MANIFESTO CONCEPTISTA Nihil videt per speculum et in aenigmate, sed facie ad faciem omnia intuetur (Abelardo) Somos artistas Conceptuis-Conceptistas. Há que entender o conceito, e o uso das metáforas num âmbito mais vasto. O conceito etimologicamente implica predação e manducação. O conceito, seguindo Nietszche, é um caso de catacrése, de metáfora morta, ou seca, um pouco como o presunto e os chouriços (faz parte das palavras sujeitas aos fumos que as secam e conservam). Os conceitos são as redes de metáforas mortas que constituem o pensamento abstracto. Esse pensamento é desritmado (é uma forma de prosa) e em boa parte descorporalizado (ou se preferirem, sublima o corpóreo na isca teorética). No conceptismo o conceito é a chama dos encontros verbais. É não só analogia essencialista, como na filosofia, como relação entre metáforas e metáforas, conceitos e conceitos, e metáforas e conceitos. Queremos explorar o filão da estética barroca em relação com a estética serial-conceptual americana. O que é interessante no conceptismo é a fulguração das pontas e das agudezas, o que supõe quer o in-génio (ou engenho) como carácter inato e astuto, cassim como a exercitação retórica. O witt. Coexistem em nós contrários: a elipse-hipérbole, o Barroco-Primitivo, (ou o Natural-Artifícial), Duchamp-Picasso. Estamos interessado nos aspectos literários de Duchamp e Picasso. Algo os une. A arte como pulsão + proceesso + Ideia Lapidar + Florido — pedras que se fazem flores que se fazem pedras que se fazem flores. Somos conceptualistas de cama — é de manhã, ao acordar nos surjem a maior parte das ideias enquanto não nos levantamos. O pensamento deitado. O pensamento como devaneio. O pensamento quando se caminha. O pensamento quando se anota. O pensamento quando se parodia e quando se refuta.
Aceitamos o filão dos dicionários e enciclopédias como paródia do trabalho pretencioso de Kosuth. Kosuth ofereceu-nos borrachas — borrachas para apagar dicionários. Gostamos das definições (tautológicas também), do saber condensado, das relações verbais e diagramáticas, das ilustrações que acompanham os dicionários. Sempre nos deleitaram os dicionários ilustrados e as enciclopédias. O que testemunha uma pulsão pela interface alegórica entre imagens e defenições. Usamos o Larousse (de que o Lello era uma versão Portuguesa), o Hobson-Jobson, a Enciclopédia Britânica, o Monier Williams, o Bleauteu, o Johnson, etc. A obra visual-literária dos escritos do Picasso pode muito bem ser aplicada às ferramentas conceptuais. De algum modo Picasso é afim de Arno Schmidt no Zettel’s Traum. Fazer um Zettel’s Traum em interior de arquitectura — seguir os passos de Bernardete Bettencourt. Ou de outra maneira, fazer um Merz Baum menos complicada e mais ornamental. Uma antologia de falsos romances conceptuais, ou de Selected Pseudo-writters. Antologias de sistemas, antologias de art worlds. O Selected Art World. O Selected Art World Fiction como projecto. A linhagem Duchamp, o witt, o jogo de palavras que abre, o lúdico. A tradução, livre, auxiliada, fiel ou desvirtuada é fundamental. Assumimo-nos, em boa parte, como tradutores (viver é traduzir) — traduzir a arte contemporânea em antigo, e a cultura e o pensamento antigos ou não-ocidentais em contemporâneo (actual). Traduzir a arte americana em «europeu», em sul-americano, etc. Assumir os grandes filões culturais (China, India, Suméria, Greco-romanos, etc.) Voltar a Shakespeare (e despoletar os processos seriais Pessoa-Llansol, mas em art world). Hamlet como condição do artista contemporâneo poeta — teatralidade pop. Mas como? Insistir nos 3 pontos: FALSIFICAÇÃO, TRADUÇÃO e VARIAÇÃO. Acolher um bom número de apetecíveis variações (a variação é infinita). Ser contemporâneo é acolher e combinar variações agora. 77