E&M_Edição 06_Setembro 2018 • Para onde vai o dinheiro?

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PARA ONDE VAI O DINHEIRO? QUANTO VALE, AFINAL, A AJUDA AO DESENVOLVIMENTO MOÇAMBIQUE BELULUANE A CUMPRIR 18 ANOS, PARQUE INDUSTRIAL QUER SER MAIOR O JOGO COMO A POUCA SORTE FEZ CRESCER OS JOGOS DE AZAR AMECON ANTÓNIO TIVANE QUER TRAZER ECONOMISTAS PARA A RIBALTA NÓMADAS DIGITAIS UMA NOVA TENDÊNCIA QUE ESTÁ A MEXER COM O TURISMO SETEMBRO 2018 • Ano 01 • NO 06 Preço 200 MZN

6 OBSERVAÇÃO

ONU

Realiza-se em Setembro a reunião de um dos órgãos mais importantes das Nações Unidas 8 R

ADAR

Panorama Economia, Banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País, Agenda 14 M

ACRO

ENQUADRAMENTO

14 Indústria Aos 18 anos, o Parque Industrial de Beluluane ainda está longe da maioridade

18 Jogo Como o abrandamento económico fez disparar a receita fiscal dos jogos

DESENVOLVIMENTO

24 Para onde vai o dinheiro? Moçambique é, historicamente um dos maiores destinatários de fundos de ajuda ao desenvolvimento

34 Na voz de... António Souto,Presidente do Conselho Executivo da Gapi

PROVÍNCIA

Eleições

O que pode, e deve mudar, nas autarquias, na sequência das eleições marcadas para Outubro

MERCADO E FINANÇAS

Estatísticas

A ‘qualidade’ dos números produzidos, e o seu impacto na realidade económica e social

PME

MozDevz Uma plataforma para as startup no segmento das Tecnologias da Informação e Comunicação, direccionadas à sustentabilidade

MEGAFONE Marketing

O que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

67 ÓCIO

52 F

IGURA DO MÊS

Liderança

54

SOCIEDADE

Nómadas

Como as mudanças no mundo digital, estão a mudar as formas de trabalhar, e a sociedade

António Tivane, o novo presidente da AMECON, quer colocar os economistas no centro do debate 60

LÁ FORA

RDC

A pouco mais de três meses das eleições de Dezembro permanecem as dúvidas políticas

Setembro 2018 3 SUMÁRIO
24 NAÇÃO
38
44
48 EMPRESAS
50
68 Escape Nkwichi Lodge, uma escultura em Nissa 70 Gourmet O Spazio das pizzas 71 Adega Vinhos brancos portugueses reconhecidos pelo mundo 72 Agenda Música, livros, filmes 73 Arte Estados de Alma das Artes, em
74 Ao Volante Amarok automática já chegou
Moçambique

A Contribuição das eleições Municipais e Provinciais para a economia

com a recente aprovação do pacote eleitoral e da revisão pontual da cons tituição da República no quadro do aprofundamento da descentralização no país, foram introduzidas inovações no ordenamento constitucional moçambica no, como a criação de órgãos descentralizados de governação local, provincial e distrital.

Com estas medidas espera-se que Moçambique comece a dar saltos significa tivos na contribuição das iniciativas locais para o desenvolvimento económico equilibrado e para a justiça social no país.

O Município, a Província e o Distrito passam a ter um papel mais activo na criação, desenvolvimento e sustentabilidade do bem comum, contribuindo de cisivamente para a redução das assimetrias regionais e sociais.

A partir das eleições gerais de 2019, os governadores provinciais passam a ser eleitos. Serão cabeças-de-lista dos partidos, coligações de partidos políticos ou grupos de cidadãos eleitores, deixando de ser nomeados pelo Chefe de Estado. Futuramente, os administradores distritais também passarão a ser eleitos. Transitoriamente, até às eleições de 2024, o administrador de distrito será no meado pelo Ministro que superintende à função pública, depois de consultado o Governador da província.

Do ponto de vista económico, a partir do início da próxima década estarão cria das condições a nível local para uma reflexão mais profunda sobre as potencia lidades económicas e sociais da região e a sua contribuição efectiva, através da acção executiva dos governos provinciais eleitos, para a dinamização da eco nomia nacional de forma equilibrada e no desenvolvimento humano, sujeitos a uma fiscalização mais actuante da Assembleia Provincial. A E&M ao abordar este tema, aparentemente de cariz político, pretende des pertar ao nosso estimado leitor que a partir de 2020 o cenário político, económi co e social será diferente, pois... ‘quem lê sabe mais’.

SETEMBRO 2018 • Nº 06

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

CONSELHO EDITORIAL

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo

DIRECTORA EDITORIAL

GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro

EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

JORNALISTAS Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGINAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Iona - Comunicação e Marketing, Lda (Grupo Executive)

PUBLICIDADE DEPARTAMENTO COMERCIAL Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique. com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal)

ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com

DELEGAÇÃO EM LISBOA Rua Filipe

Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; iona@iona.pt

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Minerva Print - Maputo - Moçambique

TIRAGEM 4 500 exemplares

NÚMERO DE REGISTO

01/GABINFO-DEPC/2018

PONTOS DE VENDA

Pastelaria Taverna - Av. Friedrich Engels

Pastelaria Taverna – Av. Július Nyerere nº 967

Pastelaria Taverna – Av. Mao Tse Tung

Pastelaria Taverna – Rua Kibriti Diwane nº 135

Pastelaria Taverna – Av. Marginal

Spar da Interfranca – Av. 24 de Julho

UEM-Faculdade de Economia - Papelaria

Tabacaria Mil e Uma Coisas - Prédio 33 Andares, loja 20

Pastelaria Continental - Av. Samora Machel

Capuchinho vermelho – Av. Vladimir Lenine

Setembro 2018 4
Iacumba Ali Aiuba
EDITORIAL
Director da revista Economia & Mercado

NOVA IORQUE, SETEMBRO AS NAÇÕES UNIDAS… REUNIDAS

Tem data marcada para 18 de Setembro, a 73.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, o principal órgão deliberativo da ONU. Por lá passaram, e fizeram declarações que marcaram a história, figuras tão distintas, na posição como nas opiniões, como Winston Churchill, John F. Kennedy, Fidel Castro ou, mais recentemente Barack Obama. María Fernanda Espinosa Garcés, presidente eleita da 73ª sessão da Assembleia Geral, anunciou em Julho passado, que o tema do debate em que vão participar todos os 193 membros da ONU será quase tão amplo, quanto os caracteres de que necessita para ser descrito: “Tornar as Nações Unidas Relevantes para Todos os Povos: Liderança Global e Responsabilidades Compartilhadas para o Alcance de Sociedades Pacíficas, Equitativas e Sustentáveis.”

Um dos destaques da agenda desta sessão com nove dias de duração, aponta para o dia 24 de Setembro, e para a discussão sobre a ‘Paz no Mundo’, debatida no ‘Nelson Mandela Peace Summit’, em homenagem ao centenário do nascimento do líder sul-africano, que se comemora este ano, tendo sido já anunciada a apresentação de uma declaração política sobre os conflitos globais que será ratificada por todos os Estados membros.

OBSERVAÇÃO Setembro 2018 6
Setembro 2018 7

CERVEJAS DE MOÇAMBIQUE INVESTE 180 MILHÕES EM NOVA FÁBRICA

Sendo hoje a principal empre sa produtora de gás natural em Moçambique, na Província de Inhambane (Temane), trans porta o gás liquefeito através de um gasoduto de 865 quiló metros para a África do Sul, com uma ligação ao sul de Moçambique para consumo doméstico.

Investimento. A Cervejas de Moçambique (CDM) anun ciou a construção de uma nova fábrica no distrito de Marracuene, um in vestimento de 180 milhões de dólares. Com o início da obra agendado para o úl timo trimestre deste ano, o novo empreendimento vai empregar mais de mil trabalhadores e terá uma capacidade instalada para produzir anualmente cer ca de 200 milhões de litros de cerveja.

Segundo o Presidente do Conselho de Administração da CDM, Tomaz Salomão,

“a instalação desta unidade fabril, estará em funciona mento no final do próximo ano e ajudará a AB InBev (accionista maioritária da CDM) a acompanhar a de manda num mercado que registou um crescimento de mais de 20% só no pri meiro semestre do ano,”

Já Ricardo Tadeu, presiden te da empresa na África subsariana, fala de “um re flexo do quanto temos vin do a apostar no continente”, disse.

A CDM domina o mercado nacional, no qual detém uma quota de 95%.

Alex Anderson, chefe de Rela ções Externas do grupo, expli ca que “o investimento contí nuo em Moçambique confirma o firme compromisso para com o país. Dezenas de milhões de dólares serão gastos na execução de poços explorató rios sísmicos e de perfuração nessas novas licenças para fazer aumentar os recursos de hidrocarbonetos”, disse.

A Sasol está actualmente a concluir a quinta licitação com petitiva para executar a en genharia, aprovisionamento, construção e comissionamento para a PT5-C onshore, perto da área de Pande e Temane em Inhambane e offshore A5-A na área de Angoche em Nampula.

rais dentro da formalidade.” Esta é assim a forma encontra da para regular um mercado onde ainda existem inúme ros operadores informais. De acordo com o Ministério dos Recursos Minerais e Energia, o objectivo da feira “é criar um espaço de referência nacional e de internacionalização das pedras preciosas produzidas em Moçambique.“

Ouro. Mwiriti anunciou a descoberta de ouro em Cabo Delgado. A empresa mineira de capital moçambicano con firmou a presença de ouro na sua concessão em Nairoto, dis trito de Montepuez, cuja explo ração deverá iniciar em Abril do próximo ano. A Mwiriti também detém 25% da Monte puez Ruby Mining (MRM), que faz a exploração de 34 mil qui lómetros quadrados em Cabo Delgado, o maior depósito de rubis conhecido no mundo.

ECONOMIA

RECURSOS NATURAIS

Petróleo. O Governo aprovou novos contratos de concessão para pesquisa e produção de hi drocarbonetos em cinco áreas marítimas e uma terrestre, em quatro províncias do país. De acordo com a porta-voz do Conselho de Ministros, Ana Comoana, as áreas são a A5A, A5B e Z5-D, localizadas na costa de Angoche, província de Nampula, a Z5, no delta do Zambeze, região que abrange as províncias de Sofala e da Zambézia e as áreas PT5-C (ma rítima) e Mazenga (terrestre).

Sasol. A multinacional sul-afri cana integrada de energia e produtos químicos anunciou que irá investir “centenas de milhões de rands” (não revela o volume exacto), para inten sificar a exploração de pe tróleo e gás em Moçambique.

Relatório e contas. A Vale Mo çambique encerrou mais um semestre com um passivo a aumentar. A mineradora en cerrou assim a primeira me tade do ano com uma dívida de 7,9 mil milhões de dólares, um aumento de 100 milhões de dólares relativamente ao valor contabilizado no final do primeiro trimestre. Chuvas, custos de operações elevados e a depreciação do metical, são os principais factores que in fluenciaram negativamente o desempenho contabilístico da empresa.

Minerais. Para desencorajar a comercialização ilegal de pe dras preciosas e ornamentais, o governo anunciou que vai realizar a terceira edição da Feira de Gemas (Fagena). O evento será realizado na cidade de Nampula, o maior centro de comercialização de minerais do país, e foi anon ciado como “um espaço de compra e venda de mine

Banca. O Governador do Ban co de Moçambique, Rogério Zandamela, nomeou Irene Maurício para Presidente da Comissão Liquidatária do Nosso Banco, na sequência do afas tamento da Comissão presidi da pela Deloitte Moçambique (que tinha vindo a desenvol ver e colocar em prática, com sucesso, um plano de recupe ração de dívidas do banco).

Recorde-se que, em Novem bro de 2016, o Banco Central determinou a liquidação do Nosso Banco, então detido pelo Instituto Nacional de Seguran ça Social e designou a Deloitte

RADAR 8 Setembro 2018

como presidente da comissão liquidatária para lidar com o processo de insolvência da instituição.

Desenvolvimento. O sector pri vado projecta a criação de uma fundação vocacionada para o desenvolvimento do sector no país. “Tratar-se-ia de um fórum que poderá inte grar todas as instituições que trabalham com o sector em presarial, com o objectivo de garantir o crescimento econó mico de Moçambique”, explica va o presidente da CTA, Agos tinho Vuma, após a realização de um encontro com o Conse lho Empresarial Nacional (CEN).

FINANÇAS

Dívida pública. A consultora Fo cus Economics prevê que a dí vida pública de Moçambique suba de 110,4% para 113,7% do PIB, até 2022. De acordo com a consultora, “os níveis da dívida pública colocam um forte risco descendente às perspectivas de evolução económica a cur to e médio prazo, antecipando uma evolução crescente da dívida pública de 110,4% este ano, para 112,3% em 2019 e 113,7%, em 2021 e 2022.”

As previsões da Focus Econo mics surgem momento em que o Executivo está a estudar a proposta de restruturação dos títulos da dívida pública feita pelo grupo de credores internacionais, na sequência da falha no pagamento das prestações, geradora do in cumprimento financeiro em que a economia se encontra.

Salários. O Ministério da Econo mia e Finanças revelou que os gastos com salários aumenta ram 15,3% durante o primeiro semestre deste ano. O paga mento na totalidade do 13º salá rio, bem como o levantamento dos actos administrativos ve rificados no primeiro semes tre, influenciaram o aumen to dos gastos nesta rubrica.

Assim, entre Janeiro e Junho de 2018, o Executivo desembol sou perto de 46,2 mil milhões de meticais, face a aproxima damente 39,2 mil milhões pa gos no período homólgo.

O DEPARTAMENTO DE MERCADOS E VALORES MOBILIÁRIOS - DMVM

Fiscalização. A Autoridade Tri butária de Moçambique (AT) anunciou a destruição, por incineração, de mais de mil caixas de cigarros de diver sas marcas, na cidade da Bei ra, em Sofala, apreendidas na rota do contrabando.

Os cigarros foram apreendi dos pelas alfândegas no perío do compreendido entre 2014 e 2017 ao longo da fronteira de Machipanda, na província de Manica. Segundo a AT, “os ci garros incinerados poderiam ter rendido ao Estado, cerca de 35 milhões de meticais”.

Mercados. O Presidente da Re pública, desafia o vice-minis tro da Indústria e Comércio “a criar condições para o acesso ao mercado para produtores.” Durante a tomada de posse, Júlio Pio foi assim instado a “re solver o problema de perda da produção devido às dificulda des que os produtores têm de aceder ao mercado.”

Esse tem sido, de resto, o gran de constrangimento enfren tado por muitos produtores nacionais, algo que vem con correndo para o sub-aprovei tamento da produção agrícola no país. Anualmente, mais de 20% da produção é dada como perdida, devido a dificuldades no acesso ao comércio.

Mais-valias. O Centro de Inte gridade Pública (CIP) lançou re centemente um alerta, visan do aquela que considera ser

A Bolsa de Mercadorias de Moçambique (BMM) tem como objectivo o estabelecimento de um mercado organizado de mercadorias, zelando pela organização, funcionamento, eficiência e transparência. A mesma é constituída por vários sectores, de entre eles, o Departamento de Merca dos e Valores Mobiliários (DMVM), uma unidade onde a BMM concentra os seus colaboradores adstritos, para intermediar ordens de outrém.

O DMVM tem o dever de providenciar acesso ao mercado a todos os intervenientes e garantir transparência e eficiência nas suas transações de compra ou de venda; facilitar a negociação dos contratos à vista que são negociados entre os membros via representantes através do sistema por telefone e/ou email e diminuir a assimetria de mercado.

Tem como principais actividades: realizar intermediações (apregoação por oferta) e disponibilizar informação aos mercados.

As intermediações são realizadas com base na negociação de preços de mercadorias aceites por ambas partes (comprador e vendedor). Neste processo, são cobradas taxas por cada transacção efectuada na BMM e é garantida a execução das operações de compra e venda através da compensação e liquidação financeira e física.

A disponibilização de informação de mercados é feita através do boletim semanal “Diário de Mercados”. Nele consta informação sobre os fluxos de commodities transaccionadas na BMM, preços praticados nos merca dos agrícolas nacionais, regionais e internacionais, a dinâmica dos mer cados com impacto nos mercados físicos e bolsistas e as taxas de câmbio das principais moedas usadas nas transacções comerciais no país. A disseminação do “Diário de Mercados” é feita através da página web da BMM em dois idiomas, português e inglês.

Maputo, Bairro da Coop - Rua E, Nº 13

Telefone: + (258) 21902503 - (258) 843203371

Email: info@bmm.co.mz

Setembro 2018

“a intenção do governo hipote car as receitas do gás, em vez de responsabilizar os autores das dívidas ocultas.”

Em comunicado, o CIP aponta ainda o facto do governo “ain da não se ter pronunciado pu blicamente”, sobre a proposta de restruturação da dívida submetida pelos credores.

“Esta situação chama a aten ção para os passos que devem ser tomados de forma a escla recer como é que as receitas do gás devem ser utilizadas”. Os credores da dívida sobera na propuseram, há algumas semanas, que o governo possa liquidar uma parte da dívida global (neste caso apenas 200 milhões de dólares de um total de 2,1 mil milhões) até 2023, sen do que, a partir daí, o pagamen to seria garantido tendo como base as futuras receitas da exploração de gás natural da Bacia do Rovuma, na Província de Cabo Delgado.

cursos Hídricos, as obras vão estar a cargo da CBRC, a com panhia chinesa que está, neste momento, a finalizar a ligação Maputo - Ka Tembe.

A companhia vai assim rea bilitar a actual ponte sobre o Save, prevendo até Novembro próximo instalar-se uma pon te provisória para permitir a circulação de pessoas e bens sem transtornos para veículos e população. A ponde do Save foi construída em 1971.

2017 (mais 100 mil toneladas). O crescimento na tonelagem de carga processada deve-se, sobretudo e de acordo com a CDN, “à melhoria da economia nacional, tendo-se registado um aumento nas importações e o início de exportação da grafite da mina de Balama, através do porto de Nacala.”

A CDN refere ainda que a car ga em contentores em trânsito na infra-estrutura portuária da baía do Bengo também au mentou, correspondendo a 39 mil TEU (contentor de 20 pés de comprimento, por oito de largura e oito de altura) trans portados durante o período em análise, face aos 31 mil no período homólogo.

Caminhos-de-ferro de Moçam bique contempla um investi mento de cerca de 300 milhões de dólares na melhoria das linhas férreas bem como mais de 100 milhões para a aquisi ção de locomotivas e vagões. De acordo com governante, o país procura desta forma “corresponder ao desafio dos transportes na região austral de África”, havendo ainda a implementação de vários projectos de investimentos, incluindo, anunciou, “a reabi litação e construção de novas linhas férreas e portos.“

INFRA-ESTRUTURAS

Ponte Maputo-Ka Tembe. A nova ponte que liga as duas mar gens da baía de Maputo será inaugurada até finais do pró ximo mês de Outubro. De acordo com o Ministro de Habitação e Recursos Hídricos, João Machatine, a entrada em funcionamento da infra-estru tura sofreu sucessivos adia mentos “devido às dificuldades na retirada de famílias que vivem nos arredores da zona abrangida pelas obras.”

A ponte tem uma extensão de cerca de três quilómetros, com quatro faixas para a circula ção de viaturas, duas em cada sentido. Trata-se de uma ponte com um vão suspenso, conside rado o maior de África, estando entre as 60 maiores do mundo.

Reabilitação. O Governo anun ciou um investimento de 98,3 milhões de dólares na reabili tação da ponte sobre o rio Save. De acordo com o Ministro das Obras Públicas Habitação e Re

Barragem de Massingir. A reabi litação da barragem de Mas singir, na província de Gaza, que já se encontra numa fase conclusiva, está a impulsio nar a produção agrícola, com ganhos adquiridos na expan são da área de cultivo de 2 000 para 4 200 hectares.

De acordo com o administra dor provincial, Sérgio Moiane, com as obras de reabilitação da barragem, financiadas pelo Banco Africano de Desenvol vimento (BAD), “o distrito con seguiu na última campanha agrícola uma produção de 1 200 toneladas de hortícolas e uma quantidade ainda por estimar de feijão.” A mesma fonte adianta também que “já começaram a surgir interes sados” em investir naquela re gião “graças ao potencial agrí cola” agora existente.

Porto de Nacala. A carga pro cessada no porto de Naca la, cresceu 8% no primeiro semestre do ano. De acordo com a Corredor de Desen volvimento do Norte (CDN), a carga transportada por via ferroviária atingiu as 941 mil toneladas, face às 841 mil no primeiro semestre de

Logística. O Ministro dos Ne gócios Estrangeiros e Coope ração, José Pacheco, “desafia” o sector dos transportes e comunicações a “dinamizar os corredores regionais de desenvolvimento.”

Segundo o governante, a lo calização geográfica de Mo çambique ao longo do Oceano Índico e a existência de portos naturais, “confere ao país uma vantagem comparativa para o acesso ao mercado interna cional, especificamente aos países vizinhos.”

Barragem. Com a obra de cons trução interrompida desde 2016, devido ao corte do fi nanciamento por parte do Banco Nacional de Desenvol vimento Económico e Social do Brasil (BNDES), as obras de construção da barragem de Moamba-Major, na província de Maputo, vão retomar ainda este ano. Segundo o ministro João Machatine, a construtora brasileira Andrade Gutier rez está em negociações com uma empresa chinesa para retomar a obra orçada em 700 milhões de dólares.

LÁ FORA

Ferrovia. O Governo anunciou um investimento de mais de 400 milhões de dólares no in cremento da capacidade fer roviária e portuária do país ao longo dos próximos dois anos. Falando durante as celebra ções dos 26 anos da criação da Comunidade de Desenvol vimento da África Austral (SADC), Carlos Mesquita refe riu que o Plano Estratégico dos

África. As Exportações africa nas ultrapassaram a reces são e subiram 2,1% para 833,9 mil milhões de dólares no ano passado. De acordo com o re latório anual de actividade do Banco Africano de Exportação e Importação (Afreximbank), “o valor do total das mercadorias transacionadas aumentou cer ca de 2,1%, o que se compara com a contracção de 11,9% re gistada em 2016”. O documento nota ainda que esta subida se deve “à recuperação do preço das matérias-primas”, vincan do que “numa região onde a exportação de petróleo repre senta mais de 45% do total das exportações, o fortalecimento do preço do barril foi decisivo para reverter esta tendência.”

RADAR Setembro 2018 10

Afinal, para onde se direcciona a boa gestão do desempenho?

há um ano abriu-se um debate em grande escala sobre a mudança na avaliação de desempenho nas organizações. Anteriormente, algumas empresas, encabeçadas, entre ou tras, pela General Electric e a Adobe, já haviam lançado as bases e redesenhado os seus processos de forma radical. Eliminando até o próprio conceito de “avaliação” da sua terminologia.

Os novos sistemas caracterizam-se pelo desaparecimento das distribuições forçadas bem como pela minimização das qua lificações, pelo feedback contínuo por parte do supervisor e pela integração dos colegas como avaliadores ocasionais ao longo do processo.

No entanto, terão sido muito poucas as organizações que aca baram por desenvolver, e ainda menos as que conseguiram levar a cabo uma revisão profunda dos seus métodos de ges tão do desempenho.

A par desta resistência, reforçou-se toda uma linha de opinião que sustenta que, apesar da sua impopularidade, o sistema tradicional deve manter-se porque, em geral, funciona bem e porque, enquanto não há uma alternativa clara, diz a prudên cia popular que é melhor não mexer no que existe actualmen te e que até foi resultando.

Desta forma, para entender a situação de mudança que hoje observamos, e muitos de nós vivenciamos no nosso dia-a-dia, junto de empresários e trabalhadores, é preciso analisá-la com bastante mais profundidade do que apenas a mera conti nuidade de procedimentos que outrora resultaram. Estou totalmente de acordo com Peter Cappelli, professor da Wharton, que defende que os sistemas de avaliação de desem penho são muito mais do que uma simples prática de recursos humanos, porque representam a essência do que tem sido até ao momento a relação empregador-empregado. Esta relação tem sido puramente economicista e transaccional,

baseada numa relação de carreira a longo prazo e trabalha dores basicamente a tempo inteiro.

Até então, o trabalhador, contratado sob um sistema hierár quico, podia ser avaliado pelo seu superior imediato e super visionado única e directamente por ele.

Tudo isto num contexto de negócios planificáveis no horizonte de um ano e com metas relativamente fáceis de definir. É evidente que este tipo de relação de emprego tem os dias contados e não perdurará por muito mais tempo num mundo em mudança tão acelerada. Como não perdurarão as empre sas que nele insistirem. E cada vez são mais as empresas que renunciam a fixar objectivos de médio e longo prazo.

