No livro O sagrado e o profano, de Mircea Eliade,
há uma frase que desperta a atenção: “Tudo que está aqui em baixo é o reflexo de ideias perfeitas, ideias divinas e nós deveríamos saber ler as coisas que estão aqui em baixo, pois, o universo é como se fosse um grande livro para ser lido pelo observador capacitado que veria os múltiplos aspectos do divino, vendo aspectos do Uno manifestado no meio do múltiplo”. A relação do humano com o sagrado é peculiar: varia ao longo dos milênios e de pessoa para pessoa. Diria que é uma relação muito íntima. Gosto de pensar que podemos sentir o sagrado em tudo que nos rodeia. Pode ser nos fenômenos da natureza, nos mistérios do céu estrelado, nos animais, em lindas paisagens. O mundo está impregnado de sacralidade. Contemplar a natureza é contemplar inúmeros ângulos do sagrado. É como se pudésse-
mos olhar para as coisas e ver sua essência. Um desses aspectos, por exemplo, é olhar para a natureza e entendê-la como nossa mãe. A natureza é símbolo, entre outras coisas, da maternidade. Segundo Mircea Eliade, podemos ver nos aspectos sobrenaturais da natureza as representações de Deus. Apreciar cenários naturais é uma das minhas formas de reverenciar o sagrado. Fotografá-los e compartilhar as fotos é como uma comunhão do divino com os parceiros nessa caminhada de vida. O sagrado é o espaço de amizade – e postura de silenciosa veneração – para com a vida... E para consigo mesmo! A proposta deste artigo é trazer, ao nosso leitor, uma possibilidade de pensar o sagrado através de fotos da natureza (que venho fazendo em perambulações pelo mundo) e de poemas de Manoel de Barros.
Monument Valley, Utah. EUA
O mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores. [...] Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos. 34