Moda sem molde
edição nº 001 novembro 2021 r$ 54,50
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SOMOS
Stéfani
Carol
Marina
A diferenciação de gênero sempre existiu estabelecendo o que é das mulheres e o que é dos homens. As mulheres precisam ser delicadas e frágeis, enquanto os homens são os fortes protetores. Isso inclui desde brinquedos, lugares frequentados, atividades que cada um pode realizar e as roupas que usam. Mas este pensamento da sociedade como um todo vem mudando nos últimos anos, fazendo com que esta conversa seja cada vez mais debatida e aprofundada, encontrando maneiras para se quebrar esses estereótipos. A moda é expressão, é a liberdade de vestir a roupa que quiser sem ser julgado por isso, de entrar em uma loja e achar algo que queira no seu tamanho, é ser livre para viver da sua maneira independentemente de gênero e orientação sexual. A SOU existe para inspirar o que há de melhor em cada um de nós, encorajando a todos a manifestarem sua subjetividade em seu estilo e personalidade de modo único e ousado. Aqui os leitores têm a possibilidade de aparecerem na revista mostrando seu estilo e individualidade ao nos marcar em posts das redes sociais. Nesta edição a revista busca mostrar tudo em que acredita através de suas páginas, com conteúdos voltados para aqueles que se interessam por moda, estilo de vida, cuidados entre outros conteúdos. Sem distinguir ninguém. A SOU traz editoriais de moda e beleza que expressam a libertação dos moldes e textos que discutem sobre o lugar da moda na vida das pessoas e para onde ela está caminhando, traz também entrevistas com personalidades influentes nesse meio como o ator Billy Porter. Desejamos uma boa leitura a todos!
ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Graduação em Design Turma DSG 3 2021/2 PROJETO III: Marise De Chirico PRODUÇÃO GRÁFICA: Mara Martha Roberto MARKETING ESTRATÉGICO: Neusa Santos FINANÇAS: Alexandre Ripamonti COR E PERCEPÇÃO VISUAL: Paula Csillag ERGONOMIA: Matheus Pássaro e Auresnede Stephan CONSULTORIA LOGO: Marcos Mello PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Carol Lindenberg Marina Tiemi Stéfani Pereira
Colaboradores
Vivian Whiteman Jarid Arraes
Nascida em Juazeiro do Norte, na região do Cariri (CE), em 12 de fevereiro de 1991, é escritora, cordelista, poeta e autora do premiado “Redemoinho em dia quente”.
Jornalista há 20 anos. Foi editora de moda e colunista da Folha de S. Paulo, editora sênior de moda da revista Elle e ministra cursos em instituições como Faculdade Cásper Líbero, ESPM e IED.
Clariana Leal
Samantha Mash
Cresceu em Palo Alto, Califórnia, atualmente trabalha como ilustradora freelance em tempo integral. Ela frequentemente explora conceitos de vulnerabilidade, identidade, ansiedade, repressão e liberdade em sua prática pessoal.
É sócia-criadora da Climaxxx, primeira erotic store 100% focada no prazer da mulher e também atua como educadora sexual, trazendo um olhar sensível e cuidadoso sobre a sexualidade feminina.
Kyle Springate
Kyle Springate é um fotógrafo de moda freelance sul-africano baseado em Londres, com bacharelado em fotografia.
OUÇO
8. NAS REDES 10. UMA BREVE HISTÓRIA DA MODA ANDRÓGENA 18. COLUNA 20. SOU ATUAL O surgimentos de novos “playgrounds fashion”
FAço
26. SOU CONEXÃO Gigi Goode fala sobre sua identidade gênero fluido
30. COLUNA 32. COM QUE ROUPA EU VOU?
Visto
40. SOU TENDÊNCIAS
Estamos prontos para o luxo pós-covid?
46. FORA DA JAULA 54. SE TORNANDO BILLY PORTER
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USO 60. SOU COR
Porque marcas de beleza sem gênero estão aqui para ficar
66. ESTRELA 76. SOU ENCANTO Cuidado de beleza para todos
80. COLUNA
FALO 84. MÚSICA A banda italiana Maneskin e o estilo fluido
88. SOU CUIDADO Psicóloga Daniele Nazari explica o burnout
92. FICA LIGADO
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SOU NAS REDES
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@lucasantosph
@twolostkids
“Só pra relembrar: moda não tem gênero. If you like it you wear it”. #looksdolucax #modasemgenero
“Tod@s!”
@matheuspasquarelli
@maisdeumlobo
“Toda forma livre para amar, viver, ser quem você é. Medos, prisões internas, foram tantos processos e hoje estou aqui, acredite em você sempre.” #PasquarelliDoRole #LGBTQIA
“lustrações que fiz pra @ambev de um concurso. Os rostinhos são da Shanteka Sigers, Cris Naumovs @ crisnaumovs, Marcos Medeiros @marcaomedeiros, Paola Biere e Jenna Young”
Poste sua foto nas redes sociais com a hashtag #SOUnasredes para aparecer na próxima edição!
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UMA BREVE HISTÓRIA DA MODA ANDRÓGENA Roupas de genero neutro estão de volta à Vogue, mas ainda assim influenciou em diversas maneiras muitas mudanças ao longo do século 20 por
KIMBERLY CHRISMAN-CAMPBELL
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Segunda Guerra Mundial. O termo "gênero" começou a ser usado para descrever os aspectos sociais e culturais do sexo biológico na década de 1950 - um reconhecimento tácito de que o sexo e o gênero de uma pessoa podem não corresponder . As roupas unissex dos anos 1960 e 70 aspiravam “a confundir ou cruzar as linhas de gênero”; em última análise, no entanto, entregou "uniformidade com uma inclinação masculina" e o breve flerte da moda
Motoguo
m seu novo livro “Sex and Unisex: Fashion, Feminism, and the Sexual Revolution,” Jo Paoletti revisita a tendência unissex, um pilar do feminismo de segunda onda cuja influência ainda aparece até hoje. Como conta Paoletti, as roupas unissex foram um corretivo baby-boomer para os rígidos estereótipos de gênero dos anos 1950, em si uma reação aos novos papéis desconcertantes impostos a homens e mulheres pela
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com a neutralidade de gênero levou a uma "chicotada estilística" de roupas de gênero mais obviamente para mulheres e crianças a partir da década de 1980. As crianças carregavam o peso da mania unissex: calças para meninas, cabelo comprido para meninos e ponchos para todos. “Os baby boomers e os da Geração X tendem a ter memórias muito diferentes da era unissex”, observa Paoletti, seu livro permite que os leitores
gênero” da década de 1970 levou a neutralidade para um novo nível; livros infantis, programas e filmes de TV faziam questão de mostrar meninos brincando com bonecas e mulheres brincando com carros. Foi apenas na década de 1980 que as lições de autoatualizavto Be ... You and Me” sucumbimos ao Complexo Industrial da Princesa, uma tendência que agora está começando a se corrigir. Embora as roupas unissex procurassem diminuir as diferenças de gênero, geralmente tinham o efeito oposto. Como escreve Paoletti, “parte do apelo da moda unissex adulta era o contraste sexy entre quem a usava e as roupas, que na verdade chamavam a atenção para
o corpo masculino ou feminino”. Considere o estilista de roupas Rudi Gernreich - inventor do monokini e da tanga unissex - criado para a série de televisão Space: 1999-77. Gernreich imaginou o 1999 como uma utopia de gênero neutro de macacões, gola alta e túnicas. Embora tecnicamente unissex, esses trajes justos tornaram o sexo das pessoas extremamente óbvio e continuaram com os marcadores de gênero tradicionais, como sutiãs, maquiagem e joias para mulheres. Assim, a novidade de trajes “dele e dela” combinando e futurismo para todos em macacões rapidamente desapareceu em decorrencia da androginia mais sexy (que Paoletti define como roupas que combinam elementos masculinos e femininos, em vez de evitar marcadores de gênero completamente). Em 1966, Yves Sainwt Laurent lançou le smoking, um smoking para mulheres; nos anos seguintes, ele reinterpretaria a silhueta masculina em listras de gângster e safari
Motoguo
admirem as intenções progressivas por trás da tendência enquanto se encolhem com o resultado. Embora os pais temessem que impor estereótipos de gênero rígidos pudesse ser prejudicial para as crianças medos alimentados por evidências científicas emergentes de que os papéis de gênero foram aprendidos e maleáveis e m uma idade jovem - o constrangimento de ser confundido com um membro do sexo oposto deixou cicatrizes psicológicas duradouras em muitos de sua prole. Crianças pequenas usavam roupas de gênero neutro (e brincavam com brinquedos de gênero neutro) por décadas antes que “unissex” se tornasse uma palavra da moda, mas a criação agressiva de crianças “sem
