As Igrejas e as Autoridades Jacques Robert*
dependem para a sua sobrevivência senão da generosidade – presumida – dos seus fiéis. Então, cuspir, sem vergonha, na sopa? Ou sentir-se bem com pouca despesa? Os lampiões do espectáculo estão hoje apagados. Mas o problema de fundo ainda permanece. Ele percorre toda a História nacional. Melhor, ele acompanha sempre o progresso. Os novos avanços da ciência, o desenvolvimento das tecnologias modernas, a influência de uma nova ética, criaram interrogações angustiantes que não se colocam senão agora. Paralelamente, a paisagem religiosa mundial modificou-se consideravelmente. Algumas nações vêem florir, no seu interior, religiões até há pouco desconhecidas, e seria bom que lhes prestassem atenção! Sem voltar aqui às numerosas fórmulas que têm sido tentadas um pouco por todo o lado, para definir as relações necessárias, obrigatórias mesmo, entre as Igrejas e as autoridades, retendo sempre que não pode haver coincidência automática entre tal regime político e uma maior ou menor liberdade religiosa, apenas constatamos que
Há já longos anos, a Federação Protestante de França publicou – o que não estava, contudo, nos seus hábitos! – um verdadeiro panfleto de mais de uma centena de páginas – como o presente artigo, que lhe toma emprestado o título – As Igrejas e as Autoridades. Tratava-se de uma espécie de “licença”, no sentido próprio do termo, dada pelas Igrejas às autoridades, fossem elas quais fossem. Fim dos compromissos com as autoridades; terminada a aliança – retrógrada – do trono e do altar; às ortigas, a longa ligação com o dinheiro… Este documento levantou, na época, um coro de protestos tanto mais compreensível quanto, se os protestantes tinham, sem dúvida, no decurso da História, exprimido sempre publicamente o seu apego visceral a uma plena liberdade em relação ao poder, a própria composição do grupo de redacção deste texto perturbador não pode senão surpreender: compreende, com efeito, altos representantes da inteligência do Estado e eminentes dirigentes de grandes bancos… Ora, ninguém ignora que, desde 1905, as paróquias protestantes não 84