Consciência e Liberdade N.º 20 (2008)

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As religiões – incendiárias do ódio ou bombeiras da paz?

Gunther Gebhardt* A expressão “pregador do ódio” pertence, desde há alguns anos, ao vocabulário corrente. Designa aquele que utiliza o seu papel religioso preponderante para suscitar o ódio e a violência contra os membros de outras religiões, contra outras culturas e contra aqueles que têm opiniões políticas diferentes. As motivações religiosas desempenham, sem dúvida, um papel em numerosos actos terroristas, mas a violência motivada pela religião não começou com os atentados terroristas destes últimos anos e também se apresenta sob outras formas diversas. Desde há algum tempo voltámos a interrogar-nos – sobretudo sobre o islão – sobre a relação entre a religião e a política, religião e violência e também nos questionamos se as religiões são capazes de viver em paz. Contudo, não se trata aqui, de forma alguma, de um problema puramente islâmico – uma tal opinião comportaria em si o germe do ódio e da violência! – uma vez que quase todas as religiões são afectadas por manifestações de violência. Na Índia, os hindus extremistas massacram tanto os muçulmanos como os cristãos. No Sri Lanka, o budismo, embora considerados pelo seu pacifismo, também se deixou fanatizar pelos nacionalistas cingaleses. Nesse país, os Tamiles hinduístas e cristãos entregam-se a terríveis actos de violência. Por fim, não esqueçamos que o cristianismo, por sua vez, manchou de sangue certos períodos da História e que, ainda hoje, pode levar à violência. Desta forma, frequentemente apresenta-se a guerra do Iraque, com as suas consequências, como uma manifestação do “choque de civilizações”, e isto, principalmente, desde que a Administração Bush lhe deu uma conotação cristã fundamentalista: como de Deus tivesse, por assim dizer, confiado aos Estados Unidos a tarefa de dividir o mundo entre o Bem e o Mal, e de lutar contra o pretenso Mal até à sua erradicação. Como explicar que a religião seja ainda e sempre uma das causas da violência, e como podem os crentes contribuir, mais eficazmente, para a paz? Será que a ideia de uma etnia planetária, isto é, de um consenso moral baseados sobre alguns valores, normas e comportamentos éticos comuns, teria um papel concreto a desempenhar? Fala-se facilmente de uma instrumentalização da religião para fins políticos. As religiões podem, em qualquer momento, atiçar o fogo dos conflitos que, contudo, causas bem diferentes – políticas, sociais, económicas, etc. As guerras dos 12


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