labos, bem como rimas ocasionais; já os sonetos, com variadas disposições de estrofes, são, em sua totalidade, decassílabos. Há, em Beira-Sol, algumas heranças da experiência concretista: valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e se recompõe na página, tendo o poema o espaço como agente estrutural, em função de que deverá ser lido e visto, bem como a utilização de recursos topográficos, como, por exemplo, no poema “Os pássaros” (p.68) Beira-Sol aponta, no autor, a preocupação com a depuração da linguagem: a palavra é explorada em todas as suas potencialidades – formais, semânticas e visuais -, possibilitando a criação de imagens rigorosas, enxutas, livres de elementos supérfluos. Os versos, muitas vezes curtos, são um constante desafio à sensibilidade do leitor que deverá preencher os espaços vazios (mas cheios de sugestões) que os cercam.
Da Composição do Livro A divisão da obra em duas partes: “Claridade” e “O cão dos sentidos” obedece a um projeto: o de traçar um perfil múltiplo da cidade de Fortaleza, revelando-lhe as duas faces: a da claridade (aquela que, naturalmente, imprime-se nos cartões-postais, através de motivos marinhos ou históricos) e uma outra: (marginal, obscura, que acolhe os excluídos, aqui sintetizados pelo espaço e por personagens do centro e da periferia: O poeta fala de várias coisas e de uma só: o universo da cidade. É uma cidade em movimento, que é histórica, pois é de Fortaleza que o poeta fala, mas simbólica e mítica, porque povoada de elementos que ultrapassam suas individualidades e adquirem o estatuto do símbolo. O engraxate, o jangadeiro, a prostituta, os vendedores, os biscateiros etc. são personagens de todos os tempos.3 3
PARDAL, 2003, p.78-79.
BEIRA-SOL: A POÉTICA DE UMA CIDADE
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