Um funcionário de uma empresa média-grande tem, em média, três a cinco ‘chefes’ ou linhas de comando a quem tem de reportar.

Mas o profissional actual mudou a sua forma de pensar e agir perante o seu trabalho. Ele quer aprender com as suas tarefas diárias, desenvolver as suas próprias capacidades pessoais e profissionais, ser o protagonista do processo e não tanto ser passivamente “avaliado” da forma tradicional ou convencional.

Os trabalhadores valorizam, hoje em dia, cada vez mais as opi niões dos seus colegas e respeitam cada vez menos o poder hierárquico.

Perante isto, pode continuar a considerar-se que a forma clás sica de avaliar os empregados ainda é válida?

Se as novas (e por vezes completamente disruptivas) soluções que estão a surgir por todo o mundo não são consideradas adequadas, é responsabilidade da área dos recursos humanos explorar novos caminhos e direccções e fomentar e apoiar as mudanças profundas que acompanham a actualização des tas práticas que são tão importantes para os resultados de qualquer empresa.

Foram muito poucas as organizações que acabaram por desenvolver, e ainda menos as que conseguiram levar a cabo uma revisão profunda dos seus métodos de avaliação do desempenho. Porque eles são, ou deveriam ser, muito mais do que uma simples prática de recursos humanos

OPINIÃO Setembro 2018 12

PARQUE DE BELULUANE FAZ 18 ANOS, CHEGA À MAIORIDADE E QUER CRESCER

A insuficiência de infra-estruturas foi condicionando a captação de investimentos no Parque Industrial de Beluluane, o maior de Moçambique, ao longo dos 18 anos de existência. Mas até 2030 a situação vai mudar. Saiba como

o parque industrial de beluluane ‘nascia’ no ano 2 000, A poucos quilómetros (16) de Maputo, era baptizado como o maior e mais promissor do país, dotado de uma capaci dade para acomodar mais de 500 empresas. A chegada da Mozal, a maior empresa exportadora do país durante anos, baptizava-o, e parecia significar o princípio de uma grande zona industrial às por tas da capital. Mas passados 18 anos, na idade da maioridade, regista ainda

um número menor de empre sas em actividade, apenas 38. Há quem entenda esta evolu ção como natural, por se tra tar de uma economia em de senvolvimento, com um sector industrial transformador ain da incipiente, que pesa menos de 10% do PIB nacional. No entanto, apesar das ate nuantes, a evolução é modesta se considerarmos a dimensão (quase 700 hectares) e a ca pacidade instalada. Ou seja, em 18 anos, o Parque explora apenas 7% da sua capacidade.

Porque aderem pouco? São várias, as razões da apos ta em instalar uma indústria em parques industriais. Com uma localização em pontos geralmente distantes das zo nas residenciais, onde a terra é relativamente barata e em eixos logísticos (na proximida de de portos, aeroportos, cami nhos de ferro ou eixos viários de acesso facilitado), podem fa cilmente concentrar a activi dade industrial sem grandes riscos ambientais para as co munidades. Depois, a concen

tração das unidades no mesmo local traz, para além do mais, um conjunto de benefícios lo gísticos para o estabelecimen to de negócios entre empresas das mais variadas áreas de actividade, com grande im pacto da geração de postos de trabalho.

Apesar disso, Onório Manuel, gestor de desenvolvimento de infra-estrutura do Parque de Industrial de Beluluane, explica à E&M que “de há vá rios anos o desenvolvimento do Parque tem esbarrado

MACRO Setembro 2018 14

no défice de infra-estruturas”, incluindo, prossegue, as lo gísticas, verdadeiramente indispensáveis para o nor mal funcionamento das in dústrias de transformação que ali se poderiam instalar. E aí, registam-se casos de in suficiência do fornecimento de energia em qualidade e quantidade, e de saneamento. Problemas que, de resto, ainda não foram resolvidos, mas já há planos para que tal venha a acontecer... dentro de qual quer coisa como dois anos. Assim, o problema vai-se ar rastando por mais alguns me ses, com o fornecimento a não cumprir os requisitos neces sários, um factor significativo o suficiente para retrair os investidores que pretendam instalar as suas indústrias na quele espaço, apesar de um outro conjunto de vantagens que os parques industriais ofe recem, e porventura até são as mais decisivas: as fiscais. O Parque de Beluluane é uma Zona Franca Industrial (ZFI), ou seja, uma infra-estrutura cuja área de actividade é a indus trial, delimitada e regulada por regimes especiais, desti nada ao desenvolvimento de empreendimentos cuja pro dução seja destinada à expor tação em pelo menos 70% do volume da produção anual). Esta ZFI resulta de uma parce ria entre o Estado, representa do pelo então CPI e a Chiefton Moçambique, tem um enqua dramento fiscal diferenciado, proporcionando às empresas que ali se instalem um con junto de benefícios fiscais e não fiscais que vão da isenção no pagamento de impostos sobre a importação (Incluin do o Imposto Sobre o Valor Acrescentado), de materiais de construção, equipamen tos, acessórios, peças e outros bens destinados à prossecu ção da actividade licenciada nas ZEE´s (Zonas Económicas Especiais), e à isenção do IVA nas aquisições internas, do IRPC nos primeiros cinco exer cícios fiscais; da taxa do IRPC

em 50% do 6º ao 10º exercício fiscal; e da mesma em 25%, do 11º ao 15º exercício fiscal. Depois, há ainda benefícios não fiscais como a de poder ac tuar num regime laboral mais flexível, particularmente no que diz respeito à contratação de mão-de-obra estrangeira e a possibilidade de usufruir de uma política cambial livre, que permite ainda operações off-shore.

No entanto, algumas das in dústrias que já estão a operar no Parque (muitas nem sequer do ramo industrial), tiveram de investir em fontes alter nativas para suprir as falhas logísticas do Parque. Assim, tiveram necessidade de in vestir em fontes de energia próprias e em furos de água (para suprir falhas no abas tecimento), com a agravante de o lençol freático do distrito de Boane ser de água salubre, o que agudiza os custos de in vestimento inicialmente pro jectados para a sua actividade, anulando, de certo modo, uma parte dos benefícios contabili zados pelos incentivos de que as indústrias beneficiam atra vés do enquadramento espe cial para as ZFI.

“Todos estes factores têm con corrido para a fraca atractivi dade do Parque Industrial de Beluluane”, admite o gestor da infra-estrutura.

Luz ao fundo do túnel Já há, no entanto, investimen tos que fazem adivinhar me lhores dias para o Parque de Beluluane. Para dar a vol ta ao quadro desfavorável, a Electricidade de Moçam bique (EDM) já investiu na melhoria das condições de abastecimento em qualidade e quantidade. Além do mais, está em curso um projecto gerido pela própria EDM, fi nanciado pelo banco alemão KFW, em montantes não es pecificados, direccionados para o aumento da potência da rede eléctrica no parque. Espera-se que o projecto esteja concluído até finais de

RECURSOS OCIOSOS

O baixo nível de exploração da capacidade instalada no Parque denuncia problemas conjunturais e estruturais, como a fraca disponibilidade de energia e água para o normal funcionamento. Mas, há mudanças em curso.

2020, disponibilizando mais 120 Megawatts (MW), que permitirão a chegada de no vas unidades de indústria pesada.

Depois, o Parque está também a desenvolver soluções ba seadas na energia solar e na utilização do gás que, inclusi ve, já está a ser fornecido pela empresa Matola Gas Company a algumas empresas como a Mozal, a Midal (uma empresa do Bahrein que fornece alumí nio para cabos eléctricos) e a empresa nacional de cimentos Leão, que opera num sector em franca expansão.

7%

É A ÁREA ACTUALMENTE EXPLORADA PARA A ACTIVIDADE INDUSTRIAL PARQUE INDUSTRIAL

Em relação ao abastecimen to de água, o FIPAG (Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água) está a instalar uma conduta que, garante, estará operacional até ao final do ano, e que irá melhorar consideravelmente o abastecimento. “A ideia é eli minar todas as barreiras que fizeram com que não nos desen volvessemos como gostaríamos, mas acreditamos que dentro de alguns anos teremos melho res capacidades para acolher qualquer tipo de empresa, em bora já estejamos a começar a fazê-lo, uma vez que estão lá a operar empresas de refe rência internacional”, referiu Onório Manuel.

Pleno emprego até 2030

Assim, com uma nova dinâmi ca em curso, espera-se agora que tudo o que não se conse guiu fazer em 18 anos, seja possível nos próximos 12, gra ças aos avanços alcançados e aos planos de captação de investimentos para o Parque. “O futuro reserva-nos sucesso porque os constrangimentos que enfrentávamos a nível de fornecimento de energia e de água já estão a ser acautelados. Caminhamos para termos in fra-estruturas estáveis o que, juntando à janela de oportu nidade que representa para as empresas estarem ali, nos deixa esperançados de que poderemos aumentar o núme ro de empresas. Das actuais 38

Setembro 2018 15
CAPACIDADE INSTALADA CAPACIDADE EXPLORADA 500 38 FONTE Parque industrial de Beluluane

para as 500, de acordo com o nosso plano estratégico”, garan te o representante do Parque. Por enquanto, a Mozal é o maior empreendimento ali ins talado, e não é pequeno, sendo hoje a segunda maior expor tadora do país (atrás da Vale Moçambique).

Outras indústrias de peso que exploram o local incluem a empresa de cimentos Leão, a Capital Star Steel (que produz condutas utilizadas na indús tria de petróleo e gás direccio nadas à exportação), a Midal Cables (multinacional que ad quire o alumínio da Mozal, pro duz cabos eléctricos e depois os fornece à EDM e outras empre sas). Ainda no Parque está em contrução uma nova fábrica de cimentos que se vai chamar Seiko, e que deve iniciar activi dade no próximo ano. Num outro ramo, a Godrej, uma fábrica de produção de cabelos

artificiais que emprega mais de 2 000 pessoas, que foi inau gurada no final do ano passado. Por ali, e apesar de tudo, tra balham mais de 5 000 pessoas, e as perspectivas apontam para um crescimento para as 7 000 até ao fim deste ano. Do total das empresas, 60% estão dedicadas à exportação (es tabelecidas na zona franca) e os restantes 40% na zona não franca, e produzem exclusiva mente para o mercado interno.

PME, o trampolim Uma outra razão que concor re para o optimismo expresso nas ambiciosas metas do Par que Industrial encontra razão de ser na intenção de criar um espaço para integrar as Pequenas e Médias Empresas (PME), que representam quase 98% do tecido empresarial na cional, à luz de um acordo ru bricado a 24 de Agosto passado

Lá por fora não é diferente. Os governos desdobram-se em fórmulas cada vez mais “criativas” para criar parques industriais, tecnológicos ou logísticos, dentro do conceito de zonas francas Industriais, e colocar lá indústrias a operar.

E há alguns exemplos dessa lógica, em todo o mundo.

Em Junho, o governo angolano anunciava a criação de 50 parques industriais até 2022, com o objectivo de diversificar o ambiente económico dos municípios, tendo em conta o novo contexto macroeconómico.

Já em Portugal, anunciou-se que vão ser investidos 11,5 milhões de euros na região do Alentejo para a expansão

de zonas industriais e criação de novas zonas empresariais. Também em Moçambique, parece ter sido recuperado o sentimento de importância da aposta em parques industriais.

Numa visita recente a Maputo, o vice-ministro dos negócios estrangeiros chinês, Zhang Ming, incluía na agenda do encontro com o Presidente Filipe Nyusi, a actualização dos entendimentos celebrados em Maio do ano passado aquando da visita de Nyusi à China e que prevê o investimento chinês, na construção de novos parques industriais e plataformas logísticas, de norte a sul do país.

MACRO 16 Setembro 2018
Mais empregos: até ao fim do ano serão 7 mil os trabalhadores do Parque UMA

com o Instituto para a Promo ção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME). “Entende mos que o Parque Industrial de Beluluane pode induzir a cadeia produtiva através das ligações empresariais”, disse Claire Zimba, director-geral do IPEME, explicando que “lá existem linhas de inclusão da produção nacional que po dem ser contratadas pelos grandes empreendimentos”, assinala.

Trata-se de um acordo que também está em linha com o que o IPEME já havia estabe lecido com a Mozal na área do empreendedorismo social. Mais do que isso, o IPEME é também o provedor de infor mação das empresas através da base de dados que alimenta os processos de procurement da Mozal e pretende orientar esse processo a partir da expe riência da ligação entre PME e empresas que estão na zona franca e no Parque Industrial para que, de alguma forma, entrem na cadeia de forne cedores e parceiros da Mozal. Nesse sentido, a Feira Interna cional de Moçambique (FACIM) edição 2018 (que decorreu en tre os dias 27 de Agosto e 03 de Setembro) foi a ocasião es colhida para a divulgação da possibilidade de as empresas operarem no Parque de Belu luane, “por se tratar do evento que mais concentra o sector produtivo da economia e onde há melhores oportunidades de parcerias que as PME podem desenvolver com o capital es trangeiro”, assinala Zimba.

Indústria pesada, trabalho árduo A primeira preocupação é que no parque só opera a indústria transformadora, mas sabe-se que a quase totalidade das PME nacionais está distribuída pelas áreas de serviços e de comércio. E a questão é: quantas e de que sectores são as empresas moçambicanas de pequena ou média dimensão capazes de se instalar no Parque Industrial? A resposta dá a entender que

o acordo entre o Parque e o IPEME apenas estabeleceu intenções. Mas na prática, há ainda muitas questões por acautelar.

De acordo com Claire Zimba, será necessário, primeiro, “encontrar as PME que têm potencial de exportação, que com uma base facilitada po dem usar aquela plataforma.“

Ou seja, após identificar e se leccionar as empresas com o perfil apropriado, o IPEME terá a missão de prestar apoio técnico e financeiro, no sentido de as capacitar para operar. “Na mesma linha, estamos a dizer que pretendemos dina mizar o processo de estabele cimento de parcerias entre o investimento estrangeiro (que já está no Parque) e o investi mento nacional, promovido através das PME, mas utili zando a plataforma do Parque como um mecanismo facilita dor do acesso, pela proximida de e sinergias que se criam, e que pode fazer com que par te da produção seja retida no país e outra seja exportada.”

O exercício de capacitação das PME em Moçambique é contí nuo, enquanto prevalecem as dificuldades deste segmento, que geralmente se resumem na fraca capacidade de gestão, contabilidade desorganizada e fraco poder financeiro para fazer face a uma conjuntura em que o acesso ao crédito é dificultado pelas taxas de juro praticadas pela banca comer cial. À excepção do Parque In dustrial da Matola, há alguns outros espalhados pelo país, nomeadamente as ZEE de Na cala (província de Nampula), de Mocuba (província da Zam bézia), e Manga Mungassa (em Sofala), mas existem novos investimentos em perspecti va (alguns com o apoio chinês, ver caixa), uma vez que a es tratégia para fazer crescer a economia passa mesmo por industrializar. E em força.

Setembro 2018

JOGO É APOSTA GANHA… PARA OS COFRES DO ESTADO

Moçambique ainda não é um grande mercado de jogos de apostas de sorte e azar. Mesmo assim, e como era de esperar, o abrandamento económico acelerou a facturação de casinos, casas de apostas e de outros provedores. E só no primeiro semestre do ano já renderam mais de 200 milhões de meticais em impostos directos

“o jogador”, uma obra icónica de fiódor dostoiévski, conta quase tudo o que se pode querer saber sobre o fenó meno do jogo. Da roleta aos jogos de car tas, em adrenalina que se torna viciante. Em Moçambique, os números do jogo têm aumentado, numa cadência que se nota, pelo menos na capital do país, onde exis tem agora dois casinos e algumas deze nas de casas de apostas e salas de jogos. Foi, de resto, aqui que o mercado mudou consideravelmente. Com a chegada das casas de apostas de jogos online, ele vem contribuindo de forma considerável para a economia nacional nos últimos anos. Não deixa de ser uma devolução ao que a própria economia criou: instabilida de e tensão social costumam ser bons parceiros de acasalamento propícios a gerar ordas de “consumidores” de jogo. O fascínio desta actividade quase tão an tiga como a primeira de todas as activi dades (uma das mais antigas lotarias foi feita na China há 2 500 anos para finan ciar a construção da Grande Muralha), é explicado pelo entretenimento e diver são, e mais do que tudo, o atalho para um ganho súbito e fácil.

A tendência, é corroborada pelo porta -voz da AT, Fernando Tinga, que refere o aumento de receitas provenientes do jogo, no exercício fiscal do ano em cur so, alimentadas grandemente pelas receitas colectadas através do Imposto Especial sobre Jogos. “Até ao primeiro se mestre de 2018, as receitas geradas re gistaram um incremento de 44,9%, e ul trapassaram os 200 milhões de meticais, mas a meta é alcançar os 643 milhões até ao final do ano. Esta evolução é resul tante do aumento de apostas nos casinos e salas de jogos, refere. Não há dúvidas que esta é daquelas ac tividades de probabilidades e que fazem sorrir alguns (poucos) e chorar outros (muitos). E a indústria de jogos de apostas não brinca com as probabilidades.

MACRO Setembro 2018 18

A história do jogo está cheia de ‘peque nas grandes’ tragicomédias. Conta-se que até o Rei Sol, Luís XIV de França, (1643 e 1715) o mais rico de todos os so beranos franceses, quando resolveu restaurar um pavilhão de caça para o transformar no que é hoje o Palácio de Versalhes (o mais opulento de toda a Europa e classificado como património da Humanidade pela UNESCO) decidiu enganar os seus amigos com uma lota ria privada para financiar o projecto. Assim, organizou uma lotaria no dia do seu casamento e os convidados que par ticipassem habilitavam-se a prémios. No entanto, quando foram conhecidos os resultados, foi o rei e o seu círculo de amigos, quem conquistou todos os gran des prémios. Os convidados ficaram fu riosos e ele acabaria mesmo por devol ver o dinheiro aos participantes. Não terá sido o caso, mas é comum jogo e desgraça aparecerem associados. Tra dicionalmente são chamados jogos de fortuna ou de azar aqueles nos quais a possibilidade de ganhar ou perder não depende da habilidade do jogador. Verdade é que, no senso comum, se a casa ganha sempre, a procura por esse tipo de espaços se tem mantido alta e, aliada à crise económica que afectou Moçambi que nos últimos três anos, a oferta de jo gos parece ter acontecido nos segmentos de mercado que não conheceram tem pos difíceis, pelo contrário. Em 2016, ano em que a crise financeira atingiu o seu auge, a receita do Imposto Especial sobre Jogos foi de 256 milhões de meticais. No ano seguinte, o Estado arrecadou 296 milhões meticais, um crescimento supe rior a 16%, e para este ano, mais um sal to de mais de 100%, para os 643 milhões. Não haverá nenhum ramo de actividade a crescer a esta cadência.

Aposta contra a crise

Um exemplo concreto desta realidade viu-se em Portugal quando, durante a crise económica do início da década, se registou (em 2012) um pico no incremen to nas receitas da Raspadinha (um jogo com resultado imediato) de 81,7%, atin gindo um valor astronómico de 376,5 mi lhões de euros em receitas, num só ano. Em Moçambique, embora a indústria de jogos de fortuna ou de azar concernente aos casinos nunca tenha sido massificada (ao contrário do Totobola, outro dos mais antigos jogos de sorte e azar no país), a entrada das plataformas de jogos onli ne reinventou o mercado, tornando os jogos cada vez mais acessíveis ao bolso

UM MERCADO EM CRESCIMENTO

As receitas sobre jogos têm vindo a crescer desde 2015. A razão para este aumento tem a ver com o abrandamento da economia, e com o crescente número de estrangeiros que visitam Moçambique

da maioria dos cidadãos. Isso levou a que também muitos casinos tenham começa do a criar as suas próprias salas de jogo online que permitem apostas para todo o tipo de bolsos.

O Casino Polana é um bom exemplo desta realidade, detendo a Betsete, uma casa de apostas online que ‘oferece’ prémios de 2 milhões de meticais. São inúmeras e variadas as ofertas nesta área, haven do sites como o Betarena, a Primier Lotto, Betsete, Bet365, Betmaster e muitas ou tras que já se tornaram comuns nos na vegantes da Web no país.

A maior parte destes sites acaba por ofe recer ao jogador diversas opções, embo ra quase todos se circunscrevam às par tidas de futebol, basquetebol, ténis, futsal e corridas de cavalos.

Internet elevou número de jogadores À E&M, a Inspecção-Geral de Jogos refere a existência de mais de 50 sites de casas de apostas no país. Um fenómeno novo, ao qual será necessário prestar alguma atenção.

De acordo com Anuário Khan, da TREVO DA SORTE, os jogos de apostas online no país têm-se traduzido num mercado que ainda está em evolução, “tendo em conta que o acesso à internet, hoje em dia, tor nou-se mais fácil”. E com isso, “as casas de jogos online expandiram-se porque qual quer pessoa pode tentar a sua sorte com um simples smartphone, através de uma aposta a qualquer hora, e em qualquer lugar, num determinado tipo de desporto.” Só a Trevo da Sorte conta com uma base de dados de mais de 10 mil usuários por dia, tendo já atribuído um prémio de 300 mil meticais desde que lançou o seu site. As apostas online tornaram-se num grande negócio à escala global avalia do hoje na casa dos 2 biliões de dólares por ano. No entanto, nem tudo é claro neste mundo. Na negociação clássica em bolsa, por exemplo, ela é regulada pela Comissão de Valores Mobiliários (CMVM): o investidor compra papéis de uma com panhia e torna-se dono de uma quota. Anualmente, a companhia é obrigada a prestar contas ao mercado e a divulgar balanços financeiros com números sobre despesas e ganhos, além do planeamen to de médio e longo prazo, que determi nam a lógica de um determinado inves timento e lhe dão motivos para comprar ou vender. É um jogo que oferece mais controlo (e garantias) ao jogador, diga mos assim. Mas, também menos lucros. A capitalização bolsista em Moçambi que (da BVM), por exemplo, não con

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2018(1) 2016 2017 643 296 256 (1)Previsão FONTE Autoridade Tributária Em milhões de meticais 50
A INSPECÇÃO GERAL DE JOGOS REFERE A EXISTÊNCIA DE MAIS DE 50 SITES DE CASAS DE APOSTAS NO PAÍS. UM FENÓMENO RECENTE QUE REQUER ATENÇÃO

segue concorrer com as promessas de capitalização de uma infinidade de combinações de apostas num Man chester United-Liverpool, que podem variar entre os 10% (as mais baixas) e os 5 000%, em casos de combinações de resultados menos expectáveis. Nenhum negócio o consegue prometer, de resto. Só o da sorte, mesmo, e se calhar por isso é que ele dá tanto azar, por vezes. Também dá trabalho. Qualquer inves tidor experiente garante que deixar grandes somas de dinheiro aos cuidados da sorte não pode ser um factor racional. Para obter 20% de ganho — a rentabi lidade média numa temporada promis sora —, é fundamental um processo de avaliações minuciosas e, dizem vários estudos sobre a matéria, são necessárias entre quatro a seis horas de estudo diá rio para entender o potencial de lucro de uma determinada partida, seja de que desporto for. Tudo porque as análises aos intervenientes de um determinado jogo, podem envolver centenas de dados, tão variáveis como o tipo de competição, os resultados mais recentes, o desempenho dos jogadores titulares, as médias de go los, cantos, cartões amarelos... No entanto, pelo que ouvimos no mercado, este tipo de jogador não é o mais comum. A maioria dos jogadores, querem mesmo é sentir a adrenalina da sorte, escapar ao azar, e ganhar dinheiro correndo riscos. É por isso que “este segmento tem vindo a crescer nos últimos anos, sendo que o número de pessoas que aderem a esse tipo de apostas não pára de aumentar”, diz Khan. Sem discriminar as receitas ganhas pela empresa que representa, o responsável explica que “há dois anos havia receio em aderir a esse tipo de jo gos na nossa sociedade, mas isso parece ter mudado. Agora o número de apostas é bastante mais considerável e a nossa convicção é a de que estamos, agora sim, num mercado que evolui como outros, porque a realidade é que durante anos se notou uma grande estagnação.”

