EDITORIAL Quando nós duas recebemos a responsabilidade de estar à frente da Revista Interessa, não imaginamos o trabalho que seria. Por outro lado, também não fazíamos ideia do quão gratificante seria planejar uma revista do início ao fim. Sob a coordenação da professora Marta Brod, nossa equipe trabalhou muito para que esse projeto desse certo e, agora, temos o orgulho de dizer que deu. Desde a reunião de pauta a produção e, posteriormente, a diagramação, o trabalho em equipe permitiu que tudo acontecesse. Cada um dos projetos que realizamos em turma ficará marcado na história dos jornalistas nos quais nos transformaremos, e esperamos que esta revista fique registrada não apenas na nossa memória, mas na de todos os egressos desta instituição. Para nós, produzir este editorial foi como se estivéssemos escrevendo um livro ao estilo Game Of Thrones. Impossível ser breve. Infelizmente, não podemos descrever a jornada de cada integrante da equipe nesta revista, ou de cada profissional que já passou por aqui, mas temos certeza que cada uma destas histórias renderia um belo livro e que não há guerra de tronos na vida profissional. Estamos todos juntos nessa. Em cada pauta desta revista você encontrará um pouco de nós. Apresentamos a você a 5ª Edição da Revista Interessa. Boa leitura. Olga Helena e Tamara Sedrez
Imagens: Anna Carolina Clasen Anesi de Novaes Dutra Coirolo
3
Imagens: Anna Carolina Clasen Anesi de Novaes Dutra Coirolo
Ficha Técnica
Esta revista é uma produção dos acadêmicos do 7° semestre do curso de jornalismo da UniSociesc, desenvolvida na disciplina de jornalismo de revista coordenada pela professora Ma. Marta Brod. Este projeto só foi possível porque além dos anunciantes, algumas pessoas contribuíram financeiramente para que ele se concretizasse. Nosso agradecimento a: Alan Carlos Gonçalves, Andyara Letícia Knoch, Barbara Raulino, Brasilic Superfood, Bruna Gabriela Ziekuhr, Capponi Arquitetura, Contax Contabilidade, Cynthia Hansen, DarkSide Books, Eduarda Prawucki, Ester Amanda, Escala Metra, Eumar Francisco da Silva, Flávia Caroline da Silva, Gisele Baumgarten Rosumek, Gleidez Feldhaus Goulart, Jedielson Filipe Rosenbrock, Leonardo Alegri, Lucas Lemes Gavião, Marta Brod, Michael Samir Dalfovo, Nane Pereira, Narayan Gottesmann, Olga Helena, Rafaela de Borba, Sabryne Anne da Silva, Tipotil Indústria Gráfica e Unisociesc. Agradecemos também aos alunos dos cursos de Direito, Psicologia e Publicidade e Propaganda e Jornalismo da Unisociesc Blumenau pelo apoio e ajuda.
Índice Me formei: E agora? Qual direção eu devo seguir? ........................................................06 Conhecimento te fortalece ou prejudica no mercado de trabalho? ...............................08 Redação publicitária:Comunicando muito com pouco ...................................................10 O jornalismo vence a mentira .........................................................................................11 Seremos resistência: do bordão ao ato ..........................................................................12 Comunicador multitarefas, quais são as vantagens de contratar um? ...........................14 Crise do Jornalismo ........................................................................................................16 Youtube o pote de ouro da publicidade infantil no século XXI .......................................18 A comunicação no século XXI: todos têm voz ................................................................19 O fazer jornalismo - do analogico ao digital em meio seculo de vida ............................22 15 anos de protagonismo: a trajetória dos cursos que ajudaram a formar comunicadores no Vale do Itajaí .....................................................................34 O novo consumidor e a publicidade da experiência .......................................................36 Criatividade, inovação e marketing: o crescimento das empresas a partir da imagem..38 Os novos ares das ondas hertzianas ..............................................................................39 A publicidade que irrita .................................................................................................40 O novo cenário digital e a adaptação dos conteúdos jornalísticos nas redes sociais .....41 Mulheres e o futebol: uma relação de paixão e preconceito .........................................44 A superação e o preconceito: o negro no meio jornalístico ...........................................46 A democratização da comunicação governamental nos últimos 20 anos ......................48 Girl Power: por que as mulheres são maioria nos cursos de comunicação? ...................50 Personalidades de clientes que você conhece ou ainda vai conhecer ............................52 Diferentes discursos que refletem o bom jornalismo .....................................................54
MERCADO DE TRABALHO
Me formei: E agora? Qual direção eu devo seguir?
Por: Tamara Sedrez
Chegou a hora de tomar decisões sobre a sua jornada profissional como comunicador? Conheça alguns dos campos de atuação na área
gente cresce e as dúvidas sobre o sabor do sorvete já não são as únicas que nos atormentam. A indecisão sobre coisas simples geralmente nos acompanha durante toda a vida, e isso é super normal. Você não sabe se prefere flocos ou chocolate. Não consegue decidir entre usar um All Star azul ou um preto de cano alto. Não sabe dizer qual música é a sua preferida. E assim por diante. Quando chega a vida adulta, suas dúvidas continuam sendo apenas suas. Você precisa de respostas e o seu interesse te leva aonde você quiser. Se você cresceu e a curiosidade continua pairando sobre a sua cabeça como borboletas que voam te instigando a segui-las, você pode ser um comunicador. Afinal, o que move o profissional da comunicação é o desejo incessante por explicações. E se você anseia em saber qual ramo do jornalismo ou da publicidade gostaria de seguir e quais seriam os campos de atuação nas suas respectivas áreas, continue esta leitura!
A
Principais campos de atuação no jornalismo
Já dizia o jornalista Felipe Pena, “a natureza do jornalismo está no medo. O medo do desconhecido.” Jornalistas são movidos por esse medo e, por conta disso, são levados a querer conhecer. Desvendar os mistérios envolvidos em uma determinada pauta é a sede do jornalista e todas as atividades exercidas pelo profissional demandam uma certa bisbilhotice. Fique ligado e conheça os principais campos de atuação do jornalismo:
Reportagem:
Assessoria de Imprensa:
A curiosidade é uma ferramenta importante para atuar como repórter. Quanto mais informações o repórter conseguir, melhor. É o responsável por produzir reportagens e, geralmente, deve se preocupar com imagens e entrevistas, além de todo o empenho que dedica ao texto, preocupando-se em ordenar as informações de forma coerente.
O assessor de imprensa é aquele que cuida do relacionamento das organizações com a mídia. Seu papel é encontrar e desenvolver pautas relevantes para a imprensa sobre o seu cliente, ou seja, construir e alimentar a imagem da empresa assessorada. Cuidar da agenda do cliente em relação aos compromissos com a mídia também é tarefa do assessor. Portanto, ele é responsável por mediar o contato dos veículos de comunicação com a empresa para a qual presta serviços.
Fotojornalismo:
Os amantes da fotografia podem sim encontrar o seu lugar no jornalismo e viver da sua paixão. O fotojornalista não é apenas aquele que está por trás da câmera registrando fatos corriqueiros. Sua lente é capaz de dar grandes significados a detalhes quase invisíveis. É por meio de uma máquina fotográfica que ele transforma uma imagem comum em uma pauta ou uma história surpreendente. Este profissional pode trabalhar para um veículo fixo ou como freelancer, e suas fotos são utilizadas nas reportagens produzidas pelo veículo que o contrata.
Produção: O produtor de televisão
ou rádio é o responsável por “fazer acontecer”. Ele está em constante movimento, pesquisando e apurando informações para produzir pautas. A busca por fontes e entrevistados, o contato com assessorias de imprensa, o acompanhamento da equipe na gravação, a produção das reportagens e, às vezes, até a locução das matérias é tarefa do produtor. Correria, não é mesmo? 6
MERCADO DE TRABALHO Social Media:
Apresentação:
O social media é responsável por atualizar e monitorar as redes sociais de uma empresa. Deve se preocupar com a criação de conteúdo e a qualidade no atendimento. Além disso, o planejamento de estratégias e a análise dos resultados também são funções desempenhadas por este profissional. É preciso estar antenado para saber quais são as preferências do público do seu cliente e que tipo de conteúdo ele consome nas redes sociais. Enfim, apaixonados por Instagram se dão muito bem nesta área.
Após a construção das reportagens, o apresentador é quem dá vida a elas. É ele quem reproduz as pautas que foram construídas, geralmente, a partir da manifestação dos anseios e necessidades da sua comunidade. Afinal, dar voz à comunidade é essencial para viver em uma sociedade mais justa e democrática.
Principais campos de atuação na publicidade Quantas vezes você já viu um anúncio que te fez abrir um sorriso, passou uma ideia muito legal ou expandiu a sua mente? Publicitários têm muita criatividade para atingir o consumidor da maneira certa. Além disso, a persuasão também faz parte do pacote. Até mesmo as ideias mais malucas passam a fazer sentido e, mais do que isso, fazem sucesso entre os consumidores quando postas nas mãos de um publicitário. Marketing: Pode-se dizer que, de certa forma, o setor do marketing também é responsável pelas vendas, mas desta vez, de forma indireta. O profissional do marketing realiza estudos acerca do mercado com o qual irá trabalhar, analisa as melhores opções para o seu público alvo e desenvolve estratégias de vendas a partir dos resultados de suas análises. Sim, existe uma graduação específica para desempenhar esta função, no entanto, profissionais da comunicação social também podem se especializar em marketing.
Criação: Transformar ideias criativas em grandes projetos é o dever do responsável pela criação publicitária. Todo o processo de desenvolvimento do projeto é um tanto quanto trabalhoso, mas além disso, este profissional deve se preocupar também com a geração de resultados. Afinal, são os resultados que proporcionam a sustentação do cliente e mostram que o trabalho valeu a pena! Planejamento: O responsável pelo planejamento é aquele que se dedica a fundamentar e desenvolver campanhas com base em pesquisas, experiências e análises de mercado. Precisa estar atualizado para se adequar às necessidades dos clientes, além de atuar como um elo entre os setores da agência. Atendimento: O relacionamento com o cliente é extremamente importante em uma agência de publicidade. Além da qualidade no serviço, o bom atendimento promove a empresa e atrai cada vez mais clientes fiéis. O responsável pelo atendimento deve estar sempre à disposição de quem o solicita. E, é claro, um item importantíssimo para este profissional é dominar técnicas de prospecção de clientes.
Produção: Aqui é onde a mágica acontece. Após contar com o auxílio de todos os setores mencionados anteriormente, o que resta é executar o projeto. Para que o planejamento saia do papel, é necessário contar agora com um profissional apto a desenvolver imagens, filmes, textos e outros materiais audiovisuais. Com o empenho de bons publicitários, certamente o resultado será uma peça de impacto.
7
Ilustrações: Freepik.com
MERCADO DE TRABALHO
Conhecimento te fortalece ou prejudica no mercado de trabalho?
Por: Larissa Segatte
Entenda porque isso acontece e fique por dentro de dicas que vão te auxiliar ainda mais a ingressar definitivamente no ramo
A
cada dia que passa, vivemos em um mundo mais conectado. São correntes desenfreadas de informação que chegam até nós de todas as formas possíveis e em todos os momentos do dia, seja por um simples outdoor, uma propaganda na TV, uma notícia no jornal ou em uma música na rádio. Mas você já parou para pensar em como essas informações chegam até você? É como se fosse um grande espetáculo e quem está por trás organizando é o profissional de comunicação. A valorização desse profissional dentro do mercado de trabalho está cada vez mais complexa. O caminho da porta da faculdade até o primeiro emprego é cansativo. Embora estudantes e recém-formados possuam um currículo exemplar, muitos jovens não conseguem se candidatar a uma vaga com salário menor por serem qualificados demais para determinada função. Ainda que essa situação aconteça com frequência, o caminho inverso também se faz presente na vida deles. A cada ano, milhares de jovens se formam na faculdade sem ao menos terem uma experiência ou um estágio concluído. Dados divulgados em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o causador do desemprego é a falta de qualificação a mais no perfil dos recém-formados. Muitos estudantes não buscam outros cursos durante este período, e quando chegam no mercado de trabalho percebem que não existem muitos espaços para as mesmas funções e que é necessário fazer mais cursos. Thalia Godóz se formou no curso de publicidade e propaganda pela faculdade UniSociesc de Blumenau em 2018 e contou que a maior dificuldade que encontrou ao buscar o primeiro emprego foi a falta de qualificação necessária para o cargo pretendido. “As empresas oferecem estágio para universitários, porém tem mil requisitos que, por sua vez, você só alcança lá no meio ou fim da faculdade, sem mencionar que a maioria dos estágios só aceitam estudantes a partir de alguns semestres de curso”. Embora esse fator seja um empecilho, a experiência exigida por determinadas empresas acabam por prejudicar o recém-formado.
“Quando eu estava no sexto semestre da faculdade de publicidade fui indicada para uma vaga em uma agência. Fiz a entrevista para saber mais sobre o serviço e de cara já fui descartada, pois procuravam alguém com experiência.” “Conversando bastante com o recrutador sobre o mercado de trabalho, fui questionada se eu gostaria de entrar em agência, respondi que sim. E foi nesse momento que veio a pergunta do diretor: ‘Em que você é muito boa dentro da agência?’ logo pensei, ‘como posso ser muito boa em algo se nunca pratiquei’?” As organizações estão cada vez mais exigentes com o tipo de profissional que vai fazer parte da equipe. Um perfil multitarefas, com experiências agregadas e com uma pitada empreendedora faz a diferença no dia a dia de muitas empreiteiras. Mas, será que não falta um olhar mais atencioso para os esses jovens que estão entrando no mercado de trabalho? A professora Gisele Baumgarten Rosumek, que leciona há 13 anos na UniSociesc Blumenau, separou sete dicas importantíssimas de como se aperfeiçoar ainda mais profissionalmente no período de faculdade. São sites e aplicativos que oferecem cursos e tutoriais gratuitos, alguns com certificação, outros não, e alguns com preços bem em conta, além de sugestões sobre a área. Confira: 8
Camila Porto e Agência Mito: ambos oferecem cursos na área de marketing digital e redes sociais a custos bem em conta, além de fornecerem conteúdo gratuito (vídeos, lives, e-books) nessas áreas.
MERCADO DE TRABALHO
Redação publicitária: Comunicando muito com pouco Por: Lucas Lemes Gavião
Escrita. Para algumas pessoas pode até mesmo parecer algo fora da realidade de um publicitário, mas ela está por trás de toda produção do ramo em alguma medida, a ela impressa ou digital
Ilustrações: Freepik.com
Ilustrações: Freepik.com
E
m um comentário sobre a notícia de um jornal exaltando uma banda brasileira, o saudoso escritor Ariano Suassuna destacou o uso do adjetivo escolhido para descrever o guitarrista da banda. Na ocasião, Suassuna disse que a língua portuguesa era seu instrumento de trabalho e que se fosse para gastar um adjetivo como “genial” para descrever o músico, o que restaria para ele adjetivar Beethoven? Parece algo simples, mas a escrita tem um poder que é subestimado. É fato que a comunicação se apresenta de diversas formas, mas quanto maior o domínio em suas múltiplas funções, mais destaque tem o profissional. A relação entre escrita e publicidade se dá especialmente na figura do redator publicitário, ele que é o responsável por resolver os problemas de comunicação de uma marca, produto ou empresa. Sabe aquele profissional que geralmente cria os slogans, textos, roteiros, entre outros produtos para as campanhas e peças? Então, esse é o cara! Em uma turma de publicidade e propaganda com trinta alunos na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Yann Schmitt Stinghen diz que foi um dos poucos acadêmicos que mostrou abertamente interesse pela área de redação e afirma que o domínio da escrita é indispensável para a função por uma série de fatores que vão além do óbvio: “Cada redator tem o seu próprio processo para chegar ao melhor texto que possa atender às necessidades do cliente, no entanto sem uma boa noção de semântica, sintaxe, figuras de linguagem e outros, fica muito difícil analisar, quebrar e estruturar peças e conceitos sem o devido repertório”. A mestre em educação, Luciane Trigo, que já foi professora da disciplina de redação publicitária, corrobora com o acadêmico e observa que, ao contrário do que se pensa, até as peças publicitárias mais objetivas e concisas exigem vasto repertório e conhecimento linguístico para serem construídas: “Lecionando a disciplina de redação publicitária, eu percebi que às vezes nessas publicidades tão enxutas, pressupõe-se que você não precisa de um vocabulário tão requintado, tão refinado, tão denso para dar conta de fazer uma peça que tenha um texto tão curto. É justamente o contrário. Por conhecer muitos termos, tu consegues fazer uma publicidade mais enxuta e que seja assertiva.”, diz Luciane. Independentemente de onde trabalhará, para aqueles que almejam ser profissionais completos em suas funções, o domínio de uma boa escrita com um vasto repertório é muito bem-vindo e para um redator publicitário é imprescindível. A partir disso, há uma tendência natural para que cada vez mais os brainstormings cheguem mais facilmente a briefings que possam fazer com que a ideia de um livro inteiro seja traduzida em apenas uma frase capaz de conversar com seu público-alvo.
