Pesquisa em Foco Estêvão Arrais Administração Pública (UFCA) estevaolarrais@hotmail.com
EXAMINANDO AS CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA: O CASO DA INDÚSTRIA ALGODOEIRA DE ACOPIARA – CEARÁ
Jeferson Antunes Administração Pública e Gestão Social (UFCA) cat_kalderash@hotmail.com
Larice Simone Ciências Econômicas (URCA) laricesimone@yahoo.com.br
1 Introdução
inflação nacional, e demonstrar a fragilidade existente quando uma localidade depende, em maior parte, de um único produto.
O início da década de 1960 e, particularmente, a partir de 1962, o Brasil entrava numa crise econômica causada pelo aumento descontrolado da inflação, pela desaceleração da economia e queda geral no investimento público, devido aos constantes déficits. Essa crise econômica tornou-se embasamento e justificativa para o golpe militar em 1964 (BARROS, 2007). As medidas tomadas para resolver a crise econômica evidenciam o fim da necessidade dos compromissos que o modelo anterior exigia: atuando com base num forte aparato repressivo, a ditadura vai atacar a crise econômica tendo como fundamentos principais a restrição do crédito, o arrocho salarial (o salário-mínimo, por exemplo, chegou em 1968 com poder aquisitivo reduzido em 30% em relação ao de 1961), o aumento da carga tributária e a reorientação dos gastos do Estado, facilitando a entrada de capital internacional e levando às falências diversas empresas nacionais e de pequeno e médio porte. Em suma, os primeiros anos da ditadura representaram, no campo econômico, a afirmação da parceria entre Estado e capital monopolista, preparando o terreno para o forte crescimento econômico iniciado no final da década de 1960, cabendo ressaltar o constante processo de concentração de renda (BARROS, 2007). Durante a ditadura militar brasileira, houve um imenso investimento no ramo agroindustrial. Macarini (2005) elucida que existia um projeto nacional denominado “Brasil Grande Potência” que tinha como proposta a utilização de um “modelo agrícola exportador”, como estratégia econômica. Os fatos dispostos estão inseridos à época da Ditadura Militar no contexto desenvolvimentista, assinalado por Macarini. A cidade de Acopiara desenvolvia um forte modelo agroindustrial voltado para a cotonicultura, e é nesse contexto que este trabalho busca compreender como se deu o auge econômico da indústria algodoeira no município de Acopiara, Ceará, com base na conjuntura apresentada. O presente estudo visa a compreender como esta cidade manteve seu comércio e sua geração de renda aquecida, mesmo em período de imensa
2 Efeitos e consequências estruturais do período Durante o período histórico da Guerra Fria, muitos países começavam a se alinhar a um dos dois blocos hegemônicos: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) ou os Estados Unidos da América (EUA). No caso do Brasil, antes mesmo do alinhamento, havia em questão o fator econômico. Para Sato (1998), nos últimos anos do mandato até a devida renúncia de João Goulart, o Brasil de 1964 não apresentava nenhum indicador econômico positivo. Ademais, o governo militar assume em primeiro momento uma posição que visava à modernização das instituições tendo a industrialização com base fundamental (SATO, 1998). Instalada a Ditadura no Brasil, os investimentos fluíram, e seu auge deu-se no governo de Emílio Garrastazu Médici (1970-1973). O momento é descrito por Macarini (2005) como “milagre econômico”: a continuidade da política econômica de Delfim Netto com a nítida inclinação positiva crescente em 67-68 e o predomínio de um alinhamento expansivo em grande parte do período. Tal situação deixava visível o crescimento acelerado. Enquanto isso, no contexto internacional, explodia a crise do petróleo de 1973. Colapso que, segundo Fishlow (1986), mudou drasticamente a situação econômica do Brasil, até então o maior importador de petróleo dos países considerados do terceiro mundo. Sato (1998) identifica que os gastos com a conta petróleo, que antes de 1973 já constituíam o item mais relevante de importação em face do avançado no processo de industrialização, passaram a se elevar radicalmente pressionando as contas externas. Antes do primeiro choque, o Brasil gastava menos de US$ 500 milhões na importação, em 1975 esse valor havia atingido US$ 2,7 bilhões e continuou se elevando até 1981, quando atingiu a cifra de US$ 10,5 bilhões. 167