Jonas Júnior, da Lotto Moçambique, uma outra plataforma de jogos de apostas, concorda, e defende mesmo a indústria dos jogos: “A economia moçambicana tem vindo a ganhar muito através dos jogos de fortuna e de azar, e assim o mercado nacional deixou de ser fecha do. Já merece atenção de muitos inves tidores estrangeiros nesta área e sabe mos que isto é apenas o começo”, frisa. Mas, o que mudou? Há quem diga que o novo regulamento da Lei de Jogos (apro vado em 2017) serviu para impulsionar

“Número de apostas é bastante mais considerável e a nossa convicção é a de que estamos, agora sim, num mercado que evolui como outros, porque durante anos se notou uma estagnação”

É A PERCENTAGEM TRIBUTADA SOBRE A FACTURAÇÃO DE TODOS OS JOGOS DE FORTUNA E AZAR EM MOÇAMBIQUE

o desenvolvimento desta actividade, ao permitir um enquadramento legal mais favorável ao aparecimento de novos casinos e casas de jogo (tendo, no fundo, danco carta branca a uma liberalização do mercado). No entanto, Moçambique está ainda longe de ser um destino de jogo como Macau, Las Vegas ou Singa pura (os maiores do mundo), que cons truíram toda uma economia em torno disso, o que até alavancou uma outra in dústria essencial para o país: o turismo. Regressando ao exemplo de Macau, ela é considera hoje considerada a capital mundial dos jogos de sorte e azar, ge

MACRO Setembro 2018 20
Sorte ou azar: mercado tem vindo a crescer e estará cada vez mais associado ao turismo
35%

rando cerca de sete vezes mais recei tas do que Las Vegas, a segunda maior. E é mesmo em Macau que se encontra actualmente o maior casino do Mundo.

O Venetian Macao, que se destaca não só pelas suas dimensões, mas também pelo que oferece, contando com mais de 3 000 máquinas de jogo, 870 mesas, entre poker, roletas e muitos outros; três cen tros comerciais, quatro piscinas, inúme ros restaurantes, um hotel com cerca de 3 000 quartos, e até um canal para pas seios de gôndola, mimetizando a tão fa mosa quanto romântica cidade italiana. A estratégia de agregar serviços gerou uma indústria bilionária. E em Moçam bique, algo também parece estar a mu dar. Ou pelo menos, há essa intenção. Com apenas quatro casinos, em três ci dades, dois em Maputo, um em Pemba e outro na Beira, (apenas dois estão inseri

dos em hotéis), o novo regulamento dos jogos prevê a obrigatoriedade de, a par tir de agora, os novos casinos que quei ram abrir portas estejam integrados em unidades hoteleiras, associando jogo, e turismo, e incluindo tudo na indústria do lazer, como de resto, acontece um pouco por todo o mundo. Também no continente africano, embora o segmento não esteja ainda no mesmo patamar de outros mercados mais de senvolvidos, existem localizações onde o jogo tem vindo a ganhar expressão, sen do a África do Sul o país que maior nú mero de jogadores detém, um facto que não está dissociado do poderio económi co do país. E, está ali, de resto, o Rio Casino Resort, em Klerksdorp, o maior casino de toda a África, com 257 slot machines e 12 mesas de jogos integrados num comple xo hoteleiro com cerca de 70 quartos e vários restaurantes.

O lado social do jogo Se, por um lado, a crise trouxe mais jogadores (essencialmente nacionais) às casas de jogos, a recuperação económica trará mais estrangeiros até elas. E é por isso que o crescimento do segmento de jogos de sorte e azar está também ligado, ao crescimento da indústria extractiva e dos hidrocarbonetos que atraem os investidores internacionais.

Graças a esses recursos, muitos investi dores de todo o mundo (na maior parte expatriados, como norte-americanos, chineses e sul-africanos) têm vindo a entrar no país em busca de opor tunidades para investir. E o aumento de receitas provenientes dos jogos de apostas, principalmente no último ano, “terá um pouco destes dois ingredien tes”, adianta a Autoridade Tributária. Por outro lado, é histórico o lado social do jogo, cujas receitas foram sempre (ou uma percentagem) canalisadas para obra social.

No entanto, a indústria de jogos não tem ainda em Moçambqiue o impacto a ní vel social que uma Santa Casa da Mise ricórdia tem em Portugal, por exemplo. A entidade que tutela os jogos de sorte e azar em Portugal desde o século XVII, chegou no ano passado aos 3,5 mil mi lhões de dólares de receita. Distribuiu 1,7 mil milhões em prémios aos apostadores, e atribuiu 718 milhões a projectos de as sistência social (alguns até em Moçambi que, como a Casa do Gaiato, por exemplo).

A sua ligação ao país, de resto, faz-se através da SoJogo, a Associação Gesto ra dos Jogos Sociais de Moçambique, da

qual é parceira juntamente com a ELAM (Empresa de Lotarias e Apostas Mútuas de Moçambique) e na qual assume uma “gestão socialmente responsável da ex ploração dos jogos de diversão social, contribuindo para o entretenimento de toda a população e gerando receitas para o financiamento exclusivo de acti vidades sociais.”

Fundada em 2004, disponibiliza jogos como a Lotaria, o Totoloto e o Totobola, um dos mais populares ainda hoje. Mas, os jogos tradicionais têm vindo a perder o lugar para os digitais, e até para outros, em plataformas como as mobile. Nos últimos anos, tem havido um incre mento dos concursos e passatempos fei tos através do telefone, em que quem queira concorrer pode pagar, através do seu saldo telefónico.

Há alguns operadores no mercado que o fazem em Moçambique (muitos deles, trazendo a experiência de Por tugal, onde este é um segmento em crescimento, que vai das chamadas de valor acrescentado para ganhar pré mios em dinheiro, participando em programas de televisão ou passatem pos). E há até operadoras de telefonia móvel que apostam neste segmento. Em 2014, a Vodacom lançava um passa tempo aos seus clientes, que consistia em respostas a questões, habilitando-se a vencer telemóveis e a um prémio final de um milhão de meticais.

Ofertas como estas multiplicaram-se ao longo dos anos. FIlipe Mendes, antigo director-geral da Go4Mobility no mer cado moçambicano, uma multinacional da área das soluções mobile, explica que, “esse foi um fenómeno que no en tanto não durou muito, porque não era um mercado suficientemente regulado. Muitas dessas promoções e prémios, e não falo daquelas feitas pelas grandes operadoras, mas por um conjunto de em presas que surgiram nessa fase para lançarem os seus próprios concursos, li mitavam-se a cobrar o dinheiro e a nun ca divulgar as listas das entregas dos prémios que prometiam, e que levavam as pessoas a jogar”, explica.

Ainda assim, o telemóvel parece ser um excelente lugar para jogar. No ano passado, a Lotto Moçambique entrou no mercado, anunciando prémios de 20 mi lhões de meticais. Basta acertar num nú mero... e esperar pela sorte, claro.

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TEXTO PEDRO CATIVELOS & HERMENEGILDO LANGA FOTOGRAFIA JOÃO GARRIDO

AQUECIMENTO

GLOBAL

AUMENTA FACTURA ENERGÉTICA

em julho passado, representan tes de 47 países estiveram reunidos na sede da ONU, em Nova Iorque, para analisar o ‘estado da arte’ dos objec tivos de desenvolvimento sustentável (ODS). E a falta de progressos em vá rias áreas, como a do acesso a ener gia (essencialmente ‘limpa’) por parte dos países em desenvolvimento, gerou preocupação. Nesse sentido, gover nos, doadores e bancos de desenvolvi mento assinalaram o compromisso de “aumentar o ritmo de investimentos em energia renovável para as pessoas em situação de pobreza, e que ainda permanecem ‘fora da rede’.”

No estudo “Sustainable Energy”, ela borado em 52 países, Índia, China, Sudão, Nigéria, Brasil, Paquistão, Indonésia, Bangladesh e... Moçam bique, são apontados como ‘alvos fáceis’ para as consequências do aquecimento global e da subida das temperaturas, que levarão a um ine vitável acréscimo do consumo ener gético. Números que dão (ou tiram) alguma luz sobre o futuro.

estão ainda hoje ‘fora da rede, cerca de 13% da população mundial’.

Um número assustador, e ainda muito distante da meta dos ODS, que preconiza acesso global a energia, até ao ano de 2030.

a

14 mil milhões

Um estudo da Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha, projecta que o número de aparelhos de ar condicionado poderá quadruplicar até 2050, impulsionando um aumento considerável no consumo de energia.

maioria destes ‘excluídos energéticos’ estão nas áreas rurais.

N
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ÚMEROS EM CONTA
000
1 100 000
470 000 000
630 000 000 desses 1,1 mil milhões são moradores em favelas perto das grandes cidades.
grande

+ 38 000 mortes

Estima-se que, por todo o mundo, entre 2030 e 2050, o aumento das temperaturas provoque inúmeras fatalidades. Em Maio passado, uma onda de calor (mais de 40 graus) provocou a morte de mais de 60 pessoas em Karachi, no Paquistão.

1%

É a percentagem do financiamento global para o sector da energia destinado às renováveis.

3 000 000 000

Mais de 40% da população mundial não tem acesso a tecnologias e combustíveis limpos para cozinhar. A poluição do ar nas residências é responsável por 4 milhões de mortes anuais.

21%

É a meta até 2030. Mas, hoje, apenas 17,5% do consumo total de energia provém de fontes renováveis, sendo 9,6% de energias como a geotérmica, hidroeléctrica, solar e eólica.

A ENERGIA DE MOÇAMBIQUE

Em 2018, apenas pouco mais de um quinto da população tem acesso à rede eléctrica nacional 2030(1) 2010 2017

100% 10% 4%

21%

É a percentagem de pessoas com acesso a energia renovável ou ‘limpa’ (1) Previsão FONTE Ministério dos Recursos Minerais e Energia

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Setembro 2018 24 NAÇÃO DESENVOLVIMENTO

PARA ONDE VAI O DINHEIRO?

Moçambique tem sido um dos países do mundo com presença constante na primeira linha dos destinos de capitais de ajuda ao desenvolvimento social, económico e humano. Mas o que é que podemos definir como ajuda ao desenvolvimento? E não haverá uma dependência excessiva desse tipo de mecanismo? Historicamente, há nações e instituições que o promovem, como os países nórdicos ou o Banco Mundial, mas há novos “ajudantes”, como os Estados Unidos e a China. E estes fluxos de ajuda... ajudam mesmo?

a estrutura social e económica de moçambique, e tudo o que a mesma implica, sempre dependeu fortemente de finan ciamento externo, ao longo da história do país. Com níveis de ajuda a chegarem a ultrapassar os 30% do rendimento nacio nal bruto durante largos períodos, assim foi (e continua a ser, mas já lá vamos) por muitos anos, em que Moçambique era visto pelos doadores como “uma história de sucesso da paz, estabilidade social e um lugar onde era preciso cultivar cres cimento e desenvolvimento sustentável.”

Mas, ao mesmo tempo, pode ler-se num relatório da embaixada da Holanda (um dos apoiantes históricos) sobre a econo mia nacional, que o país também “se tor nou um campo de testes para abordagens sectoriais e apoio geral ao orçamento.”

Mas esta imagem de relativo sucesso da quilo que eram, à época, os mecanismos de ajuda, desmoronou com a revelação da dívida oculta, em Abril de 2016. A Alemanha anunciou de imediato a in tenção de abandonar o grupo de apoio

1,4

MIL MILHÕES DE DÓLARES É O VALOR TOTAL ANUAL DA AJUDA AO DESENVOLVIMENTO EM MOÇAMBIQUE. ESTADOS UNIDOS, BANCO MUNDIAL E UNIÃO EUROPEIA SÃO OS MAIORES ‘APOIANTES’ DO DESENVOLVIMENTO NO PAÍS

programático a Moçambique, consti tuído por 19 parceiros internacionais. Outras quatro nações se lhe seguiram: Bélgica, Dinamarca, Holanda e Noruega anunciaram igualmente a sua saída do chamado G19, que passava a ser forma do por 14 parceiros que, em breve iriam trilhar o mesmo caminho: Áustria, Ban co Africano de Desenvolvimento (BAD), Banco Mundial (BM), Canadá, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Portu gal, Reino Unido, Suécia, Suíça e União Europeia (UE). Estavam assim suspensos os quadros de apoio que disponibiliza vam fundos relacionados com saúde, agricultura. protecção social e muitos outros, anunciando os doadores ficar a “aguardar” pelos resultados e acompa nhamento da auditoria às causas da dí vida antes de tomarem decisões sobre sua futura relação de ajuda de longo prazo a Moçambique e retomarem o apoio ao país, na altura directamente in jectado no Orçamento do Estado. Esse tipo de apoio, teria então os dias contados.

Setembro 2018 25

A EVOLUÇÃO DA AJUDA

Moçambique receberá 1,4 mil milhões de dólares até ao final do ano. Ainda assim, bastante abaixo do pico de 5,4 mil milhões, em 2010. Projectos de investimento e cooperação técnica em áreas como saúde, educação e energia são os destinatários principais

E depois da dívida… Não, não foi o adeus à ajuda. Foi apenas uma mudança da forma como os fundos são entregues e os programas são acom panhados, da doação aos resultados finais. “Até 2016, o Governo recebia na faixa dos 2 mil milhões de dólares por ano. Agora esse valor estará entre os 1,3 mil milhões e os 1,5 mil milhões de dólares por ano. E esta diminuição aconteceu, não em fun ção dos instrumentos de apoio, mas fun damentalmente pela questão da revela ção da dívida. Agora estamos apenas a conceder doações, não há empréstimos. E nesse caso, o volume reduziu entre 20% e 30% em todos os doadores. Houve de facto uma mudança na forma como a ajuda é entregue, e o acompanhamento que é feito agora de forma mais direc cionada a projectos sujeitos a concursos geridos pelos Ministérios, o que dá um cunho mais próximo à ajuda”, explica Mark Lundell, representante do Banco Mundial em Moçambique. A mudança apontada apenas veio con sumar uma situação que estava à vista de todos: Moçambique é um dos maio res beneficiários da ajuda pública ao

“Agora estamos apenas a conceder doações, não há empréstimos. E nesse caso, o volume reduziu entre 20% e 30%. Houve de facto uma mudança na forma como a ajuda é entregue, e o acompanhamento que é feito, agora de forma direccionada a projectos sujeitos a concursos geridos pelos Ministérios, o que dá um cunho mais próximo à ajuda”

desenvolvimento (APD) entre os países da África subsariana. Em 2004, recebia 1,2 mil milhões de dólares, à época qual quer coisa como 64 dólares por habitante, o que era justificado pelo seu 168° lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD, e por “uma boa gestão que permitia que a ajuda fosse eficaz.”

A ajuda ajuda?

Só que, 15 anos depois, a APD anda na casa dos 1,5 mil milhões de dólares por ano (já ultrapassou os 5 mil milhões nos anos de maior crescimento da economia no início da década, o que também não deixa de dar que pensar), mas Moçam bique caiu para a 181ª posição no mes mo ranking, num universo de 188 países avaliados a nível global. Ao mesmo nível do Sudão do Sul, e com pior pontuação do que países como o Malawi, a Eritreia e a Guiné-Bissau. “Apesar de haver progres sos significativos em vários indicadores, persistem desafios. O IDH duplicou, desde 1990 (muito em resultado da ajuda ao de senvolvimento, deve dizer-se), mas ain da não chegou a todo território e os seus benefícios ainda não são sentidos por

Setembro 2018 26 NAÇÃO DESENVOLVIMENTO
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2018 2017 5 180 4 118 3 942 2 730 2 800 1 430 1 510 1 300 1 400 3 650 3 547 5 470 Em mil milhões de dólares 442,8 518,8 133,2 789,3 139,2 770,6 154,4 219,7 131,1 288,1 46,4 76,1
Projectos
de desenvolvimento Cooperação técnica FONTE OCDE; ODA Mozambique

todos de igual forma. Apesar de Mo çambique ter registado uma melhoria significativa em alguns indicadores como a esperança de vida, que passou de 43 anos em 1990 para pouco mais de 55 anos em 2015, bem como o tempo de permanência na escola, de 2,7 para 5,4 anos no mesmo período, o país continua no grupo das nações consideradas de baixo índice de desenvolvimento huma no”, lê-se no relatório do PNUD, de 2017. Ao longo desse período, o Banco Mundial (pertencente ao G19), foi o maior doador, com uma contribuição média anual de 17,7% do total da ajuda, seguido da União Europeia. No entanto, na última década, a maior contribuição para o total da ajuda externa passou a ser dos Estados Unidos da América, que o faz através da USAID. Destaca-se também o ano de 2009, em que a APD teve uma taxa de cresci mento de cerca de 28%, resultado das decisões tomadas na Conferência Inter nacional de Financiamento ao Desenvol vimento em 2008, cuja mensagem-chave foi a existência de um forte compromisso dos países doadores em manter as suas metas de APD independentemente da crise económica e financeira mundial.

De crise em crise até ao desenvolvimento No entanto, neste mesmo período, os in dicadores relacionados com mudanças na capacidade produtiva e homogenei zação do desenvolvimento tiveram uma tendência contrária à do crescimento do PIB. A estrutura produtiva continua a ser caracterizada pela agricultura como sendo o sector com maior peso no PIB (22%), seguido do sector dos transpor tes e comunicações, e dos serviços. Depois, mesmo o crescimento económico dos primeiros anos da década, acima dos 7%, era impulsionado pelo sector extrac tivo, alavancado pelo grande investi mento da Vale em Tete (que permitiu que, hoje, seja esta a maior fonte de receitas para a economia nacional), pelas opera ções de drilling e sondagem que decor riam em Cabo Delgado, e que elevaram o Investimento Directo Estrangeiro, que chegava aos 7 mil milhões de dólares, fazendo de Moçambique um dos maio res receptores de IDE em toda a África. Mas, ao mesmo tempo, o país endi vidava-se. Algo que sabemos agora. Recentemente, a economia nacional foi apontada como estando avaliada com o nível “mais crítico” em termos de sobre-endividamento – de acordo um relatório publicado em Março, pelas or ganizações ‘Misereor’ e ‘Erlassjhar.de’,

Recentemente, Moçambique foi apontado como o país africano com nível “mais crítico” em termos de sobre-endividamento

uma aliança alemã de 600 organiza ções da sociedade civil que defendem o alívio da dívida aos países mais pobres. Assim, sete países (entre eles Angola e Moçambique) pagam as suas dívidas apenas parcialmente, ou já deixaram mesmo de pagá-las. O relatório destaca este, como um dos sinais preocupantes de uma nova crise nos países em desen volvimento. “Pode ter havido, de forma geral. alguma confusão entre o que é ajuda ao desenvolvimento ou doações, e empréstimos com vista ao desenvolvi mento, mas a verdade é que hoje já não se concedem empréstimos, devido ao que aconteceu”, sublinha Lundell. Moçambique é mesmo um caso “extre mo” a este respeito, e representa uma tendência do continente, sendo que “há já alguns alguns anos que se observa uma nova crise que se reflete em in dicadores de dívida crescentes. Esta é avaliada pela relação entre dívida e de sempenho económico, ou seja, ganhos de

exportação ou o produto interno bruto, que é a riqueza produzida por um país”, explica Jürgen Kaiser, coordenador da organização ‘Erlassjahr.de’. “Pese embora se tenha registado um crescimento económico, o mesmo é su portado por sectores de natureza ex tractiva, sem transformação ou adição de valor aos produtos e bens exportados, importação de alimentos, bens de capital para o funcionamento das respectivas indústrias e bens industrializados, o que não permitiu a transformação estrutu ral da economia, traduzida na fraca ou nenhuma adição de valor aos produtos exportados, não-diversificação, o que faz com que a economia continue demasiado dependente de recursos externos para o seu funcionamento, aumentando a dívi da pública, mantendo o sector público um grande peso numa economia com pouca resiliência a choques externos. Depois, pelo facto destas indústrias serem in tensivas em capital, não há promoção de

Setembro 2018 27
Agricultura: maior sector da economia é um dos que mais atenção recebe por parte dos doadores

emprego, o que atrai a população activa para o sector informal”, escreve a pes quisadora Inocência Mapisse, num estu do dedicado à ajuda externa. Ou seja, apesar dos influxos de APD e do crescimento económico, o país não conseguiu deixar de ser um dos mais pobres do mundo ao nível do PIB per ca pita (o 3º pior, com cerca de 415 dólares por habitante) e uma taxa de pobreza a abranger 35% da população, cerca de 11 milhões. António Souto, PCE da GAPI, ins tituição financeira de capitais mistos (es tatais e privados) que investe em projec tos de desenvolvimento em todo o país, canalizando fundos dos doadores, é mui to crítico em relação a alguns dos me canismos da ajuda externa. “A ajuda foi tendo várias fases, do perdão da dívida à alocação de fundos para os grandes pro blemas estruturais. Mas, olhando ao im pacto desse dinheiro, e não estou em mo mento algum a dizer que não queremos ajuda ao desenvolvimento, o problema é a forma como essa ajuda foi e é absor vida e aplicada, tendo criado um sector assistencialista ‘dominado’ por muitas ONG’s. A verdade é que essa ajuda ao desenvolvimento não trouxe nenhuma

M A R K LUNDELL,

BANCOMUN

D I LA

“Tentámos ajudar, através de grandes programas de apoio ao orçamento que chegavam a 500 milhões de dólares, entre 10 a 15 doadores. O mecanismo estava lá mas, com o tempo, acho que criámos uma espécie de caixa negra onde dávamos dinheiro, requisitávamos resultados, mas não ajudávamos a definir quais os caminhos para atingir esses resultados. No geral, o volume de recursos diminuiu 30%, mas a sua implementação subiu consideravelmente”

mudança estrutural da economia.” Lun dell, sendo mais optimista, não deixa de concordar (ver caixa da página 34): “Às vezes pode parecer mais fácil colocar o dinheiro directamente no Orçamento do Estado e depois voltar e falar sobre qual é a estratégia para desenvolver. É por isso é que é um desafio transferir recursos para os sectores, mas sem dú vida que, com a coordenação que está a haver entre os principais doadores, a ajuda está a ser cada vez mais efectiva e a produzir resultados.”

A origem da ajuda Para o sociólogo e pesquisador João Fei jó, o recurso ao termo “mão externa” por parte das autoridades governamentais, perante cenários de crise ou de contes tação, “dá a impressão de que os moçam bicanos são pessoas desprovidas da sua independência ou capacidade analítica.”

O termo “mão externa” tem sido utiliza do em referência às embaixadas ou às agências de desenvolvimento interna cional, cujo patrocínio tem sido impor tante para o funcionamento dos movi mentos da sociedade civil tidos como críticos em discursos políticos e, por isso,

Setembro 2018 28 NAÇÃO DESENVOLVIMENTO
Saúde e desenvolvimento: ainda hoje é o sector que maior volume de ajuda externa recolhe

pouco patriotas e vítimas passivas de “forças malévolas externas”. Para João Feijó, esta adjectivação é re corrente sempre que determinados mo vimentos sociais adoptam atitudes que colidem com os interesses dos grupos dominantes.

“O discurso ideológico necessita, fre quentemente, de um outro inimigo do grupo para fortalecer a sua coesão. O inimigo do povo é apontado como o bode expiatório de todos os problemas sociais, manipulando-se com frequência a histó ria, em função das vicissitudes políticas, marcadas por alianças e traições, coope rações e conflitos entre grupos rivais”, assinala o sociólogo, orador do sétimo sub-tema do 3° ciclo de debates académi cos “Tertúlias Itinerantes”.