O jornalismo vence a mentira
A
ntes do surgimento da comunicação digital, a imprensa tinha seus desafetos, aqueles que diziam não acreditar em nada que ela publicava, por conta dos interesses políticos e econômicos do grupo jornalístico, ou por conta de trapaceiros travestidos de jornalistas ou de dono de jornal. Quando digo “antes da comunicação digital” não estou concluindo que tudo mudou depois; os interesses, escusos ou declarados, continuam existindo, os trapaceiros estão em todos os lugares, mas os desafetos da imprensa passaram a contra-atacar com uma arma que mudou as relações no domínio da comunicação: a internet, sobretudo as redes sociais. A internet imprimiu uma nova realidade na disseminação das informações, mas se abriu a todos, dando voz a qualquer indivíduo, independente do seu caráter, do seu conhecimento ou de suas intenções. Com as redes, o fenômeno acabou popularizando a fake news, e hoje vivemos o dilema “acreditar /não acreditar”. O resultado mais pernicioso é que a imprensa passou a ser atacada e ganhou muitos créditos de desconfiança, como nunca dantes havia se visto. Se a Constituição, em tese, garante a liberdade de expressão, então como fazer, já que não se pode calar um jornal? Simples: no lugar da censura usa-se a desinformação, divulga-se mentiras e
Eumar Francisco da Silva
tenta-se desmoralizar a imprensa, lançando sobre ela acusações às vezes surreais. Alguma semelhança com o Brasil dos últimos anos? Total. O pior é que indivíduos de quem se devia esperar um pouco de inteligência e ponderação mergulharam de cabeça nessa insanidade. Quem ataca a imprensa indiscriminadamente, ou divulga informações mentirosas, certamente ama a censura. Negar o seu papel é realmente desconhecer o sentido da democracia. Então, quando vejo ataques à imprensa por ela expor aquilo que alguém tentava esconder da opinião pública, tenho certeza que estou diante de um censor barato, ou de um projeto mal sucedido de ditador. Continuo acreditando que a garantia de que a imprensa vai sobreviver a todos os ataques e concorrência é a existência dos cursos de jornalismo em nível acadêmico. A universidade ainda é o local apropriado para o debate e reflexão sobre qualquer tema e o jornalismo não pode ficar de fora. Isto é um grande motivo para celebrar os 15 anos do curso implantado pelo IBES (Unisociesc) em Blumenau e dedicar uma homenagem especial da revista Interessa a esta década e meia de ensino. A missão de um curso de jornalismo é formar profissionais capazes e éticos, e isto temos certeza que o Jornalismo da Sociesc está fazendo.
MERCADO DE TRABALHO
Seremos resistência: do bordão ao ato Ser comunicador em tempos atuais requer mais do que competência, há agora uma grande necessidade de resistência
D
urante a jornada, o profissional da co- das inovações procuradas pelo público. Manmunicação se depara com muitos obs- ter tudo isso sob controle é uma corrida diária táculos. Logo, é necessário desenvolver que garante a sua sobrevivência. O publicitário algumas características que lhe ajudarão Guilherme Luiz Krug, cinegrafista e produtor a passar pelas adversidades. Uma delas é a resi- de vídeos na Kaffe Films, diz que a sua área liência, e mais do que isso, a resistência. Superar de atuação está em transformação incessante. situações de crise e derrubar todas as barreiras Para ele, a mente vive em movimento e dispaé uma habilidade fundamental para qualquer ra uma hora na frente do relógio. O cronograprofissional. Não é nada fácil lidar com aquele ma apertado, os imprevistos, a iluminação do cliente exigente, com a correria de todos os dias, próximo local de gravação, as pessoas que irão com aquela pauta que caiu, ou com a inovação compor a cena e todos os detalhes são preoque cai nas graças da sociedade e obriga ade- cupações constantes. quações dos méHá transformatodos de trabalho “A primeira coisa que ouvi quando disse que ções que movem para um novo mopessoas, dinheiro, ia cursar jornalismo: mas nem precisa de delo. Além disso, mercado e hábidiploma para ser jornalista”. algumas questões tos. No entanto, Ana Flávia Lourenço, jornalista em formação na têm se tornado algumas coisas inUniversidade de Uberaba uma ameaça aos sistem em permacomunicadores, necer. Uma delas principalmente no que diz respeito à liberdade é conservadorismo que se mantém impregnade imprensa. A partir disso, é preciso colocar do em algumas cabeças. “Estamos em um moem prática um bordão de que tanto se fala ulti- mento de transição. Tudo vai mudar, mas muimamente: seremos resistência. tos ainda têm medo da mudança e acham que Enquanto os dias correm, o comunicador correm o risco de perder o mercado ou seguié aquele que acompanha o ciclo, mas ao mesmo dores, por isso acabam censurando trabalhos tempo fica para ver com mais calma o que está nos quais nem deveriam interferir, pois não acontecendo. O grande drama por trás de tudo sabem do que se trata”, diz Guilherme. Neste isso é que a credibilidade daquele que com mui- caso, a resistência é essencial aos profissionais to afinco conquistou um diploma para comuni- da comunicação. O publicitário ressalta ainda car com qualidade muitas vezes se encontra em que, para haver mudança, é importante que a xeque. O por quê disso? Pois olhos, ouvidos e sociedade se mova rumo a um trabalho colabocas despreparadas reproduzem tudo aquilo borativo, que não se direcione cada vez mais que vêem e ouvem. para o individualismo. O jornalismo e a publicidade têm de Profissionais de qualquer área estão se reinventar constantemente. Acompanhar expostos a situações desagradáveis ou de cria pressa do consumidor nem sempre é fácil e, se. Passar por episódios ruins é, portanto, algo além da correria, o profissional deve estar a par para o qual é preciso estar preparado. 12
MERCADO DE TRABALHO
Por: Tamara Sedrez
profissão e fala que o profissional precisa provar constantemente a sua competência e trabalhar sempre em busca da credibilidade para se manter no mercado de trabalho. Diante de tais obstáculos, é preciso resistir. O bordão “seremos resistência” se concretiza na ação diária dos comunicadores. Trabalhar em busca de informações de qualidade, lutar pela valorização, pelos seus d i re i t o s e nunca se deixar calar. Esse é o desafio e o desejo do profissional da comunicação social. “Jornalistas precisam de união. Os sindicatos são fragilizados, então, não há um órgão forte o suficiente para defender a liberdade que nós precisamos”, ressalta Ana Flávia. O trabalho desenvolvido com seriedade é o caminho e a união é o recurso. Só assim a comunicação social pode chegar à sua devida valorização e liberdade.
Ilustrações: Freepik.com
É difícil lidar com pessoas, mas para trabalhar com comunicação social, faz-se essencial ter tal habilidade. O jornalismo, por exemplo, enfrenta um período em que não é exigida a obtenção de diploma para o exercício da profissão, o que representa um grande problema para os profissionais. Ana Flávia Lourenço terminará o curso de jornalismo na Universidade de Uberaba (MG) em julho de 2019, e diz que a queda do diploma desvaloriza a profissão em um nível absurdo. “A primeira coisa que ouvi quando disse que ia cursar jornalismo era que nem precisa de diploma para ser jornalista”, conta. De fato, a desvalorização da profissão afeta os profissionais da área, inclusive, as Fake News são um problema que o jornalista precisa combater diariamente. Laide Braghirolli, formada em jornalismo desde 2012 pela Unisociesc Blumenau – à época, Ibes Sociesc –, diz que sente a desvalorização da
13
Comunicador multitarefas, quais são as vantagens de contratar um?
Por: Bruna Evelin
Pessoas que trabalham dentro e fora de casa acreditam que se encaixam nesse perfil, mas ter várias funções no mercado atual vai um pouco além de tudo isso
C
om a evolução da tecnologia e informações vindo a cada segundo, as empresas de hoje buscam contratar profissionais com perfil multitarefa. A modernidade da tecnologia traz consigo uma série de mudanças no dia a dia das pessoas. Estar conectado 24 horas começa a impactar a rotina de alguém desde o momento em que essa pessoa acorda e pega o celular para acompanhar o que está acontecendo no mundo. E ao mesmo tempo em que está fazendo isso, muito provavelmente ela está tomando seu café da manhã, conversando com alguém que mora na mesma casa e acompanhando o horário do ônibus que vai passar no ponto em que ela precisa estar em breve. Esse tipo de situação hipotética é bastante comum no cotidiano das pessoas e pode se estender para o ramo profissional. No entanto, realizar todas essas coisas simultaneamente não significa ser uma pessoa multitarefa. Possuir o perfil multitarefa é ser capaz de fazer várias atividades ao mesmo tempo, mas sem perder a qualidade durante o processo. Parece difícil, não é? Realmente é. Não é algo fora do normal exigir que um funcionário se responsabilize por diversas tarefas, mas ainda é um desafio identificar esse tipo de pessoa simplesmente porque essa habilidade não foi tão requisitada no passado. O empreendedor Douglas Feldhaus, acredita que há um limite para ser um funcionário multitarefas. “Nós temos limitações humanas, não somos máquinas, então a partir do momento que começar a pesar é preciso delegar funções. Nós temos tarefas que gostamos e somos bons fazendo elas, já outras, nem tanto. Devemos focar naquelas que é melhor para nós, e as tarefas que temos menos rendimento passamos a pessoas que saibam fazer bem feito, como por exemplo: os textos para blog dos meus clientes, eu tenho parcerias, porque sei que não sou 100% com textos”, explica Douglas. A organização já é um requisito importante para o desempenho de qualquer trabalho. Para um profissional que tem disposição para trabalhar com diversas coisas ao mesmo tempo, isso se torna ainda mais essencial. Obviamente, todo caso tem uma exceção, no entanto, a ideia de que a organização é necessária quando existe uma grande quantidade de tarefas a serem realizadas, é quase unânime.
MERCADO DE TRABALHO “Eu costumo organizar a semana baseado nas tarefas que sei que tenho que entregar. Nas sextas, eu monto o planejamento da semana seguinte, deixo algumas horas livres por dia que utilizo para trabalhos que podem aparecer, caso não tiver nada para entregar, eu uso esse tempo para descanso”, conta Douglas. “A rotina ideal de trabalho deve ser baseada no estudo de como nos comportamos no decorrer do dia. Aliás, todos temos pontos altos e baixos, gosto de explorar isso para melhorar meu rendimento, pois temos um padrão de dias que somos mecânicos, outros que somos criativos e aqueles que apenas existimos. Portanto, a rotina de trabalho ideal é aquela baseada no ser humano que vai idealizar. Não existe uma rotina padrão para todas as pessoas. Não existe uma fórmula mágica de extrair 100% das pessoas. Percebo que não rendemos no mesmo ritmo o dia todo e que é impossível trabalhar 8h por dia sem decair no rendimento”, explica Douglas. Ter um colaborador que saiba lidar com pessoas, que consegue manusear as ferramentas necessárias e que ainda resolve problemas
extras é algo muito requisitado. O empreendedor acredita que normalmente pessoas com esse perfil são proativas, e que alguns conhecem seu limites, mas sabem quando é hora de delegar algumas funções. Durante o processo de seleção de um candidato, é importante observar se ele está por dentro do que está se propondo fazer. Pode ser que esse funcionário não seja o multitarefa ideal, mas alguém com uma facilidade maior do que a média para a realização de diversas tarefas ao mesmo tempo. Nesse caso, a atualização é um sinal de proatividade e por isso deve ser observada. Funcionários proativos podem ser os que possuem uma maior facilidade de assumir novas responsabilidades. Inclusive para mostrar ao seus clientes, “existem várias formas para se atualizar e cada um deve encontrar a sua maneira. Pode ser curso, leituras, conversas, enfim, são diversas formas. Estar atualizado é um item básico para não ficar para trás no mercado, e também ajuda a transmitir confiança ao novo cliente”, finaliza Douglas.
Crise do jornalismo
Por Eduarda Loregian e Lucas Lemes Gavião
“Matamos um leão por dia”, não é esse o ditado? Entretanto, o leão da vez é, de certo modo, desconhecido. Sabemos os efeitos causados por ele durante um ataque, mas ainda não descobrimos o seu ponto fraco. Então, como derrotá-lo? E ainda, será que devemos derrotá-lo? Não, essas respostas não estarão nesta sexta-feira no Globo Repórter, mas felizmente podemos jogar alguma luz sobre estas questões e compartilhar alguns vieses desta realidade.
A
palavra crise se trata de um conceito cabível em todas as áreas e é descrita na psicologia como a representação de uma mudança a nível biológico, psicológico ou social. De acordo com o Google, para a psicologia a crise exige um esforço suplementar de manter o equilíbrio, além de corresponder a momentos de ruptura na estabilidade vigente. Sim, procuramos o termo e o citamos através do Google, até porque quem ainda consulta o dicionário? Com tamanha evolução tecnológica, não estamos mais habituados com livros e métodos de pesquisa que estejam a mais de um cômodo de alcance de nossas mãos. Sendo assim, toda e qualquer dúvida, anseio, curiosidade e necessidade é hoje solucionada por nós - sociedade em uma aba do navegador. Seguindo essas tendências, o jornalismo, que é antigo na história da construção humana, passou por modificações e reestruturações em busca de atingir seu público mantendo o seu principal objetivo: contar histórias. Neste contexto, o acontecimento, o fato, o motivo e o resultado fazem parte desta arte. Seja para informar, alegrar, distrair ou persuadir, o centro do jornalismo sempre foi a história. Entretanto, diante do cenário tecnológico em que vivemos, percebemos que a influência do modelo preconizado pelo mercado pode alterar esse objetivo básico e fundamental da profissão.Esta realidade vem acontecendo em todas as esferas da sociedade e na comunicação isso
não seria diferente. O jornalista de hoje precisa ser mais do que um contador de histórias. Com suas novas atribuições, além de um bom texto, é necessário conhecer as táticas para atingir e fidelizar o público, estar atento ao retorno que este fornece por meio das ferramentas disponibilizadas pela web, compreender os novos modelos de convivência e vida da população, atualizar-se com as novas tecnologias e não depender de outros para aplicá-las, além de se manter atento ao mercado e aos novos negócios para sobreviver em meio a tantas mudanças. O desafio é diário. Independente do meio, toda a comunicação foi afetada pela internet. Estamos em um processo de descobertas e escolhemos chamá-lo de crise por conta das incertezas e do risco iminente da perda de identidade desta missão tão importante que é a do jornalismo. Assim como acontece em empresas, que dentro de um minuto podem se ver com uma situação inesperada e que precisa ser analisada e resolvida, o jornalismo precisa se auto avaliar e se reinventar neste momento de crise. É necessário lutar pela essência e pela reputação. Não se pode deixar que a imagem da profissão seja deturpada. As histórias precisam continuar sendo o centro dessa área. Por conta disso, a luta é constante e árdua, e em meio a tantas adversidades, diariamente surgem novas plataformas e novos 16
Ilustrações: Freepik.com
ATUALIDADES
ATUALIDADES senta como um agente anti-fake. O jornalismo de dados trabalha, essencialmente, com… dados! Nas palavras de Cristian Weiss, jornalista do Diário Catarinense, “O jornalismo de dados é uma atividade mais objetiva e menos subjetiva, o que se aproxima mais do fazer tecnicamente.” O jornalista ainda reforça que quanto mais o profissional produz seus textos baseados em evidências - e dados são evidências - e menos em impressões ou opiniões, existem mais chances de sua informação ser crível e atestada como verdade, pois somente uma nova evidência com maior força poderia contestar a primeira. Assim, a máxima “contra fatos não há argumentos” volta a servir como remédio contra qualquer fake. A deficiência na investigação dos fatos é fruto da correria cotidiana causada pela internet e suas métricas. Os jornalistas andam ansiosos com o tempo, afinal, por melhor que seja a informação, a primeira a ser publicada tende a ter mais acessos, e para isso é preciso correr. É nesse contexto em que, de maneira equivocada, a velocidade se sobrepõe à qualidade. Em vista dessa falta do “feijão com arroz” bem feito na rotina do comunicador, Weiss sugere que essa possa ser uma forte razão pelo descrédito da sociedade para com grandes veículos, mas lembra que nem toda essa culpa pertence aos profissionais: “Me parece que é isso que as pessoas que não creem na mídia hoje gostariam de ver: um jornalismo mais técnico. Mas quando se fala em política, por exemplo, sempre vai ter o lado mais passional do público, que é subjetivo. Aí às vezes nem evidências convencem.” Os fatos estão dados. Se é possível recuperar a credibilidade do jornalismo apesar das armadilhas trazidas pelo novo meio? A resposta é sim. Cabe aos jornalistas utilizarem as ferramentas da web para aprimorarem seus trabalhos e tomarem consciência da importância do que há de mais intrínseco na profissão: uma boa e acurada apuração de informações e dados traduzidos em um conteúdo único - voltado para o público - em formato de uma boa e envolvente história.
