DAVID EHRLICH - Curitiba, PR ALEGRE E TRISTE Pensar no lado poético da vida é pensar que ela pode ser alegre e triste ao mesmo tempo. Como o poeta uruguaio Mario Benedetti já disse, podemos entristecer-nos pelos mais variados motivos (ou até nenhum motivo), mas devemos nos aprontar para receber a tristeza quando aparecer – porque ela sempre aparece, e há uma inesperada alegria em conseguirmos senti-la. É essa alegria da tristeza, dois sentimentos intimamente ligados à condição humana, que melhor define a poesia da vida: É impossível nunca se sentir triste, mas podemos escolher como lidar com isso. Podemos nos tornar meras vítimas das circunstâncias, ou podemos buscar sermos positivos e gratos pelo aprendizado que a tristeza traz consigo. Logo ao nascermos, há uma tristeza em carregar os pesados fardos que isso traz, mas há também uma alegria em aceita-los e, assim, viver novas experiências e histórias dia após dia. Conforme vivemos, há dias de sol e dias de chuva; nos dias de chuva ansiaremos pelo sol, e quando os dias de sol são excessivos ficaremos felizes em ver a chuva. Há dias em que achamos que somos fortes como um Hércules, e outros em que achamos que somos frágeis como pulgas. Há também dias em que não achamos nada, e não sabemos o que somos. Não devemos estranhar a infelicidade e a felicidade, mas sim tomá-las naturalmente, com a calma sentida e pensada da poesia – a poesia da realidade, do cotidiano simples e humilde, através do qual se atinge a riqueza de espírito. Um dia temos um ano de idade; outro dia, temos quarenta; no outro, oitenta. E durante esse percurso, tudo pode acontecer, a qualquer momento: Carlos Drummond de Andrade publicou seu primeiro livro aos 28 anos; Adélia Prado, aos 40; Cora Coralina, aos 76. A qualquer momento podemos encontrar um novo significado em nossas vidas, um novo poema a ser escrito. Eventualmente, porém, envelhecemos, e chega o momento de morrer. A morte é sempre nosso último poema, um belo poema sobre o pôr-do-sol e a noite, em que lembramo-nos sobre o dia que vivemos. E quando terminamos de escrever esse poema, tudo é possível. Assim como tudo é possível após cada poema que escrevemos, dia após dia, ano após ano. Poemas alegres, tristes, felizes, infelizes, todos acabam compondo o livro da vida de cada um de nós. Um livro um tanto estranho, talvez o melhor e o pior que lemos em nossas vidas: Sempre escrito em primeira pessoa, sempre contando uma jornada que nos parece familiar e, ao mesmo tempo, não sabemos como terminará. Um livro contendo inúmeros poemas, muitos dos quais acabaremos esquecendo com o tempo, mas também estamos sempre grudados a ele, sendo impossível pular para a próxima página ou voltar atrás para a anterior.
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