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Motoguo
Embora roupas unissex visassem minimizar as diferenças de gênero, tinham o efeito oposto
cáqui. Halston fez seu nome com o onipresente vestido de camisa Ultrasuede - um toque moderno e feminino em uma camisa masculina. Como ilustra a atual exposição do FIT Museum, Yves Saint Laurent e Halston: Fashioning the Seventies, os designers não estavam apenas vestindo roupas masculinas; eles os vestiam como eles próprios, em peças clássicas que refletiam seus próprios guarda-roupas sutilmente andróginos. O catálogo da exposi-
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ção argumenta que “estilo elegante e funcional” associado ao jet set internacional era igualmente atraente para as mulheres jovens que trabalhavam: não só calças, mas casacos, camisas sociais e blazers se tornaram itens básicos do guarda-roupa feminino. E, os homens por sua vez também experimentaram a androginia. Excepcionalmente, os designers de moda direcionada a mulheres (incluindo Pierre Cardin e Bill Blass)
começaram a produzir linhas de moda masculina; a jaqueta Nehru com gola mandarim e botões (o nome ocidental para a tradicional vestimenta indiana, em homenagem ao primeiro primeiro-ministro da Índia) era uma assinatura de Cardin. Junto com túnicas, coletes, casacos esportivos e peles, a jaqueta Nehru oferecia aos homens uma alternativa ao proverbial terno de flanela cinza; Coleiras, ascotes, gola alta e cachecóis de Nehru tornaram
Motoguo
as gravatas obsoletas, pelo menos temporariamente. Hoje, as mulheres ainda usam calças para ir ao escritório, mas os homens voltaram a usar ternos e gravatas. Paoletti traça o fim da era unissex em meados da década de 1970. Em 1974, a Diane von Furstenberg apresentou seu vestido wrap, uma peça que combinava feminilidade e funcionalidade. Com seu comprimento recatado, saia com fenda e profundo decote em V, era simultaneamente modesto e sexy; poderia ir do escritório para a discoteca. O vestido envolvente afastou as mulheres dos terninhos, fazendo com que von Furstenberg aparecesse na capa da Newsweek em 1976 com o título “Rags & Riches”. Desde a década de 1990, no entanto, a moda está borrando as linhas de gênero mais uma vez. Uma história recente da New York Magazine traçou a androginia moderna até o grunge: as mulheres vestiam camisas de lenhador de flanela e
botas de combate, enquanto Kurt Cobain posava em vestidos de baile e vestidos caseiros. Ao mesmo tempo, a moda para casais sósias apareceu pela primeira vez na Coreia do Sul. Esta versão moderna de roupas “dele e dela” pegou poderosamente em um país onde as demonstrações públicas de afeto (físico) são desaprovadas. Casais coreanos são andróginos por necessidade, usando um jeans skinny, tênis, suéteres e moletons; roupas unissex são muito mais acessíveis e socialmente aceitáveis hoje do que eram na década de 1960. Mas essa coordenação cuidadosa não é apenas um show externo; praticantes de hardcore combinam com suas roupas íntimas. Assim, a publicidade definitiva do relacionamento se tornou a intimidade definitiva do relacionamento, e a roupa íntima unissex agora é uma coisa.
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COLUNA
AGORA TODOS SÃO INFLUENCERS? Há dias em que me sinto exaurida. Quero postar um poema sem pensar em engajamento, algoritmos, compartilhamentos. Só literatura. Meu trabalho, minha arte. Que não é ser “influencer” por:
JARID ARRAES
ilustração:
SAMANTHA MASH
Encaro a tela do celular enquanto sinto meus olhos secarem. Eu não sei o que fazer. Não tenho fotos novas, esgotei o estoque de momentos fofos dos meus pets, acho tudo desinteressante, não tenho nada para compartilhar. Mas tenho que compartilhar. Postar, promover, esperar engajamento. Quando foi que virei “influenciadora”? Como escritora, preciso das redes sociais para divulgar meus livros, eventos e outros trabalhos literários. Foi assim desde o começo, quando eu ainda era uma autora independente e dependia somente de mim para vender um livro por vez usando as redes sociais como plataforma. Foi graças à minha habilidade com as redes sociais que consegui fazer esgotar um livro de estreia que nunca esteve em qualquer tipo de livraria ou loja. Sozinha, eu lutava bravamente para registrar pagamentos, fazer envios pelos correios e manter as redes sociais ativas, sempre alternando entre pedaços de mim e a divulgação literária. Alguns bons anos depois, me vejo na mesma situação. Não importa se estou numa das maiores editoras do país e meus livros estão em muitas livrarias, eu ainda tenho que divulgá-los, fazer fotos bonitas com suas capas em evidência, compartilhar trechos que as pessoas possam achar interessantes. Muito mudou e pouco mudou. Eu preciso ter presença online.
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Há dias em que me sinto exaurida. Eu quero postar os livros que leio no tempo que leio, às vezes deixando que descansem na cabeceira da cama, sem prazo para terminar. Sempre a pressa da produção de conteúdo. Eu quero postar um poema sem pensar em engajamento, algoritmos, compartilhamentos. Só literatura. Meu trabalho, minha arte. Que não é ser “influencer”. Reconheço que muitas pessoas esperam de mim um certo tipo de ação influenciadora. Querem saber o que estou lendo porque confiam nas minhas indicações; querem ver o que estou comendo, porque se interessam pelos gostos de quem elas gostam; querem saber como é a rotina de quem escreve (spoiler: é um porre) e querem se sentir próximas. Eu também quero me sentir mais próxima das pessoas que leio, gosto e admiro. Eu também espero que elas me mostrem um retrato bem enquadrado de suas vidas. Ultimamente muitas das minhas amigas, escritoras ou não, estão reclamando das redes sociais. Para elas também a coisa toda se parece com funções acumu-
ladas. Quem inventou que psicólogo precisa produzir conteúdo pra rede social? Quando foi que o trabalho de criar arte virou também o de criar um feed estimulante, cheio de vídeos fazendo dancinhas e apontando para palavras flutuando na tela? Nada contra dancinhas, tenho amigas que dançam. Mas eu não quero. E as redes me punem por não querer e não fazer, limitando o alcance do que mais me importa que chegue até outros dispositivos. Meus livros, os contos publicados em antologias, essa coluna que você está lendo agora. Porque não entro nas novas tendências métricas calculadas automaticamente manipuladas das redes, sou punida por elas. Parece que estou num relacionamento abusivo com meu Instagram? Parece que assinei um contrato sem ler e agora estou encarando as consequências. E por mais que eu ame estar em contato com quem me lê – eu realmente amo a aproximação com os leitores – eu também preciso fazer as coisas com paciência. Divulgar livros que li, com paciência. Indicar
obras listadas, com muita paciência. Quero ter uma presença online que reflete aquilo que desejo para minha vida, não o que o contexto atual demanda de todos os profissionais, especialmente os liberais. Eu não sei ser “influencer”, eu só sei ser escritora. Adianta bem pouco escrever um texto como este se não mudamos a nossa percepção e aceitação desse fenômeno. Nós somos parte de uma trama muito maior e muito bem entrelaçada e somos consumidos pelo que consumimos. Muita gente tem “recebidos pagos” (como se em algum momento existissem os tais “recebidos gratuitos”) e “para quem perguntou onde comprei” (uma pessoa perguntou e as vezes nem isso). Um comportamento viciado que também é uma expectativa mordendo a própria cauda. Uma emulação do que é ser um influenciador, um criador de conteúdo, um profissional, e não alguém que gosta de fotos do almoço e imagens de gatos bocejando. Será que todos nós queremos ser e temos que ser influenciadores?