Novos mecanismos

No entanto, se a APD teve, de facto con sequências que não eram, com certeza as pretendidas, também teve impactos positivos. O Banco Mundial (BM) anunciou que vai disponibilizar cerca de 1,7 mil milhões de dólares para financiar o sec tor privado de Moçambique até 2021 (374 milhões por ano). O financiamento desta estratégia acontece através da Associa ção Internacional de Desenvolvimento (IDA, sigla inglesa), o segundo maior fi nanciador do desenvolvimento em Mo çambique, atrás dos EUA. “A IDA e a Cor poração Financeira Internacional (IFC sigla inglesa) – braço do sector privado do Grupo Banco Mundial -, trabalharão lado a lado para estimular e alavancar o sector privado, desde logo em secto res-chave como a agricultura (e a sua cadeia de valor), o capital humano e a sustentabilidade”, explica Mark Lundell. Já o BAD, outro dos apoiantes históricos de Moçambique, teve de reduzir mais o quadro de apoios. No Documento Estraté gico sobre Moçambique entre 2018 e 2022 “os recursos disponíveis para Moçambi que estão no 14.º ciclo de financiamento do Fundo Africano de Desenvolvimento (ADF, entre 2017 e 2019), no valor de 87,2 milhões de dólares e no próximo ciclo do ADF (de 2020 a 2022), bem como na jane la do BAD para projectos não soberanos”. Ao longo das 79 páginas do documento, os analistas deixam claro que “Moçam bique não pode aceder à janela de fi nanciamento soberano por causa da in sustentabilidade da dívida pública”, mas salientam que, “à medida que o Governo implementa medidas de consolidação orçamental e negoceia com os credo res uma reestruturação da dívida e a

COMO É DISTRIBUÍDO O DINHEIRO

OS INVESTIMENTOS…

Percentagem maior do apoio vai para a saúde e desenvolvimento

EDUCAÇÃO AGRICULTURA

11 8 37 35 29

SAÚDE OUTROS (1)

… E ONDE ELES ESTÃO

… OS PROJECTOS…

erradicar a pobreza e a fome meio ambiente

combater o hiv/aids, malária e outras doenças

melhorar a saúde materna

reduzir a mortalidade de crianças menores de 5 anos

fomentar uma parceria mundial para o desenvolvimento

promover a igualdade entre os sexos e a autonomia da mulher

atingir o ensino primário universal

534

Há 1 639 projectos de ajuda ao desenvolvimento em curso 1224 613 465 437 380 375 310

Província de Maputo concentra a maioria dos projectos de ajuda ao desenvolvimento. Sofala, é a segunda

207 177 186 272 164 135 142 186 165 309

1 639

Setembro 2018 29
Número de projectos em curso no país
MAPUTO GAZA
CABO DELGADO
INHAMBANE MANICA SOFALA TETE
NAMPULA NIASSA ZAMBÉZIA
INFRA-ESTRUTURAS ECONÓMICAS E SOCIAIS FONTE OCDE; ODA Mozambique
Saúde e desenvolvimento congregam actualmente a maior fatia de capitais de ajuda externa. Infra-estruturas e educação, são os outros grandes destinos

O ‘TOP 10’

DOS DOADORES…

… E COMO DISTRIBUEM O DINHEIRO

em mil metros quadrados

estados unidos banco mundial - ida união europeia suécia alemanha japão reino unido bad fmi

fundo global de luta contra a sida

140,4

EUA tornaram-se o maior doador de Moçambique na última década 490 374 90,6 85,7 80,3 76,1 75,4 61,1 59,6

primeira tranche da produção de gás se concretiza, aumentando o crescimen to do PIB, as condições de crédito podem evoluir consideravelmente.”

O excessivo endividamento de Moçam bique face à sua riqueza é, assim, um dos principais entraves apontados pelos autores do documento, que foi aprova do pela direção do BAD no princípio de Agosto, depois de discussões com o Go verno moçambicano. No entanto, assim explicam, “o documento deixa em aberto a possibilidade de um eventual acesso à janela de financiamento soberano no final do período a que se reporta o CSP (2020-2022)”. O “limitado envelope finan ceiro significa que dá prioridade ao co-fi nanciamento e à mobilização de recur sos como um elemento chave da ajuda”, pode ler-se.

Já os outros doadores, como a Alemanha, o Reino Unido, a Dinamarca ou a Holan da, cortaram os seus apoios em 30%, mas continuam a direccionar fundos de ajuda para o desenvolvimento.

Olhando ao caso da Finlândia, na sua política de cooperação para o desen volvimento enquanto parceiro de coo peração bilateral a longo prazo, ela se gue os planos de desenvolvimento de Moçambique e os Objectivos do Milénio

ESTADOS UNIDOS

Estão presentes em Moçambique através da USAID, da HHS, e da USDA

Em milhões de dólares

BANCO MUNDIAL

Parceiro histórico da economia nacional e tem um pacote de ajuda anual, até 2021 de 374 milhões de dólares

saúde crescimento e produtividade ajuda alimentar inclusão e capital humano outros

Os dois maiores doadores, têm apostas diferentes nos seus programas de apoio 350 200 60 100 50

Em milhões de dólares 490 000 000 374 000 000

educação sustentabilidade

30 74

É o valor da ajuda anual dos EUA a Moçambique

O Governo britânico anunciou recentemente através do Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID) esperar investir em seis áreas estratégicas do país, com destaque para empoderamento da mulher, saúde maternoinfantil e formação

A ajuda anual do Banco Mundial até ao ano de 2021

da ONU. Já a Danida, a agência de coo peração dinamarquesa, outro parceiro histórico do desenvolvimento nacional, assume “que os objectivos relacionados com a redução da pobreza e resulta dos de desenvolvimento, bem como os indicadores de actividades incluídos e monitorados como base do programa se mantêm. Mas Moçambique está numa encruzilhada, com decisões difíceis para serem tomadas.” Um outro grande par ceiro que continuará a apoiar o país, é o governo britânico, que até anunciou re centemente através do Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID, a sigla em inglês) esperar investir em seis áreas estratégicas, um auxílio que “visa preparar Moçambique para a chegada das receitas dos recursos natu rais” esperadas para meados da próxi ma década, desenvolvendo programas de apoio, com destaque para empodera mento da mulher moçambicana, saúde materno-infantil e formação “Estamos na presença de um país estável e prós pero para os interesses estratégicos do Reino Unido. Investir agora mitigará a necessidade de respostas humanitárias mais dispendiosas para evitar conflitos e desastres no futuro”, aponta o DFID na sua avaliação do portefólio dos pro

Setembro 2018 30 NAÇÃO
DESENVOLVIMENTO

jectos em curso no país. Também neste caso, qualquer tipo de financiamento a Moçambique é apenas direccionado a projectos específicos, ou seja, os fundos já não entram directamente no OE, como acontecia anteriormente, sendo que agora a ajuda do Reino Unido é fornecida através de agências multilaterais (Banco Mundial e Nações Unidas), organizações não-governamentais e contratados do sector privado, e todo o financiamento para o sector privado está vinculado a metas de entrega específicas ou contra tos baseados em resultados.“Todos os con tratos são negociados e monitorados de forma robusta. Os programas são moni torados de perto por uma equipa do DFID que visita projectos no campo regular mente”, esclarece o governo britânico. A equipa do DFID reúne-se com parcei ros trimestralmente para discutir o pro gresso, realizando revisões trimestrais do programa para avaliar os resultados, fechando ou realocando o financiamento, se necessário. Já o Japão é um financia dor de formação profissional e infra-es

MIL MILHÕES DE DÓLARES

VOLUME DE AJUDA AO DESENVOLVIMENTO DA CHINA DESTINADO A ÁFRICA.

A MAIOR PARTE SÃO EMPRÉSTIMOS COM JUROS REDUZIDOS EM SECTORES ONDE A ECONOMIA CHINESA TEM INTERESSES COMERCIAIS

300truturas (como a obra do Porto de Naca la, neste caso financiada pela JICA). Toshio Ikeda, embaixador do Japão em Moçam bique, explica que “o país tem sido um bom parceiro de cooperação ao longo dos anos, e planeia continuar com os pa cotes de apoio e financiamento ao país”.

Da China aos Estados Unidos O vice-ministro do Comércio da China, Quian Keming, considera que as relações de cooperação entre China e Moçam bique não se limitam à economia, mas que já são “uma relação de amizade”. No entanto, por vezes pode não ser bem assim. Há muita gente que desconfia da ajuda da China ao continente africano. Um estudo de 2017 realizado pela AidData falava do universo conhecido de aju da chinesa, entre 2000 e 2014. Com 4 373 registos, que totalizavam mais de 300 mil milhões de dólares, que vão de ti pos de ajuda tradicional (cerca de 70 mil milhões de dólares) a empréstimos com juros reduzidos (cerca de 235 mil milhões). Uma das principais descobertas do estudo

Q&A: “RECURSOS DIMINUÍRAM MAS IMPLEMENTAÇÃO MELHOROU”

O Banco Mundial é um parceiro histórico da economia nacional. Nos últimos anos, mesmo com os problemas relacionados com as dívidas ocultas, manteve o apoio à economia e vê “com optimismo” o futuro próximo do país. E não é por causa do gás, mas por uma mudança de discurso político, mais virado para a agricultura, a educação e a criação de emprego. Mark Lundell, director do BM para Moçambique, fala à E&M sobre os objectivos da instituição para o país.

Quais são, hoje, os grandes desafios para Moçambique, na óptica do Banco Mundial?

A Educação, sem dúvida. Porque é a base da produtividade necessária para criar um sector formal forte, por muito que se injecte capital para a fazer aumentar. Tem de haver uma ligação entre o estímulo às actividades económicas em pólos regionais para estar mais perto das pessoas. A minha pergunta vai no sentido de saber quais são as apostas que temos em termos de próximos pólos de crescimento? Maputo funciona como um pólo de desenvolvimento, tem grande parte de indústria do país, comércio, construção, tudo, mas baseado no facto de ser a capital, de estar próximo da África do Sul, e sobrevive do investimento do sector público e privado. Mas para lá de Maputo, queremos focar a nossa atenção no Centro e no Norte, especialmente Zambézia, Nampula, Manica e outras. Porque é lá que estão os recursos. Toda a questão passa por alocar mais recursos ao sector privado. E estimular o empreendedorismo. Acho que nos últimos dois ou três anos, o Governo vem reconhecendo isso e já saímos do discurso apenas em torno do sector do gás.

Houve uma mudança nos últimos anos, e grande parte dos programas de ajuda ao desenvolvimento passou a ser direccionada a projectos específicos. Isso trouxe benefícios claros?

A alocação directa a projectos traz um risco: que os Ministérios e outros beneficiários, agora, tenham mais recursos de vários doadores. O que, inicialmente, levantou questões de coordenação. Como grupo, os parceiros

de desenvolvimento devem trabalhar com estratégias conjuntas que estão também, com o empenho do Governo, a evoluir nos sectores da educação, saúde, protecção social, energia e agricultura. Então, vejo uma grande diferença, acho que neste período se está a reconstruir a confiança dos doadores, e é mais fácil fazer isto através desses programas sectoriais que têm metas anuais e financiamento bem definidos. Acho que no passado, o apoio ao Orçamento tinha um risco que era o de definir resultados ambiciosos, alocando recursos, para depois não participar na fórmula para atingir os resultados. Tentámos ajudar, através de grandes programas de apoio ao orçamento que chegavam a 500 milhões de dólares, entre 10 a 15 doadores. O mecanismo estava lá, mas com o tempo, acho que criámos uma espécie de caixa negra onde dávamos dinheiro, requisitávamos resultados, mas não ajudávamos a definir quais os caminhos para atingir esses resultados. No geral, o volume de recursos diminuiu 30%, mas a sua implementação subiu de 20% para 28%.

Nota-se nos últimos tempos um aumento do número de fundações e fundos de desenvolvimento com vista a concorrer aos fundos disponíveis. Isso representa um desafio acrescido para o Banco Mundial?

Acho que as agências têm um papel fundamental no país, e vemos essa multiplicidade de canais de implementação como uma oportunidade para definir com cada Ministério qual é a forma mais eficaz e dinâmica para implementar os vários projectos no terreno, e com o máximo impacto.

é que a maioria da ajuda externa chine sa não foi ajuda tradicional – ajuda direc ta – mais sim relacionada com projectos comerciais e empréstimos com juros. “Se olharmos para as relações China -África, a ajuda é apenas uma pequena parte do que consideram ser o compro misso com o desenvolvimento, que inclui comércio, investimentos e financiamento. Se um país está a ter dificuldades com financiamento externo, o investimento chinês parece, pelo menos inicialmen te, a melhor opção e com mais vanta gens porque não impõe condições de boas práticas governativas, por exem plo”, explicava Ferchen à alemã DW. Outros estudos demonstram ainda que a política tem um papel na forma como a China decide ‘ajudar’, indicando que os projectos de desenvolvimento chineses tendem a concentrar-se em áreas onde vivem os líderes e políticos africanos, em oposição a zonas mais marginalizadas. Um estudo do thinktank Brookings Ins titution descobriu que a China “tendia a gastar mais dinheiro em países corrup tos, havendo uma correlação negativa entre investimento directo do Governo chinês e o índice do Estado de Direito do Banco Mundial.”

Do outro lado, literalmente, estão os EUA. Através da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (a USAID), canalizam anualmente para Moçambique perto de 500 milhões de dó lares. A grande fatia desse orçamento é destinada à saúde, nomeadamente atra vés da abertura programas de financia mento de combate ao HIV, tuberculose e malária (250 milhões de dólares doados, desde 2007, para combater a maior cau sa de mortalidade infantil em África). A USAID funciona através de aquisições (ou seja contratos) ou assistência (sub venções ou acordos de cooperação em que financia um programa com uma finalidade pública ou para contribuir para um bem público).

Na verdade, todas as grandes potências económicas mundiais parecem ter inte resse em ajudar, e não deixa de ser curio so, que os volumes da ajuda tenham de facto disparado a partir de 2010, aquando das descobertas dos depósitos de gás em Cabo Delgado. Mas, teorias da conspira ção à parte, a questão essencial é mesmo, o que se faz, e como se gasta esse dinhei ro. E se a ajuda, de facto ajuda mesmo.

Setembro 2018 32 NAÇÃO DESENVOLVIMENTO
Mark Lundell: o representante do Banco Mundial
PEDRO CATIVELOS FOTOGRAFIA D.R.
TEXTO
NA VOZ DE... Setembro 2018 34 DESENVOLVIMENTO

“É PRECISO GERIR MELHOR A AJUDA AO DESENVOLVIMENTO”

ANTÓNIO SOUTO PCE da Gapi

quase três décadas após a sua fundação, a Gapi, uma instituição finan ceira de capitais mistos (estatais e pri vados), prossegue com o mesmo foco: contribuir para o desenvolvimento eco nómico sustentável do país, através da promoção do empreendedorismo e da inclusão financeira combinando progra mas de financiamento (actualmente tem oito em curso), consultoria e capacitação empresarial, e complementando esse papel com a aquisição de participações de capital em PME que actuam em secto res estratégicos e que podem ser funda mentais na criação de cadeias de valor em áreas fundamentais para o futuro do país, do agro-negócio às pescas.

Assim, António Souto, Presidente da Co missão Executiva (PCE) da Gapi, será dos que melhor conhece o lado bom e mau, da ajuda ao desenvolvimento de que Mo çambique se tornou “cliente”.

Em entrevista à E&M, o gestor que dedi cou a vida à ‘economia inclusiva’ fala de como o país poderia evoluir, e também dos falhanços na utilização desses fluxos de capitais. E aponta caminhos para um crescimento verdadeiro, e sintoma real de desenvolvimento “ao nível humano”.

O que é a ajuda ao desenvolvimento e em que ponto estamos hoje a este respeito em Moçambique. E já agora, qual a importância de um mecanismo como a Gapi neste contexto, enquanto ponte entre financiadores e benefi ciários dos programas?

Mais do que fazermos a ponte, procu ramos criar condições para que a aju da ao desenvolvimento seja efectiva. O nosso objectivo, e é assim desde a fun dação da Gapi, é criar um sector priva do com capacidade para gerir e gerar emprego e melhorar a competitividade da economia procurando o impacto no desenvolvimento local e na geração de emprego. Nos últimos dez anos, Moçam bique foi um dos principais beneficiários da ajuda internacional em todo o mundo, mas ainda falta tanta coisa e falharam-se vários objectivos.

Olhemos para o impacto desse dinheiro… Não estou dizendo que não queremos ajuda ao desenvolvimento. Moçambique precisa de ajuda ao desenvolvimento, o problema é como é que essa ajuda é ab sorvida e aplicada. O que aconteceu nos últimos dez anos é que essa ajuda não

Sotembro 2018 35
NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS, MOÇAMBIQUE FOI UM DOS PRINCIPAIS BENEFICIÁRIOS DA AJUDA INTERNACIONAL EM TODO O MUNDO. MAS AINDA FALTA TANTA COISA E FALHARAM-SE VÁRIOS OBJECTIVOS

trouxe nenhuma mudança estrutural da economia. Olhemos para um sector como o da agricultura. Ela não se modernizou, houve intervenções dirigidas para sec tores especulativas ou comerciais. Por outro lado, temos um sector assistencia lista, muito intermediado por ONG’s.

E elas são essencialmente boas ou no civas em toda esta dinâmica de apoio ao desenvolvimento?

Não podendo generalizar, o que sabe mos é que muitas aproveitam-se dos dinheiros da ajuda ao desenvolvimento. Montam-se como intermediários (muitas delas ONG’s de parceiros de coopera ção bilateral), e em inúmeros casos têm a suas réplicas em organizações locais moçambicanas. Em larga medida, esta ajuda ao desenvolvimento deu origem a uma rede de parasitismo que impediu que os programas para o desenvolvi mento fossem correctamente concebi dos e muito menos bem implementados. Assim, aquilo que era fundamental para fazer surgir um sector empresarial com base nas PME com competências técni cas não surgiu. Depois, há uma elite bem

1,4

MIL MILHÕES DE DÓLARES VALOR MÉDIO DA AJUDA AO DESENVOLVIMENTO DESEMBOLSADO PELOS PARCEIROS DA COOPERAÇÃO DE MOÇAMBIQUE AO LONGO DOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS, APÓS A REVELAÇÃO DAS DÍVIDAS OCULTAS

encostada nos órgãos de aparelho do Es tado... e são muitos os casos conhecidos de enriquecimento sem justa causa. É preci so gerir melhor esta ajuda.

É por isso que, com tanto influxo de ajuda na última década, o tecido em presarial continua a ser fraco? Também. Mas, o Estado tem adoptado po líticas fiscais repressivas contra as PME e não foi capaz de criar instrumentos fis cais que as beneficiassem. E o que vimos foi o desenvolvimento de uma elite com pradora, um alastramento enorme do sector informal e da corrupção baseada nos fluxos de dinheiro que entraram. Muitas dessas ONG’s, quando recebem dinheiro, cobram logo 30% à cabeça. E tudo isto acontece num contexto de pe rigosa evolução demográfica. Esta demo grafia fez com que nos últimos dez anos, em média, o crescimento demográfico tenha produzido cerca de 370 mil jovens atingindo a idade laboral, mas os empre gos efectivos criados por esta economia nos melhores anos atingiu cerca de 30 mil por ano, menos que 10%. O que explica a expressão crescente do sector informal.

NA VOZ DE... Setembro 2018 36 DESENVOLVIMENTO
Educação: um dos sectores que tem recebido ajuda, mas que não se tem desenvollvido ao ritmo do que o país necessita

Nos últimos anos, a ajuda deixou de ser dirigida ao OE. O que pensa sobre isso? A questão das dívidas escondidas, um presente no sentido duplo (sorri) mar ca uma política monetária restritiva que obteve do ponto de vista monetá rio, algum sucesso, é justo dizer. No en tanto, está desajustada da política fiscal. O resultado é que se esmagaram ainda mais as poucas PME que conseguiram de alguma forma surgir ao longo dos últimos dez anos. Então, o Estado fica completamente nas mãos das institui ções, sobretudo as multilaterais, particu larmente das imposições de FMI, Banco Mundial e das parcerias com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). Se ria importante avaliar-se quanto desses recursos são absorvidos pela máquina de gestão, qual é o timing de atribuição desses recursos, porque é sabido que muito desses dinheiros estão parados. E aqui, o assunto é este: há muitos des tes programas concebidos sem se ter em conta a fragilidade das instituições que os devem implementar, porque estão a ser direccionados pelos minis térios e muitos deles estão fragilizados. Há poucas instituições capazes de nego ciar e discutir com os próprios parceiros de cooperação os modelos e desenhos de implementação desses projectos.

E aqui entram instituições com a Gapi, regulada pelo Banco de Moçambique, e que, até por isso, cumpre requisitos de transparência e obrigações que outras entidades não têm. Essa ques tão da transparência é essencial? Antes de falar da Gapi… Penso que muitas instituições de cooperação multilaterais estão preocupadas com a ineficiência de alguns dos seus programas e cientes das fragilidades do Estado. Hoje há um fenó meno: todos meses aparece uma nova fundação que, como se sabe, tem um tipo de enquadramento em que não paga im postos. São, na minha opinião, uma nova moda para absorver os recursos que os doadores não podem passar ao Estado e têm de canalizar através de concursos. Portanto, é neste contexto que estamos, A missão da Gapi é conceber e imple mentar programas com foco no desen volvimento do sector privado e contri buir para o sistema financeiro inclusivo. Somos uma parceria público-privada, temos capital estatal e privado e como disponibilizamos serviços financeiros, estamos regulamentados pela lei das instituições do crédito, o que não faz mui to sentido, porque o nosso objectico não é comparável ao da banca comercial. Mas isso foi acordado na expectativa de que houvesse um regulamento adequa

A AJUDA DESENVOLVEU REDE DE PARASITISMO QUE IMPEDIU SUCESSO DE MUITOS PROGRAMAS

do para que operássemos, o que nunca aconteceu. Veremos o que acontece.

O que me diz é que uma instituição como a Gapi, com relatórios e contas e publicação de resultados dos pro gramas e investimentos que faz, aca ba por estar em desvantagem, face a outros players deste mercado, é isso? A verdade é que sentimos uma grande pressão no âmbito desta política monetá ria restritiva e estamos também a ver como resolvemos o assunto. Mas para já vamos actualizar a nossa estratégia, porque para sermos ainda mais efecti vos temos de separar alguns serviços e criar a Gapi Manegement, que estamos a desenhar. É para nós claro que as PME não podem surgir e crescer só com base em crédito, e não é com donativos que isso vai acontecer também. É preciso re forçá-las em termos de capital próprio. Há muito desconhecimento da realidade do país em muitos dos doadores. Se per guntarmos, quem é que está a ser mais efectivo na transferência de recursos para promover uma nova geração de empresários, digo-lhe que nós, que faze mos este trabalho há quase trinta anos, estamos implementados em todo o terri tório já mostrámos que desenvolvimento não se faz só com donativos, com funda ções, e ONG’s. Mas sim com boas parce rias no terreno, formação adequada e com a expectativa de obter resultados.

Não sente por vezes que anda há tem po de mais a ‘pregar no deserto’? É que quase trinta anos depois, as lutas parecem ser ainda as mesmas... (Sorri) Boa pergunta... Bem, muitas das instituições multilaterais reconhecem cada vez mais a importância e o papel da Gapi, e são mesmo nossas parceiras. Vamos aos concursos, e quando não são ‘cozinhados’ temos saído em vantagem. Estamos a implementar programas que ganhamos através de concursos inter nacionais e vamos continuar a fazê-lo.

Com a evolução da economia nos pró ximos anos, o papel da Gapi mudará? Naturalmente.Trabalharemos também cada vez mais com as grandes multina cionais que estão no país, desenhando programas de crescimento inclusivo nas zonas de influência dos grandes projectos, ajudando a promover desenvolvimento.

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TEXTO PEDRO CATIVELOS FOTOGRAFIA JAY GARRIDO Sector informal continua a predominar: o rosto de que a ajuda ao desenvolvimento não tem dado resultados

DO REAL AO IDEAL... O QUE PODE E O QUE DEVE MUDAR NO MUNDO MUNICIPAL

Com as eleições autárquicas de 10 de Outubro à porta, a E&M lança um olhar sobre os desafios pelos quais passam as autarquias do país. E não são poucos. Após o primeiro acto eleitorial municipal da história, os presidentes eleitos terão a árdua tarefa de procurar alcançar a sustentabilidade a todos os níveis

tradicionalmente, vencem as eleições os candidatos cujos manifestos corres pondam às expectativas do eleitorado. Os que prometem resolver as mais pro fundas preocupações das pessoas, que na realidade moçambicana incluem a insustentabilidade financeira, desem prego, desordenamento territorial, pro blemas ambientais e pobreza. Mas das promessas políticas à sua rea lização existe uma grande diferença. Analistas políticos, sociedade civil e a academia são unânimes em afirmar que a descentralização, mais concretamente

a municipalização, que começou em 1998, não trouxe grandes mudanças ao desen volvimento local, como seria de esperar, porque prevalece a pressão populacio nal cuja velocidade é maior que a criação e expansão de condições sociais básicas, que incluem o acesso à habitação, servi ços de saúde e educação de qualidade.

Insustentabilidade financeira Os problemas começam pela base. De acordo com o Centro de Integridade Públi ca (CIP), a primeira grande dificuldade dos municípios é o facto de não conseguirem

PAÍS MOÇAMBIQUE

CAPITAL MAPUTO

ÁREA 799 380 Km2

POPULAÇÃO 28 milhões REGIÃO Austral

Setembro 2018 38 PROVÍNCIA ELEIÇÕES

gerar receitas suficientes para a reali zação das suas prioridades. Ou seja, são financeiramente insustentáveis. O pro blema é, de resto, assumido pela a Asso ciação Nacional dos Municípios de Mo çambique (ANAMM).

O melhor caminho a seguir, para come çar a mudar este cenário seria começar a aproveitar melhor a capacidade de ar recadação de receitas. A este propósito, o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), entende ser necessário elaborar cenários financeiros de médio e longo prazo, para a gestão municipal, à seme lhança do que já é feito a nível do Gover no Central e Provincial. Isto permitiria avaliar o potencial de receitas, definindo objectivos de colecta, bem como avaliar o comportamento da despesa e a possibili dade de optimização da mesma. E ainda identificar os impostos e taxas a privile giar, e as suas implicações em termos de reajustamento dos mecanismos e práti cas de gestão e plataformas tecnológicas associadas.

