Pesquisa em Foco Michelle Fernandes De Araújo Filosofia/UFCA michelle_filosofia@hotmail.c om
ABSURDO E CRIAÇÃO EM O MITO DE SÍSIFO DE ALBERT CAMUS
1 Introdução
Luiz Manoel Lopes Professor /UFCA lluizmanoel@hotmail.com
Suicídio, evidenciando que pensá-la implica percorrer o caminho mais premente de toda filosofia, Camus se pergunta quais consequências se podem tirar da vacilação frente ao valor da vida. Todas as pessoas saudáveis - afirma o autor - já foram ou são capazes de pensar em seu próprio suicídio. Ora, podemos pensar que o suicida percebe que a vida não vale a pena ser vivida por não haver um sentido último que a ultrapasse. O sentimento de que o mundo e a vida são inexplicáveis, injustificáveis para o homem, "o exílio da pátria perdida ou da esperança prometida", Camus chama de sentimento do Absurdo (CAMUS, 2013, p.20). Esta é a primeira aparição de "Absurdo" no texto, e é interessante notar que não se trata ainda da noção de Absurdo, coforme será explicitada ao longo da obra, mas de um sentimento que o autor considera estar suposto no ato do suicídio, como uma aspiração ao nada. Entretanto, pergunta Camus, supor que não haja um sentido que comande a vida implica em pensar que, desse modo, a vida não vale a pena ser vivida? Será que o Absurdo que comanda a vida exige que saiamos dele pelo suicídio ou pela esperança de uma outra vida? Seu ensaio se posiciona exatamente neste ponto: a "relação entre o absurdo e o suicídio, a medida exata em que o suicídio é uma solução para o absurdo" (CAMUS, 2013, p.20). O Absurdo não é a conclusão do ensaio, mas seu ponto de partida1. O suicida confessa que foi vencido pela vida, rompe com o costume de permanecer fazendo os gestos habituais. No entanto, mesmo inicialmente tendo percorrido o caminho fundamental da dúvida pelo sentido da vida, experimentando o sentimento do Absurdo - pois causar sua própria morte é reconhecer o quanto nossa existência é contraditória - o suicida parece querer aniquilá-lo, sair dele. Experimentado o sentimento do Absurdo, parece só haver duas posições: suicidar-se, respondendo assim pela negação do valor da vida, ou permanecer vivo, supondo que a vida vale a pena. Aqui nasce o ponto fundamental da busca de Camus: na encruzilhada entre "suicídio ou reestabelecimento" (CAMUS, 2013, p.27). Seria simples pensar que ou a pessoa se mata ou não. Porém o ponto central deste caminho é pensar naqueles que não param de se interrogar e não chegam à conclusão nenhuma, e, para nosso pensador, trata-se da maioria. Se a questão do suicídio é a questão filosófica mais importante, será
Trata-se de compreender por que o suícidio não é resposta necessária para a falta de sentido da existência, em O Mito de Sísifo: Um Raciocínio Absurdo de Albert Camus. E como, segundo o autor, frente à constatação da falta de sentido da condição humana, pode-se ter uma atitude afirmativa e criadora diante da vida, embora sem esperança. Cohn, por exemplo, afirma que "a criação artística se situa no centro de suas ocupações" (COHN, 1970:146), o que se quer aqui é desenvolver esta hipótese no escopo do ensaio em questão. Para isto será necessário expor e esclarecer os elementos fundantes do chamado "ciclo do Absurdo", em especial as noções de Absurdo, Suicídio, Suicídio filosófico, Esperança e Criação. Pretendemos, assim, problematizar, junto a Camus: Como o homem pode sobreviver em um mundo que se contradiz a todo momento? Em um mundo sem Deus e sem esperança, a vida valeria a pena ser vivida? Como imaginar o homem consciente feliz, afirmador do caráter finito de sua existência? Que papel a criação exerce neste processo? Sem ignorar a ressalva do autor de que "nenhuma metafísica, nenhuma crença está presente aqui" (CAMUS, 2013, p.16), buscar-se-á seguir o movimento filosófico de seu raciocínio, sua interlocução com outros pensadores, e suas consequências existenciais: éticas e estéticas. Assumimos como obejetivo explicitar como, frente à pergunta pelo sentido da vida e à possibilidade do suicídio, se dá a afirmação da vida, através da criação absurda em O Mito de Sísifo: Um Raciocínio Absurdo de Albert Camus. 2 Fundamentação teórica No início de seu ensaio, Camus vai direto ao ponto: "só existe um problema filosófico realmente sério: a questão do suicídio" (CAMUS, 2013, p.17). Responder tal questão é pensar no problema central da filosofia: o valor da vida. Seu interesse, antes de tudo, é o de deixar claro que, em sua concepção, um problema verdadeiramente filosófico, é um problema que tem repercussões existenciais. O suicídio, como resposta, aponta para a pergunta fundamental, ou seja, se a vida vale, ou não, a pena ser vivida. Matar-se seria confessar que a vida não vale a pena. Partindo da questão do 285