Tecnosaúde #1 - Julho/Agosto

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Nº 01

Julho/Agosto 2020

DISTRIBUIÇÃO GRÁTIS

PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

ENTREVISTA

O impacto psicológico da COVID-19 na doença oncológica

DR. PAULO SALAMANCA

O MÉDICO RESPONDE CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA DR. MÁRIO BUNDO

FOCO

Liderança em tempos de pandemia, um testemunho real


ÍNDICE SAÚDE, PARA SI

02 04 Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde

É já claro que a crise humanitária provocada pela pandemia da COVID-19 é uma crise sem precedentes, que se faz, e continuará a fazer, sentir tanto na esfera social como económica de todas as nações do mundo, sendo que Angola não é excepção. Em poucos meses, a pandemia causou também uma necessidade urgente de redefinição estratégica de inúmeras empresas, com necessidade urgente de (re)adaptação e inovação.

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Dr. Paulo Salamanca, médico oncologista, aborda o impacto da COVID-19 no foro psicológico

Dr. Emanuel Kanga, médico especialista em Medicina Reprodutiva no Mount Sinai Hospital, aborda, em entrevista, a questão da infertilidade em tempos de pandemia

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SAÚDE

ENTREVISTA

SARS-CoV-2: um desafio global, por Luísa Araújo, farmacêutica e coordenadora de Diagnóstico Internacional na Quilaban

Assim, desenvolvemos e criámos um projecto ambicioso, isto é, uma newsletter digital, com o intuito de criar um ponto de interacção relevante e diferenciado, adaptado ao paradigma actual, dentro do sector da saúde, em Angola, de modo a promover a troca de experiências, artigos de opinião, testemunhos reais e a partilha de conhecimento, com oportunidade de dar voz e resposta às várias categorias profissionais do sector da saúde, ou não fosse a sua denominação “+ Saúde Para Si”.

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Gripes e constipações, prevenção é o ideal

Hiperpigmentações: saiba o que são e como preveni-las

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Por isso, só podemos desejar-lhe uma boa leitura! Estamos, e estaremos, juntos neste momento que é todos!

REPORTAGEM

Alopécia de tracção: um problema que nos deixa pelos cabelos

No caso da Tecnosaúde, essa necessidade conduziu ao forte empenho de toda a equipa para a manutenção de toda a estrutura e apresentação de alternativas e respostas às novas necessidades do mercado e à inovação tecnológica e digital.

Mudámos a nossa forma de estar, nunca parámos, estruturámos e agimos, com a proactividade e dinâmica que já nos caracteriza, e este é um dos produtos finais que nos traz mais orgulho.

Uma crise sem precedentes

Um pesadelo do sono chamado insónia

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EDITORIAL

O Médico Responde Dr. Mário Bundo, presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola (AGOA), responde a questões sobre Contracepção de Emergência

ENTREVISTA Manuel Martins, director comercial da Pharmadis, aborda os principais desafios do sector farmacêutico no país

Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, Sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: geral@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, Sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital http://www.tecnosaude.net/pt-pt/


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REPORTAGEM

GRIPES E CONSTIPAÇÕES PREVENÇÃO É O IDEAL A ÉPOCA DO CACIMBO INICIOU-SE, OFICIALMENTE, A 15 DE MAIO, EM ANGOLA, E, COM ELA, CHEGA UMA ÉPOCA DE MAIOR PREOCUPAÇÃO PARA TODOS, ONDE OS CUIDADOS DE SAÚDE DEVEM SER REDOBRADOS, DEVIDO A GRIPES E CONSTIPAÇÕES.

Todos nos constipamos, no entanto, muitas vezes, os sintomas entre gripe e constipação são confundidos (1). Maleitas comuns da época fria, estas duas doenças têm sintomas comuns. É importante conhecer a diferença entre ambas as doenças, de forma a saber como actuar perante cada uma delas. Quer a gripe,r quer a constipação são infecções de origem vírica (1) e surgem, habitualmente, quando as temperaturas são mais baixas. Ambas têm, ainda, em comum a forma de contágio de pessoa para pessoa, através de gotículas expelidas pelo indivíduo doente.

Dr. João Almeida Consultor Farmacêutico na Tecnosaúde

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O grande contágio ocorre por via respiratória (2), quando o indivíduo doente fala, tosse ou espirra, pois expele partículas víricas que serão inaladas por alguém que esteja próximo e, dessa forma, dá-se o contágio. Assim, a transmissão da doença pode dar-se, por exemplo, quando estendemos a mão para cumprimentar alguém que tenha tossido ou espirrado e tenha usado a mão como barreira (3).


O contágio pode ocorrer, também, através de superfícies contaminadas (3), como é o caso de objectos (fómites) antes manipulados por alguém doente. A gripe é, na verdade, uma infecção respiratória provocada por vírus. Existem diferentes tipos de vírus que podem causar gripe, no entanto, o mais comum é o conhecido vírus Influenza (2). A maioria destes vírus atacam o nosso sistema respiratório, pulmões e vias respiratórias (como garganta e nariz), causando os sinais e sintomas gripais habituais, tais como: • Tosse; • Dor de garganta; • Febre, tremores e suores; • Dores de cabeça; • Dores musculares e corporais; • Cansaço e fraqueza. Os sintomas da constipação são, habitualmente, mais ligeiros e apenas envolvem corrimento nasal, não ocorrendo febre. Mais de 200 vírus diferentes podem causar uma constipação, mas o Rinovírus é o agente causal mais comum (3).

Quando falamos em gripe e constipação, é necessário falarmos nos grupos de risco, isto é, nas pessoas que apresentam uma imaturidade do sistema imunitário e que, portanto, devemos ter maior atenção, pois são mais susceptíveis ao contágio das infecções como a gripe e constipações. Quanto à distribuição dos grupos de risco, destacam-se as crianças, os idosos, pessoas debilitadas e imunodeprimidas, tais como: • Maiores de 65 anos; • Mulheres grávidas; • Indivíduos com doenças crónicas pulmonares (asma, bronquite crónica, tuberculose, entre outras); • Indivíduos em tratamento com imunossupressores; • Indivíduos com doenças renais, doenças cardíacas, diabetes mellitus; • Adultos e crianças com mais de 6 meses hospitalizados devido a doenças metabólicas crónicas, alterações renais ou hemoglobinopatias; • Pessoas que tomem medicação, devido às interacções medicamentosas (1).

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A PREVENÇÃO DA GRIPE PODE E DEVE SER CONSIDERADA UM EXERCÍCIO CONSTANTE E DIÁRIO, ESPECIALMENTE, ATRAVÉS DAS BOAS PRÁTICAS DE HIGIENE E SAÚDE PESSOAL

De entre as inúmeras doenças que afectam a população na idade adulta, a gripe é uma das mais frequentes e pode ser eficazmente prevenida. Os sintomas desta doença podem ser muito divergentes, especialmente, no que concerne à duração. No entanto, existem muitas medidas que todos nós podemos tomar para a prevenir. A prevenção da gripe pode e deve ser considerada um exercício constante e diário, especialmente, através das boas práticas de higiene e saúde pessoal. Uma vez que é uma doença altamente contagiosa, a melhor forma de prevenção é a desinfecção e a lavagem frequente das mãos com água e sabão (2), isto

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é, a adopção de medidas de etiqueta respiratória. A etiqueta respiratória ajuda a evitar que a doença se transmita para outra pessoa ou que se seja infectado. A higienização das superfícies, incluindo as maçanetas das portas, que são muitas vezes esquecidas, mas grandes focos de infecção (2), também ajuda na prevenção, visto que os vírus se propagam através de partículas aéreas e todos os locais são passíveis de estarem contaminados. É necessário ter em atenção lugares de grande concentração de pessoas, tais como escolas ou locais de trabalho, mercados ou transportes públicos, pelo facto de serem locais que apresentam maior risco. Por exemplo, no local de trabalho, há que ter em atenção a partilha de objectos, tais como o telefone e o computador. Estudos com modelos matemáticos sugerem que intervenções/medidas não farmacológicas, como as supracitadas, têm um efeito substancial na redução da taxa de propagação do vírus da gripe, com um efeito mais preponderante quando ainda não existe uma vacina disponível (4).


Não obstante, adoptar uma alimentação rica nutricionalmente, com a ingestão diária de água, frutas e vegetais inseridos numa dieta equilibrada, é também fundamental para manter o sistema imunitário saudável. Não nos podemos esquecer de manter o corpo e mente sãos, com a prática regular de exercício físico e descansar bem, de forma a tornarmos o sistema imunitário mais forte. Ao tossir ou espirrar, é fundamental proteger a boca e o nariz com lenços descartáveis (2). Lembre-se: ao protegerse a si, está também a proteger os outros. A proximidade com outros indivíduos doentes deve ser também evitada, especialmente, nos grupos de risco.

