma mais rígida ao produto. Com o encerramento da fabricação dos produtos que usavam esse isolante na Refrigeração Paraná, a Vidrolan foi desativada e demolida. Hoje no seu local está o prédio da Engenharia de Produtos.
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CAPÍTULO XI
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A NOVA PONTE ROLANTE
o meu cargo de desenhista na Engenharia de Produtos, frequentemente apareciam tarefas não diretamente ligadas ao dia a dia da rotina de desenho de Produtos. Já contei aqui, atribuições extras que me foram confiadas, pois na época não se dispunha de um profissional na área de manutenção para serviços de desenho de equipamentos ou instalações. Uma dessas tarefas que ainda me lembro, foi quando a Fábrica resolveu adquirir da Usiminas ou da CSN, fardos de chapas de maior volume e peso do que aqueles que até então eram adquiridos. Não lembro exatamente qual era o peso máximo daqueles fardos, mas era em torno de duas toneladas, e a Ponte Rolante do depósito de chapas tinha a capacidade de três toneladas. Claro que os fardos não chegavam a tanto, mas com a intenção de aquisição de fardos maiores devido ao incremento da produção, era necessária uma Ponte Rolante de maior capacidade; no caso, fardos de cinco toneladas.
Foto Internet Para que aquele equipamento fosse encomendado, era necessário que a Refrigeração Paraná enviasse ao fornecedor, um desenho da situação atual do local de instalação, a fim de que o projeto se adequasse ao espaço disponível.
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Foto Internet – situação idêntica àquela da Refrigeração Paraná. E adivinhe quem foi a pessoa escalada para resolver essa tarefa? Pedi emprestada uma escada e uma trena longa da Manutenção e lá fui subindo quase até o teto do depósito de chapas, me apoiando na estrutura de madeira empoeirada do telhado, espantando algumas pombas que se empoleiravam por ali. A missão (possível) era de fazer um esboço das vigas laterais do prédio e do espaço disponível acima dos trilhos e, naturalmente, o posicionamento dos próprios trilhos sobre as vigas, por onde se deslocaria a Nova Ponte Rolante. Não foi fácil de esboçar o local e tomar todas as dimensões requeridas, já que estava sozinho e os trilhos no alto, distanciados cerca de nove metros. Mas com calma e persistência, andando nas alturas, prendendo a Trena num trilho, descendo a escada e posicionando novamente a escada distante nove metros, subindo novamente para fazer a leitura na trena da distância entre os trilhos, e também das dimensões do perfil do trilho. Para quem não está habituado com esses termos, vale aqui dizer que a Ponte Rolante é uma espécie de guindaste móvel sobre trilhos, e que se usa para elevar cargas pesadas e depositá-las noutro local. No caso, para descarga dos caminhões quando chegavam com fardos de chapas de aço. Essas dimensões eram muito importantes, pois delas dependia o projeto do Fornecedor da nova Ponte Rolante, sendo que a distância entre os trilhos era fundamental. Imagine um trecho de estrada de ferro que, por algum motivo, tenha um dos seus trilhos afastados de alguns centímetros... O trem fatalmente descarrilhará e tombará. Com a Ponte rolante era a mesma coisa. Erro zero! Terminada a tarefa de esboço, fui para a prancheta passar a limpo aquele desenho. Antes de entregar a quem me solicitou, e para ter certeza que não havia erro,
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voltei para o local e conferi todas as medidas tomadas. Tudo certo. Batendo a poeira da roupa, assumia novamente o minha rotina de trabalho. Assim, o desenho foi para o fornecedor. Alguns meses depois chegou aquela belezura amarela para ser descarregada e instalada. Eu, lá de longe só ficava observando o pessoal posicioná-la no alto, no seu local de destino. Que alívio! Encaixou direitinho nos trilhos! Em seguida veio o teste de rolamento. Deslizou suavemente e “ronronando feito uma gatinha” em toda a extensão do curso no Depósito de Chapas. Mais uma tarefa cumprida.
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CAPÍTULO XII CENAS DO COTIDIANO - 1
A
UM CAVALINHO COM FRIO
Avenida das Torres no bairro Guabirotuba (que hoje não tem mais torres), nos anos 60 era apenas um caminho estreito, de uma só pista pavimentada com saibro, que ia da BR 116 até a Av. Francisco H. dos Santos, onde hoje está a Ponte Estaiada. Havia uma linha de ônibus nessa “avenida” poeirenta que atendia a região, mas só chegava um pouco antes do atual Wal-Mart. Depois da Av. Francisco, sentido Uberaba, não havia mais a rua e sim um campo vazio. Só mais adiante havia um trecho pavimentado. A Av. Francisco H. dos Santos também era uma rua estreita, poeirenta nos dias secos, e barrentos nos dias de chuva! Onde hoje é a Wal-Mart, era um imenso terreno vazio. Houve até um boato na época, que a Refrigeração Paraná estava interessada em comprar aquela área. Mas o negócio não foi pra frente. Enfim, toda a região era pouco habitada, quase no “fim do mundo” pra quem vinha do centro. Foi ali nessa região, chamada na época de Corte Branco (Não sei a origem desse nome) que a Refrigeração Paraná resolveu instalar sua nova fábrica de geladeiras em 1964. Eu já me referi anteriormente no capítulo 1, que a Rua Ministro Gabriel Passos era de saibro, mas não havia muito pó porque não tinha tráfego, pois não tinha saída para a Av. Salgado filho. No outro lado da rua em frente à Refrigeração Paraná, o terreno vazio tinha um desnível de mais ou menos uns três metros. Era uma faixa de uns 20 metros de largura, paralela à rua que ia da atual cancha esportiva até o córrego, onde hoje é o estacionamento de veículos. Aliás, essa área naquela época não pertencia à Refrigeração Paraná, sendo comprada mais tarde, justamente para a construção do novo Prédio Administrativo. Esse terreno era limitado por uma cerca de arame em toda sua extensão, além da qual se estendia em direção ao centro da cidade, um campo aberto, onde mais tarde foi construído aquele conjunto residencial. Ali naquele campo existia uma pequena ondulação, e sobre a qual havia uma casinha onde ficava a torre de transmissão da Rádio Guairacá, e pouca coisa se avistava até o distante Colégio N. Sr.ª Assunção, distante mais ou menos 1 km. Era comum ver por ali alguns animais, principalmente cavalos e vacas, calmamente pastando. Provavelmente o proprietário desses animais residia nas imediações, ou era dono da área. E foi nesse campo que certo dia desenrolou-se um evento singular. Naquela fria manhã de inverno em 1966, (impossível precisar a data) tinha uma geada daquelas de gelar os ossos, e aquele campo antes verdinho, naquele dia era um imenso lençol branco. Brrrr! Quando cheguei para o trabalho naquela manhã, logo vi
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que algumas pessoas na fábrica estavam olhando em direção ao campo. Curioso, fui ver o que estava acontecendo. A cena que se apresentava de longe foi bela e, de certa forma, preocupante ao mesmo tempo.
Foto Internet Lá estava, no meio daquele campo gelado, e ainda deitado no chão, um potro que havia acabado de nascer, e a égua ao lado velando sua cria indefesa. O pequeno animal mostrava alguns movimentos, mas certamente teve um choque térmico violento ao nascer; deveria estar muito desconfortável com o intenso frio. Nós que observávamos lá de longe, não podíamos fazer nada, senão admirar e ao mesmo tempo ficar preocupados com o possível desfecho daquela situação. Sobreviveria aquele pequeno animal naquele gelo? Provavelmente sim, pois em regiões frias isso é comum. Cada um foi para seu posto de trabalho e no intervalo para o almoço fomos ver se ainda estavam lá. O Sol já estava alto, a geada parcialmente desaparecida, mas aqueles animais já não estavam lá. Certamente o dono já os havia recolhido e providenciado abrigo para mãe e filho. Provavelmente, passado o inverno, aquele cavalinho deveria estar pastando alegremente por ali acompanhado por sua mãe e outros animais.
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CAPÍTULO XIII CENAS DO COTIDIANO - 2 UMA LATA DE TINTA ROLANDO PELA RUA
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ouve uma época que a fábrica disponibilizava tinta recuperada para venda a interessados. Aquela tinta era proveniente da cabina de pintura, onde era coletada pela cortina de água, e não se prestava para uso nos produtos. Era vendida a preço de “banana” pelo setor de Garantia onde o chefe era, nada mais, nada menos que o Sergio Prosdócimo, e era ele que autorizava a venda. O valor era descontado na folha de pagamento. Um dia fui falar com o Sergio com a intenção de comprar uma lata de tinta branca recuperada (3,6 litros). Ele autorizou, e no final do expediente peguei a lata, coloquei a alça no guidão da bicicleta e, feliz da vida desci a Av. Salgado Filho a toda velocidade. (acho que estava a uns 50 km/h). Estava quase chegando próximo à ponte do Rio Belém, e aconteceu o inesperado! Eis que uma ondulação no asfalto me causou violento solavanco, arrebentando a alça de arame da lata. Lá se foi aquela lata rolando pelo chão, abrindo e espalhando a tinta no meio do asfalto. Como não podia fazer mais nada, (Como diz o ditado popular, não adianta chorar pelo leite derramado... no caso, a tinta) parei, chutei a lata para o lado da rua e fui embora decepcionado, deixando no asfalto aquela grande mancha branca...
No dia seguinte, passando pelo mesmo local, a mancha já estava espalhada e com marcas de pneus. Alguém deve ter xingado o autor daquela lambança... Chegando à fábrica, fui falar novamente com o Sergio, solicitando outra lata. Ele, surpreso, me olhou e disse: Ué? Já não levou uma ontem? Contei o que tinha ocorrido me lamentando e dizendo que precisava da tina; ele rindo e balançando a cabeça disse: Tá bom! Passe aqui à tarde e leve outra lata; é grátis, não vou te cobrar nada! Naquela vez fui mais cauteloso no transporte, reforçando a alça com uma cordinha e deu tudo certo. Durante muito tempo, aquela mancha branca no asfalto era visível, até que desapareceu completamente desgastada pelo tráfego.
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CAPÍTULO XIV A FÁBRICA 2 UMA BREVE HISTÓRIA DA SUA ORIGEM –1986
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s negócios naquele ano estavam indo bem, mas a capacidade de produção já estava no limite; era necessário aumentar a produção, e para isso era preciso ampliar a fábrica, porém não havia mais terreno para ampliação predial. O que fazer? Construir uma nova fábrica! Onde? É aí que eu entro nessa história, fazendo parte ínfima desse grande projeto. Como? Certo dia perdido no tempo, eu estava debruçado na prancheta e concentrado no desenho de uma peça, quando chega ao meu lado o então Diretor Técnico Luiz Carlos Baeta Vieira. Disse ele mais ou menos assim: Eramis, nós (empresa) estamos querendo adquirir o terreno que fica atrás da fábrica, mas não temos uma noção clara do tamanho, já que não temos uma planta da área; Então, gostaria que você fosse até lá e fizesse um croqui com as medidas aproximadas, para fazermos uma avaliação preliminar. Naquele momento eu não sabia da intenção de se construir mais uma fábrica, e também nem perguntei qual era o interesse naquela área. Tarefa dada, tarefa cumprida. A área pretendida era o que poderíamos chamar de chácara, mas era quase deserta apenas com muitos arbustos, capim alto e muitos eucaliptos.
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COMEÇA A EXPLORAÇÃO
Na manhã seguinte munido com uma trena de 50 metros pedida emprestada da Marcenaria, mais uma prancheta de mão e uma lapiseira, fui explorar aquele terreno “desconhecido” atrás da fábrica. (foto) Chegando à “Fronteira Final”, passei por baixo da uma cerca de arame que dividia a Refrigeração Paraná com a chácara, embrenhando-me no capinzal que chegava à altura do joelho, e entre enormes pés de eucalipto. Naquele momento, tinha em mente a tarefa a ser cumprida, porém, hoje fico pensado: Ali, naquele momento, quando atravessei a cerca, começava, de fato, a Fábrica 2. Andando por toda a área e avaliando visualmente a periferia, fiz um esboço da área e dei início à medição. Como estava sozinho, (não tinha alguém disponível para ajudar) tive que usar a criatividade para levar a cabo a tarefa. Determinei um ponto de partida num canto da cerca, fixei a extremidade da trena em um arbusto e fui me deslocando até os limites do terreno na Av. Francisco H. dos Santos, e fazendo sucessivas medições em paralelo (sentido transversal), e também no sentido longitudinal, (sempre com auxílio de um bondoso arbusto para segurar a ponta da trena em cada fase da medição...) de modo a ter uma grade de valores bem aproximada da área. Depois de dois dias de intenso trabalho abaixo de Sol, finalmente tinha em mãos a planta do terreno com suas dimensões (bem aproximadas...) e, depois de colocar na escala de 1:500 na prancheta, entreguei o desenho dando por terminada a tarefa. Desse
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ponto em diante, só soube que, de fato, a compra fora efetuada e contratado um agrimensor para uma medição exata daquele terreno. A partir daí, foi encomendado o projeto civil do prédio e, uma vez aprovado, começa a instalação do canteiro de obra. Tarefa cumprida.
