com processos de ensino~aprendizagem para a formação de crianças e jovens no Ensino Fundamental. Tal prática artístico~educativa ganhou reforço a partir de 2005 quando da criação do Cordão Grupo de Dança, coletivo que potencializou ainda mais os processos criativos cujas premissas eram pautadas naquele mesmo pensamento de influência mútua entre as áreas artística e educativa, potencializando a Educação por meio da Dança, e vice-versa (FREITAS, 2017). Em 2006, por meio de uma parceria entre a Associação dos Amigos do Balé da Cidade de Teresina (entidade da qual eu estava presidente) e a Secretaria Municipal de Educação de Teresina (SEMEC), conseguimos desenvolver um projeto intitulado “Educação se faz com Arte”, que em 2008 foi reeditado com o título “Educação se faz com Dança”. Esse projeto levou, gratuitamente, espetáculos, cursos/oficinas e montagens coreográficas, com participação em mostra de Dança, para 25 escolas daquela rede de ensino, em cada ano, chegando a atingir um universo de mais de 600 crianças e jovens sendo beneficiados diretamente, mais de 1.200 estudantes se somarmos os dois anos. Dentre os depoimentos resultantes daquelas experiências, surgiram inúmeras falas sobre o poder educacional e de transformação social provocados por aquelas atividades desenvolvidas, em suma, a potência que a Dança tem em se fazer educativa, aqui pensando no pleno desenvolvimento de um corpo, que vamos considerar como sendo a própria pessoa (LE 4 BRETON, 2013), ou melhor, uma corpessoa . Este material trata sobre uma proposta de referencial para o ensino de Dança como componente curricular do Ensino Fundamental. Constitui uma pesquisa de doutoramento, que está em andamento no Programa de Pós-Graduação em Dança da Universidade Federal da Bahia, e, sem a pretensão de se tornar uma proposta acabada, muito menos uma fórmula universal, irá propor caminhos para se refletir sobre o ensino de Dança, a partir de necessidades educacionais que emergem da/na contemporaneidade, e da experiência que vem sendo desenvolvida em Teresina, cidade em primeiro lugar nos Índices de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEBs - de 2017 e 2019, dentre todas as capitais brasileiras (FURLAN, 2020). A proposta de desenvolver o ensino de Dança como componente curricular da Educação Básica, e não apenas como conteúdo de Artes e atividade corporal em Educação Física, vem baseada na sua potência enquanto possível promotora do pleno desenvolvimento de uma corpessoa, em uma Educação Integral (BRASIL, 2018)5, que aqui atravessaremos, entre outras concepções, com a perspectiva de uma formação que promova autonomia (FREIRE, 2001) e emancipação (SANTOS, 2018; RANCIÈRE, 2002). A Dança, enquanto área de conhecimento, ao integrar a Educação Básica como componente curricular, pode contribuir de forma significativa para novos/outros entendimentos de corpo, de mundo e das relações que se processam entre estes, ou seja, da própria vida, constituindo, desta forma, um potente caminho de formação para crianças e jovens, corpos que experimentam a vida de forma integral, na contemporaneidade. Ao pensar na Educação Integral de crianças e jovens na contemporaneidade, e toda a cultura proveniente desta e nesta, acredito ser fundamental enfatizar os estudos do corpo e do movimento, que são o cerne da própria vida. É necessário, contudo, destacar o empenho em romper com a mera reprodução de práticas reguladoras ou disciplinadoras, pautado em ideias reprodutivistas advindas de sistemas conservadores. O Ensino Fundamental, do/no e para o século XXI, é um ensino que deve se pautar em práticas que promovam “[...] uma sociedade democrática e plural, ao tempo em que favorecem o desenvolvimento das habilidades, raciocínios e competências que fazem uma escola de excelência e com equidade” (TERESINA, 2018, p. 16).
4 O neologismo corpessoa surge do processo de aglutinação das palavras “corpo” + “pessoa”, a partir da ideia de que não se tem um corpo, mas se é esse corpo, posicionamento defendido pelo antropólogo David Le Breton (2013), dentre outros/as estudiosos/as. 5 Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – documento homologado em 2017 que normatiza a constituição dos currículos da educação básica em todo o Brasil – instituições públicas e privadas.
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