A prevenção da gripe passa, também, pela vacinação. Idealmente, devemos prevenir sempre através da adopção de estilos de vida saudáveis e das medidas mencionadas; no entanto, esta é recomendada, especialmente, para os grupos de risco. Para estes, a administração deve ser realizada anualmente e, de preferência, antes da época mais fria. Mas, mesmo após a vacinação, é possível ter gripe. Muitas pessoas têm a ideia errada de que, após a vacina, irão ficar com gripe. O que pode ocorrer é o desenvolvimento de efeitos que mimetizam os sintomas gripais, tais como:

Pub

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Algumas pessoas têm a sorte de ter um sistema imunitário mais forte e resistente e as doenças, tais como a gripe e as constipações, não os afectam com tanta regularidade. Contudo, ao longo da nossa vida, vamos experienciando alguns episódios gripais e os seus respectivos sintomas. É rara a pessoa que, ao longo do ano, não tem sintomas de uma constipação, pois os Rinovírus são altamente contagiosos e conseguem disseminar-se por vários locais do nosso dia-a-dia.

• Inchaço ou dor na zona onde foi administrada a vacina;

Estas doenças são, particularmente, comuns durante as alturas do ano em que as pessoas permanecem mais tempo em espaços interiores, como é o caso do cacimbo, onde as temperaturas são mais baixas. Manter o sistema imunitário fortalecido é fundamental para prevenir. E lembre-se: mais vale prevenir do que tratar uma gripe ou constipação!

• Náuseas; • Febre ligeira. Como posso tratar a gripe? A maioria das pessoas recupera ao final de duas semanas de forma espontânea. Os doentes com gripe devem permanecer em casa (1), de forma a evitarem a propagação do vírus, mantendo-se sempre o mais hidratados possível. O tratamento sintomático pode ser necessário, especialmente, no caso de febre e dores musculares (1). No entanto, é aconselhado falar com o médico ou farmacêutico antes de se automedicar. “Vou à farmácia pedir um antibiótico para a minha gripe” Muitas pessoas, quando estão com sintomas gripais mais acentuados, dirigem-se às farmácias pedindo antibióticos para o tratamento da gripe. Mas por que motivo não devemos recorrer a antibióticos, em casos de gripe? A verdadeira explicação baseia-se no facto de que a gripe é causada por vírus e os antibióticos servem apenas para tratar infecções causadas por bactérias, não estando, deste modo, indicados em infecções respiratórias virais (1).

Referências Bibliográficas (Segundo NP405): (1) CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION - National Center for Immunization and Respiratory Diseases (NCIRD). Retrieved from: https://www.cdc.gov/flu/symptoms/coldflu. htm (2) KRAMMER, F., SMITH, G., FOUCHIER, R., PEIRIS, M., KEDZIERSKA, K., DOHERTY, P. C., PALESE, P., SHAW, M. L., TREANOR, J., WEBSTER, R. G., & GARCÍA-SASTRE, A. - Influenza. Nat Rev Dis Primers. Vol. 4. n.º1 (2018). p. 3. (3) WINTHER B. - Rhinovirus infections in the upper airway. Proc Am Thorac Soc. Vol. 8. n.º1 (2011). p.79–89. (4) HALLORAN, M. E., FERGUSON, N. M., EUBANK, S., LONGINI, I. M., JR, CUMMINGS, D. A., LEWIS, B., XU, S., FRASER, C., VULLIKANTI, A., GERMANN, T. C., WAGENER, D., BECKMAN, R., KADAU, K., BARRETT, C., MACKEN, C. A., BURKE, D. S., & COOLEY, P. - Modeling targeted layered containment of an influenza pandemic in the United States. Proc Natl Acad Sci USA. Vol. 105. n.º12 (2008). p. 4639-4644.

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REPORTAGEM

UM PESADELO NO SONO CHAMADO INSÓNIA O DESCANSO PELA VIA DO SONO É UMA FERRAMENTA ESSENCIAL À MANUTENÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA. DIRECTAMENTE RELACIONADO COM O BOM FUNCIONAMENTO DO ORGANISMO, O SONO É O RECARREGAR DE BATERIAS PARA QUE POSSA DESEMPENHAR TODAS AS FUNÇÕES DO DIA-A-DIA COM CAPACIDADE E EFICIÊNCIA.

Dr. João Almeida Consultor Farmacêutico na Tecnosaúde

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Mas porque é que é tão importante dormir? A realização com qualidade das tarefas diárias depende, efectivamente, de um bom descanso. No entanto, o sono tem um papel mais pronunciado na vida, nomeadamente, na saúde cognitiva, emocional e psicológica (1). Facilmente, apercebe-se da sua influência aquando de uma noite mal dormida, onde competências como a paciência, compreensão, capacidade de raciocínio e estado de alerta estão, manifestamente, condicionadas. Por outro lado, existe evidência dentro da comunidade científica para


a correlação entre a má qualidade de sono e o aparecimento de determinadas patologias (2,3), como são exemplos a diabetes mellitus tipo 2, a hipertensão arterial, os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), as demências, o cancro e o aumento do risco de morte precoce.

nervoso. O abuso de bebidas estimulantes, que apresentem elevado teor de cafeína ou outros estimulantes, a nicotina presente no tabaco e o álcool são factores com elevada influência no padrão do sono.

“São quase horas de me levantar e ainda não consegui fechar os olhos”

Numa fase inicial, é suportável a falta de descanso, sendo compatível trabalhar eficientemente com poucas horas de sono. Mas, com a acumulação de noites mal dormidas, o quadro sintomatológico evidencia-se com a falta de energia, logo pela manhã, sonolência moderada a intensa, falta de compreensão, irritabilidade e dificuldade de concentração (6). O dia torna-se longo, acompanhado por dores de cabeça cada vez mais frequentes, assim como pela falta de apetite. LOCKLEY et al. (7) demonstrou-o, num estudo realizado em internos de medicina, onde um grupo com horário tradicional (elevada carga horária e reduzido tempo de sono) apresentou uma taxa de erros de atenção superior ao dobro, comparativamente ao grupo com horário reduzido (baixa carga horária e acrescido tempo de sono).

Uma incapacidade de induzir o sono poderá levar a um sentimento de frustração pessoal em saber que o tempo passou, mas o descanso não foi suficiente. Dá-se, assim, o aparecimento de um grande “pesadelo”: insónias. Passar uma noite em branco, ou seja, um descanso nocturno insuficiente, é algo que se experiencia frequentemente. Ocasionalmente, não representa um perigo, mas, diariamente, constitui uma grande ameaça (4). A insónia é a perturbação do sono mais frequente (5), representando a dificuldade em adormecer e a incapacidade de manter um sono ininterrupto (sem acordar frequentemente durante a noite). A insónia promove, igualmente, um despertar precoce. Na origem da insónia poderão estar diversos factores que terão impacto, de forma significativa, na saúde do sono, nomeadamente, a alteração da rotina, onde a pessoa se deita mais cedo do que o habitual e, por esse motivo, não consegue induzir o sono ou, também, por ter acordado fora da hora habitual. O estado emocional é outro factor importante que condiciona o sono: a perda de alguém próximo, estados de ansiedade e/ou depressão são exemplos de limitações que fragilizam o estado emocional, promovendo a redução da qualidade do sono. De igual modo, o hábito de pensar em demasia ou reflectir acerca dos problemas do trabalho e do quotidiano na cama predispõe, geralmente, a uma situação de stress e, posteriormente, à incapacidade na manutenção de um sono nocturno. Como causa de insónia estão também determinados medicamentos, como é o caso de antidepressivos (6), medicamentos estimulantes, corticosteroides e outros que interactuam directa ou indirectamente com o sistema

“Sinto-me tão cansado, preciso de dormir uma semana inteira!”

