Amazônia 119

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DA AMAZÔNIA
O QUE AS ABELHAS SABEM? 27 Ano 17 Número 119 juLho/2023 ISSN 1809-466X 9 77180 94 6 600 79 1100 R$ 29,99 € 5,00
FÓRUM DOS GOVERNADORES
LEGAL ROBÔ AJUDA A REVERTER DESMATAMENTO
12 REVISTA AMAZÔNIA revistaamazonia.com.br Novo Local Av. das Nações Unidas, 12551 - São Paulo - SP 20 A 22 SETEMBRO 2023 GARANTA JÁ SUA INSCRIÇÃO! VAGAS LIMITADAS @congressoecoenergy www.congressoecoenergy.com.br Aproveite os lotes promocionais com DESCONTO! UM DOS MAIORES CONGRESSOS DO SETOR DE ENERGIA SOLAR, EÓLICA, BIOMASSA, GTDC E OUTRAS ENERGIAS LIMPAS E RENOVÁVEIS. EVENTO PRESENCIAL Organização e Promoção Patrocínio Organizadora de Conferências Local Av. Nações Unidas, 12.551, Brooklin Novo São Paulo - SP Agência de Viagem (11) 5087-3455 / (11) 99369-5239
Gás de cozinha Resíduo orgânico

25º FÓRUM DE GOVERNADORES DA AMAZÔNIA LEGAL

PUBLICAÇÃO

Editora Círios SS LTDA

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MAIS CONTEÚDO

AUTORIDADES FEDERAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS DEFENDEM E EXPLICAM IMPORTÂNCIA

O evento reuniu governa-dores e representantes dos Estados do Amapá, Acre, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins, Roraima, Pará, Rondônia e do Maranhão. Os compromissos iniciaram em reunião com o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, e em seguida, foi aberta a Assembleia Geral para debates sobre os resultados das reuniões das Câmaras Setoriais de Meio Ambiente, Saúde, Se-gurança Pública e Agricultura e eventos da agenda Pan-Amazônia. “Os Estados da Amazônia Legal estão buscando o fortalecimento institucional para que sejam capazes de enfrentarem... 08

A reunião de trabalho, que acontece ao longo do dia no Hangar Convenções e Feiras, em Belém, reúne também ministros, prefeitos, diplomatas, especialistas e ambientalistas. “Hoje é dia de imersão sobre a COP. Conseguimos reunir palestrantes que são parceiros do Governo do Estado nas iniciativas que fizeram com que o Pará...

O ROBÔ “YUMI” ESTÁ AJUDANDO A REVERTER O DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA

A ABB Robotics desenvolveu um projeto piloto, usando um robô colaborativo (cobot) chamado YuMi, em colaboração com a organização sem fins lucrativos Junglekeepers para demonstrar o potencial dos robôs na reversão do desmatamento. A YuMi usa energia solar para automatizar o plantio de sementes, acelerando o reflorestamento na Amazônia e tornando o processo mais eficiente. Usando a tecnologia de nuvem RobotStudio da ABB, os especialistas...

CONFERÊNCIA SOBRE ESTOQUES DE PEIXES DAS NAÇÕES UNIDAS

O UNFSA compromete suas partes a progredir em quatro áreas de gestão pesqueira: conservação e gestão de estoques; mecanismos de cooperação internacional através de organizações regionais de gestão pesqueira (RFMOs); monitoramento, controle e vigilância, e conformidade e execução; e participação efetiva de estados em desenvolvimento e não-partes. A Conferência de Revisão Resumida oferece uma oportunidade periódica para fazer um balanço do progresso e explorar novas formas de fortalecer a gestão eficaz...

AS PRIMEIRAS FLORES DO MUNDO FORAM POLINIZADAS POR INSETOS

O que polinizou essas primeiras plantas com flores, o ancestral de todas as flores que vemos hoje? Seriam insetos carregando pólen entre aquelas primeiras flores, fertilizando-as no processo? Ou talvez outros animais, ou mesmo vento ou água? A pergunta tem sido complicada de responder. No entanto, em uma nova pesquisa publicada no New Phytologist, mostramos que os primeiros polinizadores eram provavelmente insetos. Além do mais, apesar de alguns desvios evolutivos, cerca de 86% de todas as espécies de plantas com flores...

AS ABELHAS PODEM APRENDER, LEMBRAR, PENSAR E TOMAR DECISÕES

As abelhas e outros polinizadores são essenciais para a sociedade humana. Eles fornecem cerca de um terço dos alimentos que comemos , um serviço com um valor global estimado em até US$ 577 bilhões anuais. Mas as abelhas são interessantes de muitas outras maneiras menos conhecidas. Em meu novo livro, “ What a Bee Knows: Exploring the Thoughts, Memories, and Personalities of Bees”, eu me baseio em minha experiência estudando abelhas por quase 50 anos para explorar como essas criaturas percebem o mundo...

[12] 5ª Sessão da Conferência Intergovernamental (IGC) sobre Biodiversidade de áreas além da jurisdição nacional (BBNJ) [15] Derretimento do gelo e aumento do nível do mar: por que 2 graus Celsius é muito alto [22] Fitoplâncton costeiro em ascensão [23] A poeira atmosférica tem um grande impacto na saúde dos oceanos globais [26] Imagens de satélite mostram que a proliferação de algas costeiras aumentou nas últimas duas décadas [30] Turbulenta separação de primavera [31] A Terra “está mais perto de outra extinção em massa do que pensávamos”

[35] O gelo na Antártica já derreteu antes [40] O aquecimento global nas regiões polares

[43] O Norte Global deve US$ 170 trilhões por emissões excessivas de CO2 [46] Imagens de antes e depois que mostram como estamos transformando o planeta [56] Peixe dormindo? [59] Quais animais sobreviverão às mudanças climáticas? [64] Algumas das principais invenções médicas que mudaram o mundo até 2022

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn pauta@revistaamazonia.com.br

PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn amazonia@revistaamazonia.com.br

COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn comercial@revistaamazonia.com.br

ARTICULISTAS/COLABORADORES

ABB Robotics, Amy Imdieke, CAMS, CDB, Dr. Andrew Fanning, Emma Bryce, Emily Cassidy, IGC, Lindsey Doermann, Michael Carlowicz, Michael Heithaus, Ronaldo G. Hühn, Sally Younger, Simon Torkington, Stephen Buchmann, Universidade do Arizona, UNFSA;

FOTOGRAFIAS

ABB Robotics, Addenbrooke’s Hospital, AIE, Cambridge University Hospitals, Concordia Station/ Lagrange Laboratory, Copérnico, Dong Lei/Nature, Dr. Andrew Fanning, EOSDIS LANCE, Esa Journals, GIBS/Worldview, Marco Santoa/Ag.Pará, HardeepSPuri, ICCI, IISD/ENB | Pam Chasek, IISD/ENB | Mike Muzurakis, IUCN, IUCN/u/DarreToBe, Izanbar via Getty Images, Marcelo Halpern, Marcos Vicentti/Secom, MGN, Michael Heithaus, NASA Earth Observatory, NASA Earth Observatory por Wanmei Liang, NASA Earth Observatory/Lauren Dauphin, NASA-JPL/Caltech, NASA Ozone Watch, NASA via AP/Arquivo, Nature Sustainability, NHS Foundation Trust/PA, NOAA, Norman Kuring/MODIS da NASA, NWS Alaska-Pacific River Forecast Center, OMM, Pincheira-Donoso, Paul Souders via Getty Images, Queen’s University Belfast, Reuters, Rudolph Hühn, Ruby E Stephens et al., Santiago Ramirez Barahona, SB58, Steve Gschmeissner/Science Photo, Universidade de Leeds, Universidade Internacional da Flórida, Unsplash, Xiang Zhèng, Wikicommons;

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

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DESKTOP

Rodolph Pyle

NOSSA CAPA

Abelha na colmeia sobre favo de mel. Há um pôster de abelha pendurado no Centro de Ciências Espaciais da NASA que diz: “Aerodinamicamente o corpo de uma abelha não é feito para voar; o bom é que a abelha não sabe”. A lei da física diz que uma abelha não pode voar, o princípio aerodinâmico diz que a amplitude de suas asas é muito pequena para conservar seu enorme corpo em voo, mas uma abelha não sabe, ela não conhece nada sobre física nem a sua lógica e voa de qualquer maneira. Isso é o que todos nós podemos fazer, voar e prevalecer em cada instante diante de qualquer dificuldade e diante de qualquer circunstância apesar do que disserem ou fazerem. Sejamos abelhas, não importa o tamanho das nossas asas, erguemos voo e desfrutaremos do pólen da vida. Foto: Cortesia NASA

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DA COP30 EM BELÉM
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25º Fórum de Governadores da Amazônia Legal

Fórum dos Governadores da Amazônia Legal lança Carta de Cuiabá destacando importância de tratamento estratégico da Amazônia

Oevento reuniu governadores e representantes dos Estados do Amapá, Acre, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins, Roraima, Pará, Rondônia e do Maranhão. Os compromissos iniciaram em reunião com o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, e em seguida, foi aberta a Assembleia Geral para debates sobre os resultados das reuniões das Câmaras Setoriais de Meio Ambiente, Saúde, Segurança Pública e Agricultura e eventos da agenda Pan-Amazônia.

“Os Estados da Amazônia Legal estão buscando o fortalecimento institucional para que sejam capazes de enfrentarem os seus desafios e, particularmente, o desafio territorial certamente é um dos maiores, seja pela extensão, seja pelas dificuldades logísticas e também pela sobreposição de jurisdição destas áreas”, disse Helder Barbalho.O chefe do Executivo do Mato Grosso reforçou que o fórum é importante na construção de uma agenda comum para a integração de todos os Estados da região.

Carta de Cuiabá

O 25º Fórum dos Governadores da Amazônia Legal começou com reuniões das Câmaras Setoriais que debateram estratégias contra crimes na Amazônia Legal, desenvolvimento sustentável, entre outros assuntos.Durante o evento, também foram realizadas oficinas para formular contribuições para a Carta de Cuiabá, com o posicionamento sobre a Cúpula da Amazônia, que acontece no mês de agosto, em Belém, entre os países da Pan-Amazônia e membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname.

O documento, validado durante a Assembleia Geral, reúne informações sobre as metas de gestão, o fortalecimento de trabalho através de políticas públicas para que os Estados possam alcançar suas metas de redução de emissões de gases, economia verde, matriz energética sustentável e descarbonização, além do ponto de vista de que a Amazônia deve ser tratada de forma estratégica para o Brasil, e a criação de uma frente parlamentar mista da Amazônia Legal.

“Discutimos assuntos ligados à regularização fundiária, questões ambientais, segurança pública, compras compartilhadas e essas câmaras produziram importantes contribuições de uma troca de experiências e, acima de tudo, nessa construção de agenda comum para que nós possamos, juntos, fazer com que essas ações, ao serem implementadas, produzam um resultado mais efetivo e mais eficiente para essa população que nós representamos na condições de chefes do executivo”, explicou o governador Mauro Mendes.

“Em defesa da Amazônia, nós defendemos que: a Amazônia deve ser tratada do ponto de vista estratégico para o Brasil em todas as suas esferas: ambiental e de desenvolvimento sustentável e humano. Apoiamos a criação de uma Frente Parlamentar Mista da Amazônia Legal, para que senadores e deputados federais do Estados da Amazônia Legal possam atuar na defesa dos interesses comuns da região no Congresso Nacional”, disse o governador Helder Barbalho ao ler a Carta de Cuiabá. Ainda durante a reunião dos governadores foi referendada a nomeação de Marcello Brito, como secretário-executivo do Consórcio da Amazônia Legal, e as criações das Câmaras Setoriais de Agricultura e Economia Verde, e de Cultura.

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Governadores debatendo interesses sociais em benefício da Amazônia Fotos: Marco Santoa/Ag.Pará, Marcos Vicentti/Secom Durante a Assembleia Geral dos Governadores da Amazônia Legal, no Palácio dos Paiaguás, em Cuiabá (MT)

CARTA DE CUIABÁ

Nós, os governadores dos estados da Amazônia Legal, reunidos neste dia 16 de junho de 2023, em Cuiabá/MT, durante o 25º Fórum dos Governadores, apresentamos à sociedade e ao Governo Federal as nossas deliberações e subsídios ao posicionamento brasileiro na Cúpula da Amazônia, a realizar-se em agosto de 2023, em Belém/PA, entre os países da Pan-Amazônia e membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, e Suriname.

Em atenção ao pacto federativo estabelecido pela Constituição Federal de 1988 e à atuação legal dos governos da Amazônia Legal em seus respectivos territórios, é essencial que o Governo Federal, em seu posicionamento para a Cúpula da Amazônia, leve em consideração o posicionamento conjunto dos nove estados consorciados (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), que são objetos e agentes dos compromissos a serem estabelecidos, sobre temas relativos ao meio ambiente, segurança pública, direitos dos povos indígenas e povos e comunidades tradicionais, crise climática, segurança energética e alimentar, produção com geração de emprego, renda e fomento a atividades que valorizem a floresta em pé.

A unidade dos governadores se manifesta em defesa dos interesses da Região Amazônica:

1. Os Estados continuarão executando ações para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida de cerca de 30 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, com investimentos em segurança, saúde, educação, no social e meio ambiente;

2. Estaremos envidando todos os esforços para garantir que os potenciais e riquezas naturais possam ser aproveitados de maneira sustentável e garantindo a proteção da floresta, para gerar melhorias significativas à população desses Estados;

3. A Amazônia será tratada do ponto de vista estratégico para o Brasil, em todas as suas esferas: ambiental e de desenvolvimento sustentável e humano, dando voz às pessoas que vivem nessas localidades;

4. O protagonismo de defender a Amazônia será exercido por aqueles que de forma legítima representam os estados que integram esse bioma.

5. Apoiamos a criação de uma Frente Parlamentar Mista da Amazônia Legal, para que os Senadores e Deputados Federais dos estados da Amazônia Legal possam atuar na defesa dos interesses comuns da região no Congresso Nacional. Os governos nacionais e subnacionais Pan-Amazônicos, em especial os Governos Federal e estaduais da Amazônia Legal brasileira, agora têm local e data para apresentar ao mundo os resultados de suas políticas públicas e ações para a região. O anúncio da escolha de Belém/PA como anfitriã da COP-30 pela ONU nos abre uma janela de oportunidades que se encerrará em dezembro de 2025. É neste sentido que pactuamos a colaboração mútua e pré-competitiva, a fim de que possamos construir e compartilhar soluções para os desafios comuns. Por isso, reivindicamos que as recomendações acima estejam representadas no posicionamento do Governo Federal durante a Cúpula, assim refletindo, de um lado, as nossas trajetórias, estratégias e colaborações; e, de outro, o empenho democrático que, seguramente, havemos de observar na articulação regional. Apenas pela atuação conjunta e estratégica poderemos viabilizar o combate à pobreza e o salto de desenvolvimento desejado para a região, impulsionado por uma economia sustentável que preserve o meio ambiente e contribua para a qualidade da vida na Terra.

Cuiabá,16 de

2023

BRANDÃO

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junhode HELDER ZAHLUTH BARBALHO Governador do Estado do Pará Presidente do Consórcio da Amazônia Legal GLADSON LIMA CAMELI Governador do Estado do Acre CLECIO LUIS VILHENA VIEIRA Governador do Estado do Amapá WILSON MIRANDA LIMA Governador do Estado do Amazonas MAURO MENDES FERREIRA Governador do Estado do Mato Grosso SÉRGIO GONÇALVES DA SILVA Vice-Governador do Estado de Rondônia ANTONIO GARCIA DE ALMEIDA Governador do Estado de Roraima PEDRO CARVALHO CHAGAS Secretário Estado de Meio Ambiente representando o Governador do Estado do Maranhão, CARLOS ORLEANS JUNIOR MARCELLO DE LIMA LELIS Secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos representando o Governador do Estado do Tocantins WANDERLEI BARBOSA CASTRO

Autoridades federais, estaduais e municipais defendem e explicam importância da COP30 em Belém

O governador Helder Barbalho e a vice-governadora do Estado, Hanna Ghassan, junto com gestores, presidentes de autarquias e secretários de Estado, participaram nesta segunda-feira (26) da primeira reunião técnica expandida de trabalho, como ação preparatória para a Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém

Areunião de trabalho, que acontece ao longo do dia no Hangar Convenções e Feiras, em Belém, reúne também ministros, prefeitos, diplomatas, especialistas e ambientalistas. “Hoje é dia de imersão sobre a COP. Conseguimos reunir palestrantes que são parceiros do Governo do Estado nas iniciativas que fizeram com que o Pará viabilizasse a candidatura e, agora, ser sede deste evento global que vai gerar oportunidades aos paraenses”, explicou o governador Helder Barbalho.

A nossa agenda é dar conta do recado e fazer a melhor COP do mundo aqui em Belém do Pará”, alertou o chefe do Poder Executivo Estadual paraense. Helder Barbalho também exemplificou que uma edição da COP tem proporção similar com uma edição de Copa do Mundo ou dos Jogos Olímpicos.

Barbalho reafirmou que a COP irá gerar oportunidades e legado aos paraenses. “Essa agenda é para cada um que ama esse Estado e tem a oportunidade de deixar um legado.