comunicadores que nem sempre sabem o que fazem. Sem dominar técnicas, a internet possibilitou que pessoas sem formação ou conhecimento abrangente sobre a importância da área influenciassem pessoas que sabem tanto quanto ou menos que elas. Agora, o público também é comunicador. Saturados com tanta informação, como distinguir o melhor e mais confiável? Como escolher a quem conferir a influência do nosso raciocínio sendo que não temos a obrigação de escolher? E a questão mais contundente para o profissional, como sobreviver enquanto jornalista e ser escolhido pelo público? A globalização nos atingiu, e não é nossa escolha fazer parte dela ou não. As histórias precisam mais do que belos textos, boas construções e apurações. Mais do que contadores precisamos ser divulgadores, marqueteiros, multitarefas e visionários. A antiga afirmação de que quem escolhe comunicação escolhe o caminho mais fácil, não parece fazer mais sentido. Com um grande número de comunicadores e propagadores de conteúdos, a credibilidade do jornalismo está sendo colocada em xeque.
Se é fake, não é news A verdade é que “fake news” é um dos termos do momento, mas está longe de ser algo novo. Apesar de ter se tornado popular nos últimos anos, a boataria corre solta pela boca do povo desde há muito, entretanto, o meio de recepção e propagação desses tais rumores mudou. A internet, por meio das redes sociais e do WhatsApp, tem sido o principal agente de propagação desse tipo de informações. Um dos maiores desafios do jornalismo no século XXI, e que constituem este momento de crise, está na descoberta da melhor forma para se combater este vilão da informação. A maior questão se encontra no método. Enquanto uma notícia falsa pode se proliferar rapidamente pelas redes sociais, sua retratação ou correção não repercute da mesma forma. Visto isso, a credibilidade dos grandes veículos de comunicação deve ser preservada e reforçada para que esta seja a fonte mais confiável da população em geral. Nesse contexto, o jornalismo de dados se apre17
Ilustrações: Freepik.com
ATUALIDADES
o pote de ouro da publicidade infantil no seculo XXI Por Alan Gonçalves
Donos de canais lucram milhões em contratos com grandes empresas e publicidade velada
O
YouTube é a plataforma de vídeos mais rentável e com o maior público ativo da atualidade na maioria dos países. De acordo com a revista Forbes, no ano de 2018, os dez canais que mais faturaram no mundo lucraram juntos cerca de US$180 milhões. No Brasil, segundo uma análise feita pela Hootsuite (sistema norte-americano especializado em gestão de marcas na mídia social) o YouTube está em primeiro lugar. Por estar a frente de seus concorrentes, o site é palco dos mais diversos cases de marketing de várias empresas conceituadas. Com a crescente disseminação da tecnologia, os meios de comunicação tradicionais, como rádio e TV, estão tendo que dividir espaço com as redes sociais e plataformas de streaming. Diante deste cenário, não demoraria muito para que as empresas voltadas a produtos infantis enxergassem no YouTube uma valiosa fonte de renda e visibilidade. Atualmente, existem na plataforma milhares de canais voltados apenas para esse público e que contam com um número exorbitante de crianças que assistem a cada novo vídeo que sai de seu youtuber favorito. Só na loja Play Store da Google, o YouTube Kids (versão voltada ao público infantil) tem quase um milhão de downloads. Dentre os canais mais assistidos, está o canal do garoto norte americano Ryan, o RyanToysRewiews. Apenas no ano passado, o garoto chegou a faturar, junto com seus pais, a quantia de US$22 milhões, segundo uma matéria da BBC onde constam dados coletados pela Forbes em 2018. Em seu canal, ele posta vídeos em que abre embalagens de brinquedos, faz testes e brinca com os produtos das mais variadas marcas. Essa exposição incentiva seu público a adquirir esses produtos, pois mesmo não tendo as características de um comercial tradicional, ainda assim é uma divulgação das marcas. A prática caracteriza, segundo as regras de ética da publicidade brasileira, a chamada publicidade
velada. Vale ressaltar que além de uma conduta global, em cada país há códigos e legislações próprias no que se diz respeito a publicidade infantil. No Brasil, por exemplo, o Conselho Nacional de Autorregularização Publicitária (CONAR) é o órgão responsável por essa gestão. Portanto, ele é responsável por fiscalizar as peças publicitárias, as quais devem seguir uma série de normas, tais como não ser imperativo as crianças ou conter publicidade velada. No final do ano de 2018, vieram à tona denúncias de publicidade velada, parecidas com o do garoto Ryan, contida em diversos canais brasileiros. Em janeiro de 2019, o Ministério Público de São Paulo (MP - SP) emitiu um comunicado oficial ao YouTube com um pedido para a remoção de vídeos de youtubers mirins que praticassem a irregularidade. Entre os canais solicitados estavam: Julia Silva, Felipe Calixto, Manoela Antelo, Gabriela Saraivah, Marina Bombonato, Duda MH e Vida de Amy. O problema nesse tipo de publicidade é que não fica explicitamente claro que se trata de propaganda. A criança abre a embalagem de um produto para experimentar e brincar o que claro, incentiva milhares de crianças a pedirem os produtos a seus pais. As empresas, donas dos brinquedos, são tão culpadas quanto os produtores dos canais, pois aproveitam-se da situação enviando produtos “gratuitamente” em troca de exposição nos canais. Quando notificadas, as empresas Google e YouTube responderam que são apenas as plataformas e que o conteúdo é responsabilidade de cada usuário. Desde o ano passado, a guerra contra este tipo de publicidade se intensificou e de dezenas de empresas grandes como SBT, McDonald’s e Mattel receberam multas e tiveram vídeos removidos. Fica aqui o questionamento sobre este tipo de conteúdo e sobre a violação de privacidade. 18
ATUALIDADES
A comunicação no século XXI: todos têm voz
Por Olga Helena
Ela já foi censurada, controlada e até promoveu revoluções. O fato é que a comunicação é uma ponte entre os indivíduos e tem o poder de causar tanto o bem quanto o mal comunicação já viveu diversas fases, desde a invenção da prensa tipográfica no ano 1447, por Johann Gutemberg, passando pela máquina de datilografia, pelo fax, telex até os atuais computadores. Tais mudanças foram assustadoramente rápidas, e a prova disso é o surgimento da internet em 1969 nos EUA. No começo, usada somente pelos militares e depois os acadêmicos tiveram acesso. E finalmente, em 1988, chegou ao Brasil e logo se tornou imprescindível. Para os jornalistas que antes tanto se preocupavam com limites de caracteres e até mesmo com a censura – devido ao golpe de 64 no Brasil – a internet possibilitou que pudessem trabalhar em suas pautas tranquilamente, já que grande parte dos veículos de imprensa migrou para as redes.
Segundo dados coletados pelo IBGE, em dezembro de 2018, aproximadamente dois terços da população brasileira (69,8%) tinha acesso à internet. O levantamento ainda mostra que em 2017 houve um acréscimo de 10,2 milhões de usuários conectados, em relação ao ano anterior. Esse aumento se deu em todas as faixas etárias, mas em especial a dos idosos. Cerca de 2,3 milhões de pessoas com mais de 60 anos passaram a acessar a internet pela primeira vez em 2017, representando um percentual de 31,1% nos dados gerais dessa categoria. Entretanto, como já era de se esperar, se comparados aos dados gerais, os jovens entre 20 e 24 anos ainda são os mais conectados. Eles são responsáveis por 88,4% de toda a população do país.
A
Tempo de evolução
Com a internet a informação se tornou globalizada. Sendo assim, qualquer pessoa com um computador ou um celular ao alcance consegue se informar sobre o que acontece pelo mundo, de forma rápida e indiscriminada. Entretanto, essa tecnologia mudou de forma bastante drástica os modelos de comunicação, que antes não levava em conta a opinião dos leitores e agora tem de lidar com ela. Modelo antigo: EMISSOR
VEÍCULO
Vantagens e desvantagens da Web A internet possibilitou não somente uma c omunicação mais eficiente, mas também uma forma ágil e prática de se resolver todos os tipos de questões. Seja para comprar, vender, pagar contas ou até mesmo trabalhar (home office), nada mais é igual. Porém, como diria Ben Parker, tio do super-herói Homem-Aranha, “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Por muito tempo, a rede foi terra de ninguém, e crimes ligados ao ambiente digital se tornaram cada vez mais comuns. A “Deep Web” ou a internet sombria, constantemente aparece nos noticiários por instigar massacres e outros atos de crueldade e intolerância. Como tudo na vida, a internet possui dois lados e cabe a nós diferenciá-los. A grande questão para humanidade agora é: será que conseguimos evoluir junto com tais tecnologias ou ainda somos os
RECEPTOR
Modelo atual: EMISSOR
VEÍCULO
RECEPTOR
FEEDBACK
19
ATUALIDADES
mesmos de séculos atrás, ainda preocupados com guerras, poder e segregação? Caso seja a última opção, o que fazer para que a internet não vire uma arma de destruição em massa? Ou será que ela já virou? De acordo com o professor universitário Eumar Francisco da Silva, formado em jornalismo e mestre em comunicação e linguagens, para evitar que o mundo online se vire contra nós, alguns cuidados devem ser tomados:
Ilustrações: Ester Amanda
Somos eternamente responsáveis por aquilo que publicamos ou disseminamos. Por isso, os cuidados listados acima são tão importantes nos dias de hoje. Afinal, uma informação pode provocar tanto o bem quanto o mal, e cabe a nós o discernimento sobre cada uma delas.
20
12507_EM_Anúncio - 20,5x27cm - Revista INTERESSA 2019.pdf
1
10/05/2019
17:00
O fazer jornalismo do analogico ao digital em meio seculo de vida Por Alexandre Gonçalves
enho 54 anos, 33 de jornalismo. Neste pouco mais de meio século de vida, vivi e vivo plenamente a maior transformação da humanidade em todos os tempos. Talvez ainda não tenhamos a dimensão, mas no futuro os dias de hoje e os acontecimentos recentes gerados pelo avanço da tecnologia serão estudados e classificados como uma ruptura no processo de civilização, como foram as transformações que criaram a Idade Média, Moderna, Contemporânea... Sei lá qual o termo que se dará, mas é fato que o planeta mudou como nunca, em especial, por conta da comunicação, em todas as suas esferas. Estamos conectados, a Globalização é aqui, na palma da mão. Mas sou do tempo que o aparelho de telefone era um artigo de luxo, com preço para poucos, cuja uma linha demorava quase um ano para ser instalada. De Porto Alegre conversava com a minha avó no Rio de Janeiro e sabia o final da novela com duas semanas de antecedência, pois as fitas vinham de avião para estados fora do eixo Rio-São Paulo. Na escola, fazia questão de contar para os colegas o que iria acontecer. Me sentia poderoso! Fui gestado no mês do Golpe Militar – sim, foi GOLPE – e nasci junto com a
T
Rede Globo e a vi crescer e construir um império de comunicação, com as benesses de um Governo ilegítimo que precisava de respaldo popular. Foi assim que o Jornal Nacional uniu o Brasil continente através das redes de satélite disponibilizadas pelos militares. Neste contexto se deu minha construção como cidadão e minha vontade de ser jornalista. No final dos anos 1970, ganhei do meu avô a máquina de escrever elétrica dele, um momento inesquecível. Pouco usei a máquina, pois logo acabou o cartucho e não conseguir substituir, mas ela virou um símbolo do que queria fazer na vida. O jornalismo era feito através da televisão, do rádio – sempre ele! –, das revistas e dos jornais impressos. Para vocês terem uma ideia, uma mesma empresa jornalística tinha três jornais diários em Porto Alegre, o Correio do Povo, A Folha da Manhã e a Folha da Tarde. A minha formação no jornalismo começou em 1985, depois de dois anos e meio de uma fundamental base no curso de Ciências Sociais. Internet não existia. Na faculdade, tive um semestre da disciplina de Introdução a Telemática, aos sábados pela manhã, imagina o nível e o aproveitamento. Quando comecei o curso, sonhava escrever para um grande jornal, como a Folha de São Paulo, ou para uma revista, como a Veja – sim, já gostei muito da
jornalismo, quando descobri minha vocação, a área onde atuei durante pelo menos duas décadas, com experiências maravilhosas e outras nem tanto. Formado, segui minha vida de jovem empreendedor na área de gravações – casamentos, aniversários, formaturas, batizado, tudo no saudoso VHS -, mas cansei depois de dois anos, apesar do bom retorno financeiro que estava me dando. Eu sonhava em ser jornalista e era preciso correr atrás. Sacudi a poeira, larguei a empresa, peguei minha Brasília, meu gato Haroldo, meus discos long plays e a estrada para Florianópolis, em busca do meu sonho. No meu primeiro emprego como jornalista, na extinta RCE, trabalhei com aquele que me despertou o interesse pelo jornalismo político, Moacir Pereira, além de outras feras, como o Roberto Alves e Miguel Livramento. Naquele 1992, assim como eu, o hoje consagrado Joelson dos Santos, da RICTV Record, começava sua carreira. Ele apresentava, eu editava, escrevendo textos para ele ler em uma velha máquina Olivetti. Da capital parei em Blumenau, onde conheci o primeiro computador na então RBS TV. A telefonia celular dava seus primeiros passos e em 1996 fui dos primeiros na cidade a ter um aparelho, um “tijolão”, cedido pela Telesc – a empresa estatal de então. A Internet para nós mortais – jornalistas e comunidade em geral - surgiu na segunda metade da década de 1990,
ainda de forma precária, via cabos. De lá para cá, numa velocidade espantosa, transformou a comunicação e o mundo, em especial a partir dos primeiros anos da década de 2010, com o surgimento dos smartphones. A partir daí tudo foi muito rápido, muito mesmo. A comunicação que tinha apenas uma via – emissor e receptor -, deixou de ser unilateral e passou ser múltipla. O acesso a informação e as possibilidades para o jornalismo se ampliaram geometricamente, mas deixaram marcas no que hoje chamamos de veículos “tradicionais”. O próprio papel do jornalismo e dos jornalistas passou a ser motivo questionamento e a formação profissional deixou de ser relevante para muitos, inclusive para o Supremo Tribunal Federal, que se posicionou contra a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão. A Internet e as redes sociais viraram terra de ninguém, onde as Fake News, aproveitadores e despreparados prosperam em meio a profissionais e veículos de comunicação sérios e com credibilidade que tentam sobreviver nesta panaceia informacional. Saudosismo? Não, o meu pragmatismo não permite isso. Olhar no retrovisor serve como bagagem para enfrentar o modelo de comunicação dos tempos atuais e dos próximos. Afinal, já vivi meio século.