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20 SOU ATUAL
O SURGIMENTO DE NOVOS ‘PLAYGROUNDS FASHION’ Questionamentos sobre os espaços ocupados na moda se tornaram comuns e, com o controle da pandemia, os planos entraram em ação. por
LOUIZE LIMA
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os últimos tempos, questionamentos sobre os lugares que a moda ocupa, se tornaram comuns e, com o controle da pandemia do covi, os planos comecaram a entrar em ação. A Balenciaga, por exemplo, chamou a atenção do público com sua collab com a famosa animação The Simpsons. O jornal The New York Times conta que a colaboração começou em abril de 2020, quando Demna Gvasalia enviou ao criador do desenho, Matt Groening, um e-mail sobre como trabalhar juntos. No mundo dos games, cada vez mais os jogadores querem que seus personagens virtuais tenham uma aparência boa, mesmo que sua única missão seja
permanecer vivos. Roupas, cabelo maquiagem personalizáveis e entre outros itens no seu personagem estão se tornando facetas importantes mesmo em jogos de ação ou de terror como GTA (Grand Theft Auto), Dead by Daylight e Fortnite. Aqui no Brasil, temos como exemplo o estilista Lucas Leão, que cria fashion films com experiências novas com roupas e personagens totalmente virtuais. Há algum tempo atrás, Lucas apresentou o projeto ÍON_ na BRIFW (Brit Fashion Week), o primeiro evento de moda imersiva na América Latina, que conta com uma exposição digital de suas coleções, seus processos criativos e colaboradores.
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Matt Groening
mas não é uma tendência que vai morrer; está ficando cada vez mais popular, para os jogadores, isto é um tipo de expressão e imersão
É válido refletir que esses meios são formas de ampliar a conexão com o público, e que planos criativos de ampliação de espaços deveriam estar em alta, ainda mais com os preparativos para um possível pós-pandemia. Porém, planos como este só serão bem recebidos se acolherem a representatividade social e econômica do consumidor. Não basta inovação; para o futuro desses planos, é necessário também a inclusão e capacitação para que essa moda não permaneça elitizada, distante e criada apenas para a alta classe. “Para os jogadores isto é um tipo de expressão e imersão. Ao vestir seu personagem como você quer, iso leva a imaginação um pouco mais longe.”
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SOU CONEXÃO
Gigi Goode fala sobre identidade gênero fluido Estrela de ‘Drag Race’ fala sobre não ser típica ‘fashion queen’ e sua jornada de aceitação de identidade de gênero por:
JAMIE TABBERER
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fotografias:
MAGNUS HASTINGS
lu pode ter sido empurrade do posto de campeã pela impecável Jaida Essence Hall na temporada 12 de RuPaul’s Drag Race, mas Gigi Goode está rapidamente provando que elu é uma força a ser reconhecida no mundo do drag. Com apenas 21 anos na época das filmagens, a performer de LA provou que era muito mais do que as típicas rainhas da moda - juntou-se a um grupo de elite de rainhas com quatro vitórias em desafios ao longo da série. Enquanto elu se posicionava firmemente entre uma nova geração de rainhas se livrando dos grilhões da tradição drag, Gigi também ganhou legiões de fãs
depois de falar sobre sua identidade de gênero. “Às vezes me identifico como mais masculino e às vezes me identifico como mais feminino. Acho que sou os dois ... e não sou nenhum dos dois”, revelou Gigi, cujo nome verdadeiro é Sam Geggie, durante o episódio do Snatch Game. “Não tenho muitas lembranças de infância, mas, de acordo com minha mãe, tenho consciência da minha identidade de gênero desde os três ou quatro anos. “Ela me disse que um dia estávamos no carro cantando nosso go-to, ‘Leaving on a Jet Plane’, quando ela me ouviu interromper e perguntar ‘Por que Deus me fez um menino? Eu deveria ser uma menina!’
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SOU CONEXÃO
Recebo mensagens diárias de fãs sobre minha identidade de gênero e fluidez, e é muito louco ver o impacto que essa conversa teve
ninguém, mas para apenas elas mesmas tem sido muito gratificante. “Mas o que é mais incrível é que minha mãe tem sido capaz de ajudar tantas crianças, assim como os pais. Isso é tudo que eu realmente poderia pedir.” Gigi acrescenta que espera que as conversas sobre gênero e raça continuem a dominar o discurso em “Desnecessário dizer que isso plantou a semente da torno do Orgulho este ano. suspeita de que eu poderia não ser como seus outros “Para mim, o Orgulho é uma celebração da alegria e meninos...” da liberdade que vem de viver assumidamente como Como uma das poucas Rainhas da Drag Race a se uma pessoa queer”, explica elu. apresentar como fluido de gênero, Gigi ajudou a ins“Eu me considero indescritivelmente sortude por pirar inúmeros fãs que também estão descobrindo ter esse tipo de liberdade - uma libertação que não que os binários tradicionais de gênero não refletem existiria se não fosse pelos esforços de ativistas trans e seu senso de identidade. queer como Marsha P. Johnson, Sylvia Rivera e a Srta. “Recebo mensagens diárias de fãs sobre identidade Major Griffin-Gracy. de gênero e fluidez, e é muito louco ver o impacto que “Eu gostaria de encorajar os membros de nossa essa conversa teve”, diz Gigi. comunidade a dedicar um tempo para pesquisar a “Ser capaz de assegurar e garantir às pessoas que história por trás de sua luta, bem como apoiar e elevar elas não estão vivendo suas próprias vidas para as vozes de artistas queer e trans e ativistas negros.”
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COLUNA
MEU ERRO Sobre séries que não se entregam e momentos de grande confusão por:
VIVIAN WHITEMAN
ilustração:
SAMANTHA MASH
“Eu sei o que você quer. É meioestúpido da sua parte mas terá o que pediu. E isso te trará tristeza, minha linda princesa”. A Pequena Sereia é um dos contos de fada mais dramáticos e cruéis, um tsunami de mutilações de vozes, rabos, pernas, cabelos e existências. A maldição de se apaixonar pela pessoa errada, de errar fatalmente, de errar sabendo da profecia do erro mortal, de aceitar facas nos pés, facas no coração, e seguir sorrindo, toda errada. Errar às vezes traz de fato muita dor e tristeza, mas nem sempre elas estão no erro em si. Às vezes estão. Às vezes é mais sobre como percebemos o que significa errar afinal. É pelo resultado que se mede? É pelo encaixe em uma proposta inicial? É pelo olhar do outro, pelo nosso? É pelo grau de satisfação obtido? “Tudo o que você faz termina em confusão”, diz Otis para a sua mãe em Sex Education, minha série preferida desde que começou. Sua mãe que fala de sexo por aí como não deveria falar “uma mãe”, sua mãe grávida aos 48 anos como os médicos e os intrometidos não recomendam, sua mãe com um namoro complexo, com a ideia de uma nova família que mal começou e periga se desmontar. Otis também ele um filho errado, com namoros errados e namoradas idem. Toda a terceira temporada é sobre o erro e como ele nos constrói enquanto tentamos da nossa própria maneira nos livrar dele. A nova diretora da escola frequentada pelos personagens pretende remodelar um colégio à base do corte de erros.
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Andar em fila, usar uniformes, não correr, não ter estilo, não falar demais, se submeter em busca da excelência, de um modelo de correção. Ela é, obviamente, a mais errada de todas as personagens e a mais apegada a um certo fim de linha, aquele resultado que justifica os meios, os 100%, a boa, o sucesso, a fechação, o dinheiro. Uma das regras é não transar nem falar sobre sexo. Porque sexo é o lugar do erro por excelência. Bom, ruim, confuso, bizarro, novo, errado, gostoso, mecânico, com ou sem tesão, mas nunca certo. Sempre um erro atrás do outro, sempre um a mais ou um a menos, sempre uma falta, um erro, um excesso, um impossível, uma confusão, nunca exatamente aquilo.
É um alívio ver uma série assim com todo mundo tão dona de mercado, uma série que entrega nada de muito certo. errado. Sim, tem encontros, esforços individuais e coletivos Esse texto ele mesmo não entrega nada de correto e conque promovem mudanças, movimento. Tem ações e con- clusivo. Não é #somostodoserradxs nem passada de pano sequências. Mas mesmo esses vêm capotando sem brecar, pra quem usa escolhas e projetos absolutamente calculados se aprumando no caminho, não se resolvem de vez nem e direcionados sob o disfarce de erro. mesmo até a próxima temporada. Um texto sem defesa, confuso, e talvez secretamente Não é uma série dessas que “entrega tudo”. Que inferno otimista. [Spoiler]. Maeve sentada no ônibus, na estrada, entregar tudo, aliás. Ela entrega personagens com dramas indo pra um lugar fora dos limites da cidade, do conforto, que não parecem saídos de um shuffle de questões e carac- do desconforto, da certeza. Erros honestos, um caminho terísticas, parece mesmo que estamos falando de pessoas. trilhado, algumas conquistas, tempo pra refletir em silêncio, Depois da obsessão com distopias “súper” conectadas só mais uma pessoa numa poltrona, indo pra algum lado em aos males da realidade e das séries edificantes, cheias de um mundo que gira no espaço. O refrão do Big Star dizendo respostas que depois viram cards de sabedoria desconstrui- “hold on”. Vambora.
