Consciência e Liberdade N.º 22 (2010)

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Coesão social, pluralismo, liberdade de consciência Gabriel Nissim* reflexo, não de acolhimento, mas de reafirmação da identidade sob as suas formas primárias, a fim de recriar as protecções para essa identidade, que parece desde logo ameaçada na sua existência e na sua durabilidade. A afirmação das identidades tanto individuais como colectivas é de facto necessária, porque fazem parte do património da humanidade. É totalmente legítima porque cada um tem o direito de ser ele mesmo. Mas, por um lado, neste contexto de mundialização, as identidades afirmam-se, de forma geral, de forma simplista, como se a identidade fosse unívoca e fixada uma vez por todas, enquanto que, precisamente porque é humana, é sempre plural, complexa e evolutiva com o tempo e em função do ambiente, por outro lado, a afirmação identitária deve-se, frequentemente, à recusa da presença do “outro”. E, em particular, do migrante. Assiste-se a um forte crescimento de discriminações, de actos de racismo ou de xenofobia em geral, especialmente para com o imigrados, por vezes até à segunda, quando não, à terceira geração. É por isso que os dois principais modelos de coesão social aplicados hoje na Europa para dar lugar aos imigrantes, a saber a assimilação/integração, por um lado, e o

A mundialização coloca de forma completamente nova o problema da coesão nas nossas sociedades. O modelo europeu de coesão, construído essencialmente nestes últimos séculos, na base do Estado/Nação, deve, hoje, ser repensado em função de dois factores ligados um ao outro: Desde logo o quase desaparecimento das fronteiras económicas e financeiras – a globalização digital tem vindo a reforçar a globalização através de uma ferramenta tecnológica oportuna – e em menor medida, a das fronteiras políticas, donde migrações e uma mistura de diversas populações no mesmo território como jamais conhecemos. Os nossos Estados são daqui para a frente plurais, do ponto de vista cultural e religioso. Em segundo lugar, e em consequência dos reflexos da individualização e de afirmação das identidades, a abertura resultante do desaparecimento das fronteiras tem como resultado, não como se poderia pensar, um sentimento mais forte do universal, mas bem ao contrário a afirmação do particular, quer seja de ordem local, regional, nacional, religiosa, ou que tenha que ver com a forma de viver, etc. Com efeito, a ausência de fronteiras tangíveis provoca um 69


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