NUMA FASE INICIAL, É SUPORTÁVEL A FALTA DE DESCANSO, SENDO COMPATÍVEL TRABALHAR EFICIENTEMENTE COM POUCAS HORAS DE SONO. MAS, COM A ACUMULAÇÃO DE NOITES MAL DORMIDAS, O QUADRO SINTOMATOLÓGICO EVIDENCIA-SE COM A FALTA DE ENERGIA, LOGO PELA MANHÃ, SONOLÊNCIA MODERADA A INTENSA, FALTA DE COMPREENSÃO, IRRITABILIDADE E DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO

Os erros em executar tarefas simples tornam-se cada vez mais recorrentes, promovendo a frustração. Esta mesma frustração está, em muitos casos, relacionada com o início de um

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impedem a alternância regular entre sono e vigília; • Evitar a ingestão de substâncias excitantes, como a cafeína (presente no café, chá preto, chá verde e em certas bebidas refrescantes), nicotina e bebidas alcoólicas; • Procurar refeições leves e pobres em gorduras, no período da noite, para uma fácil digestão; • Potenciar o ambiente de descanso, diminuindo a luz e ruído que entram no quarto; • Procurar bons hábitos de pré-sono: tomar um banho quente, beber um chá de valeriana e camomila (ajudam a tranquilizar), evitar falar ao telefone e estar com dispositivos digitais (telemóveis, tablets, computador) antes de dormir.

ciclo vicioso: “será que conseguirei dormir logo à noite?”. Este medo de continuar num ciclo de descanso insuficiente e de noites em branco torna a situação mais grave e caracterizase como um momento de alerta, onde deverão ser tomadas medidas de modo a que o regresso à normalidade seja o mais breve possível. Ultrapassar este pesadelo Numa acção cuidada e vigilante da saúde está, em primeiro lugar, a atenção dada aos pequenos sinais de situações atípicas que vão aparecendo no nosso dia-a-dia. Perceber que uma ou outra noite mal dormida não impactará negativamente o organismo, mas, ao mesmo tempo, estar alerta que a recorrência destes episódios não é normal e que, por esse motivo, dever-se-á procurar medidas gerais de higiene do sono, nomeadamente: • Criar uma rotina no hábito de sono, procurar ter um horário regular para ir dormir e para acordar no dia seguinte (incluindo fins-de-semana); • Procurar ir para a cama apenas quando se tem sono; se demorar algum tempo a adormecer, deverá levantar-se e realizar alguma tarefa relaxante, até voltar a sentir sono (ex: leitura de um livro). Adormecendo tarde, deverá manter a hora de despertar, para que não haja alteração da rotina de sono; • Evitar realizar sestas durante o dia, pois estas

É possível continuar sem conseguir descansar, mesmo procurando realizar todas as medidas de higiene de sono anteriormente referidas. Em certos casos, a gravidade do problema poderá ser de uma ordem de grandeza onde já será necessária ajuda profissional e especializada. Neste âmbito, existem medicamentos com mecanismos de acção que potenciam a indução do sono, nomeadamente, os medicamentos sedativos, ansiolíticos ou hipnóticos. Na toma devida e correcta destes medicamentos, a actividade geral do cérebro é diminuída, promovendo o sono. No entanto, estes medicamentos apresentam, como efeitos secundários, a tolerância ou sentido de habituação (6), que se traduz pela crescente necessidade de aumento da dose, de modo a obter-se o mesmo efeito. Para além deste efeito, acrescenta-se a dependência que alguns destes medicamentos exercem na pessoa, caso esta não os tome devidamente. A automedicação é uma prática que acarreta um elevado risco. MONTASTRUC et al. (8) demonstraram que existe um risco evidente na prática de automedicação em medicamentos sujeitos e não-sujeitos a receita/prescrição médica que são reutilizados. Adicionalmente, concluíram que os efeitos adversos relacionados com a automedicação podem ser graves.

Referências Bibliográficas (Segundo NP405): (1) ELLENBOGEN, J. M. - Cognitive benefits of sleep and their loss due to sleep deprivation. Neurology Apr. Vol. 64. n.º 7 (2005). p. 25-27. (2) KRUEGER, J. M., FRANK, M. G., WISOR, J. P., ROY S. - Sleep function: Toward elucidating an enigma. Sleep Med Rev. Vol. 28 (2016). p. 46-54. (3) CAPPUCCIO, F. P., COOPER, D., D’ELIA, L., STRAZZULLO, P., & MILLER, M. A. - Sleep duration predicts cardiovascular outcomes: a systematic review and meta-analysis of prospective studies. Eur Heart J. Vol 32. n.º12 (2011). p. 484–1492. (4) OHAYON M. M. - Epidemiology of insomnia: what we know and what we still need to learn. Sleep Med Rev. Vol. 6. n.º 2 (2002). p. 97-111. (5) BURMAN D. - Sleep Disorders: Insomnia. FP Essent. Vol. 460. (2017). p. 22–28. (6) EVERITT, H., BALDWIN, D. S., STUART, B., LIPINSKA, G., MAYERS, A., MALIZIA, A. L., MANSON, C. C., & WILSON, S. - Antidepressants for insomnia in adults. The Cochrane Database Syst Rev. Vol. 5 n.º5 ( 2018). (7) LOCKLEY, S. W., CRONIN, J. W., EVANS, E. E., CADE, B. E., LEE, C. J., LANDRIGAN, C. P., ROTHSCHILD, J. M., KATZ, J. T., LILLY, C. M., STONE, P. H., AESCHBACH, D., CZEISLER, C. A., & HARVARD WORK HOURS, HEALTH AND SAFETY GROUP - Effect of reducing interns’ weekly work hours on sleep and attentional failures. N Engl J Med. Vol. 351. n.º 18 (2004). p. 1829–1837. (8) MONTASTRUC, J. L., BONDON-GUITTON, E., ABADIE, D., LACROIX, I., BERRENI, A., PUGNET, G., DURRIEU, G., SAILLER, L., GIROUD, J. P., DAMASE-MICHEL, C., & MONTASTRUC, F. Pharmacovigilance, risks and adverse effects of self-medication. Therapie. Vol. 71. n.º 2 (2016). p. 257–262.

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REPORTAGEM

ALOPÉCIA DE TRACÇÃO: UM PROBLEMA QUE NOS DEIXA PELOS CABELOS

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Dra. Ana Pacheco Consultora Farmacêutica na Tecnosaúde

A ALOPÉCIA DE TRACÇÃO É UM TIPO DE QUEDA DE CABELO CARACTERÍSTICO DE PENTEADOS QUE PRODUZEM UMA TRACÇÃO CONTÍNUA NA RAIZ DO CABELO, COMUM NAS MULHERES AFRICANAS, DEVIDO AOS CABELOS EM ESPIRAL E ENCARACOLADOS. A BOA NOTÍCIA? A ALOPÉCIA DE TRACÇÃO É EVITÁVEL E, COM A EDUCAÇÃO APROPRIADA, ATEMPADAMENTE, PODEMOS ELIMINÁ-LA TOTALMENTE. O cabelo forma-se ao nível da raiz e é constituído, essencialmente, por uma proteína, a queratina, que lhe garante a sua protecção. O fio de cabelo divide-se em três partes: a cutícula, o córtex e a medula, tendo cada uma a sua acção e função. O nosso cabelo cresce ciclicamente, passando por três fases: • Fase anagénica: fase de intenso crescimento celular • Fase catagénica: fase de transição • Fase telogénica: Fase de eliminação. As características estruturais e bioquímicas dos cabelos variam entre grupos étnicos. A composição química da haste capilar, especificamente, as configurações de queratina e aminoácidos, é semelhante entre as etnias africanas, asiáticas e caucasianas (1). Os cabelos africanos e caucasianos também são bastante semelhantes em relação à espessura da cutícula, forma e tamanho da escama e células corticais (1). No que diz respeito ao padrão do cabelo (por exemplo, helicoidal, espiral, liso e ondulado), o cabelo encaracolado é mais comum na raça africana, o que dificulta o penteado e aumenta o risco de quebra (1). O termo alopécia não significa doença, mas, sim, falta de cabelo. Assim, tal como o nome indica, a alopécia de tracção é um tipo de queda de cabelo associada à tracção

repetitiva do cabelo, comumente relacionada com penteados que levam a puxões apertados, tais como rabos de cavalo, extensões e tranças (1). O início da perda de cabelo ocorre, habitualmente, nas regiões temporais, pré-auricular e acima das orelhas; contudo, pode também envolver outras regiões do couro cabeludo. A alopécia de tracção pode estar associada a dor de cabeça, que é aliviada quando o cabelo é solto, devido à tracção capilar. Estes problemas começam, habitualmente, na infância, onde podem ser travados e reversíveis com a devida educação capilar. O risco de alopécia de tracção aumenta, significativamente, também em couros cabeludos sensíveis, não saudáveis ou com coloração (1). A gravidade da alopécia de tracção é avaliada usando o Marginal Traction Alopecia Severity Score (M-TAS). Esta escala fotográfica é validada e usada para determinar a gravidade da alopécia de tracção marginal. As linhas anteriores e posteriores são localizadas, usando marcos anatómicos, e são classificadas numa escala de 0 a 9. A escala foi usada em estudos clínicos para correlacionar a gravidade da doença com possíveis factores de risco para a alopécia de tracção. Potencialmente, o M-TAS pode ser uma ferramenta útil para monitorizar a resposta ao tratamento. A dermatoscopia pode, também, ser uma ajuda útil no diagnóstico de alopécia de tracção. A presença de moldes capilares é típica da alopécia de tracção. Em utentes com um tipo de alopécia remota e marginal secundária à tracção, uma redução na densidade dos folículos capilares, a ausência de aberturas foliculares e a presença de um grande número de moldes capilares móveis na periferia do adesivo são vistas na dermatoscopia, enquanto que, num utente com um tipo difuso de alopécia secundária à tracção, a dermatoscopia revela uma densidade normal de cabelo com vários elencos. Os moldes capilares, devido à alopécia de tracção, são não aderentes, de cor branca ou vermelha, de forma cilíndrica e tendem a circundar o eixo proximal do cabelo (2). Tratamento O tratamento da alopécia de tracção baseia-se em factores como a cronicidade e a presença ou ausência de outros tipos de alopécia. Na prática clínica, a alopécia de tracção é classificada em três estádios: de prevenção, precoce e de longa duração. No primeiro estádio, quando falamos de uma alopécia de tracção prevencional, técnicas educacionais são suficientes, uma vez que os folículos capilares estão mais vulneráveis durante a mesma. Numa alopécia de tracção precoce, temos um folículo capilar ainda intacto, pelo que a melhor estratégia será aliviar a tensão colocada no cabelo. Nesta fase, é importante evitar quaisquer tratamentos químicos, como coloração. O uso de corticoides tópicos é recomendado para acalmar a inflamação. No caso da existência de pústulas, estas podem ser tratadas com antibióticos orais ou tópicos. Quando nos referimos a um período de longa duração, as situações cirúrgicas são as soluções mais viáveis, tais como o transplante capilar (2). A alopécia de tracção é um problema que pode ser totalmente reversível e eliminado se for diagnosticada a tempo, através de métodos educacionais. Qualquer penteado que seja usado frequentemente e que cause algum tipo de tracção capilar pode ser causador de alopécia de tracção. É necessário educar a população para este problema.

