Fleet Magazine #49 - Junho 2021

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Opinião Pedro Miranda D ep u ty C ommercial D irector – B u siness D evelopment | L ease P lan P ort u gal

O

surto pandémico parece estar finalmente a abrandar, pelo menos, nos países mais desenvolvidos e nos quais o processo de vacinação das populações permite perspetivar um regresso progressivo a uma certa normalidade. No entanto, a crise sanitária continua a deixar um lastro de impactos económicos que poucos anteviram e continuará a condicionar diversos sectores de atividade económica. Entre eles, o da indústria automóvel e aqueles que com esta se relacionam e integram cadeias de valor interdependentes. Focar-me-ei neste texto no caso particular das empresas prestadoras de serviços de renting e naquele que pode ser o seu papel enquanto agente facilitador no processo de seleção e aquisição de veículos. Vem esta introdução a propósito da mais recente condicionante de toda a indústria automóvel: a crise no fornecimento de semicondutores, componentes essenciais no fabrico de um veículo. Recuemos aproximadamente um ano para recordarmos a fase de enorme abrandamento na compra de veículos novos em consequência da crise pandémica. Passada essa 1.ª vaga, o mercado começou a apresentar sinais de alguma recuperação, ainda que intermitente, tímida e a níveis abaixo de 2019. Chegados a 2021, e em absoluto contraciclo com esta recuperação gradual, os fabricantes de automóveis começaram a debater-se com uma situação paradoxal de rara incapacidade de satisfação da procura, em consequência da falta de capacidade de fornecimento de veículos que, por sua vez, é resultante da escassez de semicon-

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A Globalização em estado puro dutores, componentes essenciais à sua produção. Os semicondutores são a base das memórias e processadores que constituem a base de quase todos os dispositivos eletrónicos. O mercado global destes componentes está a crescer a um ritmo significativo e a indústria automóvel tem vindo a integrar cada vez mais estes componentes no fabrico dos seus veículos. Estes componentes são fundamentais para a disponibilização de funcionalidades que, à data de hoje, encontramos em cada vez mais modelos de uso corrente e não apenas nos veículos topo de gama, como sejam os sistemas de entretenimento a bordo, os diversos sensores de segurança e assistência à condução ou até a sua incorporação nos diversos sistemas de propulsão para veículos elétricos e híbridos. Aumento no prazo de entrega de veículos novos No período de maiores restrições vividas durante o ano 2020, várias fábricas, quer de veículos, quer de componentes, encerraram ou reduziram significativamente a sua capacidade de produção. As vendas de automóveis caíram dramaticamente em várias geografias mundiais e as compras de componentes para a indústria automóvel, incluindo as de semicondutores, reduziram substancialmente. No sentido inverso, por via do aumento do teletrabalho e do regime de aulas não presenciais, aumentou significativamente a procura por computadores e outros dispositivos móveis, como sejam os smartphones bem como de equipamentos médicos, consumidores daquele tipo de “matéria-prima”. Quando os fabricantes de semicondutores retomaram a sua capacidade produtiva, ainda assim agravada por paragens não programadas

em algumas fábricas, já era dada prioridade à satisfação de encomendas de indústrias cuja atividade dava já sinais de normalização ou até mesmo de aumento na procura. Este movimento resultou em enormes constrangimentos no fornecimento de componentes à indústria automóvel, que assim entrou num período em que padece de duas condicionantes cumulativas: o abrandamento na procura e, ainda assim, uma incapacidade de a satisfazer por falta de capacidade de produção. Em consequência destes movimentos de abrangência mundial, existem já evidências reais dos impactos ao nível das estimativas de entrega fornecidas por parte das marcas automóveis a encomendas que lhes são colocadas. Não é invulgar receber informação sobre atrasos de produção ou sobre encomendas colocadas hoje, que só poderão ser satisfeitas em 2022. Este é um cenário transversal a várias marcas, com raras exceções representadas por aqueles que anteciparam este contexto ou cuja procura é tão reduzida que o stock existente é suficiente para a satisfazer. Menos vulgar, mas surpreendentemente real, é a substituição de equipamentos digitais por outros, mas analógicos, como meio alternativo de poder entregar veículos, mesmo que daí resulte uma configuração menos alinhada com os padrões atuais. Renting como solução Não é esperada uma normalização breve no fornecimento de semicondutores à indústria automóvel. Pelo contrário, há notícias que dão nota de esta crise poder ser mais prolongada, pelo que existe um imperativo de planeamento e antecipação de decisões para fazer face a este novo contexto.


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