15 anos de protagonismo: a trajetória dos cursos que ajudaram a formar comunicadores no Vale do Itajaí Por: Bruna Gabriela Ziekuhr, Eduarda Lúcia Loregian e Larissa Segatte
Conheça a história do colégio universitário que, através da motivação de jovens educadores, deu origem a uma das mais conceituadas instituições de ensino de Santa Catarina e que em 2019 completa 15 anos da criação de seus cursos de comunicação - jornalismo e publicidade e propaganda Completar 15 anos é um marco inesquecível. Seja para uma pessoa, uma empresa ou uma instituição. Há comemorações, festas e despedidas de um longo caminho que fica para trás. São tropeços, lágrimas, mas também são boas risadas, lembranças e amizades que serão guardadas no coração para o resto da vida. Para uma debutante, fazer 15 anos e celebrar essa data como uma grande festa, se torna um marco inesquecível. São detalhes e planejamentos que, muitas vezes, unem ainda mais a família tornando o momento especial. Já para uma empresa, a celebração mostra o crescimento e o amadurecimento que ela precisou manter para chegar até o nível em que se encontra. É um caminho árduo, que resulta em benefícios para a sociedade em geral. E neste ano a UniSociesc completa 15 anos da criação dos seus cursos de comunicação - jornalismo e publicidade e propaganda. Uma instituição de ensino que preza pela educação e que vê nos seus estudantes a causa para se manter em pé, como afirma Anselmo Medeiros, um dos fundadores do antigo Instituto Blumenauense Superior (IBES). “Nós éramos um grupo encarnado em levar nossos alunos para o ensino superior e a nossa alegria era ver eles entrando na faculdade. Sempre vibramos pelo sucesso dos estudantes, e esse vínculo entre os professores e alunos foram passadas para o IBES através do colégio universitário. A nossa instituição tinha aquela coisa de ver nos estudantes a coisa mais importante”, recorda Anselmo com emoção.
Prédio do IBES/Sociesc no bairro Jardim Blumenau/ Site Blumenau Vertical
24
TRAJETÓRIA
Com brilho nos olhos, Anselmo Medei- siasmo. Posteriormente, o grupo deu ênfase ao ros, relembra como era a sua vida há 19 anos. processo de qualidade na educação e, por conta Sonhador, o professor, empresário e douto- disso, alguns cursos da faculdade são referência rando em educação, foi um dos fundadores na educação superior. No início a faculdade funcionava em um do Instituto Blumenauense de Ensino Supe- rior (IBES). Na época ele e seus sócios, Valde- prédio na rua XV de Novembro e depois passou a cir Mengarda, Amilton Leal, Adilvo Andreazza, funcionar na rua Getúlio Vargas. Em 2000 a faculdade veio para o endereLeonardo Stuepp e o Edmundo Pozes da Silva, eram professores e fundadores de um colégio ço atual, na rua Pandiá Calógeras, número 272, universitário com foco em vestibulares com no bairro Jardim Blumenau. Tudo era novo, havia cerca de mil alunos. Havia ali um sonho de ini- carteiras, ar condicionado, salas equipadas com cabos de internet - algo ciar um projeto que resultaria na formação de diver- NÃO QUEREMOS SER OS MAIORES, que outras instituições não sos profissionais na cidade QUEREMOS SER OS MELHORES tinham - e as paredes cheiravam a tinta nova. O sode Blumenau. Foi então ANSELMO MEDEIROS nho dos jovens educadores que o grupo de jovens educadores decidiu encarar o desafio que concre- se concretizou. Anselmo relembra da quarta-feitizaria este sonho: fundar uma faculdade que ra em que realizaram a primeira aula inaugural. Ela aconteceu no Teatro Carlos Gomes e estava levaria os estudantes ao ensino superior. O desafio exigiu esforço e coragem. repleta de interessados que tinham feito o vesHavia três salas de aula disponíveis na esco- tibular. Foi neste momento que o construtor do la e o grupo decidiu iniciar a faculdade nelas, atual prédio da faculdade telefonou para Anselno período noturno. Inicialmente a instituição mo. “Ele me ligou e disse que o Samae não havia oferecia os cursos de administração, Secreta- ligado a água no prédio, e no dia seguinte nós iríriado Executivo Bilíngue e Turismo. “Muitos amos para a nova sede. Diante disso, não consediziam que não conseguiríamos competir com guiríamos levar os alunos para lá. Tive que dizer as demais instituições, mas eu sempre disse: que todos teriam uma folga de dois dias”, relem‘Não queremos ser os maiores, queremos ser bra Anselmo. os melhores”, comenta Anselmo com entu-
Foto de um dos primeiros vestibulares do antigo IBES Sociesc. Da esquerda para direita: Pietro Paladini (fundador da Informare), Claudionor Silveira (fundador do sistema Unimestre), Anselmo Medeiros (fundador do IBES/sistema Unimestre), Jerusa Schroeder (secretária acadêmica), Valdecir Mengarda (fundador do IBES/sistema Unimestre), Adilvo Andreazza (fundador do IBES/sistema Unimestre)
ONDE TUDO COMECOU: O PIONEIRISMO EM BLUMENAU
Fachada do IBES Sociesc (2004)
Em 2004, após sua fundação, a faculdade deu um importante salto para a educação na cidade de Blumenau. O IBES tornou-se pioneiro na cidade com um curso superior de Jornalismo. A profissão já era consolidada na cidade, porém a maioria dos profissionais que atuavam na área não tinham formação e acabavam deslocando-se para outras cidades atrás de conhecimento. “Foi então que percebemos a possibilidade de abrir o mercado de comunicação na cidade”, explica Anselmo. Anselmo conta que este era um sonho particular dos sócios e para ele especialmente, pois tinha uma proximidade com a área desde os anos 1990 quando apresentou por quase nove anos o programa “Educação em Debate”, na TV Galega, de Blumenau (SC). Além de ter sido radialista aos domingos na época da faculdade de Filosofia, que cursou na cidade de Brusque (SC). “Não sou formado em comunicação, estive na área de metido mesmo. Aprendi o que sei aos trancos e barrancos e acabei me apaixonando pela área”, confessa. Na época havia no IBES um projeto integrado de três cursos de comunicação que eram Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Jornalismo. Porém, o curso de Relações Públicas acabou não vingando, permanecendo apenas os outros dois cursos. “Rela-
ções públicas não emplacou pois os jornalistas ocupavam a área - sempre houve esta disputa de mercado. Eu, particularmente, tinha o sonho de sermos pioneiros em jornalismo na cidade, por já ter proximidade com o âmbito da profissão”. Anselmo que complementa que os cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo sempre andaram juntos. “Eles tinham uma grade integrada e sempre deram certo, até os dias de hoje”, conta. Anselmo lembra ainda da estrutura inicial dos cursos de comunicação. “Na época, a faculdade era menor. Nós tínhamos uma convivência muito próxima com os alunos e essa era uma das características da nossa faculdade. Eles se sentiam em casa, era um clima muito bom.” Com o tempo, a estrutura dos cursos foi evoluindo, os laboratórios não eram como são atualmente e a grade dos cursos também passou por diversas modificações. Carlos Fernandes Caniceiro, responsável pelo projeto dos cursos de comunicação do antigo IBES, lembra que a ideia surgiu em um momento de expansão das faculdades na área, e da importância disso para Blumenau. “No final dos anos 90, quando fiz mestrado em comunicação, havia apenas 18 graduações na área em todo país. E pós-graduação, mestrado e doutorado em comunicação só tinha na USP, em São Paulo.” De acordo com ele foi no ano 2000 que iniciou-se uma expansão para 600 cursos na área 26
de comunicação no país. Por acaso, enquanto ele fazia um projeto em Joaçaba (SC) foi chamado para ajudar em Blumenau, no então IBES. Acabou que com o projeto e a criação da formação, a área foi profissionalizada e o mercado ampliado no município. “Afinal, o curso gera uma demanda, profissionaliza o mercado e cria vagas, o que foi evidente em Blumenau”, explica Carlos. Daniela Jaques, representante comercial há 12 anos, e estudante da primeira turma que se formou em Publicidade e Propaganda conta como foi na época. “Começamos em duas turmas de 50 pessoas, logo no terceiro semestre alguns trocaram de curso, de universidade ou acabaram desistindo, viramos uma única turma de 60 alunos, no final 13 se formaram. Tivemos uma relação maravilhosa com os professores e a parte educacional da faculdade foi ótima”, comenta.
Foto da primeira turma de publicidade e propaganda em 2008/Divulgação
Aluno da primeira turma de Jornalismo do IBES, hoje coordenador regional da NSC TV em Blumenau, Everton Siemann lembra do início da sua graduação. “Começamos com 40 alunos de Jornalismo e formamos em 17 pessoas, a maioria já atuava da área da comunicação”, comenta. Everton lembra com carinho do primeiro dia de aula. “Eu tinha 21 anos e o primeiro dia de aula foi algo marcante para mim. Desde pequeno sempre quis ser jornalista e pude presenciao o falecido Fernando Arteche entrar na sala e dar aula para a minha turma”, ressalta. Fernando Arteche Hamilton foi professor na instituição e âncora do Jornal de Almoço em Blumenau por 15 anos, na antiga RBS. O aluno da primeira turma lembra ainda dos desafios e dificuldades encontrados na época. “No início sofremos bastante com os equipamentos, eu lembro que as primeiras máquinas fotográficas que tivemos contato foram as máquinas de filme.” Neste primeiro momento as turmas aprenderam a revelar filmes e posteriormente - nos últimos dois meses de curso - chegaram as máquinas digitais na faculdade. SendopioneiranojornalismoemBlumenau,afaculdadeseguiuahistóriadacomunicaçãonacidade e foi responsável pela formação da maioria dos profissionais do município. Anselmo lembra dos desafios da estruturação inicial do curso. “Dianteda realidadeda falta degraduação na cidade,tivemos dificuldade para encontrar os primeiros professores. Por isso, acabamos formando alguns dos nossos tutores.” Os sócios resolveram o problema inicial contratando profissionais que tinham titulações em outras áreas como letras, por exemplo, que passaram a dar aula de redação jornalística. Além disso, 27
Foto da primeira turma de jornalismo em 2008/Divulgação
tiveram os primeiros professores já formados fissionais da época e Anselmo fala disso com jornalistas, como o falecido Fernando Arteche orgulho. “Como sou um consumidor de notíHamilton que foi o primeiro mestre da instituicias, hoje fico mudando as estações do rádio ção. Hoje, Arteche tem seu nome homenageae ouvindo os meninos que se formaram com a do na denominação do estúdio dos cursos de gente, que são profissionais de altíssima qualicomunicação da faculdade, pois foi o primeiro dade, comprometidos com a boa comunicação. coordenador do curso de jornalismo. “Após a Isso me dá um orgulho muito grande.” contratação de professores formados em ou Anselmo lembra que desde o início e tras faculdades, abrimos imediatamente uma até os tempos atuais, com uma grade integrapós-graduação na área para criar a nossa próda, os cursos de comunicação formaram alunos pria equipe”, explica Anselmo. ativos através da multidisciplinaridade. “Algo Como estratéque lembro bem é que as gia, o curso tinha par- O MUNDO É COMUNICAÇÃO, turmas de comunicação TUDO É COMUNICAÇÃO. ceria com diversos veísempre foram conhecidas ANSELMO MEDEIROS culos de comunicação, por serem as turmas que onde eram fornecidas bolsas de estudos para falavam bastante. E nós entendemos isso como que os funcionários pudessem ingressar nos uma força indispensável para a faculdade. Eles cursos de jornalismo e publicidade e propagansão muito críticos. Além disso, os estudantes da. Esta realidade auxiliou a formação dos prode comunicação participavam ativamente das atividades da faculdade, e criavam comissões importantes para a instituição”, enfatiza. Um dos focos dos cursos de comunicação, logo após a fundação, foi o incentivo ao empreendedorismo nos alunos. Com uma visão de futuro, em 2006 o curso já incentivava os acadêmicos a empreenderem, pois naquele momento o mercado da comunicação já sofria mudanças. Por conta disso, atualmente existem muitas iniciativas empreendedoras na cidade que estão ganhando espaço no Everton Siemann segurando uma câmera no antigo IBES SOCIESC mercado. Assim, muito cedo a faculdaAcervo pessoal
de percebeu que o empreendedorismo se tor- faculdade - passando a chamar-se UniSociesc. naria uma ferramenta importante de trabalho Após lembrar toda a sua trajetória com a fapara os estudantes e até de sobrevivência para culdade, Anselmo finaliza. “Me sinto honrado, tenho um orgulho os profissionais da área que buscam um meio O NOSSO MAIOR ORGULHO COMO muito grande de ter de trabalho. GESTORES ESTÁ NO FATO DE QUE A participado deste pro Além disso, com CIDADE ACABOU FORMANDO SEUS cesso histórico e de ter tantas mudanças e no- PRÓPRIOS JORNALISTAS ATRAVÉS DO começado o curso de Jornalismo na cidade. vidades, existe uma IBES grande possibilidade para os agentes da co- O nosso maior orgulho como gestores está no municação. “Hoje, pelo menos 50% dos alunos fato de que a cidade acabou formando seus próformados não atuam na área, e as competên- prios jornalistas através do IBES”, finaliza. cias desses profissionais ampliaram-se de maneira significativa” ressalta Anselmo. E é para esta realidade que a faculdade vêm formando, capacitando e preparando profissionais desde muito cedo. Pela importância da comunicação, Anselmo lembra que a preocupação com o ensino sempre teve destaque. “A comunicação é uma área muito sedutora e fantástica, além da sua importância para o país. Aliás, um povo sem informação não é um povo cidadão. Não conseguimos construir a cidadania sem uma imprensa livre e sem uma boa formação. O mundo é comunicação, tudo é comunicação.” Em 2007 o grupo de educadores vendeu a faculdade que passou a integrar o grupo Sociesc. “Em sete anos criamos a faculdade, aprovamos 16 cursos superiores no Ministério da Educação (MEC) e a entregamos com 1.700 alunos”, ressalta Anselmo. Em 2017 a instituição foi vendida novamente, desta vez para o grupo nima - atual gestor da Manchete do Jornal de Santa Catarina (2007)
A HISTÓRIA DOS PROJETOS POR TRÁS DA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA COMUNICAÇÃO Durante a trajetória na faculdade, os alunos de comunicação da UniSociesc passam por diversos desafios e projetos que agregam o portfólio e a formação de profissionais mais competentes e preparados para enfrentar os obstáculos que o mercado de trabalho impõe. Na instituição, os trabalhos interdisciplinares ganham destaque. Visto que a faculdade é uma das únicas de Blumenau que trabalha com esse tipo de metodologia, ou seja, faz a junção de várias disciplinas para fazer um projeto em conjunto. Entre estes projetos está o Festival Interdisciplinar de Comunicação, mais conhecido como ICOM. O evento acontece todos os anos e deriva das semanas acadêmicas tradicionais de todos os cursos, que na instituição era conhecido como Festival de Comunicação e Artes (FECA), desenvolvido para ser a semana acadêmica dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Samir Dalfovo, atual coordenador dos cursos de jornalismo e publicidade e propaganda na UniSociesc, explica que o festival nasceu de uma reunião com todos os professores. “Na época, em 2007, o Fernando Arteche Hamilton ainda era o coordenador de jornalismo e a Ana 29
Cláudia Knoll Zoschke era coordenadora de publicidade e propaganda, e eu era professor dos dois cursos. Debatemos sobre o FECA, que era o festival dos cursos até o momento, e abordamos o fato de ele estar com uma baixa adesão por parte dos alunos”, conta o coordenador. Samir lembra que a conversa chegou ao nome de SIECOM, que seria um congresso de iniciação científica, mas, a proposta não progrediu, já que os alunos necessitavam escolher e saber o que eles querem fazer no seu festival. “FECA, SIECOM e FICO, que, posteriormente virou o ICOM e se tornou esse evento que vem crescendo ano a ano fazendo a integração com o mercado”, explica Samir emocionado. A professora e uma das idealizadoras do evento, Gisele Baumgarten Rosumek também conta que, os coordenadores dos cursos na época, decidiram que os alunos deveriam organizar e executar o festival para criar autonomia e mais conhecimento aos futuros profissionais da área. Portanto, a turma de 2007 planejou e em 2008 foi realizado o primeiro ICOM na instituição. “O evento sempre primou pela ampliação da compreensão dos acadêmicos sobre o mercado de comunicação, bem como a ampliação da compreensão da comunidade em geral sobre o papel e a forma de atuação do profissional na sociedade”, explica a professora. O festival, que utiliza a metodologia interdisciplinar na construção de um exercício prático de aplicação de conteúdos desenvolvidos em sala de aula, tem o objetivo de proporcionar um momento de geração de conhecimento e socialização. “Nós sempre pensamos que o evento teria que ser aberto a todos, permitisse ser gratuito para que todos pudessem participar, e trazendo novos aprendizados para os alunos e demais participantes”, lembra Samir. Em 2019 o projeto é coordenado pela professora Cynthia Hansen, contando com uma reformulação pensada a partir dos novos desafios e competências que o mercado impõe aos futuros profissionais da comunicação. Abordando aspectos de uma transformação no meio da comunicação em âmbito geral, adequando e moldando as novas vertentes necessárias para se adaptar ao mercado de trabalho.
