O alvorecer do diálogo inter-religioso na tradição europeia * Maurice Vefaillie **
Permitam-me que comece por uma nota pessoal: qualquer que seja a sinceridade do nosso olhar, cada um de nós interpreta o mundo e os seus movimentos em função da sua formação e da sua experiência. Penso que é importante dizer-vos que ao avaliar a evolução do diálogo inter-religioso na tradição europeia, tento fazê-lo do ponto de vista cristão. O historiador que fala dum facto concreto – por exemplo, o desembarque dos aliados em Junho de 1944 – aborda o assunto com uma certa vantagem. Com efeito, se a escolha dos momentos e a extensão das consequências deste acontecimento podem ser objecto de interpretações diferentes, o acordo geral faz-se sobre a sua existência, sobre os lugares, a data e o papel que ele desempenhou na derrota do regime nazi. Podemos imaginar que o mesmo acontece quando se trata do alvorecer do diálogo inter-religioso na tradição europeia, na medida em que se torna possível distinguir o carácter de certos debates, de localizar na História as maneiras de conceber as relações inter-religiosas e de considerar as suas discussões como suficientemente significativas para serem olhadas como preparação para verdadeiros
diálogos. “Diálogo Inter-Religioso”. Nos nossos dias a expressão tornou-se tão corrente a propósito de tantos encontros inter‑religiosos que o sentido do que é um “diálogo” se esvaziou, ao ponto de parecer vazio de conteúdo. Após este preâmbulo, proponho ‑vos que tratemos o nosso assunto em três partes. 1) Definir a noção moderna do diálogo e a sua filosofia; 2) Lembrar na história da Europa os antecedentes das relações das religiões entre si e 3) Abordar rapidamente alguns factores que desempenham um papel no desenvolvimento das relações inter-confessionais e inter ‑religiosas.
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I. A noção moderna de diálogo e a sua filosofia na Europa Antes de abordar este novo conceito que esta palavra e esta filosofia abrangem, é necessário lembrar que a palavra “diálogo”, no seu sentido actual, não aparece no vocabulário religioso, na Europa, senão após a Segunda Guerra Mundial, portanto muito recentemente. Deste modo, por exemplo, encontra-se numa declaração feita em 1947 por uma igreja reformada na Holanda. Trata ‑se da relação teológica que esta igreja mantém com Israel, no sentido religioso do povo judeu.