Sumário
CARTA AO PROFESSOR ......................................................................................3
PROPOSTAS DE ATIVIDADES I.........................................................................12
Pré-leitura 12 Leitura 12
Pós-leitura 12
Atividade 1: O Brasil na visão de Frans Post 13
Atividade 2: Alteridade – conflitos, preconceitos e intolerâncias 14
Atividade 3: Candomblé – patrimônio artístico e cultural do Brasil............................................................................................................... 16
Atividade 4: Diário histórico 18
Atividade 5: Maurícia e Desmundo – intertextualidade e interdiscursividade 19
Atividade 6: Revista cultural on-line 20
PROPOSTAS DE ATIVIDADES II ...................................................................... 22
Atividade 1: Os holandeses no Brasil no século XVII 22
Atividade 2: Os indígenas – donos da terra excluídos e oprimidos 23
APROFUNDAMENTO 25
SUGESTÕES DE REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES 29
BIBLIOGRAFIA COMENTADA ...........................................................................31
Carta ao professor
Caro professor, Maurícia é uma obra de ficção voltada aos anos do Ensino Médio e contempla temas como 2.6.7.1 Projetos de vida, 2.6.7.2 Inquietações da juventude, 2.6.7.7 Protagonismo juvenil, e 2.6.7.9 Diálogos com a sociologia e com a antropologia, todos eles caros à Base Nacional Comum Curricular, a BNCC.
Neste material, você encontrará subsídios para desenvolver várias atividades em sala de aula, bem como para se aprofundar sobre alguns tópicos derivados das propostas de trabalho com o livro. Não deixe também de aproveitar as sugestões de referências complementares.
Como parte desta carta de abertura, você tem a palavra do autor a respeito de si mesmo, de seu trabalho e da criação do livro.
O autor
Aos doze anos, escrevi meus primeiros contos com a intenção de ser escritor. O curioso é que, com aquela idade, eu já queria escrever para crianças e adolescentes. Amava os romances e os contos, as histórias de mistério, mas, também, as crônicas de humor. E, aos quatorze anos, atrevi-me a ler um senhor que passou a ter lugar de destaque em minha vida: Sigmund Freud.
Hoje, vivo rodeado por livros: os que li, os que estou lendo, os que releio e os que quero ler. Aprendi que, quanto mais livros de boa qualidade você tem ao redor de si, mais segura é sua vida emocional e mais conteúdos você dispõe para compartilhar com os outros.
A leitura nos proporciona prazer, mas também senso crítico e capacidade de reflexão. Em especial, reflexão política, pois somos uma espécie gregária, que se movimenta por redes e abomina a solidão.
A leitura nos assegura um lugar como sujeitos no mundo. Nos ensina a pensar por nós mesmos. Fosse o brasileiro um leitor com melhor formação, certamente estaríamos hoje em um país com mais capacidade de estabelecer diálogos, apesar das diferenças. Neste sentido, ler nos liberta, por um lado, e, por outro, nos torna absolutamente responsáveis pela construção do mundo que nos cerca.
Algumas de minhas referências literárias estão nos bons autores clássicos portugueses e brasileiros: de Gil Vicente a Alexandre Herculano, de Machado de Assis a Guimarães Rosa. Adoro os contos de Murilo Rubião, a poesia de Carlos Drummond de Andrade e de Manoel de Barros, as crônicas de Rubem Braga e de Millôr Fernandes, o teatro de Nelson Rodrigues e
pessoalAdriano Messiasde Ariano Suassuna. Tive igualmente uma formação francófila, esta última motivada exclusivamente por meu interesse pessoal em relação à cultura francesa. Por isso, desde muito jovem, aprendi francês com uma bolsa de estudos e li os grandes autores no idioma original, de Júlio Verne a Victor Hugo, de Voltaire a Alexandre Dumas (o Pai e o Filho), e também os escritores que marcaram a literatura fantástica e gótica daquela cultura: Guy de Maupassant, Prosper Mérimée, Théophile Gautier, Charles Baudelaire... E, claro, ler as revistas de Astérix e Obélix na língua de origem faz muita diferença. Esses encontros interlinguísticos reforçaram meu viés de tradutor e adaptador, além de escritor.
Sou igualmente apaixonado pelos grandes autores e compiladores de contos provenientes da oralidade: aqueles materiais que se tornaram preciosos contos de fadas recompilados, mas que vieram originalmente da boca de simples aldeões, e teriam se perdido se não fossem pessoas como Giambattista Basile, os Irmãos Grimm e Câmara Cascudo, por exemplo. Sou encantado por toda essa literatura ao estilo de contos maravilhosos, como As mil e uma noites, os fabliaux e bestiários medievais, as coletâneas mitológicas, as facécias à Roman de Renard e as peripécias de viajantes a reinos e impérios inimagináveis.
Em minhas estantes, também têm lugar Borges, Shakespeare, Cervantes, Gustavo Bécquer, os jovens surrealistas…
Paralelamente à ficção, atuo como pesquisador nas áreas de semiótica, psicanálise e comunicação. Muito do que sou devo aos escritos de Jacques Lacan, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari e Didi-Huberman. Sempre e cada vez mais, tenho a meu lado também o pensamento de Sigmund Freud, Slavoj Žižek e Giorgio Agamben, dentre tantos outros.
Podemos dizer que somos feitos, em grande medida, por aqueles que lemos. Pelas histórias, nos constituímos como Homo sapiens, essa espécie capaz de representar o que não se faz presente, de pressupor, de prever, de inventar. Em suma: somos seres de falta, conscientes da finitude e, por isso também, linguageiros.
Maurícia é um romance que escrevi com o prazer de percorrer parte da história do Brasil. Sempre achei que a época da presença holandesa no Nordeste precisava ser mais explorada na ficção. Daí, decidi anunciar a cidade de Maurício de Nassau já no próprio título da obra. Investiguei sobre os usos e costumes da época e criei personagens fictícios que, ao se entrelaçarem com fatos históricos, resultaram na trama do livro.
Maurícia fala de diferenças e estranhamentos, de diálogos e encontros. Espero que você, professor, tenha um bom encontro com este romance.
A obra
Maurícia é um romance histórico juvenil de 140 páginas, dividido em quatro partes e um epílogo. Cada parte recebe o nome de manuscrito. Cada manuscrito se divide em capítulos
Os capítulos receberam notas de rodapé sempre que se julgou necessário esclarecer algum termo mais específico para o leitor jovem.
Na página 9, encontra-se uma breve apresentação do livro, escrita pelo próprio autor, intitulada “A montagem do jogo”. Das páginas 10 a 15, segue uma linha do tempo que assinala tanto eventos históricos quanto marcos das ações dos personagens. Intercaladas à leitura dos capítulos, estão algumas páginas denominadas “Naqueles tempos…”. O objetivo foi contextualizar melhor o leitor sobre a época tratada no livro com imagem e textos complementares.
No aspecto gráfico, a diagramação e o design dialogam com a temática da narrativa: a presença do alaranjado é uma lembrança da cor nacional dos Países Baixos que, por sua vez, remete a Guilherme I, Príncipe de Orange, e a toda a Casa de Orange-Nassau.
Tanto na capa quanto nas páginas internas, há referências à cerâmica azul de Flandres, com seus símbolos e ornatos florais e arabescos, ao mesmo tempo em que podem ser encontrados detalhes das terras tropicais, como os cajus. A fonte usada também está em cor azul.
Nas páginas 18 e 19, encontra-se uma reprodução da bela gravura Mauritiopolis, do pintor Frans Post, com legenda explicativa. Outras partes do livro são igualmente ilustradas com gravuras antigas.
Pode-se entender por estilo a maneira específica de um autor escrever, a forma como ele se apropria da linguagem para organizá-la. Estilo tem a ver com forma.