Outro projeto que faz sucesso entre os futuros profissionais é o .Mov – Mostra nima de Curta Metragem. O projeto foi originalmente idealizado pela professora Marta Brod e executado em conjunto com as turmas de comunicação social do 7º semestre em 2017 sob o nome de .Mov - que é a extensão de um vídeo quando é salvo em um computador. “Quando eu retornei do mestrado, eu acabei lecionando uma disciplina de Produção de TV. Na época, para finalizar a disciplina, a gente precisava aplicar um projeto e foi assim que o .Mov nasceu”, declara a professora. Marta também comenta que desde o início o projeto tem como objetivo dar autonomia para os alunos na criação e produção do evento. “A ideia é que eles coloquem em prática tudo o que foi aprendido ao longo do semestre na disciplina de produção audiovisual”, explica. Inicialmente, o projeto era destinado somente aos alunos da UniSociesc Blumenau, mas, em 2018, foi aberta as inscrições para todas as instituições do grupo Ânima Educação, além das instituições de ensino superior do Vale do Itajaí, e passou a adotar o nome de .Mov. Entre os inúmero projetos da instituição, a Maratona Criativa também se destaca por sua irreverência e a apresentação de situações reais 30
Primeira edição da Maratona Criativa/Divulgação
do mercado de trabalho. “A ideia surgiu em 2011, que, após uma conversa com vários professores, nós lembramos que o Colégio Universitário - de onde o antigo IBES surgiu - fazia uma gincana da madrugada com os alunos. Depois todos foram dando ideias até chegarmos no nome”, conta Gisele Baumgarten Rosumek. A professora lembra que nas primeiras edições a maratona envolvia somente o curso de publicidade e a partir de 2015 é que foi integrado, também, os acadêmicos de jornalismo. “A Maratona Criativa é um evento que acontece durante o período noturno, nas dependências da UniSociesc. Os alunos se reúnem e discutem sobre a proposta que será apresentada para um cliente real, indicado pela instituição”, explica. A proposta é que os alunos possam pôr em prática o que estão aprendendo em sala de aula, a partir de uma situação real de mercado. “O desafio é criar uma campanha, literalmente, da noite para o dia”, ressalta. As equipes têm doze horas para elaborar uma campanha de comunicação para o cliente indicado. Ao final do período, o projeto
é apresentado a um corpo de jurados definidos pela organização do evento para avaliação, que rende premiação simbólica para a equipe vencedora. Um projeto que chamou a atenção em 2018, foi a exposição fotográfica “A Voz Delas”, promovida pelo cursos de jornalismo e publicidade e propaganda da instituição. O projeto foi idealizado pelas professoras Denise Sapelli, Marta Brod, Alessandra Meinicke, Gisele Baumgarten Rosumek, Ana Cláudia Knoll Zoschke e Eumar Francisco da Silva, que orientaram os alunos numa exposição física e virtual reunindo, ao total, cerca de 80 mulheres que fizeram parte da história do jornalismo no Vale do Itajaí. O projeto teve como objetivo evidenciar a importância da mulher no meio jornalístico. “Os professores e acadêmicos fizeram um resgate histórico de mulheres que fizeram história no jornalismo e continuam exercendo essa profissão. Através de uma exposição fotográfica, unindo os alunos de jornalismo e da publicidade conseguimos contar as histórias dessas mulheres que tanto fizeram pela comunicação”, finaliza Marta.
Foto da abertura da exposição fotográfica A Voz Delas/ Acervo pessoal
A TRANSFORMAÇÃO DA COMUNICAÇÃO
Foto realizada no ano de 2019 na UniSociesc com professores da instituição/ Divulgação
petências que querem formar no aluno”, ressal A proximidade e interdisciplinaridade ta Samir. dos cursos de jornalismo e publicidade, mos O mercado está cada vez mais tra que as formas de se comunicar e de se relaexigente e com isso a instituição vê que cionar também mudaram, não só na profissão, é preciso adaptar-se a essas mudanças. mas também no ambiente acadêmico. Tudo Eumar Francisco da Silva, que leciona na acontece num piscar de olhos e é preciso que instituição há 10 anos, o profissional da comuniVAMOS QUERER QUE conta que antigamencação esteja atento a es- NÃO sas mudanças. Pensando TODO MUNDO SEJA UM ALBERT te a metodologia era nisso, a UniSociesc sempre EINSTEIN DA ÁREA DE CIÊNCIAS, muito voltada para a decorar, fapreocupada em inovar e MAS NÃO É SÓ DE EINSTEIN QUE leitura, VIVE A CIÊNCIA. zer provas e prestar melhor preparar o profisEUMAR FRANCISCO SILVA exames, mas que atusional para o mercado de almente se tem um trabalho, busca incorporar diálogo. “O estudante tem maior abertura diferentes metodologias aplicadas em sala. para se expor e mostrar o que sabe. Os novos Além dos projetos interdisciplinares, a atenção métodos buscam explorar o potencial de vem sendo direcionada para aulas, inserindo cada um e é esse o objetivo.” Eumar expliatividades práticas com dinâmicas atuais, ca ainda que cada pessoa possui uma baaproximando com a realidade dos alunos. gagem cultural e absorve a informação de Além disso os cursos de jormaneiras diferentes. Enquanto uma pessoa nalismo e publicidade também aprende mais ouvindo, outra adquiri mais adotaram uma nova grade, com disciplinas informações observado ou até mesmo sozinho e que pensem nas competências e habilidades praticando. Esses novos métodos adotados pela dos alunos. “A adaptação das grades é um proUniSociesc visam agregar e modelar ainda mais cesso contínuo. Nos cursos de comunicação o desenvolvimento de cada estudante. “Não temos um grupo de professores chamado Núvamos querer que todo mundo seja um Albert cleo do Centro Estruturante (NDE) que pensa Einstein da área de Ciências, mas não é só de estrategicamente no curso, na grade, nas com32
Albert Einstein que vive a Ciência”, brinca Eumar. Além das mudanças no mercado que transformaram a metodologia dentro da instituição, houve sempre a preocupação em manter os estudantes atualizados proporcionando uma melhor experiência para quando chegarem na área de trabalho. Os professores estão sempre atentos em avisar sobre oportunidades na área, dando dicas sobre cursos onlines e gratuitos, projetos de extensão e palestras organizadas pela própria instituição. Anna Carolina Clasen Anesi de Novaes Dutra Coirolo, que atualmente faz parte da equipe que compõe a UniSociesc, conta que se formou em Publicidade e Propaganda há um ano e diz que a faculdade auxiliou neste processo. “Na hora do ‘vamos ver’ não tem ninguém para pedir ajuda. Mas, a faculdade sempre te capacita para passar por cima desses dilemas. Lembro muito de usar o que aprendi nas aulas e pensar, ‘o que determinado professor faria na minha situação?’ e isso me ajuda a resolver certas situações”, desabafa. Hoje o profissional de comunicação precisa estar inteirado em todos os pro-
cessos. Essa realidade nem sempre foi assim, a publicidade e propaganda e o jornalismo andavam separados. O profissional que se formava em jornalismo não tinha o conhecimento por completo do que o profissional em publicidade praticava. Atualmente, se tem a necessidade de que as duas vertentes andem juntas. Uma área complementa a outra e as duas unidas formam uma comunicação eficaz para atingir os objetivos e o público final. No decorrer desses 15 anos de comunicação a instituição sempre buscou adaptar-se ao mercado trazendo novos projetos, metodologias, agregando ainda mais as aulas desenvolvidas em sala. Embora essas mudanças transformem os meios nos quais estamos inseridos, uma base sólida e construída por amor de profissionais que tem paixão pela educação jamais perderá sua essência. Dentro da faculdade não vivem apenas estudantes que buscam se qualificar e obter um certificado. Existem colaboradores, pais, mães, professores que olham para a UniSociesc como se fosse a sua segunda casa. São pessoas que buscam transformar o mundo através da educação e se sentem na obrigação de cuidar de um lar onde passam os principais - e melhores - anos de sua vida.
Foto realizada no ano de 2019 na UniSociesc com alunos, egressos e professores da instituição/ Divulgação
INOVAÇÃO
O novo consumidor e a publicidade da experiência
Por Olga Helena
Ao longo dos anos, profissionais do mercado de comunicação vêm se moldando para atender as exigências dos clientes. Bem mais do que vender, o importante agora é provocar a experiência
C
omo tantas outras áreas, a publicidade vem passando por grandes mudanças, principalmente em sua relação com o consumidor. Desde o desaparecimento dos artesãos nos tempos feudais, graças à Revolução Industrial, a padronização sistemática e a produção em massa tornaram a propaganda fundamental. A partir daí, transformar determinado produto em um desejo para as pessoas passou a ser uma das principais preocupações dos publicitários. Entretanto, assim como as tecnologias de produção se modificaram, o consumidor também mudou, evoluiu e se transformou. Atualmente, saber onde, como e quando o produto de interesse foi produzido se tornou vital para a sua fidelização. Com o crescimento de vários mercados, trabalhar uma comunicação transparente entre marca, fornecedores e compradores nunca foi tão importante. Para falar sobre o tema, a Revista Interessa buscou a opinião da doutora em comunicação Cynthia Hansen. Ela é professora do ensino superior na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e da faculdade UniSociesc de Blumenau.
INOVAÇÃO
REVISTA INTERESSA O que a publicidade faz para se adequar aos novos modelos de comunicação e sociedade? Cynthia Hansen A propaganda pela propaganda, ela não chama mais a atenção de ninguém. Estamos em uma era de relevância e de reputação, ou seja, o que realmente importa e quem está falando isso?! A comunicação com fins mercadológicos, de promoção ou institucional, precisa ter muita consistência. E para eu falar algo relevante, eu preciso entender as pessoas, suas crenças, seus valores e seus hábitos. Porque eu só consigo criar um laço com alguém conhecendo ela. Então, o que eu vejo é que o profissional precisa compreender mais profundamente as pessoas.
mais uma na multidão. As ações que têm reverberado são aquelas que trazem uma mensagem, além do óbvio, que é vender o produto. As marcas têm que ter um propósito por trás do que estão fazendo. RI Qual a relevância do posicionamento para as marcas? CH Eu não posso mais ser a empresa sem posicionamento, aquela que está em cima do muro e que não diz nem que sim, nem que não. Eu tenho que dizer, “olha, eu estou aqui, eu acredito nisso”, então, você tem que assumir uma posição. Todo esse processo tem uma consequência, quando você se assume em um lugar, está deixando outro aberto. Até porque você não pode ocupar dois lugares ao mesmo tempo. Eu tenho observado que as marcas que têm impactado profundamente o consumidor estão baseadas em um propósito. Hoje, qualquer marca que não tenha de dentro para fora um propósito vai ter bem mais dificuldades para criar conexões com as pessoas. E tenha certeza que se o consumidor tiver que escolher entre uma marca que se preocupa com algo e outra que não, ele vai escolher pela que tem mais a oferecer.
RI Então, na sua opinião, criar identificação com o cliente é fundamental para a marca? CH Sim. Creio que as pesquisas etnográficas estão aí para isso. A marca precisa fazer com que o cliente se sinta refletido naquilo. Se não houver esse processo de identificação, essa comunicação não vai chegar onde ela precisa. É nesse sentido que eu digo que propaganda pela propaganda não resolve mais muita coisa. RI Qual a importância da integração das habilidades de comunicação para a publicidade? CH Para o profissional ter um conteúdo consistente ele precisa do jornalista, pois é ele que sabe da consistência do conteúdo, das fontes, trazer uma informação robusta e confiável para, assim, trazer a relevância. É imprescindível, também, cuidar da reputação da marca, e aí entra o RP - relações públicas - , que constrói esse relacionamento, o mantém e a nutre (a reputação).
RI Qual a sua visão sobre todas essas mudanças? CH Eu tenho esperança neste novo tipo de comunicação, pois ele é mais acolhedor, não expõe os seus defeitos e te vende algo para escondê-los. É uma comunicação que traça seus limites e imperfeições sem se preocupar em mudá-las. A publicidade tem esse efeito de influência, afinal, olha o quanto já se discutiu no mundo sobre aparência nas propagandas e comunicação com as massas. Hoje, a gente vê alguns estereótipos sendo quebrados, e isso é o início da abertura para a reflexão sobre eles. A publicidade provoca reflexão, ou pelo menos a boa comunicação deveria provocar. A publicidade não é mais mandar no outro, “compre isso, vista aquilo”, ela é acolher, “aqui tem lugar para você”.
RI Como acontece a relação de empatia nos novos modelos de propaganda e na comunicação com o consumidor? CH Não basta ser simpático, não é isso que as pessoas estão buscando. Elas procuram quem entende suas frustrações, angústias, desejos e a comunicação da propaganda, pura e simples, elas podem ali no meio ter uma mensagem muito incrível, ou não, podem ser somente 35
Imagem: Pexels.com
INOVAÇÃO
Criatividade, inovação e marketing: o crescimento das empresas a partir da imagem Por Larissa Segatte
Imagem: Pexels.com
Entenda a importância do setor de marketing dentro de uma organização
R
aul Seixas sempre dizia que a desobediência era uma virtude necessária à criatividade. E se você pensar sobre o assunto, faz todo o sentido. Algumas pessoas possuem essa predisposição de tomar atitudes diferentes das que foram impostas. É uma inquietude da alma e do coração de quem adora se reinventar e sair do comum. Mas afinal, você sabe definir qual a diferença entre criatividade e inovação? Aliás, você sabe como as empresas estão se adaptando no mercado de trabalho? A criatividade é o primeiro passo para pensar diferente e que lá no final resultará na inovação. A inovação, por sua vez, seria a execução bem sucedida de ideias. Termos semelhantes? Podemos dizer que sim, mas as suas finalidades são aplicadas de formas diferentes. Por exemplo: podemos trabalhar em uma determinada organização, a qual é bombardeada por ideias criativas de seus
colaboradores. Porém, se esta entidade não executar as informações, além de prejudicar a empresa por não aderir às ideias, ela acaba não inovando. Durante a crise de 2014, muitos estabelecimentos viram a oportunidade de se reinventar. Enquanto muitos países estavam se recuperando da recessão de 2008, o Brasil já mostrava um declínio significativo na economia. Corporações fecharam, a demissão em massa era iminente, os juros subiam e as empresas precisavam se manter no mercado ou então declarar falência. Fugir do comum foi uma das saídas para que elas não tivessem de fechar suas portas. Nesse momento, os influenciadores começaram a atrair os olhares de empresários, e a partir disso, o setor de marketing viu uma oportunidade de crescimento. Hoje, o mercado está cheio de negócios inovadores que buscam cada vez mais seu lugar ao sol. É o caso da Contax, empresa de con36
INOVAÇÃO
YouTube, Netflix, e por aí vai. Sim, as plataformas digitais estão cada vez mais dominando o mundo. Se antes uma publicidade ou uma notícia demorava de cinco minutos a meia hora para aparecer na sua televisão, atualmente isso acontece em questão de segundos na tela do celular. Vivendo em um mundo tão digital, somos bombardeados de informações a todo segundo. Cada vez mais, jornais, revistas, emissoras de televisão e rádio estão migrando para o digital. São desde revistas online, plataformas de streaming, podcasts, entre outros conteúdos que facilitam a vida de quem vive na correria, até aquela tradicional novela tão aclamada e perdida por conta de um compromisso e que pode ser assistida em uma plataforma online a qualquer momento. A comunicação vem se adaptando para melhor atender quem está do outro lado. Os influenciadores e youtubers vêm para agregar ainda mais nesse processo. Ações de marketing e o fortalecimento da imagem com a mídia vêm caminhando cada vez mais juntos. Se antes o impacto de ver um outdoor com um prato de comida te deixava com água na boca, hoje, ver um influenciador postar que está no McDonald’s comendo um fast food instiga ainda mais os seguidores a experimentarem um lanche. Ana ainda explica que dentro da Contax ainda não estudaram essa possibilidade de trabalho com influenciadores, pois a ideia precisa ser bem segmentada e voltada para área. “Ainda não pensamos nesse relacionamento. É preciso estudar detalhadamente e buscar influenciadores que se enquadrem”. Ana Paula ainda complementa que para obter retorno nas ações de marketing é preciso ter paciência. “É um trabalho que demanda tempo, é um investimento a longo prazo que você começa a colher resultados lá no final. Hoje, podemos dizer que estamos começando a colher os resultados positivos de um projeto de marketing que começou alguns anos atrás”. Para se traçar um caminho da criatividade à inovação, é preciso dar aquele primeiro passo. Dessa maneira, com bons relacionamentos e uma boa comunicação, todos colherão seus frutos ao final do processo.