Um bom exemplo a este nível é o mode lo do ‘utilizador-pagador’, que se baseia no princípio de que o pagamento pelos serviços prestados, em particular as ta xas, deverá ser proporcional ao serviço prestado. É o modelo que já está a ser uti lizado na gestão de resíduos sólidos, em que a taxa de limpeza está indexada ao consumo de energia eléctrica, uma vez que se demonstrou existir uma correla ção entre a produção de resíduos sólidos a nível residencial e o nível de consumo de energia eléctrica.

O IESE refere também ser “necessário observar que o crescimento do parque imobiliário foi realizado maioritaria mente em zonas não planeadas nem cadastradas, resultando que os direitos sobre estas propriedades, em geral, não estão registados. Este potencial enorme de receitas municipais adicionais pode ria melhorar as perspectivas de susten tabilidade financeira dos municípios.”

Serviços públicos: o grande “quebra-cabeças”

O analista político Jaime Macuane apon ta o estado actual do transporte público como “um mau exemplo”. Sustentabilizar os serviços públicos, de um modo geral, prossegue, “é um desafio a ter em conta. É aqui que os municípios devem intervir na busca de soluções sustentáveis, o que se tem afigurado difícil.”

O IESE, que já realizou uma série de es tudos sobre gestão municipal, refere que “existem serviços com maior autonomia financeira, ou seja, com a capacidade de

MAIS COMPETÊNCIA NA GESTÃO PROVINCIAL

Governadores das 11 províncias (se incluirmos aqui Maputo Cidade) do país deixam de ser indicados pelo Presidente da República e passam a ser eleitos por sufrágio. Trata-se de um dos consensos alcançados nas negociações entre o Governo e o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama, sobre a descentralização. O economista Elcídio Bachita, docente universitário, vê com bons olhos esta iniciativa, por entender que, “mais do que a confiança política, vai vingar a competência, o saber fazer, a transparência na governação e na gestão das economias localmente.” Mas chama atenção para a necessidade de uma coordenação mais estreita entre os governos provinciais e municipais, porque a “guerra partidária tem desfocado os dirigentes em relação às prioridades das populações”.

A partir das eleições gerais de 2019, os governadores administradores distritais serão indicados pelo partido político que obtiver a maioria em cada província, cabendo ao presidente eleito a sua homologação.

serem geridos apenas com recurso às receitas provenientes de taxas de pres tação de serviços. São os casos da gestão de resíduos sólidos urbanos, dos merca dos e feiras e, ainda, dos transportes ur banos.” Seguindo esta lógica, uma forma de alavancar a intervenção municipal e de caminhar rapidamente para a auto nomização financeira destes serviços é a elaboração de “Planos de Negócios” para estes serviços, numa lógica aproximada à lógica empresarial.

Estes planos permitiriam identificar os consumidores (reais e potenciais) destes serviços, projectar a sua estrutura de custos e, consequentemente, as receitas desejáveis; estudar a capacidade e von tade de pagar dos utilizadores dos ser viços e ajustar as taxas de acordo com a dinâmica entre a receita desejável e a capacidade e vontade de pagar; definir os indicadores de qualidade e criar me canismos de monitoria.

Ainda no domínio da sustentabilidade dos serviços, de acordo com o IESE, “é fun damental que os municípios adoptem estratégias de manutenção de infra-es truturas e equipamentos como forma de garantir a durabilidade dos investimen tos avultados, porque a ausência destas estratégias tem impedido, muitas vezes, a inclusão de rubricas financeiras liga das à manutenção, quer nos orçamentos, quer nas negociações com parceiros, le vando à degradação progressiva das in fra-estruturas e dos equipamentos com custos avultados na reparação, reabili tação ou construção”, lamenta a pesqui sadora do IESE, Lídia Brito.

Já o analista político João Pereira levan ta outro problema: “a fraca intervenção das organizações da sociedade civil e das ONG revela que é necessário incluí-los na produção de programas com impacto no desenvolvimento cultural, na protec ção dos direitos das crianças, na geração de emprego ou no trabalho social.”

Lidar com os desafios ambientais

O IESE, tal como o CIP, considera que “a sustentabilidade ambiental é a ques tão menos abordada e discutida nos pla nos municipais”. Em Moçambique, segun do o IESE, as questões são tão diversas como a amplitude geográfica do país faz prever. Mas, há questões ambientais que são comuns a todos os municípios, como a rede de saneamento e gestão dos resíduos sólidos e espaços verdes. “Estas áreas de intervenção municipal exigem uma abordagem urgente e permanen te em todos os municípios do país”, refere

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NÚMERO DE MUNICÍPIOS DE TODO O PAÍS. CADA UM DESTES TEM DIFICULDADES ESPECÍFICAS, MAS TODOS TÊM EM COMUM O DÉFICE DE RECURSOS PARA A REALIZAÇÃO DAS SUAS PRIORIDADES

A nível político, os desafios dos municípios passam pelo aumento da credibilidade dos órgãos municipais, e pela maior operacionalização do quadro legal autárquico

a pesquisadora Lídia Brito, do IESE, co -autora da pesquisa “Desafios da Gestão Municipal”, a par de João Noronha. “Um plano sério de investimento nas zonas já urbanizadas para a reabilitação das in fra-estruturas existentes, e a obrigato riedade de criação de infra-estruturas mínimas de saneamento em qualquer nova zona de assentamento populacio nal, parecem ser políticas urgentes e de carácter obrigatório para todo o país”, constata a investigadora.

Formação em gestão autárquica O IESE refere que, para melhorar a ca pacidade de gestão municipal, deve ria existir uma formação em gestão au tárquica, “já que se trata de um tipo de gestão muito específica, o que justifica a existência de um programa de for mação que passe por desenhar carrei ras específicas para o funcionário au tárquico, de forma a definir as funções e critérios de desempenho, permitin do uma maior motivação e enfoque dos funcionários que trabalham nesta es fera e uma maior competitividade dos mesmos no mercado de trabalho, tendo em conta a especialização de determi

nadas funções”, sugere a pesquisadora. Que entende ainda que a capacidade de gestão deve também ser alavancada por outros mecanismos de colaboração e coordenação intermunicipal: “práticas como a reflexão conjunta sobre assun tos de interesse comum, de coordenação de iniciativas para propostas de regula mentação, de sistematização de práticas e princípios de gestão ou de desenho de programas e projectos comuns, têm re sultado numa mais rápida criação e dis seminação de conhecimento sobre os de safios e formas de gestão municipal.”

A Associação Nacional dos Municípios de Moçambique (ANAMM) tem assumi do parte destes desafios e deverá assu mir outros que se revelarem importan tes, garantem à E&M. Iniciativas como a definição de indicadores e índices de desenvolvimento municipal, a criação de capacidade de pesquisa e investiga ção sobre dinâmicas municipais, “pode rão ser estruturantes para a criação de uma comunidade de pessoas e orga nizações que fortalecem a sua percep ção e as suas competências sobre o de senvolvimento e a gestão municipal nas vertentes de planeamento estratégico,

gestão de recursos humanos, reconfigu ração dos serviços e processos associa dos, desenho de estruturas organizacio nais que sejam flexíveis e evolutivas, entre outros.”

Repensar o papel dos actores relevantes Mas a responsabilidade de realizar mu danças importantes não é apenas dos di rigentes dos municípios. O estudo do IESE, sugere ser importante realçar “os novos papéis que outros actores relevantes te rão de assumir, para se alcançar o nível de maturidade institucional e de gestão que os desafios de crescimento e desen volvimento municipal exigem.”

Assim, do lado do Ministério da Econo mia e Finanças, por exemplo, um desa fio importante seria o de criar uma pon te entre a gestão municipal e o governo central, para em conjunto se buscarem soluções para os desafios de integração e de coordenação em diversas vertentes. Esta ponte facilitaria a negociação dos espaços de intervenção, em particular em áreas onde a regulamentação este ja feita apenas a nível central ou onde os papéis de alguns actores estejam menos claros, como no caso do representante do Estado nos municípios. Também permiti ria apoiar os municípios na negociação de mecanismos de gestão, como a ade quação dos sistemas de informação às exigências do sistema de administração. Assim, lê-se, “o Ministério deveria defi nir um conjunto de indicadores de desen volvimento municipal e de capacidades institucionais de gestão e operacionali zar uma metodologia de recolha e pu blicação destes indicadores, de forma a permitir analisar a evolução dos mu nicípios e definir estratégias para ala vancar o crescimento e o desempenho.” E prossegue, anotando que “a ANAMM também deveria evoluir de um papel de mero porta-voz dos municípios para o de assessor técnico, jurídico e gestor do conhecimento em desenvolvimento au tárquico.” Aqui, seriam incluídas todas as actividades cujas economias de escala ou a necessidade de integração sejam rele vantes, e onde os municípios terão um papel relevante, ao nível da criação de programas de capacitação e desenvolvi mento institucional, de educação cívica e fiscal, de sistematização de boas práticas de gestão para que o desenvolvimento do país, comece logo pela base.

Setembro 2018 40 PROVÍNCIA ELEIÇÕES
TEXTO CELSO CHAMBISSO FOTOGRAFIA ISTOCK PHOTOS Maputo: um dos municípios mais disputados na corrida eleitoral de Outubro

JUVE-INOVA, UMA PLATAFORMA PARA JOVENS EMPREENDEDORES

JUVE-INOVA, A NATIONAL PLATFORM FOR YOUNG ENTREPRENEUR

A expansão e consolidação do sector privado através do empoderamento de jovens é determinante para o desenvolvimento sustentável e inclusivo

The expansion and consolidation of the private sector through the empowerment of young people is the key to sustainable developmentth

perante a ameaça de uma explosão demográfica, acompanhada de um crescimento económico assente na in dústria extractiva, o emprego produtivo acessível a jovens constitui, porventura, o maior desafio presente e futuro que afecta e afectará toda uma geração. Ao longo dos seus 28 anos de actividade, a Gapi-Sociedade de Investimentos vem de senvolvendo iniciativas em prol da cria ção de uma classe empresarial nacional. Assim, ao longo dos últimos dez anos, tem concebido e implementado iniciativas focadas no apoio e estímulo à capacida de empreendedora e inovadora da Ju ventude, com destaque para programas como: “Negócios Verdes”, “Fora da Caixa”, “Via: Rotas para o Trabalho” e, desde Ju nho de 2015, o “Agro-Jovem”. Na experiência do “Agro-Jovem”, a Gapi e os seus parceiros de implementação que integram agora 20 instituições de ensino superior e técnico-profissional, abrangeram até este momento mais de mil jovens estudantes, que criaram 90 empresas, as quais geraram cerca de 500 postos de trabalho. A experiência do “Agro-Jovem” inspirou a Gapi a pre parar um novo programa focado na ju ventude inovadora – o Juve-Inova – de âmbito igualmente nacional, e com uma visão de longo-prazo. Para isso, está a de correr, em 20 diferentes cidades de todo o país, um “show de ideias” que consiste na realização de debates com autorida des locais, comunidade académica e pes soas com experiência em agro-negócios, sobre crescimento, sustentabilidade e oportunidades de investimento, por for ma a gerar desenvolvimento e novos postos de trabalho produtivo a nível local. Este “show de ideias” que durará até fi nais de Setembro, vai abranger cerca de 2 000 jovens com potencial para em

in the face of the threat of a popula tion explosion along with a tendency of an economic growth based on extrac tive industry, affordable productive em ployment is the challenge that affects an entire generation of young Mozambican people. Throughout its 28 years of acti vity, Gapi has been developing initiati ves to create the foundations of national empowered business sector. Thus, over the last ten years, it has conceived and implemented several initiatives focused on supporting and stimulating the inno vative capacity of Mozambican youth, and the emphasis goes to programs such as “Negócios Verdes”, “Fora da Caixa”, “Via: Rotas para o Trabalho” and in parti cular, “Agro-Jovem” since 2015.

In the “Agro-Jovem” experience, Gapi and its partners, which are now 20 hi gher education institutions, have so far covered more than 1,000 young students and recent graduates, who have crea ted 90 small businesses and generated around 500 jobs. The “Agro-Jovem” expe rience inspired Gapi to prepare a new program focused on innovative youthJuve-Inova - with a national scope and a long-term vision.

For this reason, an “ideas show” is taking place in 20 different zones around the country, which consists of holding discus sions with local authorities, the academic community and people with agribusi ness experience on growth , sustainabi lity and investment opportunities, in or der to generate development and new productive jobs locally. This “ideas show” that will last until the end of Septem ber will cover about 2000 young people with the potential to be entrepreneurs. It is in this way that Gapi is structuring a new program Innovative Youth – Ju ve-Inova – with a national scope and a

NOVOS JOVENS PATRÕES

NO ÂMBITO DO AGRO-JOVEM, A GAPI E OS SEUS PARCEIROS DE IMPLEMENTAÇÃO, JÁ LANÇARAM NO MERCADO 90 NOVAS PEQUENAS EMPRESAS DETIDAS POR CERCA DE 100 JOVENS

NEW YOUNG BOSSES

IN THE SCOPE OF “AGRO-JOVEM” PROGRAM, GAPI AND ITS 20 PARTNERS HAVE ALREADY LAUNCHED 90 NEW SMALL BUSINESSES OWNED BY AROUND 100 YOUNG TECHNICIANS

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preender. O programa irá incorporar o que, de melhor, foi apreendido nestas iniciativas e o grande potencial identifi cado na juventude nacional. A Gapi con sidera que, “para os parceiros e inves tidores, este programa é de interesse estratégico” no esforço conjunto para a criação de uma nova classe empresarial. “Através da nossa experiência dos últi mos dez anos, durante os quais a Gapi se dedicou a programas específicos para jovens, constatámos que há que ultra passar a visão de projectos localizados. É necessária uma visão de longo-prazo”, disse o PCE da Gapi, António Souto, na ses são de renovação dos contractos de par ceria com instituições de todo o País.

Com vista a enriquecer a metodologia e procedimentos, a Gapi promoveu uma sessão de reflexão, em meados de Agos to, que identificou as linhas de desenvol vimento de uma rede de competências comprovadas para que se possa identi ficar e prestar assistência técnica a jo vens que revelem capacidades e empe nho na criação dos seus negócios.

long-term vision. The program will in corporate what was best captured in these initiatives and the great potential for commitment and creativity that has been identified in the national youth. Gapi considers that “for partners and in vestors, this program has a strategic in terest” in the joint effort to create a new business class of entrepreneurs. “Throughout our experience of the last ten years, during which Gapi has been dedicated to specific programs for a youngest generation, we have realized that it is crucial to go beyond the vision of centralized projects. A long-term vision is needed” said Gapi’s CEO António Souto at the renewal of partnership agreements. In order to enrich the methodology and operational procedures of this program, 28 organizations from all over the coun try participated in a reflection session held by Gapi in mid-August. The deba te identified the development lines of a network of proven skills partnerships, which should identify, and provide tech nical assistance to young entrepeneurs.

JUVE INOVA PASSO A PASSO

1 Com o “show de ideias” que começou a 28 de Agosto em Unango, Niassa, a Gapi deu início à operacionalização da plataforma nacional para a implementação de um programa que prepare a juventude para contribuir para um desenvolvimento sustentável e inclusivo.

2 Na implementação desta iniciativa estão envolvidas as 28 instituições de ensino e empresas que, a nível nacional, já têm parcerias com a Gapi.

3 No decurso deste “show de ideias” e de outras iniciativas em preparação, como o “Future Agro Challenge” previsto para finais de Outubro, a Gapi espera alargar a rede de participantes.

4 A Gapi está a analisar com os seus parceiros o contributo que se espera de cada um para melhor promover a inclusão de jovens empreendedores e facilitar a sua ligação com várias instituições e especialistas. Prevê-se que no primeiro trimestre de 2019 a plataforma de parceiros apresente um programa de actividades detalhado com uma visão de longo prazo

5 Serão criados instrumentos financeiros específicos para cada tipo de projecto tendo em conta objectivos de sustentabilidade. A Gapi vai usar a sua rede logística a nível nacional para alargar o raio de actuação com os seus parceiros sobre crescimento e sustentabilidade de negócios.

1 With the “ideas show” launched on 28th August in Unango, Niassa province, Gapi started the operationalization of the national platform for the implementation of a program that prepares youth to contribute to sustainable and inclusive development.

2 In the implementation of this initiative are involved the 28 educational institutions and companies that already have partnerships with Gapi at national level.

3 During this “ideas show” and other initiatives in preparation, such as the “Future Agro Challenge” scheduled for the end of October, Gapi hopes to broaden the network of participants.

4 Gapi is analyzing with its partners the contribution that is expected from each to better promote the inclusion of young entrepreneurs and facilitate their link with various institutions and specialists. It is expected that in the first quarter of 2019 the partner’s network will present a detailed program of activities with a long-term vision

5 Specific financial instruments will be created for each type of project considering the sustainability and impact objectives. Gapi will use its logistics network at national level to help broaden the scope of action with its partners.

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JUVE-INOVA STEP BY STEP

COMO A ESTATÍSTICA ESTÁ A (DES)AJUDAR O MERCADO

Falta de rigor, informação contraditória até entre documentos oficiais e dados frequentemente desactualizados. Aos olhos dos pesquisadores, a qualidade, ou a falta dela, de muitos dos dados estatísticos que são apresentados, distorcem a realidade do país e comprometem, muitas vezes, o desempenho dos mercados a vários níveis

vale a pena começar por uma lógica há muito comprovada: Decisões acerta das de política, na economia, na própria política e na sociedade, têm como con dição necessária a interpretação pre cisa da realidade dos países ou regiões. Mas isso requer disponibilidade e fiabi lidade dos números (estatísticos) que re tratam as diferentes realidades de um país, o que aparentemente não está a acontecer, ou não é satisfatório em Mo çambique, onde não faltam exemplos de estatísticas que, não raras vezes, desinformam mais do que esclarecem. Vamos a alguns exemplos: os últimos da

ÓNIOFRANCISCO,

A N T

IESE

“O que dará credibilidade a estes dados? O mesmo acontece com as estatísticas de emprego. Não há base de dados e às vezes vemos números e estimativas que nos deixam mais dúvidas que certezas”

dos sobre o número de deficientes físicos em Moçambique são de 2007 e aponta vam para cerca de 475 mil. São núme ros publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) – Órgão Reitor e Executi vo Central do Sistema ao qual compete a produção e validação das estatísticas oficiais. Em 2010, uma reportagem da rfi (Radio France Internacional), que cita “nú meros oficiais do país”, apontava para 300 mil deficientes, o que sugeria a redução de 175 mil portadores de deficiência em relação aos dados oficiais de 2007. Já em 2015, uma reportagem da Voz da Amé rica, sem citar qualquer fonte, indicava

MERCADO E FINANÇAS Setembro 2018 44

cerca de 500 mil portadores de defi ciência em Moçambique. Para quem lê, o mais certo é que os números de 2007 ainda não foram actualizados pelo INE e são os que valem até hoje, 11 anos depois, daí que os que foram publicados depois cheguem para gerar dúvidas sobre a sua fiabilidade, podendo dificultar, por exemplo, o esclarecimento de políticas de acesso a emprego ou de salvaguarda social de um grupo que deveria ser pro tegido. Mas, é apenas um exemplo. Outro, tem a ver com o parque automóvel em Moçambique. Fala-se que existem cer ca de 500 mil viaturas em Moçambique. Só que, esse número provém de há cinco anos e é oriundo de um estudo levado a cabo pela associação de importadores de automóveis. Assim, e com a natural evo lução social e económica, será de conside rar a possibilidade de o número real de viaturas ser muito superior nesta altura.

Dúvidas estatísticas Também há margem para dúvidas em coi sas tão simples como a percentagem da po pulação com acesso a água potável, ener gia eléctrica e até ao Censo do ano passado, e « sobre os números totais da população. Relativamente ao acesso à água, a in formação da UNICEF publicada em 2014, revela que a cobertura era, à época, de 49% da população. Quatro anos depois, os artigos informativos ainda utilizam este indicador, dando a entender dois aspec tos que geram confusão: que o número está desactualizado ou que a expansão da cobertura de água potável permaneceu estacionária ao longo dos quatro anos. Já em relação ao acesso à rede eléctrica, em Maio de 2015 o Centro de Integridade Pública (CIP), uma das mais importantes organizações moçambicanas da socieda de civil, publicava um relatório em que denunciava divergências: é que enquan to o INE avançava que havia 26% dos mo çambicanos com acesso à electricidade em 2014, o Plano Quinquenal do Governo 2015-2019 indicava uma taxa de cobertu ra de 45%, uma diferença significativa, que distorce completamente a análise (e porventura os investimentos) do país neste domínio. Além da contradição, este dado também não foi actualizado ainda. À semelhança destas há vários outras contradições dignas de realce e que constam de documentos oficiais: um dos mais comuns, é o da superfície de Mo çambique (799,3 mil quilómetros qua drados, ou 801,5), ou da faixa litoral, que em inúmeros documentos oficiais vai dos 2 515 quilómetros, aos 2800, noutros.

70%

A DIMENSÃO DO SECTOR INFORMAL EM MOÇAMBIQUE. OU SERÃO 75% OU 67%. TAMBÉM AO NÍVEL DO PIB PER CAPITA OS NÚMEROS VARIAM ENTRE OS 382 DÓLARES E OS 480 POR HABITANTE. PORQUE NÃO SE SABENDO O NÚMERO DE HABITANTES NEM TENDO DADOS CONCRETOS SOBRE O TOTAL DA RIQUEZA NACIONAL, É IMPOSSÍVEL SER CONCRETO A ESTE RESPEITO. O QUE AJUDA A PERCEBER O PORQUÊ DE TANTA INIQUIDADE NOS NÚMEROS

Claro que, economicamente, a situação é similar. E essa disparidade torna-se evidente, em relatórios e documentos oficiais sobre emprego, crescimento eco nómico, ou industrialização, emitidos por entidades como o Banco de Moçambique, o FMI ou o Banco Mundial. Já lá vamos.

Insatisfação unânime

A E&M foi em busca da percepção de dife rentes instituições de pesquisa em assun tos económicos, políticos e sociais, sobre a qualidade e quantidade de informação que há no mercado e que possibilita o seu trabalho. Ao contrário de muitos dados estatísticos, a insatisfação é unânime. O economista António Francisco, pesqui sador do Instituto de Estados Sociais e Económicos (IESE), diz enfrentar “enor mes dificuldades” em obter verdades nos estudos que faz, a partir das estatís ticas publicadas oficialmente. E dá alguns exemplos como o do sector do caju, onde os relatórios do Governo dizem que cada árvore já alcança uma capacidade de produção de oito quilos por ano. Depois de uma busca no terreno, o pesquisador constatou que não passam de três qui los por árvore. “O que dará credibilida de a estes dados?”, questiona. E o mesmo acontece com as estatísticas de emprego.

“Não há base de dados e às vezes ouvi mos as autoridades dizer-nos números cujas estimativas nos deixam uma série de dúvidas”, queixa-se o economista, para quem “do ponto de vista de utilizador, so mos todos também enganados.”

João Feijó, pesquisador do Observatório do Meio Rural (OMR), constatou que no inquérito ao orçamento das famílias, por exemplo, aquilo que as famílias declara ram ter consumido em produtos alimen tares, era inferior ao que era necessário comer para terem sobrevivido. “Então, como é que a pessoa está viva?”, questio na. “Tiveram de colocar ponderadores que estimam o que as pessoas teriam consumido o que acaba por ser uma fuga à realidade”, conclui. O pesquisador lem bra também que, ao realizar um traba lho sobre chineses em Moçambique, teve dificuldades em saber quantos residem no país porque os dados não estavam sistematizados. “Este facto dá a entender que o Estado não tem controlo sobre o nú mero de estrangeiros que vivem no país, mas estranhamente, às vezes aparecem estimativas que não se sabe em que é que se baseiam”, lamenta. Depois, mesmo alguns grandes temas, como o da dívida pública, e que são de batidos um pouco por toda a parte, vêem a sua discussão por vezes enviezada, devido à sua aparentemente fraca fia bilidade, O CIP junta-se a estas institui ções e adiciona um exemplo: “aceder a informação sobre o estágio ou evolução da dívida pública tem sido difícil. A úl tima informação disponível foi publica da na página electrónica do Ministério das Finanças e é referente ao primeiro trimestre de 2017”, assinala-se. Segun do a pesquisadora Celeste Banze, “mes mo nesse documento desactualizado, a informação não é completa, pois não apresenta indicadores que possibilitem aferir da evolução da insustentabilida de, montantes por credor nem a própria identificação dos credores”, revela.