(1) RAFFI, J., SURESH, R., & AGBAI, O. - Clinical recognition and management of alopecia in women of color. Int J Womens Dermatol. Vol. 5. n.º 5 (2019). p. 314-319. (2) PULICKAL, J. K., & KALIYADAN, F. - Traction Alopecia. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing (2020).

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OPINIÃO

HIPERPIGMENTAÇÕES: SAIBA O QUE SÃO E COMO PREVENI-LAS

Dra. Ana Pacheco Consultora Farmacêutica na Tecnosaúde

A HIPERPIGMENTAÇÃO É O TERMO USADO PARA DESCREVER ÁREAS DE PELE COM PIGMENTAÇÃO DESIGUAL, ISTO É, COM UMA MANCHA MAIS ESCURA, CAUSADA QUANDO TEMOS EXCESSO DE MELANINA, O PIGMENTO RESPONSÁVEL POR DAR COR À NOSSA PELE, CABELO E OLHOS. APESAR DE SEREM CONSIDERADAS INESTÉTICAS, AS MANCHAS SÃO BENIGNAS E INDOLORES.

Uma hiperpigmentação manifesta-se como mancha ou zona escurecida na pele, que lhe dá um aspecto pouco uniforme, visto que a melanina se acumula de forma desigual. Em última instância, adquire um tom mais escuro e forma as manchas. A produção de melanina é realizada pelos melanócitos, células que se localizam na camada basal da epiderme. Quanto maior o teor de melanina que um indivíduo tiver, maior será o seu fotótipo de pele. As tão indesejadas manchas escurecidas podem ser provocadas por diversos factores, tais como a exposição solar excessiva, a idade, alterações hormonais, predisposição genética, traumatismos cutâneos, doenças inflamatórias da pele ou, até mesmo, a toma de determinados medicamentos. Indivíduos com fotótipos de pele mais elevados são, normalmente, mais afectados pelas marcas de hiperpigmentação do que indivíduos com fotótipos mais baixos, porque a pigmentação da pele é mais forte na pele escura, devido ao teor de melanina. O melasma não é mais do que o termo técnico que designa as hiperpigmentações que aparecem no rosto, principalmente, nas bochechas, no dorso do nariz, na testa e no lábio superior e, por vezes, noutras áreas do corpo expostas ao sol, tais como os antebraços. Quando falamos na grávida, referimo-nos ao pano, no entanto, estamos perante um cloasma. Os homens também podem sofrer de melasma, mas é muito mais comum nas mulheres de fotótipo mais elevado. Como prevenir? De forma a prevenir o aparecimento ou aumento de hiperpigmentações, é imperativo adoptar algumas precauções na rotina diária, tais como: • Evitar a exposição solar nas horas de maior calor; • Utilizar protecção solar diariamente, com índice de protecção solar elevado (50+) e com inclusão de ingredientes antioxidantes e anti manchas. O protector solar deve ser reaplicado a cada duas horas, independentemente do fotótipo de pele; • No exterior, utilizar chapéus de aba larga, para evitar uma exposição directa ao sol, e óculos de sol; • Ter atenção à medicação que está a tomar e se esta causa fotossensibilidade. Caso seja afirmativo, deve redobrar os cuidados e falar com o seu médico ou farmacêutico. É preferível prevenir uma mancha do que tratá-la! Não arrisque e proteja a sua pele!

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ENTREVISTA

O IMPACTO PSICOLÓGICO DA COVID-19 NA DOENÇA ONCOLÓGICA DR. PAULO SALAMANCA, MÉDICO ONCOLOGISTA E PRESIDENTE DO COLÉGIO DE ONCOLOGIA DA ORDEM DOS MÉDICOS DE ANGOLA, ABORDA O IMPACTO PSICOLÓGICO DA COVID-19 NOS PACIENTES DE FORO ONCOLÓGICO. UM ASPECTO TÃO IMPORTANTE QUANDO LUANDA FOI UMA DAS PROVÍNCIAS MAIS AFECTADAS PELA CERCA SANITÁRIA, O QUE DIFICULTOU A EQUIDADE DO TRATAMENTO AO DOENTE ONCOLÓGICO.

Dr. Paulo Salamanca Médico Oncologista, Presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos de Angola

Tecnosaúde - Dr. Paulo Salamanca, antes de mais, explique-nos o que é a doença oncológica? Paulo Salamanca - A doença oncológica, também chamada de cancro, câncer e neoplasia ou tumor maligno, na verdade, agrega um número vasto de diferentes doenças, que podem ter esta designação comum por terem algumas características semelhantes entre si, nomeadamente, um crescimento desordenado de células (“Proliferação Celular Anárquica”) e a capacidade de invadir órgãos vizinhos ou à distância (“Metastização”), pondo em risco a vida dos doentes. Tecnosaúde - Entre 2004 e 2005, eram atendidos, pelo menos, 10 doentes ao dia, mas, em meados de 2020, já eram atendidos mais de 300 no Centro Nacional de Oncologia. Como é que a COVID-19 impactou os tratamentos oncológicos em Angola? PS - A COVID-19 teve, tem e terá um impacto negativo na gestão das doenças crónicas não transmissíveis, nomeadamente, o tratamento oncológico, em Angola, tendo em conta as várias políticas implementadas e as restrições impostas no Estado de Emergência e,

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actualmente, no Estado de Calamidade, no combate à pandemia COVID-19, almejando a diminuição do risco de disseminação no nosso país. Penso que, antes da pandemia COVID-19, a orientação política no nosso país experimentava uma transferência de prioridades na gestão da saúde, sendo que alguns documentos instrutivos e reformas executadas pelo novo Governo foram desenvolvidos tendo como determinante o aumento exponencial das doenças crónicas não transmissíveis (tais como diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, doença renal ou cancro), que constituem causas importantes de morbimortalidade do povo angolano. Na era COVID-19, o nosso Executivo criou um sinergismo interministerial e desenvolveu políticas necessárias no combate à pandemia que tem devastado os sistemas de saúde, numa escala mundial, com impacto negativo na economia global. Entretanto, as consequências destas políticas, no nosso país, já se refletem de forma negativa na abordagem e gestão dos doentes oncológicos, nomeadamente, nos constrangimentos ao acesso dos tratamentos oncológicos: 1) a cerca sanitária em Luanda dificulta a equidade do tratamento ao doente oncológico, sendo a única Província com acesso a radioterapia ou a quimioterapia; 2) as novas exigências de importação dificultam o processo de abastecimento e reposição do armazenamento de fármacos e materiais médicos nas unidades hospitalares; 3) a redução da força de trabalho e as orientações para a população “ficar em casa” prejudicam o diagnóstico precoce dos novos casos e das recidivas tumorais; 4) a cerca sanitária em Luanda compromete o seguimento e a continuidade dos tratamentos aos doentes oncológicos de outras Províncias. Tecnosaúde - Segundo um artigo recente, publicado em 2019 (Miguel et al. Infectious Agents and Cancer), os cinco cancros mais comuns são

cancro da mama, do colo do útero, da próstata, Linfoma não-Hodgkin e Sarcoma de Kaposi. Quais as complicações psicológicas mais presentes e agravadas pela pandemia nestes doentes? PS - O diagnóstico de cancro acarreta o medo de morrer, apesar dos progressos da Oncologia, nos últimos anos, em que cerca de um terço dos casos de cancro nos adultos e mais de metade nas crianças podem ser, actualmente, curados. Os doentes oncológicos estão entre os grupos de risco acrescido para a infecção provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), pessoas mais velhas e com condições médicas pré-existentes (como o cancro) parecem estar em maior risco de desenvolver doença grave. Na era da pandemia COVID-19, as perturbações depressiva e ansiosa são frequentes nos doentes oncológicos e a tanatofobia pode estar presente em alguns casos, principalmente, nos doentes muito sintomáticos ou em fase terminal da doença. Tecnosaúde - Os tratamentos anticancerígenos são, habitualmente, imunossupressores, deixando os indivíduos imunodeprimidos. Como é que conseguimos proteger estas pessoas, em termos psicológicos? Devem ficar em quarentena, durante toda a pandemia, de forma a protegerem-se? PS - É impreterível um acompanhamento psicológico de todos os doentes oncológicos, em tempos de pandemia COVID-19. As consultas ou tratamentos a manter são definidos por cada instituição. Os doentes assintomáticos e sem história de contacto directo com uma pessoa infectada poderão continuar os tratamentos, contudo, deverão ter cuidados máximos de prevenção contra a infecção e o mínimo de tempo possível de permanência nos serviços de saúde. Evitar as deslocações desnecessárias ao hospital ajuda a reduzir o risco de infecção por SARS-CoV-2.

