supremo tribunal de justiça
Opiniões
etanol e
sustentabilidade Ethanol and Sustainability
" enquanto o Pré-Sal e as termelétricas representam uma aposta na matriz do passado, o etanol é a alternativa do futuro, cujo limite será apenas a nossa ambição e inteligência em dele fazer um combustível sinônimo de sustentabilidade " Antonio Herman Benjamin Ministro do Superior Tribunal de Justiça e corredator de várias leis ambientais do Brasil Minister of the Superior Court of Justice and co-author of several environmental laws in Brazil
O etanol brasileiro é hoje objeto de debate em todo o mundo. Dos principais jornais e canais de televisão às cúpulas de chefes de Estado, dos encontros periódicos da FAO e do Pnuma às discussões áridas de cientistas do clima e às reuniões ruidosas de ONGs ambientais e de militantes dos direitos humanos, das planilhas de representantes do agronegócio e investidores internacionais às projeções dos especialistas em energia e biotecnologia — ninguém está imune a essa questão estratégica dos nossos tempos. Dois riscos antagônicos ameaçam o etanol brasileiro. De um lado, aquilo que poderíamos chamar de visão edênica, ou seja, a ideia de que o etanol é autoexplicativo, que representa a salvação da humanidade, uma atividade econômica repleta de benefícios e destituída de problemas. Do outro, a visão demoníaca, que só vê malefícios no etanol, entre os quais se incluem a destruição das nossas florestas, a poluição do ar e a matança indiscriminada da fauna silvestre pela queima da palha da cana, a contaminação do solo e recursos hídricos com agrotóxicos, a utilização de trabalho infantil e escravo, a perversão da paisagem e da biodiversidade agrícola por conta da monocultura, a radicalização da fome mundial pela conversão de terras para a produção de energia em vez de alimentos. Acredito que nosso etanol tem plenas condições de enfrentar e superar essas duas visões radicais. Superar de maneira sincera, não com medidas retóricas ou paliativas. Com tanto em jogo, em termos de uma matriz energética mais limpa e de geração de empregos e divisas, o primeiro passo é a renovação das lideranças e de seu modo de pensar. A transição não será fácil, mas já começou. Entidades empresariais, como a Unica, que, no passado, enxergavam no meio ambiente um entrave ao setor sucroalcooleiro, hoje percebem, pela voz respeitada de novos líderes, como Marcos Sawaya Jank, que a questão ambiental é, ao contrário do que se imaginava, instrumento de fortalecimento de mercado e de diferenciação do etanol. Há aqui espaço para uma frutífera aliança, pois, enquanto importa ao ambientalismo encontrar al-
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Brazilian ethanol today is the object of debate around the world. From major newspapers and TV channels to summit meetings of heads of State, from periodic meetings at FAO and UNEP to arid discussions of climate scientists and noisy meetings of environmental NGOs as well as human rights militants, from spreadsheets of agribusiness representatives and international investors to projections of specialists in energy and biotechnology – nobody is immune to this strategic issue of our time. Two antagonist risks threaten Brazilian ethanol. On the one hand, is what one might call the edenic vision, i.e., the notion that ethanol is self-explanatory, representing the salvation of mankind, and that it is an economic activity rich in advantages and destitute of problems. On the other hand, the demonic vision, which sees only malefaction in ethanol, including the destruction of our forests, polluting of air and the indiscriminate slaughter of wildlife through the incineration of sugarcane straw, the contamination of soil and water resources with agrotoxic substances, the utilization of child and slave labor, perversion of the landscape and of biodiversity due to monocultural agriculture, and the radicalization of hunger around the world, through the transformation of land for the production of energy rather than food. I believe our ethanol can fully overcome both these radical views. Overcome them in an honest way, not with rhetoric or palliative measures. With so much at stake, in terms of a cleaner energy matrix and the generation of jobs and foreign currency, the first step is the renewal of leadership and in the way leaders think. The transition will not be easy, but it has begun. Entrepreneurial entities, such as UNICA, that in the past saw the environment as a hindrance for the sugar and alcohol industry, nowadays perceive, voiced by respected new leaders such as Marcos Sawaya Jank, that the environmental question is, unlike what used to be the way of thinking, an instrument to strengthen the market and to differentiate ethanol. There is room here for a fruitful alliance, because, while what is important