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COM QUE ROUPA EU VOU? Com a redução do isolamento social, crescem a ansiedade na hora de se vestir e o medo de voltar a ser julgados pelo olhar do outro por
LEONARDO NEIVA
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Elisa Garcia De La Huerta
E, embora tenha se mudado recentemente, não chegou nem a tirar a maiorias das roupas de dentro das caixas de mudança. No período da pandemia, pintar os cabelos também não se fez mais tão necessário quanto antes e a prática de se depilar ficou mais rara — um problema ao sair num dia mais quente, sem poder botar uma calça curta. Mas contou à terapeuta que se viu obrigada a voltar a sentir o aperto do sutiã — sem o qual tem
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vivido por meses a fio. No geral, a expressão descreve esse estranhamento ao se arrumar para voltar a frequentar lugares antes habituais. O escritório, um restaurante, um parque, uma reunião familiar um pouco maior. Sensação pela qual só passa, vale dizer, quem realmente se isolou de forma mais restritiva durante a pandemia. Para Caroline, viver mais tempo longe do olhar dos outros fez com que muita notasse que várias
Elisa Garcia De La Huerta
A
costumada a ficar um boa parte do dia desse último um ano e meio de pandemia dentro de sua casa, a pesquisadora Caroline Pilger de 33 anos compartilhou com sua terapeuta uma preocupação. Durante o cotidiano doméstico, hoje quase todo ocupado pela escrita de uma tese de doutorado, seu cardápio de roupas não passa de cinco combinações. A mais frequente, ela diz, é a malha do bom e velho pijama.
Peter DeVito
mulheres me relataram uma preocupação por ter engordado e começar a sair de casa”, conta Caroline cuja tese diz da variedade de corpos femininos e da imposição de padrões de beleza
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Elisa Garcia De La Huerta
das preocupações diárias com a estética tinham mais a ver com uma pressão estética da sociedade do que vontade própria. “Aí voce começa a se perguntar e questionar por que fazia todos esses procedimentos, por que passava por essa adequação? Por que preciso ter sempre as unhas cuidadas ou estar sempre usando maquiagem? Não que não possa, mas a pandemia me trouxe esses tipos de reflexões para dentro da cabeça.”
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Esse tipo de pressão, é sentida por todos o tempo todo, mas sempre acaba sendo pior para as mulheres, constantemente cobradas para se encaixarem nos padrões. Memes e gordofobia Talvez você ainda se lembre deles ou até se depare com algum. Lá no início da pandemia, pipocaram por toda a internet memes sobre como estaríamos ao final desse período isolados. E, invariavelmente, a pre-
visão era sempre a mesma. “Eram versões diferentes do mesmo corpo magro ao lado mesmo corpo, só que aumentado de forma exagerada em lugares como o Photoshop e outros aplicativos. Ou então comparando uma pessoa magra a uma gorda, como se fosse um antes e um depois da quarentena”, diz Caroline. O olhar da família Depois de um ano em que foi impedida pela pandemia de viajar, a
o meio familiar como um espaço julgador, onde há menos inibição para falar se uma pessoa engordou ou se mudou de algum jeito, o que pode trazer inseguranças. “Dentro da família, pelo ponto de vista de antes, não de como é hoje. Ali se espera que você não mude grandes coisas, por isso qualquer mudança causa um choque”, explica Ana, que é especialista no assunto.
Elisa Garcia De La Huerta
brasileira Anelise Ribeiro, 33, que vive em Lisboa, voltou ao país natal em agosto para visitar a família, aproveitando a folga em meio ao verão da Europa. Muito ligada em moda e consumista declarada, os 4 meses de lockdown obrigatório em Portugal, seguidos de um inverno que também a manteve em casa, motivaram uma mudança forçada de hábitos novos. Para usar em casa, comprou dois moletons confortáveis. Apesar da vontade constante de sair de casa, quando as restrições a afrouxaram ela continuou usando roupas mais práticas e menos fashion mesmo fora de casa, porque não se sentia tão bem com as roupas que usava antes. Segundo Carol, em Portugal, e em quase todo o continente europeu, costuma-se prestar menos atenção nas outras pessoas, o que a permitiu que mudasse seu estilo de forma permanente. “Minha família se surpreendeu porque estou com um estilo muito menos patricinha e mais esporte. Antes nunca usava, agora só ando de tênis.” Um exemplo de reclamação que a psicologa Ana Fanganiello escuta em seu consultório tem a ver com a volta de reuniões familiares, especialmente no Natal. Ela aponta
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Estamos prontos para o luxo pós-covid? Nos desfiles de alta-costura 2021, a inclusão de gênero e positividade corporal caminharam ao lado de sonhos românticos refletindo a luta social do mundo hoje por:
JORGE GRIMBERG fotografia: STEPHANE DE SAKUTIN
A
morte da alta costura - aquelas roupas extremamente caras e extravagantes, feitas à mão para muito poucos - tem sido muitas vezes prevista. Foi prevista durante a grande recessão, no surgimento do streetwear e, graças à evolução social, estava previsto que mais e mais casas de moda começassem a sair da programação da alta-costura, incluindo Balmain e Saint Laurent. Se alguma vez houve um tempo para que a previsão se tornasse realidade, entretanto, seria agora: um momento de múltiplas crises, quando tais demonstrações de consumo conspícuo são iluminadas com os sinais de alerta de Luís XVI e o fim de uma era”, disse Vanessa Friedman do New York Times.
“A essência de coleções de alta-costura não é um vestido de $150.000 e o tapete vermelho e 300 horas de bordado. A verdadeira essência da alta-costura é um laboratório e técnicas; experimento e o corpo”, disse Alber Elbaz ao apresentar sua nova marca AZ Factory, com 11 vestidos usam tecnologia para criar malhas ergonômicas que abrangem (literalmente) todos os tipos de corpo. Para Pierpaolo Piccioli, da Valentino, e Kim Jones, estrelando na Fendi, foi o momento de levar a moda masculina para a alta-costura. Usando essa era de mudanças para literalmente causar um impacto diferente com um novo gênero no segmento.
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SOU TENDÊNCIAS Sarah Mower
A verdadeira essência da alta-costura é um laboratório e técnicas; experimento e o corpo
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AZ Factory coleção Primavera 2021
Em uma direção oposta, Virginie Viard da Chanel, imaginou uma festa de casamento no Grand Palais repleta de flores, com vestidos delicados e até mesmo uma noiva que entrou cavalgando em um cavalo branco, como se fosse encontrar o príncipe. O realismo aqui teve um “arrepio doméstico e um romantismo do passado que, para alguns, pode ser também um sonho do futuro? Na Dior, Maria Grazia Chiuri se juntou ao cineasta italiano Matteo Garrone para criar uma parábola cinematográfica baseada nas cartas de tarô. Aqui o cavalo também apareceu, mas em outro contexto com simbologia de tarô, refletindo a busca que todos vivemos enquanto navegamos em nossas vidas hoje. “De uma forma ou de outra, a semana da alta costura digital atendeu a uma fome generalizada por algo especial, de bonito a louco. Foi uma temporada dicotômica, que foi dividida entre um novo tipo de realismo, com foco em roupas de dia e roupas aparentemente normais de um lado, e roupas de fantasia expressivas do outro” disse Angelo Flaccavento da bof.