O estilo em Maurícia é permeado por uma prosa carregada de tons poéticos, que busca envolver o leitor na trama a cada capítulo. Ao mesmo tempo, há uma preocupação em se retratar a realidade histórica, mas sem que esta se torne mais forte do que o desenrolar das ações. A linguagem é acessível ao adolescente do Ensino Médio, que também poderá enriquecer
seu vocabulário com criações e recursos linguísticos que homenageiam a época privilegiada pelo romance.
O gênero literário narrativo de Maurícia é o romance. Porém, ainda que em nossos dias seja um gênero literário muito presente e prolífico, o romance foi desmerecido por bastante tempo, quando era considerado literatura de menor qualidade.
Muito heterogêneo e plástico, o romance é de difícil definição e classificação por se tratar de um gênero literário ainda em formação: ele é muito jovem, ao contrário da epopeia – seu gênero matricial –, que remonta à Antiguidade.
Podemos caracterizar melhor um romance pela estética: em primeiro lugar, tem-se uma escrita em prosa junto à presença da ficção – mesmo no chamado romance histórico. A história contada é denominada trama ou enredo
Também é possível dizer que o romance, de forma geral, possui um desejo de retratar o mundo – ainda que, para isso, enverede por enredos fantásticos. O romance também possui personagens, os quais ajudam a organizar a narrativa, e costuma não prescindir da descrição
Um romance não tem de ser necessariamente uma história com um casal amoroso. Em literatura, ele é um gênero literário que cresceu com a predileção da classe burguesa e com a chamada invenção da Modernidade. Desde então, grandes narrativas têm se dado por meio do romance, também inspirador de filmes e séries.
Qualquer tipologia para o gênero será limitadora: regionalista, de aventuras, policial, noir e de espionagem, ou ainda autobiográfico, psicológico, de formação, todos são termos incapazes de abarcar a complexidade por trás do romance. Em geral, a função classificatória é didática e para fins de orientação do leitor.
Algumas classificações dos romances
TIPO CARACTERÍSTICAS
Romance de formação (ou de aprendizagem)
Romance regionalista (ou regional)
Abrange o arco de amadurecimento de um personagem. São comuns personagens crianças ou adolescentes que entram pela fase adulta e, às vezes, chegam até a velhice.
Nele, o espaço e o tempo são muito bem caracterizados pela presença da cor local, com ênfase na vida rural, caipira e sertaneja.
EXEMPLOS
Oliver Twist, de Charles Dickens;
O ateneu, de Raul Pompeia;
A montanha mágica, de Thomas Mann
O seminarista, de Bernardo Guimarães;
O gaúcho, de José de Alencar;
A bagaceira, de José Américo de Almeida
Romance histórico (ou de época)
Romance psicológico (ou emocional)
É o que está ambientado em determinado período histórico, sempre carregado de um certo realismo e da cor local.
Trata-se de um tipo de romance que valoriza a vida emocional do personagem e seu tempo psicológico. Tem forte caráter intimista.
As minas de Prata, de José de Alencar;
Anna Karenina, de Liev Tolstói;
O físico, de Noah Gordon
Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski;
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis;
A metamorfose, de Franz Kafka
Maurícia possui características de romance histórico e regionalista ao retratar a vida em Pernambuco no século XVII, bem como os usos e costumes entre brasileiros, portugueses e holandeses. A narrativa deixa evidente a forte miscigenação racial já presente na colônia naquela época. Ao mesmo tempo, o caráter intimista do narrador, que propõe uma leitura em flashback – a partir da escrita de suas memórias –, confere à obra também um aspecto de romance psicológico. Por oferecer um arco da vida do protagonista narrador, também se pode detectar algo de romance de formação presente na obra. Dessa forma, percebe-se como as classificações em literatura são porosas e intercambiáveis.
Cor local
Cor local é um conceito importante em literatura e tem a ver com as características próprias de certas épocas e lugares: linguajares, usos, costumes, comportamentos, etc.
Pode-se entender melhor a estrutura do romance por sua comparação com outros gêneros, em especial o conto. Este último apresenta uma narrativa bem mais curta e, por isso, precisa ter como eixo uma ideia principal e poucos personagens. Já o romance é mais longo e tem a possibilidade de contar com vários personagens e ideias secundárias em torno de um eixo central. Por isso, também é comum que um romance possua divisões como partes e capítulos
Se o conto pode ser reduzido em termos de ambientação de espaço (o lugar em que a trama se desenrola) e de tempo, o romance ganha amplitude maior nesses quesitos.
O tempo de uma narrativa pode ser linear ou não linear, e nele pode predominar a subjetividade (o tempo psicológico ou emocional de algum personagem), a objetividade (o tempo cronológico), ou ainda ambas.
Quanto aos personagens, pode haver protagonista(s), antagonista(s) e coadjuvante(s) – os personagens secundários, que geralmente apoiam os protagonistas ou os antagonistas –, mas isso varia de obra para obra.
Como se apreende no quadro anterior, o romance histórico busca tratar de fatos, eventos e situações que aconteceram e que fazem parte da chamada realidade e de seus registros. Mesmo que haja personagens fictícios, os romances deste subgênero tentam seguir uma coesão histórica que esteja em conformidade com pesquisas, investigações e dados, por exemplo. É nesse contexto que Maurícia se enquadra de forma mais precisa.
Informação histórica, evocação do passado e cor local costumam ser características notadas em um romance histórico. De forma consensual, a obra que demarca o aparecimento do romance histórico é Ivanhoé (1820), do escocês Walter Scott, que trata das pelejas medievais entre os normandos e os saxões. Em nosso país, considera-se José de Alencar um dos fundadores do romance histórico com suas obras de ambientação colonial (As minas de prata, A guerra dos mascates), e também de cunho indianista e regionalista.
No século XX, destacam-se, por exemplo, a trilogia O tempo e o vento (1949-1962), de Érico Veríssimo, e os três volumes de Os subterrâneos da liberdade (1954), de Jorge Amado. A partir da década de 1970, nossa literatura presenciou uma onda de romances históricos, a exemplo de Galvez, imperador do Acre (1976), de Márcio Souza; A prole do corvo (1978), de Luiz Antonio de Assis Brasil; Mad Maria (1980), de Marcio Souza; A estranha nação de Rafael Mendes (1983), de Moacyr Scliar; Viva o povo brasileiro (1984), de João Ubaldo Ribeiro; Os varões assinalados (1985), de Tabajara Ruas; A cidade dos padres (1986), de Deonísio da Silva; Boca do Inferno (1989), de Ana Miranda; Agosto (1990), de Rubem Fonseca; Ana em Veneza (1994), de João Silvério Trevisan; e Terra Papagalli (1997), de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta. No século atual, podemos destacar A máquina de madeira (2012), de Miguel Sanches Neto; O bibliotecário do Imperador (2013), de Marco Lucchesi; Em breve tudo será mistério e cinza (2013), de Alberto A. Reis; e Quatro soldados (2017), de Samir Machado de Machado.
De forma geral, o romance histórico está, assim como todo o gênero do romance, em constante reinvenção, e pode oferecer tanto continuidades quanto rupturas com as vertentes clássicas do subgênero, sobretudo a partir dos anos de 1990, quando o revisionismo histórico incentivou novas leituras sobre o passado do Brasil. Talvez seja esse um dos diferenciais de um romance histórico contemporâneo para com um romance histórico tradicional, além da relativização da versão oficial – categoria questionável e dúbia. Afinal, desde os “mestres da suspeita” – Friedrich Nietzsche, Karl Marx e Sigmund Freud –, jamais vimos o mundo da mesma forma.
Além disso, tem-se de considerar que um romance histórico, ainda que atrelado a fatos históricos, é sempre produto da ficção artística e jamais deve ser considerado um documento ou testemunho da história. Um romance histórico é, antes de tudo, literatura.
Na obra Maurícia, o narrador empregado é em primeira pessoa, como se pode verificar no excerto a seguir: “Eu me lembro bem daqueles dias, e talvez a imagem que guardo de mim mesmo me ajude a reviver tudo” (p. 46)1
O narrador personagem se chama Joaquim Manuel da Silva. Em 1661, já com mais de quarenta anos – praticamente um velho para a época em que vivia, quando a longevidade era muito curta –, ele escreve suas memórias.
