Revista 440Hz - Edição 1

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LANÇAMENTO Por Fernando de Freitas

E M O F A T E N A PL O D A C R E M O D A T RA

E

A B S I A M E N R A CA A Ç A R G E D S I A NÃO ESTÁ M

lza Soares é o retrato mais poderoso, e por vezes cruel, do povo brasileiro. Seu novo álbum, Planeta Fome, é o espelho que nos estende para olharmos a nós mesmos. O baixo e a guitarra suingados e distorcidos precedem a frase de abertura, “Eu não vou sucumbir”, na faixa Libertação. Elza é quem ela é, esse álbum é sua própria fome. Da mesma forma como ergueu a voz para chamar de traidor a quem quer que fosse na abertura das Olimpíadas, a cantora deixa claro: ela não tem medo. Em contraponto a muitos artistas de sua geração, que permanecem no circuito musical se equilibrando entre velhos sucessos e gravações de elevado valor estético de temas abstratos, Elza Soares escolhe seu repertório a dedo para dar personalidade brutal a cada faixa. Seria possível buscar dezenas de referências para explicar a construção do som produzido neste álbum, todas mais novas que Elza. Seria possível adjetivar Elza para dizer que ela está “antenada com a juventude”. Mas Elza é o que é. Fato é que sua música soa como a música dos jovens deveria soar, ela é a referência por si, uma estrela de grandeza maior que brilha e atrai com seu poder gravitacional. Claramente é um álbum de forte conteúdo político. A capa foi desenhada pela

artista Laerte que, apesar de ter iniciado formação musical na universidade, afirmou que já não ouve música em sua vida privada, o que torna claro seu compromisso político-artístico. A cartunista, por outro lado, já colaborou com a Filarmônica de Pasárgada no clipe da música Fiu-fiu e é uma das vozes artísticas (e críticas) mais relevantes da atualidade, tal como pudemos comprovar durante a exposição Direito ao Avesso, na Avenida Paulista, em São Paulo.

MAIS POLÍTICA QUE NUNCA

Dizer que o álbum é autorreferente seria uma simplificação que ignoraria o caráter intrínseco da obra de Elza como arauto de um povo sem voz. Trata-se de uma atualização de seus cantos, de revisitar seus temas mais prementes e as feridas que não cicatrizam. O poder de sua rouquidão é o estouro das vozes represadas explodindo em uma só garganta. Assim é que sua composição Menino, dá uma primeira volta, a capella, e uma segunda, acompanhada de percussões, logo interrompida por Brasis (Seu Jorge / Gabriel Moura / Jovi Joviniano), no meio do verso “Você representa o futuro da nação”, omitindo a última palavra. Algo remete, de longe, à versão poderosa de Meu Guri, mas sem pedir licença ou permissão. Ao fim, atropelado. Das contradições de Brasis, de Seu

Jorge, Elza segue de mãos dadas com BNegão e Pedro Loureiro em Blá-Blá-Blá que olha para as palavras e frases repetidas à exaustão em consonância com os poderes político-financeiros em que um grito incidental de amor se ressignifica, politizando o melô de corno famoso no timbre de Tim: “me dê motivo / pra ir embora”. Entremeado com o Rap cortante de BNegão, está determinado que para Elza e seus parceiros que os discursos e bordões conservadores não lhes servem nem para o povo que cantam. A alternativa excludente não é uma opção, amar por vezes é motivo para deixar. Gonzaguinha marca presença duas vezes na voz de Elza. Essa figura-símbolo da redemocratização, filho do mais popular dos artistas brasileiros e que viveu o país em sua essência tem seu Comportamento Geral e sua Pequena Memória para um Tempo Sem Memória gravadas em arranjos impecáveis. Na primeira, voltam os baixos e guitarras suingados; no segundo, o trabalho com adição de samplers à banda dão um novo lugar às canções às vésperas da terceira década deste século. Seguindo como cancioneira, Elza não esquece de cantar a violência e lembra que “a carne mais barata do mercado não está mais de graça / o que não valia nada / agora vale uma tonelada / não


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