Valentino Chanel
Dior
Imagens dos desfilas da Valentino, Chanel e Dior
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SOU TENDÊNCIAS
FORA DA JAULA A moda como forma de expressão e liberdade fotografia: modelo:
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MAGDALENA HADDOCK CEZAR ACOSTA
styling:
MARIA MEZA
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54 54 SOU CONEXÃO
SE TORNANDO BILLY PORTER Billy Porter, pioneiro da moda sem gênero, ativista e performer feroz (que está a apenas uma letra de distância do status EGOT), tem muito a dizer sobre como ele chegou aqui e quão longe ele irá por:
ASHLEY C. FORD
fotografias:
BEN HASSETT
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or sua atuação como a personagem Lola no musical da Broadway Kinky Boots, Billy Porter recebeu um prêmio de melhor ator principal em um musical em 2013 e um Grammy pela trilha sonora em 2014. Desde então, ele escreveu uma peça, dirigiu outra peça e continuou a agir. Em 2019, sua vez como o personagem Pray Tell na série de drama de cultura de baile muito aclamado pela crítica, Pose, da FX, lhe rendeu
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um Emmy de melhor ator principal em uma série dramática. Logo o público pôde vê-lo atuando em um papel coadjuvante no filme Like a Boss, estrelado por Tiffany Haddish e Rose Byrne. Ele disse aos participantes do New Yorker Festival no outono passado que interpretaria a personagem fada madrinha em uma nova adaptação do filme live-action de Cinderela ao lado da cantora Camila Cabello e da atriz de musicais Idina Menzel. Aos 50,
ele parece nunca parar e não tem planos de tentar. Com toda a visibilidade de Porter hoje em dia, todos querem fotos. Paparazzi, fotógrafos de moda e até mesmo os fãs. Todo mundo quer saber o que o ator Billy Porter usou ontem e o que ele irá vestir amanhã. Quem pode nos culpar? Porter disse que queria ser uma “arte ambulante”, e cada tapete vermelho é uma oportunidade para estar à altura dessa ocasião.
“Sempre foi uma expressão para mim. Sempre quis fazer algo diferente. Eu sempre quis me expressar em minhas roupas de forma diferente. E sempre tive um bom gosto. E um gosto caro.” Ele riu para si mesmo, uma memória vinda através da névoa. “Quando eu tinha 10 anos, podia entrar em uma loja para comprar meu terno de Páscoa e escanear os ternos, e seria inevitavelmente o terno mais caro da loja o meu escolhido.” Sua família insistiu que ele tinha “gosto de champanhe com orçamento limitado para cerveja” e informou-o de que ele teria que conseguir um emprego. Um jovem Billy Porter aceitou totalmente: “Eu entendi que eles não poderiam me dar as coisas que eu queria.” Como ele entendeu então, a única coisa que poderia aproximá-lo do que ele queria era estar perto das pessoas que também já o tinham. E essas pessoas provavelmente não eram necessariamente como
ele. “Eu sou o garoto que queria ir para uma escola particular e não conseguiu porque não fui inteligente o suficiente para conseguir a bolsa integral. Eu só consegui uma parcial. Eu queria ir para uma escola particular porque é onde os brancos foram, e os brancos que tiveram sucesso. Isso é tudo que entendi. Preciso estar com os brancos porque eles têm sucesso. Preciso me alinhar com os brancos e os negros que entendem isso. E antes de tornei-me um boêmio fartsy artístico no meu estilo, por volta do último ano, eu usava gravata e blazer para ir à escola todos os dias assim fiz da escola pública minha própria escola particular.” O caminho para aprender seu valor não foi nada fácil. “A construção heteronormativo de que a masculinidade é melhor me silenciava por muitos anos. Era como se minha masculinidade fosse questionada antes mesmo que eu pudesse começar a compreender o pensamento.”
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Sempre foi uma expressão para mim. Sempre quis fazer algo diferente. Sempre quis me expressar em minhas roupas de forma diferente Billy Porter queria cantar. Ele queria ser conhecido como o “Whitney Houston masculino”, porém depois de gravar música por alguns anos, ele sentiu que havia sido rejeitado pela indústria musical devido à falta de masculinidade. “No mundo da música, falhei como outra pessoa. Não há nada pior. Não sabia o que estava fazendo. Não estava fazendo isso intencionalmente. Mas no final desta jornada realmente longa e árdua dentro do mundo da música R&B dos anos 90, acabei sem nada e não consegui fazer o que me disseram para fazer.” Porter não é uma “pessoa das redes sociais” e contratou um jovem de 29 anos para ajudá-lo a
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gerenciar seus perfis em diversas plataformas, mas de vez em quando ele ainda lê alguns dos comentários. Nem todos eles apoiam seu tipo de arte autêntica, mas ele vê esse tipo de crítica como prova de seu poder, e o poder de todos nós quando escolhemos fazer arte a partir de nós mesmos. Depois de suas fotos no tapete vermelho do Oscar de 2019 encherem as redes sociais, alguns comentaristas se referiram a ele como a causa singular da castração entre homens negros. Porter revirou os olhos e lembrou-se de sua resposta. “Eu disse assim: ‘Em primeiro lugar, se a sua masculinidade é tão fraca, ela deve ser atacada. Em segundo lugar, eu não sabia que tinha tanto
poder. Mas agora que tenho, você pode esperar que eu o usarei a cada chance que eu tenho. É um chamado, é um ministério, é intencional. Eu sei exatamente para que eu estou aqui neste mundo. E isso que é poder.’” Pode ser por isso que nosso governo permitiu que a epidemia de AIDS se propagasse desenfreadamente pelas comunidades artísticas nos anos 80 e 90. É também isso que motiva Porter a fazer arte em uma indústria que ainda parece supervalorizar tudo, exceto o artista autêntico. “Infelizmente perdemos uma geração inteira. Mas para mim, gosto de viver no presente e no positivo. E o que resta dentro de mim é o fogo para contar a história e preencher o vazio. É por isso que demorei tanto. Eu estava no final desses artistas. Eu era um jovem, apenas aprendendo com aquelas pessoas que morreram. E eu tive todo esse tempo para aproveitar “-ele segurou o polegar e o indicador por menos de meia polegada à parte - “o bocado do que aprendi e deixei-o gestar, e crescer, e crescer, e gestar e crescer, e gestar e crescer. E é a nossa vez. É hora. Faço parte da primeira geração de gays homens, sempre, que falam alto e se orgulham do mundo. As cadelas estão com medo. E deveriam estar.”
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Por que marcas de beleza sem gênero estão aqui para ficar Para ele? Para ela? Ou deveria ser apenas “para todos”? por: CASSIE STEER
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indústria da beleza não é adversa a pular em uma onda ou duas (‘lubrificante facial primer’ alguém?). Mas a tendência de marcas que abraçam inclusão e adotam uma postura de gênero neutro ou sem gênero é um movimento que estamos determinados que veio para ficar. Afinal, a ideia de adaptar produtos de beleza a um determinado gênero é relativamente nova. Já no antigo Egito (os OGs de guyliner), os homens preferiam um pouco de ruge, pó facial e esmalte de unha, um tema que se intensificou ainda mais na época elisabetana. Na verdade, não foi até o século 19, quando a noção de marketing entrou em jogo, que a esfera da beleza de repente tornou-se distinta de gênero (o rei Luís XVI desmaiaria em sua coleção de perucas). Mas por que a posse de cromossomos X ou Y ditaria o que você pode pintar em seu rosto e os cheiros pelos quais você é atraído? (Dica: não importa!). E, felizmente, a indústria da beleza está tomando nota - desde os influenciadores da beleza masculina nas campanhas
de maquiagem até as modelos trans estrelando nos anúncios de cabelo convencionais. É hora de parar de lucrar com o movimento Orgulho. “Os consumidores vêem cada vez mais o gênero como fluido e a indústria da beleza está refletindo essas mudanças de mentalidade com produtos que apresentam uma estética neutra”, disse Jessica Smith, editora Foresight no Future Laboratory. “Novas estratégias sem gênero em cuidados com a pele são construídas na premissa de que homens e mulheres têm pele quimicamente idêntica, então os produtos devem ser formulados para resultados finais, em vez de direcionados a qualquer gênero específico”, algo com que Sue Y. Nabi, fundadora da Orveda Skincare concorda ; “Hoje, homens e mulheres não procuram cuidados com a pele para o seu gênero, mas simplesmente fórmulas eficientes, mais verdes e mais limpas baseadas na eficácia e segurança, sem diferença no cheiro, embalagem ou nome, e isso ocorre simplesmente porque a eficácia não tem gênero.”