COMEÇA A OBRA Feita a limpeza e terraplanagem da área e derrubados alguns eucaliptos, foi iniciada a construção do prédio e, antes mesmo da finalização, já estava instalado o “Quartel General” no térreo, (era um cubículo improvisado de madeira, cheio de desenhos, cronogramas e anotações) para o pessoal do planejamento industrial, onde era delineado o layout dos equipamentos já previamente encomendados, tanto nacionais como também importados da Itália, destacando-se as Injetoras automáticas de Poliuretano da Canon, linhas de montagem, nova cabina de pintura, depósito de chapas, ponte rolante, elevadores, instalações hidráulicas, pneumáticas etc. Parte do andar superior foi destinado a estoque de produtos acabados, tanto da Fábrica 2 como também da Fábrica 1. Para isso, foi feito aquele túnel aéreo ligando os dois prédios. À frente desse trabalho, que eu lembro, estavam meus amigos: Jorge Carvalho, Paulo Vanhazebrouck, Paulo Regis, Marco Pereira e outros que não lembro. Claro que muitos outros eventos ocorreram no transcurso da implantação; e também viagens nacionais e internacionais dos envolvidos no projeto, envolvimento da área de importação, vinda de técnicos da Itália para montagem das Injetoras de Poliuretano, enfim, um exército de pessoas envolvidas para levar a cabo esse empreendimento. Finalmente em 1989, a fábrica já estava em pleno funcionamento, gerando emprego para centenas de pessoas, modernos equipamentos a pleno vapor, dando vazão a uma produção requerida pelo mercado.
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APÍTULO XV GRACIOSA COUNTRY CLUB
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endo a foto do Graciosa Country Club de Curitiba Na Internet, minha mente recuou no tempo e estacionou lá no ano de 1977. Esse Clube foi palco de uma solenidade de lançamento de dois produtos que a Refrigeração acabara de fabricar. Foi o primeiro Freezer vertical produzido, e o primeiro refrigerador Prosdócimo de uma porta externa, e com o Evaporador (mais conhecido como congelador) interno com fechamento hermético.
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Naquela época, foi importado um freezer e uma geladeira, diferentes daqueles modelos em voga no mercado brasileiro. O freezer era vertical com cestos deslizantes e a Geladeira era de uma porta externa, mas interiormente, a parte superior era um pequeno freezer, cuja porta era com fechamento hermético por gaxeta. Feita a engenharia reversa nesses dois produtos, novos equipamentos para injeção de poliuretano foram adquiridos. Depois de alguns protótipos produzidos e adaptados ao nosso clima, com alguns componentes diferentes e muitos testes de laboratório, passou-se finalmente à fabricação. Nascia então, uma nova geração de produtos, agora feitos com nova tecnologia usando painéis para compor o gabinete, e não mais com gabinete monobloco como anteriormente. No caso do freezer, foi feita na época uma propaganda para a TV, onde aparecia dois “esquimós” arrastando um trenó pela neve levando um freezer para seu Iglu... Naturalmente que mais parecia uma sátira! Onde já se viu um esquimó comprar um freezer para seu uso... Detalhe: ainda me lembro de ter ajudado a montar aquele “suposto” freezer. Não era nem protótipo e sim uma “casca” sem nada dentro! Apenas para efeito visual.
Tudo pronto para início da comercialização, a Refrigeração Paraná organizou o lançamento em grande estilo. Para isso contratou uma empresa especializada em eventos, e o local escolhido foi o Graciosa Country Club, um ambiente “chique” da “alta
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sociedade” da capital, com convidados selecionados, incluindo imprensa escrita e televisionada e, naturalmente, a diretoria, gerentes, engenheiros e técnicos da fábrica. Não sei por que, me incluíram nessa turma; eu não era lá muito importante (acho). Apenas participei ativamente nos Projetos desses produtos e nada mais. Fiquei até surpreso quando me avisaram para lá comparecer, e com a recomendação que eu deveria me apresentar com traje passeio completo. No dia marcado, fiz a barba, coloquei meu terno, gravata, sapato lustrado e peguei meu fusquinha amarelo e fui para lá. Lá chegando, estacionei ao lado de carrões modernos daquela época. Senti-me pequeno, inferiorizado (!!!). Mas não me abati. Respirei fundo e me dirigi à entrada do evento. Chegando à porta, me identifiquei com o crachá para a primeira recepcionista (que tinha em mãos uma lista dos convidados); ela conferiu e fez sinal para seguir em frente. Até chegar ao salão principal, tive que passar através de um “corredor polonês” composto de umas dez ou doze “beldades” bem maquiadas e sorridentes e me saudando com “seja muito bem-vindo”. Senti-me “importante” como se fosse uma grande autoridade naquele momento, mas pensei com meus botões: o que é que estou fazendo aqui no meio desse povo? O local já estava cheio e lá encontrei alguns colegas da Engenharia, conversando entre um gole de bebida e uns salgadinhos servidos à vontade. Em dado momento, o nosso querido patrão, Sergio Prosdócimo, subia ao palco anunciando o motivo de tal reunião, mostrando os dois novos produtos da marca Prosdócimo, e fazendo uma explanação sobre os novos rumos e atividades da Empresa. Depois de demorados aplausos, todos os presentes se aproximaram para ver de perto tais produtos, ouvindose muitos comentários elogiosos aos produtos e à Indústria paranaense. Assim foi o primeiro dia oficial de uma nova era dos produtos Prosdócimo na nossa querida Refrigeração Paraná. Eu fui testemunha, eu estava lá!
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CAPÍTULO XVI
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FINAL DE ANO E PRÊMIOS
ezembro, Natal e Fim de Ano chegando; todo mundo naquela expectativa, aguardando a festa anual da Refrigeração Paraná, com sorteio de brindes diversos, e o principal sorteio de geladeiras e
freezers.
Era assim lá nos anos 60/70/80. Lembro que numa daquelas ocasiões, uma pequena área da fábrica era liberada para os festejos e ali se instalavam várias mesas com refrigerantes, bolos, doces e salgadinhos, não apenas para os colaboradores, mas também para seus familiares que eram convidados. Mais tarde já nos anos 70, o número de colaboradores cresceu e a antiga área já não comportava tantas pessoas. Então, a festa anual passou a ser feita no setor de expedição, que liberava uma boa área do estoque de produtos, para o preparo da festa. Em todas as ocasiões, lá estavam presentes também o pessoal da Gerência e Diretoria e, logo após algumas mensagens do Sérgio, alusivas ao Natal e Fim de Ano, seguidas de algumas informações sobre o andamento dos negócios da Empresa, todos eram convidados a participar da mesa. Mais alguns minutos de expectativa, e chegava a hora tão esperada do sorteio dos brindes, que iam desde Panetones até geladeiras, passando por utensílios e eletrodomésticos cedidos por fornecedores e clientes da Refrigeração Paraná. Isso se repetia ano após ano, pois era uma tradição da Empresa.
UM DIA ESPECIAL Lembro que numa dessas ocasiões, (impossível lembrar o ano) ainda na fábrica 1, houve uma surpresa que deixou o pessoal eufórico. O Sérgio, juntamente com o Vieira e August sortearam os brindes menores e geladeiras e, quando o pessoal já se preparava para se retirar, o Sérgio pega o microfone anunciando que havia mais prêmios a serem sorteados! Ohhhh! O que será dessa vez? Pensavam todos. Quando o Sérgio anunciou enfaticamente: “Agora, vamos sortear UMA CASA”! O público que
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lotava o pavilhão naquela ocasião ficou incrédulo por apenas um segundo, depois explodiu; foi à loucura com gritos assobios e aplausos. O clima ficou tenso por alguns segundos enquanto era retirada de uma caixinha, a papeleta que continha o nome do ganhador. E foi anunciado: Fulano de tal. E já apareceu lá no meio do povo o feliz ganhador, sob aplausos do pessoal enquanto subia ao palco! Não lembro quem foi o felizardo. Uma vez sorteada, um grupinho lá no meio da turma gritou: MAIS UMA! E não deu outra: Mais uma foi sorteada e mais uma! Tudo sob gritaria e assobios! Parece que foram três casas. Claro que o coração de cada um disparava naqueles momentos! Uma festa de alegria, aplausos e emoção a cada minuto! Aquele dia foi marcante e excepcional para todos ali presentes, mas principalmente para aqueles que ganharam o prêmio máximo! Se, mesmo aqueles que não ganhavam alguma coisa tinham um sorriso nos lábios, pode-se imaginar, então, aqueles que foram agraciados! Eu mesmo numa outra ocasião, fui sorteado com um objeto que, sinceramente, não lembro o que era, mas que troquei por um pequeno ventilador de outra pessoa, que também tinha ganhado, e se interessou pelo meu brinde. Assim era o clima na Refrigeração Paraná no fim de cada ano. Um ambiente acolhedor, festivo, humano e que nos traz saudades! Nos anos mais recentes não houve mais aquela festa anual, sendo substituída pelas cestas de Natal.
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CAPÍTULO XVII
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PROTÓTIPOS
odo projeto de um novo produto começa com uma ideia, um esboço, determinando sua forma, componentes, suas características dimensionais, acabamento, material a ser usado, – tipo de plástico, aço, alumínio, borracha etc. Concluídas essas etapas, dá-se início à confecção do protótipo, onde o produto começa a tomar forma física daquilo que foi desenhado. A prototipagem de um produto inteiro é, em grande parte, um trabalho artesanal, usando, às vezes, ferramentas existentes e alguns componentes de outros produtos, além de peças padronizadas como, parafusos, rebites, elétricos, eletrônicos etc. Um protótipo assim construído em tamanho natural serve para avaliação da sua estrutura mecânica, sua aparência e, principalmente, sua funcionalidade, uma vez que será submetido a rígidos testes de laboratório. Se o resultado dos testes forem 100% satisfatórios em todos os componentes, o projeto segue seu curso, caso contrário, volta para a “prancheta” para modificações daquilo que não funcionou a contento, e novos protótipos voltam aos testes. Nessa fase, também é feita uma estimativa de custo do produto, levando-se em conta a matéria prima, e os componentes adquiridos, e de outros fatores inerentes à rotina de produção. Tendo resolvidos eventuais problemas construtivos ou funcionais, passa-se à produção de um lote piloto de algumas unidades para avaliação de ferramentas, dispositivos de montagem, adequação na linha de montagem e, principalmente, para teste de campo, sendo selecionados clientes que irão usá-los durante certo tempo, com acompanhamento pela Engenharia de Produtos, com avaliações periódicas quanto ao desempenho, e recebendo eventuais sugestões fornecidas pelo usuário, antes de se produzir em escala industrial. O desenvolvimento do produto, desde a primeira etapa até a comercialização era demorada no passado, - acredito que em média, um ano - pois a tecnologia existente para confecção de moldes e equipamentos por terceiros, não era tão ágil e automatizada como é hoje, inclusive no quesito comunicação, onde quase tudo era tratado por meio de correspondência via correios (malote), incluindo desenhos para fornecedores de peças, que demorava semanas para se obter resposta e cotação. Hoje, terminado um desenho no computador, em poucos minutos é transmitido e, se for o caso, já recebido até no outro lado do Planeta. Lá nos anos 60/70, não havia na fábrica um setor específico para confecção de protótipos. Havia sim uma salinha embaixo do Escritório Técnico, na qual, sob as mãos talentosas do nosso querido mestre Jan Pieter Valeton – de saudosa memória – nasciam as peças metálicas que ele mesmo projetava na sua escrivaninha no Escritório Técnico, e as executava com os poucos recursos disponíveis, mas com muita habilidade e criatividade. Muitos produtos que ainda estão no mercado, basicamente são os
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mesmos que nasceram de suas mãos, apesar de hoje serem produzidos com novas tecnologias e estarem com nova maquiagem. Já comentei também num dos capítulos que, em todas as profissões, sempre há atividades paralelas, mas que só nos traz novas experiências. Em muitas ocasiões, após projetar uma peça e não tendo uma pessoa para fazê-la em protótipo, eu transformava minha prancheta de desenho numa pequena oficina de artesanato e punha mãos à obra. Pedaços de plástico, estilete, cola, serra, lixa e muita sujeira pelo chão eram normais. E aos poucos a peça ia tomando forma. Não apenas num novo produto, mas também para uma melhoria de um existente, era feito um protótipo em metal ou plástico, para avaliar seu funcionamento. A peça era então levada até a linha de montagem, com instruções para que o montador identificasse o produto e que, no final da Linha, o mesmo fosse separado para avaliação pela Engenharia. Mas às vezes acontecia o inesperado. Lembro que em certa ocasião, fiz duas peças protótipo em plástico para teste, em substituição de outra que dava muita mão-de-obra para produzi-la. Mas depois de montadas no produto, o responsável por separá-lo dos demais produtos, esqueceu-se de fazê-lo, sendo o produto embalado, encaminhado ao depósito e vendido para alguma loja. Não havia como recuperar aquele produto depois de estocado. Hoje – se ainda existir - deve estar em alguma residência por aí... Ainda bem que era uma peça num ponto atrás do gabinete não sendo visível, e não interferia no funcionamento do produto. Tive que fazer tudo de novo, dessa feita um pouco diferente da primeira, e testar novamente. Atualmente é tudo diferente. O que no passado era artesanato na confecção de peça protótipo, hoje é feito por equipamentos modernos com usinagem por comando numérico, impressora 3D, que reproduz em plástico comum ou resinas especiais, a peça projetada em computador 3D. A tecnologia, a modernidade, tanto no desenho por computador quanto na execução de protótipos e na produção, vieram a acelerar o lançamento de novos produtos no mercado, se comparado com o que se fazia há algumas décadas. Vivenciei com satisfação essas duas fases – o antigo na prancheta, lápis e papel e o novo na tela do computador - durante minha longa temporada na Engenharia de Produtos da Refrigeração Paraná.
