enquanto espero
No cais de onde nunca parto Nathália Rinaldi No cais de onde nunca parto A maresia dos dias Fernando Pessoa subo e desço o cais meus passos são como os de todos que por ali passam: já foi e já voltou muitas vezes conheço este cais até de olhos fechados e me movimento assim livremente: sem medo ouço os apitos e meu coração reage aos silêncios, meu coração também reage não sei se sei quem sou não sei que partes de mim ficaram pelo caminho não sei quanto tempo o tempo tem para me dar a maresia é um confinamento de vai e vem que não sai do lugar as fumaças não são suficientes e às vezes ficamos verdes a realeza só vejo passar - ocupada em ser realeza observo menos do que sou observada aqui, a imagem antecipa o ser e eu continuo sem partir nas poucas artes, mergulho com intensidade nado, busco, desejo e às vezes me perco tudo para sobreviver ao marasmo dos dias no cais.
Nathália Rinaldi é petropolitana. Graduada em Letras e pós-graduada em literatura brasileira pela UERJ, é professora e oferece oficinas poéticas. 151