Cada um vai ter que fazer a sua parte. Essa é uma agenda transversal”, convocou o governador.

“Estamos falando de um evento que vai reunir desde os povos tradicionais até os presidentes dos maiores e mais importantes países. Serão 197 países presentes em nosso Estado. Precisamos estar preparados e termos a dimensão de nossas responsabilidades.

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Para o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, Belém vai ter uma das maiores COP da história e a maior COP popular Fotos: Joyce Ferreira/Comus, Marco Santos / Ag. Pará

A vice-governadora Hanna Ghassan, que atua na coordenação das ações da COP, ponderou que o compartilhamento de informações com os servidores é uma oportunidade de esclarecer dúvidas e permitir avanços da máquina pública.

“Espero que esse dia seja muito produtivo e esclarecedor para todos nós. Que todos saiam daqui compreendendo melhor o que é a COP.

Esse é o grande objetivo”, disse. “Muito nos orgulha sediar um evento deste porte. Que cada um presente seja multiplicador e dissemine informações para o restante de suas equipes nas secretarias e órgãos.

Esse evento só vai dar certo se estivermos engajados e com uma força conjunta. Essa força envolve os governos federal e estadual, prefeitura, iniciativa privada e sociedade.

Assim, podemos nos programar e realizar a melhor COP de todos os tempos”, avaliou Hanna Ghassan.

A ministra Liliam Chagas, do Departamento de Clima do Ministério de Relações Exteriores (MRE), ponderou que a COP é um evento que cresce em tamanho e participação a cada edição.

A ministra explicou que a COP é uma reunião intergovernamental entre países. “É um evento dinâmico que aumenta de dimensão e importância a cada ano. Possivelmente a de 2025 seja a maior da história”, ponderou Liliam Chagas.

“Esse evento é o maior encontro das Nações Unidas. Belém estar recebendo um evento desta magnitude e importância é algo especial. Quero agradecer aos paraenses que estão dispostos em receber um evento deste porte.

Não é simplesmente uma COP, ele vem 33 anos após a Rio 92 e 10 anos após o acordo de Paris”, avaliou a secretária de Clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ana Toni. O secretário adjunto de Meio Ambiente, Clima, Agricultura e Relações Exteriores, da Secretaria Especial de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, Gabriel Lui, argumentou que a expectativa é realizar uma edição marcante.

“Celebramos a escolha de Belém para receber a COP. Estou muito animado com o que Belém vai demonstrar para o mundo com sua capacidade de organização, receptividade e ao ambiente que os negociadores terão aqui para fazer uma COP histórica. Que seja lembrada de forma significativa como foi em Paris. Tenho certeza que vamos fazer uma COP histórica”, disse. Entre as autoridades presentes na reunião de trabalho estavam a ex-ministra Meio Ambiente e Co-Chair do Painel Intergovernamental de Recursos Naturais ONU, Izabella Teixeira; o embaixador e secretário de Clima – Ministério Relações Exteriores, André Corrêa do Lago; o diplomata embaixador Everton Vieira Vargas; e a presidente da Frente Parlamentar da Câmara Federal para o Fortalecimento da COP30 no Brasil, deputada federal Elcione Barbalho. Também estiveram presentes deputados estaduais e prefeitos.

COP

A Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças de Clima, a COP, reúne anualmente lideranças mundiais para debater soluções para conter o aquecimento global e criar alternativas sustentáveis para a vida na Terra. A conferência deste ano será nos Emirados Árabes. A de 2024 ainda não tem sede definida.

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Secretária nacional do Clima, Ana Toni, afirma que “vamos ter um grande desafio, já que essa COP vai ser, talvez, depois do acordo de Paris, uma das mais importantes COP”

O robô “YuMi” está ajudando a reverter o desmatamento na Amazônia

Projeto piloto entre a ABB Robotics e a organização sem fins lucrativos Junglekeepers demonstra o potencial da robótica e da tecnologia Cloud na reversão do desmatamento. Usando energia solar, o YuMi® automatiza o plantio de sementes, tornando o reflorestamento na Amazônia mais rápido, eficiente e escalável. Projeto da tecnologia RobotStudio® Cloud, possibilita especialistas da ABB simular, refinar e implantar programação robótica em tempo real a partir de 12.000 km de distância da Suécia

AABB Robotics desenvolveu um projeto piloto, usando um robô colaborativo (cobot) chamado YuMi, em colaboração com a organização sem fins lucrativos Junglekeepers para demonstrar o potencial dos robôs na reversão do desmatamento.

A YuMi usa energia solar para automatizar o plantio de sementes, acelerando o reflorestamento na Amazônia e tornando o processo mais eficiente. Usando a tecnologia de nuvem RobotStudio da ABB, os especialistas da ABB simularam, refinaram e implantaram programação robótica em tempo real a 12.000 km (7.460 milhas) de distância em Västerås, Suécia, tornando o YuMi um dos robôs mais remotos do planeta.

“A colaboração da ABB com a Junglekeepers demonstra como a robótica e a tecnologia de nuvem podem desempenhar um papel central no combate ao

desmatamento como um dos principais contribuintes para a mudança climática”, disse Sami Atiya, presidente da ABB Robotics and Discrete Automation. “Nosso programa piloto com o robô mais remoto do mundo está ajudando a automatizar tarefas altamente repetitivas, liberando os guardas florestais para realizar trabalhos mais importantes na floresta tropical e ajudando-os a conservar a terra em que vivem”.

O cobot está automatizando tarefas de plantio em um laboratório de selva em uma região remota da Amazônia peruana, acelerando o processo e permitindo que os voluntários dos Junglekeepers concentrem seu tempo e recursos em trabalhos mais impactantes, como patrulhar a área para deter madeireiros ilegais, educar os moradores sobre a preservação da mata atlântica e o plantio de mudas maduras.

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Fotos: ABB Robotics YuMi assume tarefas repetitivas para liberar um guarda florestal Junglekeeper para realizar tarefas de maior valor agregado YuMi, o robô da ABB, ajudando a reverter o desmatamento na Amazônia

YuMi é capaz de cavar um buraco no solo, jogar as sementes, compactar o solo por cima e marcá-lo com uma etiqueta com código de cores. Com o YuMi, o Junglekeepers pode replantar uma área do tamanho de dois campos de futebol a cada dois dias em zonas que requerem reflorestamento.

“Até agora, perdemos 20% da área total da floresta amazônica; sem o uso da tecnologia hoje, a conservação ficará paralisada”, disse Moshin Kazmi, co-fundador da Junglekeepers. “Ter Yumi em nossa base é uma

ótima maneira de expor nossos patrulheiros a novas formas de fazer as coisas. Ele acelera e expande nossas operações e avança nossa missão”.

O YuMi não apenas torna o reflorestamento mais rápido e eficiente, mas também permite que os Junglekeepers continuem fazendo o trabalho de reflorestamento sem ter que encontrar pessoas dispostas a ficar e trabalhar em um local distante da selva. Após a instalação, o YuMi funciona de forma autônoma e só precisará de solução de problemas conforme surgirem.

“É muito importante ter uma combinação de alta tecnologia e conservação. Existem muitas tecnologias que podemos usar para preservar a floresta, e esse robô pode ajudar muito a reflorestar mais rápido, mas temos que ser muito seletivos. Temos que usar em áreas de alto desmatamento para acelerar o processo de replantio”.

O projeto piloto está findando e após o término do programa, a ABB planeja continuar explorando oportunidades para ajudar os Junglekeepers de forma mais ampla.

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Acelerando tarefas de plantio na selva, em uma região remota da Amazônia peruana. Assista o Video em: www.youtu.be/hmPsKy1Q3nY Acelerando tarefas de plantio na selva, em uma região remota da Amazônia peruana. Assista o Video em: www.youtu.be/hmPsKy1Q3nY

5ª Sessão da Conferência

Intergovernamental (IGC) sobre Biodiversidade de áreas além da jurisdição nacional (BBNJ)

Uma sensação palpável de entusiasmo permeou a Câmara do Conselho Econômico e Social (ECOSOC) na sede da ONU em Nova York, quando os membros da Conferência Intergovernamental (IGC) se reuniram para adotar o novo tratado sob a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS) em a conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha de áreas fora da jurisdição nacional (BBNJ).

Abrindo a reunião, o presidente do IGC, Rena Lee, elogiou os delegados por seus esforços incansáveis para chegar a um consenso sobre o novo instrumento juridicamente vinculativo.

Csaba Kőrösi, Presidente da Assembleia Geral da ONU, agradeceu a todos os delegados por seu trabalho árduo em direção a esta “conquista histórica, que testemunha seu compromisso coletivo com a conservação e uso sustentável de BBNJ”. O secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que o acordo injeta nova vida no oceano em um momento crítico, ameaçado pelas mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição.

Ele destacou que “o espírito de cooperação multilateral está vivo e bem”, e pediu a ratificação oportuna do acordo para entrar em vigor e alcançar os objetivos comuns.

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Encerrando um processo de negociação que durou quase duas décadas, a quinta sessão retomada do IGC, realizada na sede da ONU em Nova York, de 19 a 20 de junho de 2023, reuniu mais de 200 delegados representando governos, sociedade civil, academia e ONU e outros organizações internacionais
Secretário-geral da ONU, António Guterres Aplausos para a adoção do Acordo BBNJ Fotos: IISD/ENB | Pam Chasek, Marcelo Halpern

Ele agradeceu à presidente do IGC, Lee, por sua liderança e dedicação, bem como a todos os delegados e participantes, parabenizando-os por sua conquista.

Várias delegações também saudaram as disposições específicas do Acordo, particularmente a referência ao patrimônio comum da humanidade, e aquelas relacionadas à repartição de benefícios dos recursos genéticos marinhos, incluindo informações de sequência digital e capacitação, bem como aquelas sobre assistência financeira e técnica, a transferência de tecnologia marinha e pesquisa científica marinha.

O Oceano, que cobre 70% do planeta, sustenta todas as facetas da vida na Terra. Quase dois terços dela, junto com suas espécies e ecossistemas únicos, estão em áreas fora da jurisdição nacional.

A Terra depende do Oceano para os múltiplos benefícios que proporciona. Da nutrição e benefícios para a saúde ao controle climático, o oceano é vital para a vida na Terra. Quase dois terços do oceano, juntamente com suas espécies e ecossistemas únicos, estão em áreas fora da jurisdição nacional. No entanto, estruturas legais fragmentadas deixaram a biodiversidade nessas áreas vulnerável a ameaças crescentes, incluindo mudanças climáticas, poluição por plásticos, derramamentos de óleo, pesca predatória, destruição de habitats, acidificação dos oceanos e ruído subaquático.

Estruturas legais fragmentadas deixaram a biodiversidade nessas áreas vulnerável a ameaças cada vez maiores, incluindo mudanças climáticas, poluição plástica, derramamentos de óleo, pesca predatória, destruição de habitats, acidificação dos oceanos e ruído subaquático.

Embora as negociações sobre o Acordo tenham sido concluídas com sucesso no início de março de 2023, o rascunho do texto teve que passar por uma edição técnica por um grupo de trabalho informal aberto antes que pudesse ser adotado. Assim, em 19 de junho de 2023, os governos finalmente adotaram o novo instrumento internacional juridicamente vinculativo sobre BBNJ. Este é o terceiro acordo de implementação no âmbito da UNCLOS, após o Acordo de 1994 que estabelece a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos e o Acordo de Estoques de Peixes de 1995.

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A presidente do IGC, Rena Lee, encerra a sessão final do IGC Oceano

Durante o tão esperado evento, os delegados celebraram a conquista histórica como um triunfo do multilateralismo, com muitos reconhecendo que o Acordo não poderia ter chegado em breve, pois as ameaças ao Oceano continuam a aumentar. A adoção do novo Acordo foi anunciada como uma nova era para a governança dos oceanos, com várias delegações estabelecendo vínculos com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o Quadro de Biodiversidade Global Kunming-Montreal 2022 sob a Convenção sobre Diversidade Biológica. Embora o Acordo tenha sido adotado por consenso, as delegações concordaram em incluir uma nota de rodapé no Relatório da Conferência registrando a declaração da Federação Russa distanciando-se do consenso. As delegações elogiaram a presidente do IGC, Rena Lee, por seus esforços para “dirigir o navio com segurança até a costa”.

Ao comemorar sua conquista, muitos também pediram a ratificação antecipada do novo Acordo para garantir que a implementação possa começar o mais rápido possível. Várias delegações representando tanto o Sul Global quanto o Norte Global pediram esforços robustos de mobilização de recursos para reforçar a implementação do Acordo. Olhando para o futuro, várias delegações pediram aos Estados que assinem o Acordo quando ele for aberto para assinatura em 20 de setembro de 2023. Eles também pediram o início de um processo preparatório para preparar o caminho para a entrada em vigor do Acordo, juntamente com uma conferência de doadores para mobilizar os recursos necessários para ratificação e implementação.

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Conservação e uso sustentável da diversidade biológica marinha além das áreas de jurisdição Delegados aplaudem a adoção do Acordo BBNJ Presidente do IGC , Rena Lee , Singapura

Derretimento do gelo e aumento do nível do mar: por que 2 graus Celsius é muito alto

Nas negociações climáticas anuais de junho 2023 em Bonn (SB58), na Alemanha, um encontro de nações montanhosas, polares e de baixa altitude se reuniu em um evento paralelo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC ) . O evento, intitulado “Perda de recursos hídricos nas montanhas e aumento do nível do mar: por que 2°C é muito alto para 3,5 bilhões”, enfocou as implicações do desaparecimento constante do gelo do planeta para a ambição e mitigação do clima, perdas e danos e adaptação.

O evento deixou claro que as principais vias de negociação, como mitigação, perdas e danos e adaptação, estão profundamente interconectadas com as realidades físicas do derretimento da neve e do gelo. Conforme declarado pelo relatório anual State of the Cryosphere publicado durante a COP27 , “Não há como negociar com o ponto de fusão do gelo”.

O evento paralelo construído em parte em um workshop de criosfera pré-sessão - o primeiro desse tipo em uma negociação da UNFCCC - sob os auspícios do Grupo de Alto Nível Ambition on Melting Ice (AMI) sobre Elevação do Nível do Mar e Recursos Hídricos de Montanha , que inclui países não apenas em regiões polares

As reuniões de Bonn dos órgãos subsidiários da UNFCCC, conhecidas como “SB58”, acontecem este ano de 5 a 15 de junho. Embora de natureza amplamente científica e técnica, essas reuniões ocorrem em um momento chave no processo da UNFCCC, estabelecendo as bases enquanto os negociadores se preparam para a COP28 em dezembro, com os Emirados Árabes Unidos como presidente da COP.

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Joanna Post (secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), Eduardo Silva, do Chile, e Annika Christell, da Suécia, em um evento paralelo da SB58 em junho em Bonn, Alemanha por *Amy Imdieke Fotos: ICCI, OMM, SB58

e montanhosas, mas também nações costeiras e de baixa altitude vulneráveis à perda de água por acúmulo de neve e geleiras, bem como pelo aumento do nível do mar na Groenlândia e nos mantos de gelo da Antártida.

No evento, negociadores de diversos países expressaram sua preocupação com os impactos da perda da criosfera, incluindo Eduardo Silva, do Chile (país copresidente da AMI); Carlos Fuller de Belize; Annika Christell da Suécia polar; e Namgay Choden, um jovem delegado da nação do Butão, no Himalaia. Juntos, esses negociadores se uniram aos principais cientistas para fornecer uma mensagem clara: 2 graus Celsius de aquecimento é muito alto.

“Cinquenta por cento da população do Caribe vive ao longo da zona costeira”, disse Fuller, sobre a necessidade de reduções urgentes de emissões para manter as temperaturas globais abaixo de 1,5 grau Celsius. Ele continuou: “No final das contas, se isso não for feito agora, já vemos a migração em massa ocorrendo da África para a Europa, das Américas para os EUA. Vai ficar muito pior, a menos que comecemos a lidar com isso agora”.

Uma visão geral da mais recente ciência da neve e do gelo examinada no workshop pré-sessão foi dada por Pam Pearson, diretora da Iniciativa Internacional do Clima da Criosfera (ICCI), que atua como secretaria da AMI.

Izabella Koziell, vice-diretora do Centro Internacional para Desenvolvimento Integrado de Montanhas ( ICIMOD ), que apoia oito países membros regionais, fez o discurso principal, destacando os desafios enfrentados pela região de Hindu Kush Himalaia.

As principais dinâmicas, incluindo camadas de gelo, geleiras e neve nas montanhas, permafrost, gelo marinho e oceanos polares têm limites críticos em torno de 1,5 a 2 graus Celsius de aquecimento, com o potencial de

Regiões caribenhas das Grandes Antilhas, Pequenas Antilhas e Bahamas. 50% da população do Caribe vive ao longo da zona costeira

desencadear consequências devastadoras em comunidades em todo o mundo. Um estudo da Nature publicado na semana passada ressalta essa mensagem.

Koziell descreveu o papel fundamental das geleiras e da neve no Hindu Kush Himalaia, uma região onde as montanhas oferecem o maior estoque de água congelada fora dos pólos. “1,5 graus Celsius já está ao nosso alcance, como ouvimos recentemente da OMM [Organização Meteorológica Mundial], e isso já é muito quente porque os impactos já estão presentes”, disse ela. “As implicações potenciais de chegar a 1,5 grau Celsius e além são enormes e afetarão a todos nós.”