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CAPÍTULO XVIII UM SUSTO NA LINHA DE MONTAGEM
Q
uando adquirimos um produto, seja um veículo, um remédio ou uma ferramenta, o fabricante, por meio de seu manual ou bula, nos alerta sobre como usá-lo corretamente e nos adverte de consequências pelo uso indevido. Nem sempre damos atenção a tais advertências e muitas vezes só vamos ler o manual depois do estrago feito. Falta de atenção numa recomendação, na manipulação de algo perigoso, desvio de atenção aos sinais de que algo pode dar errado, um produto defeituoso, são inúmeras as causas de um acidente, que pode ser dentro da nossa casa, na rua ou no trabalho. Acidentes acontecem em qualquer lugar, mas as causas geralmente são por falha humana. Claro que o imponderável ronda qualquer atividade, e num piscar de olho tudo pode acontecer. Aprendemos com os erros, então, depois do ocorrido vamos descobrir o porquê do acontecido e tomar as precauções para que tal fato não se repita. Por que digo isso? Não lembro com exatidão, mas acho que foi em 1977, a Refrigeração Paraná procurou se modernizar adquirindo uma Injetora de Poliuretano, para substituir o isolante de lã de vidro até então usado nos freezers horizontais. Para que isso fosse implantado na fábrica, foram necessárias algumas modificações no gabinete interno e no externo do produto, a fim de se adaptar ao novo sistema de isolante. Alguns protótipos foram feitos do modelo menor para testes e, para isso também foi feito um molde em madeira, dentro do qual ficava o produto para receber a espuma. Certo dia, impossível precisar a data, a rotina da fábrica era a de sempre. Mas de repente, ouviu-se um estrondo na linha de montagem. O pessoal do Escritório Técnico, eu inclusive, descemos rapidamente para ver o que estava acontecendo. Da mesma forma, o pessoal das linhas de montagem próximas também se dirigia naquela direção; já outros se afastavam rapidamente do local. Pareciam meio confusos. Logo deu para perceber o que havia acontecido no local; onde se aplicava a Espuma de Poliuretano no gabinete de teste era o caos. O molde dentro do qual estava o corpo do freezer, explodiu, jogando a tampa - do molde - a vários metros de altura e distância, e espalhando espuma para todo lado, inclusive no teto do pavilhão a 5 metros de altura, sujando até o telhado. A cena era impressionante; felizmente ninguém se feriu porque naquele momento não havia ninguém nas proximidades. Para ficar mais claro para os amigos não familiarizados com esse processo, cabe aqui uma explicação:
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A Espuma de Poliuretano é o resultado de uma reação química entre dois componentes chamados de: Poliol e Isocianato, que são bombeados isoladamente pela máquina através de duas mangueiras, mas que só vão ser misturados na extremidade do bico do injetor já dentro da cavidade do produto, entre a parede interna e a parede externa do corpo de freezer. Isso é feito com o molde fechado em todas as faces. Quando ocorre essa mistura na cavidade, rapidamente se forma uma espuma de cor bege, que cresce em poucos segundos, preenchendo todo o espaço vazio circundante. Depois disso, leva alguns minutos para a cura completa da mistura, resfriamento e estabilização da pressão. Só então é possível abrir o molde para retirar o gabinete (Imagine você agitando uma garrafa aberta de refrigerante gaseificado. É bem parecido). Ocorre que a dosagem desses componentes é calibrada conforme o volume vazio no qual ele vai se expandir, e da densidade requerida para satisfazer o fator exigido de isolamento térmico do produto. É um cálculo da quantidade que tem de ser muito preciso, pois a pressão resultante durante a reação é alta. Se a quantidade injetada do material for abaixo de especificado, a espuma não preencherá totalmente a cavidade; se o material injetado for em excesso, fatalmente a pressão será muito alta dentro do molde, podendo explodir. Foi o que aconteceu naquele dia na Linha de freezers. O molde, apesar de reforçado, sabendo-se que haveria pressão interna, não resistiu, causando a ruptura da tampa e destruição do molde e do protótipo em teste.
Foto Internet Alguma coisa fora do normal aconteceu naquela ocasião. A Injetora era nova, recém-adquirida – ainda me lembro da cor azul e da marca VIKING estampada nela – mas dependia do controle manual do operador para programar a quantidade de material a ser injetado, conforme já calculado anteriormente. Pode ter sido nesse ponto que houve o erro que causou aquele acidente, ou talvez uma falha do próprio equipamento que injetou em excesso. Não fiquei sabendo o real motivo. Esse tipo de acidente já não acontece com os novos equipamentos que são automatizados e controlados eletronicamente.
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Já nos testes seguintes, foram feitos novos moldes e mais reforçados e dada mais atenção no funcionamento da injetora. Também novas recomendações foram dadas ao pessoal daquele posto de trabalho, no sentido de não permanecerem próximos a cada operação da máquina. Não houve mais esse tipo de incidente na fábrica. Enquanto não erramos, não aprendemos. Quando foi para começar a produção de fato, os moldes foram feitos de placas de alumínio fundido com respeitável espessura e nervurados, a fim de oferecer maior resistência à pressão interna durante a expansão da espuma. Muito tempo depois, restos da espuma ainda permaneciam grudados na madeira do telhado. Acredito que, se hoje em dia for examinar bem o local, deve ainda ter algum vestígio como testemunha daquele acidente, felizmente sem vítimas e sem grandes consequências.
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CAPÍTULO XIX REFRIPAR - ELECTROLUX
V
ocê já viu dois produtos praticamente iguais, porém com marcas diferentes? Pois existem. Às vezes a diferença está apenas numa peça aparente, num emblema ou numa maquiagem mais vistosa, e até mesmo numa peça de uso diferente, apresentando-se como sendo outro produto e de outro fabricante. Pura jogada de Marketing. Lá atrás do produto, quase escondida, a etiqueta denuncia como tendo a mesma origem, apesar de ostentarem emblemas diferentes. Talvez muitos dos amigos daqui do Grupo não têm conhecimento, ou não lembram que, no passado, a Refrigeração Paraná, fabricante dos produtos com a marca Prosdócimo, fabricava também com a marca Electrolux. Acredito que foi lá entre os anos 70/80. Sim, já naquela época, a Electrolux, que só era conhecida até então como fabricante de Enceradeiras e Aspiradores de Pó, pensou em expandir seus negócios no Brasil. Não tendo uma indústria própria na linha branca, entrou temporariamente no mercado em parceria com a Refrigeração Paraná. Assim, colocava seu nome em campo para ser conhecido e assimilado no mercado brasileiro. Certamente com planos mais ousados para o futuro. Não lembro quanto tempo durou essa parceria, só lembro que na engenharia criamos novos desenhos com as características específicas para os refrigeradores 290 e 340 litros, com algumas mudanças, acrescentando o logotipo na porta e modificações na serigrafia do puxador e dos componentes internos e também na embalagem. De resto, era o mesmo produto. Não tenho informações sobre detalhes dessa parceria temporária nem do resultado da comercialização daqueles produtos. Ficou evidente que aquilo foi o primeiro passo para consolidação da marca no mercado, culminando com o controle acionário da Refrigeração Paraná, quando a Electrolux assumiu 100% das ações em 1996. Durante um curto período, menos de um ano, a marca ainda permaneceu nos produtos como Electrolux-Prosdócimo, deixando de ser usada definitivamente 1997. Conforme entrevista ao jornal Gazeta do Povo em 2007, Sergio Prosdócimo confessa emocionado, a dificuldade e a difícil decisão de assimilar aquela negociação, abrindo mão da marca familiar, afirmando que levou três anos para fechar o negócio. Talvez ninguém possa imaginar o que se passava naqueles dias, na mente daquele que herdou a presidência da Empresa e a manteve em crescimento durante vários anos. Para os colaboradores dentro da fábrica, - incluindo a mim - não mudou nada, continuando com sua jornada diária. Não foi uma transição traumática em relação ao emprego, mas nos nossos corações, ficou aquela sensação de vazio, de incredulidade, de perda, ver desaparecer aquela já tradicional e querida marca Prosdócimo, tão
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familiar nos produtos expostos nas lojas, marca essa que orgulhosamente nos identificava como colaboradores e que por décadas esteve presente nos lares brasileiros e até no exterior. A mudança na fachada da fábrica encerrou definitivamente uma história de pujança, de pioneirismo de uma indústria genuinamente brasileira e paranaense. Tudo isso faz parte da história de cada um de nós, e daqueles amigos companheiros de jornada que já nos deixaram.
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CAPÍTULO XX
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A HORA DO LANCHE
s amigos “antigos” hão de lembrar que às 07h00min da manhã, ouvia-se aquele estridente: UUÓÓÓÓÓÓÓÓ...com 100 decibéis daquela sirene, disparando dentro da fábrica durante uns dez segundos. Haja ouvidos para quem estava por perto. Conclamava o pessoal a ligar suas máquinas para mais um dia de labuta na Refrigeração Paraná. O trabalho se desenrolava normalmente, até que às 09h00min da manhã: Uóóóóóóóóóó... Novamente por uns dois ou três segundos. Aquele som era ouvido a quilômetros de distância; era o sinal esperado por todos. Como num passe de mágica, a fábrica silenciava. Na metalurgia, as prensas excêntricas paravam seu martelar barulhento, cadenciado e monótono; lixadeiras que davam acabamento no metal se calavam, máquinas de solda fumegantes paravam de emitir aquelas perigosas faíscas quando soldavam chapas; empilhadeiras paravam no meio do caminho como se faltassem combustível, as correntes transportadoras aéreas empacavam balançando as peças lá no alto perto do telhado, as linhas de montagem paravam como por encanto. Tudo ficava numa calmaria “ensurdecedora”, só se ouvindo chilrear de alguns pássaros que voavam por lá e o bater asas de pombas dando rasantes nas cabeças do pessoal. Era o momento aguardado todo santo dia pela manhã. O pessoal da produção então se acomodava em algum banquinho próximo ao seu posto de trabalho, ou até mesmo em cima de um monte de chapas, ou caixas e, em seguida, cada um puxava uma sacolinha que estava escondida em algum cantinho por ali, contendo uma garrafinha com algum líquido desconhecido, e desembrulhava o conteúdo de um guardanapo de pano. Era o sagrado momento do lanche. Sim, havia essa pausa para os colaboradores naquele horário. Afinal, com o expediente começando às 07h00min, e muitos trabalhadores morando longe, acordando às 06h00min ou até antes, mal tinham tempo de sair de casa bem alimentados. Fora isso, ainda percorriam muitos quilômetros em bicicleta até chegar à empresa, estafados e tendo gastado muita energia. Aliás, o estacionamento de bicicletas era um barracão enorme. Acredito que perto de 70% dos trabalhadores usavam esse modal de transporte, eu inclusive. Avalio que só uns 20% faziam uso de ônibus e, quando muito, uns 10% de automóvel e motocicleta. Logo na entrada do Escritório Técnico, (mezanino da fabrica I) havia um balcão, onde era servido café e chá-mate naquele horário, mas só para os chefes de seções da fábrica. Alguns também traziam seu lanchinho e, entre um gole de café e uma mordida no lanche, ficavam conversando animadamente pondo as fofocas em dia... Ainda me lembro de alguns dos assíduos frequentadores daquele balcão: Octávio Zilli (plásticos), Alexandre Laskoski (metalurgia); Ladislau Falarz, (recepção de
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chapas), Rodolfo Madlener (ferramentaria) e outros.
(pintura),
Henrique
(Marcenaria),
Nelson
Rosa
Só para lembrar, naquela pequena área do mezanino estava instalada a Engenharia de Produtos, Compras, Planejamento Industrial, Controle de estoque, Diretor Técnico e Diretor Industrial. Somando tudo pela minha contagem, havia 22 pessoas. Para nós do escritório e para o pessoal da área administrativa, não tinha parada, mas era tolerado mastigar alguma coisa nesse horário. Havia uma senhora que, com um carrinho cheio de copos de vidro e garrafas térmicas, percorria entre as mesas oferecendo o chá-mate ou café puro. Difícil era segurar o copo de vidro com a bebida quente. Mais tarde passava para recolher os copos vazios. Claro que ninguém é de ferro, e às vezes eu também levava o meu lanchinho no bolso. Quinze minutos era aquele intervalo; depois voltava aquele Uóoóóóóó novamente, avisando para retornar à rotina barulhenta. Na hora do almoço novamente se ouvia aquele barulhento: Uóóóóóóóóó. Tudo parava novamente; era o sinal para que o pessoal da Produção que, em desabalada carreira, se afunilavam no corredor de saída para “bater cartão” no Relógio Ponto. Sim, naquela época isso era obrigatório naquele horário. Só muito mais tarde foi abolida aquela obrigatoriedade, pois o pessoal perdia muito tempo para o almoço, principalmente aqueles que entravam por último na fila do cartão. (No capítulo II, já contei um fato ocorrido em que, certo dia, o “Seu” Joanin quase foi atropelado naquele corredor, naquele horário). À tarde lá pelas 15h00 era uma repetição da manhã; novo lanche para todos, e volta ao trabalho até o próximo e longuíssimo som estridente: Uuuuuuuuuóóóóóoóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóó finalizando o expediente. No outro dia, tudo se repetia.
