Direitos do Homem e regimes religiosos Mark Juergensmeyer*
Em numerosas regiões do mundo, a extensão da política religiosa é, frequentemente, acompanhada pelo receio – por vezes até pânico – por parte dos liberais laicos e das comunidades minoritárias, que temem que a predominância de um governo baseado em ideologias religiosas seja o dobre de finados dos direitos do homem1. Em certos casos têm razão. Quando se trata de se ocupar de questões morais, é verdade que os regimes religiosos são a maior parte das vezes rígidos e inflexíveis. Geralmente, defendem os seus argumentos afirmando que os seus princípios se baseiam num mandato divino não negociável. Eis como, em Argel, um líder muçulmano apoiou a ideia segundo a qual o lugar das mulheres é em casa: “Não sou eu que o exige, mas Deus”2. Muito frequentemente aqueles que têm opiniões religiosas bem marcadas, unem-se em volta de uma só pessoa incarnando a autoridade para todo o movimento. Na Índia, por exemplo, um membro do movimento nacionalista hindu (o RSS) pretendeu que dadas as “suas competências e a sua eficácia, como dirigente”, era necessário não só obedecer-lhe, mas igualmente venerá-lo da mesma forma que se glorifica ou que se adora um guru 106
do hinduísmo tradicional3. No Irão, alguns acreditaram que Khomeiny conduzia o seu país com a ajuda da divina providência. Mesmo aqueles que não estavam de acordo com ele em questões ideológicas e religiosas reconheciam os seus talentos como dirigente. Considerando que a revolução iraniana estava a fracassar, o responsável do Hamas palestiniano, o Xeque Ahmed Yacine, confessou “admirar Khomeiny”4. No outro campo, em Israel, o chefe do agrupamento judeu anti-árabe, o rabino Meir Kahane, também tem expresso a sua admiração pelo líder iraquiano. Por outro lado ele tem conduzido o seu movimento da mesma forma, isto é de forma autocrática e praticamente sem rival5. Um militante cristão americano citou Khomeiny como o modelo de dirigente que ele desejava para os cristãos conservadores nos Estados Unidos. Do Egipto à Indonésia, os activistas religiosos admiram o estilo de Khomeiny – a sua convicção e o seu sentido de comando, a par de uma visão clara da religião e uma autoridade incontestada. Se é verdade que os movimentos religiosos são muitas vezes dogmáticos e autoritários, acontece que esse é também o caso dos regimes laicos. O autoritaris-