Consciência e Liberdade N.º 19 (2007)

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Cultura, religião e identidade nacional na sociedade pós-moderna *

David Little **

Introdução

entre o pós­‑modernismo e o fascismo, sobretudo no que concerne a Jacques Derrida e Michel Foucault, são, sem qualquer dúvida, controversas e sujeitas a prova. Contudo, Richard Wolin apresenta uma série de elementos indicando que personalidades eminentes como Martin Heidegger e Hans-Georg Gadamer estavam bem ligados e conclui que mesmo indivíduos como Jacques Derrida e Michel Foucault partilham, a tal ponto que é perturbador, o a priori profundamente anti-liberal que caracteriza o pensamento nazi. O livro de Richard Wolin criou um considerável mal-estar no seio do movimento pós-moderno. Em contrapartida, há um ponto para o qual a corrente pós-modernista tem, implicitamente, trazido a sua luminosa contribuição, um ponto que, salvaguardadas todas as pro­ por­ ções, tem uma relação construtiva com o tema. É o que diz respeito à maneira de examinar as três outras noções evocadas no título deste artigo: cultura, religião e identidade nacional3. O pós-modernismo, como já se disse anteriormente, desconfia, particularmente, das teorias unificadas e dos “esquemas narrativos”, assim como das ideias gerais. A sua pri­meira reacção será a de “decompô­

Evocar o termo “pós­‑moderno”, como fiz no título desta apresentação, levanta, forçosamente, questões. Uma vez que ser pós-moderno significa adoptar uma atitude céptica para com a coerência de todas as ideologias, teorias e conceitos gerais – isto é, passar o seu tempo a “problematizar” e “não exprimir o essencial” de nada, como se diz – o melhor que possamos fazer, aparentemente, é procurar compreender o que não é um “mundo pós-moderno”. Se queremos reconstruir, mas também desmontar, reanimar, mas também dissecar, não vemos muito bem onde é que o pós­‑modernismo nos levará1. No entanto, existe um problema mais sério. Richard Wolin. Autor de The Seduction of Unreason: The Intellectual Romance with Fascism from Nietzsche to Postmodernism, choca com a seguinte constatação: “Nos meios universitários, o pósmodernismo alimenta-se das doutrinas de Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger, Maurice Blanchot e Paul de Man – prefigurando, todos, um certo fascínio pelo fascismo onde todos sucumbiram2. A tese deste autor e as provas sobre os laços 56


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