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CAPÍTULO XXI UM NOVO ELETRODOMÉSTICO
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credito que o maior encantamento de um consumidor de eletrodoméstico, é quando o produto que ele comprou chega a sua casa e é desembalado. Aquele objeto passa a ser tratado com “status” de um nobre visitante, ou até mesmo como um novo membro da família, tanto é a atenção e o carinho que recebe. Para ele é reservado um lugar especial dentro da casa. É um momento quase mágico! Quem de nós já não passou por isso? A qualquer momento, em algum lugar, essa cena se repete com um novo fogão, um novo refrigerador, uma nova lavadora, um novo aparelho de som, uma nova TV. Muitas vezes, um novo eletrodoméstico é o sonho acalentado por longo tempo por famílias de poucas posses, mas que, depois de muito esforço e economias, finalmente têm o prazer de possui-lo. Ao entrar numa loja, a atenção do consumidor sempre se volta para aquele produto de uma marca conhecida e sólida no mercado, que apresenta alguma novidade, um diferencial em relação a outros produtos da mesma categoria. É esse ‘algo mais’ que encanta o consumidor e torna-se um forte apelo na hora de decidir a compra. Todos nós somos consumidores e, quando vamos adquirir um eletrodoméstico, queremos que tenha boa qualidade, que seja durável, que seja bem projetado, esteticamente bonito, acabamento esmerado, de fácil manuseio e de fácil manutenção. Para tornar isso possível, e falando especificamente dos Refrigeradores Prosdócimo, o empenho de todos os funcionários da empresa foi fundamental. Muita coisa aconteceu antes que um produto seja produzido e que tenha permissão de adentrar na casa do consumidor. Muitas ideias foram colocadas em discussão, avaliadas, algumas descartadas, muitas horas gastas em planejamento, pesquisa de mercado, negociações com fornecedores de componentes, projeto, protótipos e exaustivos testes para que um produto de primeira categoria se tornasse realidade. São para essas particularidades que a atenção da equipe de projetos é direcionada; pensar naquilo que o consumidor espera de um produto de alta qualidade, O projetista e o engenheiro sempre se perguntam: O que podemos propor de novidade num novo projeto? É nesse ponto que entra a criatividade. É lá, no nascedouro do produto, na frente de uma prancheta com lápis e papel no século passado, ou numa tela de computador nos anos recentes, que as equipes da Engenharia e Design, passam muitas horas do seu dia idealizando formas de componentes, planejando o funcionamento, inventando coisas novas, definindo materiais e acabamento. É lá que
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surgem novos conceitos, melhorias nos produtos existentes, visando essencialmente à plena satisfação do Consumidor. Nada é mais gratificante e compensador para uma equipe de projetos, quando as novas propostas são apresentadas numa pesquisa de mercado, e que tais propostas acabam sendo bem aceitas pelo público pesquisado, e que tenham encantado o Consumidor. Isso gera uma enorme satisfação pessoal para aqueles responsáveis pelas novidades. Essa é a rotina dos funcionários dos diversos setores de uma empresa. É nesse dia-a-dia que é apresentado aquilo que se tem de melhor, com o trabalho consciente, com uma única finalidade que é a de colocar um excelente produto no mercado, que o consumidor se sinta atraído por ele e que seja o preferido entre outros similares. Portanto, uma indústria pode ser comparada com uma máquina; cada setor dela é como uma engrenagem que deve funcionar em sincronia com as demais. Quando essa sinergia se faz presente numa empresa, o resultado, com certeza, é a excelente aceitação dos seus produtos e a plena satisfação do cliente. É essa união de forças que solidifica uma marca de produto no mercado e que a torna confiável e desejável. Vale aqui uma reflexão: “Não é o empregador que paga os salários – ele apenas administra o dinheiro. Quem paga o salário é o produto”. (H. Ford) O consumidor é a razão de uma indústria existir. Assim, o empenho e o comprometimento de cada um de seus profissionais, desde a mais simples atividade, até aos mais elevados postos da administração e da presidência da empresa, forma essa força integrada, cujo objetivo é captar, encantar e tornar o consumidor plenamente satisfeito com seus produtos. É muito bom saber que os produtos nos quais, juntamente com meus colegas de trabalho, emprestamos uma parcela do nosso conhecimento, hoje ainda estão presentes em milhares de lares, não só no Brasil como também em outros países, proporcionando conforto para seus possuidores. Era gratificante ouvir de amigos e familiares, comentários elogiosos e sinceros sobre os produtos Prosdócimo. Eles se destacavam não só nos pontos de venda como principalmente dentro das casas de seus possuidores. Foi igualmente gratificante, ter pertencido durante décadas ao quadro de funcionários de uma empresa de renome nacional, que zelava pela qualidade de seus produtos. A Refrigeração Paraná representou para mim, meu segundo lar; ela fez e ainda faz parte da minha vida e da minha família. Ela literalmente abriu suas portas para que eu, um dia, pudesse entrar e trabalhar; deu-me liberdade para fazer aquilo que gosto; desenhar e projetar. Sou eternamente grato pela confiança em mim depositada durante tanto tempo. Posso afirmar, sem nenhum receio, que Refrigeração Paraná foi um dos mais importantes capítulos da minha história.
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CAPÍTULO XXII
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A CORRIDA E A QUEDA
exercício físico é bom, é saudável, desde que seja praticado com regularidade e com prazer, e nunca por obrigação, e que, principalmente, obedeça a uma escala gradual de dificuldades, tendo o bom senso de não extrapolar o razoável e não forçar a Natureza! A saúde em primeiro lugar; a vaidade em segundo. Como disse numa publicação anterior, basta um estímulo visual, uma foto ou um artigo publicado, para associarmos com eventos passados pelos quais passamos. Li recentemente um artigo numa revista semanal, no qual Nuno Cobra Júnior (Preparador físico) faz algumas observações interessantes e preocupantes sobre a “cultura do corpo em forma”, e adverte sobre o excesso de exercícios físicos nas academias e suas consequências danosas para o corpo e com pouco benefício. O conceito “fitness” que surgiu como uma forma de melhorar a saúde corporal do indivíduo, aos poucos foi transformando-se em uma indústria lucrativa, com a ideia de manter um corpo “ideal”, sem medir os riscos e as consequências de lesões nas articulações, cartilagens e na musculatura daqueles que, mesmo sob orientação de um profissional, querem atingir e até superar seus limites físicos. Isso me levou de volta no tempo em que prestava o serviço militar, quando nós, soldados, praticávamos exercícios físicos diariamente, de modo a gradualmente estarmos preparados para situações de maiores exigências físicas, o que acontecia nas corridas programadas. Lembro-me de uma corrida saindo do quartel da Praça Rui Barbosa, seguindo pela Rua 24 de Maio e descendo a Av. Iguaçu até a Av. Artur Bernardes (Santa Quitéria) e voltar (subida). Haja fôlego! Ali testávamos nosso limite, e era dolorido! Éramos jovens entre 18 e 19 anos, mas alguns soldados não chegaram a terminar a corrida e foram direto para a Enfermaria do Quartel. Como se vê, era apenas corrida e não exercícios de academias, onde o corpo é solicitado ao extremo. Quando li aquele artigo na revista, lembrei-me de um dia não muito agradável, por volta de 1985 na Refrigeração Paraná. Naquela época não existia, pelo menos na Refrigeração Paraná, a ginástica laboral nem para o pessoal da fábrica e nem para o pessoal dos escritórios. Por iniciativa de alguém, possivelmente ligado a esportes, foi contratado um preparador físico para aplicar periodicamente, alguns exercícios no pessoal da fábrica e dos escritórios. Certo dia foi a vez da turma da Engenharia participar. Convocados com antecipação, naquele dia após o expediente o pessoal se reuniu na cancha de futebol, com tênis e agasalho para uma seção de exercícios. Após uma breve preleção, o
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Preparador colocou a turma para correr em volta da cancha. Não lembro quantas voltas, mas foram muitas e lembro muito bem do cansaço. Não parou por aí. Após um breve descanso, organizou o pessoal em duas equipes para uma partida de Voleibol, apenas para o pessoal se movimentar. Parece que a corrida não fora suficiente. Claro, para um Preparador físico, acostumado a isso, era uma brincadeira, mas não para aqueles que estavam “enferrujados”. Foi um jogo brincadeira, sem nenhuma técnica, com o pessoal correndo atabalhoado, se chocando uns com outros. Depois de uns 30 minutos, finalmente terminou aquele “jogo”, e fomos todos suados e exaustos para casa. O reflexo daquilo estava para acontecer no dia seguinte. Cheguei em casa com o corpo ainda quente, mas levemente dolorido, principalmente as coxas; um banho e cama. No dia seguinte já saí de casa com certa dificuldade, minha pernas teimavam em não me obedecer, as coxas e joelhos doíam, mas fui trabalhar. Sentado no trabalho, o desconforto não era tanto, até que chegou o intervalo para almoço. Levantei-me e com dificuldade no andar, me dirigi à saída. Mas eis que no meio do caminho senti que minhas pernas perdiam o controle, e simplesmente desabei, caindo de joelhos na calçada. O espanto foi grande dos amigos que estavam ao meu lado, e rapidamente me ajudaram a levantar, perguntando se eu queria ir ao ambulatório; disse que não, e eles me ampararam até meu carro que estava bem próximo na rua. Fui para casa e não voltei mais naquele dia, procurando me curar com produtos específicos para lesões musculares. Dois ou três dias depois a dor já estava sensivelmente reduzida. Hoje só pratico exercícios leves, sem intenção de ter um corpo “sarado”. Não posso afirmar que o Preparador tenha sido negligente, mas colocar as pessoas numa corrida sem um aquecimento adequado e, principalmente, sem preparo físico, sendo que a maioria não praticava exercícios regularmente, foi uma atitude muito estranha e perigosa. Felizmente não houve maiores consequências, além daquele meu vexame na calçada. Acontece até com os atletas profissionais.
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CAPÍTULO XXIII
N
O TRIÂNGULO FALSIFICADO
o dia-a-dia de trabalho na Engenharia, nem sempre eram apenas desenhos de refrigeradores; às vezes apareciam coisas fora do “Script”.
O Triângulo é uma figura interessante; na geometria euclidiana, é a única figura plana e fechada, com menor número de linhas retas. Talvez por esse motivo, essa figura com três pontas foi adotada na simbologia místico-religiosa e por sociedades secretas ao longo da história. Por sua simplicidade, essa figura também foi adotada na simbologia de trânsito, no sentido de advertência ou atenção. Mas, descendo ao nosso mundo cotidiano e material, essa figura já nos é familiar toda vez que abrimos a mala do carro. Geralmente está solta por lá, embalada ou desembalada, deslizando para lá e para cá ao sabor de cada curva fechada na estrada. Hoje nossos veículos já saem de fábrica com esse acessório conforme legislação, mas nem sempre foi assim.
Eis que um belo dia nos anos 60 apareceu uma lei exigindo que todo veículo portasse um novo acessório em forma de triângulo, para uso emergencial em caso de avaria no veículo ou acidente. Como sempre, tudo que é novidade provoca aprovações por alguns e reprovação por outros, principalmente se aquilo for imposição e custe dinheiro, ainda que venha a nos beneficiar. É sempre assim, não se pode agradar a gregos e troianos ao mesmo tempo. Com essa lei não foi diferente, e houve polêmicas na ocasião, mas manteve-se a lei. Ocorre que, naquela época, não era fácil encontrar essa peça no mercado, e ninguém queria correr o risco de ser multado pela falta dela numa eventual fiscalização. Sendo novidade, havia poucos fabricantes e não davam conta da demanda. Além disso, os fabricantes e/ou revendedores aproveitavam a lei da “oferta e procura” para majorar seus preços, e mesmo assim as peças sumiam das prateleiras. Como
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sempre acontece quando falta um produto no mercado, alguém sempre procura lucrar com a situação “falsificando” aquilo que está em falta. Certo dia, uma pessoa da Engenharia apareceu com um triângulo “falsificado” que havia comprado bem barato por aí, ou seja, notava-se que era meio artesanal e não produto industrializado. Não deu outra, o Eramis foi encarregado de desmontar aquele triângulo e desenhar as peças (copiando) para serem reproduzidas no departamento de Manutenção da fábrica. Não era de plástico reflexível como atualmente; era da chapa de ferro e pesado, sendo as peças articuladas entre si com rebites e pintadas com tinta vermelha reflexiva. Era um produto tosco, realmente. Assim, foram feitas várias peças para as poucas pessoas interessadas, pois não havia muitos automóveis de funcionários na fábrica. Como eu tinha bicicleta não precisei desse acessório falso. Nunca fiquei sabendo se aqueles triângulos de chapas foram considerados “válidos” em alguma fiscalização.
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CAPÍTULO XXIV O AQUECEDOR PORTÁTIL
É
muito bom tomar um banho quentinho num dia frio, e um chuveiro elétrico às vezes não dá conta quando a água está quase congelando. Já um aquecedor de água a gás resolve esse inconveniente.
