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A extraordinária fantasia megalítica de Luís Gardete Pedro Portugal

mento de carne de porco às tropas opositoras a Franco na Guerra Civil Espanhola (1936/39). Do pai, alcoólico, guarda memórias menos boas. Um homem de 50 kg que ninguém conseguia deter e que batia na mulher todos os dias.

Depois de várias tentativas e através de um amigo comum consegui falar com o Dr. Luís Gardete. O Dr. Sucata, como é conhecido em Castelo Branco, construiu sozinho, 5 km a nordeste desta cidade, o maior monumento megalítico do mundo. Os dois alinhamentos paralelos de pedras têm 200 metros de comprimento, 30 de largura e termina com uma formação rectangular mais elevada com 50 por 30 metros. As pedras movimentadas têm entre 20 a 130 toneladas, 4 a 5 m de altura e a preços actuais um empreendimento como este, entre aluguer, operadores de máquinas e movimentação de terras custaria mais de 2 milhões de euros. Os locais dizem que ele «não sabe o que está a fazer» ou «não sabe onde gastar o dinheiro»... Mas o que fez Luís Gardete, 62, erigir um gigantesco parque pós-neolítico durante os últimos 20 anos? Combinámos um encontro num café do centro de Castelo Branco ao fim da tarde. Estava acompanhado de dois amigos e bebiam águas. Luís estava todo vestido de preto, barba descuidada, elegante, 1,75m, pequenos óculos elípticos — podia ser um revolucionário bolchevique. Diz que não fuma nem bebe desde os 20 anos. É comunista e anarca, nunca votou, não tem filhos e recusa ser fotografado. É médico de formação e fala várias línguas entre as quais o russo. Herdou do avô e do pai os negócios e fortuna da sucata e construção. A motivação para a construção deste neo-recinto arqueológico de escala faraónica não é no entanto religiosa ou artística. É desarmantemente prosaica: uma homenagem ao avô. A orientação dos megalitos corresponde à direcção em que o avô fugiu para Espanha. A sua admiração pelo avô é notória. O avô de Luís, lia, escrevia e falava em russo. Esteve envolvido na Guerra dos Montes em Malpica do Tejo (1923) contra os grandes latifundiários da Beira Baixa e mais tarde no forneci64

Mostrou-me no telemóvel uma fotografia da mãe quando era nova porque prefere lembrar-se dela quando era bonita. Mas os detalhes da construção do supernovo Cromeleque de Castelo Branco são impressionantes. Primeiro, Luís Gardete terraplanou 20 hectares para que o seu monumento pudesse ser visto da N233. Depois começou a retirar da terra as pedras e a dispô-las ordenadamente. Uma máquina levanta o seu peso em carga e para retirar da lama sob o efeito de sucção uma pedra de 100 toneladas são necessárias duas giratórias de 50 t. a operar no máximo da potência. Para arrastar uma pedra com 130 t. é preciso usar duas giratórias de 50 t. e uma máquina de arrasto de 50 t. a trabalhar ao mesmo tempo. As giratórias recuando à frente da pedra e a máquina de arrasto atrás. Para empilhar as pedras foram construídas rampas de acesso às máquinas com milhares de toneladas de terra que foi depois cuidadosamente removida. Este devaneio construtivo é hoje irrealizável porque as


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