celo dos Campos), verdadeiro inventor da anti-arte. É triste. Não tinha dinheiro para registar a patente... O Franciscanismo pelo cano... estava pois, por acaso, a passar, e não pude deixar de o ouvir e de sentir que este frágil personagem, que me parecia vagamente familiar, estava perdido, como um viajante pertencente a uma dimensão diferente da nossa. Ele próprio constituía, na sua pessoa, nos seus gestos, no íntimo mesmo do seu pensamento, uma Performance na galeria dos meus sonhos. Quando me viu, olhou para mim com os olhos muito abertos, apontou-me o indicador abruptamente e declarou:
O CICLISTA MELÓMANO Diálogo entre o Candidato Vieira e Orgasmo Carlos acerca da Performance À sombra das fachadas sinistras, desertas, na perspectiva acelerada dos estéreis labirintos de calcário do CCB (Centro Cultural Berardo) caminha um homenzinho peculiar, meia idade, de chapéu tipo tachinho, bigodinho à Cantinflas, fato às riscas amarelas e violetas, que mais parece tirado de um cortinado dos anos 70, e camisa de fantasia. É Orgasmo Carlos, artista plástico, ou, como ele prefere chamar-se, artista de plástico. De facto, de certa forma, é um artista de plástico. A sua existência é reduzida à de uma personagem de ficção, absurda, com contornos bidimensionais. Falta-lhe uma dimensão. Se olharmos de perfil, vemos que é tão fino como uma folha de papel. Detém-se perante uma escultura que parece a célebre garrafeira de Duchamp (Dos Campos), mas sem a aparência agressiva de aparelho de tortura que esta tinha, numa escala maior, com uma silhueta um tanto ou quanto mais feminina, cintura de vespa, onde crescem como frutos sem polpa as verdes garrafas do meu país (Budonga). Tchh... E ainda por cima ninguém quer saber que o original atribuído ao Marcel é na realidade obra de meu tretabisavô Theophilo Carlos (aliás Mar-
— Rapaz, eu sou Orgasmo Carlos, rei não coroado da Performance, não só sexual e orgásmica mas também dos limites da anti-arte e da anti-matéria: Para definições, meu rapaz, não há nada como espreitar o dicionário. Olha para a Wikipédia: a performance, art performance ou performance artística é uma modalidade de manifestação artística interdisciplinar que — assim como o happening — pode combinar teatro, música, poesia ou vídeo. É característica da segunda metade do século XX, mas as suas origens estão ligadas aos movimentos de vanguarda (dadaísmo, futurismo, Bauhaus, etc.) do início do século passado… «Mas suas origens» …Uma brasileirada. Sabes? Eu também sou brasileiro, mas respeito a língua indígena do rectângulo. E sou angolano, e timorense! Sou na verdade um artista cem por cento dos PALOP. Multiétnico. Multipistas. Multitudo, multimerda. Bem, mas onde é que eu ia? Ah!… Difere do happening por ser mais cuidadosamente elaborada e não envolver necessariamente a participação dos espectadores. — Não sei se concordo. As minhas performances não são mais elaboradas que um happening. Na verdade, não são mais elaboradas do que um pano encharcado nas trombas… Mas continuando… Isto sem espectadores é como um tipo masturbar-se sozinho com a prótese do Capitão Gancho… Em geral, segue um «roteiro», Ah Ah ou um traseiro — previamente 31