Joaquim nasceu em Pernambuco em 1618 e era filho de Tobias, filho de um fidalgo falido, e Maria do Céu, portuguesa da região do Minho, norte de Portugal. Tinha por irmãos menores consanguíneos Manuela e Estêvão, e um irmão indígena adotivo, Cristiano. Aos doze anos, Joaquim presencia a chegada dos holandeses no litoral pernambucano e se torna amigo de um jovem oficial chamado Eduwart.
Filho da terra, Tobias aparece pela primeira vez na trama aos trinta e três anos, quando é descrito por Joaquim como “um homem cansado, impaciente, grisalho nos tufos de cabelos sobre as orelhas, e cheio de falhas nos dentes que apodreciam” (p. 22).
O avô paterno de Joaquim veio a afogar a própria esposa em um rio e se matou em seguida. Assim, Tobias, desprovido de bens, caiu em uma vida penosa, em que precisava realizar qualquer tipo de trabalho para subsistir.
A mãe de Joaquim, antítese do marido em termos de personalidade, é assim apresentada: “Portuguesa de nascimento, órfã e miserável minhota, teve na misericórdia dos jesuítas seu fado: viajar para a colônia, onde faltavam mulheres parideiras, de ancas largas e braços fortes para a labuta” (p. 23). Inicialmente reclusa em uma casa para moças casadoiras no Recife, acabou sendo estuprada em um matagal e, posteriormente, expulsa de seu abrigo pela madre superiora. Sua desdita fez com que ela, sem suspeitar,
1 Todas as vezes em que aparecerem páginas sem nome de autor e ano, significa que a referência é ao próprio livro Maurícia
viesse a ser acolhida pelo mesmo homem que a agrediu e, dele, veio a parir Joaquim: “Da desgracenta união eu nasci, bem encolhido em uma choça coberta de palha, deitado em um estrado de taquaras forrado por paina” (p. 25). Maria do Céu ainda é retratada outras vezes pelo narrador, que a aproxima de uma mulher angelical e doce.
Dois anos após o nascimento de Joaquim, nasceria Estêvão, garoto de saúde fraca, epiléptico, cujo difícil parto foi feito por uma velha índia tupi. Três anos mais tarde, nasceria a risonha Manuela, alegria de todos. Devido à pobreza da família, ela foi enviada a um convento aos seis anos de idade.
Aneken, o amor primeiro e único do protagonista, apareceu-lhe como uma moça fantasmagórica, séria, esguia, ruiva, com olhos azuis e sardas no rosto, que tinha uma dama de companhia branca e uma negra banto que escoltava a holandesa, protegendo-a com um guarda-sol (p. 92). Também integra a narrativa Mutuma, uma negra parteira e mãe de santo.
Os personagens de Maurícia recebem um forte impacto da ambientação, como se esta lhes influísse diretamente. Ao mesmo tempo, eles participam na composição da própria cor local, a qual confere sabores regionalistas ao romance histórico.
A história se passa no Recife e na Olinda do século XVII, durante a permanência dos holandeses no Nordeste, quando tentaram fundar a Nova Holanda. O período abrangido é o de 1630 a 1654, e, nele, retrata-se especialmente a vida na cidade de Maurícia – berço holandês na Capitania de Pernambuco.
Ao lado da opulência da aristocracia, de seus hábitos luxuosos e suas construções ousadas – como o palácio de Nassau –, temos a vida árdua de um povo multicultural na colônia: os negros escravizados, os indígenas e os filhos de europeus, estes, por sua vez, miscigenados com indígenas e africanos. E são todos estes que vivem em situações marginalizadas e extremamente precárias. Se, por um lado, eles vão buscar entender a presença estrangeira, por outro, muitas vezes serão convocados a participar da resistência frente aos holandeses.
Ao mesmo tempo, supõe-se, naquele período, uma certa tolerância religiosa entre católicos, calvinistas, judeus e muçulmanos. Entretanto, também faziam parte da cultura local as práticas religiosas tanto indígenas quanto africanas.
Os lugares históricos do Recife e de Olinda são descritos com fidelidade à época, com ênfase no relevo, na vegetação, na arquitetura das construções e nos grandes eventos.
Propostas de atividades I
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS: LÍNGUA PORTUGUESAPré-leitura
Professor, para estimular os alunos à leitura, faça com eles uma breve contextualização sobre o período da presença dos holandeses no Brasil e suas consequências históricas. Você pode iniciar esse momento com a leitura do texto da quarta capa. Pergunte aos estudantes que ideias essa breve apresentação lhes transmite sobre a obra Maurícia. Em seguida, deixe que comentem sobre o design da capa e o título do livro. Permita que eles tomem alguns signos (cores, detalhes visuais, nome da obra, etc.) e criem suas suposições. Em seguida, realize uma breve apresentação sobre o autor e sua obra. Para isso, apresente a eles o site: www.adrianomessias.com.
Estabeleça, neste encontro, alguns critérios que os estudantes devem ter durante a leitura de Maurícia, mas evite propostas muito didáticas, como fichamentos e resumos. A leitura literária é um momento de fruição e, se os adolescentes a fizerem por conta de trabalhos ou provas, não será tão prazerosa.
Leitura
A leitura de Maurícia tem sua densidade e, para isso, os alunos devem ficar pelo menos uma semana com a obra para que possam não apenas lê-la, mas também se inteirar do contexto histórico circunscrito ao enredo.
Durante o período em que estiverem lendo, faça perguntas em suas aulas sobre as impressões que os estudantes estão tendo do enredo. Assim, você também sentirá como é a recepção da obra e de que maneira eles se envolvem com a história.
Pós-leitura
Professor, no Ensino Médio, os encontros de pós-leitura de um livro devem se voltar ao exercício da reflexão crítica e expressiva dos alunos. Muitos jovens são bem opinativos e demarcam suas preferências de forma contundente, mas nem sempre conseguem se expressar a contento. Portanto, a melhor maneira de proporcionar esse momento é estimulando comentários espontâneos, porém, com orientações.
Por isso, no dia em que for promover uma primeira conversação a respeito do livro, explique que não basta dizerem se gostaram ou não do que leram. As opiniões têm de refletir algo da personalidade do leitor. Uma forma de orientação pode ser revisar com a turma termos e expressões específicos
para a argumentação oral: “no aspecto da narrativa, o que me chamou a atenção foi…”, “quanto ao estilo do autor, eu penso que…”, “em termos de romance histórico, esse livro me atraiu porque…”, etc. É fundamental fazer com que os estudantes entendam que emitir pareceres exige fundamentação e referências.
As atividades a seguir consideram que os alunos já leram a obra Maurícia Elas são, portanto, atividades de pós-leitura que têm por objetivo envolver ainda mais os alunos com o romance de Adriano Messias e tornar suas aulas mais dinâmicas e criativas.
ATIVIDADE 1: O Brasil na visão de Frans Post
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 1
Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo. (BRASIL, 2018, p. 490)
HABILIDADE
(EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, levando em conta seus funcionamentos, para a compreensão e produção de textos e discursos em diversos campos de atuação social.
Esta atividade tem como elementos motivadores as gravuras de Frans Post presentes no livro Maurícia. A partir da linguagem pictórica deste artista, os alunos produzirão textos analíticos que farão parte de uma exposição criada também por eles.
Para se preparar melhor sobre o assunto, na página 25 da seção “Aprofundamento” você encontrará o texto “Frans Post e o Brasil do século XVII”. Se quiser, pode usar esse mesmo texto com sua turma.