Mas é principalmente nessa época, que muitos acidentes acontecem pelo uso de aquecedores de água a gás mal regulados, ou mal instalados dentro do banheiro das residências, e que são amplamente noticiados melos meios de comunicação, inclusive o que aconteceu recentemente com uma família de brasileiros no Chile. É sabido que a queima do gás gera monóxido de carbono, e que é mortal em situações extremas, principalmente quando ocorre em ambiente fechado e sem ventilação. É muito importante que esse tipo de aquecedor de água seja instalado FORA do ambiente de uso, mas se isso não for possível, que seja em local com boa ventilação, e seguindo rigorosamente as recomendações do fabricante. Usar sem um duto exaustor para o exterior ou improvisar uma instalação é perigoso e pode ser mortal. Mas o que esse assunto tem a ver com a Refrigeração Paraná? O uso de aquecedores a gás me fez lembrar um fato ocorrido com um colega de trabalho na Refrigeração Paraná. Como é do conhecimento dos amigos, no passado a Refrigeração Paraná fabricava aquecedores de ambiente a gás, e que era móvel, usando um botijão de 13 kg. Naquela época já era recomendado que o produto fosse usado somente em ambiente ventilado. Na ocasião foi também produzido um aquecedor de ambiente fixo para ser embutido na parede, mas que teve pouca aceitação no mercado e a produção foi cancelada. Paralelamente, também foi produzido um pequeno aquecedor a gás portátil, que era bem simples, composto de um queimador infravermelho, redondo, montado num refletor de alumínio de 30 cm de diâmetro, e que poderia ser acoplado diretamente em cima daquele pequeno e antigo botijão chamado “Liquinho”. Não se vislumbrava naquele momento, que isso poderia ser um grande perigo para a saúde. Coincidência ou não, o fato é que um engenheiro da área de Engenharia de Produtos, certo dia sofreu um acidente no banheiro da sua casa quando usava aquele pequeno aquecedor. Foi dito na ocasião, que ele escorregou e caiu com o braço em cima daquele aquecedor, o que causou uma extensa queimadura. Não ficou muito clara essa explicação, e é muito provável que ele tenha sofrido desmaio ocasionado pelo monóxido de carbono no ambiente. O fato de ele ter caído, alertou os familiares, que o
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socorreram a tempo. Só voltou ao trabalho muito tempo depois com aquela extensa cicatriz e com certa dificuldade de movimento no braço. Portanto, não se deve negligenciar o perigo que esse tipo de aquecedor, seja de água ou de ambiente, pode apresentar para a saúde, o que pode até levar a óbito. Mesmo com um aquecedor elétrico de ambiente, deve-se ter cautela e mantê-lo à distância durante o uso.
Meu desenho do aquecedor portátil
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CAPÍTULO XXV FUMÓDROMOS NA REFRIPAR
R
ecentemente nas minhas andanças pelo centro da cidade, passei por um local em que havia uma tenda com uma campanha de combate ao tabagismo. Parei momentaneamente para observar alguns cartazes que apontavam os malefícios da pratica de fumar. Isso me fez lembrar uma campanha semelhante levada a efeito na Refrigeração Paraná lá no final dos anos 90. Naquela época, era “normal” a pessoa fumar dentro dos escritórios e, claro, para desespero dos não fumantes obrigados a respirar aquela fumaça fétida. Afinal, a liberdade de um termina quando começa a interferir na liberdade de outro. Lembro que a proibição ficou estabelecida não apenas para a área de escritórios, como também para toda a área fabril. Claro que essa deliberação visava, tanto preservar a saúde das pessoas como também a segurança patrimonial, no caso de cigarros jogados em qualquer lugar e que poderiam causar incêndios. Como esse vício não se acaba de um dia para outro, a Refrigeração Paraná estipulou locais fora da fábrica – “fumódromos”- para que os fumantes pudessem fumar “tranquilamente” seu cigarrinho. Lembro que na Fábrica 2 o local ficava no canto externo do prédio e, na Fábrica 1, foi feito até uma cobertura – semelhante a um ponto de ônibus, ao lado do túnel de acesso, onde os fumantes pudessem ficar protegidos no caso de chuva. E era um local bastante frequentado! Eu via aquelas pessoas ali, paradas conversando ou com olhar distante e soltando fumaça e me perguntava: Será que aquelas pessoas não ficam constrangidas em deixar seus postos de trabalho para ir até esses locais para fumar? Numa atividade contínua, como linha de produção, pergunta-se: quem faz o trabalho daquele que saiu para fumar? É muito simples: o colega que trabalha ao lado (e que não fuma) vai TRABALHAR EM DÔBRO para compensar a falta daquele que saiu. Enquanto isso o colega fumante vai dar umas “tragadas” no “fumódromo” e “jogar conversa fora”. É justo? Quantas horas improdutivas essa pessoa acumula ao longo de uma semana? De um mês? De um ano? É fácil calcular; estima-se em 15 minutos entre o funcionário sair do seu posto de trabalho lá no fundo da fábrica, ir até o Fumódromo, fumar, conversar e retornar. Se fizer isso quatro vezes por dia, dá 1 hora por dia ou 5 horas por semana ou 20 horas por mês ou 220 horas por ano!(tirando as férias). Equivale a UM MÊS SEM TRABALHAR DURANTE O ANO! (e, claro, sem desconto no salário). As campanhas nas empresas têm feito um trabalho incansável de conscientização sobre os malefícios que o cigarro causa no organismo humano, principalmente nos jovens, que caem muito cedo nessa armadilha mortal, e não tem
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forças para sair dela. É sabido que os filhos se espelham nos pais; portanto, se os pais fumam, é alta a possibilidade dos filhos adquirirem o hábito, já que eles (os pais) estão dando o (mau) exemplo. O que dizer então de uma mulher grávida fumando? Já estará contaminando e viciando seu filho antes de nascer. O fumo leva à morte diariamente milhares de pessoas em todo o mundo (o fumo contém vários elementos químicos cancerígenos e até partículas radioativas). O cigarro mata mesmo! É um suicídio lento. Um pulmão de fumante após autópsia tem um aspecto nojento de podridão; Os alvéolos que promovem a oxigenação do sangue ficam entupidos de nicotina! Sem falar na falta de higiene bucal do fumante: dentes amarelados, e pior ainda, o mau-hálito que afasta as pessoas. E mais: o mau-cheiro da fumaça do cigarro que impregna as roupas, cabelos além da própria sujeira que fica nos cinzeiros e no chão. A desculpa é sempre a mesma: Ah! Eu fumo para me distrair, - dizem uns – Eu fumo porque gosto, e a saúde é minha e ninguém tem nada a ver com isso! – O cigarro não tem nenhuma utilidade para o ser humano; serve apenas para enriquecer o fabricante, ou seja: o usuário (fumante) gasta seu dinheiro - às vezes o pouco que tem, e até deixando de comprar alimentos para sua família, para comprar cigarros, enquanto o fabricante fica feliz contando seus ganhos com a ingenuidade e a desgraça de seus clientes. É triste, mas é verdade! Hoje, praticamente inexiste propaganda de cigarros, mas no passado era diferente, onde se dizia: “Baixos Teores”, “Light”... Etc. Isso não existe! Era tudo mentira, uma cilada para os desavisados. E a qualidade dos cigarros baratos então, aqueles que são falsificados aqui e acolá e que já vêm “enriquecidos” com ervas daninhas, insetos, agrotóxicos e até excrementos de animais! Os chamados “fumódromos” não incentivam a prática de fumar; visam apenas evitar o constrangimento entre pessoas que fumam e as que não fumam, além de reduzir os riscos de acidentes que um cigarro aceso pode causar ao patrimônio da empresa. Também forçam o fumante a deixar o vício. É sintomático notar que entre duas pessoas de mesmo perfil profissional, sendo que uma delas é fumante, as empresas de Recursos Humanos dão preferência ao candidato não fumante. Até nas nossas próprias casas não se admite auxiliares domésticas fumantes! Muitos fumantes, embora cientes dos estragos que o cigarro faz, não fazem o mínimo esforço para deixar o vício, por outro lado, aqueles que querem uma saída, precisam urgentemente deixar o orgulho de lado e pedir auxílio médico.
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CAPÍTULO XXVI
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ACESSO PROIBIDO
conomia de tempo e de energia, todos nós procuramos a todo o momento. Desse modo, qualquer ação que contemple esses dois fatores, são prioridades. Mas nem sempre é o melhor caminho, se isso esbarra em atitude reprovável. Pois é; um dia fiz algo – mais ou menos - reprovável. Mas quem um dia não o fez? Na geometria plana, diz-se que a distância entre dois pontos é uma reta. Mais ou menos no meu caso. Explico: Olhando a antiga foto aérea da fábrica, lembrei-me de uma das minhas aventuras daquele tempo. Quando comecei a trabalhar na Refrigeração, fui morar com um dos meus irmãos que residia quase ali nos fundos e ao lado da fábrica, e próximo à Rua Francisco H. dos Santos.
Naquela época, como já mencionei em outro capítulo, o único acesso à fábrica, tanto de pessoal quanto de caminhões, era pela Rua Dionísio Baglioli, (hoje fechada) entrando pela Av. Salgado filho. Sendo assim, para que eu pudesse chegar ao emprego, era obrigado a dar uma grande volta, saindo próximo dos fundos da fábrica, indo pela Rua Ministro Gabriel Passos (que ainda não era pavimentada nem totalmente aberta) até a Av. Salgado Filho, virando à esquerda até a Rua Dionísio Baglioli, para, então, adentrar ao pátio da fábrica. Outro caminho era indo pela Francisco H. dos Santos até a Av. Salgado Filho, depois até a Dionizio Baglioli. De qualquer forma era uma caminhada e tanto. Pior quando chovia; nenhuma das duas era asfaltada. Só lama e com grande possibilidade de chegar sujo no serviço.
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Certo dia, observando que o terreno nos fundos da fábrica era separado da rua ao lado por apenas uma cerca de arame farpado, tive uma “grande” ideia. No dia seguinte me aproximei daquela cerca e, vendo que ela não era muito firme e com ajuda de um graveto, forcei a passagem entre um arame e outro e passei para dentro do terreno. Nos dias seguintes fazia a mesma coisa. Como naquele horário da manhã a fábrica já estava funcionando e com os portões internos e externos abertos, cruzava a cerca, e passava por dentro da metalurgia até chegar ao Escritório Técnico, local do meu trabalho. Assim, poupava tempo e uma longa caminhada cortando caminho. Não era propriamente uma linha reta entre aqueles dois pontos, mas era um acesso curto e rápido. Fiz esse trajeto várias vezes, porém, essa facilidade não durou muito. Numa certa manhã cheguei ao meu ponto de passagem e, qual não foi minha surpresa: aquela cerca estava sendo consertada, e o pessoal que ali estava, me alertou que eu não poderia mais passar, impedindo, portanto, meu acesso. É claro que a vigilância deve ter notado aquele vão na cerca, e trataram de arrumar. Frustrado, porém entendendo que eu estava fazendo algo – digamos assim - errado, tive que voltar a fazer aquele percurso mais longo por um bom tempo, até que mudei de casa e, passei a usar uma bicicleta comprada de segunda mão, agora entrando pelo portão oficial. Coisas da vida.
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CAPÍTULO XXVII
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A COR DO DINHEIRO
em vi a cor do dinheiro. Quem já não ouviu essa expressão popular alguma vez? Pois é; hoje quase nem vemos o dinheiro, pois recebemos nosso salário, nossa aposentadoria diretamente numa conta bancária. Contas e boletos são pagos eletronicamente, consumindo nossos créditos lá depositados. E para gastar e usufruir disso, usamos o cartão de plástico, seja para comprar um sorvete, seja para comprar um automóvel. Parece que usar dinheiro vivo está, aos poucos, caindo de moda. Mas nem sempre foi assim. Talvez os amigos antigos ainda lembrem que no passado, usava-se andar com um maço de dinheiro no bolso, ou numa carteira dobrável ou até mesmo naquela pequena bolsa manual chamada de “capanga” (alguém lembra? Eu tinha uma preta!) e também um talão de cheques. (Será que ainda existem hoje aqueles jurássicos talões de cheques?). Quando eu entrei na Refrigeração Paraná, o salário mínimo vigente era algo em torno de 70 mil cruzeiros, e eu já fui registrado ganhando 100 mil cruzeiros mensais; portanto, próximo de 43% a mais do mínimo, o que equivaleria hoje, aproximadamente 1400 reais. O interessante era que o pagamento dos funcionários na época era feito em dinheiro vivo mesmo. Não havia conta bancária. Havia o adiantamento quinzenal, lá pelo dia 20, feito de mesa em mesa pelo rapaz do pagamento. Não tenho bem certeza, mas acho que era cerca de 30 % do salário e, no dia 5, era o pagamento restante. Lembro-me de ter visto algumas vezes, o rapaz da área financeira fazendo a folha de pagamento dos funcionários. Era uma coisa muito curiosa, vendo o rapaz trabalhar numa máquina de escrever especial enorme. O “carro” (parte móvel) da máquina tinha aproximadamente um metro de comprimento, para poder acomodar e preencher um enorme envelope com os dados do funcionário, com os valores já pagos, horas extras, os descontos diversos e o saldo a pagar. Tudo manual. Informática? Nem em sonhos! Chegava o dia cinco e todo mundo ficava na expectativa da chegada daquele ilustre visitante trazendo o pagamento. Eis que ele aparecia na porta do escritório e se ouvia aquele Ohhhh! E o pessoal com sorriso de orelha a orelha. O rapaz trazia uma caixa de madeira, parecida com aquele tabuleiro de vender cocadas, abarrotada de envelopes cheios de dinheiro, e ia solenemente, de mesa em mesa fazendo a alegria de todos. O recebedor então abria o seu envelope, contava o dinheiro na hora para conferir com o que estava impresso, enchia o bolso, assinava o canhoto e tudo bem!
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Realmente se via a cor do dinheiro!