tabilidade de Blumenau. Ativa no mercado há 14 anos, ela vem crescendo consideravelmente no setor de marketing. Para muitos, pode até parecer diferente uma contabilidade possuir um departamento voltado para essas atividades, entretanto, a cada ano a necessidade de se comunicar e de fazer isso de maneira correta vem envolvendo muitas empresas e conectando o mundo. Ana Paula Ferreira, que atua na área do marketing dentro da Contax Contabilidade, explica de onde surgiu a iniciativa do setor dentro da empresa. “Ter uma área de marketing dentro da Contax nasceu com a necessidade de crescer no meio digital e com isso buscaram-se formas e profissionais que trouxessem isso para eles”. Ana é formada em Jornalismo pela Unisociesc desde 2017 e faz parte da Contax há três anos. A sua chegada na empresa transformou a comunicação de uma forma geral. Sozinha, ela atua nos planejamentos de eventos externos e internos, ações num âmbito geral, produção de conteúdo para redes sociais e site, clipping de notícias, postagens, edições de artes e vídeos, além de prestar auxílio para uma assessoria de comunicação externa. A atuação do marketing vem crescendo consideravelmente dentro de muitas empresas, englobando toda área de comunicação. Porém, é importante ressaltar que ambos não possuem o mesmo objetivo. Enquanto o marketing visa vender, a comunicação tem o intuito de reforçar a imagem de uma empresa sem ter retorno concreto em vendas, mas sim em visibilidade e engajamento. Ações de endomarketing fortalecem ainda mais a participação de colaboradores, transformando assim a equipe em consumidores e divulgadores de seu próprio trabalho. “Temos muitas ações sociais e prezamos muito por isso. Quando fazemos a gincana interna nosso intuito é arrecadar itens e também pedimos muitas coisas para o público, clientes, amigos e isso é muito bom, todos ajudam”, ressalta Ana. Jornais, revistas, televisão e rádio. O que todos esses meios de comunicação têm em comum? Aliás, acho que esquecemos de citar alguns nomes na lista acima... temos também Facebook, Instagram, Whatsapp, Spotify,
37
INOVAÇÃO
Os novos ares das ondas hertzianas
Por Lucas Lemes Gavião
Sobrevivente de algumas inovações que o condenavam ao seu fim, o rádio tem, em seu mais recente concorrente, um grande aliado
A
tecnologia é um dos principais fatores a ditar os rumos da comunicação. Os padrões de sempre possuem sua audiência intocável, contudo é cada vez mais comum alguém abrir o YouTube e encontrar um canal de alguma emissora de televisão famosa que quebra, destrói e explode com o ritmo e o formato adotados pelos programas tradicionais transmitidos na TV. Às vezes, a mesma informação é passada em ambos os meios, porém o estilo, a linguagem e a abordagem fazem tanta diferença que o mesmo fato parece outro ao trocar sua roupagem. Há quem goste do primeiro método, entretanto, o público do segundo está gradativamente aumentando. O crescimento da internet como um meio de comunicação que abrange áudio, vídeo e texto, fez com que os meios tradicionais tivessem de se mexer. E eles se mexeram! Novos formatos e novas linguagens estão sendo experimentadas tanto no ambiente online como nos próprios espaços tradicionais, mas claro, sem perder suas identidades. Nesse meio, o rádio não só manteve como ampliou sua força, pelo menos é o que diz Evelásio Vieira Neto, professor universitário e gerente da Rádio Clube de Blumenau: “A revolução tecnológica abriu novas perspectivas para o rádio, fortalecendo sua capacidade de aglutinar informações e transmiti-las para milhares de ouvintes via analógica ou digital. Hoje o rádio é muito mais forte e amplo que há 20 anos”, explica. A convergência digital trouxe novas oportunidades para o meio e as emissoras souberam como tirar proveito disso. Sem perder suas características intrínsecas, a linguagem do rádio está sofrendo adaptações para atender as necessidades de sua audiência em outras plataformas, por exemplo, nas rádios online e nos streamings em redes sociais, mas o professor afirma que “essa adaptação não deve ser feita de forma instantânea, pois se tratam de mídias diferentes”. Além da linguagem, houve o surgimento de uma demanda por novos formatos capazes de informar sobre temas específicos e suscitar debates e discussões que iniciem no rádio e continuem na internet. Apesar disso, Evelásio avalia que “a relevância do rádio não é alterada na questão de impacto e convencimento quando a mensagem é bem construída e dirigida ao público certo”, defendendo também que “o rádio faz o que a internet faz, mas tudo com a validade de ter sido testado, ter crédito e prestígio de marca”. Todavia, a comodidade trazida pela evolução da internet tem seus contras. O professor pontua que “ao mesmo tempo que ganhou relevância e novos pontos de impacto, o profissional de comunicação no rádio ficou mais distante do cotidiano das pessoas e da cidade”. O fato de ter tudo o que precisa ao alcance da conexão de internet mais próxima afastou um pouco o jornalista de uma das funções que mais lhe é cara na profissão: a apuração acurada e precisa que lhe confere a credibilidade de quem está nas ruas cobrindo o que acontece. O rádio continua fazendo o que fez desde que seu posto foi desafiado pela primeira vez: ele está se adaptando. A internet, apesar de marcar o seu espaço, não foi egoísta, e trouxe consigo uma série de ferramentas para os meios tradicionais de comunicação. Segundo Evelásio, o radiojornalismo captou a demanda de seu público e continua trazendo conteúdo relevante que as pessoas buscam e confiam. Aos profissionais, recomenda-se não caírem na tentação de utilizarem as novas tecnologias apenas para seu próprio conforto, mas sim para gerarem cada vez mais informação qualificada para o ouvinte. 38
Ilustrações: Freepik.com
MARKETING DIGITAL
A publicidade que irrita
C
Imagem: Pexels.com Por Eduarda Prawucki
A importância de alinhar dados e pesquisas para produzir uma publicidade prazerosa para o cliente
omerciais de televisão, anúncios na web, patrocínios nas redes sociais. Existem diversas formas de mostrar a sua marca, falar sobre a essência da empresa ou vender o seu produto. Com apenas uma pesquisa na internet, você tem acesso a tutoriais de como patrocinar postagens nas redes sociais. Facilidade ou armadilha? Com o crescimento da internet, a agilidade de expor conteúdo publicitário aumentou, mas a possibilidade do público-alvo não ser atingido é grande. Um comercial de cinco segundos no Youtube, um banner em um site ou um comercial na televisão podem irritar o usuário quando não forem bem direcionados. Propagandas de fraldas para quem não é mãe, anúncios de fast food para quem é do mundo fitness ou comerciais de hambúrguer para quem é vegetariano representam dinheiro jogado fora, além da probabilidade dos usuários se tornarem haters da sua marca. Essas são algumas das consequências da falta de pesquisa e de conhecimento do público-alvo. Realizar uma pesquisa por meio de empresas especializadas ou utilizar as próprias redes para conhecer o público deve ser o primeiro passo antes de externalizar qualquer tipo de conteúdo da empresa. Onde, como e para quem publicar são perguntas facilmente respondidas depois de uma pesquisa de mercado que resulta em conhecer muito bem o seu público-alvo. Se as vendas de um produto ou serviço diminuem, pode significar uma mudança de comportamento do cliente e ter a resposta do por quê é essencial para construir uma publicidade assertiva. Geolocalização, histórico de navegação e pontos em que o wi-fi foi acessado são meios de segmentar a audiência nas mídias digitais. Todas essas informações vão ajudar as marcas a entregarem uma experiência mais objetiva e interessante ao público. O briefing é apenas o início do processo, depois o conhecimento sobre o comportamento do público, e por fim a compra dos dados. Essa simples, porém trabalhosa apuração resulta na satisfação da equipe responsável pela marca e é o casamento perfeito para a conversão do usuário em cliente.
MARKETING DIGITAL
O novo cenário digital e a adaptação dos conteúdos jornalísticos nas redes sociais
Por: Bruna Gabriela Ziekuhr
Com o avanço das tecnologias, a profissão precisa se adaptar aos novos meios e canais onlines
O
jornalismo é um ramo que passou por constante mutação e desenvolvimento ao longo dos anos. No início, as notícias e informações eram publicadas em jornais e revistas, posteriormente, com o advento das inovações tecnológicas, a profissão obteve fortes vertentes no rádio, na televisão e, principalmente, na internet. As evoluções estabeleceram mudanças e novas formas de trabalho a diversas atividades fazendo com que os profissionais precisassem se readaptar ao novo formato, que se tornou presente e ativo também nas redes sociais. Durante muito tempo, o conteúdo gerado pelos veículos de comunicação não chegava a grande parte da população, já que a maioria não tinha acesso aos meios e canais de veiculação das notícias. Com a criação das mídias digitais, as pessoas passaram a ter mais liberdade para argumentar, questionar e até mesmo produzir o próprio material jornalístico. Consequentemente, as redes sociais e o ambiente online começaram a invadir o jornalismo, fazendo com que os meios de comunicação tradicionais entendessem a necessidade de estar presentes nestes canais. O CEO da Fabulosa Ideia, a primeira agência de social media e relações públicas digital do sul do Brasil, Rafael Terra, conta que as redes sociais não substituem o jornalismo tradicional e que os veículos apenas aproveitaram a oportunidade que o ambiente digital trouxe para a profissão. “Os meios mudaram, mas a essência da profissão continua a mesma: a checagem de fatos. A internet e os meios popularizam as informações, mas a checagem de fatos ainda se faz muito presente, muito mais neste ambiente totalmente online”, pontua Rafael. Rafael explica que hoje a maioria das redações jornalísticas simplesmente publica a notícia no site e posteriormente nas redes sociais, achando que aquilo é a adaptação dos conteúdos.
“Quando você simplesmente coloca um link nesta publicação, você está levando as pessoas à outro link, ou seja, não está adaptando o conteúdo a plataforma em questão”, finaliza o CEO. Desafios do jornalista na era 4.0: entenda como se adaptar às mudanças geradas pelas inovações tecnológicas O jornalista precisa estar atento às novidades do mundo digital e, além disso, ele precisa entender como inserir esse material jornalísticos nas redes sociais. “É possível misturar texto e imagem, vídeos, fotos, infográficos, entre outros recursos que fazem com que o conteúdo seja mais rico e relevante para os leitores, transformando-o em um grande diferencial”, exemplifica Rafael. Os profissionais da imprensa devem ficar atentos às diferenças dos textos nas redes sociais. O CEO gaúcho lembra que os conteúdos feito para a internet devem seguir uma série de passos para que sejam aceitos pelo público e para que também se destaquem em meio a infinidade de informações que circulam na internet. “Os meios mudaram, mas a essência da profissão continua a mesma: a checagem de fatos”
CEO da Fabulosa Ideia, agência de social media e relações públicas digital de Porto Alegre, Rafael Terra. Foto: acervo pessoal
40
ESPORTE
Mulheres e o futebol: uma relação de paixão e preconceito
Por Bruna Evelin e Bruna Gabriela Ziekuhr
No Brasil, apenas 7% das mulheres assinam matérias sobre esportes nas redações
A
tualmente, o público feminino continua lutando para que seus direitos sejam respeitados e, principalmente, que sejam iguais para todos. Nas redações jornalísticas esportivas o cenário não é diferente. Para os que acreditam que futebol e mulher não combinam, o aumento da presença feminina no ambiente esportivo chega para quebrar esse paradigma. Com o crescente número de repórteres mulheres atuando na área esportiva, a editoria deixou de ser exclusivamente masculina. Se no início do jornalismo a mulher ocupava somente editorias consideradas femininas, tais como moda e assuntos relacionados ao âmbito doméstico, hoje ela vem ganhando espaço nos estádios, nas arquibancadas, à beira do gramado ou entre as quatro linhas. A editoria de esporte no Brasil era considerada totalmente masculina até 1962, quando Germana Garilli, a Gegê, se tornou a primeira mulher a exercer o papel de jornalista esportiva e uma das primeiras a se desafiar como repórter de campo no futebol. De lá para cá, a dura realidade dessas repórteres é a mesma: a todo momento precisam driblar a desconfiança sobre sua capacidade enquanto ouvem que o lugar da mulher é em casa e não fazendo matérias sobre esporte. Apesar de serem maioria nas redações atualmente, representando 64% dos comunicadores, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas, apenas 7% das mulheres assinam matérias sobre esportes. A jornalista e apaixonada por futebol, Camile Magalhães, conta que as mulheres eram minoria no jornalismo esportivo e precisavam provar sua competência o tempo todo. “Tínhamos que passar por algumas situações constrangedoras, como entrar em vestiários para fazer as entrevistas, já que muitos times ainda não tinham uma sala de imprensa. Era importante provar a toda hora que entendia mesmo de fu-
Germana Garilli, mais conhecida como Gegê, foi a primeira mulher a ser jornalista esportiva e repórter na beira do gramado/Divulgação
tebol e de outros esportes para ser respeitada no meio esportivo”, relembra. Magalhães conta que o início de sua carreira na editoria esportiva se originou de uma oportunidade proporcionada pelo jornalismo. “Eu era repórter de geral na RBS TV em Jaraguá do Sul. Como fazia muitas vezes matérias relacionadas ao futsal da cidade, muito forte naquela época, acabei me destacando e recebendo a oportunidade de assumir a vaga de editora e repórter de esportes da RBS TV em Joinville”, comenta a jornalista. Desde então, Camile já participou de grandes coberturas. Além disso, a blumenauense já cobriu férias na TV Globo e SporTV no Rio de Janeiro. “Eu participei de coberturas estaduais e nacionais de futebol, futsal, inclusive de transmissões ao vivo de jogos. Também fiz matérias de esportes para telejornais nacionais como Bom Dia Brasil, Globo Esporte, Esporte Espetacular, Ana Maria Braga, Fala Brasil, Jornal da Record e para todos os programas do SporTV e TV Com”, conta com brilhos nos olhos. Com o passar dos anos, muitas mulheres começaram a ocupar o meio esportivo. Nomes como Anna Zimmerman, Glenda Kozlowski, Renata Fan, Fernanda Gentil, entre outras, passa41
ram pela editoria. Entretanto, segundo relatos das próprias jornalistas, conforme elas foram entrando no mercado, o preconceito veio junto. Mesmo com o aumento de mulheres atuando na área, a discriminação ainda é muito latente e presente no dia a dia deste público. “No jornalismo esportivo, seja nas arquibancadas dos estádios brasileiros ou dentro das quatro linhas do campo de futebol, é preciso, dia após dia, que a mulher prove que entende do assunto que está falando”, comenta Camile.