“Estamos perdendo rapidamente nossas geleiras, e isso não afetará apenas nossa segurança hídrica e alimentar”, disse Choden. “GLOFs [inundações de explosão de lagos glaciares] causarão enormes riscos às florestas e biodiversidade, infraestrutura, pessoas e economia… [incluindo] energia hidrelétrica e agricultura, dois dos setores mais vulneráveis às mudanças climáticas, intimamente relacionados à estabilidade da criosfera.”

Reduções urgentes de emissões são essenciais para enfrentar a crise climática e reduzir as consequências de longo alcance, de longo prazo e intergeracionais da perda de neve e gelo em escala global. “Sabendo o que sabemos hoje, 2 graus Celsius não deveria nem estar na mesa”, disse Fuller.

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Não há como negociar com o ponto de fusão do gelo

Conferência sobre Estoques de Peixes das Nações Unidas

O oceano está em perigo, pois os ecossistemas marinhos e todas as espécies vivas enfrentam desafios crescentes relacionados à sobrepesca, mudança s climáticas, perda de biodiversidade, poluição e acidificação, para citar alg uns. Os esforços para enfrentar os desafios relacionados à pesca para garantir a saúde e a sustentabilidade a longo prazo dos recursos e ecossistemas marinhos v ivos em um ambiente de política oceânica em evolução foram o foco da atenção na Conferência de Revisão Retomada do Acordo para a Implementação das Disposições da Convenção da ONU sobre o Direito do Mar (UNCLOS) relativo à Con servação e Gestão de Estoques de Peixes Transzonais e Altamente Migratórios, conhecido como Acordo das Nações Unidas sobre Estoques de Peixes (UNFSA)

OUNFSA compromete suas partes a progredir em quatro áreas de gestão pesqueira: conservação e gestão de estoques; mecanismos de cooperação internacional através de organizações regionais de gestão pesqueira (RFMOs); monitoramento, controle e vigilância, e conformidade e execução; e participação efetiva de estados em desenvolvimento e não-partes. A Conferência de Revisão Resumida oferece uma oportunidade periódica para fazer um balanço do progresso e explorar novas formas de fortalecer a gestão eficaz dos oceanos. A este respeito, a reunião foi bem-sucedida.

Os delegados que se reuniram na sede da ONU em Nova York puderam revisar as recomendações da última reunião da Conferência de Revisão em 2016 e fazer uma infinidade de propostas nas áreas de gestão pesqueira. As últimas notícias sobre a sustentabilidade dos estoques de peixes sob o mandato do UNFSA não são reconfortantes nem desoladoras. As evidências mostram que, por um lado, a situação geral dos estoques de peixes altamente migratórios e dos estoques de peixes transzonais não melhorou desde 2016.

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Fotos: IISD/ENB | Mike Muzurakis, Rudolph Hühn,

Por outro lado, as histórias de sucesso da gestão de estoques específicos deixam espaço para otimismo que, por meio de estratégias cuidadosamente planejadas e cientificamente iniciativas de gestão informadas, a melhoria está ao nosso alcance.

O UNFSA visa garantir a conservação a longo prazo e o uso sustentável dos estoques de peixes transzonais e altamente migratórios, e inclui princípios gerais para sua conservação e gestão, e disposições sobre, inter alia: aplicação da abordagem de precaução; compatibilidade das medidas de conservação e gestão; cooperação para a conservação e gestão; ORGP; recolha e disponibilização de informação e cooperação em investigação científica; não membros de RFMOs; deveres de, e conformidade e execução por, estados de bandeira; internacional, sub-regional e regional na aplicação; procedimentos de embarque e inspeção; medidas tomadas pelos estados do porto; requisitos especiais e formas de cooperação com países em desenvolvimento; e solução de controvérsias.

O Acordo estabelece um conjunto de direitos e obrigações dos Estados para conservar e gerir os tipos de estoques pesqueiros sob sua jurisdição, bem como espécies associadas e dependentes, e para proteger o meio ambiente marinho.

Abertura da conferência de revisão retomada

Na abertura, 22 de maio, na sede da ONU, em Nova York os delegados elegeram o Presidente da Conferência de Revisão Retomada sobre

Estoques de Peixes: Joji Morishita (Japão) por aclamação. Em seguida, Morishita enfatizou que, apesar do progresso, persistem problemas com a conservação e gestão de estoques de peixes altamente migratórios e transzonais.

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Ele destacou importantes desenvolvimentos recentes, incluindo o Acordo de Subsídios à Pesca da Organização Mundial do Comércio (OMC); a adoção do GBF; e o Acordo BBNJ. Ele enfatizou que se espera que os RFMOs desempenhem um papel de coordenação chave na estrutura BBNJ. Sublinhou ainda os desafios colocados pelas alterações climáticas e pela pesca IUU. Mathias, em nome do secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou os benefícios relacionados com a pesca, em particular para os países em desenvolvimento. Ele destacou que a sobrepesca, a pesca IUU e as práticas de pesca destrutivas prejudicam a sustentabilidade da pesca mundial. Ele pediu “redobrar nossos esforços para preservar a sustentabilidade da pesca a longo prazo” implementando totalmente o UNFSA.

Ele disse que o nível geral de implementação melhorou, embora de forma desigual, já que alguns estados e RFMOs procederam de forma mais expedita do que outros. Vários delegados e observadores fizeram declarações gerais, que podem ser encontradas em: www.bit.ly/3WLwhwB

No documento final de 20 páginas, a Conferência de Revisão reafirma que UNCLOS e UNFSA fornecem a estrutura legal para conservação e gestão de estoques de peixes transzonais e estoques de peixes altamente migratórios, levando em consideração outros instrumentos internacionais relevantes.

Congratula-se com o progresso significativo feito na implementação de várias das recomendações da Conferência de Revisão em 2016, ao mesmo tempo em

que expressa preocupação com a falta de progresso em outras áreas, inclusive sobre a situação geral dos estoques de peixes altamente migratórios e transzonais, que não avançou desde 2016, apesar de melhorias em alguns estoques e regiões.

Sobre a conservação e gestão dos stocks, as recomendações incidem sobre: a adoção e implementação de medidas eficazes de conservação e gestão; a aplicação das abordagens de precaução e ecossistêmica; determinar pontos de referência ou pontos de referência provisórios para estoques específicos; fatores ambientais que afetam os ecossistemas marinhos, incluindo impactos adversos das mudanças climáticas e acidificação dos oceanos; desenvolvimento de ferramentas de gestão por área; a redução da capacidade de pesca para níveis compatíveis com a sustentabilidade dos estoques pesqueiros; a eliminação de subsídios que contribuem para a pesca IUU, sobrepesca e sobrecapacidade; artes de pesca perdidas, abandonadas ou de outra forma descartadas, incluindo detritos marinhos; coleta de dados e compartilhamento de informações e arranjos de dados da FAO e banco de dados de estatísticas globais de pesca; conservação e gestão de tubarões e conservação de aves marinhas; medidas de conservação e gestão da pesca de profundidade; fortalecimento da interface ciência-política; estabelecimento de estratégias de reconstrução e recuperação dos estoques pesqueiros; gerenciamento de bycatch e descartes; e cumprimento das obrigações como membros ou não membros cooperantes de RFMOs; e estabelecimento de novos RFMOs ou acordos.

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Rodrigo Barenho , Brasil Governos membros não estão adotando as medidas recomendadas suficientes para melhorar a sustentabilidade

Sobre monitoramento, controle e vigilância, conformidade e fiscalização, as recomendações se concentram em: fortalecimento da responsabilidade do estado de bandeira e avaliação do desempenho do estado de bandeira; embarcações de pesca sem nacionalidade; participação no PSMA, promoção de medidas do estado do porto e controle das atividades de pesca predatória dos nacionais; fortalecimento de esquemas de conformidade, cooperação e fiscalização em RFMOs e desenvolvimento de mecanismos alternativos para conformidade e fiscalização; regulamentação de embarcações de transbordo, abastecimento e reabastecimento; fortalecer os acordos de acesso à pesca e medidas relacionadas ao mercado; participação

e prestação de apoio à Rede Internacional de Monitoramento, Controle e Vigilância para Atividades relacionadas com a Pesca, bem como no Grupo de Trabalho Conjunto FAO/Organização Internacional do Trabalho/ Organização Marítima Internacional Ad Hoc sobre pesca IUU e assuntos relacionados; e participação no Acordo para Promover o Cumprimento das Medidas Internacionais de Conservação e Gestão por Embarcações de Pesca em Alto Mar e avançar nas ferramentas de intercâmbio de informações relacionadas.

Plenária de Encerramento

O Presidente Morishita enfatizou que os membros do UNFSA, RFMOs e seus membros, e todas as partes interessadas são responsáveis pela conservação e gestão dos recursos e ecossistemas vivos marinhos.

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Joji Morishita, Presidente da Conferência de Revisão, agradeceu a todos os delegados e participantes por seu trabalho árduo e compromisso e suspendeu a Conferência de Revisão Retomada às 16h27 Para melhorar a gestão eficaz e fortalecer a operacionalização da Abordagem Ecossistêmica para a Pesca

Ele lamentou o baixo nível de representação do Sul Global, destacando que, apesar das dificuldades e limitações relacionadas à participação, “sabemos que a produção, utilização e responsabilidade pela conservação dos recursos genéticos marinhos está agora, em muitos casos, nas mãos dos países do Sul Global”.

O Presidente Morishita observou que o relatório da reunião, contendo um resumo das discussões e o documento final em anexo, será disponibilizado em algumas semanas no site da Divisão das Nações Unidas para Assuntos Marítimos e Direito do Mar, com vistas a permitindo que as delegações interessadas apresentem correções técnicas. A Conferência de Revisão Resumida também atraiu sentimentos contraditórios entre os participantes. Com a participação de mais de 100 delegados, representando governos, RFMOs, agências especializadas da ONU e organizações não-governamentais.

Ele observou ainda que a conferência será retomada em um momento a ser determinado, não antes de 2028. Ele agradeceu a todos os delegados e participantes por seu trabalho árduo e compromisso e suspendeu a Conferência de Revisão Retomada às 16h27.

As marés estão mudando

As “marés estão mudando” é o tema do Dia Mundial dos Oceanos de 2023, a ser comemorado em 8 de junho de 2023. Alguns disseram que é um indicador adequado das mudanças positivas

na agenda oceânica. Como observou um delegado, embora o pacote de recomendações possa não ser tão ambicioso quanto o desejado, “há uma onda de novos acordos e arranjos oceânicos que fornecerão as ferramentas necessárias para consertar o tecido oceânico!”

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No encerramento de Conferência de Revisão Retomada do Acordo de Estoques de Peixes da ONU, à frente o Presidente Morishita

Fitoplâncton costeiro em ascensão

Ocrescimento explosivo das populações de fitoplâncton pode produzir cores vibrantes de azul, verde ou vermelho , cobrindo milhares de quilômetros quadrados do oceano. Embora o fitoplâncton desempenhe um papel crucial na vida na Terra, às vezes eles podem ameaçar os ecossistemas costeiros, a pesca e a saúde humana ao liberar toxinas e causar esgotamento local do oxigênio. Pesquisas recentes descobriram que as flores se expandiram e se tornaram mais frequentes no século XXI.

Uma equipe internacional de cientistas analisou 18 anos de imagens do Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) no satélite Aqua da NASA para desenvolver um banco de dados global inédito de florações costeiras de fitoplâncton de 2003 a 2020. O banco de dados documenta quando e onde as florações ocorreram.

Depois de analisar 760.000 imagens MODIS, a equipe de pesquisa descobriu que as florações de fitoplâncton – que ocorreram ao longo das costas de 126 países – tornaram-se 60% mais frequentes durante o período de estudo e aumentaram de tamanho em 13%. As florações costeiras afetaram 31,5 milhões de quilômetros quadrados, o que representa 9% de toda a área oceânica. O mapa acima mostra tendências na frequência de florações costeiras de fitoplâncton durante o período de estudo. As áreas vermelhas são onde as flores começaram a aparecer com mais frequência. Essa tendência foi observada na maior parte do Hemisfério Sul e nas altas latitudes do Hemisfério Norte, de acordo com Lian Feng, que liderou a pesquisa e é professor da Southern University of Science and Technology em Shenzhen, China. A equipe descobriu que o gradiente nas temperaturas da superfície do mar, usado como

um proxy para a mistura oceânica, estava correlacionado com a frequência de floração. O fitoplâncton prospera com os nutrientes trazidos da mistura de águas mais frias no fundo do oceano com águas mais quentes acima – um processo conhecido como ressurgência.

Alguns dos maiores aumentos na frequência de floração ocorreram nas proximidades de correntes de alta latitude, como a corrente Oyashio no Mar do Japão e a corrente no Golfo do Alasca. Mas algumas correntes, como a corrente da Califórnia no Oceano Pacífico, reduziram a ressurgência, o que levou a menos florações. O uso de fertilizantes e a expansão da produção de aquicultura costeira,

que adiciona nutrientes às áreas costeiras, também foram correlacionados com a proliferação costeira em alguns países, embora essa relação não tenha sido clara em todas as áreas costeiras.

O fitoplâncton é fundamental para a biologia oceânica e para o clima, pelo que qualquer alteração na sua produtividade pode ter uma influência significativa na biodiversidade, nas pescas e no ritmo das alterações climáticas. Esta pesquisa é a primeira a fornecer um mapa global abrangente das tendências da proliferação de fitoplâncton costeiro, possibilitada pelo sensoriamento remoto.

A equipe de pesquisa observou, no entanto, que o método não diferencia entre espécies de fitoplâncton que são inofensivas e aquelas que produzem toxinas ou são prejudiciais aos ambientes marinhos. Mas o futuro lançamento da missão Plankton, Aerosol, Cloud, ocean Ecosystem (PACE) da NASA - que fará medições do oceano do mundo em um espectro mais amplo de comprimentos de onda - permitirá aos pesquisadores separar quais espécies de fitoplâncton estão presentes.

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Florescimentos de organismos semelhantes a plantas perto de áreas costeiras tornaram-se mais frequentes no século XXI
Imagem do dia 30 de maio de 2023. As florações de fitoplâncton – que ocorreram ao longo das costas de 126 países – tornaram-se 60% mais frequentes durante o período de estudo e aumentaram de tamanho em 13% Fotos: NASA Earth Observatory/Lauren Dauphin, usando dados de Dai, Yanhui, et al. (2023), Norman Kuring/MODIS da NASA EOSDIS LANCE e GIBS/Worldview Imagem do Golfo do Alasca em 12 de abril de 2017

A poeira atmosférica tem um grande impacto na saúde dos oceanos globais

Como a poeira do deserto nutre o fitoplâncton: Nas últimas décadas, os cientistas observaram eventos naturais de fertilização oceânica – episódios em que nuvens de cinzas vulcânicas, farinha glacial, fuligem de incêndios florestais e poeira do deserto sopram na superfície do mar e estimulam a proliferação maciça de fitoplâncton. Mas além desses eventos extremos, há uma chuva constante e de longa distância de partículas de poeira no ocean o que promove o crescimento do fitoplâncton quase o ano todo e em quase todas as bacias

por *Sally

Notícias

Pela primeira vez, os pesquisadores demonstraram o impacto significativo da deposição de poeira nos ecossistemas oceânicos globais e nos níveis atmosféricos de dióxido de carbono. Liderada pelo cientista da Oregon State University, Toby Westberry, a equipe publicou suas descobertas na Science.

A pesquisa destaca a importância da poeira como fonte de nutrientes essenciais para o fitoplâncton, que serve como base da cadeia alimentar marinha e desempenha um papel fundamental no ciclo de carbono da Terra. O fitoplâncton, organismos semelhantes a plantas que habitam as camadas superiores do oceano, dependem da poeira de fontes terrestres para obter nutrientes essenciais.

O oceano serve como um componente crítico no ciclo do carbono, pois o dióxido de carbono da atmosfera se dissolve nas águas superficiais, permitindo que o fitoplâncton converta o carbono em matéria orgânica por meio da fotossíntese. Essa matéria orgânica recém-formada então afunda no oceano profundo, onde é armazenada, por meio de um processo conhecido como bomba biológica.

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Younger/Equipe de de Ciências da Terra da NASA, com Michael Carlowicz. Fotos: Ciência, NASA Earth Observatory, NASA Earth Observatory por Wanmei Liang, usando dados MODIS da NASA EOSDIS LANCE e GIBS/Worldview Fitoplânctons, servem como base da cadeia alimentar marinha e desempenha um papel fundamental no ciclo de carbono da Terra. As partículas de poeira podem viajar milhares de quilômetros antes de cair no oceano, onde alimentam o fitoplâncton a longas distâncias da fonte de poeira, disse a coautora do estudo Lorraine Remer, professora de pesquisa da Universidade de Maryland, no Condado de Baltimore. “Sabíamos que o transporte atmosférico de poeira do deserto é parte do que faz o oceano ‘clicar’, mas não sabíamos como encontrá-lo”, disse ela.

O estudo, que envolveu cientistas do estado de Oregon, da Universidade de Maryland, do condado de Baltimore (UMBC) e do Goddard Space Flight Center da NASA, estima que a deposição de poeira suporta 4,5% do sumidouro anual global de carbono. Em determinadas regiões, essa contribuição pode chegar a 20% a 40%.