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Tecnosaúde - Podemos afirmar que estamos na era da COVID-19. Como profissional de saúde, como é que lida com os seus pacientes? PS - Continuo a seguir e a tratar os meus doentes com o mesmo profissionalismo, munido pelo uso regular de materiais de biossegurança e cumprindo, escrupulosamente, as medidas de prevenção, nomeadamente, manter uma distância de segurança das outras pessoas, limitando o contacto próximo, lavando frequentemente as mãos com água e sabão ou álcool gel e evitando tocar na cara.

adversos das alternativas terapêuticas, tem sofrido um forte impacto psicossocial negativo da pandemia na sua saúde. O uso actual da tecnologia de consulta online por psicólogos e outros profissionais de saúde mental, no contexto da pandemia COVID-19, em conjunto com os estudos em curso, que avaliam o impacto psicossocial da COVID-19 em Angola, são importantes para recolher dados que permitam o desenvolvimento de estratégias de intervenção, que reduzam os impactos psicológicos negativos associados a este fenómeno.

Tecnosaúde - Como se lida com o medo em tempos de pandemia? PS - O confinamento social em que nos encontramos, devido à pandemia COVID-19, é uma situação nova e causadora de stress para todos nós, no entanto, invoca a nossa responsabilidade individual e colectiva. Todos temos um papel a desempenhar e é importante estarmos atentos às recomendações das autoridades de saúde. Protegermo-nos individualmente é contribuir para uma proteção colectiva.

Tecnosaúde - Como se pode acautelar, diariamente, as necessidades dos doentes em tratamento activo, dos que estão sob vigilância e a própria protecção de toda a equipa? PS - Houve uma redução da força de trabalho, mas foi acautelada a assistência dos doentes em tratamento activo. Aumentou-se o intervalo de tempo do seguimento dos doentes em vigilância e também em alguns subgrupos de doentes em tratamento hormonal com boa tolerância. A consulta de Rastreio foi suspensa temporariamente. Tem sido assegurado, diariamente, material de biossegurança a todos os profissionais de saúde escalados. O uso de máscara é obrigatório dentro e fora da instituição, de acordo com Decreto Presidencial. A lavagem das mãos com água e sabão e a triagem da temperatura corporal e dos principais sintomas da COVID-19 são realizadas a todas as pessoas que entram na instituição.

“O CONFINAMENTO SOCIAL EM QUE NOS ENCONTRAMOS, DEVIDO À PANDEMIA COVID-19, É UMA SITUAÇÃO NOVA E CAUSADORA DE STRESS PARA TODOS NÓS, NO ENTANTO, INVOCA A NOSSA RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL E COLECTIVA. TODOS TEMOS UM PAPEL A DESEMPENHAR E É IMPORTANTE ESTARMOS ATENTOS ÀS RECOMENDAÇÕES DAS AUTORIDADES DE SAÚDE. PROTEGERMO-NOS INDIVIDUALMENTE É CONTRIBUIR PARA UMA PROTEÇÃO COLECTIVA”

Tecnosaúde - Quais as principais dúvidas que a COVID-19 trouxe aos doentes oncológicos? PS - A doença oncológica diminui a capacidade de resposta do sistema imunitário e a maioria dos tratamentos oncológicos causa imunossupressão. Consequentemente, os doentes oncológicos têm risco elevado de complicações da COVID-19. A grande dúvida é se os doentes com cancro são mais susceptíveis de desenvolver a infecção por SARSCoV-2 do que a população em geral. Ainda não há evidência científica sustentada nesta matéria. Tecnosaúde - Qual o papel da reabilitação psicológica/emocional no actual contexto? PS - O doente oncológico, que já vive com os seus medos e ameaças reais do cancro e dos efeitos

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Tecnosaúde - Sob o seu ponto de vista, os doentes oncológicos deviam ter acompanhamento psicológico, especialmente nesta época? PS - Como fiz menção anteriormente, o acompanhamento psicológico é indispensável. Tecnosaúde - Quais os principais desafios vividos, actualmente, pela especialidade? PS - A nossa especialidade terá que adoptar novas estratégias no domínio da prevenção, diagnóstico, tratamento curativo e paliativo e seguimento dos doentes, para minimizar o impacto económico negativo da pandemia COVID-19, de modo a salvaguardar, no futuro, o bem-estar e a qualidade de vida dos doentes com cancro em Angola. Uma das múltiplas consequências da pandemia COVID-19 foi a suspensão dos rastreios de base populacional, que estavam em curso em vários países. Neste contexto, tem sido abordado o cancro do colo do útero, destacando-se que, no pós-epidemia, o foco deverão ser as mulheres de alto risco e a procura de estratégias custo-efectivas. Os principais grupos internacionais em Oncologia já elaboraram várias normas de orientação das doenças oncológicas na era COVID-19 e, nós, internamente, também teremos de fazê-lo com visão generalista, actualizada e realista, para contribuir, desta forma, para a melhoria dos cuidados de saúde da comunidade e priorizar as principais necessidades dos doentes oncológicos.


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OPINIÃO

SARS-COV-2: UM DESAFIO GLOBAL O SARS-CoV-2, vírus responsável pela COVID-19, desde a sua descoberta até aos dias de hoje, colocou à comunidade científica um grande desafio do ponto de vista clínico e do diagnóstico. É necessário dar uma resposta rápida em termos de diagnóstico e capacitar as pessoas e estruturas laboratoriais para esse efeito.

Dra. Luísa Araújo Farmacêutica e Coordenadora de Diagnóstico Internacional na Quilaban

A primeira metodologia de diagnóstico laboratorial validada pelas entidades de referência, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), foi a reacção em cadeia da polimerase em tempo real, precedida de transcrição reversa (RT-PCR). Esta metodologia faz a amplificação de ácidos nucleicos do vírus e os testes laboratoriais disponíveis incluem alvos específicos, que codificam para proteínas estruturais, como a nucleoproteína N, o invólucro E e a espícula S, e ORF1ab e RdRp, que codifica para proteínas não estruturais importantes durante a infecção do hospedeiro. Esta metodologia é a mais sensível e específica disponível no mercado, permitindo a detecção precoce da infecção, mas colocou aos laboratórios o desafio de se equiparem melhor no campo da Biologia Molecular, área que, em muitos, estava ainda pouco desenvolvida. Além de RT-PCR, existem outras metodologias de diagnóstico, como os testes de detecção de antigénio, os testes serológicos de ELISA, os testes rápidos para detecção de anticorpos e os testes de sequenciação do genoma viral. Todos eles podem ser úteis e complementares, dependendo da fase de infecção, mas devendo sempre ser confirmados pelo método de referência e nos laboratórios validados para a resposta à COVID-19. Os testes de diagnóstico rápido imunocromatográficos de antigénio permitem detectar, de forma qualitativa, antigénios específicos de SARS-CoV-2 na nasofaringe e orofaringe. O antigénio é um marcador precoce de infecção e poderá também funcionar como marcador de cura. A forma de colheita da amostra tem a mesma complexidade do PCR, mas os resultados são obtidos

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A COVID-19 LANÇOU-NOS UM DESAFIO GLOBAL, NO QUAL TODOS, DESDE A POPULAÇÃO À COMUNIDADE CIENTÍFICA, TEMOS UM PAPEL IMPORTANTE E TODOS TEMOS DE FAZER A NOSSA PARTE. NA ÁREA DO DIAGNÓSTICO, COM TUDO O QUE AINDA DESCONHECEMOS SOBRE ESTE VÍRUS, CONSIDERO IMPORTANTE RECORRER A TODAS AS METODOLOGIAS DISPONÍVEIS

em 30 minutos e não requerem elevado nível de especialização e equipamentos. Esta técnica pode ser útil numa fase de rastreio inicial. Os testes de diagnóstico rápido imunocromatográficos de anticorpos são uma metodologia qualitativa de detecção de anticorpos IgG e IgM, resultantes da exposição ao vírus. Estes testes permitem fazer um rastreio de indivíduos potencialmente expostos, em 10 a 30 minutos, e têm a vantagem de poderem ser feitos no sangue e sem necessidade de recurso a equipamentos e técnicos especializados. Estes testes permitem saber quem tem anticorpos, que, dependendo do tipo, podem ser indício de infecção activa ou de potencial imunidade. Embora as informações sejam mais limitadas e os anticorpos demorem entre sete a dez dias a serem produzidos no organismo, este método pode ser complementar ao RT-PCR e permitir testar um maior número de pessoas, ainda que com precaução.

