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Pequeno Hóspede // por Luciana Fialho
“AS COISAS VELHAS JÁ PASSARAM, EIS QUE TUDO SE FAZ NOVO”
cansei um só dia. Doía para respi-
Nunca imaginei poder viver algo nem perto do que experimentamos nesse ano de pandemia. Para falar a verdade, não sabia nem ao certo o que significava quarentena. Me tornei uma quarentona esse ano, e isso era o que tinha no meu vocabulário até então
T
rar. Dor de cabeça. Meninos com febre. Marido assintomático. Caos. Meses 4, 5, 6... Gratidão pela vida, pela saúde de volta, por tudo. Pela família, pelos ensinamentos, pelos desafios. Grata em ver o pôr do sol de casa. Não sabia xando um filho de 2 anos e um de
mais o que era isso. Pelo paladar
rabalho na comunicação de uma escola e no
6 meses, ter mais tempo com eles
e olfato de volta. Momento impor-
dia 18 de março, quando tudo foi fechado e
seria o suprassumo. Eureca. Isso
tante que me lembrei nos mínimos
eu levando um laptop debaixo do braço, sou
vai ser bom.
detalhes como Deus é perfeito em
orientada sobre uma nova modalidade: “agora
tudo que faz. Como sentir o gosto
trabalharemos em home office”. Nem consegui
Semana 2, 3, 4...
Acabou o
da comida é bom. Não daria para
raciocinar, só sabia que precisaríamos nos isolar
mês. É preciso sair novamente,
viver sem cheirar meus filhos.
por um certo tempo para evitarmos a contaminação
comprar o necessário e aprender
Obrigada, Deus. Obrigada!
com essa tal de covid-19.
a higienizar embalagens, sacolas e afins... Sapato na porta, sem
Meses 7, 8, 9, 10... até hoje me
Dia 1. Wow que novidade. Sou cobrada de algo
abraço, sem beijo, comunicação
sinto grata e cansada. A pande-
do trabalho e me lembro de pedir pelo menos um
com
máscara,
mia fez com que eu sentisse no-
dia para organizar a casa com compras, comida para
mãos lavadas, álcool em gel.
vamente a exaustão das noites
as crianças e novos topwares para congelamento,
Tudo como diria a minha avó:
perdidas com um bebê recém-
pensando nos próximos 30 dias pela frente. Sabia
“como manda o figurino”. Mas
-nascido, com a diferença que a
de nada, inocente...
depois de toda essa odisseia, sou
criança insiste em não crescer.
recebida pelos meus filhos com
Trabalhar em casa com duas
Dia 2. Vamos nessa. Foi dada a largada para uma
gritinhos felizes e abraços pela
crianças é para os fortes, mas
nova rotina. Como farei isso? Onde farei meu escri-
perna. “Nããããão! Mamãe preci-
já uso uma capa de superwoman
tório? Como trabalharei concentrada tendo Guido,
sa tomar banho!”. Atônitos e sem
quando preciso, e entendi que
de 3 anos, e Gael, de 2, sempre ao redor? Não sei,
entenderem, se afastam e presu-
somos capazes de muito mais do
mas o mundo também não sabia. Então só passa a
mem que declarei algo parecido
que imaginamos. Encarei como
marcha e vai... e eu fui.
com uma sentença de morte. E
uma experiência única, onde en-
era bem por aí.
sinamentos serão para quem en-
distanciamento,
Dias 3, 4, 5, 6.... Foram meio fora da curva, mas
xergar e quiser “fazer tudo novo”.
deram certo. Investimos eu e meu marido, o tempo
Mês 3... Peguei a tal. Minha casa
ganho com novas brincadeiras e mais interação com
toda pegou. Minha funcionária
as crianças. Para quem voltou a trabalhar fora, dei-
também. Pedi férias, mas não des-
50 Anuário RMB Educar
Luciana Fialho é jornalista, relações públicas, apresentadora e mestre de cerimônia. Instagram: @lucianafialho