ALL EM REVISTA 8.1,2 - agosto 2021 - EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO

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O GÊNIO FLORESTAL FERNANDO BRAGA Quem alcunhou Manuel Nunes Pereira, um dos maiores etnólogos brasileiros, de ‘gênio florestal’, foi um homem que tem a poesia na alma e um dodecassílabo no nome: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Manuel Nunes Pereira, infelizmente pouco conhecido pelos nossos conterrâneos e por seus pares da Academia Maranhense de Letras, foi uma das pessoas mais extraordinárias e generosas que tive a felicidade de conviver; nasceu na velha ‘Casa das Minas’, de origem daomeana, com traços da religião ou mitologia jêge-nagô, com culto Vodu, na Rua de São Pantaleão, em São Luís do Maranhão, em 26 de junho de 1893; era filho de Mãe Almerinda e afilhado da velha Nochê, Mãe Andreza Maria; e morreu no Rio de Janeiro, noventa e dois anos depois, em 27 de fevereiro de 1985. Foi muito cedo para Belém do Pará e depois para Niterói e Rio de janeiro, onde abandonou o curso de direito para estudar veterinária, biologia e botânica, especializando-se em etnografia e etnologia, cujas ciências dedicou sua vida inteira até aposentar-se pelo Ministério da Agricultura, possuindo nesse campo cientifico, um dos maiores acervos do país, em livros, documentos, anotações, fitas, filmes e registros das mais variadas espécies. Era um etnólogo do porte de Roger Bastide, de Arthur Ramos e de Levi Strauss, e “um homem de ciência agudamente provido de sensibilidade e visão humanística, eis o que é o caboclo maranhense Nunes Pereira”, na visão sensível, mas objetiva de Carlos Drummond de Andrade. Era membro da Academia Maranhense de Letras, para onde foi eleito duas vezes; a primeira ele não tomou posse no prazo regimental, tendo sido, por isso, passivo de uma nova eleição que o ratificou na cadeira nº 23, patroneada por Graça Aranha, e atualmente ocupada pelo engenheiro e mestre em Desenvolvimento Urbano, Luis Phelipe Andrès; Nunes Pereira é também um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras, onde conheceu e foi amigo de seu conterrâneo Maranhão Sobrinho, um dos maiores poetas simbolistas do Brasil. Como prova de sua grandeza em direção do bem, trago a este dedo de prosa o nosso escritor Jorge Amado que assim explana, em ‘Literatura Comentada’, edições Abril [1981-2]: “... Antes de decretarem o Estado Novo cheguei a Manaus e fui preso... Fui colocado numa cela com o Nunes Pereira, o etnólogo, um homem encantador. Eu e o Nunes Pereira passávamos o dia inteiro debaixo do chuveiro porque fazia um calor infernal, e os integralistas desfilavam na frente ameaçando a gente de morte ...” Estas são algumas das publicações de Nunes Pereira: A Casa das Minas: contribuição ao estudo das sobrevivências do culto dos ‘voduns’, do panteão Daomeano, no Estado do Maranhão, Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, 1947 2ª.ed., Petrópolis, Vozes, Rio de Janeiro, 1979; Moronguetá - Um Decameron Indígena. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967 e 1976, 2 vols. [Coleção Retratos do Brasil, nº 50]; Panorama da alimentação indígena: comidas, bebidas e tóxicos na Amazônia Brasileira. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1974; Os índios Maués. Rio de Janeiro, Organização Simões, 1954;’Curt Nimuendaju’, [Síntese de uma vida e de uma obra], 1946; (Opúsculo) [A tartaruga verdadeira do Amazonas] de 17 páginas foi elaborado pelo veterinário Nunes Pereira e trata de uma obra bastante interessante e extremamente difícil de ser encontrada nas bibliotecas e acervos públicos. Dentre as muitas lembranças e saudades deixadas por Nunes Pereira, uma placa de bronze foi inaugurada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por ocasião de seu centenário de nascimento, cuja confecção foi providenciada pelo último secretário do cientista, o pesquisador ítalo-brasileiro Savério Roppa. Certa vez, no Rio de Janeiro, contou-me Nunes Pereira, procurou o escritor Coelho Neto, nosso conterrâneo ilustre para lhe pedir, dado seu prestígio, uma colocação em qualquer abrigo, desde que o remunerasse,


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A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM DILERRCY ADLER O GÊNIO FLORESTAL

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

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MINI CURRÍCULO PARA APRESENTAÇÃO NA ENTREGA DOS DIPLOMAS DE MEMBROS CORRESPONDENTES PRÉ-PROJETO BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS: a Rosa-de-Jericó (1822- 2022) DILERCY ARAGÃO ADLER

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