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CAPÍTULO XXVII
N
A COR DO DINHEIRO
em vi a cor do dinheiro. Quem já não ouviu essa expressão popular alguma vez? Pois é; hoje quase nem vemos o dinheiro, pois recebemos nosso salário, nossa aposentadoria diretamente numa conta bancária. Contas e boletos são pagos eletronicamente, consumindo nossos créditos lá depositados. E para gastar e usufruir disso, usamos o cartão de plástico, seja para comprar um sorvete, seja para comprar um automóvel. Parece que usar dinheiro vivo está, aos poucos, caindo de moda. Mas nem sempre foi assim. Talvez os amigos antigos ainda lembrem que no passado, usava-se andar com um maço de dinheiro no bolso, ou numa carteira dobrável ou até mesmo naquela pequena bolsa manual chamada de “capanga” (alguém lembra? Eu tinha uma preta!) e também um talão de cheques. (Será que ainda existem hoje aqueles jurássicos talões de cheques?). Quando eu entrei na Refrigeração Paraná, o salário mínimo vigente era algo em torno de 70 mil cruzeiros, e eu já fui registrado ganhando 100 mil cruzeiros mensais; portanto, próximo de 43% a mais do mínimo, o que equivaleria hoje, aproximadamente 1400 reais. O interessante era que o pagamento dos funcionários na época era feito em dinheiro vivo mesmo. Não havia conta bancária. Havia o adiantamento quinzenal, lá pelo dia 20, feito de mesa em mesa pelo rapaz do pagamento. Não tenho bem certeza, mas acho que era cerca de 30 % do salário e, no dia 5, era o pagamento restante. Lembro-me de ter visto algumas vezes, o rapaz da área financeira fazendo a folha de pagamento dos funcionários. Era uma coisa muito curiosa, vendo o rapaz trabalhar numa máquina de escrever especial enorme. O “carro” (parte móvel) da máquina tinha aproximadamente um metro de comprimento, para poder acomodar e preencher um enorme envelope com os dados do funcionário, com os valores já pagos, horas extras, os descontos diversos e o saldo a pagar. Tudo manual. Informática? Nem em sonhos! Chegava o dia cinco e todo mundo ficava na expectativa da chegada daquele ilustre visitante trazendo o pagamento. Eis que ele aparecia na porta do escritório e se ouvia aquele Ohhhh! E o pessoal com sorriso de orelha a orelha. O rapaz trazia uma caixa de madeira, parecida com aquele tabuleiro de vender cocadas, abarrotada de envelopes cheios de dinheiro, e ia solenemente, de mesa em mesa fazendo a alegria de todos. O recebedor então abria o seu envelope, contava o dinheiro na hora para conferir com o que estava impresso, enchia o bolso, assinava o canhoto e tudo bem!