As vozes femininas nas transmissões de futebol
Se nos últimos tempos os telespectadores brasileiros estavam acostumados a ver homens apresentando, narrando e comentando programas esportivos na TV, no ano passado esse cenário esportivo foi completamente diferente. Em 2018, grandes canais esportivos da TV fechada, como ESPN, Fox Sports e Esporte Interativo, tiveram vozes femininas transmitindo e narrando os jogos. O fato de uma mulher narrar e estar à frente dos microfones em jogo de futebol no país não acontecia desde 1999. Diante disso, a jornalista mineira Isabelly Morais entrou para a história da televisão brasileira. Depois de muito tempo, finalmente uma mulher narrou um jogo de Copa do Mundo, que aconteceu no último ano. Isabelly foi a primeira mulher a narrar um gol em um campeonato mundial de futebol, com uma transmissão totalmente feminina, com comentários e narração, na Fox Sports. A jornalista já havia feito história em novembro do ano passado, quando também foi a primeira mulher a narrar um jogo em Minas Gerais, pela rádio Inconfidência.
A mulher no fotojornalismo Esportivo A fotografia é uma arte dinâmica e promissória para os profissionais. Como profissão, é abrangente e existem inúmeras modalidades na área disponível para especialização. Entre elas, está a fotografia esportiva, um gênero que visa registrar atletas, geralmente no momento das competições, eventos e outras performances. Mesmo que nessa profissão a maioria dos fotógrafos sejam homens, as mulheres estão crescendo nessa área também. Infelizmente, mesmo tendo credibilidade, o preconceito contra as profissionais ainda é muito presente. Apesar de serem reconhecidas pelos próprios atletas, a presença mulher no fotojornalismo continua sendo colocada diariamente em debate. Rafaela Martins é fotojornalista e atualmente mora em Florianópolis (SC). Ela descobriu seu amor pela profissão quando conheceu o trabalho do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Assim como o artista, ela queria fotografar a realidade, e foi no fotojornalismo que Rafaela descobriu que isso era possível. Quando tinha pauta nova para cobrir, as desculpas para recusar, não tinham vez. A fotógrafa saía às pressas de onde quer que estivesse, corria para o local anunciado e revela que nem sempre chegava com uma boa recepção de quem já estava por lá. “Muitas vezes não éramos bem-vindas em determinadas pautas, mas tínhamos que mostrar de alguma maneira o que estava acontecendo, 42
“No jornalismo esportivo, seja nas arquibancadas dos estádios brasileiros ou dentro das quatro linhas do campo de futebol, é preciso, dia após dia, que a mulher prove que entende do assunto que está falando”
Atualmente Rafaela Martins é fotógrafa e videomaker para conteúdo visual,mídias sociais e marketing./ Foto: Silvana Tres
Final da Sub-20 na Arena do Grêmio/ Foto: Lucas Cardoso/O cancheiro.
sempre sendo profissional e tentando separar os sentimentos. Como mulher, acredito que ainda existe preconceito, mas temos sempre que nos posicionar e lutar pelo nosso espaço”. Se as histórias e os obstáculos superados por Rafaela já transcreviam o seu amor pela profissão, Julia Galvão, de apenas 20 anos, mostra que já tem uma bagagem de muitas aventuras marcadas pela fotografia esportiva, além de trazer uma outra perspectiva sobre a figura da mulher na profissão. A jovem moradora de Chapecó (SC) começou a fotografar aos 14 anos. Mal sabia ela que as imagens feitas no campo para o time Metropolitano de Blumenau iriam fazer com que hoje ela se tornasse a fotógrafa profissional da equipe de base da chapecoense. Com o tempo, a jovem começou a fazer muitas viagens, conheceu novos times, novos lugares e novas pessoas. Julia afirma que é muito respeitada pelos colegas de trabalho e de outras cidades. “Sempre me respeitaram. Levo meu trabalho a sério e nunca dei abertura para situações, que pudessem gerar preconceito. Mas nunca estamos livres em relação a isso, todo o cuidado é pouco”. Para uma fotojornalista, cada momento é único e enfrentar algumas caras feias e acreditar no seu potencial é uma grande tarefa. Nem sempre as fotos que são tiradas saem do jeitinho que querem, mas vale a tentativa. O importante é que a mulher fotojornalista, independente da modalidade do esporte, esteja pronta para qualquer pauta, pois elas também podem fazer as mesmas funções. Final da Sub-20 na Ressacada / Foto: Rafael Bressan/ Chapecoense.
REGIONAL
A superação e o preconceito: o negro no meio jornalístico
Por Bruna Evelin
Mesmo com as novas políticas adotadas em vários setores, incluindo no espaço jornalístico, ainda há uma perceptível diferença entre o número de comunicadores negros e brancos
Q
uando falamos de jornalistas negros no Brasil, já vêm na memória personalidades como Maju Coutinho, Heraldo Pereira, Zileide Silva, Thiago Oliveira e Glória Maria, que trabalham em alguns dos maiores telejornais do país. Para a grande parte da população, exemplos como esses podem ser usados para o argumento de que “não existe racismo no Brasil”. Entretanto, engana-se quem pensa que apesar de serem conhecidos mundialmente esses jornalistas não enfrentam lutas diárias para conseguir o seu próprio espaço. Apesar do mercado jornalístico estar passando por constantes mudanças causadas pela evolução da tecnologia, ainda é possível verificar que a constituição étnica do meio está presa no tempo. Os brancos são maioria na área da comunicação, embora a população negra esteja em maior número na sociedade brasileira. Segundo pesquisa realizada pelo IBGE em 2014, 53,6 % da população se declara parda e negra. No jornalismo, apenas 23% dos comunicadores são negros ou pardos, enquanto 72% são autodeclarados brancos. Superação O repórter e apresentador da NSC de Florianópolis, Edsoul Amaral, é um dos exemplos no meio de comunicação que temos em Santa Catarina. Ele, assim como muitas pessoas, traz grandes histórias que por vezes são invisíveis aos demais. Sua determinação em mostrar que é possível realizar sonhos começou no hip hop. “Quando eu tinha 10 anos, eu vendia picolé para ajudar em casa, mas o meu amor pela comunicação começou com 11 anos por meio da música, e o rap me preparou para as coisas que viriam pela frente”, conta o jornalista.
Jornalista e apresentador Edsoul Amaral/Arquivo pessoal
REGIONAL
Jornalista e apresentador Edsoul Amaral/Arquivo pessoal
de Santa Catarina, Ed, como é conhecido, também escreve a coluna “Rolê com Edsoul” para o Jornal de Santa Catarina. Além disso, coordenou por sete anos a Central Única das Favelas de Santa Catarina, entidade fundada pelo rapper MV Bill. Entre o talento e a simplicidade que carrega consigo está o segredo do sucesso: “Eu faço duas coisas. Primeiro: pego minha agenda para que a pessoa convidada volte ao programa na cadeira do barbeiro (cadeira do entrevistado). Segundo: Convido os caros ouvintes a sentar e apreciar um bate-papo com um comunicador que põe o povo na TV,” explica o repórter. Edsoul acredita que apesar do preconceito existir, as novas gerações virão bem mais preparadas para lidar não só com o racismo, mas com todo tipo de problema. “Eu ainda sonho com o processo humanitário onde as pessoas não sejam mais julgadas pelo seu tom de pele, mas porque as pessoas estejam onde estão porque conquistaram seu espaço, porque lutaram até o fim pelo seu crescimento, pelo seu sonho”, finaliza Edsoul.
Sempre dedicado no que fazia, Edsoul começou a trabalhar com a mãe que era auxiliar de serviços gerais. Aos 13 anos, começou sua carreira como ator, participando de peças infantis. Formou-se em jornalismo no ano de 1999, mas foi em 2000 que sua vida mudou quando esteve pela primeira vez na TV, apresentando e ganhando o “Garoto Planeta Atlântida” pela antiga RBS de Santa Catarina. Após o evento, o jovem se dedicou a outros trabalhos na periferia, projetos sociais e estudos, porém, em 2011 voltou para a TV, onde reiniciou sua trajetória jornalística na NSC TV - antiga RBS. Em sua volta para o veículo, o repórter trouxe com ele o projeto “Alô, Comunidade”, que proporcionou um grande aumento na audiência da emissora no estado devido ao protagonismo comunitário, no qual as pessoas contavam suas histórias. Através da área de comunicação, o jornalista tem se dedicado a mostrar os aspectos positivos e construtivos das comunidades e periferias. Além de trabalhar como repórter e apresentador em uma das maiores emissoras 45
POLÍTICA
A democratização da comunicação governamental nos últimos 20 anos
Por Alan Gonçalves e Lucas Lemes Gavião
Em duas décadas marcadas pelo surgimentos de novas tecnologias, o governo brasileiro também foi impactado com a necessidade de mudanças em sua comunicação
A
comunicação no Brasil e no mundo mudou muito nos últimos 20 anos, principalmente após a era da internet. A democratização dos meios de comunicação e a forma como os governos usaram e usam das ferramentas midiáticas também sofreram alterações significativas. O objetivo desta matéria é traçar uma linha do tempo para separar as principais conquistas e alterações realizadas no Brasil em relação a comunicação entre a população e os órgãos públicos no período proposto. No ano de 1999, exatos 20 anos atrás, a TV aberta era disparada a plataforma comunicativa mais presente nos lares da população. Na época, o 34º presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso (FHC), estava no exercício de seu segundo mandato. Durante sua campanha em 1994, suas principais aparições foram em canais de televisão, rádios e jornais impressos, a tríplice de veículos informativos que imperava na época. As pessoas julgavam os candidatos por aquilo que lhes era passado em frente às câmeras, por mais que as polêmicas surgissem, bastava uma boa visibilidade em um horário nobre na TV Globo, por exemplo, para ter todos os ouvidos atentos a sua defesa. Pouca coisa mudou em relação a distribuição de sistemas informativos até a chegada da internet. Entre os governos José Sarney (1985 - 1990) e FHC (1995 - 2002) foram implementadas diversas condições de distribuição de radiodifusão no país, as quais eram vistas como democratização da comunicação com foco na esfera política e de interesses sociais. Ao decorrer dos governos, vimos a força que tem as grandes corporações midiáticas que continuam intangíveis até os dias atuais. Nos últimos 20 anos, passaram pela presidência da república Fernando Henrique (1999 - 2002), Lula (2002 - 2010), Dilma Rousseff (2010 - 2016), Michel Temer (2016 - 2018) e Jair Bolsonaro, eleito em 2018. As principais mudanças à se destacar são: A migração das ondas de rádio AM para FM e da TV analógica para a digital, a difusão da internet como meio de comunicação independente, o crescimento das redes sociais e a popularização de plataformas de streaming.
Governo Lula e a utopia da comunicação democratizada A esperança pela total democratização da comunicação continuou na promessa aos brasileiros. Em sua campanha presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o direito a um diálogo mais aberto entre governo e população, além de um plano de comunicação voltado para um lado igualitário. Com uma ligação maior com desfavorecidos grupos sociais, comparado a outros candidatos da época, Lula entendia que o povo queria ter sua voz ouvida. As capas e jornais da época mostravam Lula sempre à frente de grupos trabalhistas como o dos metalúrgicos, a qual ele pertencia, e apoiando movimentos como o Movimento Sem Terra (MST) atuando como uma espécie de porta-voz político que lutava por melhorias para as categorias. Nos primeiros anos de governo, Lula instaurou notórios avanços para a comunicação no Brasil, como a concessão para a entrada da TV digital. 46
A conta que o governo Dilma herdou
A predominância do Partido dos Trabalhadores (PT) no governo brasileiro se concretizou com a eleição de Dilma Rousseff em 2010. Herdando muitas promessas de seu antecessor, Dilma recebeu também a responsabilidade de viabilizar o processo de democratização da comunicação, o qual o seu partido declarava como urgente e necessária. Os grupos sociais cobravam da presidenta a assinatura para iniciar uma proposta de marco regulatório elaborada ao final do governo Lula. Como resposta ao PT, o ministro da comunicação da época, Paulo Bernardo, definiu que este era um processo inviável, pois estariam próximos a campanha eleitoral de 2014. O projeto defendido pelo partido pedia a revisão de concessões que chegavam no valor de R$ 60 bilhões. Com o poder midiático no Brasil concentrado em grandes conglomerados como a Rede Globo, o plano previa garantir uma igualdade maior de acesso, esta que era prejudicada pelo monopólio. Um fato importante para a comunicação ocorrido no governo Dilma, e que vale a pena ser mencionado, foi a assinatura oficial do Marco Civil da Internet, em 2014. Nele foram estabelecidas leis que garantem a acessibilidade aos cidadãos, a liberdade de expressão, a proteção à privacidade e direito à informação aos usuários brasileiros da rede mundial de computadores.
Atualmente, redes sociais e fake news A popularização e a acessibilidade da internet causaram mudanças na comunicação do mundo todo. Aqui no Brasil, nos últimos 20 anos, a maioria dos lares adquiriu meios de se conectar a rede de internet, inicialmente com um custo bem elevado, mas que caiu bastante com a concorrência das provedoras. O meio digital se tornou um ambiente capaz de proporcionar aos indivíduos ouvirem e serem ouvidos. Em 2012, o Facebook assumiu o posto de rede social mais acessada no Brasil, tomando a coroa que até então pertencia ao Orkut. Inicialmente, governos e organizações evitaram usar as redes como canais de comunicação oficial, mas após estudos constatarem sua eficiência enquanto uma ferramenta de contenção de crises, por exemplo, esse pensamento foi mudando. Não demorou muito para um tipo de informação manipulada circular nas redes, as chamadas fake news. As fake news existem no mundo há muito tempo, mas na internet ganharam uma propulsão ameaçadora por sua velocidade de propagação e alcance. A guerra contra as fake news é um trabalho incessante. Governos, empresas e órgãos das mais diversas naturezas são acusados de disseminarem falácias pelas redes. A discussão sobre a propagação de notícias falsas ganhou maior repercussão quando Donald Trump foi acusado de impulsionar sua campanha presidencial, em 2016, com o compartilhamento de inverdades sobre a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton. Seguindo a tendência americana, vários candidatos brasileiros aos mais diversos cargos públicos começaram a ser denunciados por espalharem notícias falsas na internet. Perante as manchetes jornalísticas da última eleição presidencial no Brasil, poderíamos facilmente intitular o último pleito como “A eleição das fake news”, onde os principais candidatos eram constantemente acusados e precisavam remover conteúdos sem veracidade. 47
Ilustrações: Freepik.com
POLÍTICA
A internet também ganhou força durante o mandato do presidente petista, pois foi durante esse período que os provedores gratuitos se popularizaram no país. Em 2004, o site Orkut começava sua trajetória iniciando a explosão das redes sociais.
Na visão dos profissionais Nesta edição da Revista Interessa, contamos com a participação de dois entrevistados da área de comunicação que responderam perguntas relacionadas a comunicação governamental no Brasil: Eumar Francisco da Silva, graduado em comunicação social com especialização em jornalismo, e atualmente professor universitário, e Dimas Freitas de Carvalho, atual superintendente de comunicação da prefeitura de Gaspar. A primeira questão tratava de como e se os meios de comunicação impulsionaram as campanhas de Lula em 2002 e 2006. Eumar acredita que os conglomerados midiáticos não influenciaram nas eleições de Lula, pois a Rede Globo, maior empresa de comunicação brasileira, era nitidamente mais favorável a Geraldo Alckmin e José Serra. “O uso da internet nas campanhas não era comum. Lula não utilizou as redes nem durante o governo. Em 2008 vimos Barack Obama explorar pioneiramente essa área.” comenta Eumar. Também na ótica de Dimas, não haviam campanhas fortes nas redes. “Lula aproveitou a exposição na mídia e cresceu, era notícia no Brasil todo em mídias tradicionais e portais de notícias”. No que se refere aos grandes conglomerados midiáticos, como a Rede Globo, e a manipulação de opinião pública favorável ou não aos governos Lula, o professor encara essa questão com um pouco de ceticismo, afirmando que apesar de muito debatida, nada chega a ser concreto acerca do tema. Dimas corrobora e lembra que a Rede Globo, em especial, não se posicionou a favor ou contra o governo Lula, e que apesar de um dos preceitos do jornalismo ser a imparcialidade, a emissora não media esforços em destacar as questões negativas do governo. “Na época de Dilma, a estratégia se repetiu e a Globo foi uma das grandes influenciadoras e incentivadoras do impeachment e na pressão pela prisão de Lula”. No que tange o uso das redes sociais como forma de comunicação do governo e no tocante às fake news, Eumar conclui que boatos não são algo novo, porém, foram potencializados pelo novo meio de comunicação vigente: as redes sociais. “O governo não vai abrir mão de usar as redes sociais, mas como a fake news caiu no conhecimento público, tudo aquilo que recebemos hoje através de redes sociais gera certa desconfiança e isto não ajuda a governabilidade”, complementa o professor. Por mais que seu imediatismo auxilie na rotina do jornalista, a internet, e sobretudo as redes sociais, facilitam a disseminação de conteúdo falso, segundo Dimas. O jornalista recorda que essa estratégia foi muito difundida por Steve Bannon, nos Estados Unidos, e copiada por outros países como o Brasil. Para ele, a credibilidade está na fonte independente do meio. “Quanto ao perfil de governança, segue o mesmo princípio, com a diferença que a credibilidade do clã de Bolsonaro nas redes é quase nula”. Encerra Dimas fazendo relação ao atual cenário sócio político nas redes. Em relação à ameaça ao jornalismo, o professor Eumar é otimista e finaliza enfatizando o papel da imprensa ao confrontar a desinformação. “No fim, a própria imprensa acaba desmascarando as fake news. Continuo acreditando que a imprensa prevalecerá, seja ela impressa ou digital”.