Existem também no mercado testes de ELISA, que quantificam os anticorpos para o SARS-CoV-2. Estes testes permitem saber a quantidade de anticorpos específicos no sangue e podem ser úteis para avaliar a imunidade de grupo. Sendo este vírus novo, desconhece-se ainda qual a duração dos anticorpos que são desenvolvidos no decorrer da infecção e qual a sua capacidade de induzir imunidade. No entanto, é útil sabermos os níveis de anticorpos da população, principalmente, ao nível da investigação. Este teste pode ser efectuado no seguimento de um teste de diagnóstico rápido, para confirmação e quantificação, após um RT-PCR positivo, para verificar o nível de resposta imunológica, ou após um período de quarentena de um infectado, para perceber o tipo de anticorpos desenvolvido. É também muito importante ir fazendo a sequenciação do genoma viral, melhorando o conhecimento do vírus, a sua monitorização e controlo. É este conhecimento que vai melhorar a nossa capacidade de resposta, do ponto de vista clínico, mas também permitir desenvolver novas “armas” no combate à COVID-19, como tratamento e vacinação. Existem, também, no mercado soluções inovadoras a este nível, que podem ser úteis como confirmação de diagnóstico, mas, principalmente, ao nível da investigação. A COVID-19 lançou-nos um desafio global, no qual, todos, desde a população à comunidade científica, temos um papel importante e de fazer a nossa parte. Na área do diagnóstico, com tudo o que ainda desconhecemos sobre este vírus, considero importante recorrer a todas as metodologias disponíveis. Pub

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ENTREVISTA

ENCARAR A INFERTILIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA

Dr. Emanuel Kanga Médico Especialista em Medicina Reprodutiva no Mount Sinai Hospital, Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, University of Toronto Hospital

DESDE O PRINCÍPIO DO ANO QUE VIVEMOS UM PERÍODO CONTURBADO, ENVOLTO EM PREOCUPAÇÕES, STRESS E INCERTEZAS, TUDO ISTO FRUTO DA PANDEMIA PROVOCADA PELO VÍRUS SARS-COV-2, QUE, ALÉM DA CRISE SANITÁRIA, ORIGINOU UMA CRISE ECONÓMICA E SOCIAL SEM PRECEDENTES. CERTAMENTE QUE TEREMOS UMA ERA A.C (ANTES COVID-19) E D.C (DEPOIS COVID-19), COM INDIVÍDUOS MAIS AFECTADOS, DIRECTA OU INDIRECTAMENTE, PELA PANDEMIA. UM EXEMPLO DISSO SÃO OS CASAIS COM DIFICULDADES EM ENGRAVIDAR, QUE SE ENCONTRAVAM EM FASE DE TRATAMENTOS DURANTE ESTE PERÍODO. PARA PERCEBERMOS UM POUCO MELHOR SOBRE ESTA PROBLEMÁTICA, CONVIDÁMOS O DR. EMANUEL KANGA, MÉDICO ESPECIALISTA EM MEDICINA REPRODUTIVA NO MOUNT SINAI HOSPITAL, DEPARTAMENTO DE OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA, UNIVERSITY OF TORONTO HOSPITAL, A RESPONDER A ALGUMAS QUESTÕES.

Tecnosaúde - Dr. Emanuel Kanga, em primeiro lugar, é importante esclarecermos, o que é a infertilidade? Emanuel Kanga - Infertilidade é a incapacidade de engravidar, após 12 meses de relações sexuais regulares, sem métodos contraceptivos. Se a mulher tem mais de 35 anos, o prazo para a realização do diagnóstico cai para seis meses de tentativas. Tecnosaúde - Com a actual pandemia, muitas consultas passaram a ser em modo de teleconsulta. O acompanhamento das consultas de fertilidade pode ser feito do mesmo modo? Qual a sua opinião?

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EK - Hoje, com a evolução da tecnologia, já temos realizado teleconsultas, sobretudo, nas primeiras consultas, onde o especialista fala com o casal e, através de uma entrevista exaustiva sobre o historial clínico (patologias, cirurgias), hábitos de vida (stress, alimentação, medicação) e actividade sexual, bem como da análise de exames médicos prévios, traça o historial de ambos os elementos. Já fazíamos acompanhamento de fertilidade em modo de teleconsulta mesmo antes da pandemia, porque temos doentes em várias partes do globo. Neste momento, apenas aumentou o número de consultas. Vale aqui lembrar que há um exame importantíssimo para uma boa orientação do diagnóstico, que é a ecografia endovaginal, e este só pode ser feito presencialmente. Tecnosaúde - A expansão do novo coronavírus tem deixado muitas mulheres e casais, que têm problemas de fertilidade e que estão em tratamento, perante a incerteza do que fazer neste momento. Qual o melhor conselho a dar a estas mulheres e casais? EK - A pandemia do coronavírus parece ter congelado o tempo e a vida de milhares de pessoas ao redor do mundo. Os casais com problemas de infertilidade e com

processo de fertilização in vitro em curso viram os seus sonhos adiados. Uma paciente minha, durante a consulta, disse que “quando soube que a pandemia suspenderia o meu processo de reprodução assistida, tive certeza que, ali, tinha acabado a minha oportunidade de engravidar. Eu não estava morta por um coronavírus, mas, de certa forma, mataram-me. Mataram o meu sonho de ser mãe”. O meu conselho a estes casais é que tudo tem o seu tempo e, com a evolução da ciência, hoje, tudo tem uma solução. Tecnosaúde - Como médico especialista em medicina reprodutiva, e a trabalhar num centro especializado no estrangeiro, que medidas é que a sua instituição tomou que julgue convenientes partilhar? EK - Entre os cidadãos que sofrem com o momento estão os casais com dificuldades para engravidar, que procuravam algum tratamento ou a reprodução assistida e, em razão da pandemia, tiveram que cancelar ou adiar esse sonho. Em paralelo a isso, temos a questão da idade fértil da mulher, que pode interferir no resultado do tratamento. Por isso, a instituição onde trabalho organizou

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“COM A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, O MUNDO GENERALIZOU O USO DA TELECONSULTA, NO SEGUIMENTO DA LUTA CONTRA A DISSEMINAÇÃO DA DOENÇA. ESSE RECURSO É UMA IMPORTANTE MEDIDA PARA OBTER ORIENTAÇÕES MÉDICAS, SEM PRECISAR SAIR DE CASA” teleconsultas grátis, uma vez por mês, por cada casal, com um médico especialista, e duas vezes por mês têm consulta com psicólogos, que fazem parte da nossa equipa. Este plano tem dado resultados muito satisfatórios, no que diz respeito a controlar a ansiedade dos casais que aguardam o processo de fertilização in vitro. Tecnosaúde - No seu ponto de vista, o medo que a pandemia pode trazer, o stress associado à mesma, entre outros, são factores agravantes para o insucesso da gravidez? EK - Sim, quadros emocionais confusos podem influenciar o período menstrual, portanto, todas as mulheres que estão a tentar engravidar devem prestar atenção às condições que geram stress nas suas vidas, para que possam “preparar o terreno” para uma gestação saudável e harmónica. Alguns factores emocionais e ambientais são conhecidos por terem o poder de modificar algumas reacções

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fisiológicas, como no caso das mulheres esquimós, que deixam de menstruar e ovular durante os longos e escuros invernos, ou de jovens mulheres que apresentam distúrbios no ciclo menstrual após experiências negativas, como o término de um relacionamento. Quando se trata da FIV (fertilização in vitro), podemos assegurar que o stress desempenha um papel menor, já que a indução da ovulação é feita através de medicamentos. Tecnosaúde - Embora os dados até agora conseguidos obter, relativamente ao efeito do vírus sobre a gravidez, isto é, a transmissão vertical, tenham sido positivos, muitos centros de medicina reprodutiva, hospitais e clínicas decidiram suspender os tratamentos durante esta pandemia. Como é que deve ser feita a abordagem aos casais, nesta fase que, por si só, é delicada? EK - Com a pandemia do coronavírus, o mundo generalizou o uso da teleconsulta, no seguimento da luta contra a disseminação da doença. Esse recurso é uma importante medida para obter orientações médicas, sem precisar sair de casa. Um elemento fundamental para uma boa abordagem aos doentes é o diálogo entre médico e casal e, nesta fase, já por si delicada, deve existir, por meio de teleconsulta, uma conversa séria e construtiva para minimizar o impacto negativo na vida dos casais.