Convide os alunos a conhecerem outras três obras do Brasil holandês visto pelos olhos de Post e que estão nos links a seguir:
1. “Vista da Ilha de Itamaracá”, 1637: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra24406/vista-da-ilha-de-itamaraca
2. “Carro de bois”, 1638:
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9982/frans-post
3. “Engenho de açúcar”, sem data definida: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra24413/engenho-de-acucar Estas imagens servem como ponto de partida para a continuação da atividade. No link a seguir, do Rijksmuseum, em Amsterdam, você encontrará telas de Frans Post em tamanhos maiores e mais dinâmicos para apreciar com seus alunos: https://www.rijksmuseum.nl/en/content-search/?q=frans%20post.
Estabeleça com eles alguns critérios para a análise da forma e do conteúdo de cada pintura:
1. tipo de perspectiva do pintor observador (de onde provém o olhar do artista);
2. enquadramento (horizontal, vertical), cores (mais contrastantes ou mais neutras, mais fiéis à luminosidade tropical ou mais dentro da paleta holandesa) e traços (mais ou menos difusos, com muitos ou poucos detalhes);
3. elementos naturais e não naturais retratados (relevo, acidentes geográficos, fauna, flora, grupos humanos, tecnologias, etc.);
4. ideias que cada imagem sintetiza sobre o Brasil.
À medida que os alunos forem tecendo suas observações, escreva-as no quadro. Quando finalizado esse momento da atividade, peça que eles anotem nos cadernos a análise coletiva.
Na próxima etapa, os estudantes se dividirão: cada grupo escolherá um quadro de Frans Post para analisar. O texto resultante desse processo de interpretação comporá um material informativo contendo reproduções de cada obra estudada.
A atividade será concluída com uma exposição em um mural da escola ou em algum espaço comunitário.
ATIVIDADE 2: Alteridade – conflitos, preconceitos e intolerâncias
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 2
Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018, p. 490)
HABILIDADE
(EM13LGG202) Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
Falas de diferentes personagens podem ser entendidas como maneiras de cada qual expressar visões de mundo e, por consequência, de se tecer narrativas a respeito da vida (valores, ética, moral, preconceitos, etc.). Nesta atividade, os alunos deverão analisar algumas dessas falas para compreenderem as relações de poder no âmbito fictício, mas também histórico, proposto no livro Maurícia. Para tanto, você pode estimulá-los a compreender como determinadas ideologias circulam e se reproduzem historicamente em nosso país.
Leia com sua turma os trechos a seguir:
— Estêvão, cuide bem de seu gado para você ficar bem rico um dia, ter engenhos e escravos. (p. 30, fala de Joaquim para o irmão, Estêvão)
— Não confio num homem filho de português e que, ainda por cima, se veste como a gente flamenga. Anneken, saiba o sinhozinho, é sinhá doente, sofre de males do sangue e, por isso, o doutor mandou ela tomar sol de manhã. Mas não acredito em suas palavras, assim como não confio em ninguém que tenha trazido a desgraça para o povo de minha cor. Com os holandeses, até que sou bem tratada, mas não posso me esquecer do que acontece com minha gente nesses canaviais sertão afora. (p. 94, fala da escrava de Anneken para Joaquim)
— E fugir para onde, Joaquim? Nem calvinista você aceitou ser. Sua pele amorenada infelizmente é seu fado. Meu povo de Flandres não quer misturas. É claro que alguns marinheiros não recusam as putas mestiças. Mas o sol e a raça são seus inimigos aqui, em Nova Holanda. Se fugirem, vocês dois irão se perder nos charcos do litoral, onde os mangues nas luas cheias podem engolir experientes canoeiros. Nos canaviais, existe apenas a certeza dos engenhos, dos feitores e dos senhores de escravos. Se fossem além, guiados pela sorte, teriam o que chamam de sertão, não é mesmo? Gado solto, poucas palhoças, a natureza agressiva e os indígenas desconhecidos. (...) Você percebe que, mesmo livre, tem aqui uma espécie de prisão, infelizmente? (p. 100, fala de Eduwart para Joaquim)
Em seguida, peça aos estudantes para fazerem comentários sobre os discursos de cada personagem e sobre o entendimento destes a respeito do contexto em que viviam.
Nas três falas anteriores, professor, podem ser percebidos diversos confrontos de alteridade em visões bastante complexas e antagônicas.
Primeiramente, Joaquim, nascido no Brasil e filho de uma família muito pobre, conversa com o irmão menor, incentivando-o a sonhar a ter engenhos e escravos, ou seja, ele reproduz a ideologia do colonizador e do opressor, mesmo estando na condição de oprimido.
Por outro lado, a escrava desconfia do caráter de Joaquim, que lhe parece dúbio por ser brasileiro e ter aceitado se vestir como holandês. Ela tem consciência do sofrimento dos negros na colônia e repudia o comportamento do rapaz. Joaquim, por sua vez, a trata muito mal, usando do mesmo tipo de violência física e simbólica dos senhores de engenho para com seus escravos.
Por fim, Eduwart dá um “choque de realidade” em Joaquim, que acreditava poder alçar a uma condição social diferente a partir da amizade com o estrangeiro. O holandês é quem salienta ao brasileiro as várias restrições que este não poderia superar, a exemplo da origem, a cor da pele e da segregação racial que encontraria em Flandres, caso fosse para a Europa.
Naqueles anos da juventude, parece que Joaquim se cegou pelo falso brilho que a cultura holandesa lhe trazia, pois, no fundo, o protagonista não encontraria benesses, favores ou recursos que de fato lhe fizessem sair do mundo em que vivia. Era bem-intencionado, queria ajudar seu povo de alguma maneira, mas tentar ser um europeu não deu certo. O mundo funcionava, tanto para ele quanto para os demais oprimidos, como uma série de prisões em várias camadas: as sociais, as políticas e as geográficas.
O que foi comentado nos parágrafos anteriores serve como um direcionamento analítico que você pode empregar para a discussão.
Como segunda parte da atividade, leia com seus alunos o texto “Escravidão e racismo”, que consta no livro Sobre o autoritarismo brasileiro, de Lilia Schwarcz, indicado na bibliografia comentada. Depois, indague a turma sobre o que mudou ou não, no decorrer dos séculos, para as classes menos favorecidas no Brasil em termos de qualidade de vida, de acesso aos bens imateriais e materiais, de acesso à educação de qualidade, etc. Algumas perguntas que você pode fazer a eles são: “a mudança de condição social continua tão difícil para muitas pessoas hoje em dia quanto era para Joaquim? Que tipos de racismo se fazem presentes em nosso país? De que forma as pessoas expressam racismos em suas falas, comportamentos e ações? Quais tipos de antagonismos podem ser encontrados entre os diferentes grupos, raças, etnias e classes sociais em nosso país?”.
Assim como os alunos puderam analisar a linguagem dos personagens, finalize a atividade pedindo que eles escolham algum outro tipo de discurso (pode ser uma entrevista, uma postagem, uma performance) e vasculhem as ideologias inerentes a ele. Em aula posterior, cada aluno lhe entregará um texto argumentativo e analítico sobre o discurso escolhido.
ATIVIDADE 3: Candomblé – patrimônio artístico e cultural do Brasil
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 6
Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas. (BRASIL, 2018, p. 496)
HABILIDADE
(EM13LGG601) Apropriar-se do patrimônio artístico de diferentes tempos e lugares, compreendendo a sua diversidade, bem como os processos de legitimação das manifestações artísticas na sociedade, desenvolvendo visão crítica e histórica.
O objetivo desta atividade é apresentar o candomblé como parte de nosso patrimônio artístico e cultural, reflexo da diversidade religiosa de nosso
povo, mas, ao mesmo tempo, alvo histórico de intolerâncias por parte de outras religiões.
No livro Maurícia, existem referências a práticas religiosas africanas que, posteriormente, se consolidariam nas diversas nações de candomblé, sobretudo a partir do século XIX, e também na umbanda, a partir de princípios do século XX.