O papel da bomba biológica em remover carbono da atmosfera e armazená-lo nas profundezas do oceano é crucial para regular os níveis de dióxido de carbono atmosférico, que influenciam significativamente o aquecimento global e as mudanças climáticas. Até agora, a compreensão da resposta dos ecossistemas marinhos às entradas atmosféricas era limitada a eventos singularmente grandes, como incêndios florestais, erupções vulcânicas e tempestades extremas de poeira.

Neste estudo, os pesquisadores examinaram a resposta do fitoplâncton às entradas de poeira em escala global usando dados de satélite para observar mudanças na cor do oceano. As imagens coloridas do oceano refletem a abundância e a saúde do fitoplâncton, com águas mais verdes indicando populações saudáveis e abundantes e águas mais azuis representando fitoplâncton escasso e subnutrido. Os pesquisadores da UMBC e da NASA se concentraram em modelar o transporte e deposição de poeira na superfície do oceano. Lorraine Remer, professora pesquisadora do Goddard Earth Sciences Technology and Research Center II, liderado pela UMBC, explicou que determinar a deposição de poeira no oceano é um desafio devido à interferência de tempestades durante as observações de satélite.

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Poeira da África em 18 de junho de 2020, satélite Suomi NPP da NASA-NOAA A poeira atmosférica desempenha um papel surpreendentemente crucial na estabilização dos ecossistemas oceânicos Esta imagem de 8 de abril de 2011, pelo espectro radiômetro (MODIS) no satélite Terra da NASA , mostra a poeira do Saara sobre o Golfo da Biscaia. Uma floração de fitoplâncton na baía faz com que a água pareça verde e azul brilhante. Os sedimentos provavelmente contribuem para algumas das cores, especialmente em áreas mais próximas da costa

A equipe usou um modelo global confirmado da NASA para superar esse obstáculo. A pesquisa revelou que a resposta do fitoplâncton à deposição de poeira varia de acordo com o local.

Em regiões oceânicas de baixa latitude, a entrada de poeira melhora predominantemente a saúde do fitoplâncton sem afetar a abundância.

Em águas de latitudes mais altas, a deposição de poeira leva tanto à melhoria da saúde quanto ao aumento da abundância de fitoplâncton.

Esse contraste é atribuído a diferentes relações entre o fitoplâncton e seus predadores. Em ambientes estáveis de baixa latitude, o equilíbrio entre o crescimento do fitoplâncton e a predação é estreito, resultando em rápido consumo de nova produção e transferência imediata para a cadeia alimentar. Por outro lado, em regiões de latitude mais alta com condições em constante mudança, a ligação entre o fitoplâncton e seus predadores é mais fraca, permitindo que o crescimento do fitoplâncton estimulado pela poeira floresça.

A equipe de pesquisa planeja continuar seu trabalho usando ferramentas de modelagem aprimoradas e dados avançados de satélite da próxima missão de satélite Plankton, Aerosol, Cloud, ocean Ecosystem (PACE) da NASA, incluindo dados coletados pelo instrumento HARP2 projetado e construído pela UMBC. Westberry antecipa que a ligação entre a atmosfera e os oceanos mudará à medida que o planeta continuar a aquecer, enfatizando ainda mais a importância de entender essas interações complexas.

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Cientista da Oregon State University começa a desvendar o papel que a poeira desempenha na nutrição dos ecossistemas oceânicos globais enquanto ajuda a regular os níveis de dióxido de carbono atmosférico Nutrição atmosférica dos ecossistemas oceânicos globais

Imagens de satélite mostram que a proliferação de algas costeiras aumentou nas últimas duas décadas

Florações de fitoplâncton costeiro se expandem e se intensificam no século 21. Pesquisadores usaram imagens de satélite para calcular a área oceânica coberta por proliferação de algas a cada ano desde 2003. Eles revelaram que a área total afetada pelo crescimento do fitoplâncton aumentou 13,2%. Acredita-se que isso seja o resultado do aumento da temperatura da superfície do mar e do escoamento de fertilizantes e esgoto

Uma equipe de cientistas da Terra afiliados a várias instituições na China e nos EUA descobriu que a proliferação de algas costeiras (também conhecidas como florações de fitoplâncton) tem aumentado nas últimas duas décadas. Em seu estudo, publicado na Nature, o grupo analisou dados de satélite fornecidos a eles pela NASA para comparar o tamanho e a frequência da proliferação de algas ao longo das costas dos continentes do mundo.

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Intensificação da proliferação de fitoplâncton nos oceanos costeiros. Fotos: Lian Feng, Nasa, Nature

A proliferação de algas é um acúmulo de algas em uma área compartilhada no topo de uma fonte de água. As algas são plantas aquáticas que contêm clorofila, mas não possuem folhas, raízes, caules, tecido vascular ou flores.

Eles variam em tamanho, desde espécies unicelulares até grandes cadeias de algas marinhas. Eles podem ter cores diferentes e podem habitar sistemas de água doce ou salgada.

A proliferação de algas cresce à medida que sua fonte de alimento cresce, particularmente nitrogênio e fósforo, ambos fornecidos indiretamente por fontes humanas, como o escoamento de fertilizantes.

Pesquisas anteriores mostraram que a proliferação de algas pode servir como fonte de alimento para algumas criaturas marinhas, mas também pode causar problemas, como transportar e dispersar material tóxico. Descobriu-se que essas toxinas se acumulam nas redes oceânicas, às vezes levando ao esgotamento do oxigênio, o que pode levar a zonas mortas oceânicas. Nesse novo esforço, a equipe de pesquisa encontrou evidências de que a proliferação de algas está aumentando, o que sugere que o escoamento de fertilizantes está aumentando. A proliferação de algas nas áreas costeiras

aumentou em tamanho e frequência durante as duas primeiras décadas deste século, à medida que os oceanos do mundo esquentaram, de acordo com uma análise de cerca de 760.000 imagens de satélite. As florações de fitoplâncton são acumulações de algas microscópicas que formam redemoinhos fluorescentes característicos na superfície dos oceanos, rios e lagos que, quando grandes o suficiente, podem ser vistos do espaço. Essas algas são um nutriente essencial para os animais marinhos, de peixes a baleias, mas a proliferação de florações tornou-se um grande problema ambiental em todo o mundo, pois algum crescimento descontrolado produziu efeitos tóxicos ou prejudiciais.

a, A distribuição espacial da contagem média anual de blooms com base nas detecções diárias de satélites. b, Estatísticas continentais e globais para contagem média anual de floração (América do Sul (SA), n = 3.846.125; África (AF), n=2.516.225; Europa (UE), n =17.703.949; América do Norte (NA), n=10.034.286; Ásia (AS), n =5.371.158; Austrália (AU), n =2.781.998 observações de pixel). A linha central representa o valor mediano, os limites inferior e superior das caixas são o primeiro e terceiro quartis, e os bigodes mostram no máximo 1,5 vezes o intervalo interquartil. c, Estatísticas continentais para a média anual de longo prazo das áreas afetadas pela floração (n =18 anos). As porcentagens mostram as contribuições correspondentes ao total global. As barras representam sd Os círculos abertos são as áreas afetadas durante os diferentes anos. Mapa criado usando Python 3.8

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O rio Amazonas despeja uma pluma de sedimentos no Oceano Atlântico. O rio envia uma média de 273.361 jardas cúbicas de água para o oceano a cada segundo. É o maior cinturão de algas do planeta Padrões globais de florescimento de fitoplâncton costeiro entre 2003 e 2020

costeiras globais de fitoplâncton entre 2003 e 2020

a, Padrões espaciais das tendências na frequência de floração em uma escala de grade de 1° × 1°. Os perfis latitudinais mostram as frações de grades com tendências significativas e insignificantes (positivas ou negativas) ao longo da direção leste-oeste. b, Variabilidade interanual e tendências na frequência mediana de floração anual e área total global afetada pela floração. As inclinações lineares e o valor P (teste t bilateral) são indicados. O sombreamento associado aos dados de frequência de bloom representa um nível de incerteza de 5% na detecção de bloom. Mapa criado usando Python 3

Mais de 80% dos países costeiros do mundo experimentaram proliferação de algas entre 2003 e 2020, de acordo com um estudo liderado por Lian Feng, pesquisador da Southern University of Science and Technology em Shenzhen, China. A pesquisa, publicada sta Nature, descobriu que as florações aumentaram 59,2% em frequência e 13,2% em tamanho durante o período de 17 anos.

Essas mudanças têm uma correlação significativa com o aquecimento dos oceanos como resultado da mudança climática provocada pelo homem, segundo o artigo.

Os oceanos têm uma alta capacidade de captar calor e absorveram quase 40% do dióxido de carbono que os humanos emitiram pela queima de combustíveis fósseis desde 1750.

Os cientistas analisaram imagens do satélite Aqua da NASA e descobriram que as maiores áreas de floração estavam ao longo das áreas costeiras da Europa, representando um terço da área total impactada, e da América do Norte, com 21,5% das águas afetadas.

As regiões do Hemisfério Sul, especialmente a África e a América do Sul, experimentaram florações mais frequentes. Embora a análise não tenha distinguido entre florações seguras e prejudiciais, as toxinas produzidas por algumas espécies de algas podem levar a surtos venenosos que no passado adoeceram ou até mataram animais e humanos.

Em outros casos, a decomposição de densas florações esgotou o oxigênio nas águas abaixo, formando as chamadas “zonas mortas” que podem resultar em mortandade em massa de peixes.

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O aumento da temperatura do mar aumentou a frequência de proliferação de algas nas últimas duas décadas, pois as águas mais quentes aumentam a duração da estação de floração Tendências de florações

a, Padrões globais de tendências no gradiente de SST (a) e SST (b) de 2003 a 2020. c, Mudanças de longo prazo na frequência de bloom nas regiões marcadas em a e b, e sua relação com o SST e SST gradiente. A inclinação linear (S) da frequência de bloom e o coeficiente de correlação (r) entre a frequência de bloom e o SST e o gradiente de SST (∇ SST) são mostrados. Os asteriscos indicam correlações estatisticamente significativas (P < 0,05). Mapas criados usando ArcMap 10.4 e Python 3.8

A pesquisa é a primeira tentativa de estabelecer um sistema para detectar e monitorar a proliferação de algas em

escala global e em alta resolução. É também um passo para entender como as correntes oceânicas, os nutrientes que

elas carregam e os animais que se alimentam delas estão mudando à medida que as águas esquentam.

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Efeitos das mudanças climáticas na proliferação de fitoplâncton Localizações de todos os registros HAEDAT que foram usados para validações de algoritmos deste estudo. Criado usando ArcMap 10.4*

Turbulenta separação de primavera

O rápido degelo no Alasca causou inundações prejudiciais nos rios em maio de 2023. O derretimento da neve acumulada no inverno e a quebra do gelo do rio causaram inundações prejudiciais ao longo de Yukon, Tanana, Kuskokwim e outros rios do Alasca durante várias semanas em maio de 2023. O governador do Alasca declarou estado de emergência em 13 de maio em resposta aos impactos generalizados nas margens do rio comunidades

por *Lindsey Doermann

Essas imagens revelam uma paisagem rapidamente transformada ao longo do rio Yukon. A imagem anterior (à esquerda), adquirida em 6 de maio de 2023, pelo Operational Land Imager (OLI) no satélite Landsat 8 , mostra um trecho congelado do rio Yukon perto da cidade de Circle, no Alasca, cortando a neve paisagem. A outra imagem (à direita), obtida oito dias depois pelo OLI-2 no Landsat 9 , mostra a terra quase sem neve e o rio fluindo mais livre até aproximadamente 25 milhas (40 quilômetros) rio abaixo (noroeste) de Circle, próximo ao topo da imagem.

Nesse ínterim, a cidade de Circle sofreu uma inundação dramática à medida que o gelo quebrado empurrava o rio. As inundações na cidade começaram por volta das 17h de 13 de maio. “Foi relatado que a água subiu 3 metros em um período de 30 minutos logo depois disso”, disse o meteorologista Jim Brader, do escritório de previsão do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) em Fairbanks.

Atolamentos de gelo - pedaços de gelo quebrado que obstruem o fluxo de um rio - geralmente contribuem para inundações. A extensão em que esses congestionamentos foram um fator nas inundações em Circle é incerta. Os observadores do NWS no campo não encontraram evidências de uma única grande parada de gelo.

Em vez disso, eles especularam que as inundações na cidade poderiam ter sido causadas por engarrafamentos menores, fluxo mais lento onde o rio se torna trançado perto de Circle e grandes quantidades de água e detritos liberados de engarrafamentos rio acima.

Inundações nessa extensão podem ocorrer a cada 10 a 20 anos em alguns locais, disse ele, mas dados preliminares indicam que a inundação em Circle foi próxima do nível recorde de 1945.

As águas da enchente pareceram recuar tão rapidamente quanto subiram, de acordo com relatos da mídia. Um piloto observou que a pista do aeroporto estava seca por volta das 10h da manhã seguinte, em 14 de maio. No entanto, prédios e infraestrutura da cidade sofreram danos significativos, com várias casas sendo arrancadas de suas fundações. A fotografia acima, do NWS Alaska-Pacific River Forecast Center , mostra uma vista aérea de Circle às 14h40 do dia 14 de maio. “Embora os congestionamentos de gelo aconteçam todos os anos, este ano foi muito pior do que a média”, disse Brader.

Temperaturas mais frias do que a média em abril, seguidas por um aquecimento rápido e atrasado em maio, carregam grande parte da culpa. Uma camada de neve de inverno acima da média também contribuiu para a gravidade das enchentes. As temperaturas subiram enquanto grande parte da neve e do gelo estavam intactos, desencadeando o que é conhecido como uma separação dinâmica. Nesse cenário, o gelo do rio se quebra em grandes pedaços que têm maior probabilidade de emperrar à medida que descem o rio. O escoamento do derretimento da neve adiciona mais água ao sistema, agravando as inundações. Em contraste, um aquecimento mais gradual resulta em uma ruptura térmica, na qual o gelo apodrece lentamente no local e resiste à formação de congestionamentos.

O rompimento da primavera causou mais inundações ao longo do rio Yukon no final de maio, quando o gelo quebrado do rio prosseguiu rio abaixo aos trancos e barrancos. O Serviço Nacional de Meteorologia continuou a rastrear a localização de engarrafamentos e inundações.

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Fotos: NASA Earth Observatory por Lauren Dauphin, usando dados Landsat do US Geological Survey; NWS Alaska-Pacific River Forecast Center
6 de maio de 2023 14 de maio de 2023
Imagens dos dias 6 e 14 de maio de 2023, com visualização em 24 de maio de 2023. Terra Água Neve e gelo, pelos Landsat 8 — OLI, Landsat 9 — OLI-2 , da Nasa

A Terra “está mais perto de outra extinção em massa do que pensávamos”

Quase metade das espécies do planeta está experimentando um rápido declínio populacional. 33% dos animais ‘não ameaçados’ estão realmente enfrentando declínios, dizem os biólogos. Apenas ‘minúsculos 3%’ das espécies estão se beneficiando das condições ambientais atuais, de acordo com um estudo bombástico

Fotos: IUCN,

CC

Adestruição humana da vida selvagem global está ocorrendo em um ritmo alarmante, de acordo com um novo estudo publicado na Biological Reviews recentemente. A defaunação, definida como “o declínio em escala global da biodiversidade animal” é uma consequência perturbadora da vida humana na Terra, postularam os autores do estudo revisado por pares. A extinção tem sido tradicionalmente rastreada pelas categorias de conservação da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Quase metade dos animais do planeta está enfrentando quedas acentuadas na população, que é quase o dobro das estimativas anteriores, alertam os cientistas.

O biólogo evolutivo Daniel Pincheira-Donoso, principal autor do novo estudo, disse que achou os resultados de sua própria pesquisa ‘muito alarmantes’.

A equipe analisou mais de 700.000 espécies, incluindo mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e insetos, para entender quais populações correm o risco de desaparecer do nosso planeta e quais têm chance de sobrevivência.

A gama de elefantes da floresta africana é destacada em verde claro. A maior população sobrevivente está no Gabão, na costa da África central

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IUCN/u/DarreToBe , BY-SA, Pincheira-Donoso, Queen’s University Belfast, Thierry Caro/Wikimedia Commons, Wikimedia Commons Um grande número de criaturas que foram previamente rotuladas como ‘não ameaçadas’ (canto superior direito) ou ‘quase ameaçadas’ (gráfico inferior) estavam sofrendo de declínios populacionais

O estudo descobriu que a distribuição global de animais com populações decrescentes estava mais concentrada nos trópicos. Os pesquisadores mapearam as populações ‘em declínio’, ‘estável’ e ‘crescente’ por grupo: mamíferos, aves, anfíbios, répteis, peixes e insetos

Pincheira-Donoso disse que a investigação descobriu que 48% das espécies estão em declínio. O maior choque deles? Um total de 33% das espécies anteriormente consideradas “não ameaçadas” estão passando por sérios declínios.

Para efeito de comparação, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou apenas cerca de 28% das espécies conhecidas como atualmente ameaçadas de extinção.

