A PSICANÁLISE EM TRÊS ACTOS
I ACTO A psicoterapia poderia ser um mistério para muitos, mas não certamente para o Dr. Gerald. O mesmo partilhava o seu consultório com sua esposa, também profissional da área. A área da psique humana ou, como eles carinhosamente a apelidavam, a “psi”. Lewis, por sua vez, nunca se deitou no divã pois, ciente das complexidades que o conduziam semanalmente às consultas com Gerald, assumia que as mesmas eram menos complicadas no conforto relativo da poltrona. Esta encontrava-se estrategicamente colocada no canto lateral direito oposto àquele onde Gerald se sentava também, numa poltrona, em tudo, igual. Graças à sua localização, em momento algum ficavam sentados de frente um para o outro porém, a visão periférica de ambos permitia, desde que sentados direitos com as mãos colocadas
nos braços das respectivas poltronas, percepcionar a presença de cada um e, por sua vez, tudo se compunha num gabinete espaçoso, mas não amplo, organizado como se assumisse que a descoberta dos egos exigia um espaço físico confortável, mas não demasiado grande não fossem os egos transformar-se repentinamente, e de forma indesejada, em alter ego ou super ego, ou em qualquer outra coisa do género apenas devido a um erro na gestão do espaço em que ambos se encontravam, semana após semana. O estratagema da visão periférica funcionava bastante bem, de tal forma que Gerald quase se desabituou de comunicar olhando para as pessoas de frente, como se tal não fosse necessário e, como se o seu outro sistema comunicacional evitasse constrangimentos. Quem falava e escutava, de acordo com
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