Magazine60+ #34

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mãe, para 6 dígitos mensais. Mandô Benz tornou-se “Observador da vida alheia.” As pessoas contam tudo nas redes sociais: o que vestem, como e onde comem, onde vão, com quem dormem, como foi o sexo e até senha do cartão de crédito. Ele contratou vários hackers e nunca faltou assunto picante. Tornou-se “o cara”, o ser mais bem informado, temido, amado e odiado do país. Ganhou dezenas de inimigos! O sucesso trouxe muita gente para seu entorno, inclusive as “Maria Pop Star”, equivalente à “Maria Chuteira”, as seguidoras de craques de futebol. Sair numa foto ao seu lado era certeza dos 15 minutos de fama citados por Andy Warhol. Namorou e engravidou várias fãs, inclusive a filha de um traficante. Audacioso, criou o concurso “Top Ten”, nas categorias: Top Ten Juízes Sem Juízo, Top Ten Políticos Sem Noção, Top Ten Vadias Casadas, Top Ten Corruptos e Top Ten Ruins de Cama, com voto popular on line e resultado no último programa do ano, ao vivo e com Tapete Vermelho, igual ao Oscar. O Top Tem bombou junto ao povão. Teve torcida organizada, bolsa de apostas, despertou o interesse da mídia nacional e estrangeira e a ira dos mais cotados. Não se fala em outra coisa nas ruas, nos bares, salões de beleza e no STF. Teve vários pedidos de liminar e até ameaça de CPI no Congresso. Quanto mais os políticos e as autoridades criticavam, maior a audiência do programa Complexamente Simples e mais cara a publicidade no horário, superando os valores do BBB e rivalizando com o Super Bowl – final do futebol americano – o comercial mais caro do planeta. Para turbinar o concurso, seus hackers criam fake news diárias, com vazamento de dados, falcatruas políticas, intrigas conjugais e todo tipo de sujeira. O público adora uma boa baixaria e a quantidade de seguidores disparou, aproximando dos números de Neymar Jr. e Cristiano Ronaldo. Há uma semana da grande data, os advogados trabalhavam duro para caçar liminares que tentavam proibir a divulgação dos resultados. A TV alugou o Credicard Hall para a festa, vários repórteres estrangeiros se cadastraram, mas de repente, Mandô Benz simplesmente desapareceu. Para a mídia, era pura jogada de marketing, mas nem a mãe e nem a equipe sabiam do seu paradeiro. A polícia foi acionada porém, por ordem superior, não se esforçou. Há 3 dias do evento, seu corpo apareceu boiando no rio Pinheiros. A Justiça determinou o fim do concurso, sem divulgação do resultado. O velório foi simples e teve apenas Aida Benz, a equipe, amigos, um milionésimo de seus seguidores e cobertura discreta da mídia. Se estivesse trabalhando na gráfica – disse a mãe – nada disso teria acontecido. A causa da morte foram 3 tiros, autoria desconhecida e arma não encontrada. Coisa de profissional, crime encomendado. Muitas dúvidas e uma única certeza: a motivação para o crime. Mandô Benz, “o cara”, mandou mal.

magazine 60+ #34 - Abril/2022 - pág.48


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