Pincheira-Donoso, que atua como chefe do Laboratório de MacroBiodiversidade da Queen’s University Belfast, e sua equipe fizeram avaliações tradicionais de risco de extinção da IUCN e compararam esses números com dados mais amplos sobre o declínio das populações de espécies conhecidas como tendências ao longo do tempo.

O leopardo-das-neves (Panthera uncia) está na Lista Vermelha da IUCN desde 1986. A partir de 2016, os grandes felinos foram classificados como ‘vulneráveis’ com uma população global acima de 2.500, mas inferior a 10.000 espécimes adultos maduros, de acordo com o grupo de conservação

Embora as estimativas da IUCN tenham mostrado menos do que o novo relatório encontrou a metodologia usada por Pincheira-Donoso e seus colegas também foi aprovada pela IUCN como uma medida de risco de extinção.

E seus dados também vieram das tendências populacionais de espécies coletadas pela IUCN e seus parceiros de grupos de conservação governamentais e civis internacionais para 2022.

Mamíferos, pássaros e insetos foram os grupos que enfrentaram declínios surpreendentes, com base na nova análise. Os anfíbios, há muito conhecidos por serem excepcionalmente vulneráveis à disseminação globalizada de produtos químicos industriais, doenças e fungos, enfrentaram alguns dos riscos mais terríveis em geral.

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As notícias foram surpreendentemente melhores para peixes e répteis, com mais espécies nesses grupos parecendo ter números populacionais estáveis. De forma alarmante, poucas espécies pareciam estar realmente se beneficiando dos motores gêmeos do crescimento da população humana e das mudanças climáticas, com apenas um número muito pequeno de espécies prosperando.

“Apenas três por cento deles estão vendo suas populações aumentarem”, disse Pincheira-Donoso. “Não é surpreendente, mas ainda é alarmante”.

As espécies mais atingidas tendem a residir nos trópicos, de acordo com o estudo, com a mudança climática citada como um fator chave. “Os animais nos trópicos são mais sensíveis a mudanças rápidas em suas temperaturas ambientais”, disse Pincheira-Donoso.

Curiosamente, as aves dos trópicos se saíram melhor do que as aves de outros lugares, uma descoberta que ele atribui à sua capacidade de migrar, literalmente voando para longe de seus problemas.

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A distribuição global de animais com tendências populacionais desconhecidas. Cada grupo taxonômico é mapeado individualmente. Números de espécies foram contados dentro de cada célula de grade de 1° × 1° cobrindo o globo, usando uma projeção de área igual de Behrmann O Galaxy Frog da Índia (Melanobatrachus indicus) foi colocado em risco pela expansão da agricultura em seu habitat no sul do Ghats Ocidental. A Lista Vermelha da IUCN atualmente lista este sapo como ameaçado de extinção

Enquanto especialistas externos elogiaram o estudo por “combinar meticulosamente trajetórias populacionais”, os autores foram rápidos em reconhecer as lacunas nas informações disponíveis.

As populações de espécies desconhecidas e sub-registradas foram estimadas usando um cálculo de Deficiência de Dados (DD) que considerou as médias dos cenários de pior e melhor caso.

Aqui também as regiões tropicais eram únicas. “Há uma tendência para as regiões tropicais terem maior número de espécies para as quais não existe informação sobre as tendências populacionais’, disse Pincheira-Donoso, ‘em comparação com os números nas regiões temperadas”. “As regiões tropicais tendem a ter um número excepcional de espécies”, observou.

As extinções, de acordo com o estudo, são o resultado de um declínio progressivo da população que eventualmente atinge um “ponto de inflexão” após o qual não pode se recuperar.“As circunstâncias que desencadeiam o início desses processos de declínio podem ser múltiplas”, explicam os autores, “mas têm em comum uma alteração nas interações entre as condições ambientais e os traços que as espécies evoluíram

para enfrentar essas condições - ou seja, quando os padrões da seleção natural mudam a taxas que excedem a capacidade de uma espécie de responder ou se adaptar a tais mudanças”. As extinções, de acordo com o estudo, são o resultado de um declínio progressivo da população que eventualmente atinge um “ponto de inflexão” após o qual não pode se recuperar.“As circunstâncias que desencadeiam o início desses processos

de declínio podem ser múltiplas”, explicam os autores, “mas têm em comum uma alteração nas interações entre as condições ambientais e os traços que as espécies evoluíram para enfrentar essas condições - ou seja, quando os padrões da seleção natural mudam a taxas que excedem a capacidade de uma espécie de responder ou se adaptar a tais mudanças”.

O rastreamento das mudanças populacionais pode, portanto, ser uma ferramenta indispensável para prever o futuro de uma espécie e pode fornecer uma compreensão muito mais sutil da posição de uma espécie do que uma categorização da Lista Vermelha sozinha pode fornecer. O rastreamento das mudanças populacionais pode, portanto, ser uma ferramenta indispensável para prever o futuro de uma espécie e pode fornecer uma compreensão muito mais sutil da posição de uma espécie do que uma categorização da Lista Vermelha sozinha pode fornecer.

Enfocar e divulgar a taxa de declínio da biodiversidade deve ser uma prioridade universal, concluiu o estudo. “Agora é um momento crítico para aumentar os esforços em direção à conservação preventiva – protegendo as espécies antes que elas se tornem ameaçadas”.

A tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) é uma tartaruga marinha criticamente ameaçada pertencente à família Cheloniidae Existem apenas 125 Kakapo noturnos e incapazes de voar (Strigops habroptilus) ou ‘Papagaios-coruja’ na Nova Zelândia, de acordo com a IUCN. Mas esses números são, na verdade, uma melhoria resultante de esforços dedicados à conservação local

O gelo na Antártica já derreteu antes

Sessenta por cento da água doce do mundo está concentrada nas camadas de gelo da Antártica. Trinta milhões de quilômetros cúbicos de gelo talvez seja um número difícil de entender. Mas se absolutamente todo o gelo da Antártida derretesse, os mares subiriam 58 metros em média.

“A camada de gelo na Antártica Oriental armazena enormes quantidades de água. Isso significa que esta é a maior fonte possível de aumento futuro do nível do mar – até 53 metros se todo o gelo da Antártica Oriental derreter – e é vista como a maior fonte de incertezas no futuro planejamento de adaptação do nível do mar”, diz Irina Rogozhina, professor associado do Departamento de Geografia da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU).

A maior parte do derretimento/perda de gelo na Antártica ocorre por meio do derretimento das plataformas de gelo e desprendimento de gelo causado pelo oceano. Isso, por sua vez, leva a uma aceleração das correntes de gelo em terra e a uma maior descarga de gelo no oceano, onde se perde devido ao derretimento/ desprendimento, disse ela. Esta também foi provavelmente a causa da maior perda de gelo durante os períodos mais quentes do passado. Na Groenlândia, esses dois processos contribuem com cerca de 65% de toda a perda de gelo.

Mas nem todo o gelo precisa derreter antes de ter grandes consequências.

Pesquisadores da NTNU estavam entre um grupo de cientistas que examinou o gelo em Queen Maud Land, na Antártica Oriental.

Os resultados mostram que esse setor de manto de gelo variou muito ao longo do tempo. Esta informação é importante à medida que os pesquisadores tentam aprender mais sobre o clima do planeta e como ele está mudando.

O grupo de Rogozhina estudou a camada de gelo na Antártica Oriental e um derretimento ocorrido há alguns milhares de anos. Os resultados foram publicados na Nature Communications Earth & Environment.

O gelo no Leste está na terra

A camada de gelo na Antártida não é uniformemente distribuída ou uniforme. No Oeste, grandes partes da camada de gelo ficam abaixo do nível do mar, até uma profundidade de 2.500 metros.

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Os pesquisadores conseguiram encontrar uma maneira de desvendar o mistério do rápido derretimento, estudando as rochas dos nunataks na Queen Maud Land para exposição à radiação cósmica
Fotos: Ola Fredin, Nature, Norsk Polar Institute, NTNU Coletando pedras na montanha Månesigden, em Heimefrontfjella, Queen Maud Land. A superfície polida da pedra mostra que ela foi coberta por uma camada de gelo. Os pesquisadores analisaram a pedra em busca de isótopos cosmogênicos que podem dizer quanto tempo se passou desde que a pedra foi coberta pelo gelo. Carl (Calle) Lundberg está fazendo anotações enquanto a estudante de doutorado Jenny Newall coleta amostras

Área de estudo a) Antártica e o Oceano Antártico. O sombreamento antártico indica a elevação do manto de gelo e os contornos do Oceano Antártico mostram a função do fluxo de transporte integrado verticalmente. As cores vermelhas (azuis) indicam uma circulação ciclônica (anticiclônica), e o Giro de Weddell é destacado por uma seta branca. Os intervalos de contorno são 10 Sv (1 Sv = 1,0 × 106 m3 s−1). EAIS Manto de Gelo Antártico Leste, SR Shackleton Range, WS Mar de Weddell, WG Weddell Gyre. A caixa preta marca o local mostrado em b. b) Visão geral de Dronning Maud Land e a localização da área de estudo de Gjelsvikfjella (caixa preta, c) dentro da bacia hidrográfica de Jutulstraumen (linha tracejada azul). Os círculos amarelos e a estrela verde são locais onde as temperaturas da água do mar são extraídas do modelo de circulação geral atmosfera-oceano e a mudança regional do nível do mar é calculada, respectivamente. A linha tracejada azul indica a área da bacia hidrográfica de Jutulstraumen usada para experimentos com modelos de placas de gelo. A seta vermelha mostra a direção aproximada do fluxo das Águas Circumpolares Profundas (CDW) mais quentes. c) Visão geral de Gjelsvikfjella, incluindo Rabben, Grjotfjellet e Terningskarvet. As setas indicam a direção do fluxo de gelo. Pequenas caixas brancas correspondem à Fig. 2a–c. Olhos azuis indicam localizações aproximadas para as fotografias da Fig. 3. O mapa base é do pacote de dados Quantarctica GIS79 para QGIS. As velocidades do gelo80 e os contornos da superfície do gelo (a cada 100 m) são sobrepostos na imagem Landsat da Antártica (LIMA)

Mapas topográficos detalhados de Grjotfjellet. As localizações das amostras e suas idades de exposição 10Be de Grjotfjellet (a), Rabben (b) e Terningskarvet (c) são mostradas junto com os pontos de referência de elevação correspondentes na camada de gelo contemporânea. As cordilheiras bem definidas em Grjotfjellet são contornadas por linhas amarelas com algarismos romanos indicando os números da morena (I–IV). As idades de exposição 10Be de amostras erráticas coletadas das cordilheiras da morena são rotuladas por seus números de moraina correspondentes. Linhas tracejadas azuis indicam localizações passadas contemporâneas (negrito) e inferidas (finas) da margem do manto de gelo. Os contornos topográficos estão em metros acima do nível do mar (m a.s.l.), com base no Modelo de Elevação de Referência da Antártica (REMA) de resolução de 2 m e no Modelo Gravitacional da Terra 2008. A imagem de fundo é um mapa de imagem de relevo vermelho de índice de proteção morfométrica produzido a partir do mesmo DEM com áreas glacialícias sombreadas em azul semitransparente.

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Grande parte da camada de gelo da Antártica fica no leste e em terra acima do nível do nível do mar, o que significa que é menos sensível à influência do oceano

Isso o torna muito vulnerável ao aquecimento dos oceanos. Em contraste, grande parte da camada de gelo no leste fica diretamente na terra, acima do nível do mar, o que significa que é menos sensível à influência do oceano.

Este setor de manto de gelo na Antártica Oriental era mais fino no passado do que é agora, e também não muito tempo atrás. Na verdade, ficou mais fino após o fim da última era glacial, quando enormes mantos de gelo cobriam a América do Norte, o norte da Europa e o sul da América do Sul.

Quando essas camadas de gelo derreteram, elevaram o nível do mar em mais de 100 metros.

“A partir das evidências que apresentamos em nosso estudo, concluímos que a camada de gelo da Antártica Oriental na Terra da Rainha Maud também derreteu rapidamente ao longo de suas margens entre 9.000 e 5.000 anos atrás, em um período que chamamos de Holoceno médio. Nesta época, muitas partes do mundo experimentaram verões mais quentes do que os atuais”, disse Rogozhina.

“Embora esse tipo de resposta do manto de gelo da Antártica Oriental ao calor durante o Holoceno não seja completamente inesperado, ainda é difícil e preocupante acreditar que o lento manto de gelo da Antártica Oriental possa mudar tão rapidamente”, disse ela.

É difícil encontrar uma explicação simples e fácil para esse comportamento, ou determinar o momento exato em que ocorreu o derretimento, até porque as condições nesta parte do mundo às vezes são bastante inóspitas. Mas os pesquisadores encontraram uma maneira de desvendar esse mistério.

A radiação cósmica altera as rochas

O grupo de pesquisa examinou rochas de vários nunataks em Queen Maud Land para exposição à radiação cósmica.

“Nunataks são montanhas que se projetam através do gelo. Visitamos nunataks e coletamos amostras”, diz Ola Fredin, professor do Departamento de Geociências e Petróleo da NTNU.

Os pesquisadores examinam diferentes isótopos, ou variantes, de elementos como cloro, alumínio, berílio e néon nas rochas dos nunataks.

Fotografias de Grjotfjellet, Terningskarvet e Rabben. As localizações aproximadas dos locais de amostra são mostradas por círculos amarelos junto com as idades de exposição 10Be. a Visão geral de Grjotfjellet, com Terningskarvet ao fundo. As idades de exposição 10Be de amostras erráticas coletadas de três cordilheiras de morenas são rotuladas por seus números de morainas correspondentes. b Locais de amostragem em Grjotfjellet imediatamente adjacentes à superfície da camada de gelo contemporânea. Linhas tracejadas amarelas em a, b delineiam cordilheiras bem definidas em Grjotfjellet, com algarismos romanos indicando números de morena que correspondem àqueles em c Visão geral de Rabben. A elevação da superfície do manto de gelo no lado oeste de Rabben (onde a fotografia foi tirada) é de aproximadamente 150–200 m mais baixa do que no lado oposto. d Os 2690 m a.s.l. cume de Terningskarvet..

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Imagem esquemática de um afinamento do EAIS em DML. a O EAIS avançou devido à queda do nível do mar durante o LGM19. b O aquecimento do CDW iniciou o recuo da plataforma de gelo, conforme observado no setor do Mar de Weddell20. c O mar alto regional desencadeou o derretimento basal e o rompimento das plataformas de gelo, facilitado pelo influxo de CDW mais quente, que atingiu um pico de 9–8 ka e continuou até ~5 ka, resultando no recuo da linha de aterramento e no afinamento da camada de gelo. d A queda do nível do mar devido ao GIA do continente antártico estabilizou as plataformas de gelo e/ou pode ter causado um novo avanço do EAIS, apoiado por fixação em elevações de gelo e sulcos de gelo ao longo da margem DML

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Com a ajuda de isótopos cosmogênicos, eles podem descobrir a altura do gelo ao longo do tempo geológico em Queen Maud Land. Fredin compara isso a usar uma vareta para medir o nível de óleo do motor em seu carro. Desta forma, os pesquisadores podem dizer algo sobre quanto tempo as rochas foram expostas à radiação cósmica. Eles também podem dizer algo sobre quanto tempo se passou desde que as rochas estiveram sob uma camada protetora de gelo e, portanto, não absorveram nenhuma radiação cósmica. Para isso, utilizam dados de diversas áreas e fazem diversas simulações computacionais.

O aumento do mar e a água mais quente quebraram o gelo

Os pesquisadores também acreditam que estão no caminho para encontrar uma razão pela qual o setor de manto de gelo na Antártica Oriental diminuiu tanto imediatamente após o fim da última era glacial. “Acreditamos que a camada de gelo se tornou menos estável devido aos níveis regionais do mar mais altos e à água mais quente subindo das profundezas do oceano nas regiões polares, penetrando sob as margens do gelo e derretendo-as por baixo.

Isso leva à quebra de grandes icebergs e acelera o movimento do gelo da terra para o oceano, o que, por sua vez, afina a seção interna da camada de gelo. O processo é semelhante a quando uma casa em uma encosta perde sua fundação de suporte e começa a deslizar para baixo”, disse Rogozhina. Em suma, as partes menos estáveis e que fluem rapidamente da camada de gelo na Antártica Oriental, chamadas de plataformas de gelo e flutuam no oceano, foram quebradas com mais facilidade, o que, por

sua vez, levou a que a camada de gelo se tornasse muito mais fina em um período relativamente curto. tempo, geologicamente falando, ou algumas centenas a milhares de anos.

O gelo espesso é o mais comum ao longo da costa

A radiação cósmica também pode ajudar os pesquisadores a descobrir o quão comum é o gelo cobrir uma área. Os pesquisadores também investigaram isso.

Os resultados mostram que é mais comum que o gelo em Queen Maud Land seja espesso ao longo da costa. Mas não mais no continente, onde os picos das montanhas se projetam através do gelo e a terra pode ter vários milhares de metros de altura. “Descobrimos que as massas de terra ao longo da costa de Queen Maud Land foram cobertas por gelo entre 75 e 97% do tempo durante o último milhão de anos”, disse Fredin.

Ele fez parte de outro estudo, que também teve seus resultados publicados na Nature Communications Earth & Environment. Este grupo examinou rochas de várias áreas diferentes em Queen Maud Land e encontrou grandes variações.