Leia com seus alunos os excertos a seguir:
E mandou chamar uma preta velha da Guiné que trabalhava como cozinheira em um convento de Olinda. (…) Ela, conhecedora das coisas de além-mar, baforou no rosto de meu irmão, após tragar com seu cachimbo três vezes, e fez cara de preocupação logo em seguida:
— Hum-hum. – falou, em reprovação. – Moleque não tem Egum encostado, não. Moleque tá é doente da carne mesmo. (…)
(…) Disse, com outra voz, ser uma servidora do espírito das matas e das ervas, Ossayin. (p. 32)
Carreguei-a até a palhoça de minha negra de confiança: Mutuma, parteira e dona dos búzios e das conchas. (…)
— É Elegbara quem fala, fio. Moça branca corre perigo. O mensageiro dos orixás pede favor. À serventia de Ogum, senhor de todas as demandas e lutas, vai Exu pelear. Eu preparo a oferenda, me traga farinha de mandioca e bom azeite de dendê. O resto eu faço pra tentar salvar essa alma. Laroiê, Exu! (p. 97)
A partir desses trechos, pergunte aos alunos o que eles sabem sobre religiões de matrizes africanas e que informações trazem sobre os elementos africanos mencionados no texto: Egum, Ossayin, Elgbara, Exu, Ogum, búzios, dendê, etc.
Em seguida, peça para lerem a reportagem “Amor e fé: fotografia que combate a intolerância contra religiões de matriz africana”, disponível no link a seguir: https://www.brasildefato.com.br/2020/01/22/amor-e-fefotografia-que-combate-a-intolerancia-contra-religioes-de-matriz-africana
Peça aos estudantes para comentarem a importância de um trabalho artístico para a valorização das religiões de matrizes africanas e pergunte qual tipo de angulação o fotógrafo e candomblecista Roger Cipó preferiu usar em suas fotos.
A atividade se encerrará com uma pesquisa realizada pela turma sobre as principais entidades espirituais de alguma nação de candomblé (Ketu, Jeje e Angola, etc.). Como sugestão, mencionamos na bibliografia a obra Mitologia dos orixás, de Reginaldo Prandi, um bom ponto de partida tanto literário quanto fotográfico.
ATIVIDADE 4: Diário histórico
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 7
Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva. (BRASIL, 2018, p. 497)
HABILIDADE (EM13LGG703) Utilizar diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais em processos de produção coletiva, colaborativa e projetos autorais em ambientes digitais.
O objetivo desta atividade é permitir que os alunos produzam coletivamente um diário com valor literário, baseado em algum evento ou momento da história, o qual ficará disponível on-line em alguma mídia ou rede digital à escolha da turma.
Professor, para se preparar melhor, não deixe de ler o texto “Diários em romances”, na página 26 da seção “Aprofundamento”.
Os textos produzidos pela turma deverão ser acompanhados de ilustrações feitas pelos próprios estudantes.
Antes, discuta brevemente com os estudantes o que é um romance histórico e como ele se caracteriza. Depois, explique que cada aluno será responsável por escrever um capítulo de um diário fictício que tenha um fio condutor histórico. A cada dia, um capítulo será postado, e cada novo capítulo dará continuidade ao anterior.
Para decidir a ordem de publicação, você pode fazer um sorteio.
Delimite um tamanho mínimo e máximo para cada capítulo.
Os próprios alunos escolherão a época a ser retratada e criarão o personagem narrador (ou personagens narradores).
Quando terminarem de postar todos os capítulos, reúna-os na aula seguinte para discutirem o que acharam da atividade, em especial as possíveis dificuldades em se criar uma narrativa coletiva.
Algumas perguntas que você pode fazer a eles: houve um eixo condutor coeso, apesar de ser uma produção em fragmentos? Todos os aspectos levantados na trama foram levados adiante e solucionados? Foi estabelecido algum clímax? A história teve um bom desfecho? Quais são os desafios em se criar um texto coletivo? Qual o número de visualizações que as postagens tiveram? O texto final pode ser melhorado?
Esta atividade pode se desdobrar em um projeto maior, como a publicação de um livro de autoria da turma.
LÍNGUA PORTUGUESA: TODOS OS CAMPOS DE ATUAÇÃO SOCIAL
ATIVIDADE 5: Maurícia e Desmundo – intertextualidade e interdiscursividade
PRÁTICAS
“Leitura, escuta, produção de textos (orais, escritos, multissemióticos) e análise linguística/semiótica”. (BRASIL, 2018, p. 506)
HABILIDADE
(EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de paráfrases, paródias e estilizações, entre outras possibilidades.
Na página 29, em “Sugestões de referências complementares”, você tem a indicação do filme Desmundo, de Alain Fresnot. É com ele que você também desenvolverá essa atividade, que trabalha com as inter-relações da literatura com o cinema.
Assista o filme com sua turma. Depois, peça para os alunos estabelecerem similitudes entre a obra cinematográfica e o romance Maurícia quanto aos seguintes aspectos: a) espaço e tempo narrativo, b) personagem principal, c) tipo de narrador, d) conflitos, e) clímax, f) desfecho da história.
Neste momento, eles devem destacar as relações intertextuais e interdiscursivas das obras, considerando-se sempre as particularidades de cada formato: escrito e audiovisual. Para tanto, explique brevemente algumas das especificidades da linguagem cinematográfica, como a presença fundamental da imagem para se contar uma história. Ou seja: não é possível comparar um livro e um filme como se ambos tivessem a mesma linguagem. Trata-se de “leituras” em diferentes contextos.
Após essa etapa, os alunos deverão fazer comparações entre a personagem Manuela, irmã de Joaquim no romance Maurícia, e Oribela, a órfã prometida de Desmundo
Você pode centralizar essa parte da atividade em torno de dois temas abordados tanto no livro quanto no filme: a) a sociedade machista e patriarcal e a subordinação das mulheres aos homens no Brasil colônia; b) a violência histórica e estrutural contra as mulheres.
Para que os estudantes tenham mais conhecimento sobre o tema, peça para que leiam o texto “Violência contra a mulher” no link a seguir: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/violencia-contra-a-mulher.htm.
Como encerramento da atividade, proponha que cada aluno entregue, em data combinada, um texto analítico em que discuta os aspectos a) e b) na sociedade colonial brasileira a partir do romance e do filme.
LÍNGUA PORTUGUESA: CAMPO DA VIDA PESSOAL
ATIVIDADE 6: Revista cultural on-line
PRÁTICAS
Leitura, escuta, produção de textos (orais, escritos, multissemióticos) e análise linguística/semiótica. (BRASIL, 2018, p. 511)
HABILIDADE
(EM13LP21) Produzir, de forma colaborativa, e socializar playlists comentadas de preferências culturais e de entretenimento, revistas culturais, fanzines, e-zines ou publicações afins que divulguem, comentem e avaliem músicas, games, séries, filmes, quadrinhos, livros, peças, exposições, espetáculos de dança etc., de forma a compartilhar gostos, identificar afinidades, fomentar comunidades etc.
Nesta atividade, os alunos irão partir do livro Maurícia para criarem, em alguma rede ou plataforma digital, uma revista cultural on-line
A revista funcionará como um laboratório de redação e criatividade. A primeira etapa constará de uma reunião para que sejam definidos os temas, vertentes e produtos culturais com os quais pretenderão trabalhar. É preciso também escolher a forma como serão abordados esses temas em cada texto produzido. Por exemplo: um resumo, uma sinopse e uma crítica podem ser formas de se falar de um filme.
Estimule-os a empregar diferentes gêneros na revista (reportagem, crônica, conto, carta, chat, etc.).
O próximo passo é permitir que os alunos entendam como uma revista se organiza em termos de funções dos participantes: redator-chefe, revisor, fotógrafo, designer, repórteres, críticos, colunistas, etc. Neste momento, anote no quadro os nomes dos alunos interessados em determinadas atividades para que já se tenha uma definição das tarefas e dos prazos que eles deverão cumprir. Por exemplo: será uma edição semanal, quinzenal, mensal? Quantas edições poderiam ser criadas até o fim do ano letivo?
Esta atividade igualmente permite que os estudantes compreendam um pouco sobre diversos locais de trabalho que eles possam vir a escolher no futuro: redações de jornais e revistas, laboratórios de design, editoras, etc.
