Eis uma boa pergunta, ó homem prudente. Teu argumento é hábil. No entanto, deve haver uma existência, uma realidade, que perceba a consciência do ego e os invólucros e também esteja cônscia do vácuo que é a ausência deles. Essa realidade que existe por si mesma permanece despercebida. Aguça a percepção de que podes conhecer o Atman, que é o conhecedor. Aquele que experimenta está cônscio de si mesmo. Sem um experimentador, não pode haver autoconsciência. O Atman é a sua própria testemunha, já que está cônscio de si mesmo. O Atman não é outro senão Brahman. O Atman é pura consciência, claramente manifesta como subjacente aos estados de vigília, de sonho e de sono sem sonhos. É experimentada interiormente como consciência ininterrupta, a consciência de que eu sou eu. É a imutável testemunha que experimenta o ego, o intelecto e tudo o mais, com suas várias formas e mudanças. É compreendido no fundo do nosso coração como existência, conhecimento e bemaventurança absolutos. Realiza esse Atman no santuário do teu próprio coração. O tolo vê o reflexo do sol na água de um jarro e pensa que ele é o sol. Enredado na ignorância de sua ilusão, o homem vê o reflexo da Pura Consciência nos invólucros e o confunde com o Eu verdadeiro. Para olhar o sol, deves afastar-te do jarro, da água e dos reflexos do sol na água. O sábio sabe que estes só são revelados pelo reflexo do sol, que brilha por si mesmo. Não são o próprio sol. O corpo, o invólucro do intelecto, o reflexo da consciência sobre ele - nada disso é o Atman. O Atman é a testemunha, a consciência infinita, o revelador de todas as coisas, mas difere de todas elas, quer sejam grosseiras ou sutis. É a realidade eterna, onipresente, que a tudo permeia, a mais sutil das sutilezas. Não tem interior nem exterior. É o Eu verdadeiro, oculto no santuário do coração. Compreende plenamente a verdade do Atman. Sê livre do mal e da impureza, e passarás além da morte. Conhece o Atman, transcende os infortúnios e atinge a fonte da alegria. Sê iluminado por esse conhecimento, e nada terás a temer. Se queres encontrar a libertação, não há outro meio de romper os grilhões do renascimento. O que pode destruir a servidão e a miséria deste mundo? O conhecimento de que o Atman é Brahman. É então que compreendes Aquele que é o um sem um segundo, a suprema bem-aventurança. Compreende Brahman e não haverá mais retomo a este mundo - a morada de todos os infortúnios. Deves compreender absolutamente que o Atman é Brahman. Então alcançarás Brahman para sempre. Ele é a verdade. É existência e conhecimento. É absoluto. É puro e existe por si mesmo. É alegria eterna, alegria sem fim. Não é outro senão o Atman. O Atman é uno com Brahman: tal é a verdade suprema. SÓ Brahman é real. Nada existe senão Ele. Quando O conhecemos como a realidade suprema, não há outra existência senão Brahman.
O universo Brahman é a realidade - a existência única, absolutamente independente do pensamento ou da idéia humana. Devido à ignorância de nossa mente humana, o universo parece compor-se de diversas formas. Ele é unicamente Brahman. Um jarro feito de argila nada mais é do que argila. É essencialmente argila. A forma do jarro não tem existência própria. Que é, pois, o jarro? Mero nome inventado! A forma do jarro nunca poderá ser percebida separada da argila. Que é, então, o jarro? Uma aparência! A realidade é a própria argila. Este universo é um efeito de Brahman. Nunca será outra coisa senão Brahman. Separado de Brahman, ele não existe. Fora d'Ele nada existe. Quem diz que este universo tem uma existência independente continua sendo vítima da ilusão. É como um homem que fala durante o sono. 29