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Foto do instagram: @facedbykareem
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Mas, embora muitas marcas de fragrâncias de nicho, como Commes des Garcons, marcas modernas de cuidados com a pele como Aesop e até mesmo marcas de maquiagem como a MAC tenham silenciosamente adotado uma abordagem unissex (ou deveria ser “sem gênero”) desde o início, muitas outras marcas mais recentes, como Jecca Makeup são mais explicitamente não binários. “Por muito tempo, a beleza fluida de gênero foi sub-representada pelas empresas convencionais. No entanto, as percepções desatualizadas de beleza estão finalmente mudando ”, diz Jessica Blackler, MUA e fundadora da Jecca Makeup. Blackler começou a trabalhar na indústria de cinema e TV, principalmente em próteses, onde recebia pedidos de pessoas que estavam em transição de homem para mulher, levando-a a abrir seu próprio estúdio privado. “Os consumidores estão se tornando mais abertos e socialmente conscientes, o que significa que as marcas estão olhando para essa demanda do consumidor e se expandindo para um mercado totalmente novo e inexplorado. Comecei a trabalhar com a comunidade LGBTIQA + há alguns anos, muito antes de todo o boom de gênero e não havia praticamente nada que atendesse à comunidade - eles foram totalmente esquecidos, por isso criei minha própria marca, então é realmente interessante e revigorante de ver como isso está se tornando mais popular. ” O ethos da Jecca é fazer produtos que ofereçam soluções, como cobertura de sombra para a barba, que é uma abordagem muito mais moderna e reacionária às necessidades dos consumidores em uma época em que a mídia social impulsiona as tendências de moda e beleza.
Os consumidores estão se tornando mais abertos e socialmente conscientes Depois, há marcas como We Are Fluide, cujo ethos é oferecer um espaço de maquiagem alegre, acolhedor e aberto a todos. “Acreditamos que a maquiagem é alegre e divertida - além de poderosa e transformadora - e ninguém deve ficar de fora”, afirmam em seu site. “Ao fornecer uma plataforma e amplificar as vozes de identidades queer e expansivas de gênero e ao mostrar a beleza queer, esperamos inspirar outros a criar suas identidades em seus próprios termos, abrindo possibilidades para a autoexpressão de todos”, acrescentam. A pegada? Eles ainda não estão disponíveis fora da América do Norte, mas o Instagram é uma colagem de sonhos que qualquer pessoa pode acessar. O Fenty Beauty de Rihanna é construído com base na inclusão em todos os níveis. “Fenty Skin é minha visão da nova cultura de cuidados com a pele - eu queria criar produtos incríveis que realmente funcionassem, que fossem fáceis de usar e que todos pudessem aplicá-los”, disse Rihanna anteriormente. “Eu nunca abordo os cuidados com a pele do ponto de vista de gênero.” Tudo, desde seu marketing, anúncios e vitrines, homens, mulheres e pessoas não binárias igualmente, declarando seus pronomes de gênero. E a Gucci casualmente apresentou Harry Styles como o rosto de sua fragrância universal, Memoire, e regularmente apresenta modelos masculinos, femininos, trans e queer em suas imagens.
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ESTRELA Porque todos temos que brilhar como as estrelas fotográfo:
KYLE SPRINGATE maquiagem: ELIZBETH MARLEY COM J’ADORE modelos: KOFI, QI HAN E LIAM GARDNER
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Cuidados de beleza para todos As marcas estão tentando atrair clientes com identificação masculina nas embalagens e anúncios que não estão associados aos estereótipos tradicionais de gênero por:
HELEN CAREFOOT fotografias: IAN DOOLEY
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or muitos anos, o mundo do mercado de massa da beleza e cuidados pessoais negociou os estereótipos de gênero. Pense em lâminas descartáveis azuis grossas vs. lâminas cor-de-rosa delicadas; desodorantes verdes escuros com aroma de pinho vs. antitranspirante embalado em pastel com aroma de flores. Em alguns casos, embora os produtos não sejam muito diferentes - uma navalha é uma navalha - a embalagem torna o público-alvo claro. Mas enquanto jovens obcecadas por cuidados com a pele compartilham seu entusiasmo com seus irmãos e parceiros, um adolescente como James Charles se transforma no rosto de CoverGirl, e especialistas em beleza do YouTube mostram a outros homens como aplicar cosméticos. E embora seja muito cedo para dizer se os homens vão adotar a maquiagem como algo próximo ao fervor feminino, uma tendência é óbvia, dizem os observadores: as marcas de beleza estão se voltando para produtos mais neutros em termos de gênero apresentados em embalagens unissex.
Marcas mais novas estão entrando no portal com a fluidez de gênero já embutida em seu DNA, dizem os especialistas, usando publicidade que reflete a diversidade de raça e gênero, e embalando produtos de maneiras que evitam velhos estereótipos. “Eles são mais inclusivos e atingem mais coisas que são importantes para os consumidores mais jovens hoje, como ‘sustentável’ ou ‘sem gênero’”, disse Larissa Jensen, analista sênior de beleza da empresa de pesquisa de mercado NPD Group . “Isso é mais um movimento da perspectiva do consumidor mais jovem.” Marcas muito citadas e populares com a Geração Z (definida pelo Pew Research Center como pessoas nascidas nos anos de 1997 em diante), como Milk Makeup, Glossier e Fenty Beauty, todas apresentam diversos elencos em anúncios, interagem com seus clientes nas redes sociais, oferecem vários tons para atender diferentes peles e usam cores neutras nas embalagens como cinza, branco, rosa pálido, nude e prata. “Nosso objetivo é realmente evoluir a ideia
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Foto por: Okan you
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Produtos de cuidado com a pele da The ordinary
dominante de beleza, criando um espaço para que as pessoas se expressem autenticamente ”, disse Laura Kraber, cofundadora e executiva-chefe da We Are Fluide, uma marca de maquiagem com gênero neutro fundada em 2018. “Nossas embalagens e desenvolvimento de produtos tentaram não ser extremamente masculinos ou femininos, e descartamos essas noções”, disse Kraber, que é pai de dois adolescentes. “Se a maquiagem é alegre, transformadora e divertida, ninguém deveria ficar de fora dessa.” Os consumidores mais jovens são amplamente creditados por erodir as normas e definições de gênero, estudos sugerem que eles têm definições menos rígidas de masculinidade e identidade de gênero do que os clientes mais velhos. David Yi, fundador da Very Good Light, disse em uma publicação online de cuidados masculinos focada na Geração Z que visa “redefinir a masculinidade e os padrões de beleza masculinos”. Yi, que está escrevendo um livro sobre a história da maquiagem masculina, observa que homens ao redor
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do mundo usaram cosméticos em vários momentos da história, e que isso está mais associado à feminilidade nas culturas ocidentais. “Estamos lentamente desembaraçando isso com a Geração Z”, disse ele. “Eles sabem que a cultura americana ou ocidental não é o fim de tudo.” De acordo com o NPD Group, embora as vendas de maquiagem em geral tenham diminuído, as vendas de produtos para a pele aumentaram. Jensen disse que, para os homens, há menos barreira de entrada para os cuidados com a pele porque falta o “enfoque de gênero” que a maquiagem tradicionalmente carrega. Clare Hennigan, analista de beleza sênior da Mintel, uma empresa de pesquisa de mercado, observou um crescimento na categoria de cuidados com a pele na área masculina e observa que “em geral, estamos vendo homens cuidando mais de suas rotinas pessoais”. Uma marca pronta para tirar vantagem dessa mudança é a Ordinary, que Jensen chamou de “o mais moderno cuidado para a pele sem gênero”. Oferecendo
soros, cremes e ácidos que variam de cerca de US $ 5 a US $ 20 simples e clínicos. Seu visual unissex é intencional, “Desde a sua concepção, nunca teve a intenção de visar uma identidade de gênero específica”, escreveu Nicola Kilner, cofundador e executivo-chefe da empresa, por e-mail. “A embalagem da linha, assim como as formulações, sempre foi direta ao ponto e educativa.” Acrescenta que a marca não apresenta modelos em campanhas ou mídias sociais, mas usa seus próprios funcionários porque segundo eles “nos sentimos como uma representação de nossa base de fãs - diversificada, apaixonada por cuidados com a pele e apenas seres humanos. ”
Steve Seeley, atual presidente da Elitefill, empresa de embalagens especializada em cosméticos e cuidados com a pele, percebeu que a embalagem se tornou mais simples nos 20 anos em que trabalhou no setor de beleza. “Acho que é provavelmente o conceito da Apple de ser básico e claro com sua mensagem”, disse ele. “Acho que o que [as marcas] perceberam é simples: diga o que ele faz e deixe o produto falar por si.” De acordo com a NPD, os produtos que mais crescem são hidratantes coloridos, brilhos labiais, protetores labiais e produtos para sobrancelhas - todos itens que contribuem para uma aparência de maquiagem minimalista e despojada.
