BEL CAVALCANTE - Brasília, DF Poeta QUARTO Adentrei o cômodo escuro de maneira vagarosa, foi diferente dessa vez, não vira o interruptor em qualquer lugar, me desesperei. Aquele cômodo era a base, as vezes se tornava uma sala de música, outros uma oficina de artes, ou até mesmo o meu recinto de literatura, mas não, agora ele era escuro, amplo e assustadoramente vazio. Senti um frio na barriga intermitente, fechei a porta com cuidado, e em poucos segundos, me via dentre a escuridão. Virei-me abruptamente assim que vira algo se destacar, não chegara a ter brilho, era acinzentado, como promessas não cumpridas, como verdades não ditas, subjugadas como mentira. Caminhei na direção do objeto até então reluzente, era a estrutura de um espelho, desgastado com o tempo, ou se preferir, ações. Estava se decompondo, como ideias mal usadas em cabeças turbilhoadas, como contos recriados em histórias mal contadas, e a culpa não foi do cômodo em si, mas da pessoa que não soube cuidar dele, a mesma que adentrara mais cedo em indagações. Olhei para o espelho, nenhuma figura foi retratada, essa foi a primeira vez que senti falta do meu reflexo.
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