Um número totalmente voltado ao período da permanência holandesa no Brasil pode ser uma sugestão para a primeira edição: tomando-se Maurícia como ponto de partida, os estudantes podem apresentar e comentar algumas das gravuras e pinturas dos dois maiores expoentes do período holandês, Frans Post e Albert Eckhout. Pode haver ainda um espaço para a literatura, para a culinária e para as artes visuais. No âmbito das HQs, por exemplo, existe a obra Holandeses, de André Toral, que traz as aventuras de dois irmãos judeus que vêm para o Brasil no século XVII. As formas de se viajar naquela época (embarcações, mulas, carros de boi, etc.) também podem ser interessantes para se registrar as formas de se
viver. Nesse caso, na página 61 de Maurícia há um texto de referência: “A dura travessia do Atlântico”. Outra ideia é os estudantes pesquisarem o patrimônio histórico de Pernambuco para saberem quais monumentos, edifícios e construções daquela época ainda restam preservados.
Eles próprios deverão criar uma linguagem atrativa para a faixa etária à qual pertencem, com o objetivo de atrair o leitor jovem.
As próximas edições podem seguir pela linha histórica (Brasil colonial, imperial republicano, etc.), pela linha temática cultural (culturas africanas, culturas indígenas, cultura portuguesa, cultura italiana, cultura alemã, etc.), ou ainda por outro viés a ser escolhido.
Propostas de atividades II
CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS: HISTÓRIA
ATIVIDADE 1: Os holandeses no Brasil no século XVII
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 1
Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de pro cedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e po sicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica. (BRASIL, 2018, p. 570)
HABILIDADE
(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
Um dos temas que Maurícia traz ao leitor, no âmbito da história do Brasil, é a presença holandesa como uma invasão, ainda que concomitantemente houvesse a intenção de se desenvolver uma colônia para fins de controle açucareiro.
Para você se aprofundar sobre esse tema, professor, leia o texto “Os holandeses no Brasil do século XVII: antecedentes históricos”, que está na página 27 deste Material.
Nesta atividade, serão necessários os textos da seção “Naqueles tempos...” (p. 18-19, 51-52, 61-62 e 78) e, se você quiser, também o texto “Os holan deses no Brasil do século XVII”. O objetivo é fazer com que os alunos sin tetizem o que foi a empreitada holandesa a partir da criação da Companhia das Índias Ocidentais. Como fontes narrativas para comparação, eles têm os textos do livro Maurícia e pinturas da época. Os estudantes também podem se embasar em textos de livros de história.
Primeiramente, eles lerão os textos de “Naqueles tempos...” e, a partir de les, organizarão as informações em tópicos que possam ser exemplifica dos a partir de quadros e desenhos do século XVII sobre o Brasil holandês. A importância das artes plásticas para esta atividade se deve ao fato de que elas funcionaram também como um tipo de diário sobre as expedições e
as viagens, a vida no Nordeste, e os conflitos e questões raciais e étnicas. Na verdade, os Países Baixos foram grandes fomentadores das artes de forma geral, e o século XVII, considerado o século de ouro daquela nação, foi, sem dúvida, muito fértil e produtivo.
Uma sugestão de organização pode ser:
1. a Holanda no século XVII (pinturas que retratem o país, sua gente, seu comércio, seus valores burgueses, etc.);
2. a Companhia das Índias Ocidentais (pinturas que retratem a vida nas colônias dos Países Baixos em regiões do Caribe e do litoral brasileiro);
3. os meios de transportes marítimos (pinturas que mostrem as embarcações holandesas);
4. o Calvinismo (pinturas que apresentem aspectos da religião reformada praticada naquele pequeno país europeu).
Na página 29, na seção “Sugestões de referências complementares”, você encontrará um link para um bom mapa.
A atividade se encerrará quando os alunos conseguirem relacionar os diversos tópicos às imagens e apresentarem uma compreensão satisfatória do tema.
ATIVIDADE 2: Os indígenas – donos da terra excluídos e oprimidos
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 6
Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL, 2018, p. 578)
HABILIDADE
(EM13CHS601) Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.
Esta atividade tem como objetivo relacionar as questões indígenas de nossos dias com os processos históricos de exclusão e opressão que diversos povos autóctones sofreram no Brasil. O ponto de partida será a seleção das partes do livro Maurícia que tratam de indígenas, com destaque para o capítulo intitulado “Cristiano”, que você deverá ler com sua turma.
Após a leitura, levante algumas questões:
1. Por que o bebê indígena foi chamado de Cristiano? O que significa esse nome? E o que ele simboliza no contexto do livro Maurícia?
2. O que pode ter acontecido com a mãe do indígena? A qual etnia ela pertencia e o que isso representava?
3. Por que a indígena recebeu um enterro cristão?
4. Como os tupis eram descritos?
Em seguida, apresente a eles o texto “A matriz tupi”, de O povo brasileiro (p. 31-37), de Darcy Ribeiro, livro que consta na bibliografia comentada. Este texto discute as primeiras matrizes étnicas brasileiras e oferece uma boa introdução sobre os tupis.
Em complementação, os alunos também deverão ler o artigo “Indígena no Brasil”: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/o-indigena-no-brasil.htm
A partir da leitura e discussão dos textos propostos nesta atividade, os estudantes terão de estabelecer um panorama sobre como os índios têm sido tratados no decorrer da colonização até nossos dias. Peça também que enumerem os principais problemas que os povos indígenas enfrentam na atualidade e quais são as soluções possíveis.
Aprofundamento
Frans Post e o Brasil do século XVII
Frans Jansroon Post (1612-1680) é considerado o primeiro pintor a retratar paisagens geográficas e humanas do Brasil – especificamente do Nordeste do século XVII. Ele integrava a comitiva de artistas, naturalistas e engenheiros que o Conde de Nassau, então nomeado Governador do Brasil Holandês, havia convidado para conhecer a exótica colônia ultramarina durante um período de sete anos (16371644). E Post tinha especial talento para retratar a cor local.
Sua formação acadêmica é obscura: sabe-se que nasceu e se educou em Haarlem, na promissora província de Flandres – que, naquela época, contava com muitas agremiações de artistas. Post foi um cronista das imagens: retratou relevos, modos de vida, arquiteturas e feitos militares holandeses no Novo Mundo, vindo a deixar pelo menos dezoito quadros a óleo (de 60 x 90 cm), todos produzidos durante sua experiência no lado de cá do Atlântico. Estes foram presenteados ao rei Luís XIV após a morte de Nassau, sendo que apenas sete podem ser apreciados atualmente.
Mesmo após retornar à Holanda, Frans Post continuou com os temas brasileiros. Para o pesquisador José Roberto Teixeira Leite, o pintor traz certo ineditismo ao apresentar temáticas tropicais, deixando de lado a pintura de caráter religioso, que sempre recebia mais ênfase na época (cf. LEITE, 1988, p. 420). Pode-se afirmar que Post deixou de lado a vertente exótica – o que seria mais esperado de um europeu em terras desconhecidas – para desenhar paisagens em maior conformidade com a realidade que o rodeava.
Ao todo, ele produziu mais de cem quadros, todos a óleo, inspirados nos esboços que levara do Brasil para a Holanda. Em seu trabalho, nota-se o aumento do interesse na fauna e flora, os quais foram ganhando ares de exuberância.
Dentre as características do trabalho de Post, realizado especificamente no Nordeste, ressaltam-se criações panorâmicas e informativas, muito em voga naquela época, em que as linhas baixas no horizonte permitem que os céus apareçam muito abertos, criando um equilíbrio com a vegetação e com os demais motivos pictóricos. Os tons preferidos por ele estão muito mais de acordo com a pintura que se fazia na Holanda – com uma luz difusa –, do que com a fotografia tropical.
Diários em romances
Vários romances têm estrutura de diários. Um dos mais famosos é, sem dúvida, O diário de Anne Frank, escrito pela adolescente judia Anne Frank. Ela narra, no contexto histórico da Segunda Guerra, a perseguição à sua família e a outros judeus na Holanda. Trata-se de um texto forte, contundente, considerado um dos mais importantes do século XX.