48
Ilustrações: Freepik.com
POLÍTICA
Jair Messias Bolsonaro, atual presidente do Brasil, foi acusado igualmente a Trump por espalhar fake news, além de utilizar programas que simulam seguidores nas redes sociais.
COMO A CIÊNCIA SE ENGANOU COM RELAÇÃO ÀS MULHERES - E AS NOVAS PESQUISAS QUE ESTÃO REESCREVENDO ESSA HISTÓRIA NÃO EXISTEM MEIAS PALAVRAS PARA CORRIGIR O QUE FOI PERPETUADO. A VERDADEIRA CONQUISTA É PODER CONTAR A VERDADE.
MULHERES NA COMUNICAÇÃO
Girl Power: por que as mulheres são maioria nos cursos de comunicação? Por Olga Helena
No ano de 1887, Rita Lobato Velho Lopes fez história. Ela foi a primeira mulher brasileira a se formar na faculdade no Brasil. Desde então, o sexo feminino vem dominando cada vez mais os campi universitários pelo país
H
á três anos, quando decidi que queria cursar jornalismo por causa da minha paixão pelo poder das palavras, me deparei com uma faculdade dominada por mulheres. Elas eram a maioria dos alunos e do corpo docente também. Por todos os corredores que passava, lá estavam elas, tentando se manter sempre à frente, mesmo que seus salários muitas vezes não reflitam seus esforços. O que dizem as pesquisas Pelo menos é o que comprova uma pesquisa do ano de 2014, realizada pelo IBGE. Segundo os dados coletados, mesmo com maior índice educacional, mulheres com cinco a oito anos de estudo recebem uma média de 24% a menos que os homens. E para 12 anos de estudo ou mais, essa diferença na remuneração vai para 33,9%. E dessas mulheres, somente 39% ocupam cargos de liderança nas empresas, ante 61% dos homens. Ainda considerando esta amostra, das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais, 18,8% possuíam Ensino Superior completo, ao mesmo tempo que, para os homens esse percentual é de 11%. Ainda segundo o levantamento, as mulheres são maioria com Ensino Médio completo ou Superior incompleto: cerca de 39,1% para as mulheres contra 33,5% dos homens. Essa pesquisa ainda aponta o grau de incompatibilidade salarial entre mulheres e homens. Uma resposta Mas afinal, por que as mulheres são maioria nos cursos de comunicação? Para Michael Samir Dalfovo, coordenador dos cursos de comunicação da Unisociesc de Blumenau há nove anos, é clara a predominância do sexo feminino dentro das salas de aula e mais precisamente nos cursos de comunicação. Para ele, esses dados resultam de uma série de fatores, dentre os quais, a crença de que as mulheres são mais emotivas e, por isso, devem fazer cursos mais humanos e antropológicos. “Historicamente, ainda temos uma dependência cultural muito forte, que prega que os homens são mais lógicos e por isso devem fazer matérias ligadas a exatas, como matemática e física, enquanto as mulheres não. Entretanto, eu percebo que há sim, uma desconstrução de paradigmas aos poucos, e isso faz com que os homens atuem nas áreas de comunicação, assim como, as mulheres em áreas das exatas”. Samir também evidencia que isso se deve a educação recebida em casa, que ainda diferencia homens e mulheres. Brincadeiras e jogos para o sexo masculino trabalham a força e o raciocínio lógico, enquanto para as meninas, o foco é no cuidado com o próximo e sentimentalismo através de bonecas e outras recreações, fazendo com que certas áreas de estudo se tornem inatingíveis para ambos os sexos. Trajetória feminina na educação brasileira Ao longo dos anos, as mulheres conquistaram voz, direitos e espaços em diversos âmbitos. Porém, para chegar até onde estamos, uma teve que tomar a frente para que outras inspiradas por sua coragem a seguissem. Mas esse foi um longo caminho. 50
MULHERES NA COMUNICAÇÃO Desde o descobrimento do Brasil até o início do século XIX, a educação no país era permitida somente aos homens. Durante este período, a única alternativa para aquelas que queriam receber educação eram os conventos, principalmente os europeus. Essa solução era possível apenas as mulheres com famílias mais abastadas, visto que a viagem para esses lugares era cara e arriscada. Somente em meados do século XIX, os colégios particulares para meninas passaram a existir, e novamente, somente aquelas com poder aquisitivo superior podiam se matricular. Foi só em 1827 que o ensino público e gratuíto foi sancionado no Brasil, mas a exclusão dos negros, pobres e de grande parte da população era evidente. No início, a educação às mulheres era totalmente opressiva e patriarcal, visto que suas grades eram diferentes das dos homens e continham matérias como culinária e sobre cuidados do lar e dos maridos. Além disso, o Ensino Superior era expressamente proibido. Segundo uma pesquisa da professora Nailda Marinho (UniRio) sobre a inserção e permanência das mulheres nos cursos superiores do Rio ao longo dos séculos 19 e 20. A primeira mulher brasileira a se formar foi Maria Augusta Generoso Estrela, que se graduou em medicina no ano de 1882, mas, nos Estados Unidos. Depois disso, em 1887, Rita Lobato Velho Lopes (1867-1954) fez história, tornando-se a primeira mulher a se graduar no Brasil. Ela se formou na Faculdade de Medicina da Bahia e pode exercer a profissão, por muitos anos.
Rita Lobato Velho Lopes (1867-1954)
51
CURIOSIDADES
Personalidades de clientes que você conhece ou ainda vai conhecer Por Tamara Sedrez
Um guia para você identificar seu cliente e entender a melhor maneira de lidar com ele
T
rabalhar diretamente com o cliente demanda proatividade, cordialidade, organização e paciência. Cada cliente possui suas singularidades e, para lidar com cada um deles, o profissional deve desenvolver todas essas habilidades e muito mais. Em compensação, a boa rede de relacionamentos criada por meio do contato com os clientes é fundamental para o profissional de comunicação. Cuide do seu cliente. Afinal, ele é a razão da prosperidade do seu negócio. Se você quer conhecer os perfis dos clientes que provavelmente encontrará (ou já encontrou) durante a sua jornada, acompanhe a lista:
O curioso:
O tímido: É silencioso, tem difi-
Neste cliente, você encontra um espelho do seu próprio espírito comunicador. A curiosidade está agora impactando a sua vida por outro ponto de vista. Como bom profissional da comunicação, você responde a todas as indagações do cliente e o mantém informado sobre tudo, assim como você gosta de estar. Raciocine com seu cliente, compartilhe com ele os seus conhecimentos e promova um debate agradável sobre o assunto. Se ele parecer desconfiado, seja firme nas suas respostas e acima de tudo, tenha paciência.
culdade para expressar seus pensamentos e, quando o faz, é sucinto em suas declarações. Você precisa estimular um diálogo sempre que deseja tirar alguma informação importante para o desenvolvimento do seu trabalho. Portanto, ative seu caráter comunicador e faça perguntas inteligentes a fim de tirar tudo o que precisa nesta conversa. Evite falar muito, ouça-o com atenção, sem pressioná-lo. Transmita segurança e conquiste seu cliente aos poucos.
O
entusiasmado:
Totalmente o contrário do cliente tímido. O entusiasmado é super ativo e gosta de conversar. Sempre simpático, transmite sua animação e adora conduzir uma conversa agradável. Está sempre animado com o serviço a ser desenvolvido, com a certeza de que receberá ótimos resultados. Entre na onda e se deixe levar pelo entusiasmo do seu cliente! Isso faz com que cada segundo do trabalho valha a pena.
O vaidoso: A vaidade
desperta neste cliente como uma forma de poder. Quer se expor, mostrar o seu melhor e realçar suas características positivas. Às vezes, pode não aceitar opiniões alheias, mesmo as críticas construtivas. Logo, você terá que colocar em prática a paciência que veio desenvolvendo durante a sua jornada. Valorize todos os pontos positivos deste clien52
CURIOSIDADES te, afinal, são neles que você vai trabalhar. Dê prestígio sem bajular, seja gentil e atencioso. Você pode receber muito conhecimento por aí.
seu serviço. Com tudo se resolve.
O bonzinho: Aceita as con-
conversa,
te vai desejar rapidez no atendimento. Sua agenda sempre lotada não lhe permite conversar muito tempo a respeito dos seus projetos. Inclusive, ele pode demorar para aprovar o seu trabalho, mas isso não significa que ele não gostou. Você pode ter dificuldades para ter contato com ele, e sempre que o fizer, deve ser objetivo na mensagem que passar. A correria faz parte da vida deste cliente e você deverá entrar no ritmo. Tenha paciência e compreenda a sua agenda. Faça o que puder para manter ambos os lados satisfeitos.
O difícil: Trabalhe a sua pa-
ciência, a sua empatia e a sua cordialidade, pois vem cliente complicado por aí! É um cliente que pode custar a aprovar as atividades desenvolvidas. Sempre tem algo para mudar nas ideias apresentadas, mesmo que seja um detalhe mínimo. Muda de ideia constantemente e pode ser difícil lidar com ele. Mas, lembre-se: não deixe de ser paciente e atencioso. Por mais que seja difícil, o retorno sempre chega.
O bem informado: O cliente que já contrata o serviço com uma boa noção do trabalho que será desenvolvido junto à agência. Costuma dar ideias e se envolve bastante no projeto, mas não é influenciado com facilidade. Ele sempre irá observar o processo do trabalho e analisar os resultados. É por isso que você deve demonstrar o seu conhecimento no assunto, ser prestativo e habilidoso. Assim, vocês poderão desenvolver um belo trabalho juntos.
negociador:
Conversador e astuto, o cliente negociador sempre procura uma maneira de obter benefícios maiores. Faz o que puder para conseguir um desconto, ou então, estender a guia de benefícios recebidos pelo menor preço. Negar a proposta deste cliente pode ser um pouco complicado, portanto, seja calmo e apresente a sua proposta de maneira suave, mostrando todos os pontos positivos do
e
O ocupado: O cliente ocupado geralmen-
dições que você propõe e costuma ser compreensivo se algo não sai conforme os planos. Ele entende que as coisas são feitas de acordo com as possibilidades disponíveis no momento. Com esse cliente, você tem a liberdade de trabalhar do seu jeito. Então, aproveite e use a sua criatividade para ousar e criar coisas diferentes. Deixe seu cliente surpreso com os resultados.
O
calma
E aí, preparado para lidar com seus clientes? 53
Ilustrações: Freepik.com
Ilustração: Freepik.com
CURIOSIDADES
Diferentes discursos que refletem o bom jornalismo Porque existem incontáveis maneiras de passar informação de qualidade Por Tamara Sedrez
A
quele antigo hábito de chegar em casa depois de uma longa jornada de trabalho e sentar na poltrona para ler o jornal já não faz mais parte do dia a dia das pessoas. Atualmente, jovens e adultos optam por maneiras diferentes de obter informações. Consequentemente, muitos profissionais trabalham diariamente na criação de conteúdos criativos. Hoje, existem maneiras mais divertidas de se manter atualizado sobre tudo o que acontece. Quer ver? Dê uma olhada nas sugestões que a Interessa separou para você: Mamilos Podcast Um podcast apresentado pelas publicitárias Ju Wallauer e Cris Bartis. Guiadas pelo seu desejo de produzir conteúdo de qualidade e construir pontes, ambas são responsáveis pelo Mamilos, canal que oferece “jornalismo de peito aberto”. Todo sábado, um episódio diferente. Todo fim de semana, uma maneira nova de ver o mundo. Pirula Desde 2006, o paleontólogo e biólogo Paulo Miranda Nascimento alimenta o Canal do Pirula no YouTube com conteúdos sobre ciência, meio ambiente, religião e política. Sua sede por transmitir conhecimento o levou a fazer parte do Science Vlogs Brasil, um selo de qualidade colaborativo que reúne os mais influentes e confiáveis divulgadores científicos do mundo. Explicando Uma série documental que traz informações úteis das quais, muitas vezes, não paramos para pensar. Ou paramos, porém não imaginamos o assunto em um documentário. Da crise global da água ao mundo K-pop. A série explora temas variados de uma forma interessante e muito informativa. Curtadoc “Uma janela para o documentário latino-americano”. Um site de documentários online que conta com um rico arquivo de produtos audiovisuais da América Latina. Disponível em dois idiomas, português e espanhol, o site hospeda documentários sobre diversos assuntos, como meio ambiente, cotidiano, espiritualidade, direitos humanos, política, comportamento, entre outros. A vida que ninguém vê Começou em 1999, como uma coluna publicada aos sábados no jornal Zero Hora, e terminou como um livro de reportagens, vencedor do Prêmio Jabuti em 2007. A vida que ninguém vê reúne 21 reportagens escritas pela jornalista e escritora Eliane Brum, nas quais ela buscou apresentar histórias de pessoas comuns e situações corriqueiras. O talento de Eliane dá voz aos personagens invisíveis que guardam suas longas histórias em uma vida que ninguém vê. 54
Competência da comunicação
Michael Samir Dalfovo - Coordenador dos cursos de comunicação da UniSociesc Blumenau
A
arte de comunicar e ensinar comunicação é desafiadora. A comunicação, síncrona ou assíncrona, requer outras competências que vão além da simples lógica de um processo de comunicação com a ideia de: emissor, canal, mensagem, receptor, ruído e feedback. É preciso adquirir outras competências. A competência da comunicação já é considerada por muitos estudiosos como umas das “core competencies” das profissões do século 21. Então, isso me faz acreditar que escolher um curso no âmbito da comunicação, seja ele Jornalismo ou Publicidade e Propaganda ou qualquer outro, já coloca esse profissional um passo à frente dos demais. Não quer dizer que esse profissional será o melhor, mas se permitirá a desenvolver e construir melhor essa característica. O profissional de comunicação deve estar engajado a emitir e a ter uma recepção empática, ou seja, se colocando no lugar do outro e tentando sair de cena para que fenômeno ocorrido ou um cenário a ser projetado possa ser entendível pela grande parte do público, dependendo o contexto: espectador, consumidor ou debatedor. Comunicar é algo mágico que precisa ser entendido como a possibilidade para criar e fazer junto. É por meio da comunicação verbal ou não verbal que as trocas acontecem, que experiências e sentimentos são compartilhados e com eles aprendemos, refletimos e crescemos. Por outro lado, a insensatez da comunicação pode gerar a criação de ruídos, impasses, conflitos e extinguir a comunicação dependendo de nossas atitudes, expressões, comportamentos e palavras. A base para uma boa comunicação se estabelece por meio de um propósito maior, acredito eu, o senso de conviver, de errar, de aprender, de perder, de ganhar, de trocar, de que estamos vivos. Na instituição que leciono, com minhas crianças (modo carinhoso para chamar meus alunos), meus amigos e conselheiros (professores), meus suportes (demais funcionários) é que tentamos fazer o bem. Tentamos acertar na comunicação e por meio dela transformar as vidas que afetamos. Uma comunicação afetiva, as vezes até incompreendida, mas de qualquer forma acolhida.
Imagem: Acervo pessoal