Passado algum tempo – acho que foi no início de 1967 – A fábrica mudou a forma de pagamento, criando uma conta bancária para cada funcionário, no Banco Itaú, que ficava na Av. Marechal Floriano, próxima a Av. Kennedy. Houve certo desconforto no início porque o funcionário tinha que ir, na hora do almoço, de ônibus ou carona até o Banco, para receber seu salário. Mas também recebia um talão de cheques, caso não precisasse de dinheiro imediatamente. Isso perdurou por pouco tempo, então foi aberta uma agência dentro da fábrica, num canto do antigo prédio administrativo. Acredito que era a menor agência bancária do mundo, pois devia ter uns dois metros de largura por, no máximo, 4 metros de comprimento, comportando dois ou três funcionários, que seriam o Gerente, o Caixa e mais um. O balcão – se é que se pode chamar aquilo de balcão - de atendimento ficava quase na porta, o que só era possível atender a um cliente por vez. Os demais ficavam em fila fora daquele “enorme Banco”. Mais tarde, aquela agência foi transferida para a outra extremidade do prédio, agora com uma área maior de uns 20 a 25 metros quadrados e com dois guichês, e mais espaço para os clientes. Essa última agência, se não me engano, já era do Bamerindus. Assim era a vida dos funcionários na antiga Refrigeração Paraná.
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CAPÍTULO XXVIII O FATOR FEMININO NA REFRIPAR
N
ão tenho muita certeza, mas acho que foi no fim dos anos 60 ou início dos 70, que a Refrigeração Paraná decidiu incluir o público feminino em seu quadro de colaboradores na área fabril. Até aquele momento, somente nas áreas Administrativa e Engenharia havia a presença de mulheres, apesar de serem em menor número em relação aos homens. Em muitas indústrias, a presença feminina já era admitida na manufatura dos seus produtos, e foi nessa época que houve maior demanda por essa mão de obra, e que, percebendo o grande potencial que o fator feminino poderia agregar aos seus produtos, outras indústrias, incluindo a Refrigeração Paraná resolveram adotar também essa mão de obra. De fato, é sabido que a sensibilidade feminina é um detalhe importante num emprego que demanda cuidado no manuseio, nos detalhes, o que resulta em produtos bem acabados. Claro que isso não quer dizer que os homens não tenham, também, essa visão naquilo que fazem, mas é inegável que o toque feminino é bem visto numa produção de bens duráveis, e que satisfaz plenamente o cliente que vai adquirir aquele produto. Lembro-me dessa época em que as primeiras mulheres foram admitidas nas linhas de montagem, sendo ensinadas quanto aos procedimentos, em cada posto de trabalho, pelos seus gerentes e companheiros de jornada. Naturalmente, para que isso fosse possível, foram criadas também instalações específicas para mulheres, principalmente quanto a instalações sanitárias e vestiário. No início o contingente era pequeno, mas logo foi crescendo, com abertura de novas vagas devido ao aumento da demanda dos produtos e, consequentemente, do aumento da produção. Tudo era novidade, tanto para as mulheres que eram admitidas, ávidas por um emprego, quanto para os homens que, naquele momento, viam a presença feminina trabalhar agora ao seu lado com eficiência e desenvoltura. Há que se mencionar aqui, que algumas dessas mulheres, com o passar do tempo em suas funções, vieram a se destacar entre as demais pelo seu comprometimento, atitudes positivas, e espírito de liderança. Lembro-me da Dona Hilda na linha de espumados, muito mencionada na Engenharia pela sua característica de “gerentona”, mas que era uma pessoa muito querida e respeitada. Vale aqui também mencionar a presença feminina, admitida na Engenharia nessa mesma época na área de Projetos, (já nos anos 70) e que trabalharam ao meu lado; A Célia, Cláudia, Maud, e outras duas que ficaram pouco tempo, mas que, no momento, não recordo os nomes. Mais tarde já nos anos 80, a Thais, a Keiko Utumi e a
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Hatsue Baba e outras colegas em área paralela como a Claudia Leludak e a Mara Solange Kloss. Todas prestaram um ótimo serviço, emprestando seus conhecimentos dentro daquilo que lhes era confiado e, com isso, colaborando com o crescimento da Refrigeração Paraná. Assim, a Refrigeração Paraná entrava numa nova etapa da sua história, diversificando seu quadro de colaboradores.
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CAPÍTULO XXIX
O
O BOM FILHO À CASA TORNA
viajante que quer mudar de vida se aventura pelo mundo, mas nem sempre encontra aquilo que desejava. Geralmente enfrenta dificuldades as mais diversas, na saúde, na questão financeira, na adaptação ao novo ambiente de trabalho, na língua diferente, nas pessoas diferentes, na cultura diferente, na alimentação diferente, no clima diferente etc. Claro, estou exemplificando um caso hipotético e drástico de um viajante que percebe que aquele sonho acalentado por muito tempo, pode se tornar um pesadelo. Claro, também, que pode acontecer exatamente o contrário, e a pessoa se sentir realizada e feliz. Pensando e divagando sobre isso, lembrei-me de casos parecidos aqui bem perto, nesse mesmo meio entre amigos do grupo. Não que eles tenham enfrentado todos aqueles obstáculos citados acima, mas apenas alguns mais fáceis de resolver. Quando trabalhava na Refrigeração Paraná, não foram uma nem duas pessoas – foram várias - que deixaram o emprego na Fábrica, e se aventuraram em outras empresas, ou fundando seu próprio negócio. Cada um o fez por algum motivo; ou foi demitido, ou estava descontente com o trabalho que fazia, ou procurava melhoria salarial, ou proximidade com sua residência, ou vontade de mudar de profissão, ou de procurar novos desafios etc. Naturalmente muitos se deram bem, se adaptaram e evoluíram em seus novos locais de atividades, e a vida que segue. Já outros, não tiveram a mesma sorte, tiveram alguma dificuldade na mudança e, simplesmente perceberam na pele que “nem sempre é vantajoso mexer em time que está ganhando”. Decepcionados com os obstáculos enfrentados, simplesmente abandonaram suas pretensões. E o que aconteceu? A Refrigeração Paraná os recebeu de volta! O bom filho a casa torna. Eis aí o tal PORTO SEGURO para aqueles que, após navegarem por águas turbulentas na vida, tiveram o acolhimento e voltaram para a companhia dos seus antigos colegas! Eu mesmo, lá nos anos 70, pensei da mesma maneira, e fui procurar emprego em outra indústria, mas não tinha ainda pedido minha demissão da Refrigeração. Cheguei até a fazer entrevista em dois locais, mas depois ponderei as possíveis consequências dessa decisão e, numa decisão firme deixei de lado essa ideia. Nunca mais voltei lá para saber o resultado da entrevista. Só mais tarde, no ano 2000, fui demitido (sem justa causa). Durante o ano de 2001 procurando outro emprego, mandando currículo e, Nada! Mas em 2002, o que aconteceu? Fui convidado para voltar ao Porto Seguro, onde permaneci até 2014, saindo definitivamente.
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CAPÍTULO XXX
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INCLUSÃO SOCIAL
oda empresa séria, adota a política de inclusão social, dando oportunidade de trabalho àquelas pessoas com necessidades especiais. Na Refrigeração Paraná não foi diferente. Conheci vários colaboradores nos anos 60, com alguma necessidade especial, atuando em vários setores da fábrica e trabalhando lado a lado com os demais colaboradores, desempenhado suas funções com vontade, eficiência e perseverança. Vi de perto essas pessoas, e me admirava de ver aquele entusiasmo nas tarefas a eles confiadas. São, na sua maioria, pessoas focadas naquilo que estão fazendo, não tendo, portanto, desvio de atenção, e isso os torna muito produtivos para a empresa. Lembro também de um caso em que, a Refrigeração Paraná, não se limitou apenas em dar emprego a esses colaboradores especiais, mas também estendeu apoio mesmo depois de alguns deles ter deixado o emprego. Foi o caso de um colaborador com pequeno grau de deficiência mental, (não lembro seu nome, mas conversei com ele algumas vezes) que trabalhava na produção, no setor de montagem do Sistema de Refrigeração dos refrigeradores (Só para ilustrar, é um sistema selado composto pelo compressor, Condensador, Evaporador e suas tubulações). Como meu setor era Engenharia de Produtos, não tinha mais detalhes sobre a vida pessoal dele, porém soube que era uma pessoa simples e de poucos recursos, e num certo dia saiu da empresa. (Não sei por qual motivo) Nos dias seguintes sempre o via entrando na portaria e se dirigindo ao refeitório. Conversando com meus colegas a respeito dele, fiquei sabendo que a Refrigeração Paraná tinha permitido a sua entrada sem crachá – pois era muito conhecido na portaria, como também lhe concedeu almoço grátis diariamente. Isso perdurou por algum tempo, e depois não o vi mais. Esse foi um caso que eu conheci; provavelmente deve ter havido algum outro caso semelhante. Naturalmente, alguns amigos mais antigos aqui do Grupo, devem ter conhecido algum colaborador especial na Refrigeração Paraná, e poderiam também, dar aqui seus depoimentos. Como se vê, uma empresa séria, também tem seu lado humanitário, e a Refrigeração Paraná deu apoio para essa mão de obra especial.
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CAPÍTULO XXXI PROJETO SMILE
A
quele projeto foi um divisor de águas na Refrigeração Paraná no ano de 1994. Até aquela ocasião, os produtos fabricados eram, na expressão do nosso amigo design Júlio Bertola, verdadeiras “caixas de fósforos” devido ao seu aspecto quadrado, padrão tradicional na época, em todos os fabricantes de geladeiras. Para sair da mesmice, a Refrigeração Paraná – Diretoria, Marketing, Vendas, Engenharia de Produtos e Design - decidiu mudar o aspecto visual dos produtos, abandonando aquele design antigo e quadrado já desgastado, para uma linha mais moderna e arrojada, dando ênfase para curvas na porta, puxadores anatômicos embutidos na cabeceira da porta, cantos arredondados, e novos conceitos também nos componentes plásticos internos. Foi um trabalho minucioso do departamento de Design e da Engenharia de Produtos para por em prática aquela inovação. Assim começou com muitos esboços preliminares, definindo formas, materiais, cores, até a concepção de um modelo em tamanho real para avaliação visual e táctil. E assim foi feito. Certo dia foi convocado todo o pessoal envolvido no projeto, incluindo a Produção, para uma apresentação do protótipo na sala da Diretoria. Os responsáveis pelo projeto fizeram ampla explanação dos detalhes e os motivos que levaram àquela proposta, no sentido de lançar um produto diferente daqueles tradicionalmente vendidos no mercado. Na ocasião, o Sergio Prosdócimo aprovou e discorreu entusiasticamente aquele Projeto, “apostando todas as fichas” no êxito frente aos concorrentes. Alguns meses após aquela reunião, o produto já estava sendo produzido, saindo da Linha de Montagem para as lojas, e de lá para os lares brasileiros. Foi, de fato, um êxito no mercado naquela época, sendo o ponto de partida para uma nova concepção na família de produtos a ser produzida dali pra frente. Foi nessa época que estava sendo implantado na Engenharia de Produtos o sistema CAD- 3D, e que foi uma ferramenta muito importante desenvolvimento daquele projeto. Eu fui testemunha, eu estava lá.
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CAPÍTULO XXXII
E
HOMENAGENS
ssa parte é interessante. Uma Empresa que reconhece o valor de um colaborador para o bom desempenho dos seus produtos no mercado, naturalmente trata de prestigiá-lo de alguma forma. Pode ser uma promoção de cargo acima daquele em que está atuando, pode ser um aumento salarial, pode ser presenteando com algo de certo valor, e também homenageando com menções honrosas de tempos em tempos. Era assim os a vida dos refriparianos em décadas passadas. Os critérios variavam, podendo ser por avaliação das chefias diretas quanto ao desempenho no trabalho, como também por avaliação do Departamento de Pessoal no quesito assiduidade, e por tempo de casa. Para o colaborador homenageado, isso era satisfação e um grande incentivo, pois, sabia que sua dedicação ao trabalho era bem vista pela sua chefia direta e, por extensão, pelo empregador. Em várias ocasiões fui privilegiado com algumas dessas homenagens, como mostradas aqui, e que ainda guardo com carinho, apesar de tanto tempo passado.
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CAPÍTULO XXXIII
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TRINTA ANOS DE CASA mpossível esquecer certos momentos que marcaram nossas vidas dentro daquela fábrica, e que, por certo, muitos dos amigos que lá trabalharam também tiveram. Foram homenagens por tempo de casa, ou por outros
motivos.
Era tradição o pessoal fazer uma vaquinha para comprar um bolo e refrigerantes para homenagear o colega no dia do seu aniversário. Fui homenageado várias vezes, em várias modalidades, mas uma delas me emocionou profundamente. Foi no dia 14 de março de 1996, dia em que completei 30 anos de casa na Refrigeração Paraná. Naquele dia, meus colegas de trabalho e o pessoal da Engenharia, me fizeram uma surpresa inesquecível. Na Engenharia fábrica 2 tinha dois andares, e naquele dia eu estava trabalhando no segundo andar, concentrado naquilo que fazia e, de repente, percebi que alguns colegas haviam se ausentado dali. Não dei importância ao fato, já que é normal a movimentação do pessoal, e continuei meu trabalho. Alguns minutos se passaram, e apareceu um colega me dizendo que era para eu comparecer no andar inferior para uma reunião. Pensei: Deve ser por isso que o pessoal se ausentou, e eu não fui informado da tal reunião.
Desci a escada e abri a porta que dava acesso à Engenharia. Fiquei estático por uns instantes. Na minha frente, uma “multidão” de amigos me aplaudindo, fazendo muitas fotos e vídeos, a sala toda enfeitada com balões e faixas de papel crepom azul, uma mesa cheia de bolos, salgadinhos e refrigerantes, tudo bem organizado pelo pessoal.