FLASH

NEWS COVID-19 pode causar lesões graves no cérebro

Helms e restantes colegas publicaram, recentemente, um pequeno estudo no New England Journal of Medicine a documentar os sintomas neurológicos dos seus pacientes com a COVID-19, em que os mesmos apresentaram dificuldades cognitivas e confusão mental, associadas normalmente a quadros de encefalopatia, uma tendência que os cientistas de Wuhan já haviam notado em pacientes com coronavírus em Fevereiro. Actualmente, mais de 300 estudos realizados mundialmente descobriram uma prevalência de anormalidades neurológicas em pacientes com COVID-19, incluindo sintomas leves como dores de cabeça (cefaleias), perda de olfacto (anosmia) e sensações de formigueiro (acroparestesias), com resultados mais graves, como afasia (incapacidade de falar), derrames e convulsões. Além das descobertas recentes, o vírus, considerado em grande parte uma doença respiratória, também pode causar danos nos rins, fígado, coração e em quase todos os sistemas orgânicos do corpo.

Vacina de Oxford entra na última fase de ensaios clínicos

Em Julho, cientistas do Reino Unido publicaram um artigo no The Lancet, confirmando a eficácia da vacina contra a COVID-19 que está a ser testada no Brasil. Segundo o estudo, a vacina que está a ser desenvolvida pela Universidade de Oxford, em colaboração com a empresa farmacêutica AstraZeneca, “apresentou um perfil de segurança aceitável” em 1.077 pacientes e gerou imunidade contra o novo coronavírus entre aqueles que a receberam. A vacina recebeu o nome de ChAdOx1 nCoV-19, pois foi desenvolvida a partir de um vírus denominado ChAdOx1, uma versão enfraquecida do vírus da gripe comum, que causa infecção em macacos e que foi geneticamente modificada para tornar impossível o seu desenvolvimento em humanos. Além disso, o vírus foi modificado geneticamente para criar proteínas presentes no vírus SARS-CoV-2, desencadeando a resposta imunológica pretendida.

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CASO PRÁTICO

O MÉDICO RESPONDE Dr. Mário Bundo Médico Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, especialidade em Ginecologia-Obstetrícia. Presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola (AGOA)

O Dr. Mário Bundo é, actualmente, Chefe de Serviço de Ginecologia-Obstetrícia da Clínica Girassol e Presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola (AGOA). Criada em 2008, a AGOA tem efectuado um trabalho muito digno no seu país e tem como principal objectivo dar o seu contributo na implementação de medidas tendentes a melhorar a saúde da mulher angolana, onde quer que ela se encontre. Actualmente, conta com cerca de 150 membros e tem como: MISSÃO: Congregar todos os especialistas de Ginecologia-Obstetrícia e interessados, numa associação idónea que contribua para o desenvolvimento, diferenciação e defesa dos interesses dos associados. VISÃO: Ser uma associação de excelência reconhecida e referência nacional e internacional no exercício, divulgação, diferenciação e promoção da pesquisa em Ginecologia e Obstetrícia. VALORES: Ética, Competência, Integridade, Pluralismo, Responsabilidade Social. De referenciar que a AGOA promoveu, durante o mês de Julho, o seu I Ciclo de Webinars em Angola, com o apoio da Princefarma,

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PARA ESTA PRIMEIRA EDIÇÃO DA NOSSA NEWSLETTER DIGITAL, CONVIDÁMOS O DR. MÁRIO BUNDO A RESPONDER A ALGUMAS QUESTÕES RELATIVAS À CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA (CE), QUESTÕES ESTAS, MUITAS VEZES, LEVANTADAS PELOS PRÓPRIOS UTENTES OU QUE SUBSISTEM EM DIFERENTES CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS DO SECTOR DA SAÚDE.

subordinado ao tema “Desafios Presentes na Saúde Reprodutiva”, que contou com a presença de ilustres convidados da especialidade, tanto de Angola como de Moçambique, numa partilha única e pioneira de conhecimento e experiências. Após esta breve apresentação, o Dr. Mário Bundo responde às seguintes questões: O que é a pílula do dia seguinte e qual a sua finalidade? A pílula do dia seguinte, ou contracepção oral pós coito, também chamada contracepção de emergência, são medicamentos tomados por via oral para prevenir uma gravidez após um contacto sexual desprotegido ou inadequadamente protegido. Quais os tipos de contracepção de emergência e as suas diferenças? Existem quatro tipos de contraceptivos orais de emergência. Os dois mais comuns são: • Levonorgestrel (LNG): uma hormona progestínica, na dose única de 1,5 mg ou em duas doses de 0,75 mg cada; • Ulipristal Acetato (UPA): contém um receptor modulador selectivo para a progesterona, em dose única de 30 mg. Outros dois tipos menos comuns são: • Mifepristone: contém um receptor modulador selectivo para a progesterona, 10-25 mg em dose única;

• Hormonal combinado (método Yuzpe): uma dose de 100 mcg de estrogénio etinilestradiol mais 0,5 mg de LNG, repetida após 12 horas. Qual o principal problema das mulheres usarem este método recorrentemente? Quais os principais efeitos secundários? Antes de mais, gostaríamos de sublinhar que o pronto acesso à contracepção de emergência, bem como a informação correcta, são direitos de todas as mulheres e raparigas em risco de uma gravidez não desejada. Várias situações podem levar ao uso recorrente deste método, nomeadamente, não usar um método contraceptivo regular, um preservativo que rompe, fica retido na vagina ou é usado de modo incorrecto, o esquecimento por dias na toma da pílula ou tomar de modo irregular, em alguns casos, por falta de conhecimento sobre o uso ideal deste método contraceptivo, ou falta de aconselhamento ou adequada informação ou aconselhamento prévio sobre as diversas opções para a contracepção. Portanto, a contracepção de emergência deve fazer parte dos programas de planeamento familiar, como forma de protecção às gravidezes indesejadas e ao impacto negativo que isso acarreta em termos de morbimortalidade materna. Em relação aos efeitos secundários, importa, antes de mais, salientar que não foram, até ao momento, relatados efeitos graves ou mortes

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inerentes ao uso da contracepção de emergência. Estes são, sobretudo, gastrointestinais, como náuseas e vómitos, e outros menos frequentes, como cefaleias, dores pélvicas e metrorragias. A contracepção de emergência é abortiva? Como actua? A contracepção de emergência não é abortiva, trata-se, apenas, de um mito comum. Ela não interfere numa gravidez já em curso, nem aumenta o risco de aborto ou outras complicações. O primeiro mecanismo de acção documentado da contracepção de emergência foi a interferência no processo da ovulação, inibindo o pico préovulatório da Hormona Luteínica (LH), impedindo o desenvolvimento e a maturação e/ou libertação do óvulo. Outros mecanismos propostos incluem a interferência na função do corpo lúteo, o espessamento do muco cervical, que impede a penetração dos espermatozoides, alterações da motilidade das trompas e inibição da função do esperma. Quais os conselhos sobre a contracepção de emergência? Em caso de toma, deve manter a contracepção habitual? Em primeiro lugar, esclarecer que o método pode ser usado até cinco dias da relação não protegida, mas a probabilidade de eficácia é maior quanto mais rapidamente for tomada. É importante realçar, também, que, apesar de ser um método seguro, não deverá ser usado de forma repetida, deliberadamente, como um método regular. Se a mulher estiver a usar um método contraceptivo regular, deve ser orientada a usar de forma correcta; caso não o use, deve-se “aproveitar

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a ocasião” para oferecer um método contraceptivo regular. No caso das mulheres que estão a amamentar, podem utilizar contracepção de emergência? A mulher que faça amamentação exclusiva até aos seis meses, e com amenorreia da lactação, provavelmente, não terá ovulação e, portanto, não terá a necessidade de contracepção de emergência. Porém, segundo os critérios médicos de elegibilidade para o contraceptivo da OMS, o LNG não tem contra-indicação durante a amamentação. O UPA pode ser usado durante este período, mas, por uma questão de precaução, a amamentação deverá ser interrompida durante uma semana, procedendo, neste período, a extracção manual ou com bomba e ao descarte do leite. Como saber que está grávida após a contracepção de emergência? A mulher apenas deverá realizar exames ou testes se a menstruação não aparecer após três semanas. A contracepção de emergência pode diminuir a taxa de abortos? Não tenho quaisquer dúvidas quanto a este facto. E não me baseio apenas no meu ponto de vista, mas no que é demonstrado por vários estudos, que relatam reduções do risco absoluto de gravidez acima de 50%. Este facto é de uma transcendente importância individual, familiar e social, uma vez que o aborto representa uma iniquidade social, porque as leis restritivas não impedem, de todo, que as mulheres recorram ao aborto, mas constringe as mulheres pobres a recorrerem ao aborto inseguro, com elevado de risco de complicações que podem ser fatais.


