Vulnerabilidade e o uso de drogas

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Nos encontros as pessoas são estimuladas a falarem de seu sofrimento, sem riscos de serem julgadas ou condenadas. Poder expressar seus sofrimentos, seus conflitos, medos e dúvidas, valorizando e respeitando as diferenças individuais e as experiências de vida de cada um, o que favorece a prevenção, o tratamento e a reinserção social de usuários14. A TCI é uma abordagem terapêutica promissora em relação aos problemas relacionados ao abuso de drogas, por incentivar o exercício do autocuidado, valorizar os recursos culturais e possibilitar que estratégias de resolução sejam compartilhadas, o que contribui para o empoderamento dos participantes e para a promoção da saúde numa perspectiva de busca de autonomia28. A TCI tem se tornado um espaço de interconexão das diversas redes de apoio não governamentais, como os Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, Pastoral das diversas igrejas e entidades governamentais, a exemplo das escolas, centros de apoio psicossocial e justiça. São recursos que precisam ser reconhecidos e valorizados em todo programa de prevenção e atenção ao uso de drogas18. A terapia comunitária integrativa funciona como uma primeira instância de atenção básica em saúde pública. Ela acolhe, escuta, cuida e direciona melhor as demandas e permite que só afluam para os níveis secundários de atendimento as que não foram resolvidas nesse primeiro nível de atenção. Ela não tem a pretensão de ser uma panaceia, nem de substituir os outros serviços da rede de saúde, e sim complementá-los. O fator determinante é o acolher indiscriminadamente, disponibilizando o suporte comunitário18. A promoção de redes de apoio social constitui um fator de proteção dos mais importantes a serem incrementados pelos programas de prevenção ao uso indevido de drogas, nas esferas federal, estadual e municipal. É nesse sentido que a metodologia da TCI foi qualificada como uma estratégia eficaz de prevenção do uso indevido de drogas e de promoção da saúde, sendo inserida em ações da Política Nacional Sobre Drogas13. A inserção da terapia comunitária integrativa em ações de políticas públicas nacionais O reconhecimento da TCI como abordagem de saúde comunitária favoreceu sua inserção em ações de políticas públicas nacionais, estaduais, municipais e do DF. Esse reconhecimento é expresso pela capacitação de terapeutas comunitários em todo o país com financiamentos públicos13. Em âmbito federal, a TCI foi inserida nas ações da Política Nacional Sobre Drogas por meio do Convênio nº 16/2004 firmado entre a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o polo formador Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária do Ceará (MISMEC) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), o que possibilitou a capacitação em TCI, com ênfase nas questões relativas ao uso de álcool e outras drogas, de 780 lideranças comunitárias em 12 estados brasileiros14,18,26. As contribuições da TCI para a prevenção ao uso de drogas nas comunidades indígenas foram outro projeto desenvolvido de 2009 a 2012, na parceria SENAD, Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC), UFC e Fundação Nacional do Índio (FUNAI) (Convênio nº 16, de 2009). O projeto compreendeu a realização de três cursos: Terapia Comunitária Indígena Integrativa, Massoterapia e Técnicas de Resgate da Autoestima Indígena, sendo concluídos por 85 indígenas, de 13 etnias, de todas as regiões do país e a implantação da sede do polo de formação em Terapia Comunitária Indígena Integrativa e Ações Complementares para as Comunidades Indígenas Brasileiras na aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, BA13.

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