Estranho no espelho
Luana Rodrigues Pires
Tem um estranho no espelho. Você não sabe quando ele surgiu ou mesmo quando você se deu conta de que até mesmo estava ali, de frente para você do outro lado do seu espelho encarando de volta com petições e desconfortos. Você apenas sabe que existe um estranho em seu espelho que por algum motivo desconhecido parece... Errado. É difícil e complicado descrever, você o encara de cima a baixo, procurando o que te incomoda tanto na imagem. Talvez seja a forma, talvez seja o rosto, talvez sejam os olhos, talvez seja a boca, talvez não seja nada ou talvez seja tudo, você não consegue saber, não consegue achar, você apenas sabe que tem algo errado e isso te incomoda, tanto quanto incomoda o estranho no espelho. Você quer consertar, quer tornar o errado certo, fazer o estranho no espelho um conhecido, talvez um amigo? Um parceiro. O olhar que é transmitido pelo estranho lhe arrepia a pele e torce suas entranhas e, vagamente, você se pergunta se esse olhar não é um reflexo de seu próprio, assim como todos os movimentos do estranho parecem iguais aos seus. Sua jornada começa frustrante, sem saber quais passos são os certos e quais são os errados. Tentativa e erro, tropeço e levantar, destruir e recomeçar. Você veste e transveste o estranho cuidadosamente com os recursos que tem em mãos. Talvez uma blusa mais folgada, uma calça ou um vestido, talvez algo falte no cabelo ou talvez seja a maquiagem sobre o rosto, mas, de fato, nada parece realmente certo, sempre algo falta. O incômodo per-
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