No estilo do terror gótico, temos o magistral Drácula, de Bram Stoker, estruturalmente composto como romance epistolar: a história em torno do vampiro aristocrata é tecida por meio de uma série de relatos em diários, cartas e registros de bordo. Ainda no panorama anglófono, temos Pamela, de Samuel Richardson, em que uma empregada de quinze anos, na Inglaterra do século XVIII, descreve seu desespero perante as investidas do filho da patroa.
Outra obra que merece destaque é O romance luminoso, de Mario Levrero, tido como um dos principais romances latino-americanos. Na trama, um homem na faixa dos sessenta anos deseja escrever um livro, mas tem de se confrontar com suas manias, obsessões, fobias, transtornos do sono e hipocondria – enfim, um livro sobre o inenarrável.
Em Precisamos falar sobre o Kevin, Lionel Shriver seduz o leitor com sua personagem Eva, que conta a história do filho, Kevin, por meio de cartas que ela própria envia ao marido. O leitor se torna um espectador dos dramas familiares mediante a leitura daquelas cartas.
A cor púrpura, de Alice Walker, tem como cenário o estado americano da Geórgia em 1906. Celie, jovem negra e semianalfabeta, havia sido afastada dos filhos para ser escrava e “esposa” de um senhor. Então, ela decide escrever cartas, em sua maioria destinadas a Deus, e outras encaminhadas à sua irmã Nettie.
Na literatura nacional, temos títulos como Minha vida de menina, de Helena Morley, que conta, em tom confessional e bem-humorado, a história de uma garota provinciana da cidade mineira de Diamantina, em fins do século XIX. Já Quarto de despejo – Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, figura entre nossos grandes livros em estilo de diário. Carolina foi uma mulher negra, pobre e semianalfabeta que conseguiu relatar, pela escrita, as durezas e as esperanças da vida. Diário do hospício, obra póstuma de Lima Barreto, narra o breve período em que o autor ficou internado no Hospital Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro. E, do desejo autobiográfico, surgiu
a ficção. Este livro foi a base para o inacabado O cemitério dos vivos, também de Barreto, cujo protagonista igualmente vem a ser internado em um hospício. E Informação ao Crucificado, do grande cronista Carlos Heitor Cony, relembra o período em que o escritor estudou em um seminário. Para isso, ele criou um personagem chamado João Falcão, um jovem cheio de conflitos e prestes a se ordenar. Todas essas obras podem ser enquadradas no subgênero epistolar, que teve seu auge nos séculos XVIII e XIX. Nele, a história é narrada por meio de cartas, diários ou até mesmo notícias de jornal. Quando se trata de relatos totalmente ficcionais, uma das funções estéticas do romance epistolar vem a ser dar mais realismo ao enredo: é o chamado realismo pseudodocumental. Textos epistolares podem ser monológicos – um só narrador –, como no caso de A Carta, de Pero Vaz de Caminha, dialógicos – com dois personagens em diálogo, a exemplo de As relações perigosas, de Choderlos de Laclos –, e polilógicos, em que diversos personagens dialogam, como se dá em Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso.
No âmbito dos romances epistolares, a especificidade do diário é que ele costuma empregar um único correspondente. Ainda que um romance epistolar seja comumente composto por cartas, ele pode empregar outros modelos e suportes, como os das redes sociais (na forma de chats, postagens, e-mails, etc.). Nos smartphones, são cada vez mais comuns os chat stories, e vários aplicativos oferecem visibilidade para isso, com milhões de leitores espalhados por todo o planeta. As narrativas são contadas por mensagens mediante a interface de um aplicativo genérico.
Após a unificação da Espanha, o que se deu em fins do século XV, o país se tornou uma potência. Um dos próximos objetivos seria tentar unificar toda a Península Ibérica incorporando Portugal, mas isso não se daria sem resistência da gente lusitana. Porém, em 1578, o último monarca da dinastia de Avis, o rei Dom Sebastião, desapareceu em uma batalha sem deixar nenhum herdeiro. O único sobrevivente masculino de Avis era o cardeal Dom Henrique, que assumiu a regência do país, mas veio a falecer em 1580. Foi nesse momento que Felipe II, da Espanha, também da linhagem de Avis, viu a oportunidade ideal para ocupar o país vizinho e tomar o trono até 1640. Foram sessenta anos de unificação ibérica.
Nesse contexto, Portugal já era um forte parceiro mercantil dos holandeses, os quais financiavam tanto a produção açucareira na colônia brasileira quanto controlavam a comercialização do produto na Europa. A Espanha, por sua vez, tinha intenções de dominar os Países Baixos, dos quais a Holanda fazia parte. Como reação, sete províncias do Norte dos Países Baixos – nelas incluída a Holanda – criaram, em 1581, a República das Províncias Unidas. A finalidade principal era se fortalecerem e garantirem a autonomia frente aos espanhóis.
A incorporação de Portugal pela Espanha teve também o objetivo de impedir a comercialização holandesa do açúcar proveniente do Brasil. Uma nova reação dos holandeses foi a criação da Companhia das Índias Orientais, em 1602, e, em 1621, da Companhia das Índias Ocidentais.
Porém, para controlarem a produção e a comercialização do açúcar, foi preciso também se apoderarem de parte da colônia lusa. Com uma frota de vinte e seis navios e quinhentos canhões, os holandeses fizeram uma primeira invasão em 1624 atacando Salvador, mas foram expulsos. A segunda investida se deu em Pernambuco seis anos depois, quando foram conquistadas as vilas de Olinda e Recife. O vasto território ocupado ia do Sergipe ao Maranhão e ficou conhecido como Brasil holandês. Para governador, foi nomeado o Conde Maurício de Nassau, que chegou ao Recife em janeiro de 1637. Sua administração durou até 1644.
Em 1640, com o fim do domínio espanhol sobre Portugal, o novo rei português, D. João IV, empreendeu a recuperação da parte do Nordeste que estava em mãos holandesas. Nassau já havia ido embora e os senhores de engenho estavam insatisfeitos com os aumentos dos impostos. Teriam início as guerras de recuperação das terras portuguesas.
Sugestões de referências complementares
Filmes
Batalha dos Guararapes, o Príncipe de Nassau (Paulo Thiago, 1978, 156 minutos)
Este drama histórico aborda os principais episódios da batalha entre os holandeses e os luso-brasileiros nas proximidades do Recife, mostrando as forças econômicas e políticas que moveram aquele período.
Desmundo (Alain Fresnot, 2003, 101 minutos)
Este filme, baseado no romance homônimo de Ana Miranda, é ambientado em 1570, quando os portugueses enviavam órfãs ao Brasil para se casarem com os colonizadores. Um dos objetivos era tentar evitar a miscigenação racial, por meio de casamentos entre brancos e cristãos. Essas moças viviam um tempo em conventos, e muitas delas almejavam a vida religiosa, como Oribela que, entretanto, seria obrigada a se casar com Francisco de Albuquerque.
Doce Brasil holandês (Monica Schmiedt, 2010, 52 minutos)
Neste documentário, as historiadoras Kalina Vanderlei e Sabrina Van der Ley se encontram em 2009, no Recife, para investigarem o mito criado em torno da presença holandesa em Pernambuco no século XVII. No filme, Maurício de Nassau é definido, por alguns moradores do Recife, como o melhor prefeito que a cidade já teve e, até hoje, aquela época é lembrada com saudosismo.
Nova Amsterdam (Edson Soares do Nascimento, 2016, 84 minutos)
Com a chegada da Companhia das Índias Ocidentais ao Nordeste, no século XVII, tem início uma história que faz com que Bernarda e sua família fujam da cidade de Natal, que durante vinte e um anos seria chamada de Nova Amsterdam. No Engenho Potengi, Bernarda virá a conhecer um jovem destemido, Rafael, filho de um capataz. Apaixonados, os dois enfrentarão juntos os duros anos que viriam.