Nos sentimos como uma representação de nossa base de fãs diversificada, apaixonada por cuidados com a pele e apenas seres humanos
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COLUNA
“SEX AND THE CITY” E OS SEX TOYS Foi por meio da série que muita gente conheceu pequenas maravilhas como o rabbit e a magic wand por:
CLARIANA LEAL ilustração: SAMANTHA MASH
Já vou começar essa coluna fazendo uma confissão: eu nunca tinha assistido Sex and the City até começar a escrever aqui na SOU. Não sei muito bem o que aconteceu que me fez demorar todos esses anos para apertar o “play”, mas depois da quantidade de comparações que recebi das minhas amigas por estar escrevendo sobre um assunto tão gostoso quanto sexo. Claro, muitas das séries mais queridinhas do planeta envelheceram um pouco mal. Me faz retorcer de mal estar quando a revejo e me deparo com o tamanho da gordofobia, homofobia, machismo e outras coisas seríssimas em forma de piada. Sabemos que muitas falas “engraçadinhas” existentes nessas séries não estariam mais presentes se fossem escritas hoje, e que bom. Sinal de evolução, não é mesmo? Mas agora focando nas partes boas, e que consequente fazem parte desse sucesso todo, é inegável ver como muitos temas importantes foram tratados de maneiras icônicas e inovadoras para a época. Ver ali naquela tela quatro mulheres tomando as rédeas da sua própria narrativa sexual (todas dentro de um recorte totalmente privilegiado, importante frisar), certamente foi empoderador pra muitas que se viram representadas nessa jornada. Assistindo a série, consegui perceber dois momentos que foram cruciais para mudar de uma vez por todas o rumo dos vibradores e a nossa forma de se relacionar com eles:
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O RABBIT Temporada 1, episódio 9, The Turtle and The Hare Foi nesse episódio que o mundo dos sex toys se abriu, diante da descoberta de um vibrador que era colorido, divertido e que estimulava o clitóris e o ponto G ao mesmo tempo. Todas se rendem ao encanto do Rabbit, principalmente Charlotte, que resolve não sair de casa por nada, só pra curtir melhor a companhia do seu novo amor. Mesmo tendo sido inventado 15 anos antes pela marca Vibratex, foi nesse exato momento nas mãos de Carrie, que o Rabbit se tornou famosíssimo e um dos itens mais procurados entre as mulheres. Logo após, várias marcas de vibradores começaram a produzir modelos similares ao Jack Rabbit da série e milhões de unidades foram vendidas entre os EUA e Reino Unido, tudo em apenas 12 meses após o episódio ter ido ao ar. Até hoje ele permanece no seu posto de best-seller, mesmo já tendo passado por várias reformulações de design.
A MAGIC WAND Temporada 4, episódio 8, My Motherboard, My Self Temporada 5, episódio 6, Critical Condition A magic wand é, sem sombra de dúvidas, o meu vibrador preferido nesse mundo, e isso eu não escondo de ninguém. A história dele começou em 1968 que a empresa japonesa de eletrônicos Hitachi registrou a marca magic wand como seu novo massageador muscular. Nos anos 70, algumas mulheres tiveram a oportunidade de garantir o seu Hitachi de maneira acessível e discreta, bastava ir a qualquer loja de eletrodomésticos e pagar pelo seu massageador, tipo quem comprava um liquidificador. Betty Dodson iniciou workshops focados no prazer feminino e na busca pela autonomia desse orgasmo ainda tão marginalizado. E a Magic Wand se tornou a sua principal aliada. Em 2001, foi sua vez de brilhar em Sex and the City. Sua aparição na 4ª temporada causou grandes impactos. A cena, onde Samantha pega sua wand e busca seu orgasmo, se tornou tão icônica que até hoje a vemos.
Já na 5ª temporada, a Samantha vai até uma loja convencional e o atendente se sente ultrajado com o nome vibrador, enfatizando que aquilo “é um massageador de pescoço”. Eu fico encantada toda vez que vejo esse diálogo, e toda naturalidade de Samantha em saber que ninguém comprava aquele objeto para apenas massagear o pescoço, a conversa se estende para outras mulheres que também estão de olho nesses aparelhos vibrantes, e a personagem usa seus conhecimentos para ajudá-las. E booom! Mais uma explosão de vendas no mercado mundial. Botar em foco objetos de prazer de uma maneira divertida e natural é admirável, ainda mais com um grande público em vista. Seja com um rabbit, uma magic wand, ou o que quer que vibre, muitas pessoas puderam ter seu primeiro acesso a essas potências só por causa da aparição delas na série, é inegável que isso reverbera até hoje. Muita coisa mudou (pra melhor, ainda bem), mas não podemos esquecer de quem começou esses processos lá atrás.
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A BANDA ITALIANA MANESKIN E O ESTILO FLUIDO O fenômeno da banda de rock italiana Maneskin está desfrutando de fama global, impulsionado por sua vitória no concurso Eurovision deste ano por:
PAOLO SANTALICIA
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Foto: Retirada do Google
á vários anos eram quatro adolescentes tocando nas praças de Roma. Hoje em dia, os membros da banda de rock Maneskin estão adorando depois de triunfar no Eurovision Song Contest, sempre subindo nas paradas de sucesso do Spotify. Com seus trajes andrógenos, e o que seu vocalista chama de “raiva catártica”, eles dizem à Associated Press que estão tendo uma explosão de estereótipos obscuros.
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Fazendo uma pequena pausa em suas rotinas artísticas, os membros do Maneskin sentaram-se ainda em um sofá em um hotel de Roma na noite de terça-feira por meia hora para refletir sobre como planejam usar sua fama recém-descoberta. “Nos sentimos livres para usar o que nos faz sentir bem e também estamos tentando enviar uma mensagem sobre como confundir todos esses tipos de estereótipos, entre normas de gênero e outras
coisas”, disse a baixista Victoria De Angelis. O que quer que eles façam - desafiando categorias legais no processo - os ouvintes adoram. No dia da entrevista, “Beggin ‘” de Maneskin estava em primeiro lugar na parada global do Spotify, com mais de 6,8 milhões de streams. O número vencedor do Eurovision, “Zitti e Buoni” (italiano para “cale a boca e se comporte “) classificou -se também em 77º, com cerca de 1,1 milhão de streams.
Foto: Retirada do Google
A Itália, que é mais conhecida por exportar vinho, queijo, Ferraris e roupas de grife, e não bandas de rock, “I Wanna Be Your Slave” de Maneskin estava recebendo quase 300.000 streams. Quando começaram, De Angelis, agora com 21; o vocalista Damiano David, agora com 22 anos; o guitarrista Thomas Raggi e o baterista Ethan Torchio, ambos com 20 anos, não foi fácil ser uma banda de rock em Roma. “Digamos que,do ponto de vista da situação das bandas, especialmente das emergentes, não seja muito fácil”, disse De Angelis, que alternou perfeitamente entre inglês e italiano. Ela se lembrou de como eles acharam difícil encontrar lugares e eventos onde pudessem se apresentar. Então eles começaram a brincar na rua. David disse que o problema é maior para bandas, “enquanto para artistas individuais, principalmente no setor de música indie e hip-hop,
em Roma muitos novos artistas estão crescendo”. Um pouco antes, os membros de Maneskin estavam tranquilos, mas claramente satisfeitos quando a prefeita Virginia Raggi (sem parentesco com o guitarrista) deu em sua homenagem minúsculas réplicas de Lupa, a loba mãe adotiva que é um símbolo de Roma, um prêmio apropriado para bandas que misturam gêneros. Questionado sobre suas letras que são frequentemente raivosas, David disse que sua insatisfação com a dificuldade das bandas de rock nativas na Itália alimentou sua determinação de ter sucesso. “Nunca concordamos com essa forma de ver as coisas. Isso nos deu a força e a raiva catártica para mudar esse tipo de situação ”. Além de sua própria evolução, os roqueiros de Maneskin também refletiram sobre os avanços da sociedade italiana, que se dá de uma forma lenta.
