Pesquisa em Foco Francisco Rihelder Batista Bezerra Filosofia /UFCA rielder_18_@hotmail.com
PRAZER, INTELECTO E VIDA FELIZ NO FILEBO DE PLATÃO
1 Introdução
Camila Prado do Espírito Santo Professor /UFCA camiladoespirtosanto@yahoo .com.br
prazer. Entretanto, como bem observou Muniz (2012), o aspecto quantitativo não deve ser considerado o fator preponderante na determinação do tema principal deste diálogo. Nossa posição teórica é também endossada por Bravo (2009, p. 411):
Esta pesquisa se coloca como uma reflexão e estudo crítico sobre o prazer, o intelecto e a felicidade no pensamento de Platão, mais particularmente, no diálogo Filebo, considerado por muitos, um de seus últimos diálogos. Tal diálogo busca saber, mediante o fio dialético, qual seriam os ingredientes para uma vida boa ou feliz. A discussão se dá a partir de duas teses, a saber, a tese de Filebo que afirma que o bom para os seres vivos é o prazer, o deleite e tudo quanto tem aproximação com esse gênero de coisa e a tese de Sócrates que defende o pensamento, a inteligência, a memória, a opinião correta e tudo aquilo quanto tem aproximação com esse gênero de coisa, como sendo o que realmente é bom para os seres vivos. A primeira tese, a tese de Filebo, será defendida por Protarco visto que o personagem Filebo está cansado e não pode continuar a discussão. A nossa investigação se concentra principalmente em determinar o lugar e significação do prazer e do intelecto na constituição da vida feliz, já que os interlocutores do referido diálogo estabelecem o acordo de buscarem discursivamente a disposição ou estado da alma capaz de proporcionar aos homens uma vida boa.
o tema fundamental do Filebo não é o prazer, como dá a entender o subtítulo tradicional, mas a vida boa ou, mais precisamente, o bem supremo do homem. Protarco lembra a Sócrates que o objetivo dessa reunião é definir o mais precioso dos bens humanos. E, no final do diálogo, estão lançadas as bases para que qualquer pessoa tenha condições de decidir entre o prazer e a sabedoria, e assim afirmar qual dos dois tem mais parentesco com o bem supremo e com o maior valor, segundo o juízo dos deuses. A essa pergunta subordinam-se todas as outras, tantas as relativas ao prazer e a sabedoria e a outros temas, e uma atitude constante dos interlocutores é assegurar-se de que aquilo que estão analisando tenha relação com sua resposta.
Desta forma, a extensiva análise do prazer no Filebo visa algo mais determinante no contexto dialético desta obra. Prazer e intelecto são discutidos não apenas por que são aspectos importantes da existência humana, mas porque apontam para algo maior e duradouro, ou seja, aquilo que os gregos chamavam de eudaimonia e que aproximativamente traduzimos por felicidade. As duas formas de vida representadas por prazer e intelecto competem para a vida boa; tendo em vista a busca por saber o papel destes dois modos de vida na composição de uma vida feliz, faz-se necessário um exame valorativo tanto do prazer como do intelecto. Sócrates admite que a questão do prazer não é simples. Portanto, se faz indispensável uma reflexão sobre sua natureza. A primeira questão levantada quanto a sua natureza é a de saber se eles são diferenciados ou não. Os prazeres são dessemelhantes, ou seja, existem diferenças entre prazeres, por isso, os juízos de valor em relação aos prazeres serão diferentes. Por exemplo, o prazer de um homem intemperante difere do prazer de um homem moderado. Protarco defende a princípio que o prazer é somente unívoco, mas depois da
2 Fundamentação teórica O Filebo é um diálogo que se situa no terceiro período do pensamento platônico, é considerado, portanto, uma das últimas obras de Platão ao lado de diálogos como o Timeu e Leis. Associado à metáfora de uma selva impenetrável, por muito tempo (e ainda hoje para alguns), foi considerado um escrito intrincado, de difícil compreensão. Uma das primeiras dificuldades a uma adequada interpretação do Filebo seria o subtítulo “Do prazer” que a tradição adotou para melhor designar o conteúdo do diálogo em seu todo. Assim, muito se tem discutido a respeito de qual seria a temática central do Filebo; seu tema principal seria o bem humano? Seria o problema ontológico do uno e do múltiplo? Ou seria o tema do prazer e sua tipologia? A nossa posição é a de que o prazer não é o tema central do Filebo, mas é, sem dúvida, um dos seus temas primordiais, pois na maior parte da obra os interlocutores analisam as diversas formas de 297