Sites
Visita virtual ao museu Mauritshuis
O Mauritshuis, uma mansão construída a mando de Maurício de Nassau, é um museu localizado em Haia, nos Países Baixos, e oferece uma visita virtual pelo link a seguir: https://artsandculture.google.com/partner/mauritshuis?hl=en
A construção guarda obras magistrais da pintura holandesa, como os famosos Moça com brinco de pérola e A vista de Delft, de Jan Vermeer, além de A lição de anatomia do Dr. Tulp, de Rembrandt. Dentre as reminiscências do período em que Nassau estabeleceu sua capital no Recife, está uma delicada pintura de pintassilgo realizada por Carel Fabritius.
Mapa dos territórios explorados pela Companhia das Índias Ocidentais
Para uma visualização dos territórios abrangidos pela Companhia das Índias Ocidentais, você pode apresentar aos alunos o mapa que consta no link a seguir: https://en.wikipedia.org/wiki/Evolution_of_the_Dutch_Empire#/ media/File:Dutch_Empire_updated_to_fix_the_Ceylon_Territory.jpg
Observe que as áreas controladas pela Companhia das Índias Ocidentais aparecem em verde escuro. Em verde claro estão as que pertenciam à Companhia das Índias Orientais. Em amarelo, os territórios ocupados somente a partir do século XIX.
Bibliografia comentada
AVANCINI, Elsa Gonçalves. Doce inferno: açúcar, guerra e escravidão no Brasil holandês (1580-1654). São Paulo: Atual Editora, 1992.
Este tomo parte da reprodução comentada de documentos de época para expor temas da história brasileira, incluindo as grandes navegações, a presença e a expansão dos holandeses em Pernambuco, a administração de Nassau e a produção e o comércio do açúcar.
BARLÉU, Gaspar. História do Brasil sob o governo de Maurício de Nassau Recife: Cepe, 2018.
Esta é uma obra histórica clássica sobre o Brasil holandês, ricamente ilustrada e de grande importância para quem quer se aprofundar no tema. Possui mais de trezentas notas explicativas, um índice remissivo ampliado e reproduções coloridas de gravuras.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, MEC/ CONSED/ UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov. br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 22 out. 2020.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
FREITAS, Maria Teresa de A.; COSTA, Sérgio R. (Org.). Leitura e escrita de adolescentes na internet e na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
Este livro traz artigos que abordam a sucessão da oralidade, da escrita e da informática como formas de se gerir socialmente o conhecimento, apresentando elementos de complexificação para os formatos narrativos da contemporaneidade. Uma das questões gira em torno da internet e de seu lugar entre a oralidade e a escrita, o que propicia outros entendimentos de nossa relação com os textos.
GUTLICH, George Rembrandt. Arcádia nassoviana. Natureza e imaginário no Brasil holandês. São Paulo: Annablume/ Fapesp, 2005.
Nesta obra, o autor pesquisador desenvolve uma reflexão sobre a simbologia dos elementos naturais em gravuras de artistas da comitiva de Maurício de Nassau no Nordeste brasileiro. Trata-se de uma obra de interesse para as disciplinas de história, artes e língua portuguesa, em especial.
JAMESON, Frédéric. O romance histórico ainda é possível? Novos Estudos, CEBRAP, São Paulo, n. 77, p. 185-203, mar. 2007.
Este artigo discute a articulação que o romance histórico opera entre um plano público ou histórico e um plano existencial ou individual, e isso é denotado pela categoria narrativa dos personagens. O texto se mostra muito adequado para se pensar o lugar do romance histórico na literatura.
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
Esta é uma obra de referência para você se informar sobre as principais referências da arte pictórica no Brasil, com destaque para pintores do período colonial.
MIRANDA, Ana. Desmundo. São Paulo. Companhia das Letras, 1998.
Este romance traz o relato de Oribela, jovem que teve de cruzar o oceano Atlântico para chegar ao Brasil em 1555, em uma caravela. Ela fazia parte de um grupo de órfãs enviadas pela rainha de Portugal para se casarem com os colonizadores. Junto às companheiras, Oribela vai encontrar um mundo rude e violento, belo e poético.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Este livro traz muitas lendas que caracterizam os temperamentos, as indumentárias, as personalidades e os eventos que envolvem os principais orixás do panteão iorubano. Além de seu valor literário, a obra possui fotografias e ilustrações que ilustram os temas abordados. Ela foi sugerida para a atividade intitulada “Candomblé – patrimônio artístico e cultural do Brasil”, p. 16.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Esta é uma obra essencial de Darcy Ribeiro, um de nossos maiores antropólogos. Ela pretende compreender quem somos, o que somos e a importância do nosso país. O livro também funciona como um alerta perante a triste desigualdade social que nos marca. Um dos textos é sugerido na atividade “Os indígenas – donos da terra excluídos e oprimidos”, página 23.
RORIZ, Aydano. A guerra dos hereges: grande romance histórico da invasão holandesa a Pernambuco. São Paulo: Europa, 2010.
Este romance denso traz uma outra reconstituição da época da presença holandesa em Pernambuco, quando o invasor apostava na “Zuikerland”, a “Terra do Açúcar”. A partir daí, fundaram a Nova Holanda. Olinda, a “capital” de Pernambuco, apesar de rica e amuralhada, tinha um pequeno efetivo de soldados. Porém, o governador, Matias de Albuquerque, graças a um antigo segredo da Inquisição, tentaria resistir aos invasores.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
Neste livro, a pesquisadora trabalha com “mitos” que consideram o brasileiro um povo pacífico, cordial e tolerante. Para ela, a narrativa oficial obscureceu a herança perversa da escravização, que até hoje demarca conflitos e territórios em nossa complexa cultura. Nos textos da obra, Schwarcz discute por que ainda somos uma sociedade tão excludente. O primeiro capítulo, “Escravidão e racismo”, foi sugerido para a atividade “Alteridade –conflitos, preconceitos e intolerâncias”, p. 14.
TORAL, André. Holandeses. São Paulo: Veneta, 2017.
Esta história em quadrinhos trata de dois judeus que vêm para o Brasil na época da presença holandesa. Um dos irmãos chega à colônia para se enriquecer no comércio de escravos. O outro vem seduzido pelo mito de que existiria uma tribo perdida de Israel vivendo entre os índios.
VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. São Paulo: Papirus, 1994.
Esta obra é muito útil para se aprender mais sobre análises fílmicas. Ela traz tanto elementos de reflexão geral – como história das formas cinematográficas, instrumentos da narratologia, problemas de interpretação –quanto exercícios práticos de interpretação de grandes obras do cinema.
Este Material Digital do Professor foi elaborado por Adriano Messias.
Adriano Messias é pesquisador nas áreas de semiótica, educação e ciências da comunicação. Tem pós-doutorado e doutorado em comunicação e semiótica, tendo sido pesquisador visitante em várias universidades estrangeiras, dentre elas, a Universidade Paris 8 e a Universidade Autônoma de Barcelona. É também autor de mais de cem livros de ficção e ganhou prêmios importantes, como o Jabuti.
Conteúdo baseado na obra Maurícia, do autor Adriano Messias, com ilustrações de Marcelo Drummond e Marconi Drummond.
Créditos do Material Digital
Editor: Rafael Borges de Andrade
Supervisão pedagógica: Maria Zoé Rios Fonseca
Assistente editorial: Olívia Almeida
Preparação de texto: Alice Bicalho
Revisão: Olívia Almeida
Ilustrações: Marcelo Drummond e Marconi Drummond
Diagramação: Mário Vinícius Silva
As paisagens reproduzidas neste material compõem o projeto gráfico original do livro Maurícia, elaborado pelos irmãos Marcelo e Marconi Drummond. Trata-se de detalhes de gravuras do artista Frans Post (atualmente em domínio público), impressas em 1647, em Amsterdã, Holanda, que representam a cidade de Maurícia.
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