O debate político tem sido travado sobre um projeto de lei paralisado no Senado italiano para expandir a proteção contra crimes de ódio para aqueles que são alvos de racismo e anti-semitismo para incluir homofobia e transfobia. Os líderes de direita querem que as disposições sobre identidade de gênero sejam removidas do projeto de lei. Com seu uso generoso de delineador, unhas pintadas, trajes que desafiam os estereótipos de gênero e vídeos que apresentam interações homem/mulher e homem/homem, os artistas constantemente colocam identidades de gênero em jogo. Suas letras quase sempre abrangem uma gama de possíveis identidades e papéis. “Eu quero ser um campeão / Eu quero ser um perdedor”, canta David em “I Wanna Be Your Slave”. Antigamente, disse De Angelis, “você simplesmente crescia ouvindo quem você é e quem deveria ser. E você nem mesmo consegue
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entrar em contato consigo mesmo e entender quem você realmente é ou quem você gosta. “Mas agora, ela se aventurou e as pessoas estão ficando cada vez um pouco mais mente aberta”. Com essas palavras, David se inclinou para frente e manteve dois dedos juntos para sinalizar que a abertura da mente na Itália ainda tem uma distância substancial a percorrer em direção à igualdade para pessoas transgêneros e gays. Disse De Angelis: “Acho muito vergonhoso que ainda não exista uma lei que proteja toda uma categoria LGBTQIAP+ que é extremamente discriminada diariamente” A banda está ansiosa para embarcar em uma turnê internacional
Na Itália ainda tem uma distância substancial a percorrer em direção à igualdade para pessoas transgêneros e gays
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após muitos banimentos em grandes eventos durante a pandemia por conta do COVID-19 e espera capitalizar seu momento após o Eurovision como sendo o centro das atenções. “Depois que ganhamos o Eurovision, tivemos uma grande quantidade de novas oportunidades, é claro, de nos relacionarmos com esse público internacional, e estamos muito felizes com isso porque é o que sempre sonhamos”, disse David. “Então é como um sonho se tornando realidade.” Os organizadores anunciaram as aparições do Maneskin em Lokeran na Bélgica; Praga; Gydnia na Polônia; e Schijndel na Holanda. O evento na Holanda os levará de
Foto: Retirada do Google
volta ao país onde conquistaram sua vitória no Eurovision. Até subirem ao palco, a banda vai praticar pelo menos cinco horas por dia, tanto em conjunto como individualmente, “É importante estudar o seu instrumento e ser o mais expressivo, mais confortável com o seu instrumento”, disse Raggi sério. Ainda assim, disse De Angelis: “Nós realmente mal podemos esperar para voltar ao palco e, finalmente, conhecer todos os nossos novos fãs ao redor do mundo”.
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Psicóloga Daniele Nazari explica o burnout Psicóloga Daniele Nazari, que faz parte da rede de profissionais do Zenklub, uma plataforma focada em desenvolvimento pessoal e bem-estar emocional com atendimentos online por: CASSIE STEER fotografias: SIDNEY SIMS
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evido ao grande número de perguntas e mensagens que recebemos, pedimos à Daniele, para esclarecer alguns pontos sobre os assuntos conversados, todos relacionados a burnout no ambiente de trabalho. Você pode definir o que é burnout? Quanto tempo dura e como é o tratamento? Muitas pessoas não sabem o que é. Burnout caracteriza-se pela falta absoluta de energia e de desmotivação provocada por condições físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A principal causa da doença é o excesso de trabalho e pressão
do ambiente profissional, ou qualquer atividade que tenha um domínio excessivo na vida do indivíduo. O que percebemos de sintomas físicos mais comuns: dores de cabeça constante, dores no corpo, alergias na pele, problemas gastrointestinais, falta de ar, distúrbio de sono, perda da libido, falta de energia, perda de atividade física. Alguns sintomas psicológicos que geralmente são os motivos que fazem as pessoas buscarem atendimento no consultório: ansiedade, depressão, mudanças bruscas de humor, insegurança, medo de perder o trabalho, sensação de não ser bom o suficiente, lapsos de memória e baixa autoestima.
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SOU CUIDADO O burnout não tem um tempo exato de duração e nem tempo para tratamento, vai depender dos ajustes que serão necessários na vida da pessoa, quais tratamentos de saúde física e emocional serão necessários, e principalmente, como resolver o contexto que provocou este adoecimento. Como conseguimos diferenciar a crise de ansiedade com um episódio de burnout? As crises de ansiedade podem ocorrer dentro de um burnout, mas não o contrário. O burnout seria o adoecimento provocado pelo contexto do indivíduo em que as crises de ansiedade podem aparecer como sintoma. Com as transformações no ambiente de trabalho, atualmente existe uma linha fina que separa um feedback negativo de uma bronca, mas ainda assim às vezes os dois se confundem, abrindo espaço para as questões de assédio moral. Como você percebe isso? Entendemos que um feedback negativo está relacionado com as atividades desempenhadas no trabalho. Já dar bronca ou humilhar são termos que caracterizam uma conotação pessoal, o que começa a entrar num ponto super delicado em que já podem ter termos legais envolvidos. Os jovens de hoje em dia caracterizam uma geração mais dispersa, com dificuldades de concentração? Acha que é uma geração que não está acostumada sofrer pressão? Percebemos que é uma geração muito acelerada, há uma cobrança de desenvolvimento muito forte im-
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pregnada na sociedade, e isso faz com que as pessoas sintam que estão atrasadas para as suas realizações profissionais, mesmo sendo jovens. Com isso, também se cria uma geração que busca resoluções rápidas e a sensação de prazer imediata conforme a ação acontece. Há uma energia muito forte dos jovens pela busca de liberdade e qualidade de vida, mas dentro desse contexto há sempre desafios e uma série de esforços pessoais para alcançar o que almejam. Com isso, o nível de frustração pessoal dessa geração também se torna muito alto, essa fragilidade de dois extremos provoca um adoecimento severo, por não suportarem essas oscilações que o mercado de trabalho e as relações profissionais podem provocar.
O burnout seria o adoecimento provocado pelo contexto do indivíduo em que as crises de ansiedade podem aparecer como sintoma
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FICA LIGADO
Séries
Sex Education distribuição: Netflix gênero: Comédia erótica diretor:
Laurie Nunn
elenco: Asa Butterfield, Gillian
Anderson, Ncuti Gatwa, Emma Mackey Otis tem resposta para todas as questões sobre sexo, graças à sua mãe que é terapeuta sexual, apesar de ainda não ter perdido sua virgindade. Juntamente com Maeve, uma colega de turma rebelde, ele resolve montar a sua própria clínica de saúde sexual dentro da escola.
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We’re here
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Max gênero: Documentário diretor: Stephen Warren elenco: Eureka O’Hara, Shangela, Bob the Drag Queen Esta série segue três ex-participantes de RuPaul’s Drag Race, Bob the Drag Queen, Eureka O’Hara e Shangela, em jornada pelos EUA recrutando e treinando alguns dos moradores de pequenas cidades para uma performance. Em cada episódio, as famosas rainhas ajudam suas “filhas de drag” a saírem de suas zonas de conforto.
Netflix Drama diretor: Ryan Murphy elenco: Mj Rodriguez, Billy Porter, Dominique Jackson, Indya Moore Ambientada em 1987, acompanhamos a Blanca, uma participante de bailes LGBTQ que acolhe algumas pessoas marginalizadas pela sociedade, como o talentoso dançarino semteto Damon e a profissional do sexo Angel, que se apaixonou por um cliente.
distribuição: HBO
distribuição:
gênero:
Filmes
In the heights distribuição: HBO Max
Shiva Baby distribuição: MUBI
distribuição: HBO
gênero: Musical
gênero: Comédia
gênero: Musical
diretor:
diretor:
diretor:
Jon M. Chu Anthony Ramos, Melissa Barrera, Leslie Grace O longa acompanha alguns dias da vida de moradores de uma pequena comunidade latina na periferia de Nova York. A partir do protagonista Usnavi, dono de uma mercearia local, a história retrata um grupo em busca de seus sonhos. elenco:
Emma Seligman Rachel Sennott, Molly Gordon, Dianna Agron, Polly Draper A universitária Danielle se depara com uma série de encontros constrangedores em uma shivá, um período de luto no judaísmo. Com presença de parentes autoritários, ela fica amedrontada pelo aparecimento de uma ex-namorada e de seu sugar daddy secreto, que chega inesperadamente com sua esposa e bebê. elenco:
Rent Max
Chris Columbus Rosario Dawson, Idina Menzel, Taye Diggs, Wilson Jermaine Musical que mostra a vida de amigos boêmios que vivem no bairro de East Village, famoso por ser um polo cultural. Explora os encontros e desencontros amorosos entre os personagens muito diferentes e as dificuldades sobreviver da arte em Nova York. elenco:
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