“Em contraste com as áreas ao longo da costa, que estiveram cobertas de gelo na maior parte do tempo, descobrimos que os cumes das montanhas mais distantes do continente estiveram cobertos de gelo apenas 20% do tempo”, disse Fredin. A espessura do manto de gelo e a velocidade de movimento, portanto, variam muito em períodos mais longos, e a cordilheira mais adentro do continente parece ser uma divisão importante entre a costa dinâmica e o manto de gelo mais próximo ao Pólo Sul, que varia muito menos em espessura.

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O gelo na Queen Maud Land é espesso ao longo da costa As massas de terra ao longo da costa de Queen Maud Land foram cobertas por gelo entre 75 e 97% do tempo durante o último milhão de anos

O aquecimento global nas regiões polares

Os polos norte e sul experimentaram ondas de calor sem precedentes em 2022 – as temperaturas chegaram a 40 graus Celsius acima da média sazonal regional. Enormes extensões de florestas boreais foram destruídas por incêndios florestais no Círculo Polar Ártico. Por outro lado, o Permafrost está derretendo, invertendo o papel do solo congelado do Ártico como um importante sumidouro de carbono. As pessoas que vivem no Ártico estão liderando o caminho de como todos devemos nos adaptar às mudanças climáticas.

Pinguins, ursos polares e frio moribundo são o que a maioria de nós associa às regiões polares da Terra. Mas o aquecimento global está mudando essas áreas há muito congeladas no topo e na base do planeta. Agora podemos adicionar incêndios florestais subterrâneos, ondas de calor e derretimento do permafrost ao nosso conhecimento dos efeitos do clima nesses ambientes desolados e frágeis.

De muitas maneiras, as regiões polares são o canário na mina de carvão quando se trata de mudança climática. Os polos Norte e Sul se tornaram nosso sistema de alerta precoce, prevendo como os humanos no resto do mundo podem ter que se adaptar à medida que o planeta esquenta. Aqui estão 3 fatos surpreendentes sobre a mudança climática nas regiões polares - e como os povos indígenas estão liderando o caminho da adaptação climática.

Ondas de calor no Ártico e na Antártida

O ano de 2022 registrou altas temperaturas recordes no Ártico e na Antártida. Em 18 de março , cientistas da estação Concordia, na Antártica, registraram uma temperatura de -11,8°C . À primeira vista, isso não parece particularmente quente, mas é surpreendente quando você percebe que está 40 graus mais alto do que a norma sazonal.

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3 tecnologias inteligentes que protegem os ursos polares. Assista o Video em www.bit.ly/3Np2pDX Aquecimento global: os polos norte e sul experimentaram ondas de calor sem precedentes em 2022 por *Simon Torkington Fotos: Concordia Station/ Lagrange Laboratory, Copérnico, NASA Earth Observatory, NOAA, Unsplash/mlenny

A onda de calor antártica de 2022 seguiu um evento semelhante em 2021, levando os cientistas a sugerir que houve um aumento na intensidade dos episódios climáticos extremos na região.

Ao mesmo tempo, as estações meteorológicas próximas ao Pólo Norte registraram temperaturas 30 graus acima do normal para a época do ano, de acordo com relatórios do The Guardian.

Incêndios Zumbis

Com o aumento das temperaturas nas regiões polares, o risco de incêndios florestais no Círculo Polar Ártico está crescendo. A Reuters relata que, em 2021, os incêndios florestais que eclodiram na Sibéria queimaram 168.000 quilômetros quadrados de floresta boreal.

Os incêndios florestais no Ártico liberaram cerca de 16 milhões de toneladas de carbono em 2021, de acordo com um relatório do Copernicus Climate Change Service.

Enquanto a maioria dos incêndios florestais ocorre a céu aberto, outra

forma de fogo no Ártico é mais difícil de detectar. Os chamados incêndios zumbis podem arder na turfa sob a superfície gelada do Ártico, durante os meses de inverno. Quando chega a primavera, os incêndios reacendem a vegetação da superfície, emitindo dióxido de

carbono tanto da vegetação quanto da turfa, que é um depósito natural de dióxido de carbono. Um relatório de cientistas do clima concluiu que o aumento no número desses incêndios florestais durante o inverno está diretamente ligado à mudança climática.

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Incêndio perto de Zyryanka, República de Sakha, perto do Círculo Polar Ártico, Rússia As emissões de carbono dos incêndios florestais no Ártico aumentaram nos últimos anos A Antártida experimentou altas temperaturas recordes em Março de 2022

O aquecimento do Ártico continua a superar a média global

Sumidouros de carbono esgotados

As regiões polares estão aquecendo muito mais rápido do que a média global. No Ártico, 2022 foi o 6º ano mais quente nos registros que datam de 1900. Essa taxa de aquecimento continua uma tendência ascendente que vem ocorrendo há décadas.

Uma das consequências do aquecimento do Ártico é que o permafrost –solo congelado por milênios – está começando a derreter. O derretimento do permafrost é um duplo negativo para o clima. Em primeiro lugar, o permafrost é um dos maiores sumidouros de carbono do planeta. Os cientistas estimam que ele armazena cinco vezes mais carbono do que já foi liberado por humanos queimando combustíveis fósseis.

Em segundo lugar, os cientistas do Observatório da Terra da NASA fizeram parceria em um estudo que descobriu que o permafrost do Ártico está passando de um importante sumidouro de carbono para um grande emissor de CO2 .

Eles descrevem a transição como; “uma reversão total para uma região que capturou e armazenou carbono por dezenas de milhares de anos”.

A equipe de pesquisa concluiu que: “1,7 bilhão de toneladas métricas de carbono foram perdidas nas regiões de permafrost do Ártico durante cada inverno de 2003 a 2017. No mesmo período, uma média de 1 bilhão de toneladas métricas de carbono foram absorvidas pela vegetação durante as estações de crescimento do verão . Isso muda a região de um ‘sumidouro’ líquido de dióxido de carbono - onde é capturado da atmosfera e armazenado - em uma fonte líquida de emissões”.

Adaptação às mudanças climáticas polares

A Antártica é um dos lugares mais isolados e inóspitos do planeta. Talvez não seja surpresa, então, que não haja assentamentos humanos permanentes no continente. Do outro lado do mundo, o Ártico abriga quatro milhões de pessoas, muitas delas de comunidades indígenas.

O Conselho do Ártico diz que o povo do Ártico já está sentindo os efeitos das mudanças climáticas e acredita que o mundo em geral terá muito a aprender com o povo do Ártico à medida que se adapta às mudanças climáticas. O Conselho diz: “Entender como a mudança climática afetará o sistema climático e os ecossistemas do Ártico é fundamental para adaptar os meios de subsistência e informar a tomada de decisões nos níveis regional, nacional e internacional”. As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não do Fórum Econômico Mundial.

Grande parte do Círculo Polar Ártico é coberta por permafrost, que está descongelando à medida que as temperaturas aumentam

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Comunidade
na Groenlândia
[*] Escritor Sênior, Agenda do Fórum WEF

O Norte Global deve US$ 170 trilhões por emissões excessivas de CO2

Compensação por apropriação atmosférica. As nações industrializadas responsáveis por níveis excessivos de emissões de CO2 podem ser responsabilizadas por US$ 170 trilhões em compensação até 2050 para garantir que as metas de mudança climática sejam cumpridas, dizem os pesquisadores

Odinheiro, que equivale a quase US$ 6 trilhões por ano ou cerca de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) anual global, seria distribuído como compensação a países de baixa emissão que devem descarbonizar suas economias muito mais rapidamente do que seria necessário. A compensação financeira pelas perdas e danos que os países vulneráveis ao clima enfrentam devido às emissões excessivas de CO2 de outros é vista como uma parte cada vez mais importante das negociações internacionais sobre mudanças climáticas. Os delegados nas negociações da COP27 no Egito no ano passado concordaram em estabelecer um Fundo de Perdas e Danos para os países afetados pela mudança climática. Pesquisadores - liderados por um acadêmico da Universidade de Leeds - publicaram

um grande estudo sobre como um esquema de compensação baseado em evidências poderia funcionar em quase 170 países. Eles também desenvolveram um site

Níveis excessivos de emissões de CO2

interativo que permite às pessoas explorar quais países podem ter direito a receber compensação e quanto, e quais países podem ser obrigados a pagar.

Emissões cumulativas mundiais e regionais de CO2 com relação a parcelas justas dos orçamentos globais de carbono, tendências históricas (1960–2019) e tendências de cenários (2020–2050)

a, mundo. b, região Sul Global. c, região Norte Global. As emissões históricas (área preta), trajetória projetada de negócios como sempre (linha tracejada) e trajetória líquida zero (linha azul) mostram emissões cumulativas relativas a parcelas justas do orçamento de carbono de 1,5 °C (linha amarela), com parcelas justas de 350 ppm (linha verde) e orçamentos de 2 °C (linha vermelha) também mostrados. Os totais mundiais e regionais são agregados a partir de valores nacionais. Intervalos de previsão prováveis (66%) são mostrados em tons mais claros em torno das projeções de negócios como sempre.

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Fotos: Dr. Andrew Fanning, Nature Sustainability, Universidade de Leeds

É o primeiro esquema em que os países historicamente responsáveis por emissões excessivas de CO2 são obrigados a financiar a compensação. O estudo foi liderado pelo Dr. Andrew Fanning, Pesquisador Visitante no Instituto de Pesquisa em Sustentabilidade da Universidade de Leeds, e Líder de Pesquisa e Análise de Dados no Donut Economics Action Lab em Oxford.

Ele disse: “Para que o mundo evite os piores impactos das mudanças climáticas, todos os países devem parar urgentemente de queimar combustíveis fósseis e outras atividades que emitem gases de efeito estufa na atmosfera. Mas nem todos os países contribuíram igualmente para este problema. “É uma questão de justiça climática que, se estamos pedindo às nações que descarbonizem rapidamente suas economias, mesmo que não tenham responsabilidade pelo excesso de emissões que estão desestabilizando o clima, elas devem ser compensadas por esse fardo injusto”. O estudo Compensação por apropriação atmosférica está publicado na Nature Sustainability.

Níveis de compensação

De acordo com o estudo, o Reino Unido poderia pagar US$ 7,7 trilhões por emissões excessivas de CO2 no período até 2050 – o que equivale a um pagamento anual de quase US$ 3.500 per capita a cada ano até 2050.

Os EUA poderiam pagar US$ 80 trilhões durante o período ou um pagamento per capita anual de mais de US$ 7.200 até 2050. A Índia historicamente tem sido um baixo emissor de carbono e pode ter direito a receber uma compensação de US$ 57 trilhões, ou quase US$ 1.200 per capita a cada ano até 2050. O sistema de compensação é baseado na ideia de que a atmosfera é um bem comum, um recurso natural para todos usarem de forma equitativa e sustentável.

Para definir um valor monetário para as perdas sofridas pelos países com baixas emissões de carbono, os pesquisadores primeiro obtiveram os ‘orçamentos de carbono’ globais remanescentes mais recentes estimados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Um orçamento de carbono representa quanto carbono poderia ser liberado na atmosfera para atingir uma determinada meta climática, como manter o aquecimento global em 1,5 grau Celsius.

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a, período histórico de 1960-2019. b, Projeção mediana de negócios como sempre em 2050. c , Cenário líquido zero em 2050 Emissões cumulativas de CO2 ultrapassam e diminuem por grupo de países com relação a parcelas justas de 1,5 °C Os cinco maiores responsáveis por emissões excessivas – e quanto terão de pagar de compensação até 2050. A tabela também mostra os cinco principais países que produziram baixas emissões e receberão indenizações

Emissões cumulativas mundiais e regionais de CO2 com relação a parcelas justas dos orçamentos globais de carbono, tendências históricas (1960–2019) e tendências de cenários (2020–2050)

A partir de 1960, esse orçamento de carbono é equivalente a 1,8 trilhão de toneladas de CO2. Os pesquisadores então calcularam uma ‘parte justa’ com base na igualdade desse orçamento total de carbono para 168 países, com base no tamanho da população. Eles compararam a alocação justa de cada país com a quantidade de CO2 que o país liberou historicamente desde 1960, juntamente com um cenário ambicioso em que descarboniza dos níveis atuais para ‘líquido zero’ até 2050.

Alguns países estavam dentro de sua alocação de parcela justa, enquanto outros, principalmente as nações industrializadas do Norte global, já ultrapassaram significativamente sua alocação - na verdade, apropriando-se de parcelas justas de outros países dos bens atmosféricos comuns. Por exemplo, o Reino Unido usou 2,5 vezes sua parte justa - e os EUA usaram mais de quatro vezes sua parte justa. A Índia, por outro lado, usou pouco menos de um quarto de sua parte justa.

Precificando as perdas enfrentadas pelos países de baixa emissão

Usando os preços do carbono dos últimos cenários do IPCC, os pesquisadores conseguiram colocar um valor monetário nas emissões em excesso de cada país em um mundo que respeita a meta climática de 1,5c. Esse valor total foi de US$ 192 trilhões (dentro de uma faixa entre US$ 141 trilhões e US$ 298 trilhões), com o Norte global responsável por 89%, ou US$ 170 trilhões, e o restante de países com altas emissões no Sul global, especialmente os produtores de petróleo estados, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Sob o esquema, esse dinheiro seria dividido entre os países com baixas emissões de carbono com base enquanto de sua alocação justa eles perderiam.

O Dr. Fanning disse: “Descobrimos que 55 países sacrificariam mais de 75% de suas parcelas justas, incluindo a maior parte da África subsaariana e da Índia. Nossos resultados mostram que esse grupo de países com baixas emissões teria direito a receber uma compensação média de US$ 1.160 per capita por ano, em um mundo que mantém o aquecimento global abaixo de 1,5 grau. “Enquanto isso, os países que teriam menos de suas partes justas apropriadas também teriam direito a menos compensação. Encontramos 13 países que sacrificariam menos de 25% de suas parcelas justas em nosso cenário líquido zero, incluindo a China, que teria direito a receber US$ 280 per capita por ano, em média”.

a, Compensação média anual per capita devida aos países dentro de suas cotas justas (N = 101). b, Compensação média anual per capita devida pelos países superemissores (N =67). A compensação é expressa em preços constantes de 2010. Os círculos dos países são dimensionados de acordo com a população. Dois países (Hong Kong SAR (China) e Luxemburgo) estão além da área do gráfico

Colonização atmosférica

O professor Jason Hickel, do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Autônoma de Barcelona (ICTA-UAB) e coautor do estudo, disse: “As mudanças climáticas refletem padrões claros de colonização atmosférica.

“Movimentos sociais e negociadores do Sul global há muito argumentam que os países que produziram emissões excessivas devem compensações ou reparações por danos relacionados ao clima, que recaem desproporcionalmente sobre os países mais pobres que contribuíram pouco ou nada para a crise.

“Nosso estudo se concentra apenas na compensação devida pela apropriação atmosférica, e isso deve ser considerado adicional a questões mais amplas sobre custos de transição, adaptação e danos.

“Também devemos prestar atenção às grandes desigualdades de classe dentro das nações. A responsabilidade pelo excesso de emissões é em grande parte das classes ricas que têm um consumo muito alto e que exercem um poder desproporcional sobre a produção e a política nacional. São eles que devem arcar com os custos da indenização”.

Os países que produziram emissões excessivas devem compensações ou reparações por danos relacionados ao clima, que recaem desproporcionalmente sobre os países mais pobres que contribuíram pouco ou nada para a crise

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Imagens de antes e depois que mostram como estamos transformando o planeta

de 8 bilhões, a Nasa, através do Landsat 9 amplia nossa capacidade de detectar e caracterizar mudanças na superfície terrestre, e o faz em uma escala para que os pesquisadores possam diferenciar entre mudanças naturais e induzidas pelo homem. A cobertura e o uso da terra estão mudando globalmente a taxas sem precedentes na história da humanidade

Essas mudanças trazem profundas consequências para o clima, ecossistemas, gestão de recursos, economia, armazenamento e emissões de carbono, saúde humana e outros aspectos da sociedade. Os conjuntos de dados Landsat são uma ferramenta crítica no monitoramento e gerenciamento de recursos essenciais em um mundo em mudança.

Os seres humanos substituíram a natureza como a força dominante que molda a Terra. Desmatamos florestas, represamos rios caudalosos, pavimentamos vastas estradas e transportamos milhares de espécies ao redor do mundo. “Em grande parte”, escreveram dois cientistas em 2015 , “o futuro do único lugar onde se sabe que existe vida está sendo determinado pelas ações dos humanos”.