Os números não mentem?

Moçambique é apenas um dos exem plos de países onde a pouca acui dade dos dados estatísticos é uma preocupação importante. O problema en contra raízes profundas por toda a África. Por aqui, os números são frequentemente considerados errados e tendenciosos, fac to que suscita, de há muito, preocupação na comunidade internacional.

O Gana, país da África Ocidental, teve de ser reclassificado em 2011 como um país de rendimento médio, em vez de economia

Setembro 2018 45

Q&A: O PAPEL DO INE

Qual é o sistema?

Existem duas grandes fórmulas de organização dos sistemas estatísticos instituídos no mundo: uma em que há uma entidade responsável por todas as estatísticas oficiais e outra que é mais aberta, admitindo que haja mais de uma entidade com essa tarefa. O sistema moçambicano é misto. Ou seja, o INE é a entidade responsável pela produção de estatísticas oficiais, mas este delega a autoridade para as produzir noutras instituições ou órgãos delegados, dos quais fazem parte alguns ministérios que produzem estatísticas da sua área, como sejam a saúde, educação, ou economia e finanças.

Em Moçambique são no total oito os órgãos delegados. Contactado pela E&M, o INE dá a mão à palmatória em algumas situações que lhe são apontadas e presta esclarecimento em relação a outras. Todos os pontos têm resposta do INE, na voz do director-nacional, Cirilo Tembe.

Porque falta qualidade?

Estamos abertos a críticas, mas há algumas verdades que é preciso dizer: não há, no país, nenhuma instituição que produza estatísticas com melhor representatividade que o INE”. Isto é um facto. No entanto, há instituições que produzem números que colocam em causa a informação que é produzida pelo

sistema estatístico nacional. Em África, Moçambique está numa posição acima da mediana, e já até já foi apontado como um ‘bom exemplo’ a seguir.

Porque atrasam os resultados?

Muitas vezes não percebemos isso e procuram obter-se informações de ‘ontem para hoje’. Não se pode ter a informação do balanço de um ano económico em Janeiro, porque só termina em Abril, ao que se segue a recolha dos relatórios das empresas e só em Agosto é possível ter resultados. A divulgação dos resultados definitivos do senso de Agosto de 2017 ainda não aconteceu devido à complexidade do processo.

Há viciação de dados?

Independência e imparcialidade são os princípios instituídos pelas Nações Unidas que guiam o INE, no sentido de que não receba ordens do Governo para fazer ou não fazer o que quer que seja. A produção de estatísticas é muito cara e o desafio que se coloca é fazer com que a recolha de dados seja abrangente, para ajudar a chegar a resultados mais realísticos. o grande problema aqui é que há muitas entidades que produzem estatísticas, e há que questionar até que ponto as conclusões das pesquisas que fazem põem em perigo a realidade.

pobre, após ter sido descoberto que o governo e as agências internacionais ti nham, durante anos, subestimado o ren dimento médio em mais de 60%. Por via disso, o país continuou a beneficiar de certos empréstimos do Banco Mundial para os quais já não estava efectivamen te qualificado.

Por este e outros casos, Morten Jerven, pesquisador do Banco Mundial, descre veu a situação do continente como “uma tragédia estatística”. O economista refere mesmo que “muitos dos dados que circu lam em documentos oficiais, avaliações e nos media estão errados, e o fundamento deste argumento é que “muitas activida des económicas (em África) não são regis tadas. Por isso, os números e estatísticas produzidas e reproduzidas através das Nações Unidas, do Banco Mundial, não são factuais, mas simples estimativas com uma margem de erro considerável”. Mas, a iniquidade dos valores das esta tísticas, tem reflexo também, num outro factor: a comunicação social, e a qualida de da informação que ela deve prestar.

A desconfiança “Quanto mais áreas cinzentas existirem nos números, maior a possibilidade de existência da corrupção”. A frase é de Morten Jerven, do Banco Mundial, profes sor universitário no Canadá. Esta é uma percepção que encaixa no pensamento dos pesquisadores que falaram à E&M, a propósito da qualidade das estatísticas nacionais. Há desconfiança de manipu lação de dados para ocasionar fraudes e salvaguardar objectivos pouco claros, dependendo da área de estudo. “Porque é que ainda não são públicos os resultados definitivos do senso populacional de 2017? Prometeram divulgar a 31 de Julho e ain da não o fizeram. Aí perguntamo-nos se não serão manobras para evitar cruzar os dados com os das eleições autárquicas do próximo mês. Isso dá a entender que podem haver interesses ocultos, e isso não é positivo”, questiona António Francisco. “O último orçamento das famílias não saiu na altura em que deveria sair e desconfia-se que, por parte do Gover no, tenha havido manipulação, porque teve de ser divulgada mediante a au torização pelo Conselho de Ministros, o que mostra que a informação estatís tica está fortemente politizada”, apon ta João Feijó. Mas, há outros exemplos: “quando se faz a confrontação do que as empresas extractivas declaram ter pago ao Governo em impostos e o que o Governo refere ter recebido, existem

MERCADO
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E FINANÇAS
Sede do INE, Maputo: Instituto quer condições para fazer um trabalho melhor

Quando os números que remetem a factos sobre o país são mal produzidos, divulgados tardiamente ou manipulados, então não conhecemos o país real em que vivemos e tão pouco poderemos ou saberemos, projectar o caminho do desenvolvimento

divergências. Tudo isto significa que o exercício de prestação de contas está a fa lhar e não se sabe quanto é que o país efec tivamente arrecada com alguns desses projectos”, lamenta Celeste Banze do CPI.

Pobreza também condiciona É verdade que o país e as suas institui ções, têm de promover uma cultura de organização que permita a produção de estatísticas de qualidade e em quantidade que vão ao encontro das expectativas dos utilizadores. Mas não é menos verdade, que um país com poucos recursos como Moçambique tem maiores dificuldades fazê-lo. Isso é consensual. “Se o país for po bre, as estatísticas revelam uma forma de tratamento igualmente pobre porque para produzir informação estatística as pessoas têm de se deslocar, são precisos meios adequados para recolher e tratar dados, além de um fórum apropriado para sintetizar e divulgar a informação”, explica Romano Manhique, da Autoridade

Tributária. Uma posição que é partilhada pelo pesquisador do OMR, João Feijó: “as di ficuldades dos pesquisadores são dificul dades do próprio país, porque uma insti tuição não está isolada da sociedade”. Depois, há também questões culturais. Muitos estudos revelam-se contraditó rios porque há indicadores, sobretudo os que dizem respeito ao bem-estar das pessoas, como os rendimentos ou o consu mo, que elas optam por não fornecer de acordo com a realidade. Depois, é quase impossível medir os salários porque há rendimentos que se conseguem informal mente e que os inquéritos não captam.

Autoridade Tributária, um exemplo a seguir Costuma dizer-se que há coisas a que ninguém escapa: a morte e os impostos. E é assim também em Moçambique.

A AT será hoje, das entidades mais pre paradas ao nivel do conhecimento da sua base contribuinte. De acordo com Romano Manhique, “a AT desenvolveu

um trabalho de 10 anos, educando os seus quadros para tratar números e li dar com estatísticas. Depois, temos um sistema informatizado que nos permite desenvolver um trabalho consertado.”

A AT investiu, nos últimos anos, no trata mento de dados, através de meios infor máticos. Hoje, é possível obter dados de qualquer ponto do país em tempo real, porque existem meios tecnológicos e to das as condições que permitem a har monização e padronização da organiza ção da informação, algo impensável há poucos anos. E são as estruturas da AT, segundo Romano Manhique, a “definir a estatística como prioridade, porque um gestor sem números não funciona.”

A resposta tecnológica é, no entanto cara, e demorará tempo a ser universal. Mas, há algumas mudanças a acontecer nesse sentido, especialmente desde a questão das dívidas ocultas, que fez com que alguns doadores externos queiram ter acesso a informação detalhada sobre as contas públicas, e a dívida soberana. Também para quem está fora e quer in vestir no país, saber em que realidade o pode fazer, é fundamental.

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Contas difíceis: a pouca fiabilidade dos números é um dos problemas da economia nacional TEXTO CELSO CHAMBISSO FOTOGRAFIA JAY GARRIDO
EMPRESAS Setembro 2018 48

TECNOLOGIA EM (PROL DO) DESENVOLVIMENTO

A MozDevz é uma empresa dos novos tempos. Focada nas TIC, agrega jovens developers de software em programas de formação e eventos de programação, promovendo a sua aplicação nos problemas da sociedade

conectividade. Um conceito do século XXI adaptado às necessidades do presente. Será esse o objectivo da MozDevz, uma organização sem fins lucrativos com a missão social de ampliar e maximizar o impacto das TIC na sociedade, criada em 2013, procurando promover “a conectivi dade entre estudantes, profissionais e en tusiastas da área das TIC, o sector corpora tivo e as organizações da sociedade civil. “Utilizar ferramentas tecnológicas para desenvolver o país, através do empode ramento, do espírito de trabalho e par tilha de conhecimento, tornando Mo çambique uma referência regional.” É assim que se resume a MozDevz. Inicialmente composta por 15 membros, foi criada em 2013 com uma missão social de “ampliar e maximizar o impacto das TIC sobre a vida daqueles que mais ne cessitam”, explica Abnéusia Manuel, di rectora-geral da empresa. “Tudo acon teceu graças a um grupo de jovens que sentiu a necessidade de ultrapassar uma lacuna ao nível da interacção entre os muitos desenvolvedores de softwa re e o seu posterior enquadramento no mercado”, frisou.

Para a gestora, o objectivo da plataforma passa, desta forma, por “criar um conjun to de eventos e acções que possam con gregar os actores de várias áreas de co nhecimento que estavam dispersos. Há muitos jovens talentosos com enorme po tencial e queremos explorar ao máximo esse recurso ajudando-os a trabalhar em equipa, com objectivos definidos.”

Cinco anos depois, o grupo cresceu, con tando actualmente com 800 membros. Se diada na capital do país, a MozDevs tem vários programas em curso: a School, com o propósito de criar oportunidades de formação, capacitação e networking informal entre estudantes de diferen

tes áreas, direccionado a estudantes das áreas TIC; e o MozDevz Go, um programa de intercâmbio com comunidades de de senvolvimento de todo o mundo. Depois, promove sessões de formação e maratonas de programação (‘hacka thons’, tendo como parceira a Vodacom). “Tentamos preparar os nossos membros para as dificuldades do mercado de tra balho porque as universidades têm di ficuldade em acompanhar a mudança constante neste segmento.” Será esse o factor diferenciador da comunidade, na opinião da gestora. “Enquanto outras pla taformas tecnológicas se preocupam em trazer soluções de problemas específicos, nós vamos um pouco mais além nessa questão, e procuramos envolver e desen volver capacidades, para que se pos sam tornar activas na promoção e inte gração local e global através do uso das tecnologias.”

As novas oportunidades geradas pelo mundo digital, ainda não são suficiente mente aproveitadas, num país com al guns obstáculos ao pleno desenvolvimen to deste segmento de mercado, mas o que se nota, em projectos como este e al guns outros bastante mais adiantados na sua estrutura e abordagem ao mercado (como a UX ou a IzzyShop), é que há novas ideias a surgir, e muita procura a quem servir. “De facto, no primeiro evento que organizámos, tivémos apenas duas pes soas. No último, há algumas semanas, conseguimos juntar mais de 200”, revela Abnéusia. “Espero que Moçambique não seja só consumidor de tecnologia, mas também que seja um pólo de soluções para as grandes questões da sociedade.”

BEMPRESA MOZDEVZ FUNDAÇÃO 2013 MEMBROS 800

Developers

A empresa tem vindo a aumentar o número de membros e programadores.

PARCERIAS

4

Empresas

Estabeleceu recentemente uma parceria com a Vodacom para a promoção de ‘hackathons’ (maratonas de programação). Tem ainda como parceiros o Standard Bank, o Banco Mundial e o Conselho Municipal da Cidade de Maputo.

desenvolvereempoderar

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TEXTO HERMENEGILDO LANGA FOTOGRAFIA JAY GARRIDO

CLIENTES M-PESA PASSAM A TER ACESSO À REDE ‘POS’ DO BCI

Partilhar plataformas tecnológi cas que permitam a interacção entre as contas à ordem do BCI e as contas M-pesa, da Vodacom, é o objectivo anunciado da par ceria criada entre ambas as ins tituições. Assim, os usuários da conta M-pesa passam a ter acei tação de pagamentos via POS do banco BCI. A iniciativa faz do banco “a primeira instituição fi nanceira a nível nacional e mun dial, a facilitar o acesso, na sua rede de POS, ao grupo de clien tes de um operador de cartei ra móvel para que estes possam efectuar os seus pagamentos e transferências“.

A ratificação do acordo, foi assi nada pelo presidente da Comis são Executiva do BCI, Paulo Sou sa e pelo director-geral da Voda fone M-pesa, Gulamo Nabi.

HEINEKEN LANÇA NOVA VERSÃO DE CERVEJA SEM ÁLCOOL

Promover o consumo de cerveja com uma versão ‘zero-álcool‘ e menos calorias, mas que, se gundo a cervejeira, “não foge ao sabor da original”, foi o objecti vo do lançamento de uma série de filmes da cerveja holandesa Heineken. Designada “Heineken 0.0”, esta nova campanha pre tende mostrar de uma forma di vertida como é possível consu mir cerveja em reuniões, trei nos no ginásio ou até em plena condução. A Heineken vai inau gurar uma fábrica própria, em Moçambique, em 2018.

VALE INVESTE 6,5

EM RESPONSABILIDADE SOCIAL

MILHÕES

CHIVAS REGAL TORNA-SE NOVO PARCEIRO DO MANCHESTER UNITED

“Permitir uma ligação entre a ri queza da combinação de whiskies e o trabalho de uma grande equi pa de futebol.” É este o resumo da parceria assinada pela Chi vas Regal e o Manchester United. O acordo prevê a disponibiliza ção de todos os whiskies da mar ca Chivas nos camarotes do Es tádio Old Trafford por um perío do de três anos, tornando-se as sim o novo parceiro global de be bidas espirituosas do clube de Mourinho. Para Jean-Christo phe Coutures, presidente e dire tor-executivo da Chivas Brothers, a parceria “é um ajuste natural entre duas grandes equipas ven cedoras”.

Em Moçambique, a Chivas é re presentada pela Pernod-Ricard Moçambique, uma das maiores produtoras e distribuidoras de bebidas alcoólicas no mundo.

a mineradora vale anunciou o investimento de 6,5 mi lhões de dólares em projectos sociais em Moçambique até ao final deste ano, anunciando que pretende “beneficiar” mais de 16 mil pessoas no distrito de Moatize, na província de Tete onde opera na extracção de carvão. Ali, emprega mais de 11 mil tra balhadores dos quais 93% são oriundos ca comunidade local, enquanto o restante é força de trabalho estrangeira expatriada. “Continuamos com um forte compromisso com o componen te social. Actualmente, temos pelo menos 138 fornecedores de produtos que são locais, equivalentes a 90% do total de for necedores. E o nosso objectivo é ampliar essa base” assinala a porta-voz da empresa, Delmira Petersburgo, acrescentando que a Vale “já investiu mais de 2 milhões de dólares na cons trução de novas infra-estruturas em Moatize e Nampula. Cons truímos três salas de aula pré-formadas, reabilitámos o Centro de Saúde de Nacala-a-Velha e vários equipamentos hospitala res”, complementou.

Em Moatize, o projecto da Vale envolve ainda um programa de diminuição do impacto ambiental da operação, através de uma acção de reflorestação nas zonas comunitárias.

Acredita-se que a província de Tete tenha cerca de 2,4 milhões de toneladas de reservas de carvão, sendo um dos maiores de pósitos inexplorados do hemisfério sul.

BARCLAYS BANK DISTINGUIDO PELA EFICIÊNCIA NO USO DE CARTÕES DE DÉBITO

A distinção ao banco liderado pela ex-primeira ministra Luísa Diogo (e por Rui Barros, administrador delegado), foi anuncia da no âmbito dos prémios VISA Awards 2018.

A Vale é uma multinacional brasileira da área da extracção mineira. É a maior produtora mundial de minério de ferro, e emprega 110 mil trabalhadores em todo o mundo. Em Moçambique desde 2004, produziu 11 milhões de toneladas de carvão em 2017.

Assim, a entidade bancária foi galardoada com o “Premium Award” e o “Business School Award”, em resultado da sua demonstração eficiente na utilização dos seus cartões de débito, e pela massificação e capacitação contínua dos colaboradores dos seus quadros.

MEGAFONE Setembro 2018 50
Com o aumento da produção a bater recordes, mineradora quer retribuir às comunidades

AMECON QUER SER O LUGAR DOS ECONOMISTAS E GESTORES

a cumprir os primeiros meses à frente da Associação Mo çambicana de Economistas (AMECON), António Manheira Tivane espera que, dentro de alguns anos, ela se tor ne numa Ordem como a dos médicos ou a dos advogados, e que “possa então actuar de forma dinâmica e efectiva mente capaz de intervir de forma positiva e com impacto evidente na economia.”

O professor e gestor, explica à E&M as linhas mestras do seu projecto.

Como é que planeia aumen tar o peso da AMECON na economia nacional?

De facto essa é a questão ful cral, aqui. A nossa filosofia pa ra a associação será basea da em três pilares: revita lizar, consolidar e projectar. Não queremos aparecer a fa zer críticas ou a debater as suntos já consumados. Somos uma organização de econo mistas e gestores e assumimos que queremos estar cada vez mais envolvidos antecipada mente na discussão das deci sões, sobretudo as de natureza económica que são, como sabe mos, essenciais para o país.

Poderemos então passar a olhar a associação enquanto um fórum activo de dis

cv

curriculum vitae

António Tivane tem uma carreira ligada à economia e à gestão no sector público. Professor de carreira, está ligado ao INSS há já largos anos. Foi eleito como líder da AMECON (57% dos votos) em Abril deste ano, para um mandato de dois anos.

AMECON

cussão e debate, quase como um ‘think tank’ dos vectores de sustentabilidade e cres cimento económico, que con gregue as maiores figuras nacionais deste meio?

Essa é, sem dúvida, a nossa in tenção. Nesta altura, com pou co mais de um trimestre cum prido, e com um mandato de dois anos pela frente, ainda nos estamos a estruturar. Mas o foco é esse, queremos estar presentes nas grandes ques tões, e muitas vezes lideran do até esse mesmo debate.

Estamos a trabalhar na cria ção de um departamento de pesquisa e investigação que terá sete núcleos espalha dos por todo o país e que se vão especializar em diferen tes matérias de economia, no meadamente micro-econo mia, macro-economia, econo mia sectorial, economia mo netária e fiscal. E claro, terão também a missão de angariar associados para a AMECON. Depois, iremos cada vez mais promover reuniões, debates, conferências em todo o terri tório nacional (a primeira rea lizou-se em Agosto, sobre a im portância do mercado de ca pitais para a economia na cional), convocando nomes de Moçambique, mas também de outras geografias, que ve nham trazer factos e dados de análise aos nossos associados, bem como diferentes pers pectivas. O papel da AMECON também tem de ser esse, um espaço de excelência da troca de ideias, e de aprendizagens.

O seu plano também preconi za o aumento de associados. Como o irá conseguir? Tenho de dizer que o meu antecessor (Joaquim Tobias Dai) fez um óptimo trabalho à frente da AMECON. Sabemos que, por ainda não ter o peso institucional que poderia ter

se fosse uma Ordem como a dos médicos ou a dos advoga dos, a adesão por parte dos economistas e gestores não é a que poderia, ou deveria ser. O que nos dá um maior senso de responsabilidade. A asso ciação precisa de uma nova vida e, nesse sentido, juntan do aos passos de que lhe falei, acrescento ainda que esta mos a tentar chegar cada vez mais aos nossos associados, mostrando-lhes as vantagens de pertencerem à AMECON.

E enquanto representante dos economistas e gestores, como olha o país actual mente, sob o ponto de vista económico?

Há grandes desafios, isso é evidente. Mas, ao mesmo tem po, creio que nunca houve tan tas metas para serem alcan çadas, da indústria à agricul tura, passando pelo enqua dramento das empresas na cionais nos grandes projectos. Creio que esta é a altura ideal para uma série de debates, de análises e de acções baseadas nesse conhecimento que po derão mudar a face do nosso país. E nós queremos ter um papel nessa mudança.

FIGURA DO MÊS Setembro 2018 52
FOTOGRAFIA JAY
TEXTO PEDRO CATIVELOS
GARRIDO

MÁXIMA DE GESTÃO

António Tivane quer aproximar economistas e gestores dos grandes debates da economia nacional

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SOCIEDADE Setembro 2018 54

“NÓMADAS DIGITAIS” CHEGAM A ÁFRICA

Um novo conceito que miscigena viagens e trabalho, em que o escritório passa a ser um qualquer lugar exótico num destino inesperado. Eles são de todo o lado e estão por todo o lado. Até aqui mesmo, em Moçambique

o projecto wisinomad, que arrancou no final do ano passado, e que embora baseado, para já, no continente afri cano, é constituído por uma equipa de proveniências muito diversas (Zim babwe, Botswana, Holanda, Portugal, Peru e Dinamarca), é um excelente exemplo de um tipo de iniciativas que, ao longo dos últimos anos, se tem mul tiplicado a nível global e que pretende responder a uma nova comunidade, também ela cada vez mais globaliza da: a dos chamados “nómadas digitais”. Mas quem são estes “nómadas digitais”? De uma forma sintética e simplificada, o “nómada digital” é todo aquele que aproveita o potencial da tecnologia hoje disponível, nomeadamente da internet, para realizar as suas tarefas profissio nais de maneira remota, não depen dendo de uma base fixa para trabalhar. Ou seja, é alguém que dependendo ex clusivamente da internet para poder trabalhar, opta por fazê-lo a partir de qualquer ponto do mundo. A emergência dos “nómadas digitais” re sulta de um conjunto variado de factores.

Se é certo que a internet (e o modelo de “sociedade em rede”, para usar a ex pressão que o sociólogo Manuel Castells consagrou) é um deles, outros factores decorrem sobretudo das mudanças mais profundas desencadeadas pela “econo mia do conhecimento”, que caracteriza a 4ª Revolução Industrial, e as alterações que ela tem induzido no “mundo do tra balho” (e nos seus modelos tradicionais de funcionamento).

Novas profissões, novas realidades Reconhecendo este novo contexto, isto é, a existência de um número cada vez maior de indivíduos que, podendo tra balhar remotamente a partir de qual quer ponto do mundo (desde que exista uma boa ligação à internet), optaram por transformar essa possibilidade num “estilo de vida”, viajando inces santemente enquanto, em simultâneo, continuam a desempenhar as suas ta refas profissionais, a Wisinomad, como muitas outras organizações seme lhantes, desenvolveu programas que pretendem servir esta “comunidade”.

Assim, ela oferece aos “nómadas digitais” espaços de hospedagem (que podem ir de quartos simples a “suites”), espaços de cowork com internet de alta velocidade, zonas de lazer (ginásio, bar, etc.) e uma série de programas específicos que po dem ir desde “tours” com uma vocação essencialmente turística até visitas a start-ups tecnológicas com o propósito de desenvolver acções de networking (para dar apenas um exemplo).

Para além disso, a Wisinomad organiza também diferentes tipos de eventos que têm como objectivo pôr as comunidades locais a interagir como estes “nóma das” globais. Tendo começado a operar apenas no final do ano passado, já tem espaços no Quénia, Botswana e Ruanda. Mas o crescimento exponencial dos “nó madas digitais”, em anos recentes, le vou também a um verdadeiro boom no segmento mais específico dos espaços de coworking no continente africano. Muitos destes, começaram por surgir, inicialmente, como estruturas de apoio a empreendedores locais, freelancers e, em especial, às comunidades tecnológicas

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(em países como a África do Sul, o Qué nia ou a Nigéria). Mas com uma popula ção de “nómadas digitais” a circular com mais intensidade também por África, novos espaços começaram a emergir. Segundo dados de 2017 da organização Coworking Africa, no espaço de uma dé cada surgiram, no continente africano, 250 novos espaços de coworking, sendo que 80% deles abriram só nos últimos três anos.

O Egipto é actualmente o país com o maior número destas espaços (76), sendo um dos mais recentes (“The District”), no Cairo, frequentemente até citado como um mo delo de excelência a nível internacional. Como seria de esperar, a África do Sul ocupa também um lugar proeminente, com 67 espaços de coworking, sendo que, mais de metade estão em Capetown. Outro mercado onde se tem verificado um surto de novos espaços de coworking é a Nigéria. Só nos últimos meses, novos empreendimentos como o Lagos Cowork, o Redahalia Workspace e o Leadspace abriram portas para concorrer com aquele que, até agora, tinha uma posição dominante, o Co-Creation Hub.

