Revista 440Hz - Edição 1

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CONTRABAIXO Por Fernando de Freitas

A M U M E O X I A B A C O T E U Q A T S I UMA ART

K C O R E D A D N BA

“F

oi por tesão que comecei a fazer música” diz Carol Navarro, “mas, atualmente, não quero somente ser a baixista do Lipstick ou do Supercombo. Quero poder fazer muitas outras coisas que me dão tesão”. E, embora não tenha nenhum projeto paralelo com a estrutura atual da banda, ela fundou e acompanha um grupo de mulheres musicistas, podendo, neste ponto da carreira, aconselhar as que estão iniciando. Também ataca eventualmente de DJ na noite, apresenta palestras sobre os assuntos que lhe afetam e ainda assume o papel de empreendedora e empresária junto de seus colegas de Supercombo. Sua atitude é clara, como musicista ela se expressa de uma forma que é possível e lhe dá prazer. É a busca de um caminho próprio. Mas não é uma musicista como outras, cujo trabalho é empregar seu talento tocando com uma banda de jazz numa noite, noutra com uma de samba, gravar com uma banda de rock num dia de sertanejo no outro. Ela olha para si mesma como uma artista, que toca baixo em uma banda de rock e tem nisso sua principal, mas não única ocupação. O caminho de Carol começou quando um professor da escola de música em Santo André, cidade da grande São

Paulo onde nasceu, juntou cinco meninas para tocarem juntas em aula de prática de banda. Esse grupo se tornou a base do que tornaria o Lipstick, a banda em que ela ficou por dez anos. “Nós começamos a querer tocar fora da escola, então passamos a frequentar a cena da cidade. A nossa vocalista acabou indo para uma outra banda, que estava começando um trabalho autoral e eu convidei uma menina da escola” e, aos poucos, a carreira foi tomando forma. “Quando acabou o colégio, eu já estava tocando com o Lipstick. Os meus amigos começaram a fazer faculdade e eu tocando na noite, viajando. Comecei a estudar no Conservatório de São Caetano, mas nunca fiz faculdade propriamente dita”. O Lipstick assinou com um selo de uma gravadora, que prometeu cuidar delas. Mas “cuidar delas”, nas palavras de Carol, acabou significando uma atitude condescendente que era agravada pelo fato de sua banda ser formada por mulheres. Se por um lado, ela se sentia confortável em lidar com assuntos “pouco artísticos” como ECAD, royalties, divisão de lucros, por outro, o desconforto apenas crescia com a sensação de falta de controle do próprio ganha-pão. Quando isso acontece, outros sentimentos afloram e, quando se tornou insustentável, recebeu o convi-

te para entrar no Supercombo. Ali a estrutura era outra. O controle era outro. A ponto de hoje a banda contar com seu próprio selo. “A primeira vez em que alguém chamou minha música de produto foi um choque. Era uma coisa, mano, isso é minha arte. Depois fui entendendo que tem um lado que é minha arte. Tem outro que ela se torna um produto que preciso vender” e, desse jeito, Carol mistura gírias do mundo musical com jargões do mundo de negócios para explicar que seu dia a dia “não é só ir lá e fazer o gig. É show numa noite, borderô no dia seguinte, show no outro, estrada, borderô na volta”. Mas, nessa estrutura, ela se desenvolveu como artista. Após a gravação de dois álbuns com o Supercombo, o ambiente parecia mais propício para Carol mudar algumas coisas. Ela aproveitou o momento em que abriram o novo selo para levar todo mundo junto ao estúdio. Os álbuns anteriores eram gravados em partes, pois, segundo ela, “eles são ótimos produtores” e era gravado tudo de forma caseira. Com todos juntos, ela também colocou mais de si nas canções. Era hora de a banda assumir responsabilidade sobre o que produzia, a música passou a ter mais esperança ao tratar da tristeza. Mas também os temas políticos e sociais

Fotos: Divulgação

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