pelo alívio do desconforto subjacente às experiências negativas, sendo também utilizada como forma de automedicação. Isso não se verifica de igual maneira entre os homens, uma vez que os fatores que motivam seu uso devem-se pela busca do reforço positivo associado aos efeitos da droga ou pela curiosidade em experimentar determinadas sensações8,17-20. O início de uso de determinada substância pode estar relacionado à sua progressão e desenvolvimento do TUS. Sugere-se que a primeira droga de uso, mesmo que não leve à dependência, pode ser considerada um potencial de risco para a experimentação de outras drogas e, consequentemente, desenvolvimento de dependência25. Tal hipótese é conhecida como “hipótese da porta de entrada” e sugere uma sequência de acontecimentos nos quais o uso de drogas como álcool e a maconha pode conduzir ao uso de outras drogas, incluindo a cocaína, crack, heroína e meta-anfetamina. Assim, o uso precoce de tabaco ou álcool, que geralmente está associada à influência de um ambiente familiar ou de grupo de amigos, aumenta a probabilidade de usar maconha e, consequentemente, segundo a hipótese da porta de entrada, passar para o uso de outras drogas como a cocaína e o crack. Embora a maioria dos estudos que investigaram essa hipótese incluíram participantes de ambos os sexos, achados específicos com amostras de mulheres sugerem que usuárias de crack possuem um comum histórico de uso de álcool e/ou maconha antecedentes ao início de uso de crack, confirmando essa hipótese24,26,27. O curso e a progressão do uso evidenciam diferenças biológicas entre mulheres e homens. Observa-se que mulheres manifestam sintomas de abstinência, tolerância e fissura em um período de tempo de uso inferior ao dos homens7,15. Em usuárias de crack, por exemplo, isso pode ser exemplificado pela diferença significativa em comparação aos usuários homens no que se refere à quantidade da droga consumida. Percebe-se que mulheres consomem maior quantidade de pedras de crack do que os homens dentro do mesmo período de uso3, o que sugere a maior necessidade em usar a droga possivelmente em resposta aos sintomas de abstinência experienciados. Além disso, do ponto de vista neurobiológico, mulheres parecem ter mais reatividade cerebral quando estimuladas pelo uso de drogas em comparação a homens28,29. A influência dos hormônios, como a progesterona e o estrógeno, bem como os respectivos níveis desses hormônios nas diferentes fases do ciclo menstrual, parecem desempenhar papel importante tanto para uma diferente ativação cerebral, quanto para a intensidade dos sintomas decorrentes do uso da droga28,30. Dreher et al.31 investigaram essa relação, demonstrando que sintomas de fissura e maiores ativações de regiões cerebrais do sistema de recompensa (área fundamental para a motivação ao uso de drogas) estavam associados à fase folicular do ciclo menstrual feminino. O fato de a experiência com a droga ter papel distinto para homens e mulheres faz com que seja necessário entender o curso da dependência como um aspecto que envolve desde as motivações iniciais até as questões envolvidas na vulnerabilidade para a progressão e desenvolvimento da dependência. Compreender essas questões pode possibilitar a construção de propostas preventivas na área da saúde5,8. Experiências adversas de vida ao longo do desenvolvimento Situações potencialmente estressoras e traumáticas que ocorrem ao longo do desenvolvimento, principalmente na infância e adolescência, podem interferir de forma significativa na saúde dos indivíduos e ter consequências duradouras e de longo prazo. Maus-
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