Conta-me um Conto

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Quando digo que era uma adolescente muito irreverente e, por vezes, até rebelde, deve-se à força interior e à capacidade de encarar tudo e todos sem receio ou cobardia. Enfrentava, desafiava, respondia… Contudo, não entrava em brigas, a não ser para me defender ou defender aqueles que o não conseguiam fazer por si mesmos. Havia muita criança a sofrer bulling nas escolas e até fora delas. Eu também sofri na pele a crueldade de alguns colegas e mesmo de miúdos mais velhos. Lembro de, certo dia e já no liceu, um dos alunos se meter deliberadamente comigo durante o intervalo, provocando-me até me deixar muito irritada. Aguentei o que pude, avisando-o de que estava a habilitar-se a passar vergonha em frente dos colegas, mas ele não parou de me importunar. Nesse dia, dei-lhe uma tareia tão grande que lhe deixei o nariz a sangrar. Depois, senti tristeza por vê-lo assim. E vergonha também por tê-lo espancado. E pedi desculpa, prometendo a mim mesma, não mais me deixar provocar. Contudo, havia coisas que me irritavam profundamente. Se eu não me metia com eles, se não os tratava mal, se não beliscava aqui e ali a sua integridade física e estabilidade emocional, por que motivo me desacatavam? Talvez pelo simples facto de que gostavam de me ver furiosa e a reagir às provocações. Naturalmente que com um pouco mais de maturidade, me estaria marimbando para as instigações de uns e de outros. Todavia, esta postura de defesa também me valeu de forma positiva pela vida fora, em que muitas vezes precisei de defender-me das quezílias familiares e das investidas de alguns homens que de 75


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