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Quero aqui agradecer a todos e especialmente às meninas, que, com seu toque especial, fizeram a decoração; são elas: Claudia Leludak, Mara Solange Kloss, Claudia Silva, Hatsue Baba, Sueli, Thais, Keiko e outras que peço desculpas por não me lembrar dos nomes. Na parede dois cartazes com bonitas mensagens feitas pela Claudia Leludak. Recebi também uma placa alusiva ao evento, e que guardo com carinho até hoje.
Confesso que não esperava por aquela homenagem, mas foi gratificante receber o carinho dos amigos da Engenharia, do Protótipo, do Design, inclusive lá estava o Sr. Lohman representando a Diretoria.
São momentos assim que a gente percebe o quanto estamos rodeados de pessoas queridas e que tanto nos emociona nesses momentos. Estou muito agradecido a todos que tiveram aquela iniciativa, tornando aquele meu dia muito feliz, e que se transformou num marco, e mais um capítulo da minha história profissional na Refrigeração Paraná.
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CAPÍTULO XXXIV
E
ITÁLIA
m 1996 a Refrigeração Paraná já na transição para a Electrolux, decidiuse pela fabricação do Refrigerador de duas portas, que até então não era produzido em Curitiba.
Para não projetar um produto do zero, foi feita parceria com a Electrolux da Itália, onde esse tipo de refrigerador já era fabricado, para obtermos a tecnologia e, com isso, desenvolvermos o nosso produto. Em junho daquele ano (1996) eu e mais outros colegas e engenheiros, fomos designados para uma viagem até a cidade de Conegliano no norte da Itália, (próximo a Veneza), para uma visita técnica, e trazer de lá subsídios para o desenvolvimento do produto no Brasil.
Showroom
Sala de reuniões Electrolux – Conegliano
Assim foi feito. Trouxemos algum material técnico (desenhos) e começamos o nosso Projeto. Mas as coisas estavam indo bem naquele desenvolvimento e, parte do Projeto foi então direcionado para a Coreia do Sul. Mandávamos daqui para lá alguns desenhos e parâmetros desejados, como, layout interno, e outros detalhes, e de lá vinham desenhos para serem feitos prototipos aqui. Lembro que havia muitos
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problemas na conversão dos desenhos eletrônicos de lá para o nosso sistema daqui. Alguns eram ilegíveis. Mas aos “trancos e barrancos” o projeto foi se desenvolvendo. Naquele período de desenvolvimento, havia intercâmbio de viagens, tanto de coreanos para cá, como de brasileiros para lá. Numas dessas ocasiões, o Gilmar Zilli, então gerente de Engenharia, estava na Coreia para acertos finais do Projeto. Nunca vou esquecer aquele dia – ou daquela noite. Era uma noite fria e com garoa, típico de Curitiba; eu dormindo tranquilo quando recebo uma ligação depois da meia-noite do meu chefe de Departamento. Disse ele mais ou menos assim: “Eramis, o Gilmar me ligou agora da Coreia pedindo urgente, detalhes e volumes das cumbucas internas da porta do refrigerador”. Na ocasião, mal tinha começado aquela parte do projeto. Observe que o fuso horário, nesse caso é de 12 horas. Quando ele pediu os dados, lá era meio dia; enquanto aqui era meia noite. Levantei-me sonolento e mal-humorado; joguei um pouco de água na cara, me vesti, coloquei um gorro de lã e fui para fábrica em plena madrugada, a fim de resolver aquele pedido (ou uma ordem). Só consegui reunir todos os dados solicitados às 07h00 da manhã e entreguei ao meu chefe para mandá-los para a Coreia do Sul. Aquele projeto deu muito trabalho no desenvolvimento, correções nos desenhos, muitos testes de protótipos no laboratório e, finalmente, meses depois, entrou em produção. Mais uma aventura naquela fábrica.
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CAPÍTULO XXXV O PROJETO TANQUINHO
A
quele Projeto foi interessante e prometia, porém, como se diz, morreu na casca.
Certo dia eu e mais alguns colegas projetistas, engenheiros e pessoal de Compras, fomos convocados para um Projeto “Secreto”. Na época, parece que estava havendo uma baixa procura dos produtos produzidos, e ficou estabelecido que iriamos lançar no mercado um novo produto de baixo custo para ser mais competitivo, e dessa forma, – quem sabe – alavancar as vendas. Na ocasião, determinou-se que era um projeto sigiloso, cujo desenvolvimento não deveria vazar de forma alguma para a concorrência, pois tudo indicava que a concorrência naquela época passava pelos mesmos problemas de mercado que a Refrigeração Paraná. Para isso, assinamos um termo de confidencialidade e fomos deslocados para uma sala fora da Engenharia de Produtos, específica para aquele projeto. Foram convocados também alguns fornecedores nos mesmos termos, e ainda para maior despiste caso alguma informação vazasse, ficou estabelecido entre nós que estaríamos desenvolvendo um projeto de tanquinho. Na realidade, seria um refrigerador pequeno e não um Tanquinho de lavar roupas. Começamos num ritmo acelerado o desenvolvimento, aproveitando peças existentes, criando peças novas, sempre tendo em mente o menor custo possível, fazendo um verdadeiro malabarismo para simplificar o desenho, sem desprezar o possível desempenho do produto. Passado cerca de um mês ou um pouco mais de projeto, foi feito um protótipo, mas o desempenho não foi lá muito bom. Claro, era de se esperar num projeto feito a “toque de caixa”, tudo pode acontecer. O produto teria que ser melhorado, mas fatalmente haveria acréscimo no custo de componentes. Começamos a rever o projeto e pensar em alternativas. Eis que nesse ínterim, a venda dos produtos de linha voltou a subir e o Projeto Tanquinho foi desativado, e cada um de nós voltou para seu posto de trabalho tradicional. E a vida na Engenharia de Produtos seguiu seu curso normal.
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CAPÍTULO XXXVI
A
CLUBE 3 MARIAS
penas dois minutos, ou até um pouco menos. Esse foi o tempo transcorrido naquele momento de pura surpresa, na noite de 12 de maio de 2007.
Naquela noite, já na Electrolux, foi organizado um Evento no Clube 3 Marias, relativo ao bom desempenho nos negócios da Empresa. Ao mesmo tempo, foram homenageados vários funcionários por tempo de casa, incluindo colaboradores de São Carlos. Na ocasião, eu estava contratado como autônomo em caráter temporário na Engenharia de fogões, mas, mesmo assim fui convidado para aquele evento. Tudo transcorria normalmente com as palavras dos membros da diretoria e gerentes de áreas, ressaltando os bons momentos nos negócios e, em seguida, com a chamada das pessoas ao palco para receberem as homenagens, na sequência crescente de 5, 10, 15, 20 anos de serviço. Como eu não era funcionário efetivo, não tinha expectativa de ser homenageado, apesar de que, na contagem de tempo em que era funcionário de fato, somado com o tempo de cinco anos como autônomo, perfazia quarenta anos. De repente, a surpresa. Após o último homenageado da série, a Sra. Ivone, que estava ao microfone anunciando os homenageados, fez uma breve pausa e, em seguida, quebrando o silêncio, anunciou em alto e bom som:
“E agora, com quarenta anos de casa, Eramis Braz Padilha”. Um aperto no peito, coração acelerado, um nó na garganta, e emoção, tudo ao mesmo tempo. Pensei que teria um infarto! E lá estava eu, ali, descendo e parando no meio do palco, incrédulo, sendo cercado e aplaudido por cerca de trezentas e cinquenta pessoas em pé. Por alguns segundos me perguntei: o que é que estou fazendo aqui? O que significa isso?
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É indescritível a sensação de estar ali naqueles breves momentos, em que me vi o centro de atenção de tantas pessoas, conhecidas e desconhecidas, que espontaneamente se manifestavam em minha direção! Foi uma carga muito grande de energia positiva que naquele momento chegou até mim, e que me deixou paralisado por alguns segundos, até que compreendesse o que de fato estava ocorrendo. Minha reação seguinte foi estender os braços abertos na direção daquelas pessoas; queria agradecê-las, uma a uma por aquela manifestação. Muitos amigos espontaneamente vieram me abraçar e me cumprimentar. Não mereço tanto afeto assim; sou igual a cada um de vocês, apenas com um pouco mais de tempo vivido e um pouco mais de história para contar. Apenas isso.
Cada uma daquelas pessoas presentes naquele evento tem plena possibilidade de chegar nessa marca e até superá-la. Não é um desafio inatingível, mas é preciso perseverança, pois, a cada dia é um novo começar, a cada dia é um novo desafio a ser superado, a cada dia é novo paradigma a ser quebrado. É assim que as pessoas evoluem e, principalmente, deve-se acreditar naquilo que fazem, pois agindo assim, verão os frutos do seu trabalho e sentir-se-ão gratificados. Tenho certeza, muitos dos amigos que lá trabalharam já sentiram isso, como eu também já senti. É gratificante!
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São momentos como esse que vivemos com plenitude o carinho, o respeito e a amizade das pessoas à nossa volta. Ser agraciado em público com uma homenagem como eles me proporcionaram, não tem preço. Todos nós que participamos daquele evento estamos de parabéns. Cada um de nós contribuiu com sua parcela de trabalho e de conhecimento para que um objetivo fosse atingido. A união de todos foi fundamental, e o resultado esperado foi alcançado pela Empresa nos seus negócios. Aquela homenagem por mim recebida, divido com todos os amigos; com todos aqueles que, de uma forma ou de outra, participaram do meu progresso pessoal e profissional naqueles quarenta anos na empresa. Sem a ajuda deles, eu não estaria aqui escrevendo esse depoimento. Meus sinceros agradecimentos aos meus colegas de trabalho, aos meus superiores hierárquicos e aos membros da Diretoria da Empresa, pelos bons momentos vivenciados no evento naquela inesquecível noite.
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CAPÍTULO XXXVII A BIBLIOTECA – LER E ESCREVER
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esde garoto gostei de ler. Meu primeiro livro infanto-juvenil ganhei da minha professora na conclusão do 4° ano primário: “O Patinho Feio” de Hans Christian Andersen.
Já faz muito tempo!
Sem dúvida, aquele livro foi um estímulo e tanto. Dali para frente comecei a frequentar a Biblioteca Pública, emprestando livros diversos, principalmente aqueles que abordavam Curiosidades, Astronomia e assuntos científicos. Não satisfeito com aqueles livros muito didáticos, comecei a me interessar por ficção científica comprando gibis e livros do gênero. Certo dia passando por uma banca de jornal na Rua Voluntários da Pátria, vi um livrinho de bolso de ficção científica que me encantou e comprei. Não parei mais. Comecei a frequentar um sebo na Rua Emiliano Perneta, onde havia mais livros daquela série, e fui “devorando” um por um. Isso quando tinha 13 anos de idade. Recentemente comprei alguns daqueles antigos livrinhos pela Internet, apenas para relembrar aquelas grandes aventuras lidas na minha juventude.
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Hoje minha estante é pequena, porque mantenho apenas aqueles que mais gosto e reciclo aqueles que julgo substituíveis. Talvez por ler muito na juventude, me senti estimulado a escrever pequenos textos e fui gostando daquilo. Claro, tudo se perdeu com o tempo. Há alguns anos voltei a escrever, sem compromisso, apenas como exercício mental e publicar as minhas memórias. Mas nunca deixei de ler. Já fui assinante de livros, de jornal e de revistas. Já no tempo da Refrigeração Paraná, lembro que foi criada a Biblioteca para os colaboradores. Era ainda incipiente, com livros doados por colaboradores, e que, aos poucos, foi aumentando o seu acervo. Eu mesmo doei alguns livros na época, e levava outros emprestados. Lembro que a biblioteca mudou de local algumas vezes, começando na extremidade do antigo prédio administrativo, depois para o mezanino da fábrica 1, já mais organizada, contando também com acesso à Internet. Mais tarde, mudou para perto da Fábrica 2, agora com um acervo apreciável, recebendo mais doações e adquirindo livros novos, incluindo “Best Sellers” de época, entre os quais, que eu lembro, alguns títulos do escritor Dan Brown que levei emprestados. Mas o que me surpreendeu certo dia, foi quando pesquisava nas prateleiras à procura de uma nova leitura, peguei um com um título interessante: “Tuareg”. Comecei a folhá-lo e me interessei. Um excelente livro. Tratava-se de uma aventura no deserto com aqueles habitantes nômades, com seu modo de vida e seu código de honra. Olhando a página de rosto do livro, lá estava escrito a mão, o nome da antiga proprietária: Quem era? Lisiane Prosdócimo! – Obrigado Dona Lisiane por aquele achado na Biblioteca.