Em Nairobi, no Quénia, o iHub foi apon tado pela revista norte-americana ‘Fast Company’ como “um dos projectos mais inovadores em África”: com um staff permanente de 50 pessoas e 14 mil mem bros, o iHub é já hoje em dia, certamente, um dos mais dinâmicos no continente. Um dos aspectos que importa referir,

SÓ NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS, SURGIRAM 200 NOVOS ESPAÇOS DE COWORK NO CONTINENTE AFRICANO, 80% DO TOTAL REGISTADO NA ÚLTIMA DÉCADA. O EGIPTO E A ÁFRICA DO SUL SÃO OS MERCADOS COM MAIOR NÚMERO DESTES ESPAÇOS, DE ACORDO COM UM ESTUDO DA ORGANIZAÇÃO COWORKING AFRICA

porém, é a variedade de abordagens que permeiam a criação destes coworks. Se é verdade que, em muitos deles, os perfis dos utilizadores se caracterizam sobre tudo pelas suas ligações a start-ups tec nológicas importa, porém, não generali zar. É o caso, do Pawa254, situado também em Nairobi. Localizado num rooftop, com uma vista deslumbrante sobre a cidade, este cowork destina-se, essencialmente a artistas. E não se pense que todos se localizam em grandes centros urbanos.

O SunDesk, abriu as suas portas na pe quena aldeia piscatória de Taghazout (Marrocos) e oferece igualmente aloja mento (até porque as praias circundan tes são excelentes para o surf…).

O mesmo se pode dizer das Ilhas Maurí cias onde, para além de uma boa infra -estrutura em termos de conectividade, e de um ecossistema de empreendedo rismo que tem apostado em criar pontes económicas com a Ásia e a Oceânia, o ambiente natural e paisagistico tem fun cionado como um factor de atractabilida de, fundamental para captar o interesse dos “nómadas digitais”.

Esta é, aliás, uma postura recorrente na região asiática onde espaços de cowork como o Kohub, na Tailândia, situado na paradisiaca ilha de Koh Lanta, procu ram proporcionar aos “nómadas digi tais” um ambiente informal e integra do na Natureza circundante de modo a permitir-lhes uma “experiência total” na qual a “comunidade de viajantes” possa combinar todas as diferentes dimensões da sua estadia (trabalho, lazer, turismo e networking).

O impacto crescente A expansão de espaços de cowork pelo mundo é um indicador que reflecte, em parte, o impacto que os “nómadas digi tais” estão a ter neste nicho específico. Assim, no mais recente Global Coworking Survey, realizado pela Deskmag, as esti mativas apontam para que o número de espaços de coworking chegue, em 2018, aos 19 mil, sendo que muitos dos espaços já existentes estão a planear expandir as suas operações. De sublinhar ainda que o continente africano é apontado por muitos especialistas como aquele em que haverá um crescimento significati vo destes espaços.

Outro dado interessante referido neste Global Coworking Survey é o carácter cada vez mais diversificado desta oferta. Assim, especialmente nos países mais de senvolvidos, os coworks tendem a assu mir-se, progressivamente, como espaços

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Second Home, Lisboa: Um caso de sucesso de expansão de um conceito mais abrangente de cowork
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multifuncionais cujas propostas vão mui to além do tipo de serviços e actividades que, de início, os caracterizavam. Para citar apenas um exemplo, veja-se o caso do “Second Home”. Depois do sucesso obti do com a sua abertura em Londres, o “Se cond Home” abriu um novo espaço em Lisboa (talvez a cidade mais dinâmica e procurada na Europa neste momento). Ocupando 1300 metros quadrados, o “Se cond Home” de Lisboa “é um espaço aber to, com mais de 1 000 plantas e árvores, com candeeiros e cadeiras de escritório diferentes, biblioteca, café e bar, salas de reuniões privadas, uma zona de bem -estar com sessões de meditação, ioga ou pilates, possuindo também uma área cultural para sessões de cinema, música ao vivo ou palestras”. Mas os “nómadas digitais” estão tam bém a obrigar a indústria do turismo a encontrar modalidades inovadoras que permitam responder a estes novos “via jantes”, cuja lógica escapa aos “formatos” tradicionais. O aparecimento de agências de viagens, como, por exemplo, a “Remo te Trip”, concebidas para servir especifi camente este “nicho” de mercado são um bom indicador das mudanças em curso.

A “Remote Trip” oferece não apenas “pa cotes” de viagem (de 3 e 6 meses) orien tados para as necessidades mais comuns dos “nómadas digitais” - o que significa identificar as condições logísticas apro priadas (níveis de conectividade da in ternet, tipos de espaços de cowork exis tentes, possibilidades de networking, etc.) – como criou um “Remote Trip Star ter Kit” para aqueles “nómadas” que pos sam pretender estadias mais prolonga das e queiram mesmo estabelecer-se no local de destino por periodos de duração indefinida. Este “Remote Trip Starter Kit” inclui, assim, todo o tipo de infor mações úteis que ajudem a integração. À semelhança da “Remote Trip”, várias outras agências especializadas, como a Roam, a Hacker Paradise, a WiFi Tri be ou a Remote Year, para citar apenas algumas, oferecem hoje todo o tipo de programas de viagens. E surgiram, en tretanto, inúmeras organizações cujo ob jectivo principal é dar apoio e fornecer informação actualizada aos “nómadas digitais”. Da pioneira “Nomad List”, em cujo website, é possível obter todo o tipo de dados, sempre actualizados, sobre dezenas de cidades no mundo inteiro,

até à mais recente “Digital Nomad Re source Page”, passando por fóruns de discussão como o Dynamite Circle, o Lo cation Rebel ou o Nomad Forum, ou ainda conferências internacionais como a DNX Global, existe hoje todo um ecossitema es pecificamente orientado para esta nova “comunidade”.

Se África é o lugar, Moçambique pode vingar? Aqui chegados, a questão que se coloca é, em particular, o facto de o continente africano ser aquele onde se espera um maior investimento no desenvolvimento de iniciativas destinadas a acolher esta “população errante” de “nómadas digi tais”, e até que ponto pode Moçambique disputar um lugar neste novo circuito global. As opiniões recolhidas entre os operadores turísticos e os detentores de espaços de cowork são unânimes em considerar, como seria expectável, que o país possui um enorme potencial, sobre tudo em termos das suas caracteristicas paisagisticas e ambientais, para atraír este novo segmento de mercado. Mas faltam-lhe algumas das condições bási cas e cruciais, nomeadamente, uma co nectividade fiável, cobrindo adequada mente o país e com um preço atractivo. Sem esta condição de base, que é aquela que determina, em primeiro lugar, as escolhas dos “nómadas digitais”, dificil mente poderá Moçambique aspirar a um lugar de relevo. Embora com lacunas há muito identifica das e que afectam, genericamente, o de senvolvimento da indústria do turismo, os operadores sublinham ainda que, no caso dos “nómadas digitais”, as debilida des existentes são ainda mais críticas pois o “nicho” de mercado representado é constituído por uma população que, em bora aspire a um “estilo de vida” informal, não deixa de ser uma população “sofisti cada” com elevados padrões de exigência. Isso implicaria, entre outros aspectos, que as autoridades definissem e im plementassem estratégias específicas (como acontece em Cape Town, referida como um bom exemplo) para captar este novo tipo de “turistas” os quais, embora possam, em termos quantitativos, não ser ainda relevantes o são, certamente, pelas mais-valias que podem represen tar, em especial, em termos reputacio nais pois funcionam, dada a sua vocação global, como “influenciadores de opinião”.

57 Setembro 2018
iHub, Nairobi: um dos mais dinâmicos espaços de cowork em África, é a ‘sede’ temporária de 14 mil empresas
TEXTO RUI TRINDADE FOTOGRAFIA ISTOCK PHOTOS
À semelhança da “Remote Trip”, outras agências especializadas como a Roam, a Hacker Paradise, a WiFi Tribe ou a Remote Year, criaram oferta direccionada a este nicho dos nómadas digitais

Políticas, Investimentos e Instituições: o Caminho para o Sucesso?

o modelo clássico advogado por robert solow (1954), lau reado Prémio Nobel de Economia, explica o crescimento pela acumulação de capital, mostrando que as taxas de crescimen to da renda per capita variam com a intensidade do capital. A evidência empírica comprovou que a acumulação do capital não é o factor preponderante na determinação do crescimento, mas também o crescimento da produtividade. Elhanan Helpman (2004), professor de Harvard, aborda a corre lação entre a evolução da produtividade e as altas taxas de in vestimento na Coreia do Sul, defendendo que o aumento da pro dutividade torna os investimentos mais lucrativos. No entanto, a equação do crescimento fica incompleta se não for colocado em perspectiva que a diferença da evolução da produtividade entre diferentes países e períodos pode estar ligada à educa ção, pesquisa e inovação. Hoje, é comumente aceite que a ciência, tecnologia e inovação revolucionaram a economia, tornando o conhecimento uma fonte de vantagem comparativa entre as empresas e as Nações. Por outro lado, parece evidente que a revolução referida foi possível graças às instituições que propiciaram e induziram as novas descobertas.

Autores como Douglass North (1990) e Daron Acemoglu & James Robinson (2013) postulam que um clima de investimentos em novos e promissores negócios está dependente de instituições que protegem as empresas dos políticos, as firmas pequenas das grandes e os novos investidores de interesses económicos enraízados. Esses autores enfatizam que políticas económicas erráticas são o reflexo de instituições ruins, que não conse guem controlar a inflação, mantendo a taxa de câmbio sobre valorizada, tendo elevados déficits fiscais e dívidas públicas insustentáveis.

Em países com instituições fracas é frequente a sociedade ter reduzido controlo sobre a classe política, o que induz a uma corrida desenfreada, e muitas vezes sem ética, para ga nhar o poder, havendo pouca cooperação entre os diferentes grupos e fertilizando o terreno para a ocorrência de crises.

Nesse contexto, os empresários têm maior aversão ao risco e tendem a escolher investimentos dos quais se podem desfazer mais facilmente, o que contribui para a instabilidade económica. Em muitos países em vias de desenvolvimento, se é verdade que a volatilidade da dívida pública é prejudicada por even tos externos, não é menos factual que também deriva da de sarticulação das políticas económicas, da fragilidade fiscal e da instabilidade política. Portanto, é expectável que um déficit mo desto na balança de pagamentos, o aumento dos fluxos de capi tais e um crescimento moderado da dívida pública promovam o crescimento económico inclusivo e, permitindo o aumento da produtividade, a acumulação de capital e a opção inequívoca pela economia baseada no conhecimento. Paul Krugman (2012) e Jeffrey Sachs (2009) não têm dúvidas que uma dívida pública elevada, e de qualidade duvidosa, é nefasta para o crescimento e desencoraja os investidores. Referem que os investidores receiam que os governos aumen tem os impostos, reduzam os investimentos públicos e que isso resulte numa alocação ineficiente dos recursos, levando à que da da produtividade e à redução do emprego e da renda para as famílias. O que pode redundar num ciclo vicioso, em que a recessão precisa de ser contrariada com políticas económicas activas que resgatem as energias dormentes do sector privado e o seu talento empreendedor. Projectos económicos estruturantes são necessários, tal como micro e meso iniciativas económicas que restabeleçam a con fiança e estimulem o consumo. Criar mais empregos e gerar renda para as famílias são compatíveis e devem estar alinha dos com medidas visando o combate à pobreza e às gritantes disparidades sociais. A transformação estrutural da economia vai depender da convergência de visão e de acções concretas entre os sectores económicos tradicionais e as novas oportu nidades que se abrem com a exploração de recursos naturais como gás natural, carvão, areias pesadas, grafite, ouro, rubis, entre outros. Vai depender, também, de uma melhor ligação económica entre os grandes projectos e as PME´s.

Em muitos países em vias de desenvolvimento, se é verdade que a volatilidade da dívida pública é prejudicada por eventos externos, não é menos factual que também deriva de uma profunda desarticulação das políticas económicas, da fragilidade fiscal e da instabilidade política

OPINIÃO Setembro 2018 58
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique

LÁ FORA

RDC, ONDE O DESENVOLVIMENTO PERMANECE REFÉM DO CONFLITO

Quando faltam pouco mais de três meses para as eleições de Dezembro, a República Democrática do Congo permanece submersa em conflitos políticos, étnicos e regionais desde há décadas. Um verdadeiro imbróglio agravado pelo impasse que se vai arrastando entre o presidente Kabila e as forças da oposição ao regime

com uma área de 2,3 milhões de qui lómetros quadrados, a República De mocrática do Congo (RDC) é um dos países africanos de maior extensão territorial.

Com cerca de 40% da sua população, de 77 milhões de habitantes, a viver em áreas urbanas, segundo o Banco Mundial, dis põe de mais de 80 milhões de hectares de terras aráveis e mais de 1 100 dife rentes tipos de minérios e pedras precio sas, além de um enorme potencial para tornar-se um dos países mais ricos do continente. Mas isso só será uma reali

dade, se conseguir ultrapassar a cróni ca instabilidade política e o caos latente. Ainda não recuperada dos intrincados conflitos que se desencadearam nos anos noventa do século XX, a RDC, com Joseph Kabila no poder desde 2001, não conheceu nenhum período duradouro de estabili dade completa.

As eleições inicialmente planeadas pa ra 27 de Novembro de 2016 foram suces sivamente adiadas por vários episódios rocambolescos protagonizados pela lide rança actual, que tem bloqueado a con

secução de um clima pacífico almejado para as eleições previstas para Dezem bro de 2018. E permanece um perigoso impasse político entre o Presidente Ka bila e as forças da oposição aliadas à so ciedade civil, que tinham lançado um ultimato ao dirigente da RDC, que resiste a diversas mediações internacionais pa ra a saída da crise.

Os recentes massacres ocorridos na re gião do Kasai, onde ocorreram mutilações, violações por gangues e assassinatos em massa, levaram a ONU a fazer soar o grito

Setembro 2018 60

de alarme para o prelúdio de uma situa ção de genocídio, conclamando a comuni dade internacional para agir e prevenir os tristes episódios ocorridos no Rwanda. O mesmo relatório da ONU, publicado no início de Julho em Genebra, Suíça, dá con ta das tremendas atrocidades cometidas nas várias guerras da RDC – incluindo violações massivas, desmembramento de corpos humanos, canibalismo – reali zados tanto pelas tropas rebeldes como governamentais.

Apesar da sua dimensão territorial e do potencial económico que isso acarreta, a RDC manifesta-se, para já, assustada, pe rante as ameaças de conflitos de vária ordem, a crise humanitária e a epidemia do Ébola, que podem, como no passado, traduzir-se em consequências negativas económicas e sociais para os países vizi nhos (caso de Angola).

O panorama económico

Entre 2010 e 2015, a RDC registou um crescimento médio de 7,7%, segundo o Banco de Desenvolvimento Africano (BAD). Em 2016, esta performance desceu para 2,4% devido à queda dos preços das matérias-primas de exportação do país (designadamente cobre e cobalto) e à instabilidade política reinante. O cresci mento foi estimado em 3,3% em 2017, gra ças ao bom desempenho das indústrias extractivas e da manufactura, da cons trução e do comércio. Uma retoma que deverá confirmar-se em 2018 e 2019 com a subida dos preços das matérias-primas e o relançamento da indústria extractiva como resultado do arranque de novos projectos mineiros. O abrandamento da actividade econó mica afectou negativamente as finanças públicas, com as receitas orçamentais (não incluindo as doações) a diminuí rem de 13,6% do PIB em 2015 para 9,4% do PIB em 2016, reflectindo-se numa con tracção das despesas públicas (12,8% do PIB em 2016 contra 17,3% em 2015). As sim, o BAD considerava, no início do cor rente ano, uma gestão da dívida pública exterior admissível, com um risco de en dividamento julgado moderado, contra riamente à situação da dívida interna, que passou de 3,6% do PIB em 2015 para 7,6% em 2016.

As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) do país caíram de 1,4 mil milhões de dó lares em 2015 para 882 milhões em 2016 e, posteriormente, para 668 milhões em Setembro de 2017. Ou seja, 2,93 semanas de importações. O franco congolês depre ciou-se em relação ao dólar em 23,7% em

2,9%

FOI O CRESCIMENTO DO PIB DA RDC EM 2017

RDC MAL NO DOING BUSINESS…

País está na cauda do ranking que analisa 180 economias

Em %

Como factores positivos a assinalar na mais recente evolução económica da República Democrática do Congo, o BAD destaca a retoma dos preços dos produ tos de base, em particular do cobre e do ferro, que aumentaram, respectivamen te, entre 15,76% e 87,93% no período de Dezembro de 2016 a Setembro de 2017, provocando uma alta de 9,3% da produ ção de cobre e 18% da produção de ferro. A verificar-se um reforço desta tendên cia em 2018 e 2019, as receitas orçamen tais, as reservas em divisas, a taxa de câmbio e a balança de pagamentos po derão conhecer melhorias.

2017 2018

Fitch antevê regresso ao crescimento

Em %

2018 2019

184 2,8

182 5

… MAS COM PERSPECTIVAS OPTIMISTAS DE EVOLUÇÃO DO PIB

Em 2015, o sector extractivo represen tava 97,5% das receitas de exportação, 24,7% das receitas correntes do Estado e 20,9% do PIB. Estão presentemente em curso vários estudos de viabilidade de parques agro-industriais, com o objec tivo de diversificação da economia, que ainda se encontra muito dependente do petróleo e de vários produtos minerais. No topo dos factores negativos exis tentes na RDC está, claramente, o cli ma de instabilidade política, convulsões sociais e tumultos que aumentam a imprevisibilidade.

FONTE Doing Business 2018, BMI/Fitch

2016 e 22,5% no final de Setembro de 2017, fazendo saltar a inflação de 0,8% em 2015, para 6,9% em 2016 e depois 42,9% em 2017. O défice das contas correntes era de 3,2% do PIB em 2016, sendo estimado em 2,4% em 2017, uma situação que o BAD an tecipa que possa melhorar em 2018. Entretanto, o declínio continuou. As finan ças públicas da RDC conheceram uma grave deterioração desde 2016, acompa nhada de um crescente défice fiscal. A queda das exportações reflectiu-se na diminuição das receitas orçamentais, ao passo que a falta de acesso aos mercados financeiros internacionais e doméstico conduziu o Governo à redução drástica da despesa pública para conter o défice e limitar o financiamento pelo banco cen tral do país.

Actualmente, as reformas iniciadas pelo Governo congolês num passado recente, em matéria de boa governação e trans parência nas indústrias extractivas (sil vicultura, minas e petróleo) e de melhoria do ambiente de negócios, revelaram-se insuficientes, como demonstrou o recente escândalo com a multinacional Glencore.

Acresça-se que, sobretudo no centro e leste da RDC, permanece um clima de in segurança preocupante, capaz de com prometer a actividade económica, caso se agrave, com o alastramento do de sastre humanitário. Por outro lado, a deterioração do poder de compra das fa mílias, causada pela alta dos preços dos produtos de primeira necessidade e a depreciação do franco congolês colocam a RDC sob o risco de alimentar uma cri se social latente. Aliás, o país continua a figurar entre os mais pobres do mundo. Segundo o Banco Africano de Desenvol vimento, apesar de uma ligeira melho ria da posição da RDC no ranking Doing Business 2018, passando do 184º lugar em 2017 para o 182º entre 190 países, exi gem-se melhorias importantes no am biente de negócios, que está entre os dez piores do mundo.

Sector mineiro cresce, apesar dos conflitos Com uma crise política latente em vés peras das eleições de Dezembro, entre meada por escaramuças étnicas e o com Ébola a afectar drasticamente o consumo doméstico e a limitar a ajuda externa, a perspectiva de crescimento fica prati camente localizada no sector mineiro. Apesar de antecipar uma aceleração do crescimento da economia da RDC nos últimos dois trimestres de 2018, os

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LÁ FORA

O abrandamento da actividade económica afectou negativamente as finanças públicas, com as receitas orçamentais a diminuírem de 13,6% do PIB em 2015 para 9,4% do PIB em 2016

ganhos não serão os mesmos em todos os sectores da economia, defende a uni dade de pesquisa Business Monitor In ternacional (BMI), afecta ao grupo Fitch. Devido ao elevado risco político, o con sumo doméstico será afectado, em se quência também do aumento da vio lência no meio rural, que provoca um elevado número de deslocados internos. Simultaneamente, a recorrente re cusa do presidente em honrar com promissos relativos às eleições de De zembro de 2018, está a provocar uma retracção da ajuda externa, limitan do os principais projectos do Governo. Deste modo, o sector mineiro da RDC apresenta-se como factor essencial de crescimento, especialmente a produção de cobre e cobalto, com a emergência de vários grandes projectos em 2018 e 2019, algo que, segundo a BMI/Fitch, sustenta a sua previsão de um crescimento real do PIB entre 2,8% e 5%, respectivamente

para 2018 e 2019, vindo de 2,9% em 2017. Contudo, mesmo com o estímulo do sector mineiro, o crescimento na RDC continua muito abaixo do seu potencial, sempre sob a ameaça de elevado risco político, na expectativa de que os conflitos não se alastrem à relativamente pacífica pro víncia de Katanga, uma das maiores re giões mineiras.

De resto, o impasse político latente, o au mento das convulsões sociais nos centros urbanos e a crescente insurgência nas províncias orientais fizeram disparar um número de deslocados civis nas re giões do centro e leste, atingindo actual mente cerca de três milhões de pessoas. Esta mistura de deslocados e disrupções económicas está a dificultar o fluxo de mercadorias, contribuindo para a redu ção da procura, um cenário exacerbado pela redução das ajudas governamen tais num contexto em que os subsídios cor respondem a 8,2% do total das receitas.

A BMI/Fitch considera que existe o risco dos países doadores abandona rem a ajuda à RDC devido aos desa cordos com Kabila, algo que coloca Kinshasa diante de um leque muito limitado de fontes de financiamento. Espera-se que o sector mineiro da RDC se transforme um dos mais rápidos e crescentes mercados mineiros a nível mundial, devido em grande medida ao aumento da produção de cobre e cobalto. Entretanto, parecem goradas as expec tativas sobre o impulso da produção de cobre e cobalto da mina de Katanga da Glencore, e do retomar das operações em Dezembro de 2017, devido ao escân dalo que emergiu em Junho, quando a poderosa multinacional foi acusada pelo departamento de Justiça dos EUA de es tar envolvida em actos de corrupção na RDC, Nigéria e Venezuela. Dan Gertler é, de resto, uma das personalidades com as quais a Glencore trabalha na RDC, grande amigo e parceiro de negó cios do presidente Kabila, cujas activi dades vinham sendo investigadas pela Global Witness desde 2012. Essa situa ção afecta especialmente o desempe nho da Katanga Mining, (subsidiária da Glencore na RDC), a avaliar pela queda em bolsa das acções da multinacional. Espera-se igualmente um sólido cresci mento sustentado na produção domésti ca de ouro depois da melhoria da mina da Randgold de Kibali, nos próximos dois anos. Informações daquele grande produtor mineiro continental referem que o trabalho para a automatização do sistema de processamento do material da mina, que foi recentemente concluí do, aumentará a produção em 22% até o fim deste ano. Mas o factor crucial para a RDC, reside na circunstância de o sector mineiro estar relativamente protegido da instabilidade que abrange grande parte do país, devido à sua loca lização geográfica. O facto de a maioria das minas estar localizada a sul da RDC (província de Katanga), com as rebeliões mais concentradas no centro e nordeste (norte e sul da província de Kivu), tem possibilitado a manutenção da produção. Infelizmente, o agravamento das con vulsões sociais funciona como caldo de recrutamento para os cerca de 70 gru pos rebeldes que operam na RDC, provo cando uma demanda da segurança nos locais de produção mineira

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Indústria extractiva: Bom desempenho é essencial para amplificar crescimento do PIB

Quando não dizer tudo, até pode ser sinónimo de lealdade

toda a regra tem excepções, há que admitir. Mas é também preciso aceitar que há excepções à regra que podem criar des conforto e até desconfiança quanto à transparência em relação à(s) matéria(s) em causa. É exemplo disso o facto de os contratos da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) com os seus clientes não permitirem que esta revele o preço de venda da energia eléctrica.