Então, o que isso parece? Nas últimas décadas, a NASA tem acompanhado via satélite as principais transformações que realizamos. Em sua série “Imagens da Mudança” , a agência publicou várias imagens de antes e depois mostrando exatamente a

se

mesma floresta tropical, geleira ou cidade com anos ou décadas de diferença. As imagens a seguir apresentam exemplos de mudanças globais observadas pelos satélites da NASA,

incluindo urbanização, riscos naturais, eventos climáticos e os efeitos do aquecimento global. As diferenças costumam ser de tirar o fôlego. Aqui mostramos algumas das mudanças mais reveladoras:

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À medida que a população da Terra
aproxima
O rio Paraguai-Paraná antes e depois da construção da barragem de Yacyretá em 1985, que deslocou 15.000 moradores. Foto: Departamento do Interior dos EUA / US Geological Survey. Landsat 9 da Nasa em operação

Cancún se expande a um ritmo impressionante. Cancún, México, visto em 1979 e 2009. Foto: Nasa

Dubai constrói uma cadeia de ilhas artificiais. Dubai, Emirados Árabes Unidos, visto em 2001 e 2011. Foto: USGS e Nasa

As florestas tropicais são engolidas por fazendas no Brasil. Imagens de satélite de Rondônia, no oeste do Brasil, tiradas em 1975 (esquerda) e 2009 (direita). Foto: Nasa

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Paisagem da Ucrânia se recupera após Chernobyl. Usina Nuclear de Chernobyl, vista em 1986 e 2011. Foto: Nasa

Os esforços para domar o rio Colorado encontram um obstáculo. Lake Powell, visto em 25 de março de 1999 e 13 de maio de 2014. Foto: Nasa

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O boom das areias betuminosas em Alberta, Canadá. Minas a céu aberto perto de Fort McMurray, em Alberta, Canadá, visto em 2000 e 2007. Foto: Nasa
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O Mar de Aral, outrora maciço, quase desaparece. O Mar de Aral, visto em 2000 e 2014. Foto: Nasa A Geleira Columbia, no Alasca, recua rapidamente. Columbia Glacier, no Alasca, vista em 28 de julho de 1986 e 2 de julho de 2014. Foto: Nasa O Mar de Aral, outrora maciço, quase desaparece. O Mar de Aral, visto em 2000 e 2014. Foto: Nasa

As primeiras flores do mundo foram polinizadas por insetos

Oque polinizou essas primeiras plantas com flores, o ancestral de todas as flores que vemos hoje? Seriam insetos carregando pólen entre aquelas primeiras flores, fertilizando-as no processo? Ou talvez outros animais, ou mesmo vento ou água?

A pergunta tem sido complicada de responder. No entanto, em uma nova pesquisa publicada no New Phytologist, mostramos que os primeiros polinizadores eram provavelmente insetos.

Além do mais, apesar de alguns desvios evolutivos, cerca de 86% de todas as espécies de plantas com flores ao longo da história também dependeram de insetos para polinização.

Como mover o pólen

O momento da evolução das primeiras plantas com flores ainda é uma questão de debate. No entanto, seu sucesso é indiscutível.

Cerca de 90% das plantas modernas – cerca de 300.000 a 400.000 espécies – são plantas com flores, ou o que os cientistas chamam de angiospermas. Para se reproduzir, essas plantas produzem pólen em suas flores, que precisa ser transferido para outra flor para fertilizar um óvulo e produzir uma semente viável.

Pequenos e altamente móveis, os insetos podem ser transportadores de pólen altamente eficazes.

De fato, pesquisas recentes sobre insetos fósseis mostram que alguns insetos podem ter polinizado plantas antes mesmo de as primeiras flores evoluírem.

A maioria das plantas com flores de hoje depende de insetos para polinização. As flores da planta evoluíram para atrair insetos por meio de cor, cheiro e até mimetismo sexual, e a maioria os recompensa com néctar, pólen, óleos ou outros tipos de alimentos, tornando a relação benéfica para ambas as partes.

Algumas flores, no entanto, dependem de outros meios para transportar seu pólen, como animais vertebrados , vento ou mesmo água.

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As plantas existiram na Terra por centenas de milhões de anos antes que as primeiras flores desabrochassem. Mas quando as plantas com flores evoluíram, há mais de 140 milhões de anos, elas foram um enorme sucesso evolutivo
Fotos: Esa Journals, Ruby E Stephens et al., Santiago Ramirez Barahona As flores desenvolveram todo tipo de forma e cor para serem polinizadas Insetos fósseis mostram que alguns insetos podem ter polinizado plantas antes mesmo de as primeiras flores evoluírem

Que tipo de polinização evoluiu primeiro?

Os insetos estavam lá no começo ou foram uma “descoberta” posterior?

Embora as primeiras evidências sugiram que provavelmente foram insetos, até agora isso nunca foi testado em toda a diversidade de plantas com flores - sua árvore evolutiva completa.

Uma árvore genealógica

Para encontrar uma resposta, usamos uma “ árvore genealógica “ de todas as famílias de plantas com flores, amostrando mais de 1.160 espécies e remontando a mais de 145 milhões de anos.Esta árvore nos mostra quando diferentes famílias de plantas evoluíram. Nós o usamos para mapear o que poliniza uma planta no presente para o que pode ter polinizado o ancestral dessa planta no passado.

Descobrimos que a polinização por insetos tem sido o método mais comum ao longo da história das plantas com flores, ocorrendo cerca de 86% do tempo. E nossos modelos sugerem que as primeiras flores provavelmente foram polinizadas por insetos.

Aves, morcegos e vento

Também aprendemos sobre a evolução de outras formas de polinização. A polinização por animais vertebrados, como pássaros e morcegos, pequenos mamíferos e até lagartos , evoluiu pelo menos 39 vezes – e voltou à polinização por insetos pelo menos 26 vezes. A polinização pelo vento evoluiu ainda mais frequentemente: encontramos 42 instâncias. Essas plantas raramente voltam à polinização de insetos.

A árvore evolutiva para todas as famílias de plantas com flores mostra quando a polinização pelo vento, pela água e pelos vertebrados evoluiu da polinização por insetos

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Cerca de 90% das plantas modernas – cerca de 300.000 a 400.000 espécies – são plantas com flores, ou o que os cientistas chamam de angiospermas

Também descobrimos que a polinização pelo vento evoluiu com mais frequência em habitats abertos, em

latitudes mais altas. A polinização animal é mais comum em florestas tropicais fechadas, perto do equador.

Que tipo de insetos foram os primeiros polinizadores?

Se você pensa em um inseto polinizador, provavelmente imagina uma abelha. Mas, embora não saibamos exatamente quais insetos polinizaram as primeiras plantas com flores, podemos ter certeza de que não eram abelhas.

Por que não? Porque a maioria das evidências que temos indicam que as abelhas não evoluíram até depois das primeiras flores .

Então, o que sabemos sobre os polinizadores das primeiras plantas com flores? Bem, algumas flores primitivas foram preservadas como fósseis – e a maioria delas é muito pequena.

Os primeiros polinizadores de flores também devem ter sido bem pequenos para bisbilhotar essas flores . Os culpados mais prováveis \u200b\u200bsão algum tipo de mosca pequena ou besouro, talvez até um mosquito, ou alguns tipos extintos de insetos que desapareceram há muito tempo.

Se tivéssemos uma máquina do tempo, poderíamos voltar e ver esses polinizadores em ação – mas isso exigirá muito mais pesquisa.

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As flores polinizadas pelo vento costumam ser muito pequenas e simples, como essas flores de grama, que só podem ser vistas claramente ao microscópicas
Polinização por animais vertebrados, como pássaros e morcegos, pequenos mamíferos e até lagartos

As abelhas podem aprender, lembrar, pensar e tomar decisões

As abelhas e outros polinizadores são essenciais para a sociedade humana. Eles fornecem cerca de um terço dos alimentos que comemos , um serviço com um valor global estimado em até US$ 577 bilhões anuais.

Mas as abelhas são interessantes de muitas outras maneiras menos conhecidas. Em meu novo livro, “ What a Bee Knows: Exploring the Thoughts, Memories, and Personalities of Bees”, eu me baseio em minha experiência estudando abelhas por quase 50 anos para explorar como essas criaturas percebem o mundo e suas incríveis habilidades para navegar, aprender , comunicar e lembrar. Aqui está um pouco do que aprendi.

Não é tudo sobre colmeias e mel

Como as pessoas estão amplamente familiarizadas com as abelhas, muitos assumem que todas as abelhas são sociais e vivem em colméias ou colônias com uma rainha. Na verdade, apenas cerca de 10% das abelhas são sociais e a maioria dos tipos não produz mel. A maioria das abelhas leva uma vida solitária, cavando ninhos no chão ou encontrando tocas de besouros abandonadas em madeira morta para chamar de lar.

Algumas abelhas são cleptoparasitas, entrando sorrateiramente em ninhos desocupados para botar ovos , da mesma forma que os chupins depositam seus ovos nos ninhos de outras aves e deixam os pais adotivos desconhecidos criarem seus filhotes .

Algumas espécies de abelhas tropicais, conhecidas como abelhas abutres, sobrevivem comendo carniça.

Suas entranhas contêm bactérias ácidas que permitem às abelhas digerir carne podre.

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Os cientistas estão aprendendo coisas incríveis sobre a percepção sensorial e as capacidades mentais das abelhas. À medida que as árvores e as flores desabrocham na primavera, as abelhas emergem de seus ninhos e tocas de inverno. Para muitas espécies, é hora de acasalar , e algumas iniciarão novos ninhos ou colônias solitárias
Abelha
Blackthorn em Flores de mel
por *Stephen Buchmann, Universidade
do Arizona
Fotos:
Anke Jentsch, Mani Shrestha, Pixabay, Universidade do Arizona

Cérebros ocupados

O mundo parece muito diferente para uma abelha do que para um ser humano, mas as percepções das abelhas dificilmente são simples. As abelhas são animais inteligentes que provavelmente sentem dor , lembram-se de padrões e odores e até reconhecem rostos humanos. Eles podem resolver labirintos e outros problemas e usar ferramentas simples. A pesquisa mostra que as abelhas são autoconscientes e podem até ter uma forma primitiva de consciência.

Durante as seis a 10 horas que as abelhas passam dormindo diariamente , as memórias são consolidadas em seus incríveis cérebros – órgãos do tamanho de uma semente de papoula que contêm 1 milhão de células nervosas. Existem algumas indicações de que as abelhas podem até sonhar. Eu gostaria de pensar assim.

Um mundo sensorial alienígena

A experiência sensorial que as abelhas têm do mundo é marcadamente diferente da nossa.

Por exemplo, os humanos veem o mundo através das cores primárias vermelho, verde e azul.

As cores primárias para as abelhas são verde, azul e ultravioleta.

A visão das abelhas é 60 vezes menos nítida do que a dos humanos : uma abelha voadora não consegue ver os detalhes de uma flor até que ela esteja a cerca de 25 centímetros de distância. No entanto, as abelhas podem ver padrões florais ultravioleta ocultos que são invisíveis para nós, e esses padrões levam as abelhas ao néctar das flores.

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Abelha buraqueira de Dawson (Amegilla dawsoni). Nativas da Austrália Ocidental, são espécies solitárias que nidificam no solo e as adultas só ocorrem de julho a setembro. Durante o resto do ano, existem como larvas subterrâneas dormentes Experiência sensorial das abelhas

As abelhas também podem detectar flores detectando mudanças de cor à distância. Quando os humanos assistem a um filme projetado a 24 quadros

por segundo, as imagens individuais parecem borradas em movimento. Esse fenômeno, chamado de frequência de fusão cintilante, indica a capacidade

de nossos sistemas visuais de resolver imagens em movimento. As abelhas têm uma frequência de fusão de cintilação muito maior – você teria que rodar o filme 10 vezes mais rápido para que parecesse um borrão para elas – então elas podem voar sobre um prado florido e ver pontos brilhantes de cores florais que não resistiriam para os humanos.

À distância, as abelhas detectam as flores pelo cheiro. O olfato de uma abelha é 100 vezes mais sensível que o nosso. Os cientistas usaram abelhas para farejar produtos químicos associados ao câncer e ao diabetes no hálito dos pacientes e para detectar a presença de explosivos. O sentido do tato das abelhas também é altamente desenvolvido: elas podem sentir pequenas saliências semelhantes a impressões digitais nas pétalas de algumas flores. As abelhas são quase surdas à maioria dos sons aéreos, a menos que estejam muito perto da fonte, mas são sensíveis se estiverem em pé sobre uma superfície vibrante.

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O olfato de uma abelha é 100 vezes mais sensível que o nosso O naturalista David Attenborough usa luz ultravioleta para mostrar como as flores podem parecer diferentes para as abelhas e para os humanos A dança das abelhas é uma das formas interessantes de comunicação social que as espécies usam para se comunicar entre si. As abelhas são quase surdas

Peixe dormindo?

De tubarões a salmão, guppies a garoupas, eis como eles tiram uma soneca

Você poderia explicar como os peixes dormem? Eles se afastam nas correntes ou se ancoram em um local específico quando dormem?

Do peixinho dourado em seu aquário a um robalo em um lago e aos tubarões no mar – 35.000 espécies de peixes estão vivas hoje , mais de 3 trilhões delas.

Em todo o mundo, eles nadam em fontes termais, rios, lagoas e poças. Eles deslizam através de água doce e salgada. Eles sobrevivem nas águas rasas e nas profundezas mais escuras do oceano, a mais de oito quilômetros de profundidade.

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As arraias também são um tipo de peixe, mas são desossadas por *Michael Heithaus Fotos: Michael Heithaus, Universidade Internacional da Flórida, Unsplash, Xiang Zhèng

Assim como você, os peixes precisam dormir

Desses trilhões de peixes, existem três tipos principais: peixes ósseos , como trutas e sardinhas; peixes sem mandíbula, como o peixe- bruxa viscoso ; e tubarões e raias , que não têm ossos – em vez disso, eles têm esqueletos feitos de tecido firme e flexível chamado cartilagem.

E todos eles, até o último, precisam descansar. Seja você um humano ou um hadoque, o sono é essencial. Dá ao corpo tempo para se reparar e ao cérebro a chance de redefinir e organizar.

Como biólogo marinho, sempre me perguntei como os peixes podem descansar. Afinal, em qualquer corpo d’água, os predadores estão por toda parte, à espreita, prontos para comê-los. Mas de alguma forma eles conseguem, como praticamente todas as criaturas da Terra.

Como eles fazem isso

Os cientistas ainda estão aprendendo sobre como os peixes dormem. O que sabemos: o sono deles não é como o nosso.

Por um lado, as pessoas estão praticamente fora disso quando dormem. Embora um barulho alto possa acordá-lo, você não tem consciência do ambiente ao seu redor. Mas os peixes ficam atentos o suficiente para detectar um predador que se aproxima – pelo menos na maioria das vezes. Parece que a maioria dos peixes tem ciclos de sono como nós. Os peixes de aquário dormem entre sete a 12 horas por dia . Muitos peixes são ativos durante o dia e dormem à noite , embora para alguns, como vários tipos de enguias, raias e tubarões, seja o contrário.

Como saber se um peixe está dormindo? A maioria dos peixes não tem pálpebras, então seus olhos não fecham. Isso por si só torna difícil dizer quando eles estão descansando. Mas se você observar

peixes em um aquário, olhe de perto. Você verá como eles param de nadar e permanecem muito quietos, meio que pairando na água. Suas guelras bombearão menos também. Para os peixes, isso é dormir.

Dormindo com o inimigo

Onde os peixes dormem? Às vezes, a céu aberto. Mas muitas vezes eles estão no fundo ou perto dele.

Se puderem, eles se espremem em um local perto de rochas ou plantas para que os predadores não possam pegá-los e as correntes não possam varrê-los. Alguns peixes vão ainda mais longe.

Os peixes- papagaio envolvem-se num casulo de muco e dormem no coral. Parece muito esforço – essencialmente, fazer seu próprio saco de dormir todas as noites – mas o casulo protege o peixe-papagaio não apenas de predadores, mas de parasitas.

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Caverna de tubarões adormecidos. Veja o local misterioso na costa do México, onde os tubarões tiram uma soneca. Assista o Vídeo: www.youtu.be/B_hxMs-oHro Os peixes dormem às vezes, a céu aberto, no fundo ou perto dele Segurança noturna para um peixe-papagaio: um casulo de muco Assista o Vídeo: www.youtu.be/wtf5AXfMhQQ

Como os tubarões dormem

Existem, no entanto, muitas espécies de peixes que precisam nadar constantemente apenas para respirar. Pense nisso – pare de nadar e você morre. Isso é verdade para muitos tubarões, como os grandes brancos .

Então, como eles dormem se estão sempre em movimento? Em vez de parar completamente, os tubarões simplesmente diminuem sua natação ou nadam em uma corrente. Isso é como dormir – pelo menos os tubarões parecem menos conscientes do que está acontecendo ao seu redor.

Existem espécies de tubarão, como o tubarão de prancheta, que respiram sem nadar . Os cientistas observaram recentemente este tubarão – que tem 1 metro de comprimento e uma cabeça chata – dormindo no fundo.

Baleias e golfinhos

Baleias e golfinhos não são peixes –são mamíferos, como gatos, cachorros e pessoas. Eles passam a vida no oceano, mas não conseguem respirar debaixo d’água. Em vez disso, eles periodicamente sobem à superfície e inalam ar através de seu espiráculo, que fica no topo de suas cabeças.

Se eles adormecessem profundamente, como as pessoas fazem, baleias e golfinhos se afogariam; eles não estariam conscientes o suficiente para vir à superfície para respirar.

Então eles dormem descansando metade de seu cérebro de cada vez . A outra metade se lembra de subir à superfície, respirar e ficar alerta o suficiente para detectar o perigo. É possível que alguns peixes possam fazer a mesma coisa? Os cientistas estão tentando descobrir, mas ainda não sabem.