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CAPÍTULO XXXVIII O CRACHÁ E O BOATO
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oje em dia em qualquer loja, consultório, hospital, órgão público ou empresa, sempre vemos aqueles colaboradores ostentando pendurado no peito, aquela plaquinha de plástico com uma fita colorida com o seu nome e do local a qual pertencem. É um meio de se assegurar que ali não há pessoas estranhas ao local. No passado não era bem assim. Não havia, pelo menos, na maioria das empresas, esse cuidado com o acesso de pessoas estranhas nas suas dependências, já que, nas pequenas empresas com número reduzido de colaboradores, eram facilmente identificáveis visualmente, porém, nas empresas maiores, onde havia grande número de pessoas entrando pela portaria quase ao mesmo tempo, não se poderia distinguir quem era e quem não era colaborador. Na Refrigeração Paraná também era assim lá pelos anos 70. Certo dia surgiu um boato entre os funcionários, que fora detectada a presença de uma ou mais pessoas dentro da fábrica que não pertenciam ao quadro funcional, e que haviam, portanto, entrado livremente nas instalações pela portaria. Comentava-se que se tratava de “espiões da concorrência”, que estariam ali bisbilhotando as instalações, equipamentos e produtos. Não fiquei sabendo oficialmente do ocorrido, acreditando que essa história tenha sido abafada para não expor publicamente a fragilidade da segurança, ou se era mesmo um boato. Coincidência ou não, o fato é que a Refrigeração Paraná, logo em seguida, adotou um sistema para impedir a possível entrada de estranhos, distribuindo uma identificação pessoal para cada colaborador. Assim, certo dia lá nos anos 70, recebíamos aquilo que poderia ser chamado de crachá, e que deveríamos fixá-lo na roupa na altura do peito, não apenas para adentrar pela portaria, como também enquanto permanecêssemos dentro da fábrica. Não era exatamente um crachá como costumeiramente vemos hoje; era um pequeno escudo metálico, redondo, cor de bronze, com aproximadamente quatro cm de diâmetro, no qual trazia estampado o nome da empresa, tendo no verso aquele perigoso grampo para furar e prender na roupa. Esse sistema não permaneceu por muito tempo, pois, o pessoal reclamava que, além de pesado e incômodo para usá-lo, poderia enroscar em algum objeto durante o trabalho, - o que de fato acontecia - podendo rasgar a roupa, - e talvez até causar um acidente. Veio então uma nova modalidade; dessa vez era uma plaquinha quadrada de acrílico com 4 x 4 cm, mais leve, com logotipo da Refrigeração Paraná, e com a
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matrícula do colaborador. Melhorou, mas continuou com aquele incômodo grampo traseiro para fixação. Não lembro ao certo, mas penso que foi próximo à gestão Electrolux que foi instituído o crachá como conhecemos atualmente; com fita para pendurar no pescoço, com chip, foto, matrícula e nome do colaborador. Não raro a pessoa perdia ou esquecia o crachá em casa, ou, às vezes a catraca não reconhecia o chip por dano causado e travava. Pedia-se, então na portaria um crachá novo e um provisório só para aquele dia. Eu mesmo fiz isso algumas vezes.
ANTES
DEPOIS
RECENTE
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CAPÍTULO XXXIX INOVANDO E SIMPLIFICANDO
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omo disse lá no primeiro capítulo dessa coletânea de depoimentos, meu aprendizado na profissão de desenhista começou com desenho gráfico na Impressora Paranaense.
Agora, numa Indústria de Eletrodomésticos, o aprendizado foi ainda maior, mesclando a experiência do primeiro emprego com desenho gráfico, com a experiência do segundo emprego com desenho mecânico. Já no início das minhas atividades na Refrigeração Paraná, (1966), além do envolvimento com projetos dos produtos e outras atividades paralelas, conforme descrevi em capítulos anteriores, fui incumbido pelo Sergio Prosdócimo, (que na época era responsável pelo setor de Garantia) de preparar um catálogo dos produtos, no qual teria que desenhar o produto em perspectiva, e que mostrasse todas as peças, com a descrição de cada uma numa folha à parte. Esses desenhos se destinavam às oficinas autorizadas para que pudessem identificar e encomendar peças de reposição à fábrica. Fiz vários desenhos da melhor maneira possível, em tamanho reduzido e sem instrumentos adequados.
INVENTANDO UM DISPOSITIVO Mais tarde, com novos produtos em linha, a tarefa era a mesma: Catálogo para a Assistência Técnica. Só que dessa vez, procurei inovar na técnica de desenho, e idealizei um dispositivo para me facilitar o trabalho. Solicitei ao Dep. De Manutenção a confecção de duas réguas de aprox., 1,2 m de comprimento em aço inox, pivotadas num suporte que ficava preso nas laterais da prancheta, de modo a poder movimentar livremente aquelas réguas. Aquele artifício me permitia fazer, com mais agilidade, um desenho em Perspectiva Cônica com dois pontos de fuga, o que dá uma visão mais realista e agradável daquilo que se desenha, particularmente se o objeto a ser representado for muito volumoso. Já para pequenos objetos em catálogos, usam-se as perspectivas Isométrica e Cavaleira. Para o traçado de linhas verticais e horizontais, usava o Tecnígrafo articulado, conforme aparece na foto.
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Colocando em prática, fazia os desenhos com lapiseira e papel branco e, uma vez pronto, cobria-se com papel vegetal translúcido e copiava com caneta com tinta nanquim. Concluído o desenho, ele era enviado a uma Gráfica para imprimir em formato A4, para ser distribuído às Assistências Técnicas. Como nessa fase conseguia fazer desenhos em tamanho grande, poderia ser mais complexo e era possível detalhar com maior precisão cada peça.
Um dos muitos desenhos auxiliados por aquele dispositivo.
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CAPÍTULO XXXX ACIDENTE ZERO
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um ambiente fabril, qualquer que seja a natureza da atividade, sempre vão existir pontos perigosos, e que devem ser respeitados sob pena de acidentes físicos. Atualmente, esse cuidado é levado a sério pelas empresas, mas mesmo assim com todo cuidado com seus colaboradores no uso de Equipamentos de Proteção Individual, às vezes acontece o imprevisível. Lembro que na Refrigeração Paraná, de vez em quando havia visitantes em grupos para conhecer a fábrica. Eram geralmente estudantes com agendamento prévio, mas também havia outros convidados, como, lojistas, empresários, fornecedores etc. Não havia, inicialmente, uma norma para atendimento desses visitantes, que eram acompanhados por uma ou mais pessoas da fábrica, (dependendo do número de visitantes) mas sem um roteiro pré-estabelecido, e às vezes passavam por locais pouco seguros. Observando essa não conformidade dentro da fábrica e que poderia ser a causa de acidentes, certo dia o Dr. Vieira me pediu para organizar dois mapas do interior da fábrica, em formato reduzido, mostrando todos os corredores e setores críticos, e colocados numa prancheta de mão. Neles foram marcados dois roteiros diferentes a serem seguidos, sendo, um para estudantes – geralmente menores de idade – desviando de pontos perigosos, como por ex. Metalurgia, onde havia fagulhas de solda no ar, muito ruído das prensas e um pouco de poluição também, ou os locais de manipulação de lã de vidro, ou ainda a Galvanoplastia e Pintura com seus vapores tóxicos. Já o outro roteiro com alguma modificação, se destinava a outra categoria de visitantes como, fornecedores, autoridades etc. Assim, o “guia de turismo” podia se deslocar com aquela orientação, sempre puxando um pequeno grupo pela fábrica, sem expor aqueles visitantes a acidentes e, quando muito, mostrar de longe aqueles pontos perigosos. Mais tarde foi instituída a CIPA, que veio a dar mais segurança aos colaboradores com normas e boas práticas no ambiente de trabalho, e ainda premiando anualmente aqueles que não incorreram em nenhum acidente, seja ele de menor ou maior gravidade. Mesmo uma pequena escoriação causada por desatenção às normas, e que tenha sido atendido pela enfermaria, já era registrada no prontuário e perdia a medalha do
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ano. Era assim já na transição da Refrigeração Paraná para Electrolux. Eu ganhei. Acidente Zero. EBP.
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CAPÍTULO XXXXI
N
UMA LONGA VIAGEM
o momento em que iniciamos uma viagem, não sabemos quanto tempo ela vai durar; pode ser horas, dias, meses, anos ou até décadas. Mas independentemente do tempo transcorrido, toda viagem traz novos conhecimentos, novas visões de vida, e muitas vezes nos surpreende com acontecimentos imponderáveis e, por fim, chegamos ao nosso porto de destino, cientes que fizemos uma boa viagem. A minha permanência na Refrigeração Paraná e depois na Electrolux foi como uma longa viagem no tempo, que teve início em 1966. Foi uma viagem fantástica, com bons momentos, vivenciados e gratificantes lembranças daqueles primeiros passos na profissão. Muito aprendi com o desenvolvimento de produtos na Engenharia de Produtos. Conheci aqui pessoas incríveis das quais guardo gratas lembranças e que me ensinaram e me transmitiram seus conhecimentos. Sou grato a todas essas pessoas amigas, muitas das quais já não estão mais aqui neste plano e que, de alguma forma, contribuíram para minha evolução pessoal e profissional. Passei por vários momentos felizes e emocionantes proporcionados por amigos no transcorrer dessa travessia, quando recebi algumas homenagens por tempo de empresa e que guardo com carinho e que jamais se apagarão da minha memória. Concluo mais essa etapa e aqueles bons momentos que marcaram indelevelmente minha permanência aqui. Mas o que considero o maior prêmio que já obtive dentro dessa empresa, foi quando conheci aqui uma pessoa muito especial; aquela que viria a ser a mãe dos meus três filhos: Minha dedicada, abnegada e querida esposa Cirlene, com a qual compartilho todos os dias da minha vida até hoje, e que me apoiou incondicionalmente nos momentos mais difíceis, particularmente nessa decisão. A ela minha eterna gratidão. Tudo tem seu devido tempo para acontecer. A Natureza é sábia e nos ensina que há um tempo de plantar e há um tempo de colher. Assim, é chegado o momento de fazer uma pausa nessa viagem, de meditar e de colher os frutos daquela semente plantada lá em 1966, quando iniciei meu emprego na Refrigeração Paraná. Agora, o porto de destino está à vista; a longa viagem está terminando. Chegou o momento de desembarcar dessa grande nave chamada Electrolux e pisar num novo chão, seguir um novo caminho, vislumbrar novas perspectivas, novos horizontes, novas possibilidades. O que virá a seguir? Não sabemos o futuro. Só o tempo dirá! Sigo em frente mirando o futuro. Por onde passei não fecho portas atrás de mim, pois posso ter que voltar; não espalho espinhos por onde passei, pois posso ter que
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voltar descalço. Deixo atrás de mim, apenas tênues pegadas, para saber por onde passei, e reconhecer o caminho de volta se necessário for. Assim, é com um sentimento de perda que hoje, 14 de maio de 2014, estou rompendo esse cordão umbilical que me une a essa empresa. Saio em paz, porém, com um aperto no peito, deixo esse ambiente onde obtive tantas conquistas pessoais e profissionais, mas tendo a consciência tranquila que sempre fiz o melhor que estava ao meu alcance no cargo que me foi confiado. Tive o privilégio e orgulho de ter trabalhado nessa grande empresa durante todos esses anos, colaborando, ainda que de maneira ínfima, no desenvolvimento dos produtos que tanto agradam aos consumidores. Certamente sentirei saudades dos amigos que aqui deixo, e dos bons momentos vivenciados enquanto aqui permaneci, e sou profundamente grato a todos aqueles que aqui ficam e que me dispensaram amizade, respeito e compreensão; pessoas essas que, de certo modo e sem perceber, fizeram parte da minha vida no convívio diário sob esse mesmo teto. Da mesma forma, estou profundamente grato aos meus superiores hierárquicos, pela confiança em mim depositada durante todos esses anos em que aqui permaneci. Nesse momento de mudança de rotina, rogo ao Grande Criador do Universo, que me ilumine e me oriente em todas as minhas ações nessa nova etapa da minha vida e que nos abençoe a todos. (Escrevi e transmiti esse texto aos meus amigos no dia em que deixei a Eletrolux)
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CAPÍTULO XXXXII
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FIM DE UMA JORNADA
contece comigo. Talvez também com outras pessoas, a mania de guardar na mente certos acontecimentos pelos quais passamos e, com detalhes, muitas vezes até sem importância, mas que, de certa forma, marcaram na nossa existência. Hoje pela manhã enquanto tomava meu café tranquilamente, meu olhar se desviou para o calendário na parede, e se fixou naquela data: nove de maio. Então lembrei. Há exatos seis anos, (09 de maio de 2014), naquele mesmo horário, eu terminava um ciclo na minha vida; naquele dia eu estava organizando os últimos arquivos do meu trabalho e fazia uma faxina nas minhas gavetas, jogando no lixo apontamentos que não tinham mais sentido guardar naquele momento; separando alguns livros e apostilas referentes aos meus treinamentos e à minha atividade, imaginando que um dia me poderiam ser úteis, mas que, na realidade, tudo seria diferente. Naquele dia, com minha câmera na mão, resolvi guardar imagens daquele local em que exercia minha atividade, como forma de lembrar os bons e produtivos momentos em que lá passei.
Aquele seria o meu último dia naquela sala. Naquele momento, mil lembranças passaram pela minha cabeça como uma projeção acelerada, partindo desde o dia em que lá pisei pela primeira vez quando era ainda a Refrigeração Paraná. Tudo na vida tem um começo, um meio e um fim. Mas para mim, não foi um fim melancólico, foi uma decisão consciente, mas que, mesmo assim, a gente sente um aperto no peito quando acontece. Deixar para traz uma rotina e o convívio diário com pessoas amigas, não foi fácil, mas superei.
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CONCLUSÃO Convivi com pessoas incríveis durante todos esses anos, muitos dos quais ainda estão na ativa, outros já aposentados e, lamentavelmente, muitos daqueles que foram nossos companheiros de jornadas num passado não muito distante, já não estão entre nós, porém, ainda estão nas nossas memórias e lá permanecerão ainda por muito tempo. Hoje os mais jovens dentro da Empresa e que não viveram naquele período, não fazem ideia de como era uma Empresa familiar, até modesta para os padrões de hoje, mas onde todos se conheciam e trabalhavam satisfeitos.
GALERIA DE AMIGOS
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Orgulho de todos nós