Durante a Reunião Anual sobre a Performance da HCB em 2017, que teve lugar na capital do país a 28 de Agosto passado, o con selho de administração da hidroeléctrica anunciou o aumento da tarifa de energia aléctrica vendida à energética sul-africa na Eskom em 26%, no ano passado. Mas a confidencialidade pre vista no contrato não deixou que a HCB tornasse público o sig nificado deste aumento em termos nominais, ou seja, ninguém além da empresa e seu cliente, no caso a Eskom, deve saber o preço anterior e o actual da energia eléctrica.

Há quem diga que o problema é dos sul-africanos, que terão de consumir energia mais cara sem clareza da base sobre a qual o ajustamento terá sido feito.

Mas não nos esqueçamos que a Electricidade de Moçambique (EDM), empresa responsável pela rede energética do nosso país, é também cliente da HCB e o contrato com esta também é confidencial.

A propósito, em Maio deste ano, a EDM anunciou que está em negociações com o Governo para mais um reajuste da tarifa de energia fornecida aos seus clientes (1,7 milhões de clientes em todo o país), e o argumento, segundo o director comercial da em presa, Benjamim Fernandes, é que o custo de aquisição junto aos fornecedores (HCB é o principal) está acima do preço de venda e a situação tornou-se insustentável. Esta discussão começa menos de um ano depois do último rea juste, em Agosto do ano passado, quando se estabeleceram as condições actuais de consumo: clientes domésticos (que repre

sentam cerca de 90% do total dos clientes da empresa) passa ram a pagar 6,95 meticais por kilowatt/hora, contra os anterio res 5,14 meticais. O aumento de 1,81 meticais por kilowatt/hora é aplicado a consumidores que já usam o sistema pré-pago CRE DELEC, sendo que para os consumidores domésticos que ainda não aderiram ao CREDELEC, as tarifas subiram em média dois meticais por kilowatt/hora.

Para o consumidor, obviamente, não será agradável um novo ajuste de energia em tão curto espaço de tempo. E muito prova velmente não terá sido agradável ouvir as limitações contra tuais da HCB em revelar por quanto vende energia aos seus clientes, que incluem a EDM.

A situação, que se confunde um pouco com a falta de transpa rência, cria algum espaço para a especulação, podendo levar algumas esferas de opinião a relacionar os ajustes tarifários com a necessidade de financiar sabe-se lá o quê, que não se deve assumir publicamente por razões diversas.

E aqui pode-se levantar o respeito pela Lei do Direito à Infor mação que tem sido apontada como um dos mais importantes instrumentos para tornar os cidadãos participativos em todos os domínios da vida da nação, e que é também instrumento de combate à corrupção.

Mas porque toda regra tem excepção, há que respeitar a con fidencialidade dos contratos da HCB, e é meu entender que esta empresa, com a pujança e o respeito que granjeia interna e in ternacionalmente, faz muito bem em respeitar os seus clientes. “Não posso emitir juízo de valor sobre se está correcto ou não revelar o valor da venda de energia aos nossos clientes”, disse o Presidente do Conselho de Administração da HCB, Pedro Couto, quando um jornalista quis saber a sua opinião sobre a confi dencialidade dos contratos neste capítulo, numa pergunta de insistência que deu a entender que a questão terá inquietado parte dos presentes na reunião de 28 de Agosto.

HCB é o orgulho dos moçambicanos, também pela disciplina e respeito pelos contratos que estabelece com os seus clientes. Mas há que não deixar de lado a possibilidade disso ser mal interpretado em determinadas situações, já que a falta de transparência é uma realidade do país

OPINIÃO Setembro 2018 64
Celso Chambisso • Jornalista da Revista Economia & Mercado

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

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O Nkwichi Lodge onde a beleza de um lugar especial, como o Niassa, se funde numa escultura com formas únicas

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Propomos uma viagem pelos sabores do Spazio, o universo das pizzas

Com o Verão à porta, a crítica internacional elogia os refrescantes vinhos brancos portugueses

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UMA ESCULTURA EM NIASSA

quem se dirige de cóbué, a 200 quilómetros de Lichin ga, província de Niassa, norte de Moçambique, e atravessa, em cerca de 30 minutos, o la go Niassa, terá à sua espera o exótico Nkwichi Lodge.

Na verdade, os proprietários, britânicos, não edificaram o Nkwichi. Esculpiram-no para conservar a arquitectura que a natureza legou ao sítio. Os sete chalets que acolhem os hóspedes foram lapidados por entre as rochas da serra. A matéria-prima que ajudou a erguer o lugar é nativa.

A pedra, os bambus, o pau a pi que e o caniço, trabalhados com desvelo e arte, são da terra.

A “guarda de honra” que dá as boas-vindas aos hóspedes

logo à entrada deste eco-lod ge, é feita de rochas lamina das colocadas em fila indiana. “O conceito do Nkwichi é pro porcionar conforto, respeitan do a natureza e o ecossistema deste lugar especial. Este é um lugar fantástico, que não care ce de uma grande transfor mação enquanto alojamento”, explica Valentine Mpala, a zim babueana que gere o espaço. Aliás, o Nkwichi é um lugar onde as nacionalidades se di luem. Além de Valentine, tra balham lá os zimbabueanos Leshie Chibaya e Itai Chibaya, o malawiano Patson Cham ba e cerca de uma dezena de moçambicanos.

Os visitantes que procuram o lugar são, na sua maioria, cida

dãos da União Europeia, dos Es tados Unidos e da África do Sul. Capitalizar as potencialidades da paisagem local, prossegue Mpala, “é também uma for ma de dinamizar a economia da região, dado que o mate rial usado pode ser fornecido pelas comunidades de Mhala, a povoação onde se localiza o Nkwichi.“

A gestora assinala que por detrás do Nkwichi este ve o espírito filantrópico dos proprietários.

Um deles andou por Moçam bique, no âmbito do processo de paz que se seguiu à guerra dos 16 anos, e viu na possibili dade de criar o projecto turís tico uma forma de ajudar as comunidades próximas.

O Nkwichi é uma espécie de âncora de onde se pode par tir para um sereno passeio de barco pelo lago Niassa, até às ilhas malawianas de Li

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NOITES SUGERIDAS: 4 PREÇO MÉDIO: 29.400 MZN
NKWICHI LODGE
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NKWICHI
LODGE

koma e Chizumulo, e é uma encosta de onde se pode “zar par” para o montanhismo. No topo da serra, poderá con templar o lago a partir da idílica star bed, a “cama das estrelas”, perfeita para ci mentar relações à luz dos as tros que se podem vislumbrar em vários momentos do ano. “É isolado, calmo e rústico, no sentido romântico, e o local perfeito para casais, em lua -de-mel, por exemplo”, con sidera Patson Chamba, o malawiano que nos conduz pelas vielas que sobem uma das montanhas de Mhala e de onde, a vista não ilude. E este, é mesmo um daqueles lugares imperdíveis.

ROTEIRO

COMO IR

A LAM garante voos entre Maputo e Lichinga, aos sábados, domingos, às terças e quintas-feiras. De Lichinga ao distrito do Lago, mais concretamente à localidade de Cóbué, uma distância de cerca de 200 quilómetros, existem opções de rent-a-car. De Cóbué ao Nkwichi Lodge, o eco-lodge proporciona a travessia de barco, num trajecto de 30 minutos.

O QUE FAZER

Desportos aquáticos como surf, vela ou scuba diving.

Com partida do Nkwichi Lodge, é possível fazer um passeio de barco, que o leva até às ilhas malawianas de Txizumulo e Likoma, em pouco menos de meia-hora. Também pode fazer passeios comunitários e conhecer um pouco da cultura local. À noite, não deixe de contemplar as estrelas, a partir do topo da serra, que o Nkwichi baptizou por star bed.

OS PROPRIETÁRIOS NÃO EDIFICARAM O NKWICHI. ESCULPIRAM-NO. PARA, DESSA FORMA, PODEREM CONSERVAR A ARQUITECTURA QUE A NATUREZA DOOU A ESTE LUGAR MÁGICO

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TEXTO JOSÉ MACHICANE FOTOGRAFIA VASCO CÉLIO

UMA VIAGEM AO SPAZIO, O

é comum pensar na pizza como sendo de origem italiana. Mas a verdade é que essa ideia só em parte correspon de à verdade. De facto, a re ceita que deu origem à pizza tem uma história milenar. Se gundo alguns historiadores, é possível traçar o seu início no Egipto, onde terão sido mis turadas farinha e água, pela primeira vez. Por seu lado, hebreus e babilónios também produziam uma mistura de trigo, amido e água que assa vam em fornos rústicos. Esta massa era chamada de “Pão de Abraão”, e era conhecida como ‘piscea’, de onde deriva a ctual designação de pizza. Foi na época das Cruzadas, empreendidas pela cristan dade, que os europeus, em contacto com estes povos, co nheceram e trouxeram esta receita para o seu continente, onde ela se tornou particu

UNIVERSO DAS PIZZAS

larmente popular no sul da Itália. De facto, foi especial mente a partir do porto de Napóles que a “novidade” foi introduzida na Europa. Usando farinha de trigo de boa qualidade para fazer a massa, os napolitanos tive ram a ideia de lhe acrescen tar coberturas variadas, em especial com tomate, que ti nha sido introduzido na Itália, durante o século XVI, vindo das Américas. É possível dizer, portanto, que foi aqui que nasceu a pizza que hoje conhecemos. Mas foi preciso chegar ao século XVIII para que o rei Humberto I ti vesse tomado conhecimento de uma pizza, que tinha sido criada por Rosa e Raffael Espo sito, comerciantes de Nápoles, que se havia tornado muito

PARA ENTENDERMOS COMO CHEGÁMOS À PIZZA CONTEMPORÂNEA, TEMOS DE REFERIR FENÍCIOS, TURCOS E GREGOS

popular. Encantado com o sa bor, convidou os Esposito para preparem uma pizza especial para a Rainha Margherita de Sabóia. Foi assim que nasceu a hoje famosa Margherita (com sabor a manjericão e a massa coberta de queijo mo zzarela e rodelas de tomate. A partir desse momento, ga nhou um estatuto que não tinha e uma popularidade a nível global, com origem nos EUA. Com um forte contigente de imigrantes italianos a vi verem, desde o final do século XIX, surgiram ali restauran tes especializados em pizzas e massas. que originaram uma extraordinária explosão criativa à medida que novos ingredientes e ideias foram sendo acrescentadas à recei ta original. A nossa sugestão deste mês vai, por isso, para o “Spazio”, um dos melhores es paços de Maputo, onde é pos sível experimentar uma vas ta variedade de pizzas num ambiente acolhedor.

Setembro 2018 70 De 2ª a Sábado
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das 11h30 às 15h30
das 17h30 às 22h30 Av. Paulo Samuel Kankomba 578 Reservas pelo número 849500827
RESTAURANTE SPAZIO
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2016

‘WINE SPECTATOR’ DEU DESTAQUE, NUMA PROVA FEITA POR GILLIAN SCIARETTA, A TRÊS VINHOS BRANCOS DA CASA FERREIRINHA

PAÍS: Portugal

REGIÃO: Douro

CASTAS: Rabigato, Viosinho, Arinto, Códega, Moscatel

COR: Brilhante com nuances esverdeadas

AROMA: Intenso, com frutas tropicais como abacaxi e maracujá, frutas brancas e notas minerais

PALADAR: Bom volume, acidez viva bem integrado no palato e notas frutadas

TEOR ALCOÓLICO: 12,5%

PLANALTO RESERVA BRANCO 2016

PAÍS: Portugal

REGIÃO: Douro

CASTAS: Viosinho, Malvasia Fina, Gouveio, Códega, Arinto

COR: Amarelo palha cítrico

AROMA: Notas cítricas e herbáceas marcantes

PALADAR: Acidez viva, muita frescura, algum volume de boca, elegante e frutado TEOR ALCOÓLICO: 12,5%

NINFA SAUVIGNON BLANC (BRANCO) 2015

ANTÓNIA

ADELAIDE FERREIRA BRANCO 2014

PAÍS Portugal REGIÃO Douro CASTAS Viosinho e Arinto COR Brilhante de tons dourados com ligeiras nuances de citrinos AROMA Intenso e complexo com notas de figo, avelã, pêra rocha e melão PALADAR Excelente volume, acidez intensa bem integrada, notas de frutas brancas e frutas cítricas TEOR ALCOÓLICO 13%

CRÍTICA ELOGIA

VINHOS BRANCOS PORTUGUESES

a edição de julho da prestigiada e influente revis ta norte-americana “Wine Spectator” deu destaque, numa prova feita por Gillian Sciaretta, a três vinhos brancos da Casa Ferreirinha.

Não é propriamente uma surpresa pois os seus vi nhos são sinónimo, desde há muito, de excelência. Assim acontece desde a sua fundação, no século XVIII, pela mão de Bernardo Ferreira, que viu a fórmula refinada pelos descendentes, especialmen te por sua neta, Dona Antónia Adelaide Ferreira, carinhosamente reconhecida por “Ferreirinha”. Gillian Sciaretta atribuíu ao Antónia Adelaide Fer reira Branco 2014 a mais alta pontuação (92 pontos) dos três vinhos da Casa Ferreirinha incluídos na prova. Na sua opinião, este é «um vinho complexo e com aromas tropicais, que comprova a diversidade da região do Douro».

Este Antónia Adelaide Ferreira Branco 2014 já tinha obtido anteriormente referências muito elogiosas, nomeadamente de Robert Parker, um dos mais res peitados críticos de vinhos do mundo que, sobre ele sublinhara a sua “cor brilhante de tons dourados com ligeiras nuances de citrinos”, o seu “aroma inten so e complexo”, o paladar marcado por “volume e aci dez intensa integrada com notas de frutas brancas e frutas cítricas” e o seu “final muito longo e complexo”.

As uvas seleccionadas – das castas Viosinho e Arin to – após desengace total e suave esmagamento, foram submetidas a uma maceração pelicular a frio, essencial para a extração dos percussores aromáticos. Durante o período da fermentação o vinho foi mantido por um período de 12 meses em barricas com battonage (termo francês que designa o processo de movimentar o barril para suspender os sedimentos. O processo faz com que o vinho adquira uma textura mais cremosa).

Por sua vez, o Papa Figos Branco 2016 recebeu 90 pontos na prova feita. Com uma cor citrina, “um aroma intenso marcado por notas florais frutos tro picais e apontamentos minerais e arbustivos, apre senta bom volume na boca e tem um final persis tente e harmonioso.”

PAÍS: Portugal

REGIÃO: Tejo

CASTAS: Sauvignon

COR: Amarela citrina e esverdeada

AROMA: Notas minerais e limonadas, com a componente vegetal a predominar

PALADAR: Equilibrado, com uma agradável acidez e um paladar frutado e citrino

TEOR ALCOÓLICO: 13%

E o terceiro nectar a merecer distinção foi o Planal to Reserva Branco 2016, que obteve 89 pontos. O Pla nalto é hoje uma das maiores referências de vinho branco na região do Douro, fruto da criteriosa esco lha das castas que o compõem e do uso da melhor tecnologia de vinificação.

Setembro 2018 71
TEXTO RUI TRINDADE FOTOGRAFIA D.R
PAPA FIGOS BRANCO

música filmes livros

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21 LIÇÕES PARA O SÉCULO XXI YUVAL NOAH HARARI ED. ELSINORE

EXPOSIÇÕES TEATRO

TAKE AWAY DAVID

Centro Cultural Franco-Moçambicano

Sala de Exposições

Inauguração: 4 de Setembro Hora: 18h30 Aberta até 29 de Setembro Entrada gratuita

KINANI ATRAVÉS

DA LENTE (2005/2017) EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA SOBRE PERCURSO DO KINANI

Camões - Centro Cultural Português em Maputo Inauguração: 5 de Setembro Patente até 28 de Setembro De segunda a sexta das 11h00 às 18h00 Entrada Livre

ÁGUA

EXPOSIÇÃO COLECTIVA DITO / ELIANE MONNIER (SUIÇA) / MATXAKOSA / FORNASINE

Fundação Fernando

Leite Couto Galeria

Inauguração: 5 de Setembro Patente até 30 de Setembro Entrada Livre

CENTRO CULTURAL BRASIL-MOÇAMBIQUE

Fundação Fernando

Leite Couto Patente até 15 de Setembro Entrada Livre

A MÃE DRAMATURGIA E ENCENAÇÃO: VENÂNCIO CALISTO INTERPRETAÇÃO: ASSUCENA DANIEL, FRANCISCO BALOI, MATEUS NHAMUCHE, SILVANA POMBAL, SIDÓNIO MONDLANE E YUCK MIRANDA

Fundação Fernando

O israelita Yuval Noah Harari tornou-se, com os ensaios “Sapiens – Uma Breve História da Huma nidade” e “Homo Deus – História Breve do Ama nhã”, um dos autores mais lidos e debatidos dos últimos anos.

BANDA CV NOITE DANÇANTE

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 21 de Setembro Hora: 18h Entrada: 150 MT/Gratuito

CIDADE FM 25 ANOS MEGASHOW

Centro Cultural

Franco-Moçambicano Jardim Dia: 28 de Setembro Hora: 20h30

MÚSICA

Leite Couto Dia: 20 de Setembro Hora: 18H REGRESSO TIMBILA MUZIMBA

Centro Cultural

Franco-Moçambicano Sala Grande Dia: 6 de Setembro Hora: 20h30

BLACKROOTS MARIMBAS NTOMBEKHAYA HALAM / DUDUZILE NDLOVU / LUTHO MZONGWANA / SIBAHLE SKY DLADLA

Professor do Departa mento de História da Universidade Hebrai ca de Jerusalém, Yuval Noah Harari lançou ago ra “21 Lições para o Sé culo XXI” cuja edição em língua portuguesa já está dísponível. Na apresen tação do livro, escreve: “O meu novo livro debru çar-se-á sobre o esta do presente do mundo. Qual o verdadeiro signi ficado dos eventos que testemunhamos e como poderemos lidar com eles à escala individual? Que desafios e escolhas se nos deparam?”.

D´MANYISSA & FRIENDS BANDA: D´MANYISSA – VOZ / TEXITO LANGA – BATERIA / MINDO SALATO – BAIXO / ELIAS MUHOLOVE – GUITARRA / NICOLAU CAUANEQUE – TECLADO E SAXOFONE CONVIDADOS: ANIANO TAMELE / DÉRCIO BAHULE / DUA / LALAH MAHIGO / PAULETA MUHOLOVE / REGINA SANTOS / RAGE / TETE TERESART / XIXEL LANGA / WENDDY TCHILAMBO

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 28 de Setembro Hora: 18h

DANÇA

SEMANA DA DANÇA

Fundação Fernando

Leite Couto Dia: 6 de Setembro Hora: 18h

NO TEMPO DOS TOCADORES UM TRIBUTO À MÚSICA MOÇAMBICANA” DE TP50

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala Grande Dia: 14 de Setembro Hora: 20h30h

JAMOZBRAZ

(JAMAICA/MOÇAMBIQUE/BRASIL)

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 14 de Setembro Hora: 18h

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório e Sala Grande Dia: 17 a 22 de Setembro

DANÇA CONTEMPORÂNEA CONVERSA NO ÂMBITO DA ABERTURA DA SEMANA DA DANÇA - FILIPE BRANQUINHO/ FUNCHO/ YASSMIN FORTE/QUITO TEMBE

Camões - Centro Cultural Português em Maputo Dia: 18 de Setembro Hora: 18h

Setembro 2018 72

UM LIVRO QUE PRETENDE DAR UMA PANORÂMICA ABRANGENTE (MAS NÃO EXAUSTIVA) DA HISTÓRIA E DOS PRINCIPAIS ACTORES LIGADOS ÀS ARTES PLÁSTICAS EM MOÇAMBIQUE

ESTADOS DE ALMA DAS ARTES EM MOÇAMBIQUE

editado pelo ministério da cultura e turismo, acaba de ser publicado o primeiro li vro da série “Estados de Alma das Artes Em Moçambique” cujo volume inaugural é de dicado às artes plásticas. Trata-se de um livro que pre tende dar uma panorâmica abrangente (mas não exaus tiva) da história e dos princi pais actores ligados às artes plásticas em Moçambique. Ao todo, são referenciados 50 artistas onde se destacam, entre muitos outros, nomes como os de Malangatana, Ber tina Lopes, Alberto Chissano, Chichorro, Naftal Langa, Noel Langa, Victor Sousa, Samate Mulungo, Idasse Tembe, Alex Dunduro, Gemuce, Joaneth e Pekiwa. Amplamente ilustra do, o livro inclui ainda textos escritos por um vasto número de personalidades tais como Adelino Timóteo, Alda Costa,

ESTADOS DE ALMA DAS ARTES EM

Calane da Silva, Jorge Dias, José Forjaz, António Cabrita, Luis Carlos Patraquim e Mia Couto (entre vários outros). Como refere o historiador António Sopa, no texto intro dutório, o lançamento do livro ocorre, por feliz coincidência, num momento em que se as sinalam cem anos sobre a primeira exposição de artes plásticas no país a qual teve lugar, na sua capital, em Outu bro de 1918, no então designa do Museu Provincial (actual Museu de História Natural). Embora esse evento inaugu ral seja ainda mal conhecido, a iniciativa terá pertencido a Cristiano Sheppard da Cruz que foi companheiro de Al mada Negreiros, Jorge Bar radas, Santa Rita, Sá Carneiro e outras figuras do moder

MOÇAMBIQUE

nismo português e viveu em Moçambique até 1951.

Estiveram expostas cerca de 500 obras, emprestadas por 50 residentes da cidade, divi didas por sete secções, abran gendo a pintura e o desenho, a escultura, a gravura, a li tografia e água forte, a foto grafia, os objectos de arte, os bordados e as rendas e, final mente, os livros e mapas. Está previsto, entretanto, o lançamento de um segundo volume que englobará outros 50 nomes e obras, desta vez ligadas à literatura e cuja pu blicação deverá ocorrer no final deste ano. Subsequen temente, outros volumes se seguirão sobre música, dan ça, teatro e outras formas de expressão artística.

Setembro 2018 73
TEXTO RUI TRINDADE FOTOGRAFIA JAY GARRIDO

vVW AMAROK AUTOMÁTICA CHEGA A MOÇAMBIQUE

firme em todo-o-terreno, e possante no asfalto. Será esta, uma boa definição para a nova Amarok.

Com uma caixa automática de oito velocidades, a pick -up da Volkswagen melhorou desde o seu início de produ ção, tornando-se muito mais potente (agora com 180 cava los, sistema 4X4, combustível Diesel, 2 000cc e jantes de liga leve “Manaus” de 18’’).

E quem mais sente a diferen ça deste para os seus mode los anteriores, são as costas do condutor, que ficam bem coladas ao encosto, proporcio nando um prazer de condu ção assinalável.

E o motor V6 também faz dife rença quando conduz ao fim de semana, pois entrega sua potência mais cedo e depen de menos do turbo de geome tria variável. A este respeito, esta nova versão da Amarok traz-nos a única pick-up da sua classe que vem com tra

vão multicolisões. Já o ABS offroad, bem como o sistema de assistência nas descidas, garantem uma elevada segu rança em todos os terrenos. Além disso, o sistema de esta bilização do reboque propor ciona uma óptima protecção, tentando evitar o efeito ser pente, combinando a eleva da distância para o solo com a melhor estabilidade da car roçaria, em conjunto com a comprovada tracção integral 4MOTION.

O resultado: tracção em vir tualmente todas as situações, mesmo com elevada carga de reboque ou carga útil. Mas, há outras característi cas que tornam a Amarok ab solutamente indispensável, como molas de lâmina refor çadas que proporcionam um elevado conforto de condu ção com uma máxima carga

útil de 842 kg e ângulos de in clinação a 100% que, graças a distância entre os eixos e a maior distância do solo, per mitem que a Amarok consiga superar os mesmos ângulos extremos, inclinações e decli ves acentuados. Mas não é só por fora que a Amarok se apresenta em bom, no mercado nacional. Também ao nível dos interio res ela é pensada para tor nar toda a experiência de condução única e altamen te confortável para o condu tor e os seus passageiros, com os bancos da frente ajustá veis em altura e longitudi nalmente, o ar condicionado Climatronic System e o indis pensável sistema de contro lo de voz com funções do rá dio e telemóvel, permitindo que faça chamadas sem qual quer distracção da condução.

Setembro 2018 74
POTÊNCIA 180 CAVALOS COMBUSTÍVEL DIESEL CILINDRADA 2000CC CONCESSIONÁRIO CAETANO DRIVE Av. de Angola nº 2290 258 21 467 494 VW AMAROK
MULTIFACETADA
UM
UMA
A NOVA AMAROK COMBINA TUDO O QUE ESPERA DE UMA PICKUP
DO SEGMENTO PREMIUM:
DESIGN MASCULINO,
CONSTRUÇÃO ROBUSTA E UMA POTÊNCIA SURPREENDENTE

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