Há muito mais para aprender sobre como os peixes dormem. Biólogos marinhos como eu têm muitas perguntas e passamos nossas carreiras em oceanos, rios, lagos e laboratórios tentando encontrar respostas. Mas eu vou deixar você com isso, algo que eu sempre quis saber: os peixes sonham?

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Baleias e golfinhos Um tubarão tirando uma soneca? Assista o Vídeo: www.youtu.be/B7ePdi1McMo [*] Reitor Executivo da Faculdade de Artes, Ciências e Educação e Professor de Ciências Biológicas, Universidade Internacional da Flórida (FIU)

Quais animais sobreviverão às mudanças climáticas?

por *Emma Bryce

Àmedida que as mudanças climáticas transformam nosso mundo, os impactos serão sentidos de forma desigual, com alguns animais lutando para sobreviver e outros encontrando maneiras de superar os desafios resultantes.

Este fenômeno é cada vez mais descrito como os “vencedores e perdedores sob a mudança climática “, disse Giovanni Strona, ecologista e ex-professor associado da Universidade de Helsinque, agora pesquisador da Comissão Europeia. Strona liderou um estudo de 2022, publicado na revista Science Advances, que constatou que, em um cenário intermediário de emissões, podemos perder, em média, em todo o mundo, quase 20% da biodiversidade de vertebrados até o final do século. No pior cenário de aquecimento, essa perda sobe para quase 30%.

A mudança climática está colocando em perigo grandes espécies no topo da cadeia alimentar, incluindo os ursos polares, vistos aqui no derretimento do gelo em Svalbard, na Noruega

A diversidade observada (A) é calculada sobrepondo faixas de distribuição de todos os vertebrados usados como um molde ecológico para as espécies virtuais (ver Materiais e Métodos). A diversidade modelada (B) corresponde ao log enúmero transformado de espécies virtuais por localidade (média de 100 réplicas do modelo). A distribuição das espécies virtuais não resulta diretamente da distribuição dos vertebrados do mundo real. Em vez disso, a diversidade modelada é uma propriedade emergente do sistema simulado, decorrente da interação entre as espécies virtuais e a comunidade virtual local/rede alimentar e ambiente. A resolução do mapa é de 1° × 1°

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Diversidade de vertebrados observada versus modelada em 2020 no cenário CMIP6 SSP4-6.0
Mesmo as espécies mais resistentes podem ter um limite sob as mudanças climáticas. As coextinções dominam as perdas futuras de vertebrados devido às mudanças climáticas e de uso da terra
Fotos: Dong Lei/Nature, Izanbar via Getty Images, Paul Souders via Getty Images, Steve Gschmeissner/Science Photo

Perda local relativa simulada de diversidade, interações e conectividade de vertebrados terrestres até 2100 em comparação com 2020 sob diferentes projeções climáticas.

Tudo está conectado

Os mapas mostram a perda local em 2100 em relação às condições iniciais, enquanto os gráficos mostram a perda média em todas as localidades da Terra por ano de 2020 a 2100. Tanto nos mapas quanto nos gráficos, os resultados são a média de 100 réplicas (para os gráficos, primeiro calculamos a média perda local nas 100 réplicas e valores médios de perda local em todas as localidades. As áreas sombreadas são intervalos de confiança de 95%, mostrando a variação entre localidades no mapa médio obtido com 100 simulações).

Então, quais animais são os “vencedores” e como eles realmente se sairão sob temperaturas crescentes, seca e perda de habitat?

Não há dúvida sobre as ameaças à biodiversidade da Terra decorrentes das mudanças climáticas e da destruição do habitat. Em 2022, o World Wildlife Fund (WWF) lançou o Living Planet Report, que descreveu um declínio de 69% na abundância relativa de espécies monitoradas desde 1970.

Enquanto isso, 1 milhão de espécies agora enfrentam a extinção em nosso planeta por causa dessas ameaças gêmeas, de acordo com o relatório.

Agora há evidências crescentes de que a Terra está passando por sua sexta extinção em massa .

As mudanças climáticas contribuem para esses riscos de extinção de maneiras complexas e interconectadas, algumas das quais ainda desconhecidas.

Afetará diretamente as populações ao induzir eventos climáticos extremos, como tempestades; elevando as temperaturas ou reduzindo as chuvas além dos limites de que uma espécie precisa para sobreviver; e diminuindo os principais habitats dos quais os animais dependem. Como a pesquisa de Strona mostrou, a mudança climática também pode ter efeitos indiretos que se espalham por um ecossistema.

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Isso é quantificado como o aumento percentual na perda de diversidade no cenário de coextinção em comparação com o cenário de referência (somente extinções primárias). Para facilitar a visualização e as comparações, definimos o valor máximo da barra de cores como 2 (ou seja, 200% de aumento), mas os pixels pretos indicam todos os valores ≥ 200%.

Ele e sua equipe construíram vários modelos de Terras incorporando mais de 15.000 teias alimentares para representar as conexões de muitos milhares de espécies de vertebrados terrestres. Em seguida, eles simularam vários cenários de mudanças climáticas e de uso da terra nesses ecossistemas.

Suas simulações mostraram que quando a mudança climática causou diretamente a perda de uma espécie, resultou em uma perda em cascata de várias espécies que dependem dessa espécie para alimentação, polinização ou outros serviços ecossistêmicos.

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Efeito de coextinção até 2050 Devido à sua dieta de nicho, os coalas correm um risco maior devido às mudanças ambientais

Esse efeito dominó, conhecido como “co-extinção”, conduzirá a maior parte do declínio da diversidade de espécies de vertebrados terrestres sob a mudança climática projetada, prevê a pesquisa. Como o estudo não modelou o impacto da mudança climática nas comunidades de insetos ou plantas, essas descobertas provavelmente também são otimistas, disse Strona.

A enorme complexidade das relações entre os animais dentro dos ecossistemas naturais, além da incerteza sobre quão extremas serão as mudanças climáticas, torna difícil aprofundar esses dados e identificar quais animais se sairão melhor do que outros à medida que nosso mundo esquenta.

No entanto, a pesquisa de Strona pegou uma tendência geral: “O que descobrimos é que espécies maiores e espécies em altos níveis tróficos [da cadeia alimentar] serão mais adversamente afetadas”, disse ele.

Assim, animais com posições mais baixas na cadeia alimentar, como insetos ou roedores, podem se sair melhor em um mundo em aquecimento.

Animais adaptáveis

Espécies maiores tendem a se reproduzir mais lentamente, e essa é outra pista que os pesquisadores associaram à vulnerabilidade climática. Outro estudo recente, publicado na revista Global Change Biology, analisou 461 espécies de animais em seis continentes e analisou os efeitos perturbadores do uso histórico da terra e das mudanças de temperatura em suas populações.

“O que descobrimos em nosso estudo é que as espécies que se reproduzem muito rápido são muito boas em explorar novos habitats – pegando energia e transformando-a em descendentes”, disse o principal autor do estudo, Gonzalo Albaladejo Robles, um biólogo de conservação da University College London.

A reprodução mais rápida pode beneficiar as espécies em um clima em mudança porque elas são mais adaptáveis a habitats em mudança; ciclos de reprodução rápidos dão a essas espécies uma “oportunidade de sobreviver a esses picos de perturbação ambiental”, como clima extremo ou perda de habitat, explicou Albaladejo Robles.

Enquanto isso, os animais de reprodução mais lenta mostraram a tendência oposta no estudo, e suas populações diminuíram quando a temperatura e o habitat mudaram.

O tamanho é um fator que também pode funcionar contra as espécies.

Por exemplo, animais maiores podem sofrer mais com a mudança climática porque normalmente precisam de extensões maiores de habitat ininterrupto, bem como mais comida, que é facilmente ameaçada pela perda de habitat e pelos impactos da mudança climática na paisagem e nos recursos, disse Albaladejo Robles.

“Se você é um elefante, é mais provável que seja sensível a secas severas e também ao desmatamento do que outras espécies menores que precisam de menos recursos”, disse Albaladejo Robles. “De um modo geral, espécies pequenas terão maior probabilidade de sobreviver às interações de mudanças humanas, como mudanças climáticas e mudanças no uso da terra”.

Espécies com mais dietas de nicho, como pandas e coalas, também podem estar sob maior risco sob mudanças ambientais. Em contraste, as dietas amplas de alimentadores generalistas, como corvos e guaxinins, fornecem a eles uma ampla variedade de alimentos aos quais recorrer se uma fonte de alimento desaparecer. A capacidade de migrar e adaptar-se a diferentes habitats também poderia proteger os animais contra um futuro incerto.

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À medida que o mundo esquenta, milhares de espécies estão mudando seus habitats para escapar de temperaturas instáveis e padrões de precipitação que alteraram permanentemente seus habitats Espécies maiores, como elefantes, terão dificuldades com as mudanças climáticas

Por exemplo, muitas criaturas que podem sobreviver apenas em latitudes congeladas ou em recifes de corais , que diminuirão sob o aquecimento contínuo, enfrentam riscos maiores. A pesquisa também descobriu evidências de que animais como papagaios, morcegos e musaranhos estão “ mudando de forma “ao longo de gerações, desenvolvendo bicos, asas e caudas maiores para ajudá-los a esfriar de forma mais eficaz em climas mais quentes e, possivelmente, torná-los mais adaptáveis.

Tudo isso sugere que os animais mais resistentes à perturbação do habitat e às mudanças de temperatura têm maior probabilidade de prosperar em um mundo mais quente. Para obter pistas sobre quais espécies esse futuro pode incluir, basta olhar para as espécies descomplicadas, generalistas e de reprodução rápida que ocupam os habitats mais perturbados do nosso planeta: as cidades. Isso inclui baratas, camundongos, ratos, corvos, pombos, algumas aves de rapina, macacos e guaxinins.

E isso supondo que não terminemos com níveis catastróficos de calor que ultrapassem os limites térmicos dessas espécies. Se esse cenário se desenrolasse, estaríamos olhando para um mundo povoado por extremófilos como os tardígrados , também conhecidos como ursos d’água. Essas minúsculas criaturas podem entrar em um estado de hibernação que desliga quase completamente seu metabolismo, permitindo que algumas espécies de tardígrados resistam ao frio extremo de menos 320 graus Fahrenheit ( menos 196 graus Celsius ). e calor de até 300 graus Fahrenheit (150 graus Celsius).

E, no entanto, mesmo seus corpos aparentemente indestrutíveis têm limites, de acordo com algumas das pesquisas anteriores de Strona. Este estudo, publicado na Scientific Reports, simulou como os tardígrados se sairiam sob frio e aquecimento extremos com base apenas em seus níveis de tolerância à temperatura. A pesquisa confirmou que os tardígrados podiam suportar extremos incríveis. Mas quando os pesquisadores consideraram as interações de outras espécies que compõem os ecossistemas dos quais dependem, as populações de tardígrados despencaram sob o aquecimento extremo projetado que dizimaria esses outros animais.

“Os tardígrados são super resistentes sozinhos, mas precisam de outras espécies para sobreviver”, disse Strona.

Essa é a falha na ideia de “espécies sobreviventes”, disse ele, porque perde a necessidade de ecossistemas inteiros e sua rede de interações complexas de espécies para sustentar a vida na Terra, como mostrou a pesquisa da Science Advances.

Em vez de depositar nossas esperanças em algumas espécies resilientes para sobreviver às mudanças climáticas, precisamos proteger ecossistemas inteiros. Isso significa diminuir o aquecimento reduzindo o consumo de combustível fóssil, limitando a destruição do habitat e reduzindo outros impactos humanos na vida selvagem, dizem os especialistas.

As projeções podem ajudar destacando os animais mais vulneráveis que precisam de nossa atenção imediata. Ainda melhor, emparelhado com pesquisas recentes que identificam refúgios de habitat projetados para animais ameaçados pelo clima, podemos proteger proativamente ecossistemas inteiros que mantêm as espécies interconectadas.

Pode haver “vencedores” de curto prazo sob as mudanças climáticas projetadas. “Mas o que importa, eu acho, é o saldo líquido”, disse Strona. “Minha percepção é que haverá muito mais perdedores do que vencedores” - e, em última análise, esses perdedores podem nos incluir, disse ele.

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Mesmo o tardígrado mais resistente pode ter um limite sob as mudanças climáticas. Aqui vemos uma imagem ampliada e colorida de um tardígrado, um microanimal que vive na água, também conhecido como urso d’água, que tem oito patas e vive em habitats úmidos, como musgo ou líquen O tamanho da asa do grande morcego de folha redonda ( Hipposideros armiger ) aumentou 1,64% desde 1950, provavelmente em resposta às mudanças climáticas

Algumas das principais invenções médicas que mudaram o mundo até 2022

Aindústria da saúde testemunhou avanços notáveis na tecnologia médica, levando a invenções revolucionárias que transformaram para sempre a forma como diagnosticamos, tratamos e cuidamos dos pacientes. De hospitais de holograma de ponta a dispositivos vestíveis e sistemas de imagem avançados, essas inovações redefiniram os limites da medicina moderna. Neste artigo, vamos mergulhar no mundo das invenções médicas inovadoras que revolucionaram o setor de saúde, abrindo caminho para um futuro em que o atendimento ao paciente seja mais eficiente, preciso e acessível.

Em um vídeo cativante que mostra os avanços mais recentes, testemunhamos como a tecnologia médica ultrapassou os limites do que antes se pensava ser possível. Hospitais com hologramas, como o HoloScenarios desenvolvido pela Cambridge University Hospitals NHS Foundation Trust, surgiram como uma ferramenta revolucionária de treinamento para profissionais médicos. Ao fornecer situações holográficas realistas de pacientes em tempo real, esses hospitais permitem que os médicos aprimorem suas opções de tomada de decisão e tratamento.

Os sistemas de cirurgia robótica, como o Sistema Cirúrgico Vinci Xi, transformaram o campo da cirurgia minimamente invasiva. Os cirurgiões agora podem realizar procedimentos complexos com precisão e controle sem precedentes, resultando em incisões menores, dor pós-operatória reduzida e tempos de recuperação mais rápidos. O design modular e a configuração simplificada do sistema cirúrgico da Vinci contribuíram para sua ampla adoção e sucesso.

Dispositivos vestíveis também tiveram um impacto significativo na área da saúde. O Kinsa Smart Ear Thermometer, por exemplo, tornou-se um salva-vidas para pais que buscam leituras de temperatura precisas e convenientes para seus filhos.

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Descubra invenções médicas revolucionárias que revolucionaram a saúde!
Vídeo cativante mostra os avanços mais recentes. Assista-o em: www.youtu.be/4f6ZUYEeNbU Sistema Cirúrgico Vinci Xi, transformaram o campo da cirurgia minimamente invasiva Pacientes holográficos de realidade mista sendo usados por estudantes de medicina no Addenbrooke’s Hospital em Cambridge Fotos: Addenbrooke’s Hospital, Cambridge University Hospitals, NHS Foundation Trust/PA, Unsplash

Ao registrar dados de temperatura e associá-los a sintomas, como tosse, esse dispositivo ajuda os pais a monitorar a saúde de seus filhos com mais eficiência.

Leituras de temperatura precisas e convenientes para seus filhos

O advento da impressão 3D abriu novas possibilidades no campo dos nutracêuticos e farmacêuticos.

A saúde é uma das indústrias mais importantes, e desenvolvê-la ajuda a curar muitas doenças raras. Principalmente graças aos avanços tecnológicos no setor médico, que possibilitaram uma compreensão mais profunda da humanidade

Empresas como a Craft Health Private Limited em Cingapura estão utilizando cabeças de impressão 3D para criar estruturas complexas usando materiais como silicones, pastas de cerâmica e poliuretanos. Essa tecnologia tem o potencial de revolucionar os sistemas de administração de medicamentos e a medicina personalizada, oferecendo tratamentos sob medida para os pacientes. Outra invenção notável apresentada no vídeo é o Ambulance Drone.

Esta compacta caixa de ferramentas voadora carrega materiais essenciais para salvar vidas, incluindo desfibriladores externos automáticos (AEDs), medicamentos e assistência de RCP. Ao fornecer essas intervenções críticas a pacientes necessitados, o Ambulance Drone tem o potencial de salvar vidas, principalmente em emergências como insuficiência cardíaca, afogamento, trauma e problemas respiratórios.

A indústria da saúde está em uma jornada transformadora, impulsionada por invenções médicas revolucionárias que mudaram o cenário da medicina. Por meio de hospitais com hologramas, sistemas de cirurgia robótica, dispositivos vestíveis, impressão 3D e muito mais, testemunhamos o imenso potencial da tecnologia para melhorar os resultados dos pacientes e revolucionar as práticas de saúde.

À medida que abraçamos o futuro da tecnologia de saúde, podemos esperar um mundo onde as intervenções médicas sejam mais precisas, personalizadas e acessíveis a todos. Essas invenções inovadoras apresentadas no vídeo fornecem um vislumbre desse futuro, lembrando-nos das extraordinárias possibilidades que temos pela frente no campo da inovação em saúde.

Ambulance Drone, Salva vidas com uma rede de drones. Aumenta drasticamente a taxa de sobrevivência.
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Algumas das principais invenções médicas que mudaram o mundo até 2022 Descubra invenções médicas revolucionárias que revolucionaram a saúde!

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