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ENTREVISTA

LIDERANÇA EM TEMPOS DE PANDEMIA Tecnosaúde - Antes de nos focarmos na actualidade e no conturbado período que, mais ou menos, todos os países e mercados atravessam, como correu o ano passado para a Pharmadis? Manuel Martins - 2019, não obstante ter sido um ano com bastantes constrangimentos relacionados com a desvalorização da moeda, que provocou um aumento generalizado de preço em todos os artigos, principalmente os importados, a Pharmadis conseguiu manter um portefólio de produtos essenciais, para que a assistência medicamentosa, de gastáveis e outros produtos de saúde pudesse chegar aos hospitais, clínicas, centros médicos e farmácias, de todas as Províncias de Angola. Manuel Martins Director Comercial da Pharmadis Angola

O DIRECTOR COMERCIAL DA PHARMADIS ANGOLA, MANUEL MARTINS, ABORDA OS PRINCIPAIS DESAFIOS TRAZIDOS PELA PANDEMIA, NO QUE A NÍVEL DA GESTÃO DE EQUIPAS DIZ RESPEITO, E NÃO SÓ. HORIZONTE NO QUAL SE INCLUI A REGULAMENTAÇÃO DO MERCADO FARMACÊUTICO, O PRINCIPAL DESAFIO PARA OS PRÓXIMOS TEMPOS. DESDE A ORIGEM ATÉ AO CLIENTE FINAL.

Tecnosaúde - Quais são os principais desafios que antevê para o sector nos próximos anos? MM - A regulação do mercado farmacêutico é, no meu ponto de vista, o principal desafio. Desde a origem até ao cliente final. A Pharmadis está preparada para este desafio e já actua em conformidade, ao trabalhar com empresas e laboratórios farmacêuticos devidamente certificados, que não deixam qualquer dúvida nos parâmetros de qualidade dos medicamentos e outros produtos de saúde que disponibilizamos em Angola, bem como ao obedecer às boas práticas de armazenamento e distribuição farmacêutica, exigidas pela IGS e pelas normas e regulamentos internacionais. Tecnosaúde - Qual o real impacto que a pandemia teve na vossa estrutura empresarial? MM - O impacto da pandemia COVID-19 é global e está a provocar uma forte contracção da economia, com a redução do consumo. Não obstante, todas as crises trazem oportunidades, pelo que as empresas e pessoas têm de se reinventar pela inovação que lhes permita ajustar-se às novas necessidades do mercado. Tecnosaúde - Quais foram os principais constrangimentos gerados pela COVID-19? MM - O confinamento e restrições de acesso entre os parceiros económicos e utentes, bem como o aumento da procura dos artigos relacionados com a prevenção e tratamento da COVID-19, provocaram uma repentina escassez destes artigos e uma especulação exagerada dos preços, em detrimento de outros artigos de saúde e medicamentos.

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Tecnosaúde - Quais os principais desafios que surgiram a nível da gestão das equipas, bem como a nível estratégico? MM - A recessões ou crises económicas acarretam sempre grandes desafios de competitividade às empresas, que não se ultrapassam com fórmulas mágicas. As equipas têm de acompanhar as dinâmicas do mercado, com uma boa gestão de mudança dos paradigmas actuais, para manterem a eficiência. A nível estratégico, tem de haver o mesmo alinhamento, ou seja, fazer a gestão da mudança com antecipação às dinâmicas dos mercados, das suas equipas, do seu portefólio de produtos, dos fornecedores e clientes. A Pharmadis quer continuar a ser um parceiro preferencial para os hospitais, clínicas, centros médicos e farmácias, em todas as Províncias de Angola. Tecnosaúde - Na posição de líder, que soluções encontrou para ultrapassar esses desafios? MM - A Pharmadis já está a actuar no contexto do seu plano estratégico, iniciado em finais de 2018, com planos de acção que nos têm permitido ultrapassar os principais desafios e continuar a ser percepcionados no mercado farmacêutico como verdadeiros parceiros para a saúde em Angola. Para isso, inovámos nos nossos meios de comunicação, com a adequação e melhoramento das nossas plataformas digitais, procurámos e encontrámos novos fornecedores, preferencialmente, os laboratórios farmacêuticos fabricantes devidamente certificados pelas entidades nacionais e multinacionais, com a melhor relação qualidade/preço. Além disso, intensificámos a prospecção no canal farmácia e hospitalar público, com resultados muito significativos para a base de dados de clientes da Pharmadis e, por último, reestruturámos, através de treino, acções de formação e recrutamento, a nossa equipa comercial e de logística. Tecnosaúde - O que trouxe na bagagem das suas experiências profissionais anteriores e noutros países que possa ser importado com sucesso para a realidade angolana? MM - A minha experiência profissional na indústria farmacêutica, com mais de 20 anos, na maior do tempo, em multinacionais, como a Pfizer, em Portugal, e a AstraZeneca, em Angola, permitiu-me ter uma visão abrangente desta área de negócio e das constantes alterações a que está sujeita, motivadas pelas dinâmicas de mercado e das conjunturas nacionais e internacionais que nos impactam. Fazer a gestão da mudança nas estratégias comerciais, na gestão do stock, no acompanhamento das equipas de vendas, através de treino e formação, contribuíram para experiências bem-sucedidas, no contributo que tenho dado para o crescimento das empresas que representei em Angola, desde há oito anos, no sector da importação e distribuição farmacêutica, nomeadamente, a Socifarma e, desde finais de 2018, a Pharmadis. Tecnosaúde - A pandemia COVID-19 veio mudar o mundo e os negócios. Como conduz estas

mudanças enquanto empreendedor? MM - Como já tive oportunidade de referir, acompanhando as dinâmicas do mercado, com uma gestão de mudança proactiva, ao nível das equipas comerciais, da adequação do stock, da prospecção para aumento dos canais de venda, tendo sempre em consideração a qualidade dos artigos e o preço como factores críticos de sucesso. Tecnosaúde - O líder de hoje precisa de ter habilidades diferentes do líder de há 30 ou 40 anos. O que é um bom líder? MM - Esta questão podia remeter-me para conceitos “by the book” das muitas formações que recebi e que também já tive oportunidade de dar às equipas que liderei. Mas prefiro, de forma simples, dizer apenas que um bom líder não se deve impor, nem se fazer notar muito, e deve estar, sempre que necessário, ao lado da sua equipa, dando suporte e apoio, ajustando a forma de liderar, de acordo com o nível de desenvolvimento de cada uma das pessoas.

“DE FORMA GERAL, AS POLÍTICAS DE SAÚDE TÊM MELHORADO, NOS ÚLTIMOS ANOS, E NOTA-SE O ESFORÇO DAS ENTIDADES RESPONSÁVEIS POR ESTE SECTOR EM CONTINUAR A TRABALHAR NESTE SENTIDO. PORÉM, HÁ AINDA UMA GRANDE MARGEM DE PROGRESSÃO PARA QUE OS CUIDADOS MÉDICOS RELACIONADOS COM A ASSISTÊNCIA MEDICAMENTOSA POSSAM CHEGAR A TODA A POPULAÇÃO DE ANGOLA, INDEPENDENTEMENTE DO SEU PODER AQUISITIVO E DO ORÇAMENTO DAS ENTIDADES PÚBLICAS DE SAÚDE”

Tecnosaúde - Podemos considerar o capital intelectual um dos maiores desafios da era do conhecimento? MM - Sem dúvida. Do mesmo modo que acredito em capacidades inatas, também acredito que as competências se adquirem através de investimento no capital intelectual. Tecnosaúde - Como líder e empreendedor, como vê o futuro farmacêutico, em Angola, daqui a cinco anos? MM - De forma geral, as políticas de saúde têm melhorado, nos últimos anos, e nota-se o esforço das entidades responsáveis por este sector em continuar a trabalhar neste sentido. Porém, há ainda uma grande margem de progressão para que os cuidados médicos relacionados com a assistência medicamentosa possam chegar a toda a população de Angola, independentemente do seu poder aquisitivo e do orçamento das entidades públicas de saúde. A regulação do mercado farmacêutico e uma associação representativa forte dos agentes importadores e distribuidores de produtos farmacêuticos serão muito importantes para que, daqui a cinco anos, cada um de nós possa ver a sua missão cumprida, como verdadeiros parceiros para a saúde em Angola.

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ANOS YEARS

CUIDAR DA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS É O NOSSO PROPÓSITO DIÁRIO!

Da capacidade logística (reforçada com um novo armazém de 2400m2) à implementação de boas práticas de distribuição. Do portefólio alargado ao marketing do produto. Da formação de recursos humanos ao programa de responsabilidade social. Na Australpharma, desenvolvemos competências específicas que promovem a otimização dos processos e o aumento da eficiência em todas as frentes. Dia após dia, trabalhamos para estar sempre na vanguarda.

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SEMPRE À FRENTE. EM TODAS AS FRENTES.


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