EDUARDO FERREIRA DE SOUZA - Santo André, SP PROGRESSO E REAÇÃO No final do século XIX surge no Brasil inovação tecnológica sem precedentes. Para ensinar a utilizar a novidade, técnicos franceses vieram ao Brasil treinar os professores nas técnicas de utilização. Era o quadro-negro. Parece mentira, não é? Afinal qual seria a dificuldade com uma lousa? Não sei quanto ao leitor, mas às vezes quando estou em apuros com o computador peço ajuda de meu sobrinho de dez anos que, solícito, resolve tudo com facilidade humilhante. Tão simples para ele é o uso da informática quanto apagar palavras de uma lousa. É o que chamam hoje de protagonismo infantojuvenil na cultura digital. As crianças já nascem sabendo, aos adultos resta a trabalhosa tarefa de se adaptar. O fato é que a lousa é apenas mais um meio de comunicação assim como essa parafernália toda, tablets, smartphones, lap tops.... Os veículos mudam e a pretensão é a mesma: aproximar as pessoas, facilitar o acesso aos semelhantes e suas informações. Porque então essa impressão melancólica de solidão? Porque tanta depressão e suicídio? Vejo pessoas meio em transe a perambular pelas ruas hipnotizadas, olhos fixos na telinha, dedos a teclar... Tenho como amigo de rede social o vizinho do lado. Pela rede sei de suas férias, do último filme que assistiu e de suas preferências culinárias, no entanto, nunca passamos do “bom dia” ao nos cruzarmos no elevador... Percebo que a tecnologia não aproxima ninguém. Na medida em que avança a evolução tecnológica parece que nos tornamos mais individualistas, mais egocêntricos até. Estamos bem mais centrados numa competição estéril para preencher os espaços das redes sociais de informações superficiais enquanto se expandem os espaços vazios da nossa existência deixados pela dinâmica fria da vida moderna que restringe a sociabilidade real. O que os humanos querem desde a pré-história é o que as redes sociais fingem que são capazes de oferecer: afeto e atenção. E num estranho paradoxo, essa demanda escasseia na proporção em que se sofisticam os veículos e modalidades de comunicação. É claro que não podemos mais prescindir da moderna tecnologia que criou a interação virtual entre outras facilidades. Mas quem disse que com ela não pode haver também a interação real, mãe da poesia? Ouvir presencialmente o outro é exercício de paciência, mas é bem mais gratificante que teclar, permite intercambio de sinais que vão muito além da oralidade. Olhos nos